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FARMACOLOGIA APLICADA

À FARMÁCIA

Farmacologia Aplicada à Farmácia


ORGANIZADOR FÁBIO DE PÁDUA FARMACOLOGIA
Farmacologia aplicada à farmácia é um livro direcionado para estudantes dos
cursos da área de farmácia, farmacologia e correlatos.
APLICADA À FARMÁCIA
Além de abordar assuntos triviais, o livro traz conteúdo introdutório sobre farma-
cologia e explica a farmacologia clínica, a hormonal e a de antibióticos. (Farmacologia Aplicada
Após a leitura da obra, o leitor vai conhecer os principais aspectos da farmacologia
geral e clínica, com ênfase em propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas
(Farmácia))
das drogas; discutir as principais características dos fármacos vasoativos e drogas ORGANIZADOR FÁBIO DE PÁDUA
vasodilatadoras, seus mecanismos de ação e diferentes formas de utilização;
C aprender a importância dos laxantes e antidiarreicos, suas características gerais e
M mecanismos de ação; estudar a farmacologia da tireoide, medicamentos utilizados
Y para promover alterações na produção hormonal e seus mecanismos de ação; iden-
CM tificar diferentes métodos contraceptivos, em especial métodos medicamentosos,
MY quanto à sua importância e segurança; perceber e analisar diferentes terapias de
CY reposição hormonal, suas características principais, indicações e contraindicações;
CMY ter conhecimento sobre a seriedade e incidência de infecções fúngicas, estratégias
K para combatê-las e os principais fármacos empregados para essa função, com
ênfase em seus mecanismos; apontar os principais fármacos utilizados no trata-

GRUPO SER EDUCACIONAL


mento de doenças parasitárias, incluindo avanços na terapia e importância dessa
linha de pesquisa, e muito mais.

Aproveite a leitura do livro.


Bons estudos!

ISBN 9786555581690

9 786555 581690 > gente criando futuro


FARMACOLOGIA
APLICADA À
FARMÁCIA
(Farmacologia
Aplicada
(Farmácia))
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Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi

Pádua, Fábio de.

Farmacologia aplicada à farmácia / Fábio de Pádua. – São Paulo: Cengage – 2020.

Bibliografia.

ISBN 9786555581690

1. Farmácia 2. Farmacologia aplicada à farmácia 3. Farmacologia.

Grupo Ser Educacional

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PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL

“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com


isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec,


tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da
democracia com a ampliação da escolaridade.

Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar


as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no
contexto da sociedade.”

Janguiê Diniz
Autoria
Fábio de Pádua Ferreira
Licenciado em Química pela Universidade de Coimbra (UC) e pela Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), Mestre em Química Analítica pela Universidade Federal de Uberlândia. Atuou
no desenvolvimento de genossensor eletroquímico para quantificar bactérias e na purificação e
caracterização de proteínas envolvidas em amiloidoses.
SUMÁRIO

Prefácio..................................................................................................................................................8

UNIDADE 1 - Introdução a farmacologia.........................................................................................9


Introdução.............................................................................................................................................10
1 Princípios e fundamentos da farmacologia......................................................................................... 11
2 Anti-hipertensivos............................................................................................................................... 13
3 Diuréticos............................................................................................................................................16
4 Antiarrítimicos.................................................................................................................................... 18
5 Fármacos vasoativos........................................................................................................................... 20
PARA RESUMIR...............................................................................................................................24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................25

UNIDADE 2 - Farmacologia clínica..................................................................................................27


Introdução.............................................................................................................................................28
1 Farmacologia do sistema respiratório................................................................................................. 29
2 Laxantes e antidiarreicos..................................................................................................................... 31
3 Fármacos antiulcerosos e antieméticos.............................................................................................. 33
4 Farmacologia do diabetes................................................................................................................... 35
5 Farmacologia da tireoide.................................................................................................................... 39
PARA RESUMIR...............................................................................................................................42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................43

UNIDADE 3 - Farmacologia hormonal.............................................................................................45


Introdução.............................................................................................................................................46
1 Fármacos hormonais........................................................................................................................... 47
2 Terapia hormonal................................................................................................................................ 50
3 Métodos contraceptivos..................................................................................................................... 52
4 Reposição hormonal........................................................................................................................... 54
5 Antineoplásicos................................................................................................................................... 57
PARA RESUMIR...............................................................................................................................61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................62
UNIDADE 4 - Farmacologia dos antibióticos....................................................................................65
Introdução.............................................................................................................................................66
1 Introdução ao estudo dos antimicrobianos........................................................................................ 67
2 O uso terapêutico de agentes antimicrobianos.................................................................................. 69
3 Antivirais.............................................................................................................................................73
4 Antifúngicos........................................................................................................................................ 76
5 Antiprotozoários................................................................................................................................. 78
PARA RESUMIR...............................................................................................................................80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................81
PREFÁCIO

O livro Farmacologia aplicada à farmácia traz ao leitor, além de informações básicas


da área, o conteúdo parcialmente descrito a seguir em suas quatro unidades.

Dando início, a primeira unidade, Introdução à farmacologia, enumera os princípios


e fundamentos da farmacologia. As principais características de uma série de doenças
e seus respectivos fármacos para tratamento também estão disponíveis aqui.

A segunda unidade, Farmacologia clínica, explica os principais fármacos e drogas


utilizados para o tratamento de diversas doenças, incluindo os medicamentos
consolidados pelo mercado, seus mecanismos de ação, indicações, toxicidade e
biodisponibilidade. O leitor também terá informações sobre a farmacologia da diabetes
de medicamentos utilizados para promover alterações tireoidianas.

Na sequência, a terceira unidade, Farmacologia hormonal, apresenta os principais


fármacos hormonais. Diferentes terapias hormonais e seus principais elementos,
fármacos contraceptivos, sua importância e relação risco-benefício, e informações
sobre fármacos antineoplásicos também são abordados.

Concluindo a obra, a quarta e última unidade, Farmacologia dos antibióticos, indica


os principais agentes antibióticos e seus mecanismos de ação. As estratégias recentes
para o desenvolvimento de fármacos com ação antimicrobiana, antifúngica e antiviral,
além dos desafios constantes para reduzir o seu impacto e proceder com um manejo
adequado a essas afeções, também estão explicados nesta unidade.

A leitura na íntegra deste livro faz que o leitor compreenda de forma simples os
principais fundamentos da farmacologia aplicada à farmácia.

Agora é com você! Sorte em seus estudos!


UNIDADE 1
Introdução a farmacologia
Introdução
Olá,

Você está na unidade Introdução a farmacologia. Conheça aqui os princípios e


fundamentos da farmacologia, incluindo a farmacologia clínica, aspectos farmacocinéticos
e farmacodinâmicos, tecnologias empregadas, procedimentos de validação e novas
matérias-primas utilizadas na produção de drogas de interesse clínico.

Conheça as principais características de uma grande variedade de doenças e quais os


respectivos fármacos utilizados no tratamento, em especial fármacos anti-hipertensivos,
diuréticos, antiarrítimicos e vasoativos, com ênfase em sua classificação e mecanismos
de ação.

Bons estudos!
11

1 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA FARMACOLOGIA


A farmacologia é a área da ciência que estuda as propriedades químicas dos medicamentos
e suas classificações. Segundo Ritter et al. (2008), a farmacologia clínica aborda o uso de drogas
em humanos. Profissionais da área médica de todas as especialidades prescrevem medicamentos
diariamente, e essa é uma das atividades mais úteis, mas também uma das mais perigosas de
nossas vidas profissionais. Compreender os princípios da farmacologia clínica é a base para
promover uma terapêutica segura e eficaz, razão pela qual esses assuntos constituem uma parte
cada vez mais importante do currículo médico.

No passado, a descoberta de fármacos resultava de observações e investigação do efeito


de alguns extratos naturais. A abordagem moderna consiste na caracterização e registro de
compostos moleculares capazes de interagir com um alvo específico e produzir uma resposta
específica. De forma generalizada, os alvos moleculares geralmente são de origem humana,
obtidos por transcrição e tradução de genes humanos e posterior purificação para remover
organismos celulares. Atualmente, pode ser utilizada uma grande variedade de técnicas para
estudar interações biológicas, possibilitando o estudo de reações enzimáticas específicas em
humanos. Além disso, observam-se avanços na modelagem molecular, química computacional e
propostas que podem melhorar a performance de um fármaco (BRUNTON et al., 2019).

Clique abaixo para conhecer os principais objetivos da farmacologia segundo De Lucia (2014).

• Estabelecer a relação entre dose e efeito biológico.

• A localização do sítio de ação do fármaco.

• O mecanismo de ação de fármaco.

• A relação entre estrutura química e atividade biológica.

• A absorção, distribuição, biotransformação e excreção de um fármaco.

1.1 Aspectos gerais da farmacologia


Embora as plantas, organismos marinhos e terrestres sejam valiosas fontes de compostos com
atividade farmacológica, o desenvolvimento de fármacos aliou-se à química orgânica sintética,
disciplina que também evoluiu após o desenvolvimento de técnicas modernas para caracterização
de moléculas e estudos de mecanismos de sínteses a nível biomolecular (BRUNTON et al., 2019).

As drogas podem ser quimicamente sintetizadas a partir de produtos purificados de fontes


naturais, com ou sem modificações adicionais, mas seu desenvolvimento e uso clínico são
baseados em evidências racionais de eficácia e segurança derivadas de experimentos controlados
e ensaios clínicos randomizados. As drogas podem ser contrastadas com os placebos, definidos
12

como substâncias inativas administradas como se fossem drogas, mas que não têm outros efeitos
terapêuticos além de potencialmente agradáveis ao paciente, proporcionando uma sensação de
segurança e progresso. A farmacologia evoluiu com o princípio de estudar seu mecanismo de
ação específico e quantificar seus efeitos de maneira reproduzível, geralmente comparada com
placebo ou outra substância de controle. Grande parte do sucesso da medicina moderna se baseia
na ciência farmacológica e sua contribuição para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos
seguros e eficazes (WALLER; SAMPSON, 2018).

Segundo Gordon (2012), a caracterização molecular das drogas tem sido um fator importante
na definição da natureza da interação receptor-droga. Pensa-se que a forma tridimensional da
droga interaja com uma região de ligação estrutural complementar do receptor, tipicamente uma
proteína. A natureza específica da interação define se a droga age como um agonista que promove
uma alteração na função celular ou como um antagonista que bloqueia o receptor, geralmente
resultando em nenhum efeito biológico direto.

A tecnologia do DNA recombinante possibilitou produzir proteínas de alta complexidade,


que aliadas à determinação estrutural de biomoléculas, possibilitou compreender a natureza de
reações específicas. Temos atualmente um banco de dados composto por milhares de proteínas e
outras biomoléculas com estrutura e informações catalogadas. Esses estudos permitem encontrar
moléculas que podem reagir de diferentes formas (BRUNTON et al., 2019).

Clique abaixo para conhecer detalhes sobre a farmacologia e suas áreas.

Farmacologia clínica

De acordo com Waller e Sampson (2018), a farmacologia descreve como ocorre a interação
físico-química das moléculas da droga com seus alvos macromoleculares, também chamados de
receptores, associados a processos bioquímicos, imunológicos e fisiológicos, com o intuito de
gerar as respostas nas células, tecidos e órgãos. Os medicamentos estão sendo projetados para
interagir com diferentes tipos de macromoléculas, incluindo aquelas produzidas por patógenos,
incluindo vírus e bactérias. Um receptor pode ser definido em termos bioquímicos como uma
molécula que recebe um sinal externo e produz algum tipo de resposta celular.

Ritter et al. (2008) enfatizam que as drogas são muitas vezes a terapia primária ou um
complemento de outra modalidade, como o uso de anestésicos em pacientes submetidos a
cirurgia. Milhares de drogas potentes já foram introduzidas e os farmacêuticos continuam
descobrindo novas e melhores matérias-primas para produzir drogas. Com os avanços na genética,
ciência celular e molecular, é provável que o progresso seja acelerado e enormes mudanças na
terapêutica sejam inevitáveis.
13

A base científica da ação medicamentosa é fornecida pela disciplina de farmacologia. A


farmacologia clínica lida com os efeitos de drogas em seres humanos. Isso envolve o estudo da
interação de drogas com seus receptores, os sistemas de transdução aos quais estão ligados e as
mudanças que elas provocam nas células, órgãos e todo o organismo (RITTER et al., 2008).

Farmacocinética

Segundo Tripathi (2013), as duas principais divisões da farmacologia incluem a farmacodinâmica


e a farmacocinética. Os processos relativos às alterações provocadas por drogas no corpo
são chamados de processos farmacodinâmicos (RITTER et al., 2008). De acordo com De Lucia
(2014), a farmacodinâmica tem como objetivo fundamental o estudo dos efeitos bioquímicos,
comportamentais e fisiológicos dos fármacos e de seu mecanismo de ação. O mecanismo de
ação de uma droga é caracterizado pela forma como essas substâncias promovem alterações
que resultam nos seus efeitos terapêuticos e tóxicos, sendo de fundamental importância para o
uso terapêutico e para o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos. Levando-se em conta
a especificidade dessas interações, os fármacos podem ser classificados em dois grandes grupos:
os fármacos estruturalmente específicos e fármacos estruturalmente inespecíficos.

Farmacodinâmica

Segundo Tripathi (2013), a farmacocinética é o estudo quantitativo do movimento de drogas


dentro e fora do corpo. A intensidade da resposta geralmente está relacionada à concentração
da droga no local da ação, que por sua vez depende de suas propriedades farmacocinéticas.
As considerações farmacocinéticas, portanto, determinam a via de administração, dose,
duração do início, tempo de ação máximo, duração da ação e frequência de administração de
um medicamento. A grande maioria dos processos farmacocinéticos envolve o transporte do
medicamento através das membranas biológicas.

2 ANTI-HIPERTENSIVOS
Segundo Lopes et al. (2003), a hipertensão arterial é uma síndrome de origem multifatorial,
reconhecida como um dos maiores desafios na área da saúde pública, trata-se de um grave
fator de risco para as doenças cardiovasculares. É conceituada como uma doença sistêmica que
envolve alterações nas estruturas das artérias e do miocárdio associadas à disfunção endotelial,
sendo caracterizada pela constrição e remodelamento da musculatura lisa vascular.

De acordo com Nobre (2010), a hipertensão arterial sistêmica apresenta alta prevalência
e baixas taxas de controle. Selvam et al. (2010) enfatizam que as estimativas mundiais de
prevalência de hipertensão podem chegar a 1 bilhão de indivíduos, e aproximadamente 7,1
milhões de mortes por ano podem ser atribuídas à hipertensão. A hipertensão é diretamente
14

responsável por 57% de todas as mortes por acidente vascular cerebral e 24% de todas as mortes
por doenças coronárias (SELVAM et al., 2010).

FIQUE DE OLHO
De acordo com Aronow (2017), as urgências hipertensivas são diagnosticadas se houver
uma pressão arterial sistólica superior a 180 mmHg ou uma pressão arterial diastólica
superior a 120 mmHg em uma pessoa estável, sem evidência clínica ou laboratorial de dano
agudo a órgãos-alvo.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

Segundo Lopes et al. (2003), o tratamento da hipertensão arterial consiste basicamente na


terapia medicamentosa e tratamento não-farmacológico anti-hipertensivo. Perez (2008) enfatiza
que uma emergência hipertensiva é um cenário clínico em que uma elevação acentuada da
pressão arterial está associada a danos agudos nos órgãos terminais, condição onde o paciente
corre risco de vida. O objetivo do tratamento é reverter o dano ao órgão final, evitar resultados
adversos e prolongar a vida. Uma das estratégias consiste na utilização de medicamentos para
baixar a pressão arterial, conhecidos como medicamentos anti-hipertensivos.

