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DESENVOLVIMENTO

GERENCIAL E
LIDERANÇA
Liderança e gestão
Jessica de Cássia Rossi

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir liderança.


>> Identificar as diferentes teorias do conhecimento científico sobre liderança.
>> Distinguir liderança de gestão.

Introdução
A liderança é um tema que tem recebido atenção de pesquisadores há mais de um
século. Por isso, existe uma série de definições e correntes teóricas que tratam
esse fenômeno a partir de diferentes aspectos que envolvem a atuação de um
líder, seja compreendendo-a como um processo, uma interação ou uma influência
entre pessoas de um grupo.
Ao longo do tempo, as diversas pesquisas realizadas entenderam a liderança
como a figura de um herói, uma posição que estimula o processo de produção
nas empresas, com uma postura comportamental e uma relação de influência.
Além disso, o tema passou por discussões sobre as distinções entre o papel de um
líder e o de um gestor. Acredita-se que o primeiro é algo que surge de forma mais
espontânea/natural, ao passo que a posição de um gestor é um cargo atribuído
a alguém.
Neste capítulo, você vai conhecer as principais definições de liderança. Além
disso, vai conferir quais foram as principais linhas teóricas existentes sobre o
tema ao longo da história. Por fim, você vai conhecer as distinções entre líder e
gestor de um ponto de vista crítico.
2 Liderança e gestão

O que é liderança?
A liderança é um conceito bastante discutido na atualidade em diferentes
situações cotidianas. O líder está presente em organizações, nas comunidades,
na política, entre outros. Por se tratar de um tema abrangente, a literatura da
área apresenta uma série de definições sobre o termo liderança (BENDASSOLLI;
MAGALHÃES; MALVEZZI, 2014; TURANO; CAVAZOTTE, 2016). A seguir, confira
algumas definições de liderança, levando em consideração os elementos
comuns verificados nas definições existentes.
De acordo com Bendassolli, Magalhães e Malvezzi (2014, p. 419), é possível
afirmar que a liderança:

– é um processo;
– envolve influenciar outras pessoas;
– ocorre em grupos;
– envolve a busca, tanto da parte dos líderes como da parte dos liderados, de
mudanças reais;
– envolve o estabelecimento de objetivos comuns.

Em relação à ideia de liderança como um processo, depreende-se que ela


é passível de desenvolvimento por meio de relacionamentos e trocas que
ocorrem nos grupos que trabalham em instituições. Nesse contexto, o papel
do líder não é de uma pessoa da alta direção, mas sim de qualquer indivíduo
que influencie outros sujeitos a partir de processos.
No que diz respeito à ideia de liderança como influência, trata-se da
maneira como os gestores inspiram liderados, bem como a influência mútua
entre eles ao longo do desenvolvimento de uma situação. A persuasão ocorre
por meio de comportamentos que não são forçados, ou seja, em que não se faz
uso da autoridade para influenciar o grupo. Essa relação ocorre de forma livre
e de modo multidirecional, e a influência pode ocorrer por meio de diferentes
fluxos, como vertical, horizontal, etc. Acredita-se que essa formação ocorra
em situações de formulação de objetivos, de questões comportamentais e
da dimensão cultural da organização.
Além disso, a ocorrência da liderança em grupos se refere à noção de
vínculos criada entre líderes e seguidores, em que ambos criam “[...] uma
dinâmica de legitimação e reconhecimento mútuos” (BENDASSOLLI; MAGA-
LHÃES; MALVEZZI, 2014, p. 420). Cabe salientar que o conceito de seguidor deve
ser entendido como um agente ativo nas relações com o líder, e não como
subordinado, uma vez que se trata de uma relação dinâmica de influência, na
qual quem é seguidor também pode ser líder. No entanto, de acordo com Rost
(1993), a posição de líder e liderados não é igual, pois há diferenças entre o
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tipo de influência exercido por cada um. Em geral, o líder se compromete mais
com a relação de influência, em virtude de ter mais propensão para aplicar
os recursos de poder de que dispõe para inspirar seus liderados. Trata-se
de um papel que se alterna, dependendo do contexto em que os sujeitos
estão inseridos. Contudo, de qualquer modo, deve-se considerar o papel do
seguidor como atuante junto ao seu líder ao questioná-lo, apresentar suas
perspectivas, dar sua opinião, entre outros. Assim, seria totalmente contrário
à noção de liderança pensar os liderados como pessoas passivas, já que
a liderança é uma prática “[...] negociada, multidirecional, situacional, de
influência” (BENDASSOLLI; MAGALHÃES; MALVEZZI, 2014, p. 421).
Já a liderança entendida como a promoção de mudanças reais se con-
cretiza por meio de falas e ações que impactam de forma imediata para o
alcance de um objetivo que promoverá a alteração desejada. Essa liderança
ocorrerá futuramente, mas dependerá do que será feito pela equipe e de
outros aspectos adicionais. Além disso, a transformação deve promover algo
que seja valorizado por líder e liderados e que faça sentido para os membros
envolvidos. Portanto, é uma situação que demanda comprometimento e serie-
dade da equipe para que se consiga obter os resultados desejados, embora o
retorno obtido possa ser compreendido de diferentes formas pela literatura
especializada em liderança (BENDASSOLLI; MAGALHÃES; MALVEZZI, 2014).
Por fim, a definição de liderança como estabelecimento de objetivos
comuns se refere há uma finalidade acordada entre o gestor e sua equipe,
não sendo algo unilateral, em que os seguidores apenas executam o que é
solicitado. Vale lembrar que a liderança se dá por meio de relações que geram
interdependência entre as partes envolvidas e é construída diariamente
para o alcance de um propósito comum. É a liderança que dá sentido às
trocas realizadas entre a equipe, sendo o líder a figura que motiva e apoia
os liderados a alcançarem suas metas e objetivos. O Quadro 1 apresenta os
componentes das definições de liderança.
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Quadro 1. Componentes das definições de liderança

