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Desmistificando o Autismo: Um Manual para Jornalistas 1


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Criadores

Pesquisa:
Fernanda Ferreira Azevedo e Gabriela Bandeira

Redação:
Fernanda Ferreira Azevedo e Gabriela Bandeira

Revisão de conteúdo:
Tiago Abreu e Willian da Costa Chimura

Revisão gramatical:
Endrica Christie Fernandes e Vinícius Alexandre Fernandes

Diagramação e arte da capa:


Karoline Oliveira Santos

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Sobre as Autoras

Fernanda Ferreira

Meu contato com o autismo começou de forma muito particular e pessoal.


Meu irmão mais novo, Mateus Ferreira, foi diagnosticado com autismo severo
aos dois anos de idade (e eu tinha só três anos!). Então, muito antes de saber o
que era autismo, sempre tive um irmãozinho que, aos poucos, descobri que era um pouco diferente.

Aos cinco anos, perguntei para minha mãe o que o Mateus tinha e ela me explicou que ele
era uma “criança especial” porque tinha autismo. Com todo amor e paciência, ela me deu a opção de
amá-lo ou de rejeitá-lo. Com toda sinceridade que as crianças têm, respondi: “então eu quero amá-lo,
mamãe”.

Daí em diante, sempre convivi com o Mateus e estudei muito sobre autismo. Atualmente, sou
socióloga (UFRGS), especialista em Saúde Pública (FSP/USP) e estudante de Jornalismo (Unisinos).
Desde 2016, escrevo em um blog chamado “Eu Sou a Irmã do Mateus”, portal no qual compartilho
minhas vivências como irmã azul. Estudo, pesquiso, dou palestras e outros trabalhos voluntários em
prol dessa causa.

Acredito que quanto mais conhecimentos e informações acessíveis e de qualidade tivermos


sobre o tema, melhor poderemos lidar com ele e ajudar as famílias que tanto precisam. O jornalismo
tem um papel essencial neste processo e pode contribuir imensamente para a construção de um
mundo mais acessível, inclusivo, tolerante e livre de preconceitos.

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Sobre as Autoras

Gabriela Bandeira

Sou formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pelo Centro


Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (FAE) desde 2016 e pós-
graduada em Jornalismo Político. Meus estudos sobre autismo se iniciaram em
2012, quando minha mãe aceitou o emprego de babá de uma menina autista. Na época, comecei
a ler livros, artigos on-line e assistir a filmes com o propósito de ensinar a minha mãe aquilo que
achava pertinente sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Um ano mais tarde, quando ingressei na faculdade, percebi o quão escasso era o interesse
das mídias e da imprensa em geral em produzir um material verdadeiramente relevante e correto
sobre autismo. Foi então que decidi transformar o meu fascínio pelo tema em labor e escrever o
livrorreportagem “Singulares: Um Olhar sobre o Autismo” como trabalho de conclusão de curso. Em
julho de 2017, lancei a obra na minha cidade natal, Poços de Caldas (MG). Um mês depois, coloquei
no ar o site “Olhares do Autismo”, que traz notícias, entrevistas e materiais sobre diversos aspectos
do TEA.

Durante toda essa trajetória de quase sete anos, contribui para a causa por meio dos meus
projetos pessoais, que contam ainda com o documentário “Singulares” — lançado em junho de 2019
no Memorial da Inclusão, em São Paulo (SP) —, além de artigos para as revistas “Autismo” e “Ser
Autista”. Também me tornei redatora da “Academia do Autismo”.

Como jornalista à frente do projeto “Olhares do Autismo”, fui convidada diversas vezes a
ceder entrevistas sobre o tema e pude, de perto, perceber o despreparo de profissionais da área em
conduzir conversas e criar perguntas importantes sobre o assunto. Creio que, somente tendo esse
entendimento, será possível conscientizar verdadeiramente sobre autismo.

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Apresentacao
A publicação deste material visa a contribuir para produções de conteúdo e
reportagens jornalísticas que, de forma positiva, tragam mais relevância à causa
autista. O nosso principal objetivo é auxiliar profissionais da comunicação a
entenderem melhor o tema, além de demonstrarem mais sensibilidade e empatia ao
levar a público histórias e, principalmente, ao informar sobre o autismo.
Aqui, apresentamos o conceito de autismo, suas principais características e
singularidades.

Propomos também reflexões acerca do uso correto de termos para se referir a


essas pessoas e damos especialmente dicas e orientações de como tratar e abordar
aqueles com a condição que possuem linguagem verbal e seus familiares.

Como não poderíamos tratar de um tema tão específico sem buscar


representatividade, colhemos as opiniões de setenta pessoas no espectro autista
em relação a reportagens que envolvem o tema veiculadas na mídia. Todo o material
passou pela revisão de Tiago Abreu (autista e jornalista) e Willian Chimura (autista).

