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UNIVERSIDADE ABERTA – ISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


LICENCIATURA EM ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Regras de Concordância Nominal, Verbal e de Colocação do Pronome Clítico do


Português Europeu em Contraste com Casos do Português de Moçambique

Estudante: Olímpio Adriano Uaiene


Código: 41200095

Maxixe, Março de 2022


UNIVERSIDADE ABERTA – ISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Regras de Concordância Nominal, Verbal e de Colocação do Pronome Clítico do Português


Europeu em Contraste com Casos do Português de Moçambique

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura
em Ensino de língua portuguesa da
UnISCED.

Tutor: Nelson Maurício

Estudante: Olímpio Adriano Uaiene


Código: 41200095

Maxixe, Março de 2022

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Sumário
Introdução ................................................................................................................................... 4
Metodologia ................................................................................................................................ 4
Conceito de concordância ........................................................................................................... 4
Concordância nominal ................................................................................................................ 5
Concordância verbal .................................................................................................................. 6
Sujeito simples............................................................................................................................ 7
Com sujeito composto ................................................................................................................ 7
Conceito do Pronome ................................................................................................................. 8
Os pronomes clíticos .................................................................................................................. 8
Tipologia de pronomes clíticos................................................................................................. 10
Padrões de colocação dos clíticos pronominais ........................................................................ 10
Ênclise (V+ Clt) ........................................................................................................................ 11
Sequências verbais .................................................................................................................... 11
Próclise (Clt + v) ...................................................................................................................... 13
Posição mesoclítica .................................................................................................................. 14
Estudos sobre clíticos em Português Europeu .......................................................................... 14
Os clíticos no Português Moçambicano ................................................................................... 15
Conclusão ................................................................................................................................. 17
Referências bibliográficas ........................................................................................................ 18

3
Introdução
Se tomarmos em conta que Moçambique é um país multilíngue e a língua portuguesa é
a segunda língua usada no contexto escolar, este fato constitui um grande entrave no ato da
comunicação verbal.
Segundo Artigo 10 (Língua Oficial) “na República de Moçambique a língua
portuguesa é a língua oficial.” (Constituição da República, 2004:7). Relativamente a este
aspeto, Firmino (2002) refere que “além de ser a língua oficial em Moçambique, o Português
foi promovido a símbolo de unidade nacional”. De um modo geral, como língua segunda
(L2), o Português é adquirido durante a infância por via instrucional, embora nas cidades
haja também condições para a sua utilização em meio natural, através de conversas
entre companheiros de bairro, dos meios de comunicação social, etc.
Assim sendo, neste trabalho iremos falar sobre as regras de concordância nominal,
verbal e de colocação do pronome clítico do português Europeu em contraste com casos do
Português de Moçambique.

Metodologia
Para a elaboração do trabalho e como forma de dar maior sustentabilidade
científica recorreu-se à pesquisa bibliográfica, pois está, tem como finalidade colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que é obra que esteja relacionada com o
tema e que já foi referenciado por diferentes autores. Este método foi utilizado para
obtenção de bases teóricas e científicas para justificarmos os factos e fenómenos a
serem observados, através de consultas de uma gama de livros e documentos com bases
científicas.

Conceito de concordância
Acerca do conceito da concordância Mateus e Villalva (2003: p.440) definem a
mesma da seguinte forma: a concordância deve ser vista como processo eminente
sintático de compatibilização de informações de pessoa e número no sintagma nominal
e no verbal, independentemente da existência nesse v de flexão de pessoa e número.
Em outras, palavras Bechara (2003: p.543) defende que a concordância consiste
em adaptar a palavra determinante ao gênero, número e pessoa determinada. Moreira &
Pimenta (2017: p.218) definem concordância como sendo o processo gramatical que se

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constitui como regra sintática e obriga duas ou mais palavras a partilharem traços flexionais
de pessoa, género e número. Ainda segundo eles:

A concordância é um processo obrigatório entre o sujeito e o predicado, entre


o sujeito e o predicativo, entre complemento direto e predicativo do complemento
direto, entre sujeito e particípio passado em construções passivas, entre nome e
adjetivo, entre determinante /quantificador e nome.

