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Integração sensorial de Jean

Ayres
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A maior parte da população é familiar aos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e
paladar. Entretanto, poucos entendem dos outros dois sistemas sensoriais: vestibular e
proprioceptivo (BRACK, 2004). O sistema vestibular é responsável pela sensação de
movimento e posicionamento da cabeça e do corpo. Já́ o sistema proprioceptivo permite
reconhecer o corpo no espaço-tempo, sua posição e orientação, a força exercida pelos
músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais (TROMBLY;
RADOMSKI, 2005).

Por meio da integração desses sistemas que captamos as informações do meio (seja
externo ou interno), as processamos e interpretamos (MOLLERI et. al., 2010).

A Integração Sensorial no Sistema Nervoso Central


Segundo a teoria Luriana, o cérebro funciona como um sistema totalizador que opera
várias unidades funcionais consideradas como subsistemas (MATTOS, 2016).

Para Luria, o cérebro é composto de múltiplas estruturas funcionais, que estão


sistematicamente integradas em três grandes unidades fundamentais. Elas participam de
todo tipo de atividade mental, quer no movimento voluntário, na elaboração práxica e
psicomotora, quer na produção da linguagem falada ou escrita (MATTOS, 2016).

De acordo com Mattos (2016), Luria descreveu três unidades cerebrais funcionais:

1ª unidade funcional – responsável pela regulação do tônus cortical, equilíbrio,


coordenação, funções vitais e pela função de vigilância.

Função: regulação do tônus cortical, do tônus postural e dos estados de alerta.

Estruturas e Localização: tronco cerebral, diencéfalo e as regiões médias do córtex.

Fenômeno cognitivo pelo qual é responsável: atenção:

o estar alerta é importante para qualquer atividade humana;


a atenção seletiva não está presente durante o sono.

A 1ª unidade funcional está em atividade desde antes do nascimento, desempenhando


participação decisiva durante o parto e durante os processos iniciais de maturação
motora.

2ª unidade funcional – responsável por obter, captar, processar e armazenar


informações vindas do mundo exterior.

Função: captação, recepção, análise (codificação e processamento) e armazenamento


das informações.

Estruturas e Localização: nas regiões posteriores e laterais no neocórtex (região


occipital (áreas 17, 18 e 19 de Brodmann) – análise visual; região temporal superior (áreas
41,42 e 22 Br) – análise auditiva e região pós-central parietal (áreas 3,1 e 2 Br) analisador
tátil e cinestésico – ligado ao movimento, ao motor), isto é, as regiões do córtex que

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contêm as zonas responsáveis pela recepção dos órgãos sensoriais.

Fenômeno cognitivo pelo qual é responsável: sensação/percepção e memória.

A 2ª unidade funcional só trabalha plenamente após o nascimento estabelecendo


importante papel nas relações entre o organismo e o meio (espaço intracorporal e
extracorporal).

3ª unidade funcional – responsável pela programação, regulação, além da


verificação das atividades mentais e motoras.

Função: a organização da atividade motora consciente, ou seja, a programação, a


regulação e a verificação desse tipo de atividade.

Estruturas e Localização: nas regiões anteriores do córtex, a frente do sulco central


(áreas pré-motoras, motoras e lobo frontal), região denominada de lobos frontais.

Fenômeno cognitivo pelo qual é responsável: ação.

A 3ª unidade funcional depende das duas primeiras e é responsável, como já vimos pelas
ações voluntárias, que só serão realizadas mais tarde.

Integração Sensorial
A integração sensorial é um processo neurológico que organiza as sensações do próprio
corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do corpo no ambiente”
(AYRES, 1972).

O processo de integração sensorial acontece em 5 está gios (WILLIAMSON; ANALZONE,


2001):

Primeiro: Registro sensorial - é o reconhecimento da sensação;


Segundo: Orientação e atenção - é a atenção seletiva especı́fica ao estı́mulo;
Terceiro: Interpretação - é o significado da sensação. Este componente é cognitivo
uma vez que interpretamos a sensação à luz da experiê ncia e aprendizados
anteriores, alé m de atribuirmos cará ter emocional à s sensações;
Quarto: Organização da resposta - organizada cognitiva, afetiva e motoramente;
Quinto: Execução da reposta - o ú ltimo está gio da integração sensorial e o ú nico que
pode ser diretamente observado. Isso traz fundamentos para se pensar nos
comportamentos resultantes dos processos de integração sensorial e nas bases
sensoriais da autorregulação.

A Disfunção da Integração Sensorial (DIS) é a inabilidade em interpretar as informações


trazidas pelos sentidos e preparar uma resposta adequada, sendo um distúrbio do Sistema
Nervoso Central (SNC). A DIS pode se apresentar através de dois grandes campos,
individual ou conjuntamente: modulação e dispraxia (RYAN; SLADYK, 2005).

