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CAPÍTULO 5 - VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇAÕ DA LEGISLAÇÃO

TRIBUTÁRIA

1. VIGÊNCIA
- Os três planos do mundo jurídico são o da existência, o da validade e o da eficácia. No primeiro deles, diz-se que a
lei, uma vez promulgada, tem existência jurídica; no segundo, a lei, uma vez vigente, tem validade; e no terceiro, a
lei é eficaz, quando apta a produzir efeitos.

- A regra geral sobre vigência das leis tributárias encontra-se no art. 101 do CTN: a vigência, no espaço e no tempo,
da legislação tributária rege-se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvadas as
exceções previstas no próprio Código. Estas se encontram nos arts. 102 a 104 e 106 do CTN.

- Que disposições são essas? As constantes da Lei de Introdução ao Código Civil — LICC (Decreto-Lei n. 4.657, de 4-
9-1942), em verdade, lei sobre aplicação de normas jurídicas em geral.

- No art. 1°, caput, a Lei de Introdução ao Código Civil determina que salvo disposição em contrário, a lei começa a
vigorar, em todo o país, quarenta e cinco dias depois da publicação. Portanto, se não possuir disposição específica
sobre sua vigência, a lei tributária entra em vigor quarenta e cinco dias após publicada. Esta seria a regra geral que,
em verdade, tomou-se exceção, de vez que a grande maioria das leis contém dispositivo sobre sua vigência.

- . Em leis de maior complexidade, ou que alterem mais profundamente o ordenamento jurídico, prevê-se prazo
maior para vigência: assim, o Código Tributário Nacional, publicado em 27 de outubro de 1966, contém disposição
sobre sua entrada em vigor no dia l 2 de janeiro de 1967

- O Art. 104 do CTN diz: “Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua
publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda: I — que instituem ou
majoram tais impostos; II — que definem novas hipóteses de incidência; III — que extinguem ou reduzem isenções,
salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no art. 178”. Apesar disso o
texto é imperfeito, diz o livro, porque esses dispositivos entram em vigor na data que decorrer da aplicação das
regras sobre vigência da Lei de Introdução ao Código Civil. Além disso a limitação da abrangência “a impostos sobre
o patrimônio e a renda” também não tem força porque a Constituição dispõe em termos genéricos ser vedado exigir
quaisquer tributos no mesmo exercício em que publicada a lei que os instituiu ou aumentou, bem como antes de
decorridos noventa dias de sua publicação.

- Já a vigência da lei tributária no espaço, como regra geral, observa o princípio da territorialidade. Isto é, a lei vige,
em princípio, no território da pessoa jurídica de direito público que a editou. Assim, a lei federal vige em todo o
território nacional, a estadual, no território do respectivo Estado e a municipal, no Município que a editou.
Excepcionalmente, a lei federal brasileira poderá ser aplicada no estrangeiro, quando assim determinarem os
tratados e convenções internacionais e reconhecer a legislação interna do respectivo país.

- Nos termos do art. 102 do CTN, as leis estaduais ou municipais podem ser aplicadas fora dos respectivos territórios,
nos termos em que lhes reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou assim disponham as
leis de normas gerais de direito tributário.

2. APLICAÇÃO

- A regra geral sobre aplicação de leis encontra-se no art. 62, caput, da Lei de Introdução: as leis não retroagem,
mas têm efeito imediato e geral. Tal se aplica, como regra geral, às leis tributárias.

- Todavia, a lei de normas gerais de direito tributário (que vem a ser o CTN) contém algumas disposições especiais a
respeito do tema. Diz o art. 105 do CTN: “A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros
e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do
art. 116”
- O que seria fatos geradores pendentes? por fatos geradores pendentes entendem-se aqueles cuja ocorrência já se
iniciou mas ainda não se completou. Ou seja, fatos geradores que já começaram, mas ainda não terminaram de
ocorrer. Esse tipo de fato gerador se chama fato gerador complexivo onde a ocorrência acontece durante um
determinado período de tempo. Um exemplo disso é o Imposto de Renda. O fato gerador para a pessoa física é
anual: a pessoa tem que adquirir disponibilidade econômica ou jurídica de renda (ou proventos de qualquer
natureza), no período compreendido entre Ia de janeiro e 31 de dezembro de determinado ano. Assim, em qualquer
data entre 01 de janeiro e 31 de dezembro o fato gerador do imposto de renda vai estar pendente: já se iniciou, mas
não se completou.