Por outras palavras, concordância também é a variação a que algumas palavras


ficam vinculadas, em função umas das outras. Por outro lado, pode definir-se a concordância
como sendo um dos mecanismos sintáticos fundamentais do português, por ser um processo
que regista uma espécie de imposição gramatical que deve existir entre os componentes da
frase. Pode resumir-se que a concordância são os verbos, nomes, adjetivos, todos eles em
sintonia.
Segundo Lopes (2004: p.202), concordância é quando as palavras, quer no discurso
quer seja na frase, encontram-se relacionadas entre si. Um dos aspetos mais importante a
considerar é a relação de concordância que existe entre as palavras, entre os diferentes
sintagmas, assim como a relação que estes estabelecem entre si na frase.

Concordância nominal
Segundo Bechara (2001: p.416), em português, a concordância consiste em adaptar
a palavra determinante ao género, número e pessoa determinada. O mesmo autor (2003:
p.416) define concordância nominal como sendo aquela que se verifica em género e número
entre o adjetivo e o pronome, artigo, o numeral ou o particípio (palavras determinantes) e o
substantivo ou pronome (palavras determinadas) a que se referem.
Bechara (2003) defende que a concordância nominal pode ser concordância de palavra
para palavra ou ainda com uma só palavra determinada. Na concordância feita de palavra
para palavra, o determinante irá para o género e número da palavra determinada.
Observemos os exemplos seguintes:
1) Os exemplos dos pais são as melhores lições.
2) “Os bons exemplos dos pais são as melhores lições e a melhor herança para os
filhos”.
3) “Eu amo a noite solitária”.
Estamos de acordo com Bechara (2003: p.418), ao afirmar que, quando se trata
de nomes femininos, como sentinela, guarda, guia e assemelhados, quando aplicados a

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pessoas do sexo masculino, mantêm o género feminino e levam para este género os
determinantes a eles referidos:
4) “A sentinela avançada”.
5) “Depois desta digressão que acabais de fazer pelo mundo, com tão má guia
como eu, voltamos a ouvir de novo as pedras”
6) “Um guarda civil disparou, mortalmente, contra uma idosa”. No sétimo
exemplo, verifica-se que o nome guarda civil refere-se a um nome masculino. O mesmo
verifica-se no oitavo exemplo.
7) “Os sentinelas da Assembleia Nacional não se mexem”.
Acontece o mesmo acontece com o anterior; os sentinelas em causa são masculinos.
A explicação dos exemplos cinco, seis, sete e oito, enquadram-se neste que a seguir
apresentamos, pois, a palavra grama, também tem trazido certa polémica.
8) “A senhora podia me servir alguns gramas de arroz?”
O nome grama, quando se refere aos alimentos, regra geral, deve ser usado no
masculino, tal como no exemplo anterior. Na possibilidade de existir mais do que uma
palavra determinada, Bechara (2001: p. 418) defende que se as palavras determinadas
forem do mesmo género comum, ou poderá concordar, principalmente se vier anteposta,
em género e número com a mais próxima:
9) “A língua e (a) literatura portuguesas ou a língua e (a) literatura portuguesa”.

Concordância verbal
Bechara (2001: p. 416) defende que a concordância verbal estabelece harmonia
entre o sujeito e o predicado. Já Cunha & Cintra (2000: p. 494) apresentam o seguinte
conceito: “A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo,
exterioriza-se na concordância, isto é, na viabilidade do verbo para se conformar no
número, na pessoa e no sujeito”. A mesma visão é reforçada quando afirmam que “a
concordância evita a repetição do sujeito, que pode ser indicado pela flexão verbal a ela
ajustada”.
Bechara (2003: p.416) defende que a concordância verbal estabelece harmonia entre
o sujeito e o predicado.

