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INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
1 O BEM IMÓVEL E SEUS REGISTROS ......................................................... 4
1.1 A matrícula do imóvel ..................................................................................... 4
1.2 O cartório onde o imóvel deve estar registrado .............................................. 7
1.3 Como e quando o comprador passa a ser o dono do imóvel ......................... 7
2 DO CONDOMÍNIO GERAL AO CONDOMÍNIO EDILÍCIO OU EM
EDIFICAÇÕES ............................................................................................. 19
3 CONDOMÍNIO VOLUNTÁRIO, CONDOMÍNIO NECESSÁRIO E
CONDOMÍNIO EDILÍCIO .............................................................................. 22
4 CONCEITO E CONSTITUIÇÃO DE CONDOMÍNIO ..................................... 24
4.1 Documentos necessários para a constituição .............................................. 27
5 “CONDOMÍNIO IRREGULAR” ...................................................................... 28
6 O IMÓVEL QUE SE ENCONTRA DIVIDIDO EM PARTES IDEAIS.............. 35
7 IMÓVEIS SEM REGISTRO .......................................................................... 36
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 43
INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
Bons estudos!
1 O BEM IMÓVEL E SEUS REGISTROS
4
ATENÇÃO:
Serão abertas distintas matrículas para cada fração de multipropriedade. Isso cria
uma estridente exceção para o princípio de que há uma (e apenas uma) matrícula
para cada imóvel. Essa exceção é constitucional e está devidamente prevista em lei.
Assim, para o imóvel objeto de multipropriedade, além da “matrículamãe” (matrícula
original do imóvel objeto da multipropriedade), “haverá uma matrícula para cada
fração de tempo, na qual se registrarão e averbarão os atos referentes à respectiva
fração de tempo” (§ 10 do art. 176 da LRP).
Por essa razão, a matrícula representa o “assento de nascimento do imóvel” ou
a “carteira de identidade do imóvel”, tendo em vista que ela identifica o imóvel.
Nessa folha, toda a história do imóvel é contada através de sucessivos registros
e anotações. Dessa forma será possível saber a quem pertence o imóvel, quantas
vezes o imóvel foi hipotecado, etc.
Essa é, indubitavelmente, a maior conveniência do sistema atual em relação
ao sistema anterior: na folha de matrícula consta todos os registros relativos ao imóvel.
A consulta se torna mais prática e o registro mais seguro.
Toda matrícula possuirá um número e iniciará com a caracterização do imóvel.
Exemplo: “UM TERRENO, sem benfeitorias, situado na Rua das Palmeiras nº 225,
antigamente chamada de Rua do Cemitério, medindo 25 metros de frente. (...)”.
Deve consistir na matrícula, o nome de quem era o proprietário, no momento
que a matrícula foi aberta.
Caso haja uma construção no terreno, essa construção poderá estar descrita
na parte inicial da matrícula ou pode haver uma averbação dessa construção em
algum registro posterior dessa mesma matrícula.
As informações que constam na matrícula podem ser acessadas por meio da
obtenção e leitura do certificado de registro (referido como “certificado de título” ou
“certificado de taxa”). Para isso, basta solicitar uma certidão no Cartório de Registro
de Imóveis. Qualquer pessoa pode solicitar a certidão referente a qualquer imóvel.
(SILVA, 2021).
Foi regulamentado o Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (SREI) pelo
Provimento CNJ nº 89, de 18-12-2019, com o objetivo de proporcionar o acesso a
todas as matrículas de imóveis registradas nos vários cartórios do Brasil por meio
eletrônico. Esse sistema eletrônico de obtenção de certidões se encontra
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disponibilizado para imóveis constantes em diversos Estados e o acesso se dá através
do site <https://www.registrodeimoveis.org.br/>.
Ao ler os registros com a descrição do imóvel, você poderá ver se o
proprietário, que apareceu na descrição ou no início da matrícula, continua
aparecendo como proprietário do imóvel ou não.
Se tiver acontecido uma venda e o registro tiver sido efetuado pelo comprador
no Cartório de Registro de Imóveis, o registo dessa venda constará na matrícula, por
baixo da descrição do imóvel. Irão constar “R1”, “R2”, na sequência cronológica dos
registros efetuados.
No entanto, a partir desse simples postulado (venda de imóvel e registro de
venda em cartório), podem surgir diversas problemáticas.
Idealmente, para cada imóvel só pode haver umka matrícula. Porém em
determinadas hipóteses em que o que as pessoas identificam como um imóvel,
porém, sob a perspectiva jurídica se trata de dois (ou mais) imóveis. Exemplo disso:
um sítio, devidamente murado ou cercado na totalidade de sua extensão. É comum
imaginar que conste apenas uma matrícula para este sítio. Mas pode haver mais de
uma matrícula, cada uma abrangendo certa parte do sítio. Embora não evidente para
todos, a existência de uma matrícula para cada parte de um sítio significa que,
legalmente, há mais de uma propriedade. (SILVA, 2021).
Em contraste, é legalmente possível ter um único imóvel registrado, mas ser
dividido ou disperso entre muitas pessoas. Como no caso da propriedade dividida em
partes ideais e o denominado a chamada “condomínio irregular”.