Liderança

Relacionamento baseado „„ Influência multidirecional.


em influência
„„ Comportamentos não coercitivos.

Líderes e seguidores „„ Os seguidores são ativos.


são pessoas nesse
„„ Deve haver mais de um seguidor e, em geral,
relacionamento
mais de um líder no relacionamento.
„„ O relacionamento é inerentemente desigual,
pois os padrões de influência são desiguais.

Líderes e seguidores „„ Líderes e seguidores desejam, de forma pro-


visam a mudanças reais positiva, certas mudanças.
„„ Mudanças reais são subs tanciais e
transformadoras.
„„ Líderes e seguidores não precisam produzir
mudanças para que a liderança ocorra; es-
sas mudanças podem ocorrer no futuro (se
ocorrerem).
„„ Líderes e seguidores visam a diversas mudan-
ças ao mesmo tempo.

Líderes e seguidores „„ A mutualidade dos propósitos é obtida em


desenvolvem propósitos relacionamentos não coercitivos.
mútuos
„„ Líderes e seguidores desenvolvem propósitos
(purposes), e não objetivos (goals).
„„ As mudanças visadas refletem os propósitos
de líderes e seguidores.
„„ Os propósitos mútuos tornam-se propósitos
comuns.

Fonte: Adaptado de Bendassolli, Magalhães e Malvezzi (2014).

Como visto, o conceito de liderança é abordado por diferentes perspecti-


vas, e cada qual tem a sua especificidade e contribuição para as discussões
sobre o tema. Cada líder tem o seu estilo de atuação para influenciar a sua
equipe nas relações que se processam entre ambos nas organizações. Seja
qual for a perspectiva pela qual a liderança for explicada, todas elas apre-
sentam reflexões sobre a relevância do líder junto à sua equipe na vivência
organizacional.
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Tim Cooks, atual CEO da Apple, é um líder que prefere focar sua
atuação nas áreas que domina, acompanhando todos os detalhes do
seu trabalho e delegando para outros profissionais tarefas que não domina. Focar
o trabalho em tarefas essenciais é uma estratégia que auxilia a maximização de
resultados, pois o líder não precisa acompanhar todas as tarefas, “[...] mas sim
escolher pessoas altamente capacitadas para executar essas demandas, além
de dar a elas recursos, encorajamento e confiança suficientes para exercer as
suas capacidades” (CONHEÇA a técnica usada por Tim Cook e Jeff Bezos para
aumentar a produtividade, 2021, documento on-line).
Em contrapartida, o antecessor de Cooks, Steve Jobs, um ícone da marca
Apple que levou a empresa a se tornar uma das mais valorizadas no mundo,
preferia acompanhar todas as tarefas de perto, exercendo uma considerável
pressão sobre a sua equipe (CONHEÇA a técnica usada..., 2021). Jobs era muito
perfeccionista e entendia que o gestor deve acompanhar e controlar todas
as fases de um processo, a fim de garantir que tudo seja feito com extrema
qualidade. Esse estilo de liderança permitiu que a Apple se tornasse uma grande
empresa, com produtos que se tornaram ícone da cultura digital, tais como
iPod, iPad e iPhone.
Os líderes contribuíram para o sucesso que a empresa desempenha no
mercado mundial há décadas, estimulando a equipe a acreditar no objetivo da
empresa e a oferecer o melhor que podem no contexto em que estão para que
ele se torne possível.