- Mas aí uma lei publicada nesse período vai se aplicar a esse fato gerador pendente? Pela disposição do art. 105
do CTN, a resposta seria sim. A isto, Amílcar Falcão se referia como “hipótese de pseudoretroatividade” mas o livro
afirma que é retroatividade mesmo e que hoje é vedada pela Constituição no art.150 que proíbe a exigência de
tributos “em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado. Então a lei tributária não pode criar qualquer exigência com base em fatos que já ocorreram. (Mas
então o art 105 do ctn foi revogado?)

- Outro artigo que é uma disposição especial é o 144 do CTN. Para melhor entendimento, primeiro é bom entender
a diferença entre o fato gerador e o lançamento do tributo. O fato gerador é o que vai fazer com eu tenha a
obrigação de pagar o tributo. O lançamento tem apenas um caráter declaratório, como sendo um registro de que eu
tenho que pagar algum tributo. O art.144 do CTN diz: “O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato
gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada”. Isso quer
dizer que a lei que vai ser aplicada pra pagamento do tributo vai ser a lei vigente na ocorrência do fato gerador do
tributo mesmo que quando for lançado o tributo para pagamento a lei já tenha sido modificada.

- Nesse ponto o livro faz a menção de direito tributário material e direito tributário formal. O direito tributário
material nos remete a definição de fato gerador, de contribuinte, de base cálculo, de alíquota, de deduções e
correção monetária. A isso se aplica a lei vigente no fato gerador. Já o direito formal diz respeito a critérios de
apuração, processos de investigação, procedimento administrativo, poderes de investigação de autoridades
administrativas e aplica-se a lei vigente ao tempo do lançamento, porque não se trata de direitos e obrigações do
contribuinte, de verificar-se quando e quanto deve ser pago a título de tributos, mas sim de procedimentos
administrativos de apuração e fiscalização.

- Exemplo: se após o fato gerador e antes do lançamento sobrevier lei alterando — majorando8 ou reduzindo — a
alíquota do tributo, aplicar-se-á a alíquota prevista na lei vigente ao tempo do fato gerador (não do lançamento).
Aqui se aplica o caput do art. 144. Agora no caso da Lei Complementar 105, de 10 de janeiro de 2001, que disciplinou
hipóteses de quebra de sigilo bancário para apuração de créditos tributários, aplica-se inclusive aos fatos geradores
ocorridos antes de sua vigência (desde que o lançamento se faça após sua vigência, o que só pressupõe ainda não
tenha ocorrido decadência), pois trata de ampliação de poderes de investigação de autoridades administrativas.

- Ainda no que toca à aplicação da lei tributária, o art. 106 do CTN determina que se faça retroativamente, no caso
de leis interpretativas ou da chamada “retroatividade benigna”, quando se tratar de infração ou ato não
definitivamente julgado. Diz o referido art. 106: “A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I — em qualquer caso,
quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos
interpretados; II — tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b)
quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido
fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos
severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática” Leis interpretativas seriam aquelas destinadas a clarear
o significado de lei anterior, sobre cuja interpretação surgiu controvérsia. É a chamada interpretação autêntica, pois
realizada pelo mesmo órgão que elaborou a lei.( não tenho muito a comentar porque não entendi muito essa parte)
3. INTERPRETAÇÃO

- Na parte de interpretação, o livro começa com a definição que diz: Interpretação é a atividade que visa à busca do
sentido e alcance de um texto legal. É a atividade lógica pela qual se busca determinar o sentido de uma regra
jurídica. Ele comenta também sobre o caráter criativo da interpretação e diz que não é possível negar o caráter
criativo da interpretação das leis, sendo que a gente tem interpretações diferentes sobre as leis.