2.1 Aspectos gerais e classificação


De acordo com Perez e Musini (2008), muitas classes de medicamentos anti-hipertensivos
têm sido utilizadas com o objetivo de reduzir rapidamente a pressão arterial e com a expectativa
de mitigar danos. Essa abordagem foi inicialmente recomendada por Gifford em 1959, com base
em uma série de oito casos com encefalopatia hipertensiva que foram tratados com nitroprussiato
15

de sódio. Com base nas evidências dessa série de casos, essa abordagem se tornou e permaneceu
o padrão de atendimento e atualmente é recomendada pela maioria dos comitês de diretrizes,
sendo considerada uma terapia eficaz.

Segundo Kohlmann et al. (2010), o uso de anti-hipertensivos no tratamento da hipertensão


arterial visa não apenas reduzir a pressão arterial, tendo também a finalidade de reduzir ou
minimizar o impacto de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. Os anti-hipertensivos
comercialmente disponíveis no Brasil podem ser agrupados em diferentes classes, de acordo
com seu mecanismo de ação; entre eles se destacam os diuréticos, inibidores adrenérgicos,
vasodilatadores diretos, bloqueadores dos canais de cálcio e inibidores da enzima conversora
da angiotensina. Martelli et al. (2008) enfatizam que essas diversas classes de anti-hipertensivos
já demonstraram reduzir o risco cardiovascular e que, na maioria dos casos, esses fármacos são
usados de forma associada. Além da evidência de benefício clínico, a escolha do anti-hipertensivo
deve levar em consideração outros fatores, como as comorbidades do paciente, efeitos adversos,
interação medicamentosa, posologia e o preço do fármaco.

2.2 Mecanismos de ação


Cada classe de drogas anti-hipertensivas apresenta um mecanismo de ação característico.
Clique nas abas abaixo para conhecê-los.

Bloqueadores adrenérgicos

Martelli et al. (2008) descrevem que os bloqueadores adrenérgicos são drogas que intervêm
na transmissão simpática; os mecanismos de ação dessa classe de drogas anti-hipertensivas são
múltiplos e variados, incluindo a diminuiçãodo débito cardíaco, readaptação dos barorreceptores
e inibição simpática periférica. Podem ser citados como exemplos o atenolol, o doxazosina e
propranolol.

Diuréticos

Os diuréticos são considerados a classe de fármacos anti-hipertensivos mais utilizada, devido


a sua eficácia e baixo custo. Kohlmann et al. (2010) descrevem que o mecanismo de ação dos
diuréticos se relaciona inicialmente aos seus efeitos diuréticos e natriuréticos, com diminuição do
volume extracelular. São classificados em diuréticos de alça, que incluem a furosemida e o ácido
etacrínico, diuréticos tiazídicos, com a clortalidona e hidroclorotiazida, inibidores competitivos
da aldosterona e diuréticos que bloqueiam canais de sódio nos túbulos coletores. Martelli et al.
(2008) enfatizam que os diuréticos tiazídicos são os mais consumidos ao redor do mundo.

Bloqueadores dos canais de cálcio

Nos bloqueadores dos canais de cálcio, a ação anti-hipertensiva decorre daredução da


16

resistência vascular periférica por diminuição da concentração de cálcio nas células musculares
lisas vasculares (KOHLMANN et al., 2010). Esses fármacos atuam como antagonistas do cálcio e
são caracterizados por três classes quimicamente distintas: as fenilalquilaminas, diidropiridinas
e benzotiazepinas. Os fármacos de cada uma dessas três classes ligam-se às subunidades α1 do
canal de cálcio cardíaco do tipo L, mas em locais distintos e que vão interagir alostericamente
entre si e com o maquinário de controle da passagem de cálcio, impedindo assim sua abertura
e reduzindo a entrada de cálcio. Na musculatura lisa, causam dilatação arteriolar generalizada e
diminuição de sua resistência, reduzindo dessa forma a pressão arterial. Os principais exemplos
incluem verapamil, diltiazem enifedipina (MARTELLI et al., 2008).

3 DIURÉTICOS
Flórez e Armijo (1997) descrevem que os diuréticos são caracterizados como medicamentos
que estimulam a excreção renal de água e eletrólitos, como consequência de sua ação perturbadora
no transporte iônico por todo o néfron. Essa interferência pode ocorrer em um ou mais locais ao
longo do caminho tubular, mas a ação em um local mais proximal pode ser compensada em um
nível mais distal ou desencadear mecanismos compensatórios que neutralizam a ação inicial.
Seu principal objetivo é alcançar um balanço hídrico negativo, mas os diuréticos não atuam
diretamente na água, sendo divididos em diuréticos natriuréticos ou diuréticos osmóticos. No
entanto, direta ou indiretamente, eles podem modificar outros íons e alterar outras funções,
sendo também utilizados em outras doenças, como pressão alta, hipercalcemia, diabetes
insipidus, glaucoma, envenenamentos e outros.

3.1 Aspectos gerais e classificação


De acordo com Moreira et al. (2013), os diuréticos são divididos em cinco classes,
nomeadamente os osmóticos, inibidores da anidrase carbônica, de alça, tiazídicos e poupadores
de potássio. As características de cada um e exemplos podem ser observados na tabela 1.
17

Figura 1 - Características das classes de diuréticos


Fonte: MOREIRA et al., 2013.

#ParaCegoVer: A tabela apresenta classes de diuréticos e suas características gerais e


exemplos.

O principal uso dos diuréticos consiste em seu emprego no tratamento de pacientes com
edema. Entre esses medicamentos, os diuréticos de alça, como a furosemida, são talvez os mais
frequentemente prescritos, e sua farmacologia clínica é mais bem compreendida do que a de
outros diuréticos (BRATER, 1998).

3.2 Mecanismos de ação


Os diuréticos têm sido amplamente empregados no tratamento de pacientes hipertensos,
na redução da pressão sistólica e diastólica. Diuréticos utilizados no tratamento de hipertensão
arterial podem ser divididos em quatro grandes grupos de acordo com o seu principal local de
ação no túbulo renal, nomeadamente em túbulo proximal, alça de Henle, túbulo distal e túbulo
coletor. Uma característica comum a todos esses diuréticos é a ação natriurética, que leva à
diminuição do Na+ corporal total. Os diuréticos mais potentes são a furosemida, bumetanida e o
ácido etacrínico (NIGRO; FORTES, 2005).

De acordo com Brater (1998), as características farmacológicas de todos os diuréticos de alça


são semelhantes. Os diuréticos de alça bloqueiam o transportador cloreto de sódio-potássio; os
diuréticos tiazídicos bloqueiam o transportador eletroneutro de cloreto de sódio; e o amiloreto e
o triamtereno bloqueiam os canais apicais de sódio. Todos os diuréticos, exceto a espironolactona,
atingem esses locais de transporte luminal pelo fluido tubular, e a grande maioria dos diuréticos,
exceto osmóticos, são ativamente secretados na urina pelas células dos túbulos proximais.

Nigro e Fortes (2005) enfatizam que os tiazídicos metolazona e a indapamida inibem a


reabsorção de sódio na porção inicial do túbulo contornado distal. Esses diuréticos inibem
a reabsorção ativa do sódio acompanhada pelo cloreto em um sistema de co-transporte.
Os diuréticos de alça, os tiazídicos e a metolazona, assim como o triantereno, a amilorida
e a espironolactona, agem na porção final do túbulo contornado distal e no túbulo coletor. O
triantereno e a amilorida possuem fraca ação natriurética.
18

De acordo com Flórez e Armijo (1997), a inibição do transporte dos ions Na+ na medula
reduzirá a hipertonia do espaço intersticial, consequentemente, em uma situação de hidropenia,
não haverá reabsorção de água no tubo de coleta e, portanto, sua capacidade de concentrar a
urina diminuirá.

4 ANTIARRÍTIMICOS
A contração cardíaca eficiente depende do ritmo sinusal e do atrioventricular, bem como
da sincronização inter e intraventricular, dada a integridade da via de condução cardíaca e o
acoplamento bem organizado de excitação e contração. O termo arritmia refere-se a qualquer
alteração na sequência normal e na forma dos impulsos elétricos durante o ciclo cardíaco.
Arritmias constituem uma grande preocupação de saúde pública, representando uma carga
econômica significativa e crescente para os sistemas de saúde. As formas mais comuns de arritmia
que levam a um alto risco de morbimortalidade cardíaca são fibrilação atrial, taquicardia e a
fibrilação ventricular. Outros distúrbios do ritmo resultam principalmente de mecanismos únicos,
como reentrada intranodal, vias acessórias ou automatismo focal anormal (THIREAU et al., 2011).

De acordo com Klotz (2007), arritmias cardíacas são uma importante fonte de
morbimortalidade. Historicamente, a terapia para arritmias cardíacas começou em 1918 com
uma preparação de alcaloides quinólicos.

Nos últimos 35 anos, várias drogas foram propostas para essa finalidade. No entanto, após o
ensaio de supressão da arritmia cardíaca, que relatou um resultado negativo para a encainida e a
flecainida, o uso clínico de antiarrítmicos diminuiu.

A eficácia dos agentes antiarrítmicos é geralmente entre 30% e 60%, e os benefícios a


curto prazo podem ser compensados por efeitos neutros ou negativos na mortalidade e, mais
recentemente, terapias não armacológicas, por exemplo, ablações direcionadas de tecido
arritmogênico e desfibriladores cardioversores implantáveis.

Tamargo e Valenzuela (2007) enfatizam que os fármacos antiarrítmicos formam um grupo


muito heterogêneo de substâncias que são caracterizadas por suprimir ou prevenir distúrbios do
ritmo cardíaco em concentrações que não têm efeitos adversos no batimento sinusal normalmente
propagado. Constituem uma importante forma de tratamento, optada pela maioria dos pacientes
com arritmias, embora várias estratégias elétricas, como desfibriladores, marcapassos e técnicas
de ablação e estratégias cirúrgicas, possam substituí-los em certos grupos de pacientes.

4.1 Aspectos gerais e classificação


De acordo com Thireau et al. (2011), com base no conhecimento inicial sobre a origem
das arritmias, que inclui a atividade ectópica, distúrbios de condução que levam à reentrada e
19

super excitabilidade, estratégias para interromper as arritmias levam à classificação dos agentes
antiarritmáticos desde os anos 1970. Os medicamentos antiarrítmicos podem ser eficazes de várias
maneiras em vários alvos e as abordagens utilizadas para o desenvolvimento de medicamentos
antiarrítmicos são variadas. Até agora, as drogas antiarrítmicas foram consideradas moduladoras
de canais iônicos e várias classificações baseadas na proteína-alvo foram desenvolvidas.

Segundo Tamargo e Valenzuela (2007), classicamente, os antiarrítmicos foram divididos em


quatro grupos. Clique abaixo para conhecê-los.

Grupo I

Medicamentos cujo mecanismo de ação é o bloqueio de canais de Na+. Os medicamentos


pertencentes a esse grupo inibem os íons Na+ e, portanto, diminuem a velocidade e a
excitabilidade da condução cardíaca.

Grupo II

Medicamentos que atuam bloqueando os receptores ß -adrenérgicos.

Grupo III

Medicamentos cujo mecanismo de ação é produzir uma extensão da duração do potencial de


ação e, portanto, do período refratário.

Grupo IV

Fármacos bloqueadores de canal Ca2+ dependentes de voltagem do tipo L, com exceção das
di-hidropiridinas. Ao inibir os íons Ca2+, a velocidade de condução e o período refratário das
células cardíacas dos nodos sinoauricular e auriculoventricular, bem como das células cardíacas
anormalmente despolarizadas, diminuirão.

Embora essa classificação seja simples, clara e fácil de lembrar, ela apresenta algumas limitações. A
primeira é que ela mistura efeitos de bloqueio de canal e receptor com modificação de um parâmetro
eletrofisiológico. Além disso, ela não contempla a possibilidade de que o aumento de uma certa corrente
iônica possa exercer efeitos antiarrítmicos, nem que haja bloqueio ou estimulação de outros tipos
de receptores além dos receptores ß-adrenérgicos, motivo pelo qual vários fármacos com atividade
antiarrítmica, como os α-adrenérgicos, digoxina e atropina, são excluídos da classificação. Pressupõe
que o mecanismo de ação de drogas pertencentes ao mesmo grupo esteja relacionado apenas ao
descrito na classificação, no entanto, a maioria dos medicamentos antiarrítmicos compartilha mais
de um mecanismo de ação antiarrítmico. Isso explica porque, ao contrário do que essa classificação
parece indicar, os antiarrítmicos incluídos no mesmo grupo têm propriedades e aplicações clínicas
muito diferentes (TAMARGO; VALENZUELA, 2007).
20

4.2 Mecanismos de ação


Segundo Thireau et al. (2011), têm sido amplamente pesquisados quais canais de íons são
os melhores candidatos para novos medicamentos antiarrítmicos. Uma estratégia lógica para
o tratamento de doenças específicas consiste no desenvolvimento de bloqueadores de canais
iônicos específicos do átrio, isentos de riscos pró-arritmogênicos no nível ventricular.

Thireau et al. (2011) enfatizam que novos conceitos sobre a origem das arritmias estão
levando a novas abordagens terapêuticas com base nos recentes avanços em nossa compreensão
dos mecanismos celulares subjacentes às arritmias e à normalização do ciclo do Ca2+, com
potencial clínico de insuficiência cardíaca, arritmias herdadas, taquicardia ventricular polimórfica
catecolaminérgica e fibrilação atrial. Ranolazina e bloqueadores ou estabilizadores do receptor
de rianodina estão emergindo, como fármacos ou protótipos novos visando à prevenção de
arritmias dependentes de Ca2+ e, eventualmente, remodelação estrutural.

Segundo Klotz (2007), em geral, a maioria dos medicamentos antiarrítmicos possui um índice
terapêutico estreito e parece haver uma relação direta entre seus efeitos farmacológicos clínicos e
as concentrações plasmáticas. Devido à estreita margem terapêutica, qualquer alteração induzida
por doença hepática nas concentrações plasmáticas de antiarrítmicos pode ter consequências
clínicas, sendo necessárias modificações posológicas apropriadas. Como vários fármacos
antiarrítmicos disponíveis são eliminados principalmente pelas vias hepáticas, a função hepática
se torna um determinante essencial da sua liberação do organismo.

5 FÁRMACOS VASOATIVOS
Segundo Muri et al. (2010), as doenças vasculares periféricas englobam um grupo de doenças
que afeta principalmente os sistemas arterial, linfático e venoso, sendo observado estreitamento
ou obstrução dos vasos que conduzem o sangue ou linfa para pernas e braços, prejudicando o fluxo
normal. A terapia para tais afecções inclui, além da adoção de um modo de vida saudável, com a
redução ou abolição dos fatores de risco, a utilização de drogas vasoativas. Fica evidente o papel das
alterações vasomotoras na terapia de afecções musculoesqueléticas agudas e crônicas, enfatizando
a necessidade crescente do uso de drogas vasodilatadoras e venolinfotônicas (MURI et al., 2010).

FIQUE DE OLHO
Montorsi et al. (2003) descrevem que a administração tópica de agentes vasoativos
representa uma opção potencialmente confiável que certamente seria atraente para
pacientes com disfunção erétil, considerando sua ação específica, simplicidade de uso e por
não apresentar influência sistêmica.
21

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A utilização de drogas vasoativas no suporte farmacológico de pacientes críticos tem se


baseado na otimização do débito cardíaco e do tônus vascular da circulação sistêmica e pulmonar,
visando ao restabelecimento do fluxo sanguíneo regional para órgãos vitais durante o choque
circulatório (FONSECA, 2001).

5.1 Características gerais


Segundo Holmes (2005), os agentes vasopressores eficazes no aumento da pressão arterial
nos estados de choque vasodilatador são a noradrenalina, epinefrina, dopamina e vasopressina.
Recentemente, terlipressina e metaraminol foram investigados por suas propriedades
vasopressoras. A dopamina, a dobutamina e os inibidores da fosfato-terase, milrinona e amrinona
são considerados agentes inotrópicos. A figura 1 apresenta a fórmula estrutural da noradrenalina.