Teorias sobre liderança


As reflexões teóricas sobre liderança são bastante diversas, pois há uma gama
intensa de perspectivas e discussões sobre o assunto, já que se trata de uma
área de conhecimento com mais de cem anos de estudos. O tema é estudado
por diferentes perspectivas das ciências sociais, uma vez que está presente em
diferentes áreas, sendo um assunto multidisciplinar especialmente abordado
nas áreas de administração e gestão de negócios. Segundo Burns (1978), até
os anos 1970, havia diversas conceituações sobre liderança sem que nenhuma
fosse a principal ou amplamente aceita, dada a sua natureza multifacetada e
complexa. Apesar disso, é preciso reconhecer que as definições são entendidas
a partir de características distintas do fenômeno da liderança (BENDASSOLLI;
MAGALHÃES; MALVEZZI, 2014). Em síntese, a liderança pode ser entendida
como um processo relacional em que líderes inspiram a sua equipe a aplicar
esforços para alcançar um determinado objetivo.
No Brasil, de acordo com Delfino, Silva e Rohde (2010), as maiores publica-
ções sobre o assunto ocorreram no período de 1995 a 2009, mas considera-se
parte desses estudos ainda limitados, pois não se tornaram publicações
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científicas. Fonseca, Porto e Borges-Andrade (2015), acreditam que, embora


tenha havido um aumento considerável nas últimas décadas, os estudos
sobre liderança ainda são limitados, uma vez que há mais estudos qualitativos
exploratórios.
A abordagem do tema liderança está presente em várias disciplinas (p.
ex., sociologia, psicologia e economia) e em diferentes momentos históricos
(do período clássico à pós-modernidade). Do ponto de vista econômico e
social, a área foi abordada em conjunto com teorias sobre as organizações
e os aspectos administrativos, focando-se em aspectos como cultura es-
tratégia e redes. Já sob o ponto de vista da psicologia, área que contribuiu
significativamente para a discussão sobre liderança na contemporaneidade,
o tema é abordado por meio de noções como “[...] personalidade e diferenças
individuais, interações sociais e do comportamento em grupo” (TURANO;
CAVAZOTTE, 2016, p. 437).
Em relação às teorias clássicas, que se referem a personagens históricos
para abordar a liderança, recorre-se a nomes de conquistadores e figuras
militares para descrever a liderança dentro do contexto histórico a partir
do qual esses líderes surgiram e os desafios que eles enfrentaram. Essas
pesquisas passaram a ser desenvolvidas no início do século XX, porém há
textos mais antigos que são referenciados até a atualidade. Conforme Turano
e Cavazotte (2016), o livro O príncipe (1513–1514), escrito por Maquiavel, trata
das atividades políticas da sua época, assim como A arte da guerra, original
de 400–320 a.C., aborda os ensinamentos de Sun Tzu, sendo considerada uma
grande obra sobre liderança.
A escola dos traços, também conhecida como a teoria do grande homem,
foi a primeira linha de pensamento formal sobre liderança. Até o final da
década de 1940, essa abordagem buscou compreender os aspectos comuns
de um líder e o fascínio que ele despertava nas pessoas. Nessa linha de
pensamento, entendia-se que ser líder era um dom que algumas pessoas
tinham para exercer tal papel, de modo que se buscou entender quais eram
as características inatas dessa atuação. Todavia, a abordagem foi conside-
rada limitada, pois foi vista “[...] como determinista, [por] ignorar fatores
situacionais e não tratar [do] processo da liderança de [uma] maneira [mais]
holística” (NORTHOUSE, 2010 apud TURANO; CAVAZOTTE, 2016, p. 437-438).
Posteriormente, nos anos 1950, dado o crescimento do capitalismo in-
dustrial, a liderança passou a ser pensada como uma posição de gestão, e
não mais como papel de heróis. Desse modo, os estudos se voltaram para
a discussão sobre o modo de agir do líder nos processos de trabalho, pas-
sando a ser analisadas as condutas do grupo diante do gestor. Postulava-se
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que líderes voltados para pessoas poderiam construir um relacionamento