Ademais, podem haver erros na realizados pelos cartórios de registro de
registro de imóveis ou outros profissionais envolvidos com imóveis de técnica registral.
(SILVA, 2021).
Exemplos:
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Silva (2021) complementa: A matrícula é o cerne do registro imobiliário e,
portanto, da propriedade imóvel e da sua segurança jurídica.
A qual título a norma se refere? Título se trata do documento que a lei considera
hábil para, ao se proceder com o registro no cartório imobiliário, concretizar a
transferência do bem imóvel. Como regra geral, a compra e venda desse bem se dá
por meio de uma escritura pública.
Qualquer cartório de notas (tabelionato) pode produzir a Escritura pública,
através de um agente público, que é a pessoa que possui as devidas autorizações
concedidas pelo Poder Público para exercer essa função, ou em um consulado
brasileiro no exterior (art. 221, I, da Lei nº 6.015/73). Porém o instrumento particular,
é elaborado por qualquer pessoa que não possua essa função pública. (SILVA, 2021).
Há ainda algumas hipóteses que aquisição da propriedade do imóvel pode
ocorrer através do registro de um instrumento particular permitidas pela legislação.
Vejamos, algumas dessas hipóteses de forma sucinta:
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Contrato celebrado no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação, a teor
do art. 61, § 5º, da Lei nº 4.380, de 21-8-1964, incluído pela Lei nº 5.049,
de 29-6-1966;
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Aquisição de imóvel por meio de consórcio regido pela Lei nº 11.795, de 8-
10-2008 (art. 45, parágrafo único). A Lei não diz, mas é razoável entender
que essa possibilidade de utilização do instrumento particular somente se
aplica na hipótese em que há aquisição de imóvel previamente especificado
(art. 12) feita pela administradora de consórcios (art. 5º), e não na hipótese
em que o consorciado obtém uma carta de crédito e adquire imóvel de sua
escolha (arts. 14, 22 e 24).
A causa do negócio jurídico (se é uma compra e venda, uma doação, uma
permuta etc.).
Descrever o imóvel, pois é com base nesse título que será feito o registro,
razão pela qual ele deve ser perfeito, sob pena de o Oficial recusar o
registro. Para que se registre o título, sua descrição deverá ser coincidente
com a existente no registro de imóveis, a teor do art. 225 da Lei nº 6.015/73.
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continuidade dos registros de imóveis. Portanto, a propriedade do vendedor deve
estar devidamente registrada para que o comprador possa registrar a sua. A aplicação
do princípio da continuidade destina-se a impedir que qualquer pessoa, antes do
registo do terreno, que não seja o proprietário, venda o imóvel. No entanto, existem
exceções ao princípio da continuidade (por exemplo, usucapião). (SILVA, 2021).
De toda forma, não é inédito casos no qual o cartório de registro de imóveis,
por erro, efetua o registro de um título sem o cumprimento do art. 195 da Lei nº
6.015/73. Esse registro, ainda que não esteja de acordo com o art. 195, possuirá plena
eficácia devido o que se encontra expresso no art. 252 da Lei nº 6.015/73, até que
seja formalmente cancelado por meio de averbação (arts. 248, 249 e 250 da Lei nº
6.015/73). Esse cancelamento deverá ocorrer:
Cédulas de identidade;
CPF;
Certidões de casamento dos contraentes;
Certidão de propriedade do imóvel, expedida pelo Cartório competente,
com menos de 30 (trinta) dias entre o dia da expedição e o da lavratura.
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documento enviado pela prefeitura referente ao IPTU ou ITR para efeito de apuração
da base de cálculo desses tributos.
Silva (2021), na escritura pública deve ser inserido o valor verdadeiro do
negócio. Em hipótese alguma o comprador (nem o vendedor) deve se atrair pela ilícita
possibilidade de apresentar na escritura pública um preço inferior ao verdadeiro com
a finalidade de pagar menos ITBI ou emolumentos, por várias razões, entre as quais
destaca-se:
2. um vendedor de má-fé poderá alegar que o negócio foi viciado por lesão e
pedir sua anulação ou a “complementação” do preço que constou na escritura
e o valor de mercado do imóvel, de acordo com o art. 157 do Código Civil;
5. poderá o baixo valor ser usado como elemento para demonstrar que houve
conluio entre o vendedor e comprador nos casos de fraude contra credores e
fraude à execução; e
O art. 490 do Código Civil aduz que as despesas da escritura ficarão a cargo
do comprador, no caso de não haver um acordo entre as partes sobre quem ficará
responsável por essas despesas.
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Conforme o art. 47, I, da Lei nº 8.212/91 expressa, na hipótese do vendedor ser
uma pessoa jurídica, deverá ser apresentada a CND (Certidão Negativa de Débito).
Também será necessário a apresentação da CND no caso do vendedor ser uma
pessoa física que possua empregados, conforme disposto no art. 15, parágrafo único,
da Lei nº 8.212/91. (SILVA, 2021).
Silva (2021) ressalta que na escritura pública deverão constar além da
assinatura do tabelião que a tiver lavrado, também serão necessárias as assinaturas
das partes, do (s) vendedor (es), comprador (es) e respectivos cônjuges, bem.
