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Fernando Martins Ferreira - 21850630

Ingrid Martins de Oliveira - 22050762


João Lucas Gomes Aguiar - 22052388

ESTUDO DE MERCADO DE CARNE BOVINA NO


BRASIL E NO MUNDO

Manaus
2023

1
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Panorama da produção de carne bovina no mundo


( milhões de toneladas métricas). 7

Tabela 2 - Panorama da exportação de carne bovina no mundo (milhões de


toneladas métricas). 9

Tabela 3 - Importações de carne bovina no mundo


(milhões de toneladas métricas) 10

Tabela 4 - Consumo global de carne bovina (milhões de toneladas métricas) 12

Tabela 5 - Ranking de consumo per capita de carne bovina 13

Tabela 6 - Consumo mundial de carne bovina, em mil toneladas em equivalente


carcaça, de 2010 a 2021 17

Tabela 7 -Origem e destino das exportações de carne bovina nos períodos de janeiro
a outubro de 2019 e de 2020 20

2
GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução da produção de carne bovina no mundo


(milhões de toneladas métricas). 8

Gráfico 2 – Variação acumulada nos preços de alguns cortes


(INPC de janeiro a abril de 2020). 17

Gráfico 3 – Desempenho do abate de bovinos por sexo no Brasil 18

3
Sumário
Apresentação 5

1.A indústria da carne bovina no mundo 6


1.1 O processo de produção 6
1.2 Produção de carne bovina no mundo 7
1.3 Exportação de carne bovina no mundo 8
1.4 Importação de carne bovina no mundo 9
2. Principais mercados 10
2.1 Consumo mundial 11
2.2 Consumo per capita de carne bovina 12
2.3 Faturamento mundial 13
3. O mercado de carne bovina no Brasil 14
3.1 Consumo no Brasil 15
3.2 Comércio exterior 18
4. Os desafios estratégicos para a cadeia produtiva da
carne bovina e a visão de futuro 21

4.1 As dez megatendências para a cadeia produtiva de carne


bovina em 2040 22

Considerações finais 26

Referências 27

4
Apresentação

Carne bovina é um dos principais produtos de origem animal consumidos em


todo o mundo e desempenha um papel significativo na indústria alimentícia
global. Com a demanda crescente por proteína animal, é essencial
compreender o mercado de carne bovina em termos de oferta, demanda,
concorrência e tendências emergentes.

Em 1960, Argentina, Austrália e EUA lideram o ranking global de consumo de


carne bovina. Após 2008, os maiores consumidores foram Argentina, Brasil e
Estados Unidos, e a previsão era de que esses países permanecessem
liderando o consumo, mas as estimativas de consumo per capita para o ano
de 2020 diminuíram e o ranking mudou. O país de maior consumo foi a
Argentina, consumindo 36 kg/hab/ano, seguida dos Estados Unidos, com um
consumo de 26 kg/hab/ano e o Brasil, com consumo de 24,4 kg/hab/ano. Na
sequência estão Israel e Chile, consumindo, respectivamente, 24,1 e 21,8
kg/hab/ano (FAO, 2020).

Desta forma, o primeiro momento deste trabalho está relacionado ao mercado


global, processo de produção, principais produtores e faturamento mundial do
mercado de carne bovina no mundo. O Segundo está descrevendo o
consumo no Brasil e o comércio no exterior.

5
1. A indústria da carne bovina no mundo

1.1 O processo de produção


O processo de produção da carne bovina se divide em diferentes etapas, na etapa
inicial temos a criação dos gados nas fazendas que envolve a parte de reprodução,
alimentação e saúde do rebanho bovino. Outra etapa é a de engordar o rebanho, que
são realizadas em pastagens onde são oferecidos alimentos específicos para os animais
ganharem peso, após atingirem o peso específico, temos a próxima etapa, que consiste
no abate desses gados, que se dá quando esses animais já tiverem o peso e idades
adequadas eles são levados para abatedouros. Por fim temos então a etapa de
processamento, que consiste no processamento de diferentes cortes e produtos
desses gados que foram abatidos na etapa anterior, essa etapa também envolve
desossa, separação dos cortes, embalagem e, em alguns casos, o processamento
adicional, como a produção de carne moída, salsichas ou produtos defumados. Além da
produção da carne bovina, é interessante citar etapas fora da produção, como a etapa
de distribuição e venda, onde as carnes ou produtos derivados são distribuídos nos
açougues e mercados e etapa de consumo, onde essas carnes são adquiridas por
consumidores.