intenso com os seus seguidores, ao passo que os líderes orientados por
tarefas estimulariam mais a produtividade e o alcance de metas. Apesar de
essas reflexões terem se reduzido posteriormente, elas foram incorporadas
por teorias mais atuais.
Já nos anos 1960, no cenário da Guerra Fria, engendraram-se reflexões
sobre liderança que sugeriam a necessidade de adaptação e compreensão
racional de um contexto, o que desencadeou a criação das teorias contin-
genciais. Discutia-se que o líder deveria levar em consideração as diversas
situações (como a origem da tarefa a ser feita, sua legitimidade e poder, a
relação com os membros, etc.) às quais estaria exposto para adaptar seus
comportamentos a elas, a fim de poder influenciar a sua equipe. Embora
tivesse uma orientação para situações práticas, uma das limitações dessa
teoria é que ela não foi verificada empiricamente de forma mais profunda para
testar e validar as suas hipóteses. Com o tempo, esses estudos foram sendo
reduzidos e pouco verificados no início do século XXI (GARDNER et al., 2010).
Na sequência, houve a escola relacional de liderança, que procurou ponde-
rar sobre os laços entre o líder e cada membro do grupo como foco central da
teoria. As linhas de pensamento anteriores abordaram o aspecto relacional do
líder, mas de forma complementar, como fizeram as teorias comportamental
e contingencial. As teorias da escola relacional iniciaram-se com a teoria dos
vínculos didáticos verticais e foram até a abordagem das trocas entre líder
e seguidores (TURANO; CAVAZOTTE, 2016). Pela perspectiva relacional, o tipo
de interação desenvolvido entre líder e seguidores variava qualitativamente
de relações formais com papéis formais bem-definidos a interações mais
intensas, com base na confiança e no respeito. Defendia-se que esta última
forma de relação tende a promover resultados mais satisfatórios do que
aquelas em que a não há proximidade entre os envolvidos. Contudo, a escola
não conseguiu explicar quais aspectos estimulariam um relacionamento mais
intenso do líder com seus liderados.
À medida que o campo científico sobre liderança foi amadurecendo, pes-
quisadores passaram, entre os anos 1970 e 1980, a contestar as reflexões tra-
dicionais sobre o tema, pois compreendiam que a liderança se legitimava mais
pelo significado que tinha para os seguidores do que pelas ações do líder em
si. Desse modo, os estudos tornaram-se céticos em relação ao papel do líder,
considerando-o pouco relevante. Nesse contexto, surgiram as teorias implíci-
tas de liderança, com base “[...] no pressuposto de que expectativas sobre o
líder influenciavam as percepções dos indivíduos sobre o seu comportamento”
(TURANO; CAVAZOTTE, 2016, p. 439). Outras abordagens teóricas centradas
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nos liderados foram as teorias focadas no processamento de informações,