Figura 2 - Fórmula estrutural da noradrenalina


Fonte: StudioMolekuul, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: Na figura, pode ser observada a estrutura química de um vasodilatador


noradrenalina. Observa-se a presença dos grupos fenol e amina, que indicam uma elevada
solubilidade em água.
22

Os vasodilatadores promovem a vasodilatação arterial e venosa, determinando a redução


da pré e pós-carga e o aumento do débito cardíaco, além de reduzir as pressões de enchimento
ventricular. Dessa forma, as drogas vasoativas são de fundamental importância no tratamento
do choque circulatório, pois exercem diversas ações farmacológicas, que induzem aumento do
débito cardíaco e incremento da oferta de oxigênio conforme o tipo de droga utilizada. Cabe
ressaltar que a escolha da droga ou associação de drogas a ser utilizada deve ser baseada no
mecanismo fisiopatológico envolvido na gênese do choque circulatório, assim como a dose ideal
deve ser calculada sistematicamente no decorrer do tratamento, conforme as alterações dos
parâmetros hemodinâmicos, tornando-se imprescindível o uso da monitoração hemodinâmica
em determinadas situações (FONSECA, 2001).

5.2 Mecanismos de ação


Muri et al. (2010) enfatizam que a farmacologia das drogas usadas no tratamento de distúrbios
venosos e linfáticos tem atuado no aumento do tônus da parede venosa, na modificação de
parâmetros da microcirculação, redução na hiperpermeabilidade capilar e viscosidade sanguínea
e na melhora na pressão parcial de oxigênio, possibilitando um retorno venolinfático mais
eficiente e minimizando danos provenientes de estase sanguínea e edema.

As catecolaminas, ou agonistas adrenérgicos, melhoram o desempenho mecânico do coração


devido ao efeito inotrópico positivo. Algumas reduzem a resistência vascular sistêmica e pulmonar
e as pressões de enchimento ventricular, conforme interação com receptores adrenérgicos
específicos. Os inibidores da fosfodiesterase apresentam mecanismo de ação diferenciado, mas
os efeitos hemodinâmicos são semelhantes às catecolaminas (FONSECA, 2001).

De acordo com Holmes (2005), a norepinefrina é um agonista potente adrenérgico e é


considerada a primeira terapia para a manutenção da pressão arterial e da perfusão tecidual
no choque séptico. A adrenalina é um agente potente e adrenérgico que não é considerado
terapia de primeira linha para choque séptico devido a seus efeitos prejudiciais na circulação
regional e nos níveis de lactato sanguíneo. A vasopressina é um hormônio do estresse liberado
endogenamente que é importante durante o choque.
23

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24

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer os principais aspectos da farmacologia geral e clínica, com ênfase em


propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas das drogas;

• aprender sobre as causas e tratamento de hipertensão arterial por meio de fármacos


anti-hipertensivos;

• conhecer os principais diuréticos utilizados na farmacologia clínica, sua classificação,


mecanismos de ação e principais grupos;

• compreender os mecanismos associados à arritmia cardíaca e as principais estratégias


farmacológicas para minimizar os danos causados por essa condição;

• discutir as principais características dos fármacos vasoativos e drogas vasodilatadoras,


seus mecanismos de ação e diferentes formas de utilização.
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WALLER, D. G.; SAMPSON, T. Medical pharmacology and therapeutics. 5. ed. Edinburgh:


Elsevier, 2018.
UNIDADE 2
Farmacologia clínica
Introdução
Você está na unidade Farmacologia Clínica. Conheça aqui os principais fármacos e
drogas utilizados para o tratamento de um amplo espectro de doenças, incluindo os
medicamentos consolidados pelo mercado, seus mecanismos de ação, indicações,
toxicidade e biodisponibilidade. Conheça a farmacologia do sistema respiratório, fármacos
laxantes e antidiarreicos, antiulcerosos e antieméticos.

Veja também a farmacologia da diabetes, os principais medicamentos e seus mecanismos


de ação, e medicamentos utilizados para promover alterações tireoidianas, com ênfase
nas diferentes classificações e empregos.

Bons estudos!
29

1 FARMACOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO


De acordo com Murphy (1994), os estudos de farmacologia do sistema respiratório avaliam
o potencial de drogas administradas sistemicamente, incluindo por inalação, para causar efeitos
farmacológicos e secundários que influenciam a função respiratória. Está disponível uma ampla
gama de medicamentos que promovem alterações e respostas no sistema respiratório com
diferentes formas de uso.

O tratamento de doenças do aparelho respiratório consiste, muitas vezes, na utilização de


antibióticos em ação conjunta com corticosteroides e broncodilatadores. Os antibióticos são
utilizados para combater microrganismos e são geralmente empregados no tratamento de
infecções; já os corticosteroides e broncodilatadores podem ser utilizados no tratamento da
asma, visando à ação anti-inflamatória e diminuição do broncoespasmo (IFTODA et al., 2009).

1.1 Aspectos gerais


Murphy (1994) descreve que a maioria dos efeitos induzidos por drogas no pulmão envolve o
parênquima ou região alveolar, produzindo alterações que envolvem proteinose alveolar, edema
intersticial e intra-alveolar, além de pneumonite intersticial e fibrose. Embora a pleura e as vias
aéreas sejam menos comumente afetadas, efeitos induzidos por medicamentos – incluindo
derrame pleural, pneumotórax, honospospasmo e bronquiolite obliterante – têm sido relatados.
Existem também drogas de pelo menos 16 classes farmacológicas diferentes que influenciam
o controle neuromuscular da ventilação pulmonar. Tais drogas podem ser classificadas como
estimulantes ou depressores respiratórios e produzem seus efeitos principalmente através de
mecanismos que envolvem o sistema nervoso central.

De acordo com Garcia (2014), estudos sobre a via de administração pulmonar têm atraído a
atenção de muitos pesquisadores ultimamente, não somente devido ao seu papel no tratamento
local de doenças das vias respiratórias, mas também como uma via de administração sistêmica
de medicamentos, especialmente no caso de fármacos lipofílicos, que apresentam uma baixa
biodisponibilidade quando administrados pela via oral. Medicamentos inalantes são convenientes
e extremamente eficazes no tratamento das vias aéreas, permitindo uma terapia com alto grau
de especificidade e retenção de altas concentrações do fármaco no tecido-alvo, promovendo
uma baixa exposição sistêmica à droga e consequentemente a redução dos efeitos colaterais
sistêmicos.

Garcia (2014) enfatiza que a administração pela via oral representa um importante diferencial
no tratamento de doenças como asma, doenças pulmonares obstrutivas crônicas e a fibrose
cística. A grande área de superfície pulmonar e a fina camada epitelial que recobre as vias aéreas,
somadas à ampla vascularização, permitem uma absorção rápida de fármacos administrados
30

pela via pulmonar. Em complemento, a natureza não invasiva da via pulmonar aumenta a adesão
do paciente ao tratamento, e a relativamente baixa atividade enzimática ajuda a manter a alta
biodisponibilidade dos fármacos nessa via.

Segundo Murphy (1994), o sistema respiratório pode ser dividido funcionalmente em dois
mecanismos: a troca de gases e um aparelho de bombeamento.

Clique abaixo para saber mais.

• A unidade de troca gasosa é o pulmão e inclui vias aéreas, alvéolos e uma área intersticial
do parênquima que contém vasos sanguíneos e uma rede fibrosa elástica.

• O aparelho de bombeamento inclui os componentes dos sistemas nervoso e muscular,


que são responsáveis por gerar e regular os padrões respiratórios.

• A principal função do sistema respiratório é a troca de gases entre o meio ambiente e o


sangue.

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1.2 Fármacos utilizados no tratamento de doenças respiratórias


Os distúrbios funcionais do sistema respiratório são definidos como alterações no sistema
respiratório que reduzem a eficiência das trocas gasosas. O estreitamento ou bloqueio das vias
aéreas pode reduzir a eficiência das trocas gasosas, diminuindo ou impedindo o fluxo de ar de
e para os alvéolos. Alterações funcionais desse tipo são chamadas de distúrbios obstrutivos. O
estreitamento das vias aéreas pode resultar de contração ou hipertrofia muscular das vias aéreas,
acúmulo de fluidos de muco ou edema nas vias aéreas, hiperplasia das células luminais ou quebra
no tecido de suporte elástico. Um distúrbio obstrutivo também cria uma carga resistiva durante a
ventilação, que aumenta o trabalho da respiração, podendo levar à fadiga respiratória (MURPHY,
1994).
31

Existe uma grande variedade de drogas utilizadas para diferentes afecções no sistema
respiratório, classificadas de acordo com seu mecanismo de ação. De acordo com Boothe
(2000), as drogas mais usadas para tratar o trato respiratório incluem broncodilatadores e
anti-inflamatórios, mucolíticos, expectorantes, drogas antitussígenas e descongestionantes. A
aerossolização é um importante adjuvante para a terapia respiratória, desde que sejam tomadas
precauções. As doenças infecciosas estão entre as doenças respiratórias mais comumente
encontradas.

Anestésicos inalatórios e intravenosos exercem um efeito depressivo significativo nos


nervos motores respiratórios. Com relação ao ritmo respiratório, os anestésicos inalatórios,
como halotano, isoflurano e sevoflurano, são conhecidos por diminuírem a duração de ambas
a inspiração e a expiração. Esse efeito é parcialmente atenuado, mas não totalmente eliminado,
pela desnervação dos nervos vago e seio carotídeo, indicando uma contribuição parcial das
flexões aferentes periféricas. Os barbitúricos intravenosos pentobarbital e tiopental são
conhecidos por diminuir a inspiração e a expiração em doses mais baixas e aumentam as duas,
mais preferencialmente a inspiração, em doses mais altas (HAJI et al., 2000).

2 LAXANTES E ANTIDIARREICOS
Segundo Roerig et al. (2010), por muitos anos, o uso de laxantes tem sido um elemento
importante na terapia médica. No entanto, atualmente os laxantes estão sendo cada vez mais
utilizados como método de controle de peso. A maioria dos pacientes com transtorno alimentar
utiliza laxantes para induzir diarreia para se sentir mais magro, na tentativa de se livrar de
calorias indesejadas e perder peso. Xing e Soffer (2001) enfatizam que os laxantes estão entre
os medicamentos mais usados na atualidade; a maioria é suficientemente segura quando usada
criteriosamente.

Clique abaixo para saber detalhes sobre os antidiarreicos.

Os medicamentos antidiarreicos podem ser amplamente definidos como agentes que


minimizam os sintomas da diarreia, melhorando a consistência das fezes, reduzindo a frequência
das fezes ou o peso das fezes.

Alguns medicamentos são bastante específicos em seus efeitos. Por exemplo, pacientes com
síndrome de Zollinger-Ellison apresentam diarreia devido à hipersecreção de ácido gástrico; os
inibidores da bomba de prótonstratam efetivamente a diarreia nessas circunstâncias, mas não
têm efeitos antidiarreicos em outras situações.

Drogas antidiarreicas inespecíficas envolvem ações no trânsito intestinal, transporte intestinal


ou viscosidade das ferramentas que resultam em melhora sintomática em uma variedade de
32

condições (SCHILLER, 2017).

2.1 Classificação
De acordo com Xing e Soffer (2001), as principais classes de laxantes comercialmente
disponíveis incluem os agentes de volume ou hidrofílicos, agentes osmóticos, lubrificantes
e os estimulantes. Dentro dos laxantes estimulantes existem duas classes farmacológicas
características: os derivados do difenilmetano, como o bisacodi; e as antraquinonas, que incluem
senna e cascara (ROERIG et al., 2010).

Segundo Schiller (2017), a classificação dos medicamentos antidiarreicos tem como base
seus prováveis ​​mecanismos de ação, podendo ser citados os inibidores do trânsito intestinal,
que incluem os opiáceos, como loperamida, eluxadolina e ópio; inibidores de encefalinase, que
incluem somatostatina e análogos; bloqueadores de canais de cálcio, agentes pró-absorventes,
fármacos antissecretores, agentes intraluminais e outros. Alguns desses agentes têm múltiplos
mecanismos de ação; enquanto uns retardam o trânsito intestinal, outros trabalham para
aumentar as taxas de absorção estimulando os mecanismos mucosos que mediam a absorção.
Novos medicamentos estão sendo desenvolvidos para bloquear a secreção intestinal de líquidos
e eletrólitos, interferindo nos mecanismos mucossais que mediam a secreção de cloreto. Uma
categoria final de agentes usados ​​para o tratamento inespecífico da diarreia são absorventes,
minerais e modificadores da textura das fezes que funcionam intraluminalmente para modificar
o conteúdo entérico. Esses reagentes podem não reduzir o peso das fezes, mas podem afetar a
consistência das fezes e facilitar o manuseio da diarreia.

2.2 Características gerais e farmacológicas


A maioria dos laxantes, se usados corretamente e na ausência de contraindicações, geralmente
é bem tolerada e é relativamente segura. A maioria dos laxantes estimulantes é segura, mesmo
quando utilizada cronicamente (XING; SOFFER, 2001).

Anteriormente, muitas das preparações laxantes comercializadas sem receita utilizavam


a fenolftaleína como ingrediente ativo, no entanto, por preocupações com excesso de
carcinogenicidade, a agência reguladora norte-americana proibiu seu uso na preparação de
laxantes em 1997. Atualmente, o único agente difenilmetano em uso é o bisacodil. Esse agente
estimula o peristaltismo diretamente irritando o músculo liso do intestino. Também altera a
secreção de água e eletrólitos, produzindo acúmulo líquido de líquido intestinal. O bisacodil é
bem tolerado; efeitos adversos incluem cólicas abdominais leves, náusea, vômito e queima retal
(ROERIG et al., 2010).
33

FIQUE DE OLHO
Segundo Lima (2007), o tratamento da constipação intestinal se divide em duas
metodologias: a parte não-medicamentosa consiste em regularizar a dieta e praticar
exercícios físicos, enquanto a terapia medicamentosa se baseia no uso de medicamentos
laxantes ou purgantes.

De acordo com Xing e Soffer (2001), os laxantes osmóticos incluem sais de cátions pouco
absorvíveis, como o magnésio, ânions fosfato e sulfato, moléculas que não são absorvidas
no intestino delgado, mas metabolizadas no cólon, como lactulose e sorbitol, e compostos
metabolicamente inertes, tais como polietileno glicol. A parafina líquida, também conhecida como
óleo mineral, é o principal laxante lubrificante. Laxativos estimulantes estimulam a motilidade
intestinal e afetam o transporte epitelial de água e eletrólitos.

Schiller (2017) enfatiza que os medicamentos antidiarreicos opiáceos disponíveis mais


comuns incluem os cloridratos de loperamida, eluxadolina e o difenoxilato. Esses agentes variam
em potência, disponibilidade sistêmica, disponibilidade do sistema nervoso central e potencial
aditivo. A loperamida é um agonista do receptor opioide mu de baixa potência, que é mal absorvido
pelo intestino e não atravessa bem a barreira hematoencefálica. Consequentemente, tem pouca
responsabilidade viciante e não é mais regulamentada pela lei de substâncias controladas. Está
disponível sem receita e é relativamente barato, podendo ser suficiente para gerenciar a maioria
dos casos de diarreia aguda.

3 FÁRMACOS ANTIULCEROSOS E ANTIEMÉTICOS


Negro (1998) descreve que o tratamento farmacológico das úlceras gástricas, duodenais
e de síndromes relacionadas inclui um amplo espectro de drogas, que apresentam diferentes
mecanismos de ação e exercem diferentes efeitos terapêuticos. Esses compostos são amplamente
prescritos em combinação com outros medicamentos administrados para o tratamento de
doenças concomitantes.