Fluxo simplificado da produção de carne bovina até a chegada no consumidor.

6
1.2 Produção de carne bovina no mundo

A produção de carne bovina é desenvolvida em diversos países ao redor do mundo,


olhando pela perspectiva mundial, a produção de carne bovina vem aumentando ao longo
dos anos por diversos fatores, como o aumento populacional, logo aumenta a demanda, o
aumento da pecuária intensiva, aumento do poder econômico da população e assim por
diante. Como visto na tabela 1, segundo a USDA o maior produtor de carne bovina em
2021 é os Estados Unidos, produzindo cerca de 12,479 milhões de toneladas, cerca de
quase 20% a mais que o segundo colocado que é o Brasil, e posteriormente vem a China e
a Índia. Esses países possuem em comum possuírem grandes áreas de pastagens, o que
os favorecem na criação de gado, podemos ainda ver pelo histórico anual do gráfico 1 que
houve um desaceleramento na produção de carne bovina apenas no ano de 2021, muito
provavelmente devido aos efeitos da pandemia.

Tabela 1 - Panorama da produção de carne bovina no mundo


(milhões de toneladas métricas).

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Gráfico 1 - Evolução da produção de carne bovina no mundo
( milhões de toneladas métricas)

1.3 Exportação de carne bovina no mundo

No comércio global a exportação de carne bovina é muito importante. Vários países têm
uma indústria pecuária desenvolvida e são grandes exportadores de carne bovina.
Podemos ver na tabela 2 que a exportação de carne bovina no mundo vem aumentando
ao longo dos anos.

O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina. O país possui uma indústria
pecuária robusta e é conhecido por sua produção em larga escala. Outros grandes
exportadores de carne bovina incluem Estados Unidos, Austrália, Índia e Argentina como é
visto na tabela 2, esses países possuem uma capacidade significativa de produção e
exportam para atender à demanda de outros países.

Os principais destinos das exportações de carne bovina variam, mas alguns dos principais
importadores incluem China, Estados Unidos, Japão, União Europeia, Rússia e Coreia do
Sul. A demanda por carne bovina pode ser impulsionada por fatores como crescimento
populacional, aumento da renda per capita, mudanças nas preferências alimentares e
desenvolvimento econômico.

8
Tabela 2 - Panorama da exportação de carne bovina no mundo
(milhões de toneladas métricas).

1.4 Importações de carnes bovinas no mundo

As importações de carne bovina no mundo são um componente significativo do


comércio internacional de produtos agrícolas. Vários países importam carne bovina
para atender à demanda doméstica, complementar a produção nacional ou fornecer
uma variedade de cortes e produtos aos consumidores.

Os principais importadores de carne bovina são a China, Estados Unidos, Japão,


União Europeia, Rússia e Coreia do Sul. A demanda por carne bovina pode variar
de acordo com fatores como preferências alimentares, crescimento populacional,
renda per capita, desenvolvimento econômico e cultura.

As importações de carne bovina também podem ser afetadas por fatores como
mudanças nas políticas comerciais, tarifas, cotas de importação, acordos comerciais
internacionais e surtos de doenças em animais. Por exemplo, restrições impostas
devido a preocupações sanitárias, como a ocorrência de casos de doenças como a

9
febre aftosa, podem impactar temporariamente as importações de carne bovina de
certas regiões.

Tabela 3 - Importações de carne bovina no mundo


(milhões de toneladas métricas)

2. Principais mercados

A produção mundial de carne bovina no mundo cresceu 1,7% em 2021 em relação a 2020,
e no período de 2016 a 2021 o crescimento foi de 6%. O consumo nos próximos anos
deve aumentar devido ao aumento populacional, sendo assim, deixando o mercado de
produção de carne bovina aquecido.