que enfatizavam como os aspectos dos liderados influenciam o fenômeno da
liderança. Aqui, surgem as primeiras discussões sobre o autogerenciamento
de equipes e as bases para o conceito de liderança compartilhada.
Concebeu-se, também, o modelo de extensão total da liderança (full-range
leadership theory), conhecido como a “escola da nova liderança”, em que estão
inseridas as teorias das lideranças transformacional e transacional. A partir
do texto seminal de Burns (1978), passou-se a debater como as relações de
transformações promovem reflexos nos seguidores mais do que as interações
de troca, transacionais, pois aquelas estão fundamentadas na transcendência
e na realização de objetivos partilhados por toda a equipe. Trata-se de uma
perspectiva mais coletiva do que individualista, focada apenas no interesse
de cada parte, visando a obter algum benefício: a teoria transacional. Em
meio às discussões, surgiu também a abordagem carismática sobre liderança;
juntas, essas teorias produziram diversos estudos entre o final do século XX
e o início do século XXI.
Nas grandes questões e transformações dos anos 2000, desenvolveu-se a
teoria da liderança autêntica, fundamentada em abordagens filosóficas e da
psicologia positiva. Tal corrente debateu como poderia ocorrer uma liderança
mais assertiva para o contexto contemporâneo. Para essa abordagem, as
principais posturas de um líder autêntico são: “(a) processamento balance-
ado de informações, (b) perspectiva moral internalizada, (c) transparência
relacional e (d) autoconhecimento” (GARDNER et al., 2005 apud TURANO;
CAVAZOTTE, 2016, p. 439–440). No entanto, considera-se que essa teoria não
é inovadora, pois apresenta características da teoria da liderança ética e,
em alguns pontos, da teoria transformacional (TURANO; CAVAZOTTE, 2016);
ademais, entende-se que ela precisa amadurecer as suas reflexões.
Como visto, há diversas linhas de pensamento e discussões sobre a lide-
rança, de modo que este capítulo abordou de modo resumido cada aborda-
gem. Todas as abordagens tentam explicar o fenômeno da liderança em si,
bem como os aspectos que determinam a sua efetividade, ao tratarem das
características do líder, das fontes de poder, dos traços dos seguidores e dos
relacionamentos e como eles potencializam a transformação.

Diferenças entre liderança e gestão


Nas discussões sobre liderança na atualidade, uma das distinções abordada
recorrentemente é entre líder e gestor. Por isso, faz-se relevante compreender
as especificidades da gestão, a fim de compará-las e debatê-las com as da
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liderança. É importante salientar que liderança e gestão não são sinônimas,


já que a liderança se estabelece por meio de um vínculo relacional, e a gestão,
como uma função na hierarquia organizacional.
A gestão é uma área do conhecimento que aborda como as organizações
podem atingir os seus objetivos por meio do planejamento, da execução e
da avaliação de suas atividades. Conforme Drucker (2008), para que ela se
realize, faz-se necessário trabalhar o comportamento das pessoas e das
organizações. Esse processo é “[...] constituído por um conjunto de funções
que são essenciais para alcançar os objetivos organizacionais, de forma eficaz
e eficiente” (BORGES; MENDES, 2014, p. 96).
A partir disso, as empresas precisam atuar de forma eficiente e eficaz
para alcançar os seus propósitos. Desse modo, é indispensável que haja
uma distribuição organizacional equilibrada para a autoridade e o trabalho
que será desempenhado por cada função. A responsabilidade assumida por
cada cargo é proporcional à posição ocupada na pirâmide hierárquica; ou
seja, quanto mais alto for o cargo, maior será a responsabilidade e o poder
atribuído a ele.

A posição de um gestor é definida pelo organograma da empresa, em


que se identifica as suas responsabilidades e os seus subordinados.
Quanto mais alta for a sua posição, maior será a sua responsabilidade na gestão
de uma organização.

Nesse contexto, o gestor precisa ter determinadas competências para que


possa exercer a sua função, como habilidade de organização e orientação
da sua equipe de trabalho, tendo em vista os objetivos e os valores insti-
tucionais. Trata-se de um papel que é atribuído a um indivíduo conforme o
organograma de uma empresa. O gestor pode estar presente em nível diretivo
e em posições intermediárias, como, por exemplo, em um setor ou em uma
unidade organizacional (BORGES; MENDES, 2014).
Entre as competências de um gestor, destacam-se: planejar; desenvolver
ações de curto prazo; dar suporte aos cargos técnicos; manter o cumprimento
de regras; impor limites às ações desempenhadas pelos colaboradores;
priorizar a estabilidade organizacional do trabalho dos subordinados para
alcançar os objetivos propostos; e avaliar os resultados do grupo. O poder
do gestor é legitimado formalmente na organização, e ele deve contar com
as seguintes características: ter papel de supervisão; ter baixa proximidade
emocional; evitar ser impulsivo (não medir as palavras utilizadas em cada
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situação); ter uma visão racional das tarefas que devem ser desempenhadas;
e ter uma postura mais conservadora, com clareza do que deve ser feito
(BORGES; MENDES, 2014; CUNHA et al., 2007; REGO; CUNHA, 2007; ROUCO, 2012).
O papel do gestor envolve uma atuação mais disciplinar, autoritária e
fiscalizadora junto aos funcionários de uma instituição. Portanto, refere-se
a uma posição muito mais racional e menos empática junto à equipe em
questão, dificultando que existam laços de proximidade, confiança e influ-
ência do gestor entre eles. Em contrapartida, o papel do líder se estabelece
por meio de um vínculo relacional que se estabelece com os seguidores,
legitimado pela prática.