As úlceras peptídicas são caracterizadas pela presença de úlceras em diferentes porções


do trato gastrointestinal. As formas mais comuns são úlcera gástrica, úlcera duodenal e úlcera
esofágica. A maioria pode ser atribuída a danos na mucosa induzidos pela bactéria Helicobacter
pylori ou anti-inflamatórios não esteroides. A emese, ou vômito, é o meio pelo qual o trato
gastrointestinal superior se orienta quando qualquer parte do trato superior fica excessivamente
irritada com distensão ou até excitação. Além do vômito por estímulos irritativos do próprio
trato gastrointestinal, a estimulação elétrica da zona de gatilho quimiorreceptor também inicia
o vômito. Vários estímulos psíquicos, incluindo cenas inquietantes, odores e outros fatores
psicológicos semelhantes, podem causar vômitos (RAMBABU et al., 2014).
34

De acordo com Pulido e Aleixo (2004), o desenvolvimento de terapia antiemética efetiva


observada nos últimos anos tem representado importantes avanços nos cuidados de suporte dos
pacientes com câncer e doenças gastrointestinais. Até o início da década de 1980, as fenotiazinas
eram as únicas drogas com eficácia antiemética para pacientes recebendo quimioterapia. Os
avanços na farmacologia e medicina levaram a um melhor entendimento sobre a fisiologia do
reflexo emético, tornando possível o desenvolvimento de potentes antieméticos.

3.1 Classificação
Os fármacos modificadores da secreção gástrica são amplamente comercializados,
representando um importante produto de interesse comercial. Segundo Garcia (2015), os
fármacos antiulcerosos podem ser divididos em quatro grandes grupos. Clique abaixo para
conhecê-los.

Os antissecretores, que incluem os antagonistas dos receptores H2 histaminérgicos, como a


cimetidina, ranitidina e famotidina.

Os inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol e lansoprazol.

Os com função citoprotetora e antissecretora, que incluem o misoprostol e os agentes de


proteção local, como o sucralfato e preparações de bismuto.

Os antiácidos, formados por óxidos e hidróxidos de alumínio e magnésio.

Estão disponíveis vários agentes antieméticos para o tratamento de náuseas e vômitos: os


mais importantes incluem os antagonistas dos receptores 5-HT3, corticosteroides, antagonistas
dos receptores NK-1, antagonistas dos receptores da dopamina, benzodiazepínicos, neurolépticos
e canabinoides. Com a moderna terapia antiemética, o vômito pode ser evitado em 70 a 80%
dos pacientes, enquanto o controle da náusea permanece abaixo do ideal (JORDAN et al., 2010).

3.2 Aspectos gerais e propriedades farmacológicas


Muitos progressos foram observados últimas décadas quanto ao manejo da êmese em
pacientes com câncer. Entre os destaques, estão os esteroides, antagonistas 5HT3 e mais
recentemente o antagonista do receptor NK1 que, juntos, administrados em terapia tríplice,
35

atingem taxas de controle da êmese ao redor de 80%, mesmo em protocolos com agentes
quimioterápicos altamente emetogênicos (PULIDO; ALEIXO, 2004).

Pulido e Aleixo (2004) descrevem que os antagonistas do receptor 5-HT3 são os antieméticos
mais potentes na profilaxia da êmese aguda; são exemplos a ondansetrona, a granisetrona, a
tropisetrona e a dolasetrona. Os esteroides são drogas com atividade antiemética conhecida, seu
efeito antiemético é amplificado quando administrados em combinação com outro antiemético.
Os antagonistas dos receptores dopaminérgicos como agentes únicos têm eficácia baixa, porém,
foram a base da terapia antiemética da década de 1950 até início da década de 1980, podendo
ser divididos em fenotiazinas, butirofenonas e benzaminas.

Clique abaixo e veja algumas definições de acordo com Garcia (2015).

Antiácidos

Os antiácidos são muito utilizados em automedicação de sintomas de dispepsia ocasional


ou azia, são quimicamente caracterizados por bases fracas ligadas a um cátion polivalente, e são
utilizados para neutralizar o ácido gástrico.

Inibidores da bomba de prótons

Os inibidores da bomba de prótons apresentam fortes efeitos inibitórios sobre a secreção de


ácido gástrico pelas células parietais do estômago, sendo usados para a prevenção e tratamento
de desordens provocadas pelo ácido gástrico.

Antagonistas dos receptores H2

Os antagonistas dos receptores H2 inibem a secreção de ácido ao bloquearem, de forma


competitiva, os receptores H2 presentes nas células parietais, reduzindo assim a secreção basal.
A secreção de pepsina também é reduzida, diminuindo-se a atividade péptica.

Sucralfato

O sucralfato é um composto polissulfatado igualmente utilizado no tratamento de úlceras


gástricas. Esse composto possui inúmeras atividades biológicas, entre elas um efeito benéfico
sobre as mucosas ulceradas, revestindo-as.

4 FARMACOLOGIA DO DIABETES
Diabetes mellitus configura-se atualmente como uma das mais importantes causas de
morbilidade e mortalidade na população mundial. Lopes et al. (2012) enfatizam que a diabetes
mellitus é uma enfermidade heterogênea, que compreende diversas alterações metabólicas
36

associadas à hiperglicemia. A diabetes mellitus tipo 2 está associada a cerca de 90% dos casos,
e seu tratamento requer uma abordagem ampla e multifatorial, que vai desde a educação e
mudanças no estilo de vida até intervenções farmacológicas.

FIQUE DE OLHO
Segundo Lopes et al. (2012), no Brasil, a população diabética em 2000 foi de 4,6 milhões
de pessoas, sendo projetado para 2030 um número de 11,3 milhões de pessoas, o que
corresponde à sexta posição na classificação dos países com maior prevalência dessa doença.

A diabetes mellitus é um distúrbio metabólico epidêmico normalmente caracterizado por um


alto nível de glicose no sangue associado a várias complicações macrovasculares e microvasculares.
Visando controlar os níveis de glicose no sangue no diabetes, tem sido utilizada uma ampla
variedade de agentes farmacológicos, como a insulina, análogos da insulina, agentes hipoglicêmicos
orais e vários outros medicamentos complementares e alternativos (KOKIL et al., 2010).

A farmacoterapia é indicada quando o paciente com diabetes não responde ou deixa de


fazer adequadamente as medidas não-medicamentosas. Os antidiabéticos orais constituem a
primeira escolha para o tratamento, uma vez que promovem, com controle glicêmico, redução
na incidência de complicações, apresentam boa aceitação pelos pacientes e são de simples
administração (LOPES et al., 2012).

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4.1 Aspectos gerais


Uma maior compreensão da patogênese complexa e multifatorial do diabetes mellitus tipo
2 possibilitou o desenvolvimento de várias novas classes de terapias para redução da glicose.
37

A metformina continua sendo a farmacoterapia de primeira linha para pacientes com diabetes
mellitus tipo 2, enquanto o uso de outros agentes bem estabelecidos, como sulfonilureias,
meglitinidas, pioglitazona e inibidores da α-glucosidase, varia em diferentes regiões. Agentes que
aumentam a atividade da incretina, suplementam o GLP-1 endógeno ou aumentam a eliminação
da glicose na urina têm baixo risco de hipoglicemia e podem ajudar no controle do peso.

O tratamento com dois ou três agentes com diferentes modos de ação pode ser necessário
à medida que a diabetes mellitus tipo 2 avança, e a insulinoterapia é necessária se outros
agentes não conseguirem manter o controle glicêmico adequado. Os alvos glicêmicos e a
escolha de agentes redutores de glicose devem ser personalizados para atender às necessidades
e circunstâncias de cada paciente, o que pode ser facilitado por desenvolvimentos futuros em
farmacogenômica. Embora o equilíbrio de benefícios e riscos para diferentes agentes varie entre
pacientes, o controle glicêmico precoce, eficaz e sustentado, atrasa o início e reduz a gravidade
das complicações relacionadas à hiperglicemia (TAHRANI et al., 2016).

Os medicamentos antidiabéticos atuam por diferentes mecanismos de ação. Segundo


Harrigan (2001), as opções de tratamento oral podem ser subdivididas nos medicamentos
hipoglicêmicos, que incluem derivados das sulfonilureias e ácidos benzoicos, e os medicamentos
anti-hiperglicêmicos, que englobam as biguanidas, inibidores da α-glucosidase e tiazolidinedionas.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

4.2 Classificação e mecanismos de ação


Segundo Lopes et al. (2012), os antidiabéticos orais são classificados de acordo com o seu
mecanismo de ação em quatro grupos:

• Hipoglicemiantes orais ou secretagogos, que incluem as sulfonilureias e as metiglinidas,


que estimulam as células β e aumentam a insulinemia.
38

• Sensibilizadores da ação da insulina, que incluem as tiazolidinodionas, possuem ação


periférica melhorando a ação insulínica e a captação de glicose pelas células.

• Redutores da neoglicogênese, que incluem as biguanidinas, que reduzem a glicemia prin-


cipalmente pela redução da formação de glicose hepática.

• Redutores da velocidade de absorção de glicídeos, que incluem os inibidores da α-glicosi-


dase, que retardam a absorção de carboidratos, fazendo diminuir a glicemia pós-prandial.

A tabela 1 apresenta os principais antidiabéticos comercializados no Brasil e suas características.

Tabela 1 - Lista dos medicamentos antidiabéticos comercializados no Brasil e seu mecanismo de ação
Fonte: LOPES et al., 2012

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela de duas colunas e seis linhas na qual são
apresentados os principais medicamentos antidiabéticos e seus respectivos mecanismos de ação.

Tahrani et al. (2016) descrevem que muitas terapias diferentes para baixar a glicose estão
disponíveis na atualidade. Esses tratamentos variam em eficácia, conveniência, perfil de efeitos
adversos e custo. O potencial valor de uma terapia envolve mais do que uma análise de custo-
benefício e baseia-se em um conjunto de atributos que leva em consideração segurança a
longo prazo, tolerabilidade, risco de hipoglicemia e ganho de peso e adequação na presença
de comorbidades e outros medicamentos. A terapia individualizada deve ser adaptada às
necessidades e preferências dos pacientes, considerando suas circunstâncias, entendimento e
comprometimento.

Os números anuais de morbimortalidade atribuídos aos fatores de risco decorrentes


de hiperglicemia e diabetes mellitus estão aumentando, apesar da grande variedade de
medicamentos disponíveis na terapia. Dessa forma, é importante explorar novos alvos potenciais
39

para o tratamento da hiperglicemia, além dos fármacos já existentes. Com base nesses objetivos,
pesquisadores de todo o mundo vêm projetando, sintetizando e avaliando uma variedade de
novas moléculas para a atividade anti-hiperglicêmica (KOKIL et al., 2010).

5 FARMACOLOGIA DA TIREOIDE
A tireoide é uma importante glândula que regula a função de órgãos importantes como o
coração, o cérebro, rins e o fígado. Segundo Fonseca e Melek (2014), a tireoide apresenta como
função a síntese dos hormônios tireoidianos, triiodotironina e tiroxina. Diversos mecanismos
estão envolvidos na síntese de tais hormônios; ela envolve a atuação de enzimas, proteínas
transportadoras, além de influência do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. A figura 1 apresenta
uma representação esquemática da glândula tireoide, sua localização e seu formato.

Figura 1 - Representação esquemática da glândula tireoide


Fonte: Anatomy Insider, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: Na figura, podemos ver uma representação tridimensional da glândula


tireoide e sua localização no interior do corpo humano.

De acordo com Barbesino (2010), ao longo dos anos, vários medicamentos utilizados no
tratamento de doenças não tireoidianas demonstraram afetar a função tireoidiana. À medida
que novas drogas foram introduzidas, novas interações foram descritas. As últimas décadas
foram marcadas pelos avanços na elucidação de mecanismos e do funcionamento da glândula
tireoidiana. Estudos auxiliares, como medição da captação de radioiodo e ultrassonografia do
pescoço, forneceram informações significativas sobre as alterações anatômicas e fisiológicas
subjacentes à disfunção tireoidiana. Como consequência, um grande corpo de conhecimento
clínico acumulou influências farmacológicas na função tireoidiana. Os medicamentos cujo
40

objetivo principal é afetar a função tireoidiana incluem tionamidas, hormônio tireoidiano e seus
derivados, e o iodo.

5.1 Aspectos gerais e classificação


A tireoide pode ter sua função alterada por vários medicamentos de uso frequente na prática
clínica. As alterações podem variar desde um simples efeito laboratorial, ou seja, paciente sem
doença tireoidiana subjacente, até hipotireoidismo e tireotoxicose. Vários fármacos de amplo
uso na prática clínica interagem com os hormônios tireoidianos, alterando a função da tireoide
(FONSECA; MELEK, 2014).

De acordo com Surks e Sievert (1995), os fármacos que influenciam a função da tireoide se
dividem nos enumerados abaixo. Clique para conhecê-los.

• Fármacos que diminuem a secreção de tireotrofina.

• Fármacos que alteram a secreção de hormônio tireoidiano, incluindo diminuição ou au-


mento da secreção de hormônio tireoidiano.

• Fármacos que diminuem a absorção da tiroxina.

• Fármacos que alteram o transporte de tiroxina e triiodotironina no soro: incluindo au-


mento da concentração sérica de globulina ligadora de tiroxina, diminuição da concen-
tração sérica de globulina ligadora de tiroxina e deslocamento dos locais de ligação às
proteínas.

• Fármacos que alteram o metabolismo da triiodotironina e da tiroxina, incluindo aumento


do metabolismo hepático e diminuição da atividade da tiroxina 5-deiodinase.

• Citocinas.

Surks e Sievert (1995) enfatizam que, além do metimazol e propiltiouracil, que são
administrados deliberadamente para diminuir a produção hormonal da tireoide em pacientes
com hipertireoidismo, vários outros medicamentos comumente usados podem diminuir a
secreção do hormônio tireoidiano.

5.2 Mecanismos de ação


Segundo Fonseca e Melek (2014), o carbonato de lítio inibe a secreção dos hormônios
tireoidianos, estimulando o hormônio tireoestimulante e levando à formação de bócio. Os
glicocorticoides apresentam efeitos variáveis e múltiplos. Alguns fármacos afetam as proteínas
transportadoras de hormônios tireoidianos, como os salicilatos, a heparina e o estrogênio.
Anticonvulsivantes atuam sobre os hormônios tireoidianos, interferindo na ligação com proteínas
transportadoras e acelerando o metabolismo hepático. A dopamina inibe diretamente a secreção
da tirotropina (FONSECA; MELEK, 2014).
41

De acordo com Barbesino (2010), os inibidores de tirosina-quinase surgiram recentemente


como agentes quimioterapêuticos promissores em vários tipos de neoplasias malignas, incluindo
câncer de tireoide. O principal efeito farmacológico dos fármacos desse grupo de é a inibição de
vários receptores com atividade da tirosina-quinase envolvidos na carcinogênese, proliferação
celular e neoangiogênese.

A amiodarona, um derivado benzofurônico, apresenta uma notável similaridade com a


triiodotironina e a tiroxina, especialmente o anel diiodofenil interno, o provável local de ligação do
triiodotironina ao seu receptor. A disfunção tireoidiana induzida pela amiodarona pode surgir logo
após o início do tratamento até vários meses após sua suspensão. A tireotoxicose induzida pela
amiodarona é mais comum nas áreas com consumo baixo de iodo. A amiodarona é capaz de induzir
anticorpos antitireoide e de exercer efeito citotóxico direto, dose-dependente, sobre os folículos
tireoidianos, resultando desde degeneração leve até destruição total (FONSECA; MELEK, 2014).

Barbesino (2010) descreve que os efeitos do lítio na fisiologia da tireoide foram estudados
extensivamente, mas seus mecanismos moleculares subjacentes ainda não foram elucidados. O
lítio parece estar ativamente concentrado na célula folicular da tireoide.

O ácido acetilsalicílico é o medicamento mais frequentemente utilizado capaz de alterar a


função tireoidiana. A dopamina parece exercer um papel fisiológico na regulação da secreção
do hormônio estimulante da tireoide, atuando no eixo hipotálamo-hipofisário. As drogas
dopaminérgicas atuam por meio de uma interação direta com seus receptores nos tireotrofos
(FONSECA; MELEK, 2014).
42

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer a farmacologia do sistema respiratório, com ênfase em fármacos com


diferentes mecanismos de ação para o tratamento de doenças respiratórias;

• aprender a importância dos laxantes e antidiarreicos, suas características gerais e


mecanismos de ação;

• conhecer os diferentes aspectos dos fármacos antiulcerosos e antieméticos, suas


classificações e propriedades farmacológicas;

• discutir a farmacologia da diabetes, medicamentos para o controle da glicose, seus


mecanismos de ação, classificação e os medicamentos mais utilizados pela popula-
ção;

• estudar a farmacologia da tireoide, medicamentos utilizados para promover altera-


ções na produção hormonal e seus mecanismos de ação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBESINO, G. Drugs affecting thyroid function. Thyroid, v. 20, n. 7, p. 763-770, 2010.

BOOTHE, D. M. Drugs affecting the respiratory system. Veterinary Clinics of North


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FONSECA, C. W.; MELEK, F. E. Fármacos de amplo uso na prática clínica que interagem
com os hormônios tireoidianos. O papel da cirurgia bariátrica no tratamento do diabetes
tipo 2, v. 12, n. 4, p. 307-13, 2014.

GARCIA, F. M. Nanomedicina e terapia de doenças pulmonares. Einstein (São Paulo), v.


12, n. 4, p. 531-533, 2014.

GARCIA, J. M. O. Fármacos antiulcerosos - avaliação do perfil de utilização, efeitos


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em ciências farmacêuticas) - Universidade da Beira Interior. Covilhã: UBI, 2015.

HARRIGAN, R. A.; NATHAN, Michelle S.; BEATTIE, P. Oral agents for the treatment of
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HAJI, A.; TAKEDA, R.; OKAZAKI, M. Neuropharmacology of control of respiratory rhythm


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IFTODA, D. M. L. et al. Estudo da utilização de antimicrobianos e outros fármacos para


distúrbios do trato respiratório em pacientes de antimicrobianos e outros fármacos
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Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 26, n. 1, p. 39-45, 2009.

JORDAN, K.; SCHMOLL, H. J.; AAPRO, M. S. Comparative activity of antiemetic drugs.


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KOKIL, R. G. et al. Pharmacology and chemistry of diabetes mellitus and antidiabetic


drugs: a critical review. Current Medicinal Chemistry, v. 17, n. 35, p. 4405-4423, 2010.

LIMA, T. B. Caracterização fitoquímica da cagaita (eugenia dysenterica) para compostos


laxativos e antidiarreicos. 2007. 84f. Dissertação (Mestrado em ciências genômicas e
biotecnologia) - Universidade Católica de Brasília. Brasília: UCB, 2007.

LOPES, V. P. et al. Farmacologia do diabetes mellitus tipo 2: antidiabéticos orais, insulina


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TAHRANI, A. A.; BARNETT, A. H.; BAILEY, C. J. Pharmacology and therapeutic implications


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ZÁRATE, A. et al. Guía para seleccionar el tratamiento farmacológico en diabetes 2.


Revista Médica del Instituto Mexicano del Seguro Social, v. 48, n. 3, p. 293-296, 2010.
UNIDADE 3
Farmacologia hormonal
Introdução
Você está na unidade Farmacologia hormonal. Conheça aqui os principais fármacos
hormonais, suas características, classificações, mecanismos de ação, indicações
e contraindicações, toxicidade e seu emprego para o tratamento de diferentes
enfermidades. Conheça as diferentes terapias hormonais e seus principais elementos,
fármacos contraceptivos, sua importância e relação risco-benefício.

Veja também informações relevantes sobre fármacos antineoplásicos, enfatizando


suas características principais, seus mecanismos de ação, seu emprego no tratamento de
afecções, exemplos e toxicidade.

Bons estudos!
47

1 FÁRMACOS HORMONAIS
Os fármacos hormonais são produtos farmacêuticos amplamente produzidos pela indústria e
consumidos pela população em geral. De acordo com Sanderson et al. (2004), muitas vezes esses
fármacos tem como finalidade causar algum efeito biológico e, com isso, levam a possíveis reações
adversas. Alguns compostos apresentam aspectos xenobióticos nocivos e são relativamente
persistentes, considerando que durante sua formulação buscou-se evitar que o fármaco fosse
inativado antes de ter seu efeito terapêutico. Estudos indicando os riscos de efeitos adversos
em humanos têm sido extensivamente reportados, no entanto, os efeitos ambientais potenciais
ainda são amplamente desconhecidos. As principais classes de fármacos monitoradas e de
grande preocupação presentes em efluentes domísticas incluem os antibióticos, antineoplásicos,
cardiovasculares e hormônios sexuais.

Os hormônios desempenham um papel importante no crescimento, regulação metabólica


e controle de muitas funções vitais do corpo. Estes, juntamente com seus derivados sintéticos,
esteroides ou não esteroides, estão sendo amplamente utilizados terapeuticamente. Os hormônios
se difundem através da membrana celular e, depois de conjugarem-se com proteínas receptoras
específicas no citoplasma, passam pelo poro nuclear para formar complexos de esteroides-DNA
que influenciam o gene. De fato, existem muitos relatos indicando potencialidades teratogênicas,
carcinogênicas, mutagênicas e clastogênicas desses hormônios (BALI, 1990).

1.1 Aspectos gerais


Mcleod (2003) descreve que as terapias hormonais têm sido amplamente empregadas no
tratamento de câncer de próstata em formas mais avançadas da doença. A supressão da produção
de testosterona, o principal objetivo da terapia hormonal, pode ser alcançada com o uso de
estrógenos, antiandrogênicos, agonistas e antagonistas do hormônio liberador do hormônio
luteinizante, também conhecido como hormônio liberador de gonadotrofinas.

De acordo com Singh et al. (1994), o uso terapêutico de hormônios e seus derivados sintéticos
é extenso e, em certas circunstâncias, sua administração é considerada inevitável e salva vidas.
Apesar disso, ainda há uma escassez de informações sobre o potencial genotóxico de alguns
dos medicamentos esteroides amplamente utilizados. Investigações têm sido extensivamente
realizadas para avaliar vários desses medicamentos através de uma bateria de sistema de ensaio
in vitro e in vivo.

Mcleod (2003) enfatiza que os agentes hormonais têm sido utilizados como alternativa à
orquiectomia, terapia com estrogênio na forma de dietilestilbestrol que era frequentemente
usada para manipulação hormonal do câncer de próstata. Seu papel na privação de androgênio
a longo prazo está sendo novamente considerado, porque o dietilestilbestrol oferece a opção
48

de suprimir a produção de testosterona sem causar perda óssea, o que potencialmente leva à
osteoporose.

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1.2 Caracterização e classificação


Nunes (2010) descreve que os hormônios esteroides apresentam um núcleo básico derivado
da estrutura química do colesterol, portanto, são hormônios de natureza lipídica. Sua biossíntese
é restrita a alguns poucos tecidos, que incluem o córtex das glândulas adrenais e gônadas. Os
andrógenos são hormônios sexuais masculinos e representam uma das classes de hormônios
esteroides; são produzidos principalmente pelos testículos e, em menores proporções, pelas
adrenais. O principal hormônio produzido pelo testículo é a testosterona. A testosterona exerce
efeitos designados como androgênicos e anabólicos em uma extensa variedade de tecidos-
alvo, incluindo o sistema reprodutor, o sistema nervoso central, a glândula pituitária anterior,
fígado, rins, músculos e o coração. A figura 1 apresenta a formula estrutural de uma molécula de
testosterona e do estradiol, o principal hormônio sexual feminino.
49

Figura 1 - Fórmula estrutural de uma molécula de testosterona e outra de estradiol


Fonte: grebeshkovmaxim, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: Na figura, podem ser observadas as fórmulas estruturais do hormônio


testosterona e estradiol. Podem-se observar algumas similaridades estruturais entre as duas,
porém, o estrógeno apresenta um grupo fenol. Note que as duas moléculas apresentam regiões
polares, evidenciadas pela presença de oxigênio, e uma fração apolar, composta por cadeias
carbônicas alicíclicas.

De acordo com Pardini (2014), os principais estrógenos geralmente comercializados incluem


o etinilestradiol, mestranol, quinestrol e dietilestilbestrol. Devido ao fato de não serem oxidados
pela desidrogenase que oxida o 17-β estradiol, seu efeito no fígado é acentuado, levando-o à
produção de proteínas como a globulina ligadora de hormônios sexuais, que se ligam a hormônios
sexuais e os retiram de circulação. Seu uso tem sido restrito aos anticoncepcionais orais.

Os mais frequentemente utilizados na terapia de reposição hormonal são os estrogênios


conjugados e o estradiol transdérmico ou percutâneo, seguidos pelo valerianato de estradiol e o
estradiol micronizado. Quando administrados por via oral, todos resultam em níveis mais elevados
de estrona e seus conjugados do que de estradiol, sendo que essa transformação se processa
na mucosa gastrintestinal e no fígado. O estriol, apesar de provocar poucos efeitos colaterais,
não previne a perda de massa óssea. Tanto os estrogênios sintéticos como os naturais têm se
mostrado úteis na preservação da massa óssea e na melhora da sintomatologia, entretanto, na
terapia de reposição hormonal do climatério e menopausa, os naturais estão mais indicados
(PARDINI, 2014).
50

2 TERAPIA HORMONAL
Terapias hormonais primárias desempenham um papel de grande importância terapêutica
para importantes doenças. Os corticosteroides têm sido amplamente utilizados por seu benefício
paliativo, potente atividade anti-inflamatória e comprovada atividade antitumoral. Atualmente,
temos um amplo arsenal terapêutico para pacientes com carcinoma metastático da próstata, e
a medicação concomitante com corticosteroides pode minimizar os efeitos adversos associados
às principais terapias validadas. No entanto, a exposição a longo prazo ao tratamento com
corticosteroides exigida por pacientes com câncer de próstata avançado pode ter implicações
negativas (BAAMONDE; FERNÁNDEZ, 2018).

FIQUE DE OLHO
De acordo com Damiani et al. (1984), os corticosteroides constituem-se em um grupo de
drogas muito usadas em medicina clínica em virtude de seu amplo espectro de atividade e
por serem os mais potentes anti-inflamatórios existentes; encontram uso praticamente em
todas as especialidades.

A terapia hormonal ou de privação androgênica tem sido utilizada em várias situações no


paciente com câncer de próstata. Em geral, a privação de androgênica induz uma remissão em 80
a 90% dos homens com câncer de próstata avançado e resulta em uma sobrevida média livre de
progressão de 12 a 33 meses (HELLERSTEDT; PIENTA, 2002). Múltiplas estratégias têm sido usadas
para induzir os níveis séricos de testosterona ou interferir em sua função.

2.1 Aspectos gerais


Mcleod (2003) descreve que novas alternativas de terapias hormonais para tratar
diferentes tipos de câncer estão atualmente em desenvolvimento ou sob investigação. Essas
abordagens incluem terapia hormonal intermitente, terapia antiandrogênica, suplementação
nutricional e variações no comprimento da terapia hormonal para estágios específicos do
câncer. As considerações de qualidade de vida são os principais fatores motivadores por trás do
desenvolvimento dessas abordagens.

O tratamento hormonal fornece uma pequena proporção de respostas objetivas nos pacientes
tratados, porém, muitas vezes essas respostas são incompletas e de curta duração. Clique nas
abas abaixo e saiba mais.
51

Agente progestacional

Na prática, o tratamento com um agente progestacional, como acetato de medroxiprogesterona,


é frequentemente usado devido à produção mínima de efeitos colaterais indesejados e à falta de
terapia mais eficaz.

Quimioterapia

A quimioterapia de agente único parece adicionar pouco em termos de resposta tumoral,


embora uma pequena fração dos pacientes tenha respostas favoráveis ​​a agentes únicos, como
a vinblastina.

Quimioterapia combinada

A quimioterapia combinada pode fornecer uma taxa de resposta um pouco mais alta, de
acordo com os resultados relatados em várias pequenas séries, mas há um aumento considerável
na toxicidade (HARRIS, 1983).

Terapia antiandrogênica

A terapia antiandrogênica pode ter um impacto menos negativo no bem-estar sexual,


energia e força física do que outras abordagens hormonais. A suplementação de cálcio da dieta
do paciente, conforme recomendado para mulheres na menopausa, pode ajudar a prevenir a
perda óssea e o desenvolvimento de osteoporose em homens em terapia hormonal. Além disso,
os pacientes que recebem terapia hormonal devem ser aconselhados por um nutricionista a
seguir uma dieta que possa impedir o desenvolvimento de dislipidemia que pode levar à doença
cardiovascular (MCLEOD, 2003).

2.2 Principais terapias hormonais


A terapia de privação androgênica é considerada o principal tratamento utilizado nas fases
avançadas de câncer de próstata; consiste em diminuir os níveis de testosterona a fim de retardar
ou diminuir o crescimento da próstata. Apesar de apresentar 90% de eficácia na regressão
do tumor, tanto a terapia de privação androgênica quanto a própria patologia promovem
o surgimento de efeitos colaterais tardios em uma intensidade diretamente proporcional à
severidade da doença e da intervenção (CHAVES, 2018).

Para Pardini (2007), embora a reposição estrogênica esteja disponível há mais de seis décadas,
as mulheres e até mesmo os profissionais da saúde estão confusos pelas opiniões divergentes
em relação aos riscos e benefícios da terapia hormonal na menopausa, estrogênica ou estro-
progestagênica. O balanço risco-benefício em cada mulher sob uso continuado de terapia
hormonal exige avaliação permanente.
52

Mais estudos são necessários para explorar os papéis de novos agentes, novas combinações
de medicamentos e interações de modalidades como quimioterapia, terapia hormonal e
imunoterapia (HARRIS, 1983).

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3 MÉTODOS CONTRACEPTIVOS
Manoukian et al. (2017) descrevem que os contraceptivos hormonais têm sido utilizados para
prevenir ou retardar a gravidez por mais de quatro décadas. Os métodos contraceptivos mais
comuns permanecem o contraceptivo oral combinado e a pílula para progestogênio, que contêm
estrogênio e progestogênio combinados e hormônio progestágeno. Embora ambos tenham alta
eficácia com o uso correto e consistente, eles requerem ingestão oral diária no mesmo horário
todos os dias.

Existem várias formas alternativas de contracepção, como preservativos masculinos e


femininos, injetáveis, implantes subdérmicos, anéis vaginais, dispositivos intrauterinos. Os
implantes contraceptivos e injetáveis ​​típicos, usando mecanismos semelhantes, superam as
deficiências do uso diário, fornecendo liberação terapêutica diária por um período definido; eles
mostraram eficácia maior que 99%. No entanto, esses implantes devem ser inseridos e removidos
pelos prestadores de cuidados de saúde através de procedimento cirúrgico a cada poucos meses
de acordo com cada produto (MANOUKIAN et al., 2017).

3.1 Importância e classificação


Estudos recentes indicam que os contraceptivos têm sido utilizados anualmente por mais
que 70 milhões de mulheres no mundo inteiro. São utilizados por mulheres saudáveis e durante
longos períodos de tempo; dessa forma, conhecer os efeitos colaterais e os riscos associados
53

à ingestão dos contraceptivos orais é imprescindível. A contracepção hormonal geralmente


é alcançada pelo uso isolado de hormônios como a progesterona ou sua combinação, como
estrógenos e progesterona. A combinação de estrogênio e progesterona exerce seu efeito
contraceptivo, muitas das vezes devido à inibição seletiva da função hipotálamo hipofisária, que
promove a inibição da ovulação (OLIVEIRA et al., 2009). Clique abaixo para saber mais sobre
métodos contraceptivos.

Farias et al. (2016) descrevem que as informaçõessobre o uso de métodos contraceptivos


auxiliam na gestão das políticaspúblicas de saúde. Globalmente, observa-se aumento no uso de
métodos contraceptivos, de 54,8% em 1990 para 63,3% em 2010. Na adolescência, são referidos
com maior frequência o preservativo masculino e contraceptivo oral. Após os 20 anos, aumenta
a prevalência dos métodos reversíveis de média e longa duração, como injetáveis, implantes e
dispositivo intrauterino. A partir dos 30 anos, aumenta a esterilização feminina e masculina.

Mecanismos contraceptivos combinados têm se baseado em inibir o ciclo menstrual e aumentar


o hormônio luteizante, impedindo eficazmente a ovulação. Os contraceptivos têm sido classificados
em contraceptivos de alta dosagem, que são geralmente fabricados com 50 mg etinilestradiol, de
baixa dosagem, contendo cerca de 20 a 30 mg de etinilestradiol ou outros contraceptivos em baixa
dosagem. Os efeitos biológicos dos anticoncepcionais hormonais orais não dependem somente da
dose e via de administração, devendo ser considerado o uso de outros medicamentos ou drogas,
idade, farmacocinética individual e muitas outras (OLIVEIRA et al., 2009).

O uso de contraceptivos no Brasil foi investigado na pesquisa nacional de demografia e saúde


da criança e da mulher nos anos de 1996 até 2006. Os resultados indicaram que 65,2% das
mulheres de 15 a 49 anos referiram uso atual de método contraceptivo considerado moderno.
Predominaram contraceptivo oral (22,1%), esterilização feminina (21,8%), preservativo masculino
(12,9%), injeção contraceptiva (3,5%) e esterilização masculina (3,3%).

No Brasil, o ministério da saúde financia e compra os contraceptivos e insumos no âmbito do


programa Saúde da Mulher. Entre os medicamentos fornecidos nos serviços públicos de saúde e
no programa Farmácia Popular do Brasil e os que constam da relação nacional de medicamentos
essenciais (RENAME), estão o acetato de medroxiprogesterona, enantato de noretisterona com
valerato de estradiol. Nos serviços públicos de saúde são também fornecidos contraceptivos de
emergência, como o levonorgestrel e misoprostol (FARIAS et al. 2016).

3.2 Pílula anticoncepcional


Desde que a pílula anticoncepcional oral foi comercializada pela primeira vez em 1959, os
avanços nos medicamentos contraceptivos para mulheres têm se dedicado a promover variações
no teor de estrogênio em combinação com progestogênio ou progestogênio isolado. Alterações
no regime de pílulas, novos progestágenos e novos sistemas de administração aumentaram as
54

opções, mas enquanto esses avanços melhoram significativamente a aceitabilidade, os efeitos


colaterais e os riscos permanecem essencialmente inalterados. Novas ideias são escassas.
Os antiprogesteronas oferecem uma nova abordagem com uma variedade de esquemas de
doses, mas seu desenvolvimento foi seriamente prejudicado pela política associada à sua
ação abortiva. Outros antagonistas hormonais como contraceptivos parecem ainda distantes.
A imunocontracepção está em um estágio inicial, mas é considerada uma linha de pesquisa
promissora. Os genes, cujos produtos se preocupam exclusivamente com os processos
reprodutivos, prometem novos alvos e novas drogas contraceptivas (GLASIER, 2002).

A interação farmacológica dos contraceptivos orais e outras drogas, como álcool, pode ter
dois caminhos metabólicos. Clique abaixo e conheça-os.

• O primeiro seria que a droga pode melhorar a efetividade dos contraceptivos.

• No segundo, a droga pode interferir no metabolismo do fármaco, levando a menor efi-


ciência terapêutica (OLIVEIRA et al., 2009).

De acordo com Christin-Maitre (2013), uma das primeiras pílulas hormonais, chamada
Enovid®, foi aprovada pela agência regulamentadora norte-americana em maio de 1960. Continha
mestranol e noretisterona. Ao longo dos anos, os contraceptivos orais evoluíram através da
redução gradual do conteúdo de etinilestradiol, introdução de 17β-estradiol e muitas progestinas
diferentes. Nos primeiros estudos clínicos sobre a eficácia contraceptiva do Enovid, os resultados
foram excelentes, atingindo 100%, mas essa droga induziu muitos efeitos colaterais. Em estudos
realizados em Porto Rico, as mulheres apresentaram náusea, tontura, dor de cabeça, dor de
estômago e vômito. Em 1961, foi relatada a morte de uma mulher por trombose que estava
tomando a pílula. Em menos de um ano, relatos de mortes e casos não fatais de tromboembolismo
foram associados ao uso da droga. Ao longo dos anos, os contraceptivos orais evoluíram através
da redução gradual do conteúdo de estrogênio e introdução de novas progestinas.

4 REPOSIÇÃO HORMONAL
Segundo Lente e Velasque (2015), com o objetivo de aliviar os sintomas e diminuir o
aparecimento de doenças cardiovasculares e a osteoporose, surgiu a terapia de reposição
hormonal. Seu efeito benéfico é indiscutível, no entanto, segundo estudos observacionais, a
administração por longo tempo de tratamento vem expondo diversas mulheres a maior risco
de desenvolvimento de cânceres, doenças cardiovasculares e aumento de tromboembolismo
venoso. Mesmo disponível há mais de seis décadas, mulheres e profissionais da saúde ainda
estão confusos devido a opiniões controversas em relação ao tratamento.
55

A escolha sobre aderir ou não a terapia de reposição hormonal durante a menopausa deve
ser tomada após um estudo específico, decidida entre médico e paciente individualmente,
ressaltando as consequências da redução estrogênica climatérica, os efeitos colaterais e
contraindicações desse tratamento, a fim de estabelecer seu risco-benefício. Além disso, é
imprescindível um acompanhamento médico rígido durante todo o tratamento. A principal
indicação para terapêutica hormonal na menopausa é o alívio dos sintomas causados durante
essa fase, tais como sintomas vasomotores e alterações gênito-urinárias, e a prevenção de
osteoporose nas pacientes de risco. Em casos especiais, utilizam-se terapias alternativas, como
andrógenos e fitoestrógenos (LENTE; VELASQUE, 2015).

4.1 Tipos de tratamento


São inúmeras as formas de administrar a terapia reposição hormonal, a qual muitas vezes é
realizada com estrógeno isolado ou em associação com um progestágeno. Os consensos atuais
recomendam minimizar a exposição ao progestágeno. A terapia de reposição hormonal apresenta
um padrão complexo de riscos e benefícios, todavia, o uso da terapia para a gestão dos sintomas da
menopausa continua a ser adequado, sendo que a estratificação do risco vai ajudar a identificar as
mulheres nas quais se espera que os benefícios superem os riscos (BORGES et al., 2015).

No desenvolvimento de uma estratégia terapêutica eficiente, é importente selecionar


os tipos de hormônios, as vias e os esquemas a serem empregados. As vias de administração
disponíveis são diversas; a forma oral apresenta custo reduzido, além de sua administração ser
prática, o que torna possível o ajuste de dose e interrupção caso necessário; outras técnicas
incluem as transdérmicas e os implantes subcutâneos. Estrogênios administrados por via oral são
metabolizados no parênquima hepático e podem ser excretados através da urina. A via parenteral
geralmente é escolhida por pacientes que apresentaram distúrbios gastrointestinais ao uso dos
medicamentos por via oral (SILVA et al., 2013).

Os estrógenos comumente utilizados na terapia de reposição hormonal podem ser divididos


em naturais e sintéticos. Clique abaixo para saber mais.

Estrógenos naturais

Entre os hormônios naturais, estrógenos conjugados de diferentes tipos são extraídos de


fontes naturais, sendo em seguida purificados e manufaturados. Esse grupo é formado por
estradiol, estrona, sulfato de estrona e outros.

Estrógenos conjugados

Os estrógenos conjugados são devidos à combinação de sulfato de estrona, sulfato de equilina


e seus metabólitos.
56

Estrógenos sintéticos

Os estrógenos sintéticos incluem o etinilestradiol, dietilestilbestrol, mestranol e quimestrol


(LENTE; VELASQUE, 2015).

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

4.2 Indicações e contraindicações


Segundo Borges et al. (2015), a falência ovariana observada em mulheres na menopausa
pode levar a sintomas como ondas de calor, cefaleia e insônia. Em aproximadamente 35% de
todas as mulheres, os sintomas climatéricos da menopausa são ausentes; em outras 35%, os
sintomas clínicos são reconhecidos, mas toleráveis. Uma comunidade global de médicos e
cientistas dedicados a acelerar avanços científicos e a melhorar a saúde e o bem do paciente
publicou um posicionamento rigorosamente documentado e com todas as conclusões a respeito
dos riscos e benefícios da terapia de reposição hormonal. As terapias de reposição hormonal
foram sugeridas nos casos enumerados abaixo.

• Sintomas vasomotores, como fogachos e sudorese noturna.

• Sintomas urogenitais, como infecção recorrente do trato urinário, bexiga hiperativa, in-
continência urinária, e atrofia vaginal.

• Osteoporose pós-menopausa.

Diferentes terapias de reposição hormonal podem estar associadas a diferenças significativas


nos efeitos colaterais, podendo ser contraindicadas para indivíduos específicos. De acordo com
Borges et al. (2015), as terapias de reposição hormonal são contraindicadas nos casos descritos
abaixo. Clique para conhecê-los.

• Câncer de mama ou lesão suspeita sem diagnóstico.


57

• Doença isquêmica cerebral ou cardíaca recente.

• Doença tromboembólica recente.

• Hepatopatia grave ou recente.

• Hiperplasia ductal atípica, geralmente na mama.

• Hipertensão arterial grave.

• Sangramento vaginal de causa não estabelecida.

5 ANTINEOPLÁSICOS
Os fármacos antineoplásicos são caracterizados como um grupo heterogêneo de substâncias
químicas capazes de inibir o crescimento e os processos vitais das células tumorais, com uma
toxicidade tolerável sobre as células normais. Constituem uma categoria de fármacos cujo emprego
tem aumentado nas últimas décadas, como causa do crescente número de casos diagnosticados
de neoplasias e da exigência de dispor de formulações sempre atualizadas, visando oferecer aos
pacientes uma vida qualitativamente melhor (MARTINS; ROSA, 2004).

FIQUE DE OLHO
Segundo Almeida (2005), o termo neoplasia é conhecido como a atual definição de câncer,
em especial tumores malignos. É uma doença caracterizada pelo crescimento descontrolado
de células transformadas. Existem mais que 200 tipos diferentes.

Os tumores sólidos são refratários a agentes citotóxicos. Fármacos antineoplásicos têm sido
amplamente utilizados na terapia anticâncer principalmente devido à sua atividade citotóxica.
No entanto, eles não são apenas seletivos para células cancerígenas, podendo também afetar o
crescimento e a reprodução de células saudáveis. Algumas drogas antineoplásicas são, portanto,
classificadas como potencialmente cancerígenas, mutagênicas ou teratogênicas para seres
humanos (SCHIERL et al., 2009).

A maioria dos quimioterápicos atualmente utilizados é mais ativa contra células em


crescimento exponencial do que contra células em fase de platô, nas quais uma proporção
relativamente grande das células não atravessa ativamente o ciclo celular. No entanto, pouco
se sabe sobre a toxicidade da maioria dos antineoplásicos. Para desenvolver um programa
terapêutico projetado para abordar a cura de tumores sólidos, parece ser necessário o uso de
agentes com ações citotóxicas direcionadas a cada um dos componentes celulares fisiológicos da
58

população tumoral (SCHIERL et al., 2009).

5.1 Terapias antineoplásicas


Os principais tipos de tratamento para o câncer incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia;
os tratamentos menos convencionais incluem a utilização de derivados hematoporfirínicos e a
imunoterapia. Clique abaixo e conheça detalhes sobre as técnicas antineoplásicas.

Técnica cirúrgica

De acordo com Almeida et al. (2005), a técnica cirúrgica pode levar à remoção de tumores
com eficácia, quando não ocorre metástase.

Radioterapia

A radioterapia é usada comumente em conjuntocom a cirurgia, com incremento da eficiência


do tratamento.

Mesmo isoladamente, a radioterapia pode diminuir tumores grandes, diminuir a recorrência


e a chance de metástase, sendo uma metodologia antineoplásica utilizada com frequência.

Quimioterapia

O principal objetivo da quimioterapia é destruiras células neoplásicas, preservando as normais.


No entanto, a maioria dos agentes quimioterápicos atua de forma não-específica, lesando tanto
células malignas quanto normais. Particularmente as células de rápido crescimento, como as
gastrointestinais, capilares e as do sistema imunológico, são mais afetadas pela quimioterapia.
Isso explica a maior parte dos efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas, susceptibilidade
maior às infecções e perda de cabelo.

O uso clínico desses fármacos exige que os benefícios sejam confrontados com a toxicidade,
na procura de um índice terapêutico favorável (ALMEIDA et al., 2005).

5.2 Classificação de quimioterápicos antineoplásicos


De acordo com Allevato (2008), as primeiras formas de utilização de drogas antineoplásicas
foram em pacientes com linfomas avançados na década de 1940. A resposta foi excelente,
originando uma nova linha de pesquisa sobre novos medicamentos antineoplásicos, surgindo
então agentes alquilantes, antimetabolitos e antimitóticos com atividade antitumoral contra
vários tipos de câncer.

Atualmente, os antineoplásicos têm sido divididos de diferentes formas. As classes principais


incluem antimetabólitos, agentes alquilantes, compostos de platina, antibióticos, produtos
59

vegetais, hormônios e análogos e outros. A via percutânea tem sido a principal via de absorção.
Os fármacos antineoplásicos são extensivamente empregados como quimioterápicos para
destruir as células tumorais, podendo agir direta ou indiretamente. O tratamento moderno do
câncer compreende cada vez mais a quimioterapia em associação com outros fármacos para um
tratamento mais abrangente (MARTINS; ROSA, 2004).

A tabela 1 apresenta exemplos de fármacos de diferentes classes de antineoplásicos.

Tabela 1 - Fármacos antineoplásicos de diferentes classes


Fonte: MARTINS; ROSA, 2004 (Adaptado)

#ParaCegoVer: Na tabela, pode ser observada a relação das diferentes classes de


antineoplásicos e os principais fármacos de cada classe.

5.3 Toxicidade dos antineoplásicos


Segundo Allevato (2008), reconhecer os riscos e gerenciá-los tem sido essencial para otimizar
o controle dos sintomas, prevenir a morbidade associada ao tratamento e facilitar a continuidade
da terapia anticâncer. A toxicidade apresentada por esses medicamentos tem um curso de tempo
variável e pode ser:

• Imediato

Quando a toxicidade se desenvolve ao longo de horas.

• Prematuro

Quando a toxicidade é evidenciada em dias ou semanas.

• Atrasado

Quando aparece semanas ou meses após o tratamento.


60

• Tardio

Quando aparecem após meses e até anos de tratamento.

A toxicidade dos antineoplásicos inclui um amplo espectro de frequentes reações


mucocutâneas que são uma parte importante da morbidade dos pacientes submetidos a esse
tratamento. Alguns são autolimitados e podem ser controlados com pequenas alterações ou
interrupções do medicamento e não requerem intervenção ativa; outros, como reações de
hipersensibilidade e mucosite, podem ser antecipados e prevenidos (ALLEVATO, 2008).
61

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer a importância dos fármacos hormonais, naturais ou sintéticos, e sua utili-


zação pela população;

• aprender sobre diferentes terapias hormonais, suas características, mecanismos de


ação, fármacos geralmente empregados e relação risco-benefício;

• identificar diferentes métodos contraceptivos, em especial métodos medicamento-


sos, quanto à sua importância e segurança;

• perceber e analisar diferentes terapias de reposição hormonal, suas características


principais, indicações e contraindicações;

• discutir as principais terapias antineoplásicas, fármacos empregados na quimiotera-


pia, classificação de agentes antineoplásicos, exemplos e toxicidade desses compos-
tos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, V. L. de et al. Câncer e agentes antineoplásicos ciclo-celular específicos e


ciclo-celular não específicos que interagem com o DNA: uma introdução. Química nova,
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Sexuais Femininos e Fenômenos Tromboembólicos: uma Revisão de Literatura/Female
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CHAVES, S. N. Avaliação dos níveis de força, qualidade muscular e índice de fadiga em


sobreviventes de câncer de próstata submetidos à terapia de privação androgênica.
2018. 65f. Dissertação (Mestrado em ciências da saúde) - Universidade de Brasília.
Brasília: UNB, 2018.

CHRISTIN-MAITRE, S. History of oral contraceptive drugs and their use worldwide. Best
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VAN GORP, T.; NEVEN, P. Endometrial safety of hormone replacement therapy: review of
literature. Maturitas, v. 42, n. 2, p. 93-104, 2002.
UNIDADE 4
Farmacologia dos antibióticos
Introdução
Você está na unidade Farmacologia dos antibióticos. Conheça aqui os principais agentes
antibióticos, seu mecanismo de ação, alvos, importância, toxicidade, resistência
e preocupações referentes a diferentes patógenos, com ênfase na produção de
agentes terapêuticos para eliminar ou minimizar impactos provenientes de diferentes
microrganismos, como bactérias, vírus e fungos.

Veja também as estratégias recentes para o desenvolvimento de fármacos com ação


antimicrobiana, antifúngica e antiviral, além dos desafios constantes para reduzir o seu
impacto e proceder com um manejo adequado a essas afeções.

Bons estudos!
67

1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS


ANTIMICROBIANOS
De acordo com Scholar e Pratt (2000), a definição formal de um antibiótico engloba qualquer
medicamento capaz de combater uma infecção provocada por microrganismos, e que apresenta
geralmente a capacidade de inibir o crescimento ou matar bactérias e outros microrganismos. Os
antimicrobianos são substâncias que podem ser obtidas de microrganismos ou sintetizadas em
laboratório, como por exemplo as sulfonamidas, trimetoprim, isoniazida. Verifica-se que a palavra
antibiótico agora é frequentemente usada para incluir esses dois grupos de agentes antimicrobianos.

Antes da introdução de antibióticos nas décadas de 1940 e 1950, os pacientes com


bacteriemia, por exemplo, provocada por bactérias Streptococcus pneumoniae, tinham baixa
chance de sobrevivência e a mortalidade por tuberculose era de 50%. Os antibióticos mudaram
radicalmente esse prognóstico sombrio, e novas classes de agentes antimicrobianos entraram
rapidamente no mercado nas décadas de 1950 e 1960. Infelizmente, isso levou ao excesso de
confiança de que as doenças infecciosas seriam erradicadas. Além disso, os altos custos de
pesquisa, combinados com dificuldades na descoberta de novos medicamentos antimicrobianos
de amplo espectro com modos de ação anteriormente inexplorados, desencorajaram as empresas
farmacêuticas dessa área e muitas deixaram o campo (COATES et al., 2002).

1.1 Aspectos gerais


Schentag et al. (1993) descrevem que os agentes antimicrobianos têm representado uma
parcela importante dos fármacos presentes na maioria dos hospitais, representando até
50% do total de gastos com medicamentos em alguns hospitais de referência. Essa classe de
medicamentos é caracterizada por um número considerável de regimes alternativos, cada um
útil para tratar um determinado tipo de infecção, mas com espectros de ação sobrepostos. Isso
permite muitas opções de resultado aproximadamente equivalente, mas com custos diferentes.
Embora as escolhas iniciais dos antimicrobianos sejam inicialmente empíricas, os programas
de farmácia clínica podem ser projetados para refinar e direcionar esses regimes inicialmente
empíricos quando os dados de microbiologia estiverem disponíveis.

De acordo com Norrby et al. (2005), desde o desenvolvimento das sulfonamidas na década de
1930 e da penicilina na década de 1940, novas classes de compostos de ação antimicrobiana foram
desenvolvidas. Drogas ativas contra fungos, parasitas e vírus também foram introduzidas. Dentro
do campo dos antibióticos, a emergência da resistência foi logo percebida para representar um
problema clínico considerável. No entanto, até o final do século XX, as empresas farmacêuticas
eram consistentemente capazes de desenvolver novos antibióticos com atividade contra as cepas
bacterianas mais resistentes.
68

Coates et al. (2002) enfatizam que não foram produzidas novas classes expressivas de
antibióticos nos anos entre a introdução do ácido nalidíxico em 1962 e a linezolida em 2000;
os agentes antibacterianos que entraram no mercado durante esse período foram modificações
das moléculas existentes. As bactérias exploraram essa janela de oportunidade desenvolvendo
progressivamente a resistência a todos os antibióticos comumente usados, e a cada ano a
necessidade de novos antibióticos se torna mais premente.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

1.2 Resistência a antimicrobianos


De acordo com Coates et al. (2002), o surgimento global de resistência a agentes antimicrobianos
tem limitando gradativamente a eficácia desses medicamentos. Não há solução óbvia para esse
problema; estão sendo destinados recursos e observa-se um esforço da comunidade científica no
desenvolvimento de novos agentes antimicrobianos, aprimoramento de estratégias terapêuticas,
vacinação e outros métodos de controle de doenças. Clique abaixo e obtenha mais informações.

O desenvolvimento da resistência antimicrobiana tem sido um acompanhamento invariável


do uso terapêutico de antiaminoglicosídeos, como gentamicina e amicacina, e agentes
fluomicrobianos. O uso clínico inicial das sulfonamidas no final da década de 1930 e no início da
década de 1940 foi seguido pelo rápido surgimento da resistência à sulfonamida nas shigellas e
em vários outros bacilosgram-negativos.

Da mesma forma, quando a penicilina foi introduzida no uso clínico, praticamente todas
as cepas de Staphylococcus aureus eram suscetíveis. No entanto, em menos de uma década,
sérios problemas foram vistos em muitos dos principais centros médicos. Esses problemas
ocorreram porque S. aureus adquiriu genes blactanaese, tornando o organismo resistente à
penicilina(MOELLERING, 1998).
69

Moellering (1998) enfatiza que as últimas décadas foram marcadas pela adaptação de bacilos
gram-negativos, que são resistentes a agentes antimicrobianos de amplo espectro, incluindo
tetraciclinas, cloranfenicol e aminoglicosídeos. Para combater esse problema, os pesquisadores
têm desenvolvido penicilinas e cefalosporinas de amplo espectro, novos e mais potentes
aminoglicosídeos, como gentamicina e amicacina e fluoroquinolonas. Esses novos antimicrobianos
conseguiram superar, em parte, mas não inteiramente, o problema da resistência.

Atualmente, todos os países do mundo têm bactérias resistentes a antibióticos. Em algumas


regiões, 25% da causa mais comum de pneumonia adquirida na comunidade, as Streptococcus
pneumoniae, são resistentes à penicilina, e mais de 70% das bactérias que dão origem a infecções
adquiridas em hospitais ao redor do mundo resistem a pelo menos um dos principais agentes
antimicrobianos que são normalmente usados ​​para combater infecções. Até o desenvolvimento
recente de novos agentes antimicrobianos, o antibiótico vancomicina era o antibiótico de último
recurso para o tratamento de Staphylococcus aureus resistentes a medicamentos, e atualmente
têm sido relatados casos de S. aureus totalmente resistente a vancomicina (COATES et al., 2002).

2 O USO TERAPÊUTICO DE AGENTES


ANTIMICROBIANOS
De acordo com Schentag et al. (1993), as informações obtidas pela cultura celular forneciam
importantes informações para a implementação de uma estratégia terapêutica mais eficiente.
Atualmente, temos como método padrão-ouro para a detecção, quantificação e tipagem
de diferentes agentes microbianos a técnica reação em cadeia da polimerase em tempo real,
também chamada de PCR quantitativa. Empregada nas áreas de diagnóstico clínico e veterinário
e segurança alimentar, na técnica é selecionado um fragmento de DNA específico do organismo
a ser amplificado; parâmetros da técnica podem ser otimizados. Com a inclusão da transcrição
reversa, que possibilitou produzir moléculas de DNA a partir de moléculas de RNA, a técnica
passou a fornecer a sensibilidade e especificidade apropriadas. A determinação da carga viral por
PCR quantitativa com enzima transcriptase reversa tem sido a técnica padrão-ouro usada para
avaliar drogas com potencial de aplicação de terapias antivirais (KRALIK; RICCHI, 2017).

FIQUE DE OLHO
Segundo Ferreira (2017), plataformas eletroquímicas, conhecidas como genossensores,
estão sendo utilizadas para quantificar material genético microbiano. Algumas plataformas já
demonstraram sensibilidade para quantificar DNA genômico e oligonucleotídeos específicos
de bactérias como a Streptococcus pneumoniae.
70

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

Schentag (1993) enfatiza que, uma vez identificados e isolados, esses microrganismos podem
mostrar sensibilidade a antimicrobianos menos dispendiosos do que os inicialmente escolhidos.
Os antimicrobianos são alvos constantes de protocolos de otimização, considerando que a
resposta a esses agentes é previsível com base em parâmetros farmacodinâmicos, definida como
a relação entre seus níveis sanguíneos e as concentrações inibitórias mínimas determinadas a
partir de testes de referência.

Embora alguns possam argumentar que as concentrações inibitórias mínimas podem ser
usadas para prever doses, todos concordam que a maioria dos pacientes responde a doses
padrão de agentes antimicrobianos quando os organismos detectados anteriormente são
relatados como suscetíveis. Os poucos pacientes que têm um organismo suscetível, mas que não
respondem, geralmente podem ser explicados pelo fracasso do medicamento em penetrar no
local da infecção, como a meningite, onde um medicamento naturalmente pode não atravessar
a barreira hematoencefálica do sistema nervoso central. Muitos dos pacientes restantes que
não respondem podem ser explicados por fatores farmacocinéticos, casos em que a dosagem
foi muito alta ou muito baixa, com base em princípios farmacocinéticos bem aceitos, como a
depuração renal (SCHENTAG et al., 1993).

2.1 Classificação
Tradicionalmente, os agentes antimicrobianos são classificados com base em seu mecanismo
de ação, estrutura química ou espectro de atividade.

O principal modo de ação é a inibição de etapas vitais no crescimento ou na função do


microrganismo. Essas etapas incluem inibição da síntese de parede celular bacteriana ou fúngica,
inibição da síntese proteica, inibição da síntese de ácidos nucleicos ou interrupção da função da
membrana celular.
71

Antibióticos são frequentemente descritos como bacteriostáticos ou bactericidas. O


termo bacteriostático descreve um medicamento que inibe temporariamente o crescimento
do organismo. Uma vez que a droga é removida, o organismo retoma o crescimento. O termo
bactericida descreve um medicamento que causa a morte celular.

Para infecções que não podem ser erradicadas por mecanismos do hospedeiro ou para
pacientes imunocomprometidos, um medicamento bactericida é frequentemente necessário
(SCHWALBE et al., 2007).

A tabela 1 apresenta as principais classes de fármacos antimicrobianos e os principais


exemplos de cada categoria.

Figura 1 - Diferentes classes de antimicrobianos e principais exemplos


Fonte: SCHWALBE et al., 2007

#ParaCegoVer: Na tabela, podemos observar que existem muitas classes de antimicrobianos,


muitas opções de fármacos de variadas classes estão disponíveis comercialmente.

Os antibióticos de origem natural e seus derivados semissintéticos compreendem a maioria dos


antibióticos em uso clínico, podendo ser classificados em β-lactâmicos, que incluem as penicilinas,
cefalosporinas, carbapeninas, oxapeninas e monobactamas, tetraciclinas, aminoglicosídeos,
macrolídeos, peptídicos cíclicos, estreptograminas e outros. Os antibióticos de origem sintética
72

são geralmente classificados em sulfonamidas, fluoroquinolonas e oxazolidinonas (GUIMARAES


et al., 2010).

Clique nas abas abaixo e saiba mais sobre mecanismos de ação, mercado e suas tendências
em torno dos agentes microbianos.

Mecanismos de ação

Segundo Croates et al. (2002), os agentes antimicrobianos têm como alvo componentes
essenciais do metabolismo bacteriano, desabilitando a bactéria. Por exemplo, os β-lactâmicos,
como penicilina ou cefalosporina, inibem a síntese da parede celular. Outros inibidores da síntese
da parede celular, que incluem bacitracina, cicloserina e vaoncomicina, também inibem processos
bioquímicos exclusivos das células bacterianas, mas, quando administrados sistemicamente,
esses antimicrobianos agem sobre as células do hospedeiro de outras maneiras, o que os torna
bastante tóxicos (SCHOLAR; PRATT, 2000).

De acordo com Croates et al. (2002), outros alvos dos agentes antimicrobianos incluem as
enzimas DNA girase, RNA polimerase dirigida ao DNA, e a síntese de outras enzimas. Antibióticos,
como a penicilina, são ativados contra apenas um espectro estreito de bactérias, enquanto outros,
como a ampicilina, inibem uma ampla gama de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas. Os
efeitos sobre as bactérias também podem diferir. Alguns agentes, como a tetraciclina, inibem o
crescimento bacteriano, ou seja, são bacteriostáticos, enquanto que outros como penicilina são
bactericidas. O uso de uma combinação de agentes antimicrobianos pode levar ao aumento da
atividade em comparação com a atividade de cada agente antimicrobiano sozinho, apresentando
ação sinérgica. No entanto, deve-se tomar cuidado para usar combinações que não sejam
antagônicas.

Scholar e Pratt (2000) enfatizam que o conceito central da ação antimicrobiana envolve
a toxicidade seletiva, ou seja, ou o crescimento do organismo responsável pela infecção
é seletivamente inibido, ou o organismo é morto, sem danos às células do hospedeiro. O
antimicrobiano ideal não teria efeito deletério no paciente, mas seria letal para o agente
etiológico. Para obter maior seletividade em ação, os medicamentos antimicrobianos exploram
diferenças entre a bioquímica do agente infeccioso e a do hospedeiro.

Mercado e tendências

O mercado dos agentes antimicrobianos é superior a 25 bilhões de dólares por ano. No entanto,
a emergência global de resistência aos agentes antimicrobianos está cada vez mais limitando a
eficácia dos medicamentos atuais. Estão disponíveis diferentes abordagens para o desenvolvimento
de novos agentes antimicrobianos sistêmicos, que incluem a triagem clássica, mudanças estruturais
em agentes existentes, investigação genômica e outros (COATES et al., 2002).
73

Segundo Guimaraes et al. (2010), diversas razões justificam a necessidade urgente por novos
agentes antibióticos, considerando que as doenças infecciosas são a segunda maior causa de
mortalidade do mundo, além das altas taxas de resistência microbiana, especialmente em ambientes
hospitalares. Tem sido observado um decréscimo constante no número total de novos agentes
antimicrobianos aprovados pelo órgão regulador americano; com isso, observa-se a necessidade de
propor agentes que atuem por mecanismos de ação diferentes aos fármacos em uso.

3 ANTIVIRAIS
Os vírus podem provocar reações adversas a praticamente todas as formas celulares de vida,
desde células eucarióticas até as procarióticas, chegando mesmo a perturbar o ciclo viral de outros
vírus. Os vírus são descritos como agentes submicroscópicos, que podem ser visualizados através
de microscopia eletrônica. O surgimento do primeiro microscópico eletrônico ocorreu próximo
aos anos 1930, sendo considerado um importante marco na história da virologia. Posteriormente
foram estudadas e elaboradas diretrizes para compreender o mecanismo dos vírus e, quando
possível, identificar quais as formas de prevenção de determinada doença causada por vírus e
desenvolver fármacos capazes de controlar a infecção ou reduzir quaisquer danos causados por
vírus (PEREIRA, 2012).

Segundo Clercq (2004), nos últimos anos, a demanda por novas estratégias antivirais
aumentou acentuadamente. Existem muitos fatores que contribuem para esse aumento da
demanda, incluindo a prevalência cada vez maior de infecções virais crônicas, como HIV e hepatite
B e C, e o surgimento de novos vírus, como o coronavírus SARS. As infecções causadas por vírus
são problemática cada vez mais frequente, e a terapia antiviral representa uma importante linha
de pesquisa.

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74

3.1 Aspectos gerais e importância


Pereira (2012) enfatiza que os vírus podem causar impactos significativos na sociedade e
economia. Os vírus provocam doenças que podem ir desde a simples gripe até doenças letais,
como a raiva, por exemplo, ou a varíola, que teve grande impacto no passado, ou até mesmo o
vírus da imunodeficiência humana (HIV), que continua a ter grande importância nos dias de hoje.

Atualmente, o mundo vive um surto devido a um novo coronavírus, conhecido por provocar
quadros de infecção respiratória grave. Os dados epidemiológicos atuais indicam que a
transmissão de pessoa a pessoa está ocorrendo. Em 30 de janeiro de 2020, um total de 9976
casos foram relatados em pelo menos 21 países. Estão em andamento investigações em todo
o mundo para entender melhor a dinâmica de transmissão e o espectro de doenças clínicas
(HOLSHUE et al., 2020).

Dessa forma, tem sido de grande importância estudar a natureza do vírus, os mecanismos
associados a eles e o seu papel em doenças infecciosas. A partir desse conhecimento, podem
ser desenvolvidos métodos eficazes de prevenção, diagnóstico, tratamento e medicamentos
antivirais (PEREIRA, 2012)

3.2 Fármacos antivirais


Os fármacos antivirais atualmente disponíveis são relativamente escassos em variedade,
considerando as eminentes ameaças virais que o mundo tem enfrentado. Muitos desses fármacos
são direcionados para o tratamento de HIV e herpes simples. Segundo Pereira (2012), os fármacos
antivirais podem ser divididos de acordo com o alvo disponível e o seu modo de ação. Entre as
principais classes, podem ser citados:

• Inibidores de descapsidação.

• Inibidores de DNA polimerase.

• Inibidores da integrase.

• Inibidores de fusão e adsorção.

• Inibidores de protease.

• Inibidores da neuramidase.

• Inibidores de transcrição reversa.

• Inibidores da transmissão de vírus.

Enzimas virais essenciais frequentemente provaram ser bons alvos para medicamentos
75

antivirais. Os esforços iniciais para identificar inibidores devem, portanto, concentrar-se


em enzimas que têm papéis essenciais na replicação do vírus e um maior entendimento de
quais biomoléculas participam ativamente desse processo. Alguns critérios têm restringido
consideravelmente o campo dos alvos candidatos (HARRISON et al., 2004).

FIQUE DE OLHO
De acordo com Harrison et al. (2004), drogas que têm como alvos topoisomerases e causam
danos ao DNA estão entre as terapêuticas de maior sucesso desenvolvidas para doenças
infecciosas, como as quinolonas, e para o câncer, como os fármacos etoposídeo, adriamicina
e camptotecinas.

Segundo Ison (2011), a influenza, também conhecida como gripe, causa epidemias anuais
de infecções virais respiratórias associadas a morbidade e mortalidade significativas. Mostrou-
se que as vacinas contra gripe reduzem o risco de infecção e mitigam contra algumas das
sequelas do vírus. Da mesma forma, duas classes de antivirais, os adamantanos e os inibidores da
neuraminidase, são atualmente aprovados para a prevenção e tratamento da influenza. Muitas
outras classes de antivirais e moduladores imunológicos também estão sob investigação. Um dos
maiores desafios do nosso arsenal de antivirais é o surgimento de mutantes resistentes. Na figura
1, pode ser observada uma representação esquemática da estrutura de um vírus influenza.

Figura 2 - Representação esquemática estrutural de um vírus


Fonte: Kateryna Kon, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: Na figura, pode-se observar a estrutura básica de um vírus. Percebe-se um


material que reveste o núcleo, na superfície do qual observa-se a presença de componentes
proteicos (amarelo) e glicoproteínas (verde e azul). No interior, podem ser encontrados
fragmentos de RNA do vírus.
76

Um considerável esforço tem sido dedicado ao desenvolvimento de fármacos antivirais.


Nos anos 1950, os investigadores procuravam atuar nos inibidores da replicação do vírus da
varíola; apenas nos anos 1960 foi observada a primeira administração bem-sucedida de um
fármaco antiviral contra essa doença (PEREIRA, 2012). A indústria farmacêutica, pesquisadores e
lideranças globais têm se empenhado na descoberta de novos antivirais; observa-se mobilização
internacional para o desenvolvimento de antivirais e vacinas para minimizar os danos de novas e
letais formas de vírus.

4 ANTIFÚNGICOS
De acordo com Prasad et al. (2016), as infecções fúngicas geralmente superficiais também
podem se transformar em infecções sistêmicas à medida que a incidência da doença se prolonga.
Entre as diferentes infecções micóticas causadas por esses fungos oportunistas, a candidíase,
uma infecção causada pelo fungo Candida, é considerada uma das mais ameaçadoras, reflexo da
gravidade da doença e sua ocorrência a nível mundial. Outras doenças fúngicas, como meningite
criptocócica e aspergilose invasiva, também ameaçam a vida. Segundo Georgopapadakou (1998),
infecções fúngicas graves, causadas principalmente por espécies oportunistas, são cada vez mais
comuns em pacientes imunocomprometidos e em outros pacientes vulneráveis. O uso de drogas
antifúngicas, principalmente azóis e polienos, aumentou nos últimos anos.

Clique abaixo para conhecer as diferentes categorias de antifúngicos e quais são empregadas
clincamente.

Diferentes categorias

Prasad et al. (2016) enfatizam que existem diferentes categorias de medicamentos


atualmente em uso contra infecções fúngicas que exploram novos alvos fúngicos exclusivos. A
grande maioria dos antifúngicos tem sido direcionada contra o ergosterol, que é um esterol típico
de células fúngicas. O componente esterol das membranas celulares dos fungos é direcionado
ao bloquear as enzimas importantes para sua síntese ou ao esgotar diretamente o ergosterol da
membrana plasmática. Além disso, vários outros medicamentos, agora em uso, também visam
aos componentesúnicos da parede celular em células fúngicas.

Emprego clínico

No entanto, os agentes estabelecidos não satisfazem completamente a necessidade médica,


considerando que os azóis são fungistáticos e vulneráveis à resistência, enquanto os polienos
causam séria toxicidade no hospedeiro. Os fármacos antifúngicos com emprego clínico incluem
equinocandinas, pneumocandinas e azóis quimicamente modificados. Novos agentes promissores
no desenvolvimento pré-clínico incluem vários inibidores da síntese de proteínas fúngicas, lipídios
77

e parede celular. Avanços recentes na genômicade fungos, química combinatória e triagem de alto
rendimento podem acelerar o processo de descoberta de antifúngicos (GEORGOPAPADAKOU, 1998).

4.1 Aspectos gerais


As infecções fúngicas invasivas representam uma ameaça contínua e séria à saúde humana, e
estão associadas a pelo menos 1,5 milhão de mortes em todo o mundo a cada ano. As estimativas
na literatura reportam uma mortalidade de 30 a 40% para candidíase invasiva, 20 a 30% para
criptococose disseminada e uma porcentagem semelhante para aspergilose invasiva. Tais
infecções são muito comuns em pacientes imunocomprometidos como resultado de terapias
agressivas, como por exemplo, quimioterapia antineoplásica, tratamento a longo prazo com
corticosteroides ou transplante de órgãos e infecções imunossupressoras como o HIV (CAMPOY;
ADRIO, 2017).

Georgopapadakou (1998) descreve que as infecções fúngicas em seres humanos variam


de superficial e comum, como dermatofitoses e onicomicoses, a profundamente invasivas e
disseminadas, como candidíase e aspergilose.

Prasad et al. (2016) enfatizam que tem sido observado um aumento da incidência de
infecções fúngicas em todo o mundo e o surgimento de resistência a medicamentos antifúngicos.
Isso reforça a ampliação da busca pelo desenvolvimento de novos antifúngicos direcionados a
caminhos novos.

A disponibilidade limitada de antifúngicos tem sido um grande impedimento para o


tratamento eficaz de infecções fúngicas. Os componentes da parede celular fúngica, como
mananos, glucanos e quitinas, assim como algumas enzimas das vias biossintéticas do ergosterol
que são exclusivas das células fúngicas, são geralmente direcionadas para o desenvolvimento de
agentes antifúngicos.

4.2 Classificação
De acordo com Campoy e Adrio (2017), atualmente, quatro classes de agentes antifúngicos
são usados ​​por via oral, tópica ou intravenosa para o tratamento de infecções por fungos,
nomeadamente, poliênicos, imidazólicos, triazólicos e tiazólicos. Também existe uma quinta
classe, as alilaminas, embora os compostos dessa classe sejam utilizados apenas para o tratamento
de infecções dermatofíticas superficiais. No entanto, esses antifúngicos têm várias desvantagens
em termos de toxicidade, espectro de atividade, segurança e propriedades farmacocinéticas. O
surgimento de cepas resistentes aos agentes antifúngicos atuais tem levado a grandes esforços no
desenvolvimento de novos fármacos com diferentes mecanismos de ação que visam à biossíntese
de proteínas, lipídios e parede celular.
78

De acordo com Campoy e Adrio (2017), os antifúngicos podem ser classificados com base em
seus alvos para terapia antifúngica. Entre eles, podem ser citados os enumerados abaixo. Clique
e veja.

• Inibidores da biossíntese de ergosterol.

• Disruptores de membrana fúngica.

• Síntese de parede celular fúngica.

• Biossíntese de esfingolipídeos.

• Inibidores da síntese de ácidos nucleicos.

• Inibidores da biossíntese de proteínas.

Segundo Prasad et al. (2016), a sinergia entre diferentes medicamentos também está sendo
projetada como estratégia promissora para o desenvolvimento de antifúngicos. A disponibilidade
limitada e o surgimento de resistência a medicamentos clínicos exigem a busca de novos
compostos e novos alvos.

4.3 Resistência antifúngica


A resistência antifúngica é um processo evolutivo baseado na seleção natural de organismos
que aumentam sua capacidade de sobreviver e crescer na presença de drogas. A evolução da
resistência aos agentes antimicrobianos é onipresente por natureza e os fungos têm empregado
várias estratégias para combater a ação dos fármacos. Os mecanismos de resistência antifúngica
foram relatados no nível molecular para a maioria dos agentes antifúngicos e patógenos
fúngicos. Para combater os efeitos fungicidas ou fungistáticos de todas as classes antifúngicas,
os microrganismos desenvolvem três grandes mecanismos de resistência. Clique abaixo para
conhecê-los.

1 O primeiro é baseado na diminuição da concentração efetiva do fármaco.

2 O segundo são alterações do alvo do fármaco.

3 O terceiro é devido a modificações do metabolismo para desviar os efeitos tóxicos exercidos


por alguns agentes antifúngicos (CAMPOY; ADRIO, 2017).

5 ANTIPROTOZOÁRIOS
De acordo com Kouznetsov e Meléndez (2009), as doenças parasitárias são um perigo para a
saúde mundial. Estima-se que três bilhões de seres humanos, além de um número maior de animais
79

domésticos e selvagens, sofram parasitoses. Em um sentido científico geral, o termo parasita


inclui vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos. Sabe-se que em alguns países tropicais as
infestações parasitárias são endêmicas em 80% da população. Nesses países, esse tipo de doença
corresponde a uma importante causa de morte. Por esse motivo, muitos pesquisadores têm se
dedicado à busca de medicamentos eficazes para as doenças parasitárias. Apesar dos grandes
avanços na luta contra infecções durante o século passado, as doenças parasitárias causadas por
um espectro variado de parasitas representam um problema médico global.

5.1 Aspectos gerais


Os patógenos protozoários humanos causam infecções tanto sintomáticas quanto
assintomáticas e, em algum momento, afetam quase todos os seres humanos. O impacto mundial
significativo de doenças causadas por esses patógenos se reflete na pesquisa de longa data das
quimioterapias antiprotozoárias, muitas das quais são anteriores à era moderna dos antibióticos.
No entanto, apesar da proliferação de compostos antibacterianos nas últimas décadas, muitos
argumentam que o desenvolvimento de tratamentos eficazes para infecções de protozoários está
atrasado, sendo dificultado não apenas pela complexidade dos ciclos de vida dos protozoários e
pelas interações medicamentosas por parasitas do hospedeiro, mas também por baixo incentivo
econômico ao desenvolvimento de novos agentes (KHAW; PANOSIAN, 1995).

5.2 Fármacos antiprotozoários empregados na terapia de doenças


tropicais
De acordo com Kaiser et al. (2015), as doenças tropicais negligenciadas, como leishmaniose,
tripanossomíase humana africana e doença de Chagas, afetam as pessoas mais pobres
especialmente em países em desenvolvimento. Essas doenças são responsáveis ​​por substancial
morbidade global, mortalidade e perdas econômicas. Existem apenas alguns medicamentos
disponíveis para o tratamento dessas doenças. No entanto, esses medicamentos ainda não
apresentam estudos concretos que comprovem sua eficácia ou a gravidade dos efeitos colaterais.
Para combater essas doenças tropicais negligenciadas, são necessários novos e melhores
medicamentos.

A malária é uma doença infecciosa transmitida por mosquitos e causada por protozoários
do gênero Plasmodium. Segundo Katzung e Trevor (2018), algumas classes de medicamentos
antimaláricos estão disponíveis. Os medicamentos que eliminam formas hepáticas em
desenvolvimento ou adormecidas em tecidos são chamados esquizonticidas; aqueles que atuam
nos parasitas eritrocíticos são esquizonticidas sanguíneos. Entre os principais antimaláricos em
estudos, podem ser citados cloroquina, amodiaquina, piperaquina e quinina.
80

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer as principais características dos antibióticos, aspectos históricos, técnicas


de detecção de microrganismos, importância terapêutica, problemas relacionados à
resistência microbiana e estratégias visando à sua produção;

• entender os diferentes mecanismos relacionados à atividade antimicrobiana de


fármacos utilizados no tratamento de diferentes afecções, incluindo métodos
bacteriostáticos e bactericidas;

• aprender sobre a estrutura e mecanismos de ação de vírus, sobre a importância


de terapias antivirais e diferentes formas de ação de fármacos utilizados para essa
finalidade;

• compreender a seriedade e incidência de infecções fúngicas, estratégias para


combatê-las e principais fármacos empregados para essa função, com ênfase em seus
mecanismos;

• discutir os principais fármacos utilizados no tratamento de doenças parasitárias,


incluindo avanços na terapia e importância dessa linha de pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SCHWALBE, R.; STEELE-MOORE, L.; GOODWIN, A. C. Antimicrobial susceptibility testing


protocols. Boca Raton: Crc Press, 2007.
Farmacologia aplicada à farmácia é um livro direcionado para
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terapias de reposição hormonal, suas características principais,
indicações e contraindicações; ter conhecimento sobre a seriedade
e incidência de infecções fúngicas, estratégias para combatê-las e
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