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BIOLÓGICAS E
BIOQUÍMICAS
DA ATIVIDADE
MOTORA
Introdução
Os organismos vivos compartilham diferentes aspectos, sendo um deles a
necessidade de obter energia do meio ambiente. Muitos dos mecanismos
envolvidos na obtenção de energia são compartilhados pelos seres vivos,
desde os estímulos fisiológicos, que os levam a buscar alimento no meio
ambiente, até o metabolismo envolvido com o armazenamento dos
nutrientes ou a quebra deles para obtenção de energia.
Durante a leitura deste capítulo, você vai notar que a prática de ativi-
dade física e os processos metabólicos são inseparáveis. Portanto, pro-
fissionais de educação física devem conhecer a dinâmica dos processos
de obtenção de energia, para a prescrição de exercícios físicos que sejam
adequados às necessidades dos alunos.
Neste capítulo, você vai estudar sobre a importância da obtenção dos
diferentes tipos de macronutrientes do meio ambiente, como carboidra-
tos, proteínas e lipídeos. Também estudará sobre os inúmeros passos
necessários para a transformação desses macronutrientes em uma forma
de energia que seja utilizada no organismo humano, tornando os mais
diversos processos metabólicos possíveis.
2 Metabolismo no exercício e bioenergética
Teoria glicostática
Nesta teoria, os níveis de glicose vão influenciar na sinalização para os
núcleos hipotalâmicos relacionados à sensação de fome. Os níveis baixos de
glicose sanguínea estimularão a liberação do hormônio grelina produzido
pelo estômago, o qual é liberado antes das refeições e está atrelado ao au-
mento da sensação de fome e consequente busca por alimento. Seus níveis
diminuem após a ingestão de alimentos (SILVERTHORN, 2004).
Teoria lipostática
Na teoria lipostática, os níveis de reserva de gordura controlarão a sensação
de fome. O próprio tecido adiposo possui sistemas de sinalização com os
núcleos hipotalâmicos, por meio do hormônio produzido pelos adipócitos
chamado leptina, que regulará negativamente a fome, ou seja, quanto maior
a concentração de leptina, menor a sensação de fome. Esse hormônio é espe-
cialmente produzido após a ingestão de alimentos (SILVERTHORN, 2004).
Metabolismo no exercício e bioenergética 3
Catabolismo
É a fase de degradação do metabolismo, na qual as moléculas de nutrientes
orgânicos (carboidratos, gorduras e proteínas) são convertidas em produtos
fi nais menores e mais simples como lactato, piruvato, gás carbônico e
amônia. As vias catabólicas liberam energia utilizada para a ressíntese
de moléculas energéticas de ATP, sendo parte dessa energia perdida na
forma de calor.
Anabolismo
O anabolismo também é chamado de biossíntese. Nesse processo, precur-
sores orgânicos pequenos e simples formam moléculas orgânicas maiores
e mais complexas. Esse tipo de reação é responsável pela formação e pelo
armazenamento de lipídeos na forma de triacilglicerol, dentro dos adipócitos.
Também é responsável pelo armazenamento de carboidratos nos músculos
ou no fígado, na forma de glicogênio, e, ainda, pelo armazenamento de
proteínas, principalmente na forma de proteínas contráteis, no músculo
estriado esquelético.
As reações anabólicas necessitam de fornecimento de energia (ATP) pro-
veniente das reações catabólicas. Nesse ponto, destacamos a interdependência
entre esses dois grandes processos metabólicos, sendo que a existência de
um viabiliza a existência de outro (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
Diversos fatores influenciam no balanço catabólico/anabólico do organismo,
sendo a ingestão de alimentos um deles. Indivíduos que se encontram em
período pós-prandial (após a refeição) terão disponíveis nutrientes para seres
estocados, favorecendo, assim, os processos anabólicos. Já um indivíduo
que está há muito tempo sem comer necessitará da energia proveniente dos
estoques para manter suas funções vitais.
Metabolismo no exercício e bioenergética 5
A leptina (que vem do grego leptos, que significa “magro”), um hormônio produzido
pelo tecido adiposo, foi descoberta em 1994 e é atrelada à função anorexígena, ou
seja, reduz o apetite, agindo em centros cerebrais como o hipotálamo para sinalizar
essa queda no apetite. No entanto, o que observamos na maioria dos indivíduos
obesos são grandes concentrações de leptina, o que não está associado à inibição
do comportamento alimentar compulsório. Para esse fenômeno, tem sido postulado
que indivíduos obesos apresentam “resistência a leptina”, devido a um quadro de
inflamações crônicas dos centros hipotalâmicos, fazendo com que o controle da fome
fique desregulado (NELSON; COX, 2014).