Contudo, especialmente a partir do primeiro semestre de 2020, em razão da
pandemia decorrente do novo coronavírus (Covid-19), as possibilidades de utilização
de meios eletrônicos ou virtuais para atos notariais e registrais se intensificaram.
Portanto, é necessário fazer uma rápida digressão a respeito da lavratura de
escritura sem as assinaturas e presenças físicas dos compradores e vendedores
perante o tabelião. Vamos tratar de normas permanentes e de normas transitórias.
A lei pode estabelecer requisitos formais para que certos atos sejam válidos ou
eficazes. Vimos que o contrato de compra e venda de imóvel depende, em regra geral,
de instrumento público (escritura pública). Vimos também exceções a essa regra
geral, de modo que instrumentos particulares serão hábeis para formalizar a compra
de venda de um imóvel. Nessas duas situações (escritura pública e instrumento
particular), a forma verbal não é válida. (SILVA, 2021).
Se a lei não impuser determinada forma (ex., contrato por escrito), a forma será
livre. Assim, pode existir um contrato verbal (ex., transporte urbano por meio de ônibus
ou táxi). Isso não se confunde com a prova do contrato: por isso, muitas vezes,
contratos que poderiam ser feitos verbalmente (“no fio do bigode”) são efetuados por
escrito. Os contratantes desejam ter uma prova da existência e das cláusulas do
contrato, razão pela qual ele é feito por escrito.
Veremos ao longo deste livro alguns atos que precisam ser feitos por escritos
para serem válidos ou eficazes.
A lei também pode exigir que o contrato seja feito por escrito e assinado pelos
contratantes para ser válido ou eficaz. A despeito do art. 3º da Lei nº 13.726, de 8-10-
2018, o reconhecimento da assinatura pode ser legalmente exigível para a prática de
determinados atos. Pode a lei exigir que o reconhecimento da firma (assinatura) seja
feito por autenticidade e não apenas por semelhança.
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Tabeliães e notários são dotados de fé pública. Teoricamente, a assinatura
(física) de uma pessoa em um instrumento por ele lavrado poderia ser dispensada.
Paralelamente, o art. 10 da Medida Provisória nº 2.200-2, de 24-8- 2001, já havia
estabelecido a validade das declarações constantes dos documentos em forma
eletrônica produzidos na forma que especifica.
Assim, com o advento do Provimento CNJ nº 95, de 1º-4-2020, foi permitido,
inicialmente em caráter temporário, a lavratura de escrituras públicas sem a presença
física das partes perante o tabelião, de acordo com seu “prudente critério, e sob sua
responsabilidade”. Essa norma não afirmou explicitamente se seria possível a
lavratura de escritura pública por videoconferência ou meio similar. Houve
regulamentação da questão por algumas normas estaduais.
A questão foi solucionada pelo Provimento CNJ nº 100, de 26-5-2020, que
permitiu e regulamentou como poderia a videoconferência ser utilizada.
Um instrumento utilizado pelos tabeliães é o e-notariado, <https://www.e-
notariado.org.br/ >. Houve regulamentação desse instrumento por normas estaduais,
inclusive restringindo o direito de livre escolha do tabelião pelas partes previsto no art.
8º da Lei nº 8.935, de 18 -11-1994. Em seguida, o Provimento CNJ nº 100/2020 tornou
o uso do e-notariado, com as regras trazidas por esse Provimento, obrigatório para a
prática de atos sem presença física das partes perante o tabelião. (SILVA, 2021).
Um mecanismo interessante para identificação das partes, por meio da Carteira
Nacional de Habilitação (CNH), foi o datavalid
<https://www.loja.serpro.gov.br/datavalid/>. Problemas com falsificação de
documentos sempre existiram e com as novas tecnologias tendem a aumentar. Por
isso, os tabeliães devem tomar todos os cuidados necessários.
Em tese, é até possível ao tabelião aceitar certificação eletrônica fora do âmbito
da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), a teor do art. 1º, § 5º, do
Provimento CNJ nº 95/2020, que alude ao § 2º da art. 10 da MP nº 2.200-2/2001-2,
desde que realizada por meios “operados e regulados pelo Colégio Notarial do Brasil
– Conselho Federal”, a teor do art. 9º, § 5º, do Provimento CNJ nº 100/2020. Na
prática, é mais seguro para o tabelião apenas aceitar assinatura digital no âmbito da
ICP-Brasil (§ 1º do art. 10 da MP nº 2.200-2/2001-2), não em razão do art. 38 da Lei
nº 11.977, de 7-7-2009, mas por simples cautela. Além disso, o art. 36 do Provimento
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CNJ nº 100/2020 veda a “prática de atos notariais eletrônicos ou remotos com
recepção de assinaturas eletrônicas a distância sem a utilização do e-Notariado”.
Há diferenças entre assinatura eletrônica e assinatura digital, conceitos de
token, geolocalização, senha etc. Toda essa matéria é importante, mas extravasa o
objeto deste livro. Pode ser interessante consultar a literatura especializada e
profissionais da área de tecnologia da informação (TI), lembrando que nem sempre a
linguagem leiga corresponde à linguagem utilizada por profissionais de TI, que, por
sua vez, pode não corresponder à linguagem utilizada em textos legais.