Na gestão pública, a presença de líderes que possam influenciar a


consecução de um objetivo por um grupo é essencial para o bem-
-estar da população. No entanto, muitas vezes, os gestores responsáveis por
tais decisões são políticos que foram eleitos ou designados para o cargo, como
cargos de confiança, e que não adotam a postura de líder, agindo apenas como
gestores ou, por vezes, em prol dos próprios interesses.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos em 2021 sobre as características
que as pessoas esperam de um líder para enfrentar a pandemia de covid-19
mostrou que 42% dos brasileiros desejam que os “[...] políticos priorizem os
interesses do País ao invés de suas próprias carreiras. Esta e outras caracte-
rísticas como ‘ser honesto’, ‘tomar decisões certas na hora certa’ e ‘agir rápido
para proteger as pessoas’ tiveram destaque entre os brasileiros” (LARA, 2021,
documento on-line).

Confira, a seguir, as principais características de gestores e líderes (CUNHA


et al., 2007).

„„ Gestores: focam no presente, buscam a manutenção das ações; têm


ações mais imediatas; são orientados por regras; priorizam como as
coisas serão feitas; buscam o controle das situações; preferem a com-
plexidade; valorizam a lógica; e cuidam dos interesses da organização.
„„ Líderes: preocupam-se com o futuro; buscam a mudança; focam no
longo prazo; se inspiram em uma visão; priorizam o porquê das ações;
empoderam seus seguidores; valorizam a simplificação; alimentam a
confiança; e têm uma visão social ampla.

A partir disso, verifica-se que o papel desenvolvido por ambos é bem


distinto, de modo que não se deve tratá-los como sinônimos, como ocorre,
muitas vezes, no senso comum. Há muito mais gestores nas organizações
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na contemporaneidade do que líderes, pois há uma diferença qualitativa


substancial entre as posições. A liderança depende dos valores, dos com-
portamentos e das relações que surgem em um dado grupo de pessoas.
Já a gestão é uma posição muito recorrente nas pirâmides hierárquicas de
organizações que valorizam estilos de gestão assimétricos. O líder ocupa um
papel de forma espontânea e informal, ao passo que o gestor tem um papel
instituído e formalizado, conforme os interesses da empresa.
Alguns gestores, por vezes, preferem não se apresentar como “chefes”
para os seus subordinados, mas sim como líderes, uma posição valorizada no
mundo corporativo, enquanto a noção de chefe é vista como autoritária. No
entanto, a posição de líder não está relacionada com a função de um gestor,
mas sim com a uma atuação que é construída informalmente nas relações que
envolvem um grupo de pessoas no contexto corporativo. O gestor pode até
se tornar um líder, se tiver um posicionamento e um vínculo relacional que o
levem a isso, mas isso vai além da sua função, de modo que nem sempre se
verifica essa qualidade nos cargos gerenciais.
Desse modo, faz-se necessário ter cuidado com o uso da expressão líder,
já que se trata de um termo bastante aplicado no mundo corporativo na
atualidade, para que não seja atribuído um significado equivocado ao termo.
As dimensões da liderança podem enriquecer os processos corporativos,
porém, se utilizadas de modo inadequado, podem perder a credibilidade e
gerar frustração entre os envolvidos. Por isso, faz-se imprescindível que as
empresas compreendam muito bem qual é a diferença entre o papel de um
líder e o de um gestor, a fim de dar o valor apropriado atribuído a cada um.

Referências
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