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Reforma da administração pública e a

influência da experiência internacional


A administração pública, no âmbito mundial, encontra-se em um momento “revolucionário”, envolvendo-se em novas contextualizações,
cuja finalidade é reformular os parâmetros da administração burocrática que ainda são praticados pelos responsáveis pela gestão da coisa
pública.

Estas inovações aproximam-se do que Max Weber chamou de “paradoxo das conseqüências”, onde se busca atingir determinada meta, e
obtém-se resultados inesperados. Para que se possa conseguir melhores resultados nesta interferência, deve-se ter como regra a ênfase
nos meios, sem maior empenho na discussão de seus aspectos políticos.

Sob esta ótica, os estudos que estão sendo desenvolvidos buscando definir o tipo de estado que se pretende para este século XXI, deverão
privilegiar os aspectos gerenciais, com ênfase em resultados, através da otimização da utilização dos recursos financeiros, humanos e
materiais disponíveis, o que representa um desafio diante das diversas vertentes teóricas que se dispõem a discutir a forma como deve ser
estruturada a administração pública.

É de se registrar dentre as críticas feitas ao modelo weberiano adotado pelo estado, as contidas no relatório da Comissão Glassco, cujos
trabalhos foram desenvolvidos no Canadá, de 1961 a 1963, quando foi questionada a ação cada vez mais intransparente e ineficiente da
burocracia pública e proposto um modelo gerencial para o setor público, bem como em trabalho da Comissão Fulton, que em estudos
realizados na Inglaterra entre os anos de 1966 e 1968, diagnosticou como problemas para o emperramento da máquina estatal, a falta de
segregação dos funções gerenciais dos servidores públicos, excessiva hierarquização e o distanciamento entre os burocratas e as
comunidades.

As mudanças no modo de pensar a administração pública, com veementes questionamentos sobre seu modelo de gestão, ganhou maior
destaque a partir da crise do petróleo ocorrida em 1973, cujas turbulências econômicas provocadas agravaram-se ao longo dos anos 1980,
podendo-se destacar três características que estariam conduzindo o estado ao esfacelamento:

- Econômica – em razão da ativa e nem sempre apropriada intervenção estatal na economia;

- Social – com o advento do chamado Estado do Bem-Estar, cujo objetivo era a implementação de políticas na área social;

- Administrativa – relativa ao funcionamento interno do Estado, que adotava como norteador gerencial o modelo burocrático
weberiano.

Além destas, algumas outras situações contribuíam para a discussão em torno da necessidade de modificar-se o formato gerencial da
administração pública:

- Crise fiscal decorrente da resistência da população em pagar mais tributos, particularmente nos Estados Unidos e Grã-
Bretanha, por não perceberem recebimento de benefícios proporcionais aos valores pagos;

- Entendimento que os governos atingiram situação de ingovernabilidade, o que lhes tornava inaptos para resolver seus
problemas;

- A globalização e todas as inovações tecnológicas que transformaram a lógica do setor produtivo e, conseqüentemente, afetou o
Estado.

Em face da visão negativa que se tinha da forma gerencial do setor público, fortaleceu-se a crença de que o setor privado
possuía o modelo ideal de gestão. Esta ótica foi fortalecida e ganhou aliados com a vitória dos conservadores na Grã-Bretanha,
em 1979, tendo à frente Margareth Thatcher e dos republicanos nos Estados Unidos, com a eleição de Ronald Reagan para
Presidente em 1980.

Embora a Inglaterra possa ser considerada o laboratório das técnicas gerenciais aplicadas ao setor público, particularmente a
partir do governo Thatcher, tem-se também que trazer para este foco as discussões realizadas nos Estados Unidos sobre a
forma apropriada de atuação da administração pública que, entretanto não encontraram terreno fértil para prosperar, em face do
setor público americano ter uma cultura de evitar que a flexibilização das regras administrativas pusesse em risco as
salvaguardas políticas, bem como a descentralização do poder presente no federalismo, que dificultava o estabelecimento de um

só modelo.

O sucesso do modelo na Grã-Bretanha se deu exatamente em função das condições políticas existentes, tendo sido adotado um
formato que apresentava grande poder de transformação, incorporando boa parte das críticas à sua prática, o qual tinha três
correntes: Managerialism, Consumerism e Public Service Orientation – PSO, que tinham as seguintes características:

- Managerialism – traduzido como “gerencialismo puro”, tinha como eixo central o conceito de produtividade e sua
utilização visava buscar a diminuição e otimização dos gastos públicos em uma era de escassez, em um contexto que
tinha como ponto central à busca da eficiência, com clara definição das responsabilidades dos funcionários, dos

objetivos organizacionais e maior consciência acerca do valor dos recursos públicos.

- Consumerism – podendo ser traduzido como “satisfação dos consumidores” introduzia a perspectiva da qualidade
como uma estratégia voltada para a satisfação do consumidor, através de medidas que visavam tornar o poder público

mais leve, ágil e competitivo: descentralização administrativa, criação de opções de atendimento, como incentivo à
competição entre organizações públicas e adoção de um novo modelo contratual.

- Public Service Orientation – PSO – tendo uma ótica de “serviço orientado para o público”, é um conceito que levanta
novas questões e põe em xeque antigos valores, não estando, ainda, com seu arcabouço teórico fechado. Tem como

uma de suas idéias-chave a conjugação entre a accountability e o binômio justiça/equidade. Embora contenha críticas
ao managerialism e ao consumerism, a PSO não descarta as idéias desenvolvidas no seu âmbito. O grande problema
desta corrente é ter sido pensada segundo os parâmetros do poder local, sem oferecer uma ótica em âmbito nacional.

Identificados os problemas que seriam os focos das ações de mudanças são destacados a seguir as medidas que foram
adotadas buscando o equacionamento da questão:

- Na década de 1970 surgiram instrumentos de gestão orçamentária que visavam tornar as finanças públicas mais
vinculadas a objetivos.

- Na década de 1980 e a partir dela, passaram a ser adotados modelos gerenciais importados da iniciativa privada,
que foram os propulsores das grandes mudanças implementadas na administração pública.

As mudanças preconizadas não ocorreram de forma simultânea, nem no mesmo momento. Foram dadas soluções diferenciadas
para problemas semelhantes, em decorrência das próprias características de cada País envolvido.

Partindo-se destes estudos, tem-se que os principais problemas que vem sendo apontados no âmbito internacional para a
otimização dos serviços prestados pelo setor público, são:

- Reforma administrativa e processo político;

- Lógica fiscal desenvolvida em estreita ligação com a lógica gerencial;

- Descentralização;

- Separação entre formulação e implementação das políticas.

Aliado a esta nova visão gerencial, tornou-se realidade a necessidade da redução dos gastos públicos, principalmente com

pessoal, em face dos governos contarem com menos disponibilidades financeiras e, em contrapartida, a sempre crescente
demanda dos cidadãos por serviços, o que implica naturalmente na necessidade de aumento da eficiência governamental na
utilização de seus recursos.

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