O Brasil está entre os maiores produtores e em primeiro em exportação, a empresa que se


destaca é a JBS, que é uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Os Estados
que são os maiores produtores, se destacam Tyson Foods, Cargill e a JBS USA.

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2.1 Consumo

O consumo de carne bovina no mundo tem sido significativo ao longo dos anos. A
carne bovina é uma fonte popular de proteína e é apreciada por seu sabor e textura
em várias culturas. Países como os Estados Unidos, Brasil, China e Argentina são
os países que mais consomem carne bovina no mundo. Esses países possuem uma
cultura tradicional de consumo de carne bovina e uma indústria pecuária bem
desenvolvida. Por outro lado, países de baixa renda e em desenvolvimento, o
consumo de carne bovina é geralmente mais baixo devido a fatores como custo,
acesso limitado e preferência por outras fontes de proteína, como aves, peixes e
legumes. Nas últimas décadas, tem havido mudanças no consumo de carne bovina
em diferentes partes do mundo. Em alguns países desenvolvidos, como Estados
Unidos e alguns países europeus, o consumo de carne bovina per capita tem
diminuído devido a preocupações com saúde, sustentabilidade ambiental e
bem-estar animal.

Na tabela 4 são apresentados os dados de consumo anual de carne bovina em


milhões de toneladas métricas, entre 2016 a 2021, segundo dados da USDA de
outubro de 2022, podemos ver que praticamente todos os mercados de consumo
vem aumentando ao longo dos anos.

11
Tabela 4 - Consumo global de carne bovina(milhões de toneladas métricas)

2.2 Consumo Per capita de carne bovina

Segundo a OCDE, nos últimos 50 anos o consumo bovino de carne aumentou mais
de cinco vezes. E segundo a projeção realizada pelo estudo, a expectativa é que na
média o consumo de carne aumente ano após ano, atingindo a marca de 43,7
kg/capita em 2030. O aumento do consumo de carne está relacionado à melhora no
padrão de vida e a urbanização da população - que faz com que haja uma mudança
no estilo de dieta, e favorece o aumento do consumo de carne bovina. No relatório
de 2021, como é visto na tabela 5, o Brasil é um dos maiores consumidores per
capita de carne bovina no mundo, ficando apenas atrás da Argentina e Estados
Unidos, primeiro e segundo lugar consecutivamente.

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Tabela 5 - Ranking de consumo per capita de carne bovina

2.3 Faturamento mundial

A internacionalização do comércio possibilitou o acesso a consumidores em todo o mundo,


consumidores cada vez mais exigentes. A forte competição levou a padrões comerciais
muito rígidos para a carne bovina:
● Diferenças de consumo: o consumo de carne está fortemente associado à renda
média em cada região e ao acesso a cortes de maior qualidade e métodos de
conservação. Fatores culturais explicam diferenças nas preferências do consumidor
por espécies e raças.
● Política comercial: barreiras comerciais (tarifas, subsídios, cotas, etc.) e acordos de
integração tornam o comércio real muito diferente do potencial. Embora tenha
havido alguma flexibilização, as negociações ainda são difíceis e o comércio ainda é
muito afetado pelas relações entre governos e empresas (p. ex., na proteção do
mercado interno, e na promoção de seu acesso a outros mercados).
● Estrutura de mercado: as economias de escala desempenham um papel importante
na redução dos custos médios na produção, aumentando o poder de mercado e a
subsequente concentração.