Em linhas gerais, essa era a situação existente em 2020 durante a pandemia
da Covid-19, com regras permanentes e transitórias. (SILVA, 2021).
Voltemos, então, ao assunto desta seção: lavratura da escritura pública de
compra e venda e seu devido registro no cartório de registro de imóveis.
O registro da escritura pública (ou do instrumento particular, nas hipóteses
permitidas pela lei) deve ocorrer no cartório imobiliário em que o imóvel estiver
vinculado. Portanto, Deve ser apresentada a escritura pública original, não podendo
ser utilizada a fotocópia autenticada para registro. De acordo com os termos dos
Provimentos CNJ nº 94, de 28-3-2020, e nº 95, de 1º-4-2020, pode ser efetuado o
registro da escritura por meio eletrônico.
Uma vez que esta escritura seja registrada no registro de imóveis, os
emolumentos e taxas serão cobrados de acordo com o valor venal do imóvel, além do
ITBI - Imposto sobre Transmissão de Imóveis (também denominado como "SISA"),
se não pago no momento da lavratura da escritura.
Somente após o registro, a propriedade do imóvel é transferida do vendedor
para o comprador. Conforme o 1.245 do Código Civil expressa, apenas a assinatura
de um contrato ou acordo verbal com o vendedor não é suficiente para que o
comprador se torne proprietário. (SILVA, 2021).
Nesse sentido, caso o comprador deixe de registrar a escritura pública,
justamente porque o vendedor continua sendo o proprietário, seus credores podem
exigir que o imóvel seja penhorado e leiloado para quitar a dívida. Alternativamente, o
vendedor que permanece proprietário pode revender o imóvel a outra pessoa,
concedendo-lhe outra escritura de compra e venda.
Para que possa ocorrer o registro da escritura referente ao imóvel que estiver
situado na zona rural, deverá ser apresentada certidão negativa do ITR – Imposto
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Territorial Rural – dos últimos cinco anos (art. 21 da Lei nº 9.393/96), bem como do
Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (art. 22 da Lei nº4.947/66), referente ao
Cadastro de Imóveis Rurais (Lei nº 5.868/72).
O registro do título no cartório imobiliário é ato constitutivo do direito de
propriedade.
Ainda nos casops de sucessão, usucapião, acessão, bem como
desapropriação, onde a propriedade é obtida por ato diverso do registro (condenação,
morte, posse prolongada), o registro é necessário, pois representa proteção contra
atos de alienação por terceiros que estão de má-fé. Sempre será o registro que
fornecerá a segurança.
É muito corriqueiro as pessoas acreditarem serem “donas” de um imóvel pelo
simples fato de terem pagado determinada quantia ao proprietário e receberam algum
tipo de recibo ou contrato deles. Com efeito, essas pessoas possuem um direito
(obrigacional) contra o proprietário, uma vez que pagaram o preço, podem até ser os
donos, mas não são os donos do imóvel. (SILVA, 2021).
Daí o famoso brocardo: quem não registra não é dono.
A propriedade é um direito absoluto, no sentido de que alguém “é” ou “não é”
proprietário. Isso não significa que não possa existir copropriedade nem que o direito
à propriedade seja ilimitado: ao revés, além da função social da propriedade (art. 5º,
XXIII, da Constituição Federal), há uma série de restrições à utilização do imóvel e até
mesmo quanto à não utilização.
Proprietário do imóvel é aquele que registra seu título. Se o comprador pagar o
preço, mas não registrar seu título, não será proprietário até que o faça.
Por essa razão, uma vez que o comprador esteja de posse de título apto a ser
registrado, aconselha-se a fazê-lo imediatamente.
No que se refere ao registro de escrituras (ou instrumento particular
equiparado) por meio eletrônico, vide o Provimento CNJ nº 94, em especial o art. 4º,
e o Decreto nº 10.278, de 18-3-2020. Há centrais estaduais criadas por associações
de registradores em todos os Estados do Brasil, algumas já em funcionamento (ex.: <
https://www.crimg.com.br/ >), outras em desenvolvimento.
Muitos tabeliães efetuam o registro do título para o comprador, deve ser
conferido por você se esse serviço é feito pelo cartório em que você lavrar a escritura.
Nesses casos, o tabelião encaminha esse título registrado com uma certidão do
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imóvel ao comprador. Se o comprador não receber a certidão, deve verificar se o
registo foi efetuado, caso contrário não obterá o título do imóvel.
Finalmente, a compra de imóveis pode ser ad corpus ou ad mensuram:
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possíveis discussões, é importante que o comprador faça a medição do imóvel a ser
adquirido. Em qualquer caso, será benéfico para o comprador constar no título que o
negócio foi realizado ad mensuram. (SILVA, 2021).
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Rizzardo (2021) aduz que alguns princípios dominam o condomínio.
Em primeiro lugar, na modificação ou transferência de prosse, do uso ou gozo
é estritamente proibida sem o consentimento de outros co-proprietários. Não é uma
questão de alienação, que pressupõe o oferecimento do direito de preferência. É o
que o parágrafo único do artigo 1.314 afirma: “Nenhum dos condôminos pode alterar
a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o
consenso dos outros.”