Dessa forma, esperamos que o conteúdo exposto neste e-book possa


contribuir para que jornalistas de todo o Brasil tenham delicadeza e zelo para publicar
reportagens realmente coerentes e com todo respeito e carinho que não só o autismo
como todos os autistas e suas famílias merecem.

Por isso, desejamos que o conteúdo deste e-book seja relevante para, acima de
tudo, trazer luz a um tema tão importante de ser compreendido e respeitado.

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Siglas e Abreviacoes

CID 10 - Classificação Internacional de Doenças 10ª edição

CID 11 - Classificação Internacional de Doenças 11ª edição

DSM V - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders


(Manual de Diagnóstico e Estatística para Distúrbios Mentais - 5ª edição)

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PIB - Produto Interno Bruto

PcD - Pessoa com Deficiência

TEA - Transtorno do Espectro do Autismo

OMS - Organização Mundial da Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

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Sumario

08 Papel do jornalismo

09 Autismo: uma breve definição

11 Dados sobre autismo no Brasil

12 Estudos independentes

13 Qual a nomenclatura correta: autista ou pessoa com autismo?

15 Metodologia de pesquisa

16 Análise das respostas

17 Entrevistando pessoas no espectro autista e famílias

21 Para não repetir

23 Faça como eles

26 Considerações finais

28 Extra

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Papel do jornalismo
A comunicação social, especialmente o jornalismo, tem um papel fundamental na construção
de uma sociedade plural e democrática, que não se limita a estereótipos e ao senso comum.
Segundo Reginato (2018), o jornalismo apresenta algumas finalidades específicas, compartilhadas
pelos seus três atores principais (veículos, jornalistas e leitores).

Assim, entre os quatro principais fins identificados pela autora, queremos destacar três:
1. Informar;
2. Verificar a veracidade das informações;
3. Esclarecer ao cidadão e apresentar a pluralidade da sociedade.

Para o nosso propósito aqui neste e-book, fica claro que o jornalismo tem o dever de:
1. Informar corretamente o que é o autismo e caracterizá-lo adequadamente;
2. Verificar as informações acerca do que é divulgado sobre a temática, a fim de combater os
mitos e inverdades sobre o tema, como a mentira de que vacina causa autismo ou que pessoas
autistas não são sociáveis ou não gostam de fazer amigos;
3. Esclarecer ao público que o autismo é uma condição neurobiológica, a qual possibilita outras
formas de viver e de estar no mundo.

Para além disso, outro propósito citado por Reginato (2018) é a finalidade de integrar e
mobilizar pessoas. Ao mostrar o autismo como ele realmente é, em suas diversas manifestações, o
jornalismo expõe essa realidade para pessoas que até então a desconheciam e também propicia que
outros se envolvam com essa causa tão nobre.

Desse modo, ao cumprir com essas finalidades, o jornalismo salienta um olhar mais inclusivo,
disposto a mostrar o outro “em toda a sua alteridade, sem reducionismos, nem estereótipos” (Lago,
2010). Portanto, é dever deste profissional ser ético, responsável e coerente para com todas as
pautas que assumir realizar, trazendo propósito ao trabalho por ele executado.

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Autismo: uma breve definição


O termo autismo foi utilizado pela primeira vez em 1908, quando o psiquiatra suíço Eugen
Bleuler descreveu um grupo de sintomas relacionado à esquizofrenia. Apenas em 1943, passou a ser
retratado como uma síndrome comportamental, após a publicação da obra “Distúrbios Autísticos do
Contato Afetivo”, do também psiquiatra Leo Kanner. Nela, são citadas onze crianças que tinham em
comum:

Isolamento extremo desde o início da vida e um desejo obsessivo pela


preservação da mesmice. Respondiam de maneira incomum ao ambiente,
incluíam maneirismos motores estereotipados, resistência à mudança ou
insistência na monotonia, assim como aspectos não usuais das habilidades
de comunicação, tais como a inversão de pronomes e a tendência ao eco na
linguagem – ecolalia. (Kanner, 1943, p. 170)

Durante os primeiros anos de estudo, chegou a ser considerada a hipótese de que o autismo
estava relacionado ao fenômeno chamado mãe-geladeira (Kanner, 1943). Essa conclusão foi possível
após o autor analisar mulheres tentando interagir e brincar com seus filhos autistas. Esse conceito
foi aprofundado durante anos pelo psicólogo Bruno Bettelheim, que afirmou em diversos artigos
escritos entre 1950 e 1960 que o autismo era causado pela frieza da mãe para com a criança.
Com o avanço da ciência, em especial da pesquisa genética, contudo, foi possível descartar essa
possibilidade.