13
● Sanidade: doenças animais que envolvem riscos à saúde humana ou à produção
doméstica levaram a recorrentes crises sanitárias e ao fechamento de mercados
para o país afetado. Além disso, a disseminação global de algumas doenças abalou
o mundo. O Brasil tornou-se o maior exportador de carne bovina em 2005, como
resultado da detecção da doença da vaca louca em 2003 nos EUA.
● O mundo deve produzir 61,16 milhões de toneladas equivalente carcaça de carne
bovina em 2021, crescendo 1% em relação a 2020. Segundo as projeções, os
Estados Unidos seguem como o principal produtor mundial com 20% do volume
global produzido, seguido do Brasil com 16,8% e a União Europeia aparecendo em
terceiro lugar com 12,5%. A China, quarto maior produtor mundial de carne bovina,
também deve apresentar crescimento da produção de 1% até o final de 2021, mas
com sua produção ainda muito aquém do seu consumo interno. Índia e Argentina,
quinto e sexto no ranking dos maiores produtores do mundo, aparecem como
destaques, aumentando, respectivamente, 10% e 9% no período analisado. Já a
Austrália, que teve crescimento irrisório no período, experimentou uma forte queda
da produção em 2020 em relação a 2019.

3. O mercado de carne bovina no Brasil

O mercado de carne bovina no Brasil é uma indústria de grande relevância econômica e


social. O país é reconhecido mundialmente como um dos maiores produtores e
exportadores de carne bovina, o que contribui significativamente para o faturamento do
setor.

Em relação ao faturamento, dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(MAPA) indicam que o Brasil exportou cerca de 2,02 milhões de toneladas de carne bovina
em 2020, resultando em um faturamento de aproximadamente US $8,4 bilhões. Esses
números refletem a demanda internacional pela carne bovina brasileira, impulsionada pela
qualidade do produto, eficiência produtiva e boas práticas sanitárias.

No mercado interno, o consumo de carne bovina também é significativo no Brasil. O país


possui uma cultura de consumo de carne, e a carne bovina é uma das preferidas pelos
brasileiros. Apesar dos desafios enfrentados, como a variação nos preços e a concorrência
com outras proteínas, o mercado doméstico continua a demandar carne bovina em grande
escala, o que contribui para o faturamento do setor.

14
Além disso, é importante mencionar que o mercado de carne bovina no Brasil é composto
por diferentes segmentos, incluindo a produção, processamento, distribuição e varejo. Essa
cadeia produtiva gera empregos e movimenta a economia em diversas regiões do país,
tornando-se uma importante fonte de renda para produtores rurais e empresas envolvidas
na atividade.

Em suma, o mercado de carne bovina no Brasil possui um faturamento expressivo, tanto no


âmbito das exportações quanto do consumo interno. O país é reconhecido
internacionalmente por sua produção de qualidade e eficiência na indústria. No entanto, é
importante considerar que o faturamento pode ser influenciado por fatores como oscilações
nos preços das commodities, mudanças nas preferências do consumidor e condições
climáticas, que afetam a produção e a oferta do produto.

Gráfico 2 - Produção nacional de carne bovina


(milhões de toneladas métricas)

3.1 O consumo no Brasil

O consumo de carne bovina varia de país para país e é influenciado por fatores culturais,
econômicos e alimentares. Em geral, a carne bovina é uma importante fonte de proteína na
dieta de muitas pessoas ao redor do mundo. Ela é apreciada por sua versatilidade culinária
e sabor característico.

15
Os países com maior consumo per capita de carne bovina geralmente incluem nações
como Uruguai, Argentina, Brasil e Estados Unidos, onde o consumo de carne bovina é
tradicionalmente elevado. Esses países têm uma cultura de churrasco e grelhados, e a
carne bovina é uma parte importante de suas dietas.

Em contrapartida, existem países onde o consumo de carne bovina é relativamente baixo


devido a fatores como preferências alimentares, restrições religiosas ou econômicas. Em
algumas culturas, a carne de outros animais, como frango, porco, cordeiro ou peixe, é mais
comumente consumida.

É importante destacar que o consumo de carne bovina tem sido objeto de discussões em
relação aos impactos ambientais e à saúde humana. A produção de carne bovina em larga
escala está associada a emissões significativas de gases de efeito estufa e desmatamento,
além de preocupações sobre o bem-estar animal. Além disso, algumas pesquisas sugerem
que o consumo excessivo de carne vermelha pode estar relacionado a certas doenças,
como doenças cardíacas e certos tipos de câncer.