Em segundo lugar, surge com a obrigação de prioridade para outros cotitulares,
no caso de alienação do quinhão, e sendo indivisível a coisa comum. É o que se
encontra expresso no artigo 504 do Código Civil:
Apartamentos;
Escritórios;
Salas;
Lojas; e
Sobrelojas,
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ao condomínio desde que haja expressa autorização na convenção de condomínio.
(RIZZARDO, 2021).
É de relevante destaque, em terceiro lugar, o caráter de transitoriedade do
condomínio, tendo em vista que o artigo 1.320 assegura o direito de sua extinção: “A
todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o
quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão. ” Diversas regras acerca
do assunto, estão previstas do artigo acima ao artigo 1.322, havendo destaque sobre:
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Não mais desejando o condômino manter a indivisibilidade, e não revelando os
demais consortes interesses na aquisição de sua quota-parte, o artigo 1.322 do
Código Civil autoriza o caminho da alienação de coisa comum, que se fará por meio
de procedimento judicial ditado pelo artigo 730 do CPC/2015 (Lei n. 13.105, de
16.03.2015), que manda aplicar o procedimento dos artigos 879 a 903.
Na comunhão de coisa divisível, cada consorte ocupará a porção de sua
titularidade, mas com a concordância de todos para a localização. Não alcançado o
consenso no uso e fruição da quota, a solução será a divisão, mediante ação própria,
prevista nos artigos 588 e seguintes do CPC, ou a venda de coisa comum.
(RIZZARDO, 2021).
Sem dúvida, neste tipo de condomínio inclui-se o edilício, ou o formado em
imóveis através de frações ideais sobre o terreno conjugadas com as unidades
construídas, ao lado de partes comuns, do uso e fruição de todos os condôminos, mas
que recebe tratamento legal específico. Esse condomínio é objeto do presente estudo.
Já o condomínio necessário, também conhecido como forçado ou obrigatório,
decorre de disposições legais, sendo insuscetível de divisão. São exemplos desta
espécie as paredes, as cercas, os muros e as valas, cabendo a cada proprietário a
metade da coisa comum, e aplicando-se a disciplina estabelecida para o condomínio
em geral, e mais particularmente as regras sobre os limites entre prédios, sobre o
direito de tapagem e sobre o direito de construir, segundo o artigo 1.327 do Código
Civil: “O condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas regula-se pelo
disposto neste Código (arts. 1.297 e 1.298; arts. 1.304 a 1.307).”
Decorrendo de lei, tem o proprietário o direito a constituir o condomínio em tais
bens, se proprietário, conforme deflui do artigo 1.328 do mesmo diploma: “O
proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, valas
ou valados, tê-lo-á igualmente a adquirir meação na parede, muro, valado, ou cerca
do vizinho, embolsando-lhe metade do que atualmente valer a obra e o terreno por ela
ocupado (art. 1.297). ” (RIZZARDO, 2021).
O direito a estremar, na dicção do referido artigo 1.297 do código civil, se dá
em favor do proprietário que faz divisa com o vizinho, com a divisão dos custos:
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Fornece o artigo 1.332 do Código Civil os modos admitidos de constituição de
condomínio edilício:
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Dá-se a criação também por testamento, quando os herdeiros são
contemplados com apartamentos, cuja partilha se faz com o inventário ou
arrolamento.
Finalmente, não se pode desconhecer a formação decorrente de sentença, em
ação de divisão. (RIZZARDO, 2021).
Código Civil, art. 1.332; Lei n. 4.591/1964, arts. 1º ao 8º; Lei n. 6.015/1973,
art. 167, I, n. 17.
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I – memorial descritivo com as especificações da obra e individualização das
unidades autônomas;
§ 1º Quando a obra tiver sido executada por empresa, deverá ser também
exigida a respectiva certidão negativa de débitos para com a Receita Federal.
5 “CONDOMÍNIO IRREGULAR”
Por outro lado, existe uma crescente demanda por habitação. A população
aumenta (“crescei e multiplicai-vos”), o que importa em maior procura por
casas para novas famílias. O povo precisa de habitação.
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ser muito baixo, caso contrário o negócio é ruim para o comprador sob o aspecto
econômico. (SILVA, 2021).
Caso se esteja avaliando a aquisição de lote em condomínio irregular, é
fundamental saber o que está sendo, juridicamente, adquirido.
O vendedor é o proprietário?
A venda é de parte ideal do terreno, por meio de escritura pública, ou
mediante simples cessão de direitos por instrumento particular?
Esse instrumento particular poderá ser registrado?
Há litígio no tocante a essa propriedade?
O vendedor é apenas posseiro?
Existe lei local vedando a transferência da posse do imóvel?
Quem é o proprietário?
O vendedor nem mesmo é posseiro (colocou uma faixa e diz que está
vendendo lotes)?
A área pertence ao poder público (note-se que, em tese, não existe
possibilidade de usucapião de terras públicas)?
O loteamento está em Área de Proteção Ambiental?
Há ações na justiça para impedir as construções?
Já existem muitas casas no loteamento?
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podem servir como prova de posse, conforme o caso), mas não garantem que, no
futuro, o Poder Público não irá optar pela desocupação da área. (SILVA, 2021).
Um dado interessante que, embora seja fático, tende a influir no jurídico. As
pessoas têm, comumente, afirmado que apenas “casas de pobre” são demolidas
quando construídas em lotes irregulares. Sem pretender discutir a veracidade dessa
informação, seria muita hipocrisia negar que o poder econômico pode ter influência
na regularização de loteamentos irregulares. Disso não se conclua, porém, que há
plena garantia de que casas de classe média e alta possam ser livremente construídas
à margem da lei: há precedentes de derrubadas de construções irregulares de classe
média alta.
A organização e mobilização popular nas ocupações podem, em certos casos,
impedir ou retardar a desocupação forçada da área, porém a situação é insegura e
varia muito em cada caso: são notórios os casos de dramáticas desocupações
violentas, com forte aparato policial, realizadas por ordem judicial. (SILVA, 2021).
Embora nos termos da lei possa o comprador que adquiriu lote em condomínio
irregular pedir seu dinheiro de volta (o negócio é nulo, em razão da ilicitude, art. 166,
II, do Código Civil, combinado com o art. 37, da Lei nº6.766/79), em certos casos, na
prática, isso poderá ser demorado ou mesmo inviável. Sabemos da morosidade da
Justiça, que ocorre em razão de uma desproporcional quantidade de processos em
relação a um número pequeno de juízes, funcionários, instalações etc. Além disso, o
vendedor “pode” simplesmente desaparecer, sem deixar bens que respondam por sua
obrigação.
É preciso, assim, muita ponderação. Por razões óbvias, não é aconselhável a
aquisição de lote em condomínio irregular. (SILVA, 2021).
Caso se decida pela aquisição de lote em condomínio irregular, deve-se ter a
plena consciência de que não irá adquirir a propriedade do imóvel. Na melhor das
hipóteses, o comprador irá adquirir uma posse. Vide seções 1.14 e 2.36 para maiores
informações a respeito do que seja posse.
Portanto, o comprador deve saber que poderá até obter a propriedade do
imóvel no futuro, mas também poderá vir a ser retirado do local (com ou sem
indenização, conforme o caso).
Caso se opte, assim mesmo, pela aquisição de lote ou casa em “condomínio
irregular”, o primeiro passo é verificar se a pessoa que o oferece à venda é realmente
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possuidor do imóvel. Isso pode ser verificado por meio de contas de água, luz e
telefone em nome do vendedor e com o endereço do imóvel. Outros documentos, tais
como certidões e registros em cartórios de títulos e documentos, não constituem,
evidentemente, prova de propriedade, mas podem ser hábeis para a prova da posse,
conforme o caso. É preciso verificar qual a natureza dessa posse, se haverá
possibilidade de aquisição da propriedade por usucapião, se o proprietário está
movendo alguma ação contra o possuidor etc. Deve o comprador celebrar contrato
com o posseiro-vendedor com firma reconhecida (preferencialmente por autenticidade
e não por simples semelhança). É fundamental guardar todos esses documentos, para
que o comprador possa provar que adquiriu a posse de alguém que tinha a posse.
Evidentemente, deverá tomar todas as demais cautelas, como se estivesse adquirindo
a propriedade do imóvel. Essas cautelas não garantem a permanência do adquirente
no imóvel, mas melhoram a sua situação jurídica.
Teoricamente, não há possibilidade de usucapião em imóveis de propriedade
do Poder Público, assim como a jurisprudência tem entendido que, nesse caso, não
há nem mesmo direito de posse, mas a simples detenção física. Conforme o caso,
poderá o ocupante até mesmo ser retirado do local sem direito a indenização.
Aspecto fundamental é quanto ao período de tempo em que o vendedor está
na posse do imóvel: quanto maior, melhor. Deve-se também verificar o grau de
organização e estabilidade do condomínio e da documentação de posse do vendedor,
para que se possa prever se o Judiciário irá conceder proteção possessória, caso o
comprador necessite. Pode ser difícil, às vezes, a prova dos limites territoriais da
posse, especialmente em zonas rurais. (SILVA, 2021).
Também é interessante observar o que dispõem as normas locais a respeito
da prestação de serviços públicos, bem como o que vem ocorrendo na prática.
Quando não há fornecimento de água, a solução que tem sido encontrada nesses
casos é a construção de poços artesianos. Normalmente, há serviços de transporte
público atendendo os condomínios irregulares, até porque, especialmente no tocante
aos loteamentos de renda mais baixa, a existência de serviço público de ônibus é
requisito para a viabilidade econômica da venda de lotes. Silva (2021, p. 450-451)
ressalta:
É claro que a solução para esse problema não é simples: se fosse fácil, alguém
já teria feito. Mas a situação deveria ter algum tipo de solução, seja pelo abrandamento
das exigências legais (até mesmo ambientais, conforme o caso), seja pela
desocupação forçada de áreas habitadas nos locais em que não puder ocorrer a
regularização: dubiedade é que não poderia existir.
Há quem já tenha sustentado, inclusive, que deveria ser criada lei para tornar
crime a aquisição de lote em condomínio irregular. Caso isso ocorresse,
provavelmente a oferta e o valor dos lotes em condomínios irregulares iria se reduzir
sensivelmente. Por outro lado, em um país com graves problemas habitacionais, punir
criminalmente uma pessoa que não teve dinheiro para comprar um lote em um
condomínio regular parece ser algo nem um pouco razoável. Talvez a melhor solução
política seja uma opção intermediária, para se punir criminalmente adquirentes de
lotes apenas em situações específicas, sem criminalizar a pessoa de parcos recursos
que adquire um lote para ela mesma morar.
O grande problema dos condomínios irregulares para os compradores,
portanto, é a insegurança jurídica de construir e viver em um terreno do qual não se é
proprietário, pois não se sabe o que poderá acontecer no dia seguinte. (SILVA, 2021).
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6 O IMÓVEL QUE SE ENCONTRA DIVIDIDO EM PARTES IDEAIS
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a
estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem
não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para
si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias,
sob pena de decadência.
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7 IMÓVEIS SEM REGISTRO
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transmite a propriedade do imóvel. É o que dispõe a Lei de Registros Públicos (Lei nº
6.015/73):
“Art. 195. Se o imóvel não estiver matriculado ou registrado em nome do
outorgante, o oficial exigirá a prévia matrícula e o registro do título anterior, qualquer
que seja a sua natureza, para manter a continuidade do registro. ”
O problema surge quando o título anterior não pode ser registrado, exatamente
porque ele depende da existência do registro do título a ele anterior, que também não
tem registro e não pode ser registrado, nos termos da lei anterior, porque dependia de
registro prévio e assim por diante.
Para entender o problema, bem como encontrar a melhor solução, é preciso
analisar como surgiu o sistema de registro imobiliário no Brasil. Afinal de contas, a
propriedade imobiliária existe em decorrência de um reconhecimento por parte da
ordem jurídica, que variou ao longo dos séculos de existência deste território hoje
chamado de Brasil: é preciso entender como esse processo funcionou, inclusive para
efeito de verificação, nos dias de hoje, da legitimidade da propriedade eventualmente
pleiteada. (SILVA, 2021).
A questão não é impertinente: muitas vezes será preciso voltar muito no tempo
para se verificar a validade dos títulos de posse ou propriedade. Isso ganha maior
relevo quando se tem em mente que até o advento do Código Civil de 1916 era
possível, em certos casos, usucapião de bens públicos (Súmula nº 340 do STF).
O processo de apropriação de terras no Brasil, baseado na usurpação de terras
indígenas, começou antes de existir um sistema moderno de registro de propriedade.
Durante largo período, a Coroa Portuguesa concedia terras pelo sistema de sesmarias
(até 1822) ou por outro tipo de concessão, impondo alguns deveres ao sesmeiro ou
concessionário, bem como ocorria a simples ocupação de terras por particulares, fato
que continua existindo até nos dias de hoje (muitas vezes por meio de invasões ou
usurpações). Os registros eram precários ou inexistentes, mesmo nos casos de
sesmarias ou concessões oficiais, com incertezas e inseguranças jurídicas.
Com o advento da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850 (Lei de Terras), o
Império tentou regular a posse de imóveis, até então baseada na ocupação, concedida
ou não. O art. 4º da Lei de Terras revalidou, desde que houvesse efetiva ocupação
com ao menos um início de atividade econômica, as sesmarias ou concessões que,
teoricamente, teriam sido perdidas em razão do descumprimento das condições
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inicialmente exigidas. O art. 5º legitimava as posses decorrentes de simples ocupação
que, sob determinadas condições, estivessem sendo cultivadas. Os arts. 7º e 8º
estabeleciam que as terras adquiridas por posses, sesmarias ou outras concessões
deveriam ser demarcadas, sob pena de perda de tudo aquilo que não estivesse sendo
economicamente utilizado, que passariam a constituir terras devolutas. A Lei de
Terras pretendia regularizar a ocupação irregular – objetivo que não foi cumprido,
como se percebe até nos dias de hoje – mediante processo de legitimação das
posses, além de viabilizar a venda de terras devolutas. (SILVA, 2021).
O regulamento da Lei de Terras (Decreto nº 1.318, de 30-1-1854) previa o modo
pelo qual seria feito o registro das terras demarcadas: mediante declaração
apresentada ao vigário da paróquia onde o imóvel estivesse situado, sem que isso
gerasse, por si só, qualquer direito. Contudo, ainda que não concedesse a
propriedade, a declaração, caso admitida, iria compor o arquivo geral das terras objeto
de posse reconhecida pelo Império. Os objetivos almejados não foram atingidos: os
registros, quando feitos, eram por demais imprecisos e precários, sem definir na maior
parte dos casos quais os limites de cada ocupação territorial.
A Lei nº 1.237, de 24-7-1864, estabeleceu que os contratos de compra e venda
ou doação de imóveis passíveis de hipoteca somente surtiriam efeitos contra terceiros
depois de efetuada a transcrição no Registro Geral, por parte de tabeliães criados ou
designados pelo Decreto nº 482, de 14-11-1846. Tratava-se de uma tentativa de
regularizar e dar um mínimo de segurança jurídica à propriedade imobiliária, de modo
que ela poderia servir de garantia a operações creditícias. Embora com limitações,
essa Lei deu início ao registro imobiliário. (SILVA, 2021).
