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1. Introdução
As organizações estão investindo cada vez mais em treinamentos, com o objetivo de
capacitar seus colaboradores e, consequentemente elevar sua produtividade. O investimento
em treinamento e desenvolvimento (T&D) em 2017 foi, em média, R$ 788,00 por
colaborador, na área da indústria e serviços o valor se eleva para cerca de R$ 820,00. Houve
um crescimento de 21% em relação ao ano anterior (cerca de R$ 622,52), um valor ainda
muito aquém do investimento em T&D das empresas dos EUA (cerca de U$ 1.252,00, ou R$
4.820,00 por colaborador). Este indicador vem crescendo ano a ano, apontando, sem dúvida,
uma constante tendência de ganho de relevância. (ABTD, 2017).
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Em um total de 738 empresas avaliadas, as metodologias de avaliação da eficácia de
treinamento, no Brasil, correspondem a: 79% dos treinamentos se limitam apenas à avaliação
de reação, onde é avaliada a sua qualidade e aplicabilidade, 28% têm avaliação de
aprendizado, onde é verificado se o aluno aprendeu e se houve ganho de conhecimento; 12%
avaliam se o profissional aplicou os conhecimentos adquiridos; 5% avaliam qual o impacto no
resultado do negócio e apenas 2% avaliam o retorno financeiro sobre o investimento (ABTD,
2017).
Este comportamento gera, consequentemente, na falta de indicadores adequados para
mensurar os resultados dos investimentos em treinamento, gerando, por vezes, ceticismo em
alguns gestores brasileiros sobre a necessidade de se investir mais em treinamentos. Segundo
o relatório da ABTD (2017), que pouco se mudou nos últimos anos sobre a escolha dos
indicadores de avaliação de treinamento, sendo o maior deles a satisfação do colaborador com
o trabalho, um indicador muito subjetivo.
Para Foltran (2012), o treinamento é um processo cíclico que envolve as seguintes
etapas: levantamento das necessidades específicas dos treinamentos; Aplicação dos princípios
de aprendizagem; Escolhas de métodos adequados à instrução; Coleta de dados e materiais
para a instrução; Elaboração do programa de treinamento; Treinamento dos instrutores;
Execução dos treinamentos; Avaliação e controle dos resultados dos treinamentos.
Borges-Andrade (1997) delimita o treinamento como um sistema composto por três
subsistemas: levantamento de necessidades, planejamento e execução e avaliação do
treinamento. O subsistema avaliação, em especial, fornece a retroalimentação para todo o
sistema, indicando os pontos positivos que devem permanecer nos treinamentos futuros, bem
como sinalizando aspectos a serem modificados ou retirados do planejamento.
Chiavenato (2002), define o treinamento como sendo o processo educacional de curto
prazo, aplicado de maneira sistemática e organizada.
Diante disto, como instrumento de intervenção, foi utilizada a metodologia
multicritério de apoio à decisão por se tratar de uma ferramenta que permite construir
conhecimento do contexto de um problema com múltiplas alternativas, hierarquizando-as de
acordo com critérios estabelecidos, auxiliando o decisor para a tomada de decisão.
Assim, diante deste contexto, a questão que emerge essa pesquisa que baliza esse
estudo seria a possibilidade de, com o apoio da metodologia multicritério, auxiliar a escolha
de um modelo de treinamento adequado ao contexto de um laboratório de Metrologia de porte
pequeno, situado no Rio de Janeiro.
2. Descrição do Problema
Os procedimentos tradicionais utilizados nos sistemas de avaliação estão sendo
questionados quanto à possibilidade de acompanharem adequadamente e oferecerem respostas
à contribuição das ações de treinamento e desenvolvimento para a organização. Novelli
(1998) descreve algumas razões para esse questionamento, por se observar um enfoque
didático-pedagógico, direcionado à avaliação da metodologia, conteúdos, recursos, etc., do
treinamento; sem dar a devida importância a sua contribuição para o alcance dos objetivos
estratégicos das organizações.
Apesar do crescente interesse dos pesquisadores sobre os métodos avaliativos de
treinamentos, medidas válidas e confiáveis de satisfação com o treinamento são ainda raras.
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A literatura especializada em T&D vem mostrando resultados inconsistentes no que
tange ao relacionamento de variáveis de reações ao treinamento com medidas tradicionais
como aprendizagem e comportamento no cargo, em parte devido à falta de sistemáticas
objetivas para essa avaliação (ABBAD, GAMA & BORGES-ANDRADE, 1999).