Hoje, após diversos estudos acerca do assunto, alguns especialistas acreditam que o autismo
está ligado a várias mutações genéticas. De acordo com uma pesquisa de 2010, realizada em doze
países (incluindo o Reino Unido e a República da Irlanda), foram detectadas mudanças genéticas 20%
mais comuns em crianças autistas. No entanto, suas causas ainda são inconclusivas (The Telegraph,
2010).

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Inspirado na descrição do DSM-V, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) geralmente é


descrito em três graus: leve, médio e grave. Em sua forma mais branda, é conhecido como Síndrome
de Asperger, sobrenome do psiquiatra Hans Asperger, que observou o padrão de comportamento
e as habilidades de crianças autistas e descreveu deficiências sociais graves, tais como: “falta de
empatia, baixa capacidade de fazer amizades, conversação unilateral, intenso foco em um assunto
de interesse especial e movimentos descoordenados” (Asperger, 1944). O mesmo autor notou ainda
que, por outro lado, as crianças eram capazes de discorrer sobre um tema específico de maneira
detalhada.

Até os dias atuais, o autismo ainda é bastante desconhecido. Portanto, criar e educar crianças
autistas para que se tornem independentes é uma tarefa árdua — ainda mais com a dificuldade de
comunicação e intolerância da sociedade diante do incômodo causado pelas crises nervosas delas,
que podem ser recorrentes.

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1 DSM-V é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais elaborado pela Associação Americana de
Psiquiatria. É usado como referência para profissionais da área de saúde mental em diversos países.

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Dados sobre autismo no Brasil


A estimativa atual é de que existam pelo menos 2 milhões de pessoas com autismo no
Brasil. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) levam em consideração a perspectiva da
Organização das Nações Unidas (ONU) de que 1% da população mundial estaria no espectro.

Ainda assim, a escassez de estudos sobre o tema no país e os números desatualizados sobre
a real quantidade de diagnósticos de TEA nos municípios dificultam a criação de políticas públicas
para essas pessoas. Por esse motivo, uma forte pressão popular por parte de famílias e ativistas da
causa resultou na aprovação da inclusão de novos dados sobre autismo no Censo 2020 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A forma como essas informações serão analisadas ainda não foi divulgada pelo órgão, mas o
que se sabe é que o estudo, publicado a cada 10 anos, funciona por meio de duas etapas, sendo elas:

1. Questionário básico: investiga informações sobre características dos


domicílios (condição de ocupação, número de banheiros, existência de
sanitário, escoadouro do banheiro ou do sanitário, abastecimento de
água, destino do lixo, existência de energia elétrica, etc.), emigração
internacional, composição dos domicílios (número e lista de moradores,
responsabilidade compartilhada, identificação do responsável, relação de
parentesco com o responsável pelo domicílio, etc.); características dos
moradores (sexo e idade, cor ou raça, etnia e língua falada (no caso dos
indígenas), posse de registro de nascimento, alfabetização, rendimento
mensal, etc.) e mortalidade;
2. Investigação nos domicílios selecionados: esta é feita por meio do
Questionário da Amostra, que inclui, além dos quesitos presentes no
Questionário Básico, outros mais detalhados sobre características
do domicílio e das pessoas moradoras, bem como pontos dos temas
específicos, como deficiência, nupcialidade e fecundidade.

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Portanto, os dados a respeito do TEA fazem parte da segunda fase do censo, realizada em
casas selecionadas. Além disso, especialistas acreditam que só serão contemplados pelo estudo
aqueles que possuem laudo médico atestando o autismo.

Estudos independentes
De acordo com a edição nº 4 da Revista Autismo, até o presente momento dois estudos
independentes sobre autismo foram publicados no Brasil. O primeiro foi realizado em 2011, na
cidade de Atibaia (SP), e afirma que existe 1 autista a cada 367 crianças — no entanto, a publicação
reforça que baseou-se em um bairro com somente 20 mil habitantes.

A última pesquisa teve como cenário o município com o maior Produto Interno Bruto (PIB) do
país, São Paulo. Esta visava a definir uma faixa etária média para diagnósticos de autismo no Brasil e
encontrou a idade de 4 anos e 11 meses e meio, mas com variações bem grandes — o que significa
que mais estudos sobre o tema precisam ser realizados até que se chegue a uma conclusão.

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Qual a nomenclatura correta:


autista ou pessoa com autismo?
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, elaborada pela Organização
das Nações Unidas em 2006 e ratificada pelo Brasil em 2008, traz uma mudança conceitual sobre o
que é deficiência, passando do modelo biomédico para a concepção biopsicossocial. Desde então,
entende-se por pessoas com deficiência “aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”
(ONU, 2006).