Diante dessas questões, muitas pessoas têm adotado uma abordagem mais consciente e
equilibrada em relação ao consumo de carne bovina, buscando reduzir o consumo,
escolher carnes provenientes de produção sustentável ou optar por dietas mais baseadas
em vegetais. Essas escolhas podem ajudar a reduzir o impacto ambiental e promover uma
alimentação mais saudável e equilibrada.

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Tabela 6 - Consumo mundial de carne bovina, em mil toneladas em equivalente
carcaça, de 2010 a 2021

Fonte: USDA (2020).

Gráfico 2 – Variação acumulada nos preços de alguns cortes (INPC de janeiro


a abril de 2020.

Fonte: SNIPC - Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor - (IBGE, 2020)

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Gráfico 3 - – Desempenho do abate de bovinos por sexo no Brasil (cabeças)

Fonte: Pesquisa Trimestral do Abate (IBGE, 2020)


Os ciclos mais curtos da pecuária com o elevado abate de fêmeas têm resultado na
menor oferta de animais para o abate e para reposição (Gráfico 2). Além do
aquecimento do mercado de exportação, os preços seguem pressionados para a
carne e animais de reposição (Gráfico 3).

3.2 Comércio exterior

O Nordeste do Brasil tem se destacado no comércio exterior de carne bovina, com


exportações significativas para diversos países ao redor do mundo. De acordo com dados
de janeiro a outubro de 2020, a região exportou carne bovina para 55 países, alcançando
um faturamento de US$ 32,82 milhões. Além disso, o Nordeste também apresentou um
desempenho notável nas exportações de frango e carne suína.

No que diz respeito às exportações de carne bovina nordestina, a Ásia se destacou como o
principal destino, concentrando 70% do volume total. Embora tenha havido uma redução
de -3,69% no volume exportado para essa região, o faturamento aumentou em +6,86%.
Entre os países asiáticos, o principal destino da carne bovina nordestina é Hong Kong, que
é uma região administrativa da China.

Outro mercado em ascensão para as exportações de carne bovina do Nordeste é o Oriente


Médio. Os países árabes têm buscado cada vez mais opções alternativas de fornecimento,
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e as exportações do Nordeste têm se beneficiado dessa demanda. Essa preferência pelo
produto nordestino tem sido observada em detrimento das importações dos Estados
Unidos.

Quanto à origem da carne bovina exportada pelo Nordeste, os estados do Maranhão e


Bahia se destacam na região. Ambos possuem uma longa tradição na pecuária de corte
nordestina. A Bahia, em particular, possui uma extensa área territorial no semiárido, mas
também possui mesorregiões com condições edafoclimáticas mais favoráveis ao pasto.
Além disso, a Bahia é reconhecida como zona livre de febre aftosa e possui indústrias de
abate e processamento de carne bovina bem estabelecidas.

Esses destaques na região nordestina refletem a qualidade e competitividade da carne


bovina produzida no Nordeste do Brasil, além do compromisso com a sanidade animal e a
qualidade dos produtos exportados. O comércio exterior tem desempenhado um papel
importante na valorização e expansão da indústria pecuária no Nordeste, contribuindo para
o desenvolvimento econômico e a geração de empregos na região.

19
Tabela 7 – Origem e destino das exportações de carne bovina nos períodos de
janeiro a outubro de 2019 e de 2020

Fonte: AgroStat (MAPA, 2020)

20
4. Os desafios estratégicos para a cadeia produtiva
da carne bovina e a visão de futuro

Nas últimas quatro décadas a cadeia produtiva da carne bovina sofreu uma modernização
revolucionária, sustentada por avanços tecnológicos dos sistemas de produção e na
organização da cadeia, com claro reflexo na produtividade, na qualidade da carne e,
consequentemente, no aumento da competitividade (Preuss, 2019; Roblek, 2016).

Cabe contextualizar que esta evolução esteve sempre calcada em ativos estratégicos
encontradas no país, tais como: condições climáticas favoráveis, disponibilidade de terras a
preços baixos, oferta abundante de mão de obra, tecnologia de produção adaptada às
condições do país, entre outros, o que determinou, de certa forma, a alavancagem da
competitividade deste setor. Entretanto, percebe-se que na última década houve um
movimento crescente de deterioração desses ativos, decorrente de uma forte pressão de
custos, que por sua vez deriva de um grande aumento da remuneração e da escassez do
fator de produção mão-de-obra, importante valorização das terras e crescentes restrições
socioambientais.

Esta nova realidade induz as organizações aos desafios de desenvolverem novos


processos, métodos, sistemas, produtos e serviços que contribuam para promoção da
eficiência e competitividade da mencionada cadeia, com preservação do meio ambiente,
reduzindo as desigualdades sociais e econômicas. Estes desafios são de grande
complexidade e demandarão uma enorme capacidade de adaptação (Li; Zhang; Hu, 2017).

Considerando essas constantes transformações, o Centro de Inteligência da Carne Bovina


(CICARNE) da Embrapa Gado de Corte, em parceria com o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), realizou um amplo e complexo estudo sobre o futuro da
cadeia produtiva da carne bovina no Brasil para os próximos vinte anos. O estudo
contempla os resultados do monitoramento do ambiente externo, apresentando
informações estratégicas de um conjunto de sinais e tendências que impactarão na referida
cadeia, consolidando dez megatendências (Figura 4). Entende-se por megatendências um
conjunto de vetores de transformação fortemente interligados e que deverão impactar a
referida cadeia produtiva no futuro.

21
Figura 4. As Dez Megatendências para a cadeia produtiva da carne bovina em 2040.
Fonte: CiCarne (2020)..

4.1 As dez megatendências para a cadeia produtiva de


carne bovina em 2040

1 – Biológicos à frente no manejo de baixos resíduos

Os produtos biológicos serão a base da sanidade bovina em 2040. A necessidade da


redução de resíduos na carne e a dificuldade no desenvolvimento de novas moléculas
efetivas no controle de doenças e parasitos, juntamente com o avanço biotecnológico
voltado à sanidade, propiciam o declínio de produção e utilização de fármacos alopáticos e
o maior avanço na produção de fármacos biológicos. Tais tendências colaboram com a
maior aceitação de produtos de origem animal pelos consumidores e diminuem os riscos
de embargos comerciais por questões sanitárias, sem contar a diminuição dos riscos de
contaminação ambiental por fármacos tradicionais.

2 – Biotecnologia transformando a pecuária e a carne

A sanidade animal e o melhoramento genético serão fortemente impactados pelas


biotecnologias. Problemas históricos da atividade serão, se não eliminados, ao menos
controlados. Principais doenças e parasitos terão melhores soluções de manejo, o que
facilitarão suas prevenções e seus controles. Outra frente importante será a genética de
bovinos de corte, com ganhos em termos de resistência animal, produtividade, precocidade
22
e qualidade da carne. Ferramentas de melhoria genética e reprodutiva serão amplamente
utilizadas, com destaque à IATF, TE, FIV e edição gênica. Os saltos produtivos e de valor
da produção de bovinos de corte serão marcantes para a cadeia toda.

3 – Menos pasto, mais carne

Os avanços tecnológicos e a integração com lavoura e floresta irão mudar o patamar


tecnológico da pecuária de corte. Esse processo de elevação do nível de gestão e de
tecnologia irá ceifar diversos pecuaristas menos preparados do sistema produtivo. Teremos
aumento expressivo em área de ILPF paralelamente a uma forte redução nas áreas de
pastagem e a um crescimento no número total de cabeças e uma forte redução nas áreas
de pastagem, muito mais produtivas. Esse movimento, se bem trabalhado politicamente,
melhorará e muito a imagem do setor de bovinocultura de corte no país perante a
sociedade brasileira e estrangeira. Teremos maior número de bovinos produzidos,
integrados à diversidade produtiva e ao meio ambiente, com menor uso de terras para a
atividade.

4 – Lucro apenas com bem-estar animal

Esse será o nome do jogo: bem-estar animal. Produzir respeitando o bem-estar animal ao
longo de toda a cadeia será mandatório e nenhum elo poderá ficar de fora. A propriedade,
o transporte e o frigorífico serão exigidos a apresentarem certificados de produção com
bem-estar animal. A rastreabilidade, impulsionada pela expansão digital e pelos
consumidores exigentes, será primordial para aderência do mercado aos produtos
pecuários, em que fatores como bem-estar animal, boas práticas produtivas e
sustentabilidade serão temas chave para aceitabilidade do mercado, fatores estes que, em
contrapartida, eliminarão do mercado aqueles que não se adequarem à nova forma
de consumir da população.

5 – Pecuária consolidada com grandes players

Toda a transformação tecnológica, gerencial e empresarial irá cobrar um elevado preço


àqueles que não acompanharem a evolução. Será um processo de seleção natural, em
que metade dos pecuaristas de corte serão eliminados da atividade se não melhorarem
seus padrões produtivos e gerenciais. As exigências produtivas em termos de quantidade,
qualidade do produto final e meios de produção provenientes de um consumidor
diversificado e exigente refletem em maior necessidade de investimentos e controle da
produção, o que limita a atuação do pecuarista extrativista. Uma redução expressiva de
produtores é prevista, em que apenas se manterão na pecuária de corte os verdadeiros
profissionais do setor.

6 – Frigorífico: mais natural e com maior exigência de qualidade

23
Os frigoríficos terão que se adaptar a profundas mudanças em seu sistema produtivo e de
abastecimento de matéria prima. Para atender um consumidor que exigirá produtos mais
naturais, haverá necessidade de aumento das exigências na aquisição de matéria prima
provenientes dos pecuaristas, com marcante demanda por avanço na qualidade de carne e
exigências por sistemas de manejo sustentáveis, com ampla adoção de produtos biológicos
e implementação rigorosa de bem-estar animal em suas propriedades. Tendência forte para
atender o mercado externo, essa também será refletida no modo de consumo dos
brasileiros, que se tornarão mais conscientes e exigentes quanto à aquisição de produtos
cárneos.

7 – Carne com denominação de origem

O fenômeno que já ocorre em produtos mais sofisticados como vinho e queijo chegará
cada vez mais forte às carnes. Pecuaristas e frigoríficos irão trabalhar fortemente em
termos de diferenciação de cortes e processos produtivos em busca de geração de valor a
seus produtos. A carne terá dezenas ou até centenas de denominações de origem, cortes e
porcionamentos, para satisfazer consumidores exigentes e em busca de novas
experiências gastronômicas. A integração do sistema produtivo com acesso digital ajudará
muito nesse processo, o que também possibilitará maior transparência de todo o sistema.

8 – Brasil, mega exportador de carne e genética

Nos próximos vinte anos o Brasil irá ocupar espaço cada vez mais relevante no mercado
de carne e de genética bovina. Os avanços oriundos da introdução de biotecnologias e o
amplo esforço de toda a cadeia em termos de produção sustentável, bem-estar animal e
qualidade de carne criarão a base para tal crescimento. O país se destacará na exportação
de genética, de animais vivos para abate, de cortes de carne e de subprodutos, atingindo,
tanto mercados emergentes, como sofisticados. Consequentemente, as exportações de
carne bovina terão maior expressividade, deixando de representar 20% das vendas de
produtos cárneos e podendo atingir um montante maior do total comercializado nesse
segmento, mesmo em um cenário de crescimento do consumo interno de carne bovina.

9 – Digital transformando toda a cadeia produtiva

A onda digital irá impactar toda cadeia produtiva da carne bovina. A maior transformação
será no processo de distribuição, seja de insumos, gado ou da carne. Parte de
intermediários serão ceifados do sistema. A relevância da qualidade e sustentabilidade
crescerá via interação digital com o consumidor final. Nas propriedades, a gestão chegará
a outro patamar com muita tecnologia embarcada, o que possibilitará eliminação de
gargalos da produção. O mesmo fenômeno ocorrerá nos frigoríficos, onde robôs irão mudar
a forma de processamento, impactando nos custos, na produtividade industrial e na
qualidade do produto final.

10 – Apagão de mão de obra


24
Uma proporção de 84% da população brasileira já é urbana no Brasil. Essa tendência se
acentuará. A forte injeção de automação irá reduzir esse impacto e alterará o perfil de
pessoas necessárias na atividade. O maior desafio será qualitativo. Os enormes avanços
tecnológicos, como a IoT, a maior complexidade do manejo, na busca de saltos produtivos,
como a introdução crescente da ILPF, e o foco em gestão, exigirão profissionais
capacitados e
raros na pecuária.

25
Considerações Finais

As dez megatendências apresentadas para a cadeia produtiva de carne bovina em 2040


destacam a transformação que o setor enfrentará nas próximas décadas. A busca por
maior sustentabilidade, bem-estar animal, qualidade do produto e adoção de tecnologias
inovadoras serão fundamentais para impulsionar o desenvolvimento e a competitividade da
indústria pecuária.

A adoção de produtos biológicos e o avanço biotecnológico na área de sanidade animal


indicam uma redução no uso de fármacos tradicionais, aumentando a aceitação dos
consumidores e reduzindo riscos sanitários e ambientais. Além disso, a aplicação da
biotecnologia no melhoramento genético promete ganhos significativos em resistência,
produtividade, precocidade e qualidade da carne.

A integração da pecuária com lavoura e floresta, resultando em menor uso de pastagens e


maior produtividade, aliada ao foco no bem-estar animal, será fundamental para melhorar a
imagem do setor e atender às demandas de um mercado cada vez mais exigente. Os
grandes players e pecuaristas mais preparados serão os protagonistas dessa
transformação, enquanto aqueles que não acompanharem a evolução serão eliminados da
atividade.

Os frigoríficos também precisarão se adaptar às mudanças, buscando maior qualidade e


sustentabilidade em suas operações. A tendência de denominar a origem da carne, a
diversificação de cortes e a rastreabilidade serão elementos essenciais para satisfazer os
consumidores em busca de experiências gastronômicas diferenciadas.

O Brasil tem potencial para se tornar um mega exportador de carne e genética bovina,
impulsionado pela introdução de biotecnologias, produção sustentável e qualidade do
produto. O país poderá atingir mercados emergentes e sofisticados, expandindo suas
exportações e consolidando sua posição no mercado global.

A transformação digital será uma forte aliada em toda a cadeia produtiva da carne bovina,
impactando a distribuição, a gestão das propriedades e a produção nos frigoríficos. A
automação reduzirá a dependência de mão de obra, exigindo profissionais capacitados e
qualificados para lidar com as tecnologias emergentes.

Em suma, as megatendências apresentadas apontam para um futuro de mudanças e


desafios no setor da carne bovina. O investimento em tecnologia, sustentabilidade,
bem-estar animal e qualidade do produto serão cruciais para garantir a competitividade e o
sucesso da indústria pecuária brasileira no cenário global.

26
Referências Bibliográficas

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/232238/1/DOC-291-
Final-em-Alta.pdf

Boletim CiCarne 2021 (embrapa.br)


CICARNE – Centro de Inteligência da Carne Bovina, Embrapa Gado de Corte. Boletins,
2020. Disponível em: https://www.cicarne.com.br/informativos/. Acesso em: 23 jun. 2021.
Dados da produção mundial de carne bovina e por país, entre 2018 e 2022
(farmnews.com.br)

https://www.oaltotaquari.com.br/portal/2019/12/cotacao-da-carne-bovina-bagunca-me
rcado-interno/

https://www.embrapa.br/documents/1355108/51748908/Boletim+CiCarne+48_02-2021.
pdf/53bb8c5d-abb1-76b8-34fc-b81e3ef787f6

https://blog.terrainvestimentos.com.br/perspectivas-para-o-mercado-de-carne-bovina
-em-2023/

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