Em paralelo a isso, para um laboratório de metrologia, a acreditação segundo os
requisitos da ISO 17025:2017 (Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio
e calibração) é importantíssima para o seu sucesso, pois permite o laboratório se colocar
estrategicamente no mercado, sendo reconhecido por seus clientes, como um laboratório de
excelência e reconhecida competência.
A ISO 17.025:2017 determina que os laboratórios devem possuir e prover pessoas
capacitadas para a realização das suas atividades de forma adequada, levando a pergunta
fundamental a ser respondida por este trabalho ter como formulação: “É possível com o apoio
da metodologia multicritério de apoio à decisão auxiliar no processo de escolha de um modelo
para a avaliação da eficácia do treinamento de novos funcionários mais adequado ao ambiente
de um laboratório de metrologia com acreditação? ”.
Apesar do mercado ofertar capacitações em âmbito geral, há uma significativa lacuna
entre a teoria destes treinamentos e a prática no cotidiano de um laboratório. Como solução,
as empresas estão investindo na capacitação interna. O treinamento interno é uma ferramenta
indispensável para que ocorram ganhos de conhecimento e habilidades, permitindo reduzir
custos e tempo no processo de capacitação de equipes.
No entanto, na literatura quase não existem metodologias para a avaliação desses
treinamentos, resultando em funcionários não capacitados adequadamente para exercer suas
funções, gerando como consequências: erros de resultados, retrabalho, trabalho não conforme
e até acidentes de trabalho. Este risco, por si, justifica o estudo desenvolvido nesse trabalho.
O estudo de caso foi realizado em um laboratório de metrologia situado na cidade do
Rio de Janeiro, e foi escolhido devido um dos autores ter facilidade de acesso às informações
e aos entrevistados. Para Gil (2002), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e
exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e
detalhado.
3. Fundamentação Teórica
3.1 Treinamento e Desenvolvimento
Loureiro (2001), afirma que o treinamento é a atividade responsável dedicada à
transmissão de conhecimentos objetivando suprir deficiências, estimular e desenvolver
habilidades e potencialidades, visando a um crescimento do indivíduo tanto no aspecto
profissional/cultural do indivíduo, quanto da empresa, no que se refere à obtenção e
manutenção de mão-de-obra mais qualificada e preparada para assimilar e superar desafios.
Para Borges-Andrade (2002), existe uma demanda cada vez maior por avaliação de
treinamento nas organizações, que tradicionalmente fizeram altos investimentos em
treinamento, bem como naquelas que mais recentemente descobriram os valores estratégicos
do conhecimento e do esforço na contínua qualificação de seu pessoal.
As instituições que contratam esse tipo de serviço estão interessadas em garantir a
aplicação dos saberes que o participante adquiriu, preferencialmente de maneira imediata, em
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sua atividade profissional e quanto desse aprendizado pode se manter ao longo do tempo.
(SCORSOLINI-COMIN; INOCENTE; MIURA, 2011).
Santos et al. (2015) afirmam que a Pesquisa Operacional (chamada comunamente de
“PO”) lança mão de modelos matemáticos e/ou lógicos, a fim de resolver problemas reais,
apresentando um caráter eminentemente multidisciplinar.
Abbad et al. (2012) classifica os Modelos de Avaliação de Treinamento
Desenvolvimento e Educação (TD&E) em:
1) genéricos – baseados em combinações de variáveis relacionadas aos processos de
TD&E, tais como o modelo clássico de Kirkpatrick, criado em 1976, e aperfeiçoado por
Hamblin em 1978, e o Modelo de Avaliação Integrado e Somativo MAIS, idealizado por
Borges-Andrade em 1982;
2) específicos – baseados em modelos genéricos, são formados a fim de testar a
relação entre associações de variáveis e resultados de TD&E a nível individual, no grupo de
trabalho, na organização ou extra organizacional. Os que mais se destacam são os modelos
Modelo Integrado de Avaliação do Impacto do Treinamento no Trabalho - IMPACT,
desenvolvido por Gardênia Abbad em 1999.
Apesar de muito importantes, medidas válidas e confiáveis de satisfação com o
treinamento são ainda raras. Destacam-se, sobretudo, os trabalhos de Kirkpatrick (1976),
Hamblin (1978), Borges-Andrade (1982), Abbad (1999) e o trabalho de Alvarez, Salas e
Garofano (2004).