Define-se como praxia a habilidade de executar uma tarefa motora incluindo a ideação, o
planejamento e a execução (RYAN; SLADYK, 2005). Para ter uma dispraxia de integração

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sensorial é preciso que haja dé ficits no processamento de uma ou mais modalidades
sensoriais. Dispraxias podem ser reconhecidas por apresentar dé ficits da integração
bilateral e de sequenciamento: como o pró prio nome diz, os indivı́duos com esta condição
podem apresentar dificuldades em usar os dois lados de seu corpo de maneira
coordenada. O sequenciamento se refere à capacidade antecipada de planejar sequê ncias
de movimentos. Tem sua base no fraco processamento dos estı́mulos vestibulares,
proprioceptivos e visuais (BUNDY, 2002).

A habilidade de lidar e organizar reações à s sensações de maneira adequada e adaptativa


é a modulação sensorial. Este processo ocorre tanto a nı́vel neurofisioló gico quanto a nível
comportamental, sendo melhor explicado como um limiar para o input sensorial
(MCINTOSH, 1999). Dependendo de como o sistema processa a informação, os indivı́duos
podem apresentar hipo ou hiperresponsividade à sensação. Um indivı́duo que é
hiporresponsivo apresenta falhas na reação aos estı́mulos, suas respostas sã o lentas e
para esses indivı́duos é preciso trabalhar muito o input sensorial para que um limiar de
excitabilidade seja atingido e gere uma resposta comportamental.

Indivíduos que sã o hiperresponsivos aos inputs sensoriais reagem de maneira rápida e
forte, e em geral, negativamente aos estı́mulos por terem baixo limiar de excitabilidade
(LANE; MILLER; HANFT, 2000).

Avaliação e Tratamento Sensorial


O objetivo da avaliação sensorial é detectar um componente sensorial que esteja
interferindo significativamente no desempenho motor, social, emocional ou cognitivo da
criança (MAGALHÃES, 1995).

Para a avaliação podem ser utilizados testes como:

Estesiometrô;
Discriminação de dois pontos;
Estereognosia.

O objetivo do tratamento é aumentar a habilidade da criança para interagir com o


ambiente, produzindo uma resposta adequada, com os seguintes princípios básicos:

Participação ativa no tratamento;


Atividades dirigidas pela criança;
Tratamento individualizado;
Buscar a via sensorial adequada;
Aumento gradativo da complexidade da atividade;
Ajuste das atividades – desafio do tamanho certo;
Monitoramento constante dos níveis de alerta e reações do Sistema Nervoso
Autônomo.

Os materiais utilizados na terapia sã o os mais diversos. Variam entre os que fornecem
estı́mulos tá teis, proprioceptivos, auditivos, olfató rios e vestibulares. Os equipamentos
utilizados na terapia podem variar desde equipamentos de solo (colchõ es de ar, bolas

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suı́ca
̧ s, pranchas de equilı́brio, espumas, rolos, rampas, de- graus, trampolins);
equipamentos suspensos (rolos, escadas, balanços, cordas, redes), equipamentos com
rodas (carrinhos e triciclos) e equipamentos variados (areia, espuma, bolas de sabã o,
pesos, tecidos, elá sticos, etc) (MOLLERI, et. al., 2010).

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Referências
AYRES, A. J. Sensory Integration and Learning Disorders. Los Angeles, WPS, 1972.

BRACK, J. C. Learn to move, move to learn: sensorimotor early childhood activity


themes. Autism Asperger; 2004.

BUNDY, A. C. Sensory integration: theory and practice. FA Davis; 2002.

LANE, S. J.; MILLER, L. J.; HANFT, B. E. Towards a consensus in terminology in sensory


integration theory and practice. Sensory Integration Special Interests Section
Quarterly, v. 23, p. 1-3, 2000.

MAGALHÃES, L. C. Integração Sensorial: uma abordagem específica da terapia


ocupacional. Intervenções da terapia ocupacional - 1ª ed. UFMG, 2008.

MATTOS, V. Psicomotricidade. 1ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

MCINTOSH, D. M. Overview of the short sensory profile. Psychological Corporation;


1999.

MOLLERI, N et al. Aspectos relevantes da integração sensorial: organização cerebral,


distú rbios e tratamento. Neurociê ncias, v. 6, n. 3, 2010.

RYAN, S. E.; SLADYK, K. Ryan’s Occupational Therapy Assistant: Principles, Practice


Issues, and Techniques. Slack; 2005.

TROMBLY, C. A.; RADOMSKI, M. V. Terapia ocupacional para as disfunções físicas. 5


ed. Sã o Paulo: Santos; 2005.

WILLIAMSON, G. G.; ANALZONE, M. E. Sensory integration and self-regulation in


infants and toddlers: helping very young children interact with their environment. Zero
to Three; 2001.

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