energia por meio de uma simples reação de quebra, esse metabolismo predo-
mina em gestos motores de alta intensidade e curto tempo de duração, como
saltos no voleibol, arremesso no basebol, chutes ao gol e salto com vara. Esse
metabolismo caracteriza-se por apresentar alta capacidade de oferta de energia
por tempo limitado (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
O CH3 O
HO P HN N
OH
OH
NH
CREATINA KINASE
Glicólise anaeróbia
Nesse processo, a molécula de glicose sofrerá diversas reações até ser oxidada a
duas moléculas de piruvato. É um processo extremamente rápido de geração de
energia, porém possui um saldo final de ATP pequeno, quando comparado com
os métodos de produção de energia na presença de oxigênio (aerobiamente). O
piruvato pode seguir dois caminhos distintos, sendo que a demanda por energia
vai determinar esse caminho. Em demandas de baixa necessidade energética, o
piruvato será transportado até a mitocôndria, onde participará da produção de
energia na presença de oxigênio. Já em situações de grande demanda energética,
a via glicolítica é tão exigida que produz, como produto final, uma quantidade
muito grande de piruvato, que acaba saturando os seus transportadores na parede
da mitocôndria (MCT), logo, por causa desse aumento em sua concentração, o
piruvato é prontamente oxidado no citoplasma celular, dando origem ao lactato.
Portanto, consideramos somente como glicólise anaeróbia a via metabólica que
dará origem ao lactato, uma vez que o piruvato participa ativamente da produção
de energia de maneira aeróbia (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
Glicólise aeróbia
https://goo.gl/6zcRML
Metabolismo no exercício e bioenergética 13
https://goo.gl/4bemnL
tribuem bastante para que a energia seja oferecida de maneira aeróbia, porém
possuem ação limitada pela intensidade do exercício. A explicação para esse
fenômeno está na atividade da carnitina, que promove o transporte de ácidos
graxos para dentro da mitocôndria. Exercícios intensos têm demonstrado
diminuir a atividade dessa proteína, o que faz com que a utilização de gordura
diminua em atividades intensas (acima de 65% da capacidade aeróbia máxima)
(PURDOM et al., 2018).
A grande função das proteínas adquiridas por meio da ingestão é sua uti-
lização nos processos anabólicos, porém, certa quantidade de proteína acaba
sendo utilizada na produção de energia, sendo que uma pessoa em repouso
apresenta de 2 a 5% das necessidades energéticas advindas do metabolismo
das proteínas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). O exercício físico é um
grande estímulo para o aumento da utilização de aminoácido como fonte de
energia, sendo que a intensidade e a duração são fatores determinante nesse
processo. Quanto maior a intensidade e a duração de uma atividade, maior
será a oxidação de aminoácidos. Estudos têm demonstrado que sessões de
exercícios de força apresentam menor utilização de aminoácidos quando
comparado com sessões de exercícios dinâmicos, como corrida (RENNIE;
TIPTON, 2000). Mesmo que ambos os tipos de exercícios (força e aeróbio)
apresentem estados anabólicos de síntese proteica após o exercício, temos
que a prática de exercícios com pesos apresenta maior resposta anabólica
(RENNIE; TIPTON, 2000).
Quando usamos os aminoácidos na produção de energia, estes primeiro
devem ser transformados em uma forma em que lhes seja favorável participar
das vias energéticas. Para tal, é necessário que a proteína perca o nitrogênio,
processo chamado de desaminação. O fígado é o principal local onde esse
processo ocorre, porém, não o único, pois os músculos esqueléticos também
contêm enzimas que removem o nitrogênio de um aminoácido e o transferem
para outros compostos durante a transaminação. Alguns aminoácidos doam seu
esqueleto de carbono e produzem intermediários da síntese de glicose, em um
processo chamado gliconeiogênese (que significa criação de nova glicose), o que
confere a esses aminoácidos o nome de glicogênicos, ou seja, geram substratos
que auxiliam as vias do metabolismo da glicose. Outros aminoácidos recebem
a nomenclatura de cetogênicos, pois quando desaminados produzem compostos
precursores de triacilgliceróis ou são oxidados no ciclo do ácido cítrico.
A ureia formada no processo de desaminação (perda do grupo amina) será
eliminada do corpo humano por meio da urina, processo em que a amônia
eventualmente produzida também será eliminada (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2016).
Metabolismo no exercício e bioenergética 17
RENNIE, M. J.; TIPTON, K. D. Protein and amino acid metabolism during and after
exercise and the effects of nutrition. Annual review of physiology, Palo Alto, v. 20, n. 1,
p. 457-483, 2000.
SILVERTHORN, D. U. Human physiology: an integrated approach. 3rd. ed. San Francisco:
Pearson, 2004.
Leituras recomendadas
HOLLOSZY, J. O.; BOOTH, F. W. Biochemical adaptations to endurance exercise in
muscle. Annual review of physiology, Palo Alto, v. 38, n. 1, p. 273-291, 1976. Disponível
em: <https://www.annualreviews.org/doi/pdf/10.1146/annurev.ph.38.030176.001421>.
Acesso em: 6 nov. 2018.
MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREENHAFF, P. L. Bioquímica do exercício e do treinamento.
Barueri: Manole, 2000.
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