É importante destacar que a nomenclatura também mudou a partir dessa nova noção.
Anteriormente, falava-se em “portador de deficiência” ou em “pessoa com necessidades especiais”
(PNE); entretanto, atualmente, ambas são consideradas incorretas.

A primeira, “portador de deficiência”, dá a ideia de que o indivíduo está carregando algo


consigo, mas que isso pode ser facilmente deixado de lado. Essa não é, porém, a realidade, haja vista
que dada deficiência vai acompanhá-lo durante muitos anos ou ao longo de toda a vida.
Já “pessoa com necessidades especiais”, apesar de colocar em destaque o termo “pessoa”, o
que significa um avanço, acaba utilizando um recurso no mínimo duvidoso, que é a expressão
“necessidades especiais”. Por que isso? Ora, as necessidades de todas as pessoas são especiais, cada
uma com suas particularidades. Afinal, existe alguém exatamente igual ao outro? Portanto, a noção
de “necessidades especiais” segrega a pessoa da vida em sociedade, pois ela tem necessidades que
não se encaixam nas de outros indivíduos.

Assim, quando se fala em Transtorno do Espectro Autista (TEA), seguindo as determinações


da Convenção do Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, podem ser utilizadas as expressões:

Pessoa com Autismo | Pessoa com TEA | Autista

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Assim sendo, garante-se ao indivíduo, antes mesmo da constatação de sua deficiência, o


reconhecimento da sua condição humana, dotada, portanto, de direitos.

Para refletir
A escolha pela expressão a ser utilizada depende muito da sensibilidade
do jornalista em perceber qual é o termo preferido pela pessoa com
autismo ou pelos familiares. No entanto, há algumas considerações:

#1: muitos dos autistas que são militantes gostam de ser chamados
assim mesmo: autistas. Não “pessoa com autismo” ou “pessoa que tem
autismo”. Simples assim: autista. É muito importante essa autoafirmação,
pois o termo não é algo pejorativo, carregado de estigmas e preconceitos.
Pelo contrário, para esses jovens, é uma autodefinição, que explica quem
eles são e o que constitui seu jeito de ser e estar no mundo;

#2: existem muito autistas que não apresentam a compreensão


necessária para se autodefinirem. São jovens com autismo moderado e
severo, muitas vezes não-verbais, que não conseguem expressar a forma
como a condição autista impacta as suas vidas. Para eles, é preferível
utilizar a expressão “pessoa com autismo”, pois quem está de fora não
deve adotar o autismo como algo definidor na vida de ninguém.

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Metodologia de pesquisa
A fim de verificar o impacto que reportagens sobre autismo — sejam elas coerentes ou com
fatos e informações inverídicas ou insuficientes – podem ter na comunidade do TEA, este estudo
aplicou um questionário em pessoas com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo.

Com 12 questões ao todo, o documento pretendia recolher informações que pudessem


ser relevantes para profissionais da comunicação social, especialmente jornalistas, ao produzirem
reportagens envolvendo o tema. Alguns dos tópicos abordados na pesquisa foram:
• Frequência com que o entrevistado se inteirava sobre notícias referentes ao autismo;
• Nível de satisfação com as reportagens que recorrentemente encontrava nos veículos de
comunicação;
• Principais erros/contradições encontradas nessas reportagens;
• Exemplos de reportagens que chamaram atenção por terem sido bem produzidas/escritas;
• Se o entrevistado já foi personagem ou consultor de um profissional do jornalismo para alguma
reportagem sobre o tema;
• Caso já tenha participado, se gostou da forma como o jornalista conduziu a entrevista e o porquê;
• Principais cuidados que jornalistas devem tomar ao entrevistar e produzir reportagens que
abordem o autismo ou que envolvam diretamente pessoas no espectro autista ou familiares;
• Considerações finais sobre o tema.

Ao todo, foram coletadas 70 respostas. A faixa etária dos entrevistados varia de 11 a 60 anos.

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Análise das respostas


– Frequência
Entre aqueles que responderam o questionário, 59,7% afirmaram acompanhar reportagens sobre
autismo (seja na TV, rádio, Internet ou mídia impressa) mais de uma vez por semana; 13,4% não têm
costume de acompanhar esse tipo de reportagem; 11,9% o fazem apenas raramente; 6% uma vez ao
mês; 3% responderam que buscam notícias sobre autismo todos os dias; 1,5% o faz sempre; e 4,5%
não souberam ou não responderam.

– Satisfação
51,5% dos entrevistados respondeu que seu nível de satisfação com as reportagens sobre autismo é
médio; 29,4% declarou baixo nível de satisfação em relação a elas; 11,8% respondeu “extremamente
baixo”; e apenas 7,4% declarou ter alto nível de satisfação com as reportagens que abordam TEA nos
veículos de comunicação.

