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* Instituto de Educação e Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade do Minho, 4700 Braga.
E-mail: prosario@iep.uminho.pt
** Universidade de Oviedo, España.
*** Universidade de Évora.
**** Universidade da Beira Interior.
promote college students’ study competences. Data, collected from an intervention pilot
project with 29 students from first year Public Administration course at Universidade
do Minho prove the usefulness of this tool and how profitable it can be on the
development of college students’ self-regulated learning competences. Practical teaching
implications of the outcomes are so far discussed and highlighted.
Key-words: Learning; Self-regulated learning; Learning strategies; Study skills programs.
Quadro 1
Estratégias de auto-regulação da aprendizagem organizadas segundo as fases do
processo de auto-regulação PLEA (Rosário, 2004; Zimmerman, 2000)
1. Auto-avaliação
(…) as avaliações dos alunos sobre a qualidade ou progressos do seu trabalho
3. Estabelecimento de objectivos e planeamento
(…) planeamento, faseamento no tempo e conclusão de actividades relacionadas
Fase com esses objectivos
de 6. Estrutura Ambiental
planificação (…) esforços para seleccionar ou alterar o ambiente físico ou psicológico de modo
a promover a aprendizagem
9-11. Procura de ajuda social
(…) as iniciativas e esforços dos alunos para procurarem ajuda dos pares (9),
professores (10) outros adultos (11)
2. Organização e transformação
Fases (…) as iniciativas dos alunos para reorganizarem, melhorando-os, os materiais de
do processo aprendizagem.
auto-regulatório 4. Procura de informação
Fases (…) os esforços dos alunos para adquirir informação extra de fontes não-sociais
de quando enfrentam uma tarefa escolar.
execução
5. Tomada de apontamentos
(…) os esforços para registar eventos ou resultados.
8. Repetição e memorização
(…) as iniciativas e os esforços dos alunos para memorizar o material.
7. Auto-consequências
(…) a imaginação ou a concretização de recompensas ou punições para os
Fase sucessos ou fracassos escolares.
de
avaliação 12-14. Revisão de dados
(…) os esforços-iniciativas dos alunos para relerem notas (12), exames (13), livros
de texto (14) afim de se prepararem para uma aula ou para um exercício escrito
para uma abordagem profunda à aprendi- dizagem não têm cruzado dados da inves-
zagem. Dos 7 alunos que apresentaram uma tigação. Em 2004, a “Educational
abordagem profunda à aprendizagem no Psychology Review” apresentou um núme-
pré-teste, 5 mantiveram-na no final do ro temático concretizando uma primeira
projecto, e 2 mudaram a sua abordagem, tentativa de encontro entre os dois mode-
dividindo-se entre uma abordagem super- los teóricos SAL (Students Approaches to
ficial e uma indiferenciada. Por sua vez, Learning) e SRL (Self-Regulated
as três abordagens indiferenciadas, Learning). Apesar da ausência de dados
verificadas no pré-teste, mantiveram-se com os quais contrastar os nossos, os
após a aplicação do projecto. Globalmen- resultados que apresentamos são coerentes
te, estes dados, ainda que limitados aten- com a estrutura dos conceitos de auto-
dendo ao número, sugerem um incremento regulação e de abordagem à aprendizagem
na qualidade das aprendizagens destes reflectindo o esperado, ou seja, os alunos
alunos na linha do referido na extensa que exibem um repertório de estratégias
literatura SAL, que relaciona abordagens de aprendizagem mais auto-regulada en-
profundas à aprendizagem com resultados caram o estudo e a aprendizagem mais
escolares mais qualitativos (Biggs, 1993; proficientemente, optam por abordagens
Biggs, Kember, & Leung, 2001; mais profundas que sugerem um compro-
Richardson, 2000; Rosário, 1999; Rosário, metimento superior com a construção de
Hernández Pina, Clares, & Marta, 2004c; um significado pessoal e um trabalho
Rosário et al., 2005). escolar mais qualitativo (Biggs, 1993;
Antes de iniciarmos o projecto de promo- 2001; Lonka, Olkinura, & Makinen, 2004;
ção de competências de estudo na Univer- Pintrich, 2004; Rosário et al., 2004ab).
