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09032021 2793
artigo article
para as jovens com deficiência intelectual
Abstract The implementation of educational ac- Resumo A efetivação de ações educativas, in-
tions, including sexual violence prevention, aimed cluindo a prevenção da violência sexual, direcio-
to promoting the sexual rights of young individu- nadas à promoção dos direitos sexuais das jovens
als with intellectual disabilities, can be characte- com deficiência intelectual, caracteriza-se como
rized as a huge challenge in the services that assist um desafio nos serviços que atendem este públi-
this population. This article aims to validate, with co. O objetivo deste artigo é validar, com juízes es-
expert judges, educational technology aimed at pecialistas, a tecnologia educacional direcionada
sexual abuse prevention among young individuals à prevenção do abuso sexual entre as jovens com
with ID. This is a content and display validation deficiência intelectual. Trata-se de estudo de vali-
study, performed with 25 judges. The information dação de conteúdo e aparência, realizado com 25
was collected through a questionnaire, considering juízes. As informações foram coletadas através de
the domains: objective, relevance, structure and questionário, considerando os domínios: objetivo,
presentation. The quantitative data were analy- relevância, estrutura e apresentação. Os dados
zed using the Content Validation Index (CVI) quantitativos foram analisados através do Índice
and a cutoff point of 0,80 was adopted, while qua- de Validação de Conteúdo (IVC) e adotado o pon-
litative data were submitted to thematic content to de corte 0,80, enquanto os dados qualitativos
analysis. An educational technology “Abuse no foram submetidos à análise temática de conteú-
more: learning to protect yourself ”, was subsidized do. A tecnologia educacional “Abuso não vai ro-
by Vigotsky’s theoretical framework and consists lar: aprendendo a se proteger”, foi subsidiada pelo
of a set of materials, including a storybook and su- referencial teórico de Vygotsky e é composta por
pport resources (dolls, booklet and explanatory vi- um conjunto de materiais, incluindo livro de his-
deo). This technology was validated by the judges, tórias e recursos de apoio (boneco, livreto e vídeo
with a total CVI of 0,99, obtaining a CVI >0,95 in explicativo). Essa tecnologia foi validada pelos ju-
all items and domains. The judges highlighted the ízes, com um IVC total de 0,99, superior a 0,95 em
1
Programa de Pós-
Graduação em Saúde da relevant and innovative nature of the technology, todos os itens e domínios. Os juízes ressaltaram o
Criança e do Adolescente, offering suggestions for its improvement. caráter relevante e inovador da tecnologia, apre-
Centro de Ciências Médicas, Key words Intellectual disability, Sex education, sentando sugestões para sua potencialização.
Universidade Federal de
Pernambuco. Av. Professor Young people, Educational technology, Sexual Palavras-chave Deficiência intelectual, Educação
Moraes Rego 1.235, Cidade violence sexual, Jovens, Tecnologia educacional, Violência
Universitária. 50670-901 sexual
Recife PE Brasil.
keise.nobrega@ufpe.br
2794
Nóbrega KBG et al.
Livro interativo
Livreto de apoio
Vídeo explicativo
Figura 1. Apresentação da tecnologia educacional “Abuso não vai rolar: aprendendo a se proteger”.
100%. Alguns juízes destacaram o caráter inova- pes NASF e também pode ser utilizado nas escolas,
dor da TE e seu potencial para favorecer o ensino serviço social, CREAS, facilitador como primeira
-aprendizagem das jovens com DI, para a preven- abordagem. Sugiro que também seja utilizado na
ção do abuso sexual e para o desenvolvimento de GPCA com devido treinamento. (J21).
estratégias de autoproteção. Considerando a intenção de utilização futura
Sem dúvida nenhuma o material é inovador da TE por pais, dois juízes ponderaram sobre a
e excelente, para trabalhar totalmente de forma adequação da linguagem e a necessidade de reali-
concreta o abuso, ou melhor a proteção do abuso zação da validação com este público.