– Erros
Quando questionados se comumente encontram erros nesse tipo de reportagem, 85,3%
responderam que sim, contra 14,7% que teve uma resposta negativa.

– Entrevistados
20,6% daqueles que responderam o questionário dizem já ter sido entrevistados por um jornalista
para uma reportagem sobre autismo. Destes, 27,8% afirma não ter gostado da forma como o
jornalista conduziu a entrevista.

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Entrevistando pessoas
no espectro autista e famílias

Para muitos jornalistas, a entrevista é o primeiro passo de uma reportagem bem-sucedida. É


por meio das respostas dos personagens que o texto, vídeo ou mesmo matéria de rádio começam a
ser construídos.

Embora cada tema por si só demande certo estudo e pesquisa antes do agendamento
das entrevistas, precisamos ter um cuidado ainda maior quando tratamos de um tema ainda tão
desconhecido — e, consequentemente, mistificado — como o autismo.

Chegar para entrevistar uma família ou mesmo uma pessoa no espectro com a ideia fixa de
que todo autista é um gênio ou que eles vivem em um universo próprio e não querem socializar com
as demais pessoas vai fazer com que seu trabalho seja ineficiente e criticado por quem entende do
assunto.

Procurando entender melhor quais condutas são inapropriadas e quais são consideradas
corretas nessa etapa do processo, reservamos um espaço do questionário para que as pessoas no
espectro autista que já foram entrevistados por jornalistas em outras ocasiões pudessem emitir
sua opinião sobre a experiência. Diante disso, classificamos esses comentários como bons e maus
exemplos.

Bons exemplos:
- Pesquise sobre o tema: ainda que de maneira superficial, faça uma pesquisa em fontes seguras
sobre o tema em momento anterior ao da entrevista. Se tiver alguma dúvida, pergunte ao
entrevistado se ele pode lhe explicar melhor sobre o tópico antes que publique a reportagem.

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- Explique o passo a passo: é comum que pessoas no espectro do autismo tenham dificuldades com
quebras de rotinas e sintam prazer em seguir padrões. Por isso, começar explicando qual é o passo a
passo da produção da sua reportagem é uma excelente ideia para tranquilizar o entrevistado.

- Preocupação com o ambiente: quando se está no espectro autista, os estímulos, principalmente os


visuais e os sonoros, podem se tornar um problema. Tendo ciência disso, preocupe-se em escolher o
local mais adequado para realizar a entrevista. Se tiver dúvidas, peça ajuda ao seu entrevistado ou à
família dele.

- Compreenda se ele não quiser fazer contato visual: algumas pessoas no espectro autista —
neurotípicos também — têm dificuldade em fazer contato visual. Isso ocorre por uma série de
motivos que varia de indivíduo para indivíduo. Portanto, se seu entrevistado desviar o olhar para
outro objeto ou canto enquanto responde as perguntas, respeite essa decisão, não o force a encarar
você.

- Evite tocar o entrevistado o tempo todo: assim como ocorre com o contato visual, é comum que
autistas se comportem de maneira diferente quanto ao toque. Claro que isso pode acontecer com
qualquer pessoa, mas, na dúvida, sempre pergunte se pode abraçá-lo, dar um beijo no seu rosto ou
tocá-lo.

- Faça perguntas objetivas: também é usual que autistas entendam tudo na literalidade, ou seja,
não conseguem compreender bem as figuras de linguagem, como metáforas, e se sentem perdidos
quando se deparam com uma questão que pode ter mais de uma interpretação. Por esse motivo,
garanta que suas perguntas sejam as mais objetivas possível.

- Tenha paciência: o entrevistado pode não compreender sua pergunta num primeiro momento e
pedir para repeti-la ou mesmo se perder nos próprios pensamentos enquanto formula uma resposta.

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Seja qual for o motivo, tenha paciência e sempre tranquilize-o nesses momentos. Essa conduta fará
toda a diferença no decorrer da entrevista.

- Não edite as falas do entrevistado: essa conduta deve ser seguida não somente em reportagens
sobre autismo, mas em todos os seus trabalhos na carreira jornalística. Editar a fala do entrevistado,
ainda que tenha como intenção trazer mais sentido e clareza ao leitor, é um desrespeito e falta de
ética para com ele. Além disso, existem, nesses casos, diversos recursos que podem ser utilizados.

- Saiba agir se o entrevistado tiver uma crise: é preciso estar preparado até para situações mais
extremas, como o fato do seu entrevistado ter uma crise durante a conversa. Se isso acontecer,
mantenha a calma e convide-o para um local mais calmo. Se for necessário, interrompa a entrevista
e remarque. É importante também tentar identificar se algo que disse ou fez pode ter gerado aquele
gatilho, para evitar que se repita.

