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No presente estudo de caso foi apresentada a queixa de duas

trabalhadoras, que reivindicam o acionamento das medidas previstas no


Código de Ética de sua empresa. No caso apresentado, as trabalhadoras
denunciam o tratamento dado por seu chefe direto, que as inferiorizava
sistematicamente, além de realizar constantemente convites por meio da rede
de comunicação interna da empresa para encontros fora do trabalho. No caso
ainda fica evidente que tal tratamento inadequado só ocorria uma vez que as
duas trabalhadoras eram mulheres. Nesse sentido, se comprovadas as
denúncias, as ações do gestor configuram discriminação por gênero, assédio
moral e sexual. Estes atos depõem contra a conduta necessária para sua
permanência no cargo e podem impactar a negativamente a imagem da
empresa. Do ponto de vista ético, o gestor cometeu uma série de erros que
poderiam ser evitados se este ponderasse a incidência de suas práticas na
esfera coletiva. Uma vez que o gestor levou em consideração apenas o seu
bem-estar individual e momentâneo, a ética como princípio universal não
estaria presente em suas ações. Ao agir segundo seus próprios princípios, o
gestor interfere nas liberdades individuais das duas trabalhadoras e depõe
contra os princípios da própria empresa, uma vez que tais práticas são
condenadas pelo próprio código de ética da empresa. Segundo Rocha e
Santiago (2020, p. 658-659):

Não se pode olvidar, todavia, que, cada vez mais, empresas


nacionais e empresas multinacionais estão adotando mecanismos de
controle, anticorrupção e prevenção. de fraudes, visando não só a
diminuir a sua exposição perante os acionistas, terceiros e a mídia em
geral, como também perante as autoridades regulatórias e/ou
judiciais, considerando os impactos negativos que eventuais
irregularidades podem causar à imagem de uma empresa e, em
determinados casos, ao preço de suas ações.
Atualmente tais preocupações não se restringem às fraudes e à
corrupção, tendo a responsabilidade social e o respeito aos direitos humanos
ganhado cada vez mais espaço na esfera corporativa (MATHIS e MATHIS,
2012).

Diante do problema apresentado a empresa precisa pôr em prática


algumas ações para tornar o ambiente seguro para as trabalhadoras que
efetuaram a denúncia. Em primeiro lugar, o gestor deve ser afastado da função
para outro local de trabalho enquanto as denúncias são apuradas. As vítimas
devem receber apoio psicológico. Confirmadas as denúncias o gestor deve
receber as sanções previstas no código de ética da empresa. Tendo em vista a
gravidade das denúncias, as punições devem ser exemplares, e em hipótese
alguma o acusado deve retornar às mesmas funções e tendo como
subordinadas as vítimas do caso. Se por qualquer motivo isso venha ocorrer, a
empresa assume o risco de incorrer em prejuízo psicológico para as
trabalhadoras, expondo-as novamente a um ambiente insalubre, e trazer
prejuízos para sua própria imagem, uma vez que premia desvios éticos com
cargos de chefia.

Outras ações importantes passam também pela conscientização, algo


que deve ser adotado como prática sistemática pela empresa, a fim de coibir
comportamentos como o denunciado. O Ministério Público do Trabalho distribui
em seu site na internet uma série de cartilhas que trazem orientações sobre
como atuar diante de situações de assédio no trabalho. A cartilha “Assédio
Sexual no Trabalho: perguntas e respostas” traz uma série de orientações de
como as empresas devem atuar para evitar casos de assédio entre seus
funcionários como criar canais de comunicação e denúncia, incluir o tema do
assédio em formações e treinamentos dentro da empresa e principalmente
“incluir regras de conduta a respeito do assédio sexual nas normas internas da
empresa, inclusive prevendo formas de apuração e punição” (MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO, 2017, p.17). Nesse contexto, ações como essas,
citadas pelo material do Ministério Público do Trabalho, é possível criar um
ambiente de trabalho mais seguro para mulheres, onde ações como as
apresentadas neste estudo de caso não mais encontrem um caminho livre para
continuar acontecendo.

Referências
MATHIS, Adriana de Azevedo; MATHIS, Armim. Responsabilidade social
corporativa e direitos humanos: discursos e realidades. R. Katál.,
Florianópolis, v. 15, n. 1, p. 131-140, jan./jun. 2012. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/rk/v15n1/a13v15n1.pdf>. Acesso em: fev/2023.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Assédio Sexual no Trabalho:
perguntas e respostas. Cartilha. Brasília: MPT, 2017. Disponível em:
<https://mpt.mp.br/>. Acesso em: fev/2023.
ROCHA, Alceu Teixeira; SANTIAGO, Mariana Ribeiro. Desenvolvimento e
ética: uma convergência necessária. Revista Jurídica da Presidência, Brasília,
v. 21, n. 125, p. 644-667, out. 2019/jan. 2020. Disponível em:
<https://revistajuridica.presidencia.gov.br/index.php/saj/article/view/1934/1308>.
Acesso em: fev/2023.

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