sidade, analisámos a relação entre as Relativamente ao desempenho dos alunos
abordagens à aprendizagem exibidas pelos na tarefa concreta de aprendizagem, qui-
alunos e a auto-regulação da aprendiza- semos comparar a qualidade das produções
gem. Verificámos que a abordagem super- dos alunos antes e depois das sessões do
ficial à aprendizagem apresenta uma re- projecto. Dos 13 alunos que apresentaram
lação negativa e significativa com a auto- inicialmente níveis de complexidade estru-
regulação da aprendizagem (r=-.247, tural superficiais, 2 mantiveram os mes-
p<.05), e encontrámos ainda uma relação, mos níveis de realização da tarefa no final
desta feita positiva e também significati- das sessões, e os restantes exibiram níveis
va, entre a abordagem profunda e a auto- de complexidade estrutural profundos. Os
regulação da aprendizagem (r=.522, p<.01). outros dois alunos realizaram inicialmente
Repetimos as análises no pós-teste e a tarefa num nível profundo, contudo no
verificámos uma relação negativa e sig- final das sessões completaram a tarefa com
nificativa entre a abordagem à aprendiza- níveis de comprometimento diferenciados:
gem superficial e a auto-regulação da um superficial e um profundo. Por último,
aprendizagem, embora mais robusta (r=- e referenciando-nos apenas aos dados do
.428, p<.05), assim como uma relação pós-teste, tentámos analisar se os alunos
positiva e significativa entre a abordagem que referem utilizar habitualmente uma
profunda e a auto-regulação da aprendi- determinada abordagem no seu estudo, na
zagem, igualmente mais próxima (r=.750, realização de uma tarefa concreta, apre-
p<.01). A literatura da auto-regulação da sentavam um produto qualitativamente
aprendizagem e a das abordagens à apren- congruente. Nesse sentido, analisámos a
distribuição dos alunos em função das seus objectivos escolares? Como é que o
abordagens à aprendizagem e dos níveis ambiente físico e social afecta os proces-
de complexidade estruturais exibidos na sos de auto-regulação da aprendizagem?
realização da tarefa. Por fim, e talvez a questão mais premente,
Assim, os 2 alunos que apresentaram uma como é que um aluno, quando aprende,
abordagem superficial, distribuíram-se adquire a competência de auto-regular o
igualmente pelos dois níveis de comple- seu conhecimento? O esforço inicial dos
xidade estrutural; um deles manteve um investigadores desta linha de investigação
resultado superficial, coerente com a sua sócio-cognitiva foi dirigido para a com-
abordagem à aprendizagem; o outro com- preensão dos processos e componentes
pletou a tarefa num nível de complexidade específicas da auto-regulação. Assim, os
estrutural mais complexo. Por outro lado, primeiros estudos mapearam e caracteri-
dos 12 alunos que apresentaram aborda- zaram 14 tipos de estratégias de auto-
gens profundas à aprendizagem, 10 rea- regulação referenciadas nos auto-relatos
lizaram a tarefa com níveis de complexi- dos alunos (Zimmerman & Martinez-Pons,
dade estruturais profundos e 2 alunos 1986, 1990, 1992), registando, por exem-
realizaram a tarefa com níveis de complexi- plo, que o grupo de alunos com melhores
dade estrutural baixos. O aluno que apre- classificações escolares, comparativamen-
sentou uma abordagem indiferenciada te aos seus pares, utiliza mais treze das
realizou a tarefa apresentando níveis de catorze estratégias descritas. Contudo,
complexidade estruturais elevados. Estes talvez os dados mais significativos desta
dados relativos às avaliações realizadas linha de investigação estejam relacionados
após as sessões do projecto, relatando com o facto de ser possível classificar
produções de uma complexidade estrutu- correctamente, através do estudo do pa-
ral mais qualitativa e referenciando o drão de estratégias de auto-regulação
aumento do número de abordagens pro- utilizado, 93% dos alunos quanto ao seu
fundas à aprendizagem, são claramente nível de rendimento escolar (Zimmerman
consonantes com a literatura SAL que & Martinez-Pons, 1986). Na mesma linha,
associa abordagens de aprendizagem pro- Rosário e colaboradores (2001, 2004c)
fundas a produtos de mais elevada com- afirmam que os alunos do Ensino Secun-
plexidade estrutural (Biggs & Collis, 1982, dário com um padrão comportamental mais
1989; Rosário et al, 2003; Rosário et al., auto-regulado, obtêm um melhor rendimen-
2004b). to escolar nas disciplinas de Matemática
e Língua Portuguesa e, inversamente, as
médias escolares mais baixas correspon-
Discussão e conclusão dem a padrões auto-regulatórios menos
proficientes.