Maus exemplos:
- Classificar o autismo como doença: o TEA não é uma doença, por isso os termos corretos para se
referir a ele são transtorno ou condição.

- Não usar as definições do DSM V: o DSM V é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais da Associação Americana de Psiquiatria. O documento, junto à CID (Classificação
Internacional de Doenças), é um dos mais importantes de orientação sobre o espectro do autismo. É
ele que define, por exemplo, as nomenclaturas.

- Reforçar mitos e estigmas: o autismo ainda é desconhecido para a maioria das pessoas. Por isso,
reforçar estigmas como o do autista-gênio, de que vacina causa autismo, entre outros, só ajuda a
disseminar informação falsa sobre o tema, prejudicando quem convive com pessoas no espectro.

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- Falar sobre cura para o autismo: até o momento, o TEA não tem cura, mas tem tratamento.
Divulgar métodos e remédios como possível cura para a condição é irresponsabilidade e crime.

- Falar de um grau como se representasse todo o espectro: é comum que as reportagens foquem
apenas em um grau de autismo (normalmente, o severo ou o leve). Fazer isso pode dar a quem tem
pouco contato com o autismo a ideia de que todo autista é e age daquela forma. Portanto, mesmo
que seu personagem esteja em um grau específico, lembre-se de fazer citações aos outros graus,
mostrando a amplitude do espectro autista.

- Divulgar informações sem base científica: muitos estudos já foram feitos ao redor do mundo sobre
autismo, mas a maioria ainda é inconclusiva. Algumas das informações mais disseminadas sobre o
tema, são, na verdade, falsas. Por isso, todo cuidado é pouco na hora de selecionar as informações
que podem ajudá-lo a criar as perguntas ou mesmo escrever sua reportagem.

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Para não repetir


Ainda que a mídia tenha se preocupado cada vez mais em abordar o autismo e suas diversas
faces em reportagens sobre o tema, muitos jornalistas ainda cometem deslizes ao falar sobre TEA. A
seguir, separamos alguns exemplos destas reportagens, tomando o cuidado de não divulgar qual
veículo de comunicação foi responsável pela produção.

Exemplos:

Exemplo 1
Trecho da reportagem

“Quantas crianças têm autismo? O número exato de crianças com autismo


é desconhecido. Um relatório publicado pelos Centros de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA sugere que o autismo e seus distúrbios
relacionados são muito mais comuns do que se imagina. Não está claro se
isso se deve a um aumento na taxa da doença ou à maior capacidade de
diagnóstico do problema.”

Fonte: https://www.minhavida.com.br/saude/temas/autismo.

O erro: o autismo não é mais considerado doença, mas, sim, um transtorno


do desenvolvimento, que pode ser trabalhado, reabilitado, modificado
e tratado para poder se adequar ao convívio social e às atividades
acadêmicas.

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Exemplo 2
Título e linha final

“Estudante da UFCG vence autismo , se destaca e é promessa na


Meteorologia do mundo.”

“Jovem é portador da síndrome de Asperger e se destaca pela inteligência e


superação.”

Fonte: https://portalcorreio.com.br/estudante-da-ufcg-vence-autismo-se-
destaca-e-promessa-na-meteorologia-do-mundo/.

O erro: ao usar expressões como “vencer o autismo”, o jornalista comete uma


gafe que muitas pessoas no espectro detestam: a de recorrer ao viés
capacitista, a fim de explicar que “apesar de ter o transtorno, aquele
sujeito foi capaz de realizar tal ato”. O que não é bom para nenhum dos
lados, pois:
1. Pais de autistas severos passam a ser questionados por quem não
entende do tema sobre o porquê dos filhos também não conseguirem
as mesmas conquistas;
2. Pessoas com autismo leve passam a ser tratados como neurotípicos
e podem ter suas limitações ignoradas.
Além disso, a linha fina da reportagem ainda usa a expressão errônea
“portador de síndrome de Asperger” para se referir ao personagem,
porém o termo correto seria “pessoa com síndrome de Asperger”, afinal
esta é uma condição que a acompanha por toda a vida e não algo que
ela pode portar ou não em determinado momento.

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Faça como eles


A mídia brasileira também tem excelentes exemplos de como abordar o autismo em
reportagens. Selecionamos trechos de cinco matérias veiculadas nos jornais mais influentes das
cinco regiões do país com o objetivo de mostrar como o uso adequado das palavras e termos, além
de uma abordagem positiva, são essenciais quando se trata desse tema.

Jornal Zero Hora (Sul)

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2019/05/falso medicamento-para-


autismo-tem-anuncios-retirados-da-internet cjv6xj415005v01pee3qly386.html.