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Borges-Andrade (1982) propôs um modelo que inclui variáveis do ambiente como fatores
influentes importantes em todo o processo de treinamento, desde o levantamento de
necessidades até os resultados a longo prazo; conhecido como Modelo de Avaliação Integrado
e Somativo (MAIS).
O modelo MAIS é composto essencialmente por cinco componentes: insumos,
procedimentos, processo, resultados e ambiente; subdividindo-se o Ambiente em: avaliação
de necessidades, disseminação, apoio e resultados a longo prazo. Este modelo tem servido de
base para muitas intervenções atuais, aplicadas e de pesquisa, em diversos contextos
organizacionais. (CARVALHO; ABBAD, 2006).
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Figura 2 - Resumo do Método AHP segundo Saaty. Fonte: Mendes et al. (2013)
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entendidos e especificados. Após os critérios, em um nível logo abaixo, são alocadas as
alternativas.
Depois da construção da hierarquia, o decisor deve fazer uma comparação par a par,
expressa em termos linguísticos/verbais, os quais serão convertidos em valores numéricos
usando a Escala Fundamental de Saaty para julgamentos comparativos. Essa escala de
valores, que varia entre 1 e 9, é capaz de expressar o grau de importância de uma alternativa
em relação a cada critério e os critérios de um determinado nível em relação ao critério do
nível imediatamente superior, como descrito na Figura 3.
4. Proposta de Solução
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Os modelos de treinamento em estudo foram escolhidos de acordo com sua relevância
com o tema e de acordo com a consolidação desses modelos na literatura atual. Os modelos
escolhidos foram: Modelo dos 4 níveis (Kirkpatrick, 1976), Modelo do Valor Final (Hamblin,
1978), Modelo MAIS (Borges-Andrade, 1982), Modelo IMPACT (Abbad, 1999) e Modelo
IMTEE, 2004).
Vale ressaltar que estes modelos foram recebendo revisões de seus próprios autores e
de outros pesquisadores, como por exemplo o Modelo dos 4 Níveis onde Kirkpatrick fez
revisões até 1993.
A próxima etapa se deu pela elaboração de um questionário abordando os modelos de
treinamento em avaliação e o sistema de escala Likert, com o objetivo de quantificar a
importância que os Decisores consideram sobre os critérios relevantes de um modelo de
treinamento e o grau em que cada modelo se encaixa nessa relação.
Os critérios considerados são explicados a seguir:
a) Levantamento das necessidades: grau em que o modelo de treinamento considera
relevante o levantamento das necessidades de se realizar o treinamento.
b) Ambiente de Suporte: grau de importância e especificação que o modelo de
treinamento considera que o ambiente organizacional deve contribuir na eficácia do
treinamento.
c) Complexidade de Implementação: grau de complexidade de implementação do
modelo de treinamento, considerando quantidade de etapas, setores que precisam ser
envolvidos e tempo necessário para implementação.
d) Avaliação das Reações: grau de importância e nível de detalhamento em que o modelo
de treinamento avalia as reações dos treinandos e sua influência na eficácia do
treinamento.
e) Impacto do treinamento no trabalho: grau e nível de detalhamento em que o modelo de
treinamento aborda a transferência dos ensinamentos aprendidos no treinamento no
comportamento do treinando.
f) Resultado: Nível de detalhamento em que o modelo de treinamento considera os
resultados gerados na conclusão do treinamento, se este atendeu às expectativas
iniciais.
Os graus foram parametrizados de “1” a “5”, sendo “1” o grau menos satisfatório sobre o
critério do treinamento e “5” o mais satisfatório.
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TABELA 1 – Matriz de decisão do problema
Para obter a norma devem-se dividir cada elemento da matriz pela soma da coluna a
que pertence. Normalizar os valores de cada coluna de tal forma que a soma de todos seus
elementos seja igual a “1”, representado na Tabela 2.
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Semelhante à Matriz de Decisão, a Matriz de Ponderação também foi normalizada e
incluindo o Vetor Prioridade, fazendo a média de cada linha conforme representado na Tabela
4.
TABELA 4 – Matriz de ponderação normalizada e Vetor prioridade
A partir deste resultado, foi feita multiplicação da matriz de decisão normalizada pelo
vetor prioridade, resultando na hierarquia apresentada na Tabela 5.
5. Resultados Alcançados
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Sendo assim, após apresentação dos resultados para os Decisores, chegou-se à
conclusão de que o modelo “MAIS” foi escolhido como o modelo padrão que irá nortear o
desenvolvimento das atividades de treinamento no Laboratório de Metrologia
6. Conclusão
Referências
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