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Sujeito simples
Bechara (2001: p. 416) afirma que com o sujeito simples e no singular, o verbo,
obrigatoriamente, vai para o singular, mesmo que seja coletivo, como se pode observar
nos exemplos a seguir:
10) As florestas ardem”.
11) “O povo pede ajuste salarial”.
12) “O povo pede ajuste salarial (Sujeito Coletivo)”.
Tratando-se de um sujeito coletivo, também se verifica a mesma situação.
Verifica-se harmonia entre os elementos em causa o sujeito e o predicado. Embora o
nome povo seja um nome coletivo, concorda com o predicado no singular. No entanto,
não acontece a mesma coisa com o sujeito indeterminado. Este, por sua vez, leva o
verbo para o plural, como se pode observar no exemplo.
13) “Dizem que vai ser um ano de fartura”.
Porém, se a indeterminação do sujeito for representada pelo pronome se, Pinto
& Lopes (2000: p.202), defendem que o sujeito deve ficar no singular e na 3ª pessoa
do singular como se pode observar nos exemplos a seguir.
14) “À noite, cantou-se até altas horas”.
15) “Trata-se de assuntos muito importantes. (não é possível “tratam-se”).
Ainda de acordo com os mesmos autores citados anteriormente (2004: p.202), o verbo
haver, com o sentido de “existir”, “acontecer”, emprega-se impessoalmente e, portanto, tem
sempre o verbo na terceira pessoa do singular. Pode ver-se no exemplo:
16) “Havia muitas pessoas no mercado. Desta forma, não é correta a frase: Haviam
muitos homens no mercado”.

Com sujeito composto


Quando se trata da concordância em número, Pinto & Lopes (2004: p.203) defendem
que, e o sujeito está antes do verbo, o verbo vai para o plural, como se pode ver nos exemplos
a seguir:
17) “Aa mãe, o pai e o filho entraram ao mesmo tempo”.
18) “Os alunos, os professores, os diretores não acreditaram o que se via no pátio da
escola”.

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Do mesmo jeito, Pinto & Lopes (2004: p.203) acham que, se o sujeito estiver
depois do verbo, o verbo vai para o plural, se o elemento mais próximo é do plural,
como pode constatar-se nos seguintes exemplos:
19) “Chegaram as pintoras e o arquiteto”.
20) “Entraram os alunos e o professor”.
Concordamos com Cunha & Cintra (2000: p.507) esclarecem que quando o
sujeito composto é constituído pelos pronomes ou locuções pronominais tudo, ninguém,
nada, cada um, cada qual, o verbo fica no singular, como podemos observar nos seguintes
exemplos:
21) “homens, mulheres e crianças, ninguém falava”.
22)” Os alunos, os professores, os diretores ninguém acreditou no que se via
no pátio da escola”.
Pinto & Lopes (2004: p.203) defendem que quando dois ou mais elementos do
sujeito, no singular, indicam um único ser, o verbo permanece no singular, como pode
notar-se nos seguintes exemplos:
23) “Esse homem inteligente, esse homem famoso, será para sempre recordado”.
Cunha &Cintra (2000: p.494), ao defenderem que, com mais de dois pronomes,
o sujeito vai para o plural.
24) “Ele e eu somos amigos: Tu e ela fareis os deveres de casa”.

Conceito do Pronome
“Os pronomes são palavras cujo significado é apenas de valor, sem representar
nenhuma matéria extralinguística. Ou seja o pronome é um substituto do nome, assume
função de acompanhante do nome, principalmente ela é uma única palavra que por se só não
forma nenhum significado e para que tenha sentido associa-se a outras palavras”.
BORREGANA, (1999:148)

Os pronomes clíticos
“Os pronomes clíticos são designados como pronomes átonos ou clíticos especiais, ou
seja, Os clíticos são pronomes pessoais átonos, isto é, pronomes pessoais de uma só sílaba tais
como: o, a, me, nos, se, que não têm acentuação própria e por isso dependem do acento da
palavra que está antes ou depois (normalmente um verbo) “MATEUS (2003:826).