Desmistificando o Autismo: Um Manual para Jornalistas 23


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Folha (Sudeste)

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/01/autismo-o-jovem-com-
transtorno-que-desafiou-diagnosticos-e-se-formou-em-medicina.shtml.

Jornal Correio Brasiliense (Centro-Oeste)

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2017/10/15/interna_r
evista_correio,633480/as-particularidades-do-autismo.shtml.

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Diario de Pernambuco (Nordeste)

Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2019/04/03/i
nterna_vidaurbana,782805/escolas-discutem-autismo-no-dia-mundial-da-conscientizacao.
shtml

O Liberal (Norte)

Fonte: https://www.oliberal.com/belem/jovens-autistas-quebram-barreiras-e-chegamao-
ensino-superior-1.108333

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Considerações finais
Esperamos que este material possa ser útil e servir como orientação para profissionais
da comunicação social, especialmente jornalistas, ao produzirem pautas e reportagens sobre o
Transtorno do Espectro Autista.

Tendo em vista a amplitude do tema, seria impossível sanar todas as dúvidas em um único
e-book. No entanto, cremos que as informações e as considerações aqui expostas, tanto as
nossas próprias, enquanto atuantes na causa, quanto as de famílias e pessoas no espectro, são
suficientes para que o material por vocês produzido seja, a partir de agora, o mais coerente possível,
desmistificando alguns mitos e melhor conscientizando a sociedade
a respeito de um tema tão importante e necessário como o autismo.

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Referências bibliográficas
ALLEYNE, Richard. Dozens of genetic mutations linked to autism in children discovered . The
Telegraph. [S.I.] 2010. Disponível em: https://www.telegraph.co.uk/news/health/news/7814775/
Dozens-of-genetic-mutations-linked-to-autism-in-children-discovered.html . Acesso em: 05 nov.
2019.

ASPERGER, Hans. Die “Autistischen Psychopathen” in kindesalter. Archiv für psychiatrie und
nervenkrankheiten , v. 117, n. 1, p.76-136, 1944.

KANNER, Leo et al. Autistic disturbances of affective contact. Nervous child, v. 2, n.3, p.217-250,
1943.

LAGO, Cláudia. Ensinamentos antropológicos: a possibilidade de apreensão do Outro no jornalismo.


Brazilian Journalism Research , vol. 6, n. 1, p.156-170, 2010.

REGINATO, Gisele. As finalidades do jornalismo : o que dizem veículos, jornalistas e leitores. Tese
(Doutorado em Comunicação e Informação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação e
Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.

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Extra
Mesmo com o material apresentado, abordar o TEA de maneira coerente ainda pode ser uma
tarefa difícil. Por isso, separamos os temas que mais causam dúvidas — seja em profissionais da área
do jornalismo ou na população em geral — e escrevemos uma rápida explicação para cada um
deles.

Acreditamos que, com base nestas informações e em todo conteúdo deste e-book, você será
capaz de produzir uma reportagem que ajude a conscientizar sobre o tema e será bem-sucedido na
missão de informar.

1. Tríade do autismo
Para diagnosticar o autismo, muitos especialistas tomam como base uma tríade de
dificuldades composta por: dificuldade de comunicação, dificuldade de socialização e dificuldade
no uso da imaginação. Esses três elementos foram assim classificados pela psiquiatra Lorna Wing e
seguem sendo considerados até hoje.

No entanto, vale reforçar que o diagnóstico de autismo só é possível por meio de uma
equipe multidisciplinar (que inclui, entre outros profissionais, psicólogo, fonoaudiólogo, psiquiatra
e neurologista) que faça um acompanhamento daquele indivíduo para, então, classificá-lo no
TEA.

Atualmente, especialistas também usam a expressão díade do autismo, que seriam as


dificuldades na comunicação e comportamentos restritos e repetitivos.

2. Para levar em consideração


— Causas do autismo: o porquê de uma pessoa nascer com autismo ainda é um mistério para
os especialistas que estudam o tema. No entanto, o que se sabe até agora é que o TEA pode se
desenvolver em razão de fatores genéticos (90%) ou ambientais (10%).

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— Cada pessoa com autismo é diferente: assim como acontece com todos nós, cada pessoa
no espectro autista é única; portanto, devemos sempre respeitar suas diferenças e dificuldades.
Escrever de forma generalizada é um erro que deve ser sempre evitado.

3. Alguns mitos do autismo (e a verdade sobre eles)


— O autismo é resultado da frieza das mães: há muito tempo atrás, psiquiatras disseminaram
a informação de que o autismo poderia ser causado pela maneira fria e rígida com que as mães —
que passavam mais tempo com as crianças — tratavam os próprios filhos. Mesmo sem fundamento
nenhum, a ideia se espalhou rapidamente e, ainda hoje, é possível se deparar com pessoas que
creem nessa informação.