- Em seguida o livro apresenta os métodos de interpretação...

- Interpretação literal ou gramatical é aquela procura agir exatamente de acordo com o que o texto diz. A
interpretação acontece a partir do significado estrito das palavras utilizadas no texto legal. Esse é sempre o primeiro
método utilizado mas também o mais pobre de acordo com o livro.

- Na interpretação lógica ou sistemática busca-se integrar o preceito sob interpretação dentro do sistema jurídico
a que pertence e dele extrair conclusão compatível com o conjunto do ordenamento naquele ramo do direito. O que
isso significa? Por exemplo supondo que determinada lei tributária cite a termo decadência ou prescrição. Prescrição
e decadência conceitos do Direito Civil. Então juiz, para julgar o caso, interpretará a lei com esses termos a partir do
significado tirado do Direito Civil. Então o juiz precisou integrar o caso a todo um sistema jurídico a que pertence os
termos escritos na lei. Esse método é bem melhor do que a interpretação literal.

- Interpretação teleológica é aquela que busca o obtivo e propósito visado pela norma. Ou seja, interpreta-se a
norma jurídica tendo em mira o objetivo a ser alcançado com a edição da norma, o resultado prático que vai vir da
interpretação feita. E aí na medida do possível se adota a interpretação que leve ao resultado mais adequado
socialmente. O livro cita ainda o autor Maximiliano que fala sobre algumas regras para a utilização desse método
a) as leis conformes no seu fim devem ter idêntica execução e não podem ser entendidas de modo que produzam
decisões diferentes sobre o mesmo objeto
b) se o fim decorre de uma série de leis, cada uma há de ser, quanto possível, compreendida de maneira que
corresponda ao objetivo resultante do conjunto;
c) cumpre atribuir ao texto um sentido tal que resulte haver a lei regulado a espécie a favor, e não em prejuízo de
quem ela evidentemente visa a proteger; isso significa que se a lei tinha um objetivo inicial de proteger alguém ou
alguma coisa, a gente não pode ter uma interpretação que acabe prejudicando esse alguém ou alguma coisa que a
lei visava proteger.
d) os títulos, as epígrafes, o preâmbulo e as exposições de motivos da lei auxiliam a reconhecer o fim primitivo da
norma

- A interpretação histórica, por sua vez, procura identificar os elementos que, historicamente, cercaram a
elaboração da lei. Procura se situar no contexto histórico do tempo de elaboração da lei e desvendar, pelas idéias
vigentes àquele momento e pelos debates legislativos sobre sua elaboração, qual o objetivo visado pela norma.
Então ele vai pensar no que a sociedade estava passando no momento da edição da lei, qual era o contexto social
por de trás. Nisso o trabalho das Comissões e os debates parlamentares fornecem um excelente material pra esse
método de interpretação. Entretanto o livro frisa que a intenção do legislador não é elemento decisivo na
interpretação da lei. Se houver contradição entre o que o legislador tinha em mente e o texto legal, vai valer o que a
lei diz.

- O tópico de interpretação termina afirmando que todos os métodos podem ser usados para interpretação a não
ser que a lei determine expressamente assim. Como é caso do Art 111 do CTN que manda interpretar literalmente a
legislação tributária que disponha sobre suspensão ou exclusão do crédito tributário, outorga de isenção ou dispensa
de cumprimento de obrigações acessórias. E o art 118 que diz A definição legal do fato gerador é interpretada
abstraindo-se:
I — da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como
da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;
II — dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos”. ( em contrariedade a interpretação econômicos )
4. INTEGRAÇÃO

- Na interpretação da legislação, tem-se norma expressa sobre o fato, mas se busca clarear seu sentido e alcance.
Quando se trata de integração, não há norma expressa sobre o fato em questão. Então se busca a solução para a
situação, no sistema jurídico como um todo, a solução para a situação que não esteja prevista na lei.