A investigação sobre os processos de auto- Apesar da reduzida amostra de alunos que
regulação da aprendizagem tem sido gui- completaram as sessões do projecto, os
ada por algumas questões que materiali- dados da nossa investigação aportaram
zam preocupações muito frequentes entre elementos que corroboram a literatura,
os educadores. O que motiva os alunos à sugerindo a importância de trabalhar es-
auto-regulação durante a sua aprendiza- tratégias de aprendizagem com alunos
gem? Quais são os processos-chave ou as universitários, uma vez que como sugere
respostas dos alunos auto-reguladores aos Zimmerman (1998) “o ensino de estraté-
gias é considerado uma das chaves prin- consequência dos comportamentos dos
cipais na promoção da aprendizagem auto- alunos” (p.22), mas estamos convictos que
regulada” (p.227). Os primeiros resultados é importante nutrir estas competências,
recolhidos no projecto “Cartas do Gervásio equipando os alunos para poderem respon-
ao seu Umbigo” – embora sem der autonomamente aos reptos da acade-
significância estatística – apontam para mia. Este projecto é um primeiro esforço
mudanças no comportamento dos alunos nesse sentido.
no sentido de um trabalho académico
qualitativamente mais robusto e auto-re- Agradecimento: Este trabalho foi possí-
gulado. No final do projecto os alunos vel com o subsídio de investigação con-
apresentaram abordagens à aprendizagem cedido pela F. Ramada, Aços e Indústrias,
mais profundas e níveis de complexidade S.A.
estrutural igualmente profundos na reali-
zação das tarefas, sugerindo a importância
de trabalhar estas competências também Referências
na Universidade. “A tarefa fundamental dos bibliográficas
professores é conseguir que os alunos se Biggs J. B. (1993). What do inventories
envolvam nas actividades de aprendizagem, of students’ learning processes really
alcançando os resultados pretendidos... measure? A theoretical review and
Convém recordar que aquilo que os alu- clarification. British Journal of
nos realizam é mais importante para a Educational Psychology, 63, 3-19.
determinação daquilo que é aprendido do Biggs, J. B. (2001). Enhancing learning:
que aquilo que o professor faz” (Shuell, A mater of style or approach? In R.
1986, p.429). Apesar destes indicadores Sternberg & L. Zhang (Eds.),
promissores, é importante testar o projecto Perspectives on Thinking, Learning,
“Cartas do Gervásio ao seu Umbigo” numa and Cognitive Styles (pp. 73-102).
amostra mais alargada e diferenciada de Mahwah, NJ: Erlbaum.
alunos do 1.º ano da Universidade e, na Biggs, J. B., & Collis, K. F. (1982).
linha da avaliação da auto-regulação como Evaluating the Quality of Learning: The
um evento (Perry, 2002), construir outros SOLO Taxonomy. New York, NY:
elementos de avaliação da auto-regulação Academic Press.
dos sujeitos, mais centrados na resolução Biggs, J. B., & Collis, K. F. (1989).
de tarefas. A construção de ferramentas de Towards a model of school-based
promoção da aprendizagem auto-regulada curriculum development and
é um dos reptos à investigação na área dos assessment: Using the SOLO
processos de auto-regulação. Na Univer- Taxonomy. Australian Journal of
sidade existem poucos projectos Education, 33, 149-61.
referenciados na literatura (Hofer, Yu, & Biggs, J., Kember, D., & Leung, D. Y.
Pintrich, 1998; Weinstein, Husman, & (2001). The Revised Two Factor Study
Dierking, 2000), pelo que continuaremos Process Questionnaire: R-SPQ-2F.
a trabalhar esta ferramenta alargando a British Journal Educational
aplicação a outros alunos, cursos e Uni- Psychology, 71, 133-149.
versidades. Defendemos como Zimmerman Boekaerts, M. (1995). Self-regulated
(1989) que “aprender não é algo que learning: Bridging the gap between
acontece aos alunos, é algo que ocorre em metacognitive and metamotivation