— Vacina causa autismo: outro mito ainda disseminado é o de que a vacinação, especialmente
a tríplice viral, estaria associada ao autismo. Isso acontece, principalmente, por um falso estudo
divulgado na revista The Lancet, em 1990.

Vale ressaltar que o médico responsável pela pesquisa, Andrew Wakefield, foi acusado por
um parceiro de ter usado dados falsos e perdeu seu registro profissional. Em 2010, a própria revista
publicou uma retratação desqualificando totalmente o estudo anteriormente divulgado.

Ainda hoje, contudo, muitas pessoas, inclusive famílias de autistas, continuam acreditando
na informação. Muitos pais relatam que os filhos tinham um desenvolvimento típico e, depois da
vacinação, passaram a agir de forma diferente. A explicação é simples: no autismo regressivo, os
sintomas aparecem depois de 1 ano de idade — daí a confusão.

— Todo autista possui uma espécie de genialidade: esse mito é um dos mais famosos
do autismo — e foi ainda mais reforçado com o filme “Rain Man”, de 1980. Nele, o personagem
Raymond, diagnosticado com autismo, tem dificuldades para socializar e realizar tarefas
aparentemente simples, como atravessar a rua.

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No entanto, é capaz de decorar todos os números de uma lista telefônica e dizer quantos
palitos de dentes têm em uma caixa sem precisar contá-los. O que o filme não deixa claro é que o
personagem também tem síndrome de Savant (distúrbio psíquico no qual a pessoa possui grande
habilidade intelectual, aliada a um déficit de atenção).

Na vida real, dizemos que pessoas com autismo têm, na verdade, hiperfoco. Ou seja,
sempre que se interessam por um tema específico, tendem a estudá-lo a fundo para se tornarem
“especialistas” naquele assunto. Esse hiperfoco pode ser em mais de um tema e pode mudar ao
longo da vida.

4. Síndrome de Asperger
Em 1944, o psiquiatra austríaco Hans Asperger tornou pública as observações de duzentas
crianças por ele tratadas e que apresentavam as mesmas características: “falta de empatia, baixa
capacidade de fazer amizades, conversação unilateral, intenso foco em um assunto de interesse
especial e movimentos descoordenados” (Asperger, 1944). Seu trabalho só ficou conhecido
anos mais tarde, quando a psiquiatra Lorna Wing incluiu 31 novos casos ao estudo e o publicou,
nomeando a condição de síndrome de Asperger.

Tanto o DSM-V quanto o CID 11 deixaram de usar o termo para classificá-lo como
autismo leve. Ainda assim, o nome ainda continua sendo usado, especialmente por pessoas assim
diagnosticadas.

5. Estereotipias ou stims
Balançar as pernas, enrolar o cabelo, girar objetos e estalar os dedos constantemente são
alguns dos comportamentos considerados estereotipados. Outros, como o hand flapping (ato de
balançar as mãos continuamente na altura dos ombros), já são bastante comuns em pessoas
diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, normalmente, aparecem desde que eles
são bebês.

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Segundo especialistas, neurotípicos também podem ter esse comportamento — muitas vezes
sem perceber que estão, de fato, estereotipando. Isso normalmente ocorre em situações de estresse,
nos quais a repetição de um mesmo movimento de forma contínua pode ajudá-los a se regular, se
organizar ou mesmo se acalmar.

Com autistas acontece o mesmo: movimentar-se os ajuda a se acalmar durante crises ou até
mesmo em situações em que não se sentem confortáveis.

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Para ler:
Autismo: não espere, aja logo (Paiva Junior)

Manual do Autismo (Gustavo Teixeira)

Menina Aspie (Michelle Malab)

Meu menino vadio (Luiz Fernando Vianna)

Mundo Singular (Ana Beatriz Barbosa Silva)

O cérebro autista (Temple Grandin)

O que me faz pular (Naoki Higashida)

Outra sintonia: a história do autismo (Caren Zucker, John Donvan)

Transtorno do Espectro Autista: uma brevíssima introdução (Lucelmo Lacerda)

Para assistir:
Asperger’s are us (2016) Tão forte, tão perto (2011)

Atypical (2017-presente) Temple Grandin (2010)

Autism: the musical (2007) The Good Doctor (2018-presente)

Farol das orcas (2016) Touch (2012-2013)

Missão especial (2004) Tudo que quero (2018)

Ocean Heaven (2010)

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Para pesquisar:
Lagarta Vira Pupa

Mayra Gaiato

Mundo Asperger

Mundo da Mi

Revista Autismo

Para assistir rapidamente:


Academia do Autismo

Aspie Aventura

Ben Oliveira

Diário de um autista

Introvertendo

Kenya Diehl

Otávio Show

Um Canal Sobre Autismo

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Entre em contato
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