- Sobre isso o art 108 do CTN diz que na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a
legislação tributária utilizará, sucessivamente, na ordem indicada:
I — a analogia;
II — os princípios gerais de direito tributário;
III — os princípios gerais de direito público;
IV — a eqüidade

- Vamos ver aqui os métodos de integração

- Primeiro a analogia. Analogia consiste em aplicar para o fato não expressamente previsto em lei, alguma norma
que exista para caso semelhante. Então se para uma hipótese X não existir norma específica mas existir outra norma
que se aplique a uma hipótese semelhante a hipótese x, então se aplica à norma X por analogia a norma que existe
para a hipótese que for semelhante a X. Entretanto o art 108 do CTN diz que usar a analogia não pode resultar em
em exigir tributo que não esteja previsto na lei. O famoso princípio da Legalidade.

- Princípios gerais de direito tributário. São normas gerais, próprias ao ramo do direito em questão, que servem de
norte para interpretar as regras pontuais de direito tributário e para buscar solução para situações não previstas em
lei. Princípios são mandamentos centrais de um sistema. Aqui o livro se refere aos princípios da legalidade tributária,
da anterioridade, da universalidade, da isonomia concreta, da irretroatividade, da capacidade contributiva, da
proibição de confisco, da vedação de restrições ao tráfego de pessoas e bens, e, com relação a certos tributos30, da
não-cumulatividade e da seletividade, que são princípios dentro do Direito tributário.

- Princípios gerais de direito público. É a mesma lógica dos princípios de direito tributário só que nesse caso se
aplica quando os princípios do direito tributário não forem suficientes para fazer a integração. O livro se refere aqui
aos princípios de proporcionalidade, razoabilidade, igualdade, impessoalidade, responsabilidade, moralidade,
publicidade, eficiência, representação, federação, devido processo legal, que na sua maior parte estão
constitucionalizados.

- Por fim tem a Equidade. Eqüidade significa justiça. Decidir por eqüidade significa resolver determinada situação
segundo o conceito de justiça prevalente em certo momento e organização social. Claro que dessa forma o conceito
de equidade vai ser um pouco subjetivo. É um senso de justiça. Talvez por ser até por isso seja o último método a ser
utilizado para integração. A origem remota da eqüidade está nos apelos dirigidos ao rei, para que, em nome da
justiça e generosidade, este modificasse as decisões dos tribunais da common law. Common law é aquele sistema de
direito baseado mais em costumes e decisões de tribunais que tem nos Estados Unidos por exemplo.

- O art 108 do CTN diz que o emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento do tributo
devido.

- O art. 172, IV, do CTN dispõe que a lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder, por decisão
fundamentada, remissão (perdão) total ou parcial do crédito tributário, atendendo a considerações de eqüidade, em
relação com as características pessoais ou materiais do caso. Isso não é uma contradição com o art 108 por que o
perdão de dívida será algo que acontecerá uma vez específica e não vai tirar a obrigação de pagar impostos no
futuro.

- Por último o livro cita princípios gerais de direito privado que não é meio de integração da legislação tributária mas
ele acabou citando mesmo assim porque achou importante. Nesse ponto ele comenta que o uso de princípios gerais
de direito privado se limita apenas para caracterização dos institutos, conceitos e formas de direito privado,
utilizados pelo direito tributário. Ou seja, o direito tributário não pode redefinir o que significa decadência e
prescrição. Pode alterar os efeitos. Por exemplo a decadência tem um consequência específica para o cidadão no
direito privado, no direito tributário ela pode não ter essa consequência e ainda o direito tributário dizer que tu vai
pagar uma multa pela decadência.(um exemplo bem ruim mas é que de cabeça eu não sei citar nenhum exemplo
aqui). Então pode alterar o efeito mas não significado do conceito.

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