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A definição de pronome clítico dada por Cunha & Cintra (1999:278) remete-nos
para a noção de que o clítico é o elemento que se combina fonologicamente com palavras
com as quais não forma construções morfológicas, hospedando-se nelas nas posições
enclítica, proclítica e mesoclítica.
Brito (2007) refere que os pronomes clíticos podem ser considerados como partículas
desprovidas de acento que requerem um hospedeiro que os receba, assim como
acontece com os afixos flexionais. Usando as palavra de Kayne (1975), a autora afirma
ainda que os clíticos são fonologicamente fracos, e, por essa via, não podem aparecer
sozinhos, devendo ser adjungidos a um hospedeiro, que, no caso concreto de clíticos tem
sido um verbo.
Duarte (1983:159) diz que o pronome clítico é um constituinte da frase que é
fonológica e sintacticamente dependente de um verbo, adjacente a esse verbo, e que é
interpretado como sujeito, objeto direto ou indireto do mesmo”.
Nestas definições, percebe-se que os pronomes clíticos são morfemas presos que
não possuem acento próprio, estando, por isso, dependentes do acento do verbo no qual se
alojam.
A propósito dos clíticos especiais, Raposo (2000:266), citado por Marcilese (2007:65)
aponta para uma série de propostas de análise, no quadro da gramática generativa, às
vezes opostas, sobre os pronomes clíticos, por entender que existem algumas lacunas ao
nível da adequação descritiva quanto ao nível da adequação explanatória.
Neste trabalho, retomamos essa proposta de Raposo (2000), com base em Marcilese
(2007).
1. O comportamento dos clíticos vincula-se ao domínio: (i) fonológico/prosódico; (ii)
sintático; (iii) ambos domínios.
2. Clíticos são sintaticamente caracterizados como: (i) Determinantes; (ii) Nomes; (iii)
uma combinação de ambas categorias.
3. c) Geração e movimento: (i) Clíticos movem-se para uma posição-Q subjacente; (ii)
clíticos são basicamente engendrados em alguma posição designada em
associação com um argumento aberto ou coberto em posição-Q.
4. (i) Clíticos encabeçam uma projeção máxima da categoria DP com uma estrutura
interna (ii) clíticos são terminações singulares de uma projeção D mínima /máxima,

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5. No contexto das análises que assumem movimento dos clíticos, esse movimento é
considerado como: (i) movimento de núcleo; (ii) movimento XP; (iii) uma
combinação dos dois anteriores.
6. Movimento-XP de clíticos pode ser: (i) movimento-A; (ii) movimento-A’.
7. Se o clítico é adjungido a um núcleo, essa adjunção pode ser: (i) à esquerda;
(ii) à direita.
8. Quando o clítico se move como um núcleo, o alvo desse movimento podem ser
várias categorias funcionais diferentes: Agrs, Agr0, Infl, T, F...
9. Desde que o verbo também se mova no esqueleto funcional, a posição final do
clítico com respeito ao verbo é determinada pelo movimento do verbo e suas
extensões.
Apesar de termos retomado as propostas de análise de pronomes clíticos propostos
por Raposo (2000), não vamos, aqui, efetuar a análise segundo o programa minimalista,
uma vez que, quase todo o programa minimalista, ainda não recebeu um acolhimento
plausível por parte de todos os generativistas.

Tipologia de pronomes clíticos


Mateus et all (2003:835) admitem que é possível distinguir, no português e nas
outras línguas românticas, diferentes tipos de pronomes clíticos especiais, tomando como
critérios (i) o seu potencial referencial ou predicativo; (ii) a possibilidade de receberem
um papel temático; (iii) a sua referência específica ou arbitrária; (iv) a capacidade de
ocorrerem em construções de redobro de clíticos e de extração simultânea de clíticos;
(v) e a faculdade de funcionarem como um afixo capaz de alterar a estrutura argumental
de um predicado. Assim, em português, existem 5 tipos de clíticos especiais, que podem ser:
clíticos com conteúdo argumental, clíticos argumentais proposicionais, clíticos quase-
argumentais, clíticos com comportamento de afixo derivacional e clíticos sem conteúdo
semântico ou morfossintático.