sexual na deficiência intelectual. (J4). Parabéns pela iniciativa! Oportunamente su-
Outros juízes ressaltaram que a TE pode ser gere-se escuta de pais para que avaliem a lingua-
utilizada por profissionais de vários campos, e gem e compreensão. (J22).
também não apenas com adolescentes com DI, Além de ser compreendida como uma TE que
uma vez que contribui para a identificação e pre- atinge a sua finalidade, foi considerada relevante
venção de situações de abuso e a construção do e significativa obtendo um IVC=1. Os juízes re-
diálogo com as vítimas. alçaram a magnitude dos temas abordados e as
Sugiro que esse material seja divulgado e fabri- possibilidades de compartilhamento e de apren-
cado para uso de conteúdo pedagógico, tanto para dizado. Além disso, vislumbraram que o material
pessoas com deficiência intelectual, quanto para poderá ser uma referência na área para ser uti-
qualquer criança, jovem e mesmo adulto (PCD). lizado por pais e profissionais na prevenção do
(J9). abuso sexual.
Excelente material que pode ser utilizado por Acredito que será de grande importância para
profissional da área de saúde (...) psicólogos, equi- os profissionais que trabalham com essa temática,
2797
bem como para a família, sendo um ótimo recurso parcial de quatro juízes com relação à abrangên-
a ser utilizado com estas adolescentes. (J13). cia da TE e a possibilidade de generalizações da
Mesmo que se tenha obtido índice necessá- aprendizagem para outros contextos. Neste sen-
rio para sua validação, destaca-se a concordância tido, o juiz de número 22 fez ressalvas quanto ao
2798
Nóbrega KBG et al.
Quadro 1. Caracterização dos juízes quanto às experiências, ocupação atual e experiência com elaboração e
avaliação de materiais educacionais na área da pesquisa.
Tempo de
Elaboração/
J Experiência Experiência na área Ocupação atual
Avaliação de material
(anos)
J14 19 Educação sexual e Psicóloga Documentário e cartilha
assistência a adolescentes educativa sobre sexualidade de
com deficiência intelectual jovens com DI
J15 8 Formação em Educação Educadora Sexual: Livro sobre prevenção
em Sexualidade. Vasta formação e intervenção com de violência sexual para
experiência na área de adolescentes adolescentes
jornalismo televisivo e
comunicação audiovisual.
J16 4 Desenvolvimento e Professora do curso de Desenvolvimento e avaliação
avaliação de produtos para Design de ferramentas para projetos
pessoas com deficiência em TA
J17 23 Atendimento em saúde a Médica geneticista -
crianças e adolescentes com
deficiências e síndromes
genéticas
J18 4 Assistência em promoção Nutricionista Elaboração de Materiais
da saúde, cuidados com o Professora do curso de educativos sobre promoção da
corpo, imagem corporal Nutrição saúde e cuidados com o corpo
e inclusão social para
adolescentes com DI
J19 3 Educação em Saúde; Professora do curso de Validação de protocolos
Desenvolvimento de Enfermagem e materiais educativos;
materiais educativos Elaboração de tecnologias
educacionais, vídeos educativos
J20 5 Projeto de prevenção Professora do Departamento Cartilha sobre a prevenção
e enfrentamento da de Educação e PPG em de abuso sexual; Guia de
violência, no contexto Educação, Culturas e estimulação de crianças com
escolar Identidades deficiência
J21 33 Assistência a crianças e Médica clínica e legista Materiais educativos sobre
adolescentes vítimas de Sanitarista violência
violência
J22 24 Gestão de sistemas de Médico sanitarista, gestão e Materiais educativos sobre
saúde com foco para pesquisador saúde da criança e do
atenção a criança e ao adolescente
adolescente
J23 15 Assessora para a área de Ministério das Relações Elaboração de materiais
DI; Desenvolvedora de Exteriores educativos e produção de
conteúdo sobre DI conteúdo textual para pessoas
com DI e cuidadores
J24 6 Educação sexual e violência Gerente de parcerias para a -
sexual saúde inclusiva na América
Latina
J25 23 Médico da Special Olympics Diretor de programa de -
saúde inclusiva
Fonte: Elaborado pelas autoras.
