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29 outubro 2019
MARINHA
Militares da Marinha e agentes do Ibama trabalham para retirar óleo da foz do rio Jaboatão, em
Pernambuco
As manchas de óleo no litoral do Nordeste mobilizaram vários órgãos federais, estaduais e
municipais, além de milhares de voluntários.
O incidente já afetou 225 praias em 80 municípios desde o fim de agosto. Neste fim de
semana, as manchas voltaram a aparecer em seis praias do Rio Grande do Norte que já
haviam sido afetadas pelo vazamento (Tabatinga, Búzios e Camurupim, em Nísia Floresta;
Praia do Giz e Praia do Amor, em Tibau do Sul; e Pirangi do Norte, em Parnamirim).
A dimensão do acidente e as dúvidas quanto à sua autoria têm alimentado embates entre
autoridades e motivado críticas de comunidades impactadas e ambientalistas, que
questionam a eficácia da resposta governamental ao desastre.
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Em seu artigo 20, a Constituição cita entre os bens da União as "praias marítimas" e "os
terrenos de marinha e seus acrescidos". "Terrenos de marinha e acrescidos" são as áreas
localizadas numa faixa de 33 metros contados a partir do mar em direção ao continente,
assim como as margens de rios e lagoas que sofrem a influência de marés.
Cheker diz que órgãos federais têm a primazia nas ações de limpeza e investigação. Ela
afirma que órgãos estaduais e municipais — entre os quais as defesas civis e as secretarias de
Meio Ambiente — podem e devem se envolver nessas ações, mas sempre sob a coordenação
federal.
IBAMA
O advogado André Lima, ex-secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal, diz que cabe
principalmente ao Ministério do Meio Ambiente organizar a resposta governamental ao
desastre.
"Onde todo mundo tem alguma responsabilidade, se você não tem a coordenação de
esforços, rola bateção de cabeça ou lacunas de ação", afirma Lima.
Ele diz que a divisão de tarefas em casos de vazamento de petróleo está definida no Plano
Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC), criado em 2013.
O plano aponta o Ministério do Meio Ambiente (MMA) como responsável pela coordenação
das atividades e cita quatro instâncias, integradas por órgãos federais, incumbidas de agir
nesses casos. Há críticas, porém, à execução do plano.
Duas das instâncias citadas no documento foram extintas pelo governo Jair Bolsonaro em
abril junto de vários outros órgãos.
Uma delas é o Comitê Executivo, "responsável pela proposição das diretrizes para
implementação do plano" e composto pelo MMA, Ministério de Minas e Energia, Marinha,
Ibama, Agência Nacional do Petróleo, Ministério da Integração Nacional (hoje absorvido pelo
Ministério do Desenvolvimento Regional) e Ministério dos Transportes.
O outro órgão extinto foi o Comitê de Suporte, composto por vários outros órgãos federais
incumbidos de auxiliar na resposta ao acidente.
Para André Lima, a extinção dos comitês tem dificultado a implantação do plano. "O governo
desestruturou todo o arranjo de governança, comprometendo a coordenação de ações entre
diferentes ministérios", afirma o advogado.
Já o governo diz que tem agido conforme o plano. Em 17/10, o presidente do Ibama,
Eduardo Bim, disse no Senado que o órgão trabalha em conjunto com a Marinha e a ANP
desde setembro e que a Marinha foi encarregada de liderar as ações.
Veja a seguir os principais papéis que a legislação brasileira atribui aos órgãos públicos
envolvidos em um incidente como o que afeta as praias do Nordeste.
Segundo a procuradora Monique Cheker, o ministro do Meio Ambiente pode sofrer uma ação
de improbidade administrativa caso descumpra suas atribuições na resposta ao incidente.
Isso poderia ocorrer num cenário em que, por exemplo, ele se recuse a tomar providências ou
demore para fazê-lo mesmo sabendo da gravidade de uma ocorrência
Ibama
Autarquia subordinada ao MMA, é responsável por agir em casos que envolvem danos
ambientais relevantes em áreas da União.
Esse processo independe de ações sobre o mesmo caso que possam tramitar na Justiça.
DIVULGAÇÃO
À direita, ministro do Meio Ambinte, Ricardo Salles, em reunião sobre o vazamento de óleo no
Nordeste; órgão deveria liderar resposta do governo ao incidente, segundo especialistas
ICMBio
Várias unidades de conservação foram afetadas pelo vazamento de óleo no Nordeste, entre
as quais a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, que ocupa trechos do litoral de
Pernambuco e Alagoas.
É o único órgão federal que investiga crimes, inclusive os ambientais (já que o Ibama atua
apenas na esfera administrativa). Portanto, a PF tem papel central na responsabilização dos
culpados pelo vazamento.
Com base nas informações levantadas pela Polícia Federal, o MPF avalia se oferece uma
denúncia à Justiça ou se arquiva o caso. Essa ação pode tramitar na esfera criminal e buscar
a punição dos responsáveis, com pena de multa ou até prisão. Mesmo empresas e pessoas
estrangeiras podem ser investigadas e denunciadas, ainda que muitas vezes escapem de
cumprir as penas quando condenadas.
O MPF também atua na esfera cível. O órgão pode conduzir uma Ação Civil Pública para
cobrar providências das autoridades responsáveis por sanar um dano ambiental, por
exemplo. Essas ações costumam ter efeitos mais rápidos e atendem a interesses difusos, que
envolvem grupos maiores de vítimas.
Outro desdobramento possível é uma ação de improbidade administrativa, caso o MPF avalie
que alguma autoridade descumpriu suas atribuições na resposta a um incidente.
Condenados por improbidade administrativa têm seus direitos políticos suspensos e ficam
impossibilitados de se candidatar a cargos eletivos.
Marinha
Como a Marinha é o órgão da União mais equipado para atuar nos mares, ela acaba
assumindo outras funções. No caso do óleo no Nordeste, ela tem coordenado, por exemplo,
o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC) - função que,
segundo os especialistas entrevistados, deveria estar nas mãos do Ministério do Meio
Ambiente.
Por ora, porém, as investigações indicam que o óleo não é proveniente do Brasil e
provavelmente chegou às águas do país após ser descartado por um navio.
Outros órgãos envolvidos
Outros órgãos têm participado dos esforços de limpeza e investigação, embora não tenham
responsabilidade direta.