Padrões de colocação dos clíticos pronominais


A colocação de pronomes clíticos no PE obedece a regras mais ou menos estáveis.
Existem dois tipos de pronomes clíticos nas línguas românticas: Os clíticos categoriais e os
clíticos de Tobler-Mussafia. Os clíticos categoriais são aqueles que selecionam um verbo
como anfitrião e que se adjungem fonologicamente a este à direita ou à esquerda. Os clíticos

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pronominais que fazem parte desse perfil existem por exemplo em espanhol, catalão, romeno,
francês e italiano.
Na classe de clíticos de Tobler-Mussafia, incluem-se os clíticos pronominais do
português. Da mesma forma que com os clíticos categoriais, estes selecionam um verbo
como anfitrião. No entanto, sua posição na frase não está determinada pela forma pessoal ou
não pessoal do verbo, como ocorre com os clíticos categoriais.
Assim, encontramos, em português, dois padrões principais de colocação de clíticos:
a ênclise e a próclise. Para além destes padrões, podemos, em Português, encontrar ainda
a posição mesoclítico, que é considerada por Mateus et. all (2003:865) como sendo um dos
traços de sobrevivência de uma gramática antiga, que consiste na colocação alternativa à
ênclise nas formas de futuro e condicional exigida no português padrão.

Ênclise (V+ Clt)


Com verbos simples
No Português, coloca-se o pronome clítico na posição enclítica em frases:
1. Declarativas afirmativas e coordenadas com conjunções
(25)
(a) Eu amo-te muito.
(b) Eu vi-o e cumprimentei-o
(26)
2. (ii) Nas interrogativas globais afirmativas
Ofereci-lhe o último livro de Mia Couto?

Sequências verbais
Mapasse (2007) entende que, tal como as restantes línguas românicas de sujeito nulo,
o PE admite Subida do Clítico, que consiste na seleção, para hospedeiro verbal, de um verbo
do qual o clítico pronominal não é dependente. Em sequências verbais, para esta autora, na
ausência de um elemento proclisador, a Subida do Clítico é obrigatória com padrão enclítico:

1. Nos tempos compostos e nas passivas de ser.


(27)
(a) A Luísa tem-na maltratado muito.
(b) *A Luísa tem maltratado-a muito.

11
(28)
(a) O convite foi-lhe finalmente enviado.1
(b) *O convite foi finalmente enviado-lhe.

2. Com auxiliares que seleccionam formas gerundivas.

(29)
(a) Ele ia-lhe dizendo.
(b) *Ele ia dizendo-lhe.

3. Em construções de reestruturação, com verbos de controlo e com semi-auxiliares


modais/ temporais/aspectuais.
(30) (a) Tencionam-se usar todos os recursos disponíveis neste projecto.
(b) Querem-se saber os resultados dos testes ainda esta semana.

(31) (a) O estudante, devem-lhe entregar os trabalhos amanhã.


(b) Os organizadores podem-nos convidar para o congresso.

(32) (a) O Olímpio vai-lhe escrever amanhã.


(b) O Olímpio está-lhe a escrever uma carta.

Quando o verbo principal da locução verbal está no infinitivo e a frase apresenta um


elemento tipo operador em posição pré-verbal, o clítico pronominal pode preceder o verbo
modal/aspectual ou ocorrer à direita da forma infinitiva, conforme a reestruturação tenha ou
não operado.
(33) (a) O Mário não a deve ver tão já
(b) O Mário não deve vê-la tão já.
Em sequências verbais encabeçadas por verbos semi-auxiliares aspectuais que
selecionem uma preposição distinta de a, a Subida de Clítico ou pode não operar ou pode
produzir resultados marginais
(34) (a) Estava para consertá-lo / para o consertar.

1 Os exemplos são de Mateus et alii (2003)

12
(b) *Estava-o para conservar.
(c) Acabei de consertá-lo.
(d) ?/* Acabei-o de consertar.

Próclise (Clt + v)
A próclise ao verbo, no PE, é obrigatória nos seguintes contextos:
1. Frases negativas
(35) (a) Eu não te amo.
(b) Não lhe ofereci nenhum livro preciso.
2. Frases com quantificadores em posição pré-verbal
(36) (a) Todos o chamam de louco.
(b) Alguém o viu no hospital ontem.

3. Orações subordinadas introduzidas por um complementador


(37) (a) O Francisco disse que não a viu ontem no hospital.
(b) As bananas que me ofereceste ontem estavam podres.
4. interrogativas de Q2
(38) (a) Quem foi que te entregou as bananas?
(b) Quando é que me entregaste os livros?
Frases com advérbios na posição pré-verbal
(39) (a) Eu já a vi no hospital
(b) Eu só te disse isso para não sofreres.

5. Tanto a ênclise como a próclise são possíveis em orações infinitas introduzidas por
uma preposição:
(40) Pedi ao Pedro para telefonar-lhe esta tarde/para lhe telefonar esta tarde.

6. Há um subconjunto de locuções coordenativas com um elemento de polaridade


negativa: não só...mas/como também, nem...nem; e de locuções coordenativas
disjuntivas: ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, que induzem próclise.

2 A designação interrogativas de Q abarca todas as frases interrogativas que são encabeçadas


por um morfema interrogativo.

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(41) (a) Não só a Liz o insultou como também o Jooh lhe bateu.
(b) Quer te agrade, quer não te agrade, vou de férias.

Posição mesoclítica
A posição mesoclítica ocorre nas formas verbais do Futuro e do Condicional, nas
condições que não aconselham a posição enclítica do pronome.
(42) (a) Eu amar-te-ei para sempre.
(b) Eu amar-te-ia, se me cuidasses.
Mapasse (2007) explica que a mesóclise tem a sua origem nas formas do futuro e do
condicional. Estas formas eram analíticas, constituídas pela justaposição do infinitivo do
verbo principal e das formas reduzidas do presente e do imperfeito do indicativo do verbo
haver, assim: amar-te-ei procede de amar te hei; mandar-me-ás de mandar me hás, etc.
Na perspectiva de Mapasse (2007), a mesóclise é um padrão em regressão que, por
não corresponder a opções da Gramática de PE moderno, precisa de ser aprendida, pelo que
está a ser substituída pela ênclise nas novas gerações e em falantes com pouco nível de
escolarização.

Estudos sobre clíticos em Português Europeu


No português europeu, há já muitos estudos feitos sobre os clíticos especiais,
entre os quais se destacam os estudos feitos por Duarte (1983), Martins (1994), Barbosa
(1996), Raposo (1995) e (2000), entre outros estudos. Todos estes estudos reconhecem que,
no PE, a ênclise é a posição básica de colocação de pronomes clíticos.
Martins (1994), citada por Mapasse (2007), mostra que entre o século XIII e o
século XVI, o português tinha uma preferência mais acentuada pela próclise em orações não
dependentes (simples, principais e coordenadas não disjuntivas), tal como se verificava
nas outras línguas românicas. Nas frases subordinadas, os clíticos eram, como no português
atual, obrigatoriamente pré-verbais, mas podiam ocorrer separados do verbo por toda a
espécie de constituintes interpolados, enquanto no português atual são obrigatoriamente
adjacentes ao verbo.
(43) (a) “e se lhas nõ davam ” (NO: 1406, apud Martins, 1994:165)
(b) “poys que ele ysto ouve dito” (Ogando (1980:281, apud Martins, 1994:174)

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Ainda segundo a mesma autora, a partir do século XVII, dá-se uma mudança. A
próclise em orações não-dependentes é trocada pela ênclise.
Martins (1994) defende que, em português, ao contrário do Espanhol e de outras
línguas românticas, o verbo precede o clítico na ênclise, por se mover para uma posição muito
elevada, que será a mesma em que o vemos aparecer em frases-resposta a interrogativas
totais. Para esta autora, nas frases declarativas com clíticos, não havendo nenhum fator
desencadeador de próclise, o verbo ocupa essa posição elevada da estrutura de frase,
explicando-se, deste modo, a ênclise.
Os estudos feitos por Martins (1994), assim como por outros autores portugueses,
reconhecem a existência, no PE, de dois padrões de colocação de clíticos: a ênclise e a
próclise. Assim sendo, Mateus et all (2003), justificam tal posição por acharem que a
mesóclise é uma retoma, ou sobrevivência do português antigo, sendo esse motivo que faz
com que este uso de pronome clítico seja, por falantes do Português, aprendida e não
adquirida.