da totalidade destes aspectos e que há, portanto, a No que se refere à estrutura e apresentação do
necessidade de se fazer recortes e escolhas. livro, ou seja, a forma de demonstrar as orienta-
A crítica relacionada à situação de abuso com ções, sua organização geral, disposição, coerência
imagens e cenas mais comuns e frequentes promove e formatação, o IVC foi de 0,99. Os juízes desta-
“generalizações” não adequadas para todos os ca- caram as possibilidades de diversificação e gra-
sos. Por outro lado, opções diferentes da proposta duação do conhecimento, interatividade, acessi-
geram mais críticas que o formato atual. (J22). bilidade e a qualidade do material.
2800
Nóbrega KBG et al.
Para além da relevância social, percebe-se o nas ilustrações do material para a aprimorar o de-
cuidado com que o material educativo avaliado sign, a interatividade e o foco, de forma a poten-
foi pensado e confeccionado, com uma estratégia cializar para a assimilação da mensagem visual.
de abordagem apropriada, apresentando as infor- No item 2.9 me coloco parcial pois há caixas de
mações de maneira clara e objetiva, seguindo uma texto que achei de baixo contraste, como nas pági-
sequência lógica de acordo com os assuntos abor- nas 17 e 20. (J16).
dados, valorizando os conhecimentos adquiridos e Todos os materiais de apoio também foram
estimulando novos conhecimentos, bem como faci- avaliados em suas especificidades e objetivos, e
litando o acesso a um público com diferentes níveis tiveram um índice de validade de conteúdo con-
de compreensão. (J7). cordante, livreto (IVC 1), bonecos (IVC 1) e ví-
Congruente ao que foi apontado em relação deo (IVC 0,99), como mostra a Tabela 2.
à abrangência da TE, considerando a diversidade Os juízes evidenciaram a importância dos
do público, observou-se que cinco juízes concor- materiais de apoio para que a TE atenda a sua
daram parcialmente nos itens referentes à apro- finalidade, destacando a potencialização do al-
priação sociocultural, considerando as possíveis cance com a utilização de dois canais de comu-
dificuldades de compreensão e do manejo dos nicação (livreto e vídeo). Ocorreu a discordância
mediadores. de apenas um juiz que considerou o vídeo des-
Não sei se temos elementos para afirmar que o necessário.
material é apropriado ao nível sociocultural sem a Muito bom ter dois materiais de apoio, são bem
aplicação do mesmo em grupos com diferentes ní- complementares. O escrito impresso tem mais in-
veis socioeconômicos. (J5). formações e fundamentação, já o vídeo fica mais
[…] concordo parcialmente pois há a coloca- interativo, atinge um público maior. (J3).
ção de questões delicadas que acho que o material Em relação ao livreto, foram dadas sugestões
de apoio poderia trazer um suporte de conteúdo para uma linguagem mais simples e objetiva,
maior, quando o mediador for os pais, por exemplo, pensando em atingir mediadores de diferentes ní-
que podem ter um nível de escolaridade/compreen- veis de escolaridade.
são menor. (J16). Considero apropriado para os profissionais.
Outros seis juízes também apontaram con- Para os pais/familiares talvez necessite de ajustes
cordância parcial, quanto à adequação ao nível considerando a amplitude de perfis e níveis de es-
de conhecimento das adolescentes, refletindo so- colaridade. (J22).
bre as variações de níveis de DI e compreensão Por fim, os juízes ressaltaram as contribuições
das jovens. dos bonecos para a ação educativa, principalmen-
Acredito que sim, mas tenho dúvida se permi- te no que se refere à introdução de maior ludici-
te o acesso aos diferentes níveis de compreensão se dade e incentivo à participação.
ainda não foi aplicado com esse público. (J5). A presença dos bonecos favorece a informação
Sugiro que defina o grau de deficiência intelec- contextualizada com o uso do objeto concreto, o que
tual para adequar a linguagem. (J6). pode auxiliar a compreensão e a expressão. (J5).