O sistema foi aperfeiçoado com o advento do Decreto nº 18.542, de 24-12-
1928, que regulamentou o registro imobiliário previsto no Código Civil de 1916. O
referido Decreto assim dispunha:
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A partir de então, foi adotado o princípio da continuidade: somente poderiam
ser registradas aquisições de imóveis que já estivessem registrados. Mas havia uma
exceção: o registro não dependia de prévio registro do título anterior que não estivesse
obrigado a registro segundo o direito vigente à época do ato, “visando a ressalva
atender precisamente a que, no direito precodificado, não estavam sujeitos ao registro
as transmissões causa mortis e os atos judiciais”.
O princípio da continuidade foi repetido por diversos diplomas legais nesses
termos até o advento da Lei de Registros Públicos atualmente em vigor (Lei nº
6.015/73), quando o princípio da continuidade foi positivado de forma absoluta:
Art. 237. Ainda que o imóvel esteja matriculado, não se fará registro que
dependa da apresentação de título anterior, a fim de que se preserve a
continuidade do registro.”
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imóvel usucapiendo pode, ou não, estar registrado anteriormente”, pois, para imóveis
não registrados, não é logicamente possível apresentação de certidão de registro
imobiliário, que deveria ser dispensada.
Há precedentes no sentido de que lote em condomínio irregular não pode ser
objeto de usucapião, inclusive por força da área maior não estar devidamente
registrada. Contudo, ainda não há decisão definitiva do STJ a respeito dessa questão,
pendente de julgamento em sede de recurso repetitivo (Tema nº 1.025).
Há emblemático precedente no sentido de que pode existir usucapião de
parcela de terreno em violação à legislação de ordenamento territorial urbano
(legislação municipal), caso o imóvel maior esteja registrado. Para imóveis rurais,
existe entendimento no sentido de que “É possível adquirir a propriedade de área
menor do que o módulo rural estabelecido para a região, por meio da usucapião
especial rural”.
Com o CPC/2015, ficou mais forte a posição que defende a desnecessidade do
prévio registro. É possível sustentar que nesse caso deve ser citado por edital a
pessoa desconhecida, que seria um eventual proprietário anterior do imóvel. Diz o
CPC/2015: “Art. 256. A citação por edital será feita: I ‒ quando desconhecido ou
incerto o citando; (...).”
Assim, uma possível saída para o problema é ajuizar uma ação de usucapião
contra pessoa desconhecida, que deverá ser citada por edital.
É recomendável pedir a citação do Estado (ou da União). Há entendimento no
sentido de que a inexistência de registro imobiliário não cria presunção de que o
imóvel constitui terra devoluta. Esse entendimento nos leva a uma situação curiosa:
em tese, bens públicos não são passíveis de usucapião. Na prática, se o Judiciário
afirmar que o bem não é público, a usucapião é possível. Para fins de concurso
público, deve-se afirmar que não é possível usucapir bens públicos (art. 183, § 3º, da
Constituição Federal). Na prática, isso dependerá do que for decidido judicialmente
quanto à natureza do bem, se público ou privado. Obviamente, afirmar que é privado
um imóvel que é público nada mais é que uma burla à norma constitucional que proíbe
a usucapião de bens públicos. (SILVA, 2021).
É interessante tentar obter uma certidão do cartório imobiliário, afirmando que
o imóvel não está registrado. Obviamente, a certidão expedida pelo cartório será
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baseada na descrição que o requerente fornecer e possivelmente haverá uma
ressalva de que o imóvel pode existir em algum registro com outra descrição.
A jurisprudência deverá dirimir a questão do cabimento da ação judicial de
usucapião de imóveis sem registro, de modo a cessar as dúvidas que existiam na
época do CPC/1973.
Outro problema é o art. 226 da Lei nº 6.015/73, que assim dispõe: “Art. 226.
Tratando-se de usucapião, os requisitos da matrícula devem constar do mandado
judicial. ”
Qual o alcance desse dispositivo? Uma interpretação, que considero
equivocada, seria no sentido de que o dispositivo se refere aos dados, inclusive
número, da matrícula já aberta. Isso inviabilizaria por completo a possibilidade de
registro de imóvel sem prévia matrícula ou transcrição e criaria uma situação absurda:
a pessoa teria direito à propriedade do imóvel, mas não ao registro. A outra
possibilidade de interpretação, que considero a adequada, é no sentido de que o
mandado expedido pelo juiz deve conter todos os dados necessários para que o
registrador de imóveis possa, se for necessário, abrir matrícula para o imóvel sem
registro. (SILVA, 2021).
Todas essas situações, porém, podem ser extremamente complexas e
demoradas, com resultados imprevisíveis. Por isso, recomenda-se com a maior
ênfase que o comprador condicione o negócio à prévia regularização do imóvel por
parte do vendedor. Caso contrário, o comprador poderá pagar o preço do imóvel e
não obter ou passar anos sem obter a propriedade do imóvel, ficando apenas com a
posse do imóvel (situação que poderá ser mais ou menos segura, dependendo do
caso concreto).
Pode haver abertura de matrícula nas hipóteses dos arts. 195-A e 195-B da Lei
nº 6.015/73, em redação dada pela Lei nº 13.465/2017. Nos casos de constituição ou
regularização de aforamento em terreno de marinha, caso já não exista matrícula
aberta, poderá ser aberta matrícula para o novo aforamento. (SILVA, 2021).
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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