Os clíticos no Português Moçambicano


No português falado em Moçambique, há já alguns estudos consideráveis sobre,
especificamente, a colocação dos clíticos. Gonçalves (1996), (1998) e (2001), Machava
(1994), Semedo (1997), Mapasse (2007) e Afonso (2009), são, entre outros, alguns
estudos feitos sobre a colocação de pronomes clíticos em Moçambique.
O corpus usado por Gonçalves (1985), por exemplo, foi oral e os informantes,
geralmente, eram pessoas não eruditas, ou, no mínimo, com baixa escolaridade. Já o
corpus usado por Mapasse (2005) e por Semedo (1997) é basicamente um corpus retirado
de textos escritos por alunos, no caso de Semedo (1997) e por alunos do ensino secundário e
por informantes de vários seguimentos da sociedade em Mapasse (2005). Com exceção de
Semedo (1997), que usou alguns informantes que tinham o Português como L1, os restantes
autores tiveram como informantes indivíduos que têm a Língua Portuguesa como L2.
Gonçalves (1985) denuncia três fenómenos relacionados com o uso de clíticos
especiais no emergente português moçambicano, como a seguir apresentamos em (44)
(a) A rapariga simpatizou-se com o Fernando. (PE= simpatizou com).
(b) O padre educou-lhe muito bem. (PE=educou-o)
(c) Estou feliz porque os acordos trouxeram-nos a paz. (PE=os acordos nos trouxeram)

15
Neste quadro de uso de pronomes clíticos denunciado por Gonçalves (1985),
verificamos em (a) que o pronome clítico hospedou-se junto dum verbo estanho, o
qual, devido à sua natureza, naquelas circunstâncias, não se realiza com um pronome
clítico. Em (b) verificamos que o pronome clítico escolhido corresponde a um OI,
enquanto que o verbo seleciona um argumento interno com a função sintática de OD. Já
em (c), o pronome clítico está na posição enclítica numa frase subordinada, o que é viola
as regras de colocação de pronomes clíticos no PE. Esta última constatação de Gonçalves
(1985), também é partilhada por Machava (1994).
Afonso (2009), nos seus informantes, notou a violação da lei de Tobler-Mussafia
em alunos que tinha televisão e assistiam às novelas brasileiras. Assim, nas frases
declarativas simples ocorrem estruturas do tipo:
(45) (a) Me diga uma coisa.
(b) Me desculpa, nunca me disse que era indisciplinada.
A referida autora explica que esta estrutura ocorre porque esses informantes assistem
às novelas brasileiras que passam pelos canais televisivos do país, nas quais ocorrem
estruturas desta natureza. Por sua vez, Semedo (1997) aponta a ênclise como sendo a posição
que tende a generalizar-se na colocação dos pronomes pessoais clíticos em Maputo. Em
relação à próclise, afirma que é usada de forma esporádica e provavelmente de forma
arbitrária.
Os resultados divergentes a que chegaram todos estes estudos, levam-nos a perceber
que, de facto, a área de colocação de pronomes clíticos, no emergente PM, continua a
ser flutuante, não existindo, neste momento, regras sólidas, justificando-se, deste modo, a
necessidade de se fazer mais um estudo nesta área.

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Conclusão
O presente trabalho fez a reflexão sobre regras de concordância nominal, verbal e de
colocação do pronome clítico do português Europeu em contraste com casos do Português de
Moçambique.
Nesta analise concluiu-se que está sofrendo um grandes alterações devido à situação
de contacto em que se encontra e também, fundamentalmente, à falta de exposição ao modelo
da língua ex-colonial, o Português Europeu (PE).
No entanto, o domínio do padrão europeu continua restringido a uma elite reduzida de
falantes, pelo que, mesmo que o discurso oficial o declare como modelo-alvo das instituições
escolares ou dos meios de comunicação social, tal medida, política, não impede que muitas
das suas regras sejam violadas pela maior parte dos falantes de Português.

17
Referências bibliográficas
AFONSO, Angelina Ómega (2009). A colocação dos Pronomes clíticos: Caso dos alunos
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