Alguns especialistas apresentaram propostas
para a inclusão de temas como métodos con-
traceptivos e prevenção de IST, e a inclusão dos Discussão
serviços de saúde como referência na rede de
cuidados e espaços de assistência. Os juízes 15 e Os resultados indicam que a TE, “Abuso não
21 trouxeram à tona a importância de reflexões vai rolar” foi validada com elevado índice geral
sobre aspectos relacionados ao consentimento de concordância, uma vez que todos os itens e
na deficiência intelectual, a não culpabilização domínios avaliados - objetivos, estrutura e apa-
da vítima de abuso, a possibilidade do prazer na rência, relevância -, obtiveram o IVC superior a
situação de abuso e a importância do autoconhe- 0,95. Esta concordância foi balizada pelos dados
cimento. qualitativos apresentados neste estudo.
Toques que são permitidos, autoconhecimento, As tecnologias têm a finalidade de facilitar o
sexualidade presente e toques que não são permiti- processo educacional formal e informal, conju-
dos a própria adolescente também fazer no outro. gando teoria e prática, conhecimentos e saberes.
O toque do próprio namorado Edu, pode ser um Podem ser artefatos, recursos, processos, utiliza-
toque ruim se não for consentido. (J21). dos nas ações educacionais, que passam por pro-
Houve também proposições de melhorias, cedimentos fundamentados e sistematizados de
sem comprometimento com a validação obtida, construção e validação21.
2801
essa ferramenta educativa37, é apresentar a TE de DI, podendo ser utilizado em serviços assisten-
maneira mais rápida, objetiva e acessível, princi- ciais e educacionais.
palmente, para os mediadores com dificuldade Ressalta-se a importância do envolvimento
de leitura. do mediador - pais e profissionais - no processo
Os bonecos sexualizados também foram con- educacional. Há a necessidade de sensibilização e
siderados pelos juízes como relevantes e adequa- motivação para utilizar a TE a partir do que é su-
dos para a educação sexual das jovens com DI. gerido nos materiais de apoio, adaptando a cada
Esta percepção é corroborada por estudos que realidade e demandas das adolescentes, que tam-
defendem que as TE devem possibilitar experi- bém são participantes ativas no processo.
ências mais realistas e concretas, com diversidade Apesar da participação fundamental do
de recursos e estímulos multissensoriais, mode- público-alvo e suas colaborações na primeira fase
los representativos e autoexpressivos, ensaios e (diagnóstico) da pesquisa é reconhecida a neces-
problematização, têm se mostrado efetivas, no sidade de validação da TE desenvolvida com as
processo de ensino-aprendizagem de pessoas adolescentes, pais e profissionais, portanto, uma
com DI23,24. limitação do presente estudo. No entanto, este
processo encontra-se em execução, e os resulta-
dos serão apresentados em publicação futura.
Considerações finais Espera-se que este estudo possa inspirar ou-
tros profissionais para o desenvolvimento de tec-
A TE “Abuso não vai rolar” foi validada pelos ju- nologias educacionais e sua validação, contribuir
ízes especialistas em relação aos seus objetivos, para a emancipação das pessoas com deficiência
relevância, estrutura e apresentação. Os partici- e promoção de direitos, estimular a educação
pantes avaliaram que a TE proposta irá colaborar sexual e prevenir o abuso sexual, alertar sobre a
com pais e profissionais na educação sexual das maior ocorrência dessa violência em pessoas vul-
jovens com DI. Elucidaram que o material tem neráveis, especialmente, as jovens com deficiên-
potencial para ser referência técnico-científica na cia intelectual, além de ampliar o conhecimento
área da sexualidade e violência para jovens com científico e a difusão sobre o tema da sexualidade.
Colaboradores
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and adherence. Patient Educ Couns 2006; 61(2):173- Editores-chefes: Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura
190. da Silva
CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons