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Princípios do Patrimônio Histórico e

Cultural

Pablo Menezes e Oliveira

Formação Inicial e
Continuada

+ IFMG
Pablo Menezes e Oliveira

Princípios do Patrimônio Histórico e Cultural


1ª Edição

Belo Horizonte
Instituto Federal de Minas Gerais
2021
© 2021 by Instituto Federal de Minas Gerais
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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
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Pró-reitor de Extensão Carlos Bernardes Rosa Júnior


Diretor de Programas de Extensão Niltom Vieira Junior
Coordenação do curso Pablo Menezes e Oliveira
Arte gráfica Ângela Bacon
Diagramação Eduardo dos Santos Oliveira

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O48p Oliveira, Pablo Menezes e

Princípios do patrimônio histórico e cultural [recurso eletrônico] / Pablo


Menezes e Oliveira. – Ouro Branco: Instituto Federal de Minas Gerais, 2021.
68 p.: il.

E-book, no formato PDF.


Material didático para Formação Inicial e Continuada.
ISBN 978-65-5876-084-9
1. Patrimônio histórico. 2. História. 3. Memória. I. Título.

CDU: 93

Catalogação: Márcia Margarida Vilaça - CRB-6/2235

Índice para catálogo sistemático:


1. Patrimônio histórico 93

2021
Direitos exclusivos cedidos ao
Instituto Federal de Minas Gerais
Avenida Mário Werneck, 2590,
CEP: 30575-180, Buritis, Belo Horizonte– MG,
Telefone: (31) 2513-5157
Sobre o material

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Palavra do autor

Caro aluno, seja bem-vindo ao curso “Princípios do Patrimônio Histórico


e Cultural”.
Nas semanas que seguirão, conversaremos sobre um tema muito
importante para a sociedade, pois trata de nossa identidade enquanto povo. O
chamando Patrimônio Histórico, campo de estudo que seleciona, organiza e
preserva objetos construídos por nossos antepassados, também nos informa
sobre nossa existência material e cultural, através da História de uma
comunidade ou da nação. Por meio das políticas públicas promovidas pelo
patrimônio histórico, bens considerados de interesse público – sejam eles
móveis, imóveis ou culturais – são preservados para a posteridade como
forma de registrar as transformações dos tempos.
O objetivo mais amplo do curso é ofertar um conteúdo que auxilie as
comunidades na compreensão dos princípios básicos do patrimônio histórico,
artístico e cultural. Para além, pretendemos apresentar princípios das políticas
de patrimônio histórico artístico e cultural do Brasil e do Estado de Minas
Gerais. Ainda, vamos apresentar os aspectos gerais da história de Minas
Gerais no período colonial, com especial atenção para a arquitetura, as artes
e cultura. Essa última proposição se dá em decorrência dos esforços em torno
da política de preservação da memória histórica da região de Minas Gerais,
que se ateve preferencialmente aos bens móveis e imóveis referentes ao
período colonial mineiro, compreender a construção histórica desta sociedade
é muito importante. Por fim, vamos discutir as possibilidades de atividades
econômicas em torno do patrimônio histórico e cultural regional.

Bons estudos!
O autor.
Bons estudos!
Nome do autor.
Apresentação do curso

Este curso está dividido em três semanas, cujos objetivos de cada uma são
apresentados, sucintamente, a seguir.

Nesta semana abordaremos os princípios do Patrimônio


SEMANA 1 Histórico e Artístico Brasileiro. Quais os conceitos de
patrimônio, suas origens e história, no Brasil e no Mundo.

Nesta semana falaremos sobre História de Minas Gerais do


período colonial, haja visto grande parte dos esforços em
torno da preservação patrimonial mineira estarem ligados a
SEMANA 2
este período. Na sequência, vamos falar sobre a
construção da relação entre a história de Minas e o
patrimônio histórico.

Nesta semana falaremos das Políticas de preservação do


SEMANA 3 Patrimônio Cultural brasileiro e mineiro, procurando
observar possibilidades para a cultura local.

Carga horária: 30 horas.


Estudo proposto: 2h por dia em cinco dias por semana (10 horas semanais).
Apresentação dos Ícones

Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento


quando eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado:

Atenção: indica pontos de maior importância


no texto.

Dica do professor: novas informações ou


curiosidades relacionadas ao tema em estudo.

Atividade: sugestão de tarefas e atividades


para o desenvolvimento da aprendizagem.

Mídia digital: sugestão de recursos


audiovisuais para enriquecer a aprendizagem.
Sumário

Semana 1 – Princípios do Patrimônio Histórico e Artístico brasileiro ............. 15


1.1. Patrimônio Histórico: origens e conceitos ........................................... 15
1.2. Patrimônio Histórico no Brasil ............................................................ 20
Semana 2 – História de Minas Gerais ........................................................... 27
2.1 Uma breve história de Minas Gerais - período colonial ...................... 27
2.2 Minas Gerais e o Patrimônio Histórico ............................................... 38
Semana 3 – Políticas de preservação do patrimônio histórico....................... 47
3.1 As políticas de preservação do patrimônio histórico ........................... 47
3.2 O patrimônio e suas interações com as comunidades: limitações e
possibilidades ................................................................................................ 51
Referências ................................................................................................... 57
Currículo do autor.......................................................................................... 59
Glossário de códigos QR (Quick Response) ................................................. 61
Semana 1 – Princípios do Patrimônio Histórico e Artístico
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brasileiro

Objetivos
Nesta semana falaremos sobre os conceitos e histórico do
patrimônio histórico. Primeiramente sobre suas origens, que
estão ligadas a Europa, e depois como ele se desenvolve no
Brasil.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Apresentação do curso”.

1.1. Patrimônio Histórico: origens e conceitos

Para iniciar o curso, é preciso deixar claro o que é Patrimônio Histórico. O termo
“patrimônio” tem sua origem relacionada com estruturas familiares, econômicas e jurídicas.
Ainda persiste entre nós esta acepção, quando nos referidos a valores financeiros
acumulados por uma pessoa ou família ao longo de sua vida. Ao pensar no Patrimônio
Histórico, podemos pensar na “herança” histórica, artística e cultural acumulada pela
humanidade ao longo de sua presença na Terra. A autora Françoise Choay pode ajudar a
deixar ainda mais clara a leitura do conceito de Patrimônio Histórico:

[...] um bem que destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a


dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade
de objetos que se congregam por seu passado comum: obras primas e obras de
arte das belas-artes e das artes aplicadas, trabalhos e das artes aplicadas,
trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos”.
(CHOAY, 2001, p.11)

O patrimônio histórico pode ser visto como um “campo de aplicação privilegiado”,


dentro do qual são devem ser observadas as seguintes questões: o olhar erudito sobre as
obras e os objetos materiais; a “historicização” de uma sociedade (POULOT, 2012, p. 30).
Assim, o patrimônio pode ser visto como campo de conhecimento, que traz o olhar daquele
que constrói o discurso que justifica processos de tombamento de bens de significado
histórico e cultural. A partir destas “construções” é possível observar a promoção de uma
história de uma determinada sociedade.
Acrescento a esta observação a proposição de Cecília Londres, que vê nas políticas
de preservação, e da instituição dos patrimônios históricos a intenção de

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[...] atuar, basicamente, no nível simbólico, tendo como objetivo reforçar a


identidade coletiva, a educação e a formação de cidadãos. Esse é pelo menos, o
discurso que costuma justificar a constituição desses patrimônios e o
desenvolvimento de políticas de preservação. (FONSECA, 1997, p.11).

Assim, procurando “acumular” experiências históricas e culturais, formata-se um


patrimônio histórico. E com qual objetivo busca-se este passado? Com o objetivo de
construir uma identidade, as características que unem e distinguem os grupos humanos. O
patrimônio atesta, também, as mudanças culturais e materiais humanas, observadas em
tecnologias da construção, no conceito de arte, entre outros. Assim, como forma de
identidade, como forma de construir uma história dos povos, bens móveis e imóveis,
objetos de arte, resquícios de sociedades ágrafas passam a ser objeto de atenção das
autoridades públicas. Passam a ter resguardada sua preservação e manutenção.
A prática de instituição de patrimônios históricos e artísticos nacionais é cara aos
Estados Nacionais, pois é a partir das políticas públicas que são determinados os bens
localizados no espaço público, que pelo valor que lhes é atribuído, tornam-se símbolos
nacionais e, portanto, são merecedores do privilégio de serem preservados para o
conhecimento das gerações que lhe sucedem (FONSECA, 1997, p.11). O ponto de partida
para a preservação daquilo que poderemos chamar de patrimônio histórico nas sociedades
ocidentais pode ser encontrado em fins do século XVIII, em França, na conjuntura da
Revolução Francesa. A preservação de bens imóveis e móveis, em meio às agitações
políticas observadas naquele país, teria partido dos chamados “enciclopedistas”, como
forma de frear o vandalismo que se seguiu à revolução ocorrida a partir de 1789. A partir
destes ocorridos, e durante o século XIX, seria criada em vários países europeus uma
vasta gama de legislação relacionada à preservação do patrimônio histórico, assim como
será iniciado um processo de construção de inventários de bens, bem como o processo de
conservação e de restauração de monumentos (LONDRES, 2007, p. 159). Em França, foi
criada no ano de 1837 a primeira Comissão dos Monumentos Históricos, objetivando
sistematizar uma política de preservação de bens ligados a história francesa. Naquela
altura, os bens a serem tombados eram divididos em três grandes categorias de
monumentos históricos: os edifícios remanescentes da Antiguidade Clássica, os edifícios
religiosos da Idade Média e alguns castelos (CHOAY, 2001, p.12). Assim, toda a sorte de
bens materiais, como edifícios e objetos, é mobilizada em torno da construção de uma
identidade, de uma nacionalidade, como forma de construir o sentimento de pertencer a
uma comunidade.
Se por um lado, a preocupação “sistemática” com a construção de uma história dos
povos a partir de bens móveis se constitui com mais evidência a partir do século XIX, é
possível apreender suas origens em séculos anteriores, quando o interesse pelos vestígios
do passado era reunido em coleções de objetos. Como observa Dominique Poulot:

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A tentativa de construir uma história patrimonial da cultura material exige debruçar-


se sobre a erudição e o colecionismo, suas disposições tácitas, suas pequenas
ferramentas, suas fruições mudas. Em suma, sobre todos os gestões e saberes que
organizam a percepção e a representação dos objetos em função de hierarquias
entre saberes locais, vínculos particularizados e o horizonte de conhecimentos
gerais de um homem de sociedade (POULOT, 2012, p.36)

Assim posto, observa-se que o trânsito entre o “colecionismo” de bens históricos,


para a construção de uma política patrimonial, fica mais evidente com a busca por
“narrativas identitárias”, caras à nova confirmação de que o século XIX traz aos estados
nacionais, corporificadas através das “mutações da cenografia histórica ou da museografia
internacional” (POULOT, 2012, p. 39).

Figura 1: Museu do Louvre, instituído em França no ano de 1793.


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_do_Louvre (Acesso em: 19 de março de 2021)

Na atualidade, a preocupação com a preservação dos vestígios antepassados está


prevista na grande maioria das legislações dos países. De uma preocupação nacional, a
agenda do patrimônio histórico alcançou preocupações internacionais após a Segunda
Guerra Mundial, quando a UNESCO tomou para si a “missão” de preservar os bens
culturais que fossem considerados patrimônio da humanidade (LONDRES, 2007, p. 159).
Com o passar dos anos, o rol de bens que se ampliariam consideravelmente. Às
edificações consideradas “eruditas” se juntariam às “populares”, assim como as
construções rurais, santuários e os utilitários. Para além dos tipos construtivos que vão se
ampliando, a temporalidade dos edifícios foi se alterando também. Se até a década de
1960 o quadro cronológico em que se inscreviam os monumentos históricos não passava
do século XIX. Com o passar dos anos mesmo as construções do século XX passaram a
“forçar” as portas do “domínio patrimonial”. Por exemplo, o plano piloto de Brasília, cidade
construída e fundada entre os anos 1950 e 1960, foi reconhecida pela UNESCO no ano de
1987 como Patrimônio Mundial, quando os dois grandes responsáveis pela obra – Oscar
Niemeyer e Lúcio Costa – ainda eram vivos.

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Dica do professor: A UNESCO é um órgão vinculado a


Organizações das Nações Unidas (ONU) dedicada ao
desenvolvimento de ações ligadas a educação, ciências,
cultura e comunicação. Como forma de fomentar a cultura e
história das comunidades, ela confere o título de Patrimônio
Mundial a bens que são considerados relevantes para história
humana. Maiores informações em:

Figura 2: Cidade de Brasília, entre sua concepção e estruturação. Por sua monumentalidade e originalidade,
foi tornada patrimônio poucas décadas após a inauguração nova da Capital do Brasil.
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/31 (Acesso em: 19 de março de 2021).

Se o patrimônio vem rompendo suas bordas temporais, ele ainda lida com algumas
questões que lhe são fundamentais. Uma delas diz respeito à adesão da sociedade a
estas políticas patrimoniais. Como bem observa Cecília Londres, a “prática da preservação
de bens culturais tem sido o grande desafio a ser enfrentado no século XXI”. Se a ideia de
uma identidade permeou no conjunto dos países à constituição de uma história que nos
une, em muitas oportunidades, esta narrativa foi construída por intelectuais, por pessoas
envolvidas com o serviço público, e não encontrar adesão no conjunto da sociedade. Se o
discurso já não encontra a sociedade, também a representatividade dos atores múltiplos

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da sociedade se apresentam no horizonte. Uma vez mais recorrermos a Cecília Londres


para iluminar a questão:

Fatores como a ampliação de patrimônio cultural, a diversificação dos instrumentos


de proteção, e o envolvimento de novos atores, expandiram o âmbito do alcance
dessas políticas para muito além das tradicionais ações de identificação e proteção
de monumentos (LONDRES, 2007, p. 160).

Problema no discurso, problema de representatividade – e esta questão me parece


importante em sociedades de fundo escravista e colonizada, como o Brasil – se somam a
questões econômicas e ambiental. Como lidar com as dinâmicas do espaço urbano e sua
valorização, às interações com atividades turísticas. São questões que,
contemporaneamente, os atores envolvidos com o patrimônio histórico precisam lidar. A
ideia do patrimônio histórico como meio de construção de identidades nacionais se
distancia no horizonte social.
Por todo o exposto, observamos que o patrimônio se inscreve na ideia da
transmissão de um conhecimento do passado, que se julga essencial para a existência
humanas. Como forma de construir uma noção de pertencimento a uma comunidade, a
uma nação, evocam-se lugares e objetos como forma de auxiliar a construção de uma
identidade. O patrimônio nasce do colecionismo, “evoluindo” para formas sistematizadas
de construção do passado. Os bens materiais tombados vão sofrendo mudanças com o
passar dos anos, em tipo e periodização histórica. Como observamos, o próprio sentido do
patrimônio histórico vai se tornando histórico. Se ele “nasce” entre fins do século XVIII e
início do século XIX tendo a identidade nacional, a construção de um elo que une um povo
como objetivo maior, ele alcançou a atualidade com o desafio de significar a diversidade
social, a multiplicidade cultural.
Se o patrimônio histórico e cultural se trata de uma “invenção” europeia, partindo de
países como França e Inglaterra, vejamos como se deu seu desembarque em nosso país.
Se até aqui observamos o patrimônio histórico em sua perspectiva mais ampliada,
passaremos, nas páginas seguintes, a tratar do caso do Brasil, observando suas origens e
sentidos.

Atividade: Vá até a sala virtual e participe do Fórum


“Sentidos do patrimônio”. Fale sobre as origens do
patrimônio histórico, suas mutações ao longo dos anos,
e quais questões na atualidade são postas a ele.

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1.2. Patrimônio Histórico no Brasil

Exposta em linhas gerais, a emergência do Patrimônio Histórico na Europa, ponto


de partida a partir do qual se percebe uma discussão mais sistemática em torno da
preservação, muito correlata à nova conformação dos Estados na busca pela construção
das identidades nacionais, entre fins do século XVIII e início do século XIX. O Brasil
experimentaria esta situação cerca de um século mais tarde, quando já havia alcançado
mais de um século de independência política. Situa-se, portanto, nas primeiras décadas do
século XX a promoção de políticas públicas em torno da questão patrimonial brasileira.
No Brasil, a preocupação com a preservação do patrimônio surge de forma
paradoxal. Ao mesmo tempo que tenta alinhar o Brasil às grandes transformações culturais
que agitam o globo, busca referenciais no passado que refletissem o Brasil. O advento do
século XX traz para o país novos referenciais culturais, dentro do qual o movimento
modernista, corporificado na Semana de Arte Moderna de 1922, é exemplo mais dileto.
Este movimento procura se significar a partir da incorporação de uma cultura que pudesse
representar o país. Neste sentido, urgia ao Brasil a necessidade de criar uma cultura
genuína. Como bem observa Maria Cristina Rocha Simão:

No Brasil, a grande lacuna cultural era a inexistência de uma cultura própria, de


identidade local. Criar uma nova arte brasileira capaz de retratar a nação e de
'lançar um novo olhar sobre o Brasil foi a proposta originária e fundadora do nosso
modernismo'. Para os modernistas nacionais, o Brasil adentraria o mundo moderno
através da busca de sua identidade própria e civilizando-se (SIMÃO, 2001, p. 27-
28).

Figura 3: Catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922. O evento que marca o movimento modernista no
Brasil, lançando-se para o futuro, foi muito importante para a promoção do Patrimônio Histórico no Brasil
Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35342/capa-do-catalogo-da-exposicao-da-semana-de-arte-
moderna (Acesso em: 30 de agosto de 2021).

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Assim, a preocupação nos primórdios da preocupação com o patrimônio era a


construção do passado, credencial essencial para que o país se tornasse “civilizado”. Era
urgente escrever e publicizar o passado do país, marcado pelas edificações históricas
ainda conservadas no país. A preocupação em preservar o patrimônio, segundo os ideais
dos modernistas do início do século, era meio essencial para construir uma dita identidade
nacional. Todas estas aspirações serão traduzidas em um primeiro documento produzido
acerca do patrimônio nacional, em projeto produzido por Mário de Andrade, no ano e 1936,
feito a pedido do então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, que propunha
a criação de um instituto preservacionista do patrimônio nacional, bem como as diretrizes
que deveriam nortear uma política de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.
A partir deste documento base, foi promulgado, um ano mais tarde, o Decreto-Lei nº 25. As
alterações no escopo do projeto estariam em torno de questões referentes aos aspectos
operacionais do processo de tombamento, e na concepção de obra de arte. Em seu
primeiro capítulo, intitulado “Do patrimônio Histórico e Artístico Cultural” se traduzia o
conceito de base de patrimônio que se estabeleceria em nosso país:

patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis


existentes no país e cuja preservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (BRASIL, 1937). (Grifos
meus)

Logo em suas primeiras linhas a legislação pertinente ao patrimônio nacional deixa


claro sua preocupação com a preservação do patrimônio edificado, o patrimônio de “pedra
e cal”. E fato que nas linhas seguintes a legislação faça menção a “sítios e paisagens que
importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela
Natureza ou agenciados pela indústria humana”. A preocupação com os bens móveis e
imóveis também se sustenta em sua vinculação com os capítulos da história do Brasil.
Expostos os princípios gerais do patrimônio, segue-se a discussão em torno do
processo de tombamento. Percebido o valor do patrimônio dito histórico e artístico, ele
deveria ser categorizado a partir de quatro entradas fixadas nos chamados livros de tombo,
divididos da seguinte forma:

Artigo 4º - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro


Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta
lei, a saber:
1º) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas
pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular,
e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º;
2º) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de arte
histórica;
3º) no Livro do Tombo das Belas-Artes, as coisas de arte erudita nacional ou
estrangeira;
4º) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria
das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.

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Assim, ficavam estabelecidos os tipos de bens a serem considerados na política de


preservação histórica e artística do país. Chama a atenção a divisão dos livros que
parecem estar atentos a bens de móveis e imóveis, que detém a atenção de três das
quatro entradas dos livros de tombo. Além disso, é curioso observar como a cultura dos
povos nativos é correlata à questão paisagística, deixando-se entrever um certo desprezo
com sua cultura e visão de mundo. A estas questões eram tratadas questões referentes ao
processo de tombamento – que poderia se dar de modo compulsório ou voluntário – e as
consequências do referido processo.
O decreto lei nº 25 chama a atenção para o patrimônio edificado, mas também para
os bens móveis e de arte que deveriam ser preservados. Para tal medida, deveria ser
instituídos museus. Segundo o texto da lei, em seu artigo 24:

A União manterá, para conservação e exposição de obras históricas e artísticas de


sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do Museu Nacional de Belas
Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornarem necessários, devendo
outrossim providenciar no sentido a favorecer a instituição de museus estaduais e
municipais, com finalidades similares (BRASIL, 1937).

Em linhas gerais, estava definida a política de preservação do patrimônio histórico e


artístico brasileiro. Sustentada pelas discussões promovidas no seio do movimento
modernista, seria ajustada aos ideais nacionalistas caros ao governo de Getúlio Vargas,
que instalado no poder, desde o ano de 1930, daria grande impulso a uma política de
construção de uma identidade nacional. Criada a lei, institui-se o Serviço de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e seu conselho consultivo, atos necessários para
dar início ao processo de tombamento no país. Segundo Maria Cristina Rocha Simão,
entre os bens inscritos nos livros de tombo nos primeiros anos de instalação do Serviço de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), órgão que deveria sustentar as políticas
estabelecidas na lei nº 25, havia um "predomínio absoluto da arquitetura e sítios urbanos
coloniais, somadas às obras de arte pura e aplicada" (SIMÃO, 2001, p.31).

Atenção: Ao longo de sua história, o Serviço de


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) já foi
Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, e atualmente denomina-se Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Vencida uma primeira fase da preservação do patrimônio histórico e artístico, as


políticas públicas em torno deste tema começam a ser colocadas em contato com a
realidade e, portanto, com os desafios que a questão impunha. No final dos anos de 1960
e 1970, em decorrência do grande impulso desenvolvimentista que alguns núcleos urbanos
tomam, em virtude da crescente industrialização do país, as cidades tombadas pelo

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SPHAN começam a alterar sua configuração espacial, preocupando os gestores deste


órgão. À guisa de exemplo a Cidade de Ouro Preto, um dos primeiros núcleos urbanos
tombados pelo órgão, experimentava a ampliação de atividades siderúrgicas em sua
urbes. Segundo a Maria Cristina Rocha Simão, o período em tela seria marcado, "ao
mesmo tempo, pela tentativa de elaboração de planos urbanísticos e pelo crescimento
desordenado dos núcleos urbanos tombados" (SIMÃO, 2001, p.35). Exemplo deste
esforço, entre os anos de 1966 e 1967, o SPHAN trouxe ao Brasil, por meio da UNESCO,
o inspetor Principal de Monumentos Franceses, Michel Parent, que deveria elaborar
relatórios que mapeassem a situação dos núcleos tombados brasileiros.
Em seguida, criando um grupo de trabalhos que reunia o SPHAN, a Agência
Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (EMBRATUR) e a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), é criado o Programa de Cidades Históricas
(PCH). Este programa passa a partir de então a encarar as cidades tombadas enquanto
um espaço dinâmico, ao contrário de uma visão da cidade como obra de arte, que a partir
de seu tombamento, não sofreria mais transformações. Tal medida superava uma primeira
visão construída sobre as cidades objeto das ações do SPHAN, que não viam a cidade em
suas dinâmicas, mas como algo estático, que deveria ser “congelado” no tempo. Este
programa permanece em vigência até fins dos anos 1970 como órgão independente,
quando é criada a Fundação Nacional Pró-Memória. Com a criação da Fundação Nacional
Pró-Memória, entra na ordem do dia uma nova tendência conceitual do que se considera
patrimônio.
A partir de então “um dos pressupostos da política do patrimônio cultural é não
apenas a apropriação de bens culturais em nome da 'nação' – como era no caso de
Rodrigo – mas a devolução desses bens aos seus autênticos proprietários: as
comunidades locais". Após esta mudança na estrutura da administração, dá-se uma
"grande ampliação no quadro técnico, seguida de uma fase de fortes questionamentos
sobre a política anterior" (SIMÃO, 2001, p.36).
Vencidas estas duas décadas, os anos 1980 trariam a discussão do patrimônio
histórico corporificado na Constituição Federal de 1988, que dedicou o artigo 216 à
questão. Segundo se expressa:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá
o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,

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tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e


preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela
necessitem.
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e
valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos (BRASIL, 1988).

Com definições mais ampliadas, ali começa a se entrever algumas mudanças dos
tempos, como por exemplo a questão do patrimônio cultural, no que chama a atenção a
preocupação com a preservação dos quilombos, símbolo da resistência ao cativeiro
escravo. Se ali os sinais em torno da preservação do patrimônio cultural ganhavam
melhores contornos, a questão do patrimônio cultural só ganharia uma legislação que lhe
fizesse atenção alguns anos mais tarde. Por meio do decreto nº 3551, de 4 de agosto de
2000, foi estabelecido o “Registro de bens culturais de natureza imaterial”. Quase na virada
do milênio, se cristalizava o esforço em prol da construção de um registro da diversidade
cultural brasileira em suas várias formas. O patrimônio cultural imaterial foi estabelecido
principalmente nos chamados países de terceiro mundo, como parte dos esforços de
registrar, e no limite, manter vivas, representações culturais consideradas importantes para
a nação. Elas estão muito alinhadas com as discussões sobre culturas das décadas de
1960 e 1970.
Segundo as linhas definidas pelo IPHAN em seu site, entende-se por Patrimônio
Cultural Imaterial:

[...] práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os


instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e as
comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem
como parte integrante de seu patrimônio cultural [...] O Patrimônio Imaterial é
transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades
e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua
história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim
para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. 1

Tal qual o patrimônio material, o patrimônio cultural imaterial foi estabelecido em


grandes áreas, que deveriam ser registradas nos livros de tombo que seguem:

I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de


fazer enraizados no cotidiano das comunidades;
II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que
marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de
outras práticas da vida social;
III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas
manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras,

1 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234 . Acesso em 11/05/2021.

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santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas


culturais coletivas (BRASIL, 2000).

Figura 4: Exemplos do patrimônio cultural brasileiro tombados: Linguagem e Arte Gráfica Wajãpi.
Fonte: Livro Formas de Expressão (2002); Círio de Nossa Senhora de Nazaré (Livro das Celebrações –
2005); Samba de Roda do Recôncavo Baiano (Livro Formas de Expressão – 2004); Ofício das paneleiras de
goiabeiras (Livro dos Saberes – 2002); Ofício das paneleiras de goiabeiras (Livro dos Saberes - 2002).

Em linhas gerais, assim se desenha o patrimônio histórico e cultural brasileiro. No


decurso de quase um século, o Brasil construiu uma vasta história do patrimônio,
ampliando cada vez mais o espectro de bens e práticas a serem preservados para o
conjunto da sociedade brasileira.
O estado de Minas Gerais teve papel muito importante neste processo. Como bem
observa Cecília Londres,

A produção arquitetônica e artística do período colonial era pouco conhecida e


sequer era valorizada. As expressões brasileiras do estilo barroco, consideradas
toscas, não recebiam atenção do poder público, e se degradavam sobretudo nas
“cidades mortas” do interior do país.
Foram viagens a Minas feitas por integrantes do movimento modernista e
manifestações de sua preocupação com o estado das edificações e obras de arte
coloniais que despertaram intelectuais e artistas para a necessidade de uma
mobilização em defesa do que passaram a considerar o primeiro estilo artístico
genuinamente brasileiro (LONDRES, 2007, p. 167)

A busca por signos culturais que pudessem conferir identidade cultura ao Brasil
estaria encravada nas montanhas das Minas Gerais. Território ocupado pelos portugueses
entre o final do século XVII e os primeiros anos do século XVIII, seria novamente
descoberto no século XX, como forma de significar o Brasil. Motivo pelo qual tentaremos,
nas linhas que seguem, falar um pouco da história de Minas Gerais, procurando evidenciar

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alguns aspectos de sua materialidade que acabaram por marcar a história do patrimônio
histórico brasileiro.

Atividade: Como procuramos observar, o patrimônio


histórico brasileiro passou por diversas mudanças ao
longo do século XX, ampliando cada vez mais seus
horizontes históricos e culturais. Vá até a sala virtual e
no fórum “Nosso Patrimônio” fale sobre quais questões
lhe chamaram a atenção na construção do patrimônio
histórico e cultural do Brasil.

Nos encontramos na próxima semana.


Bons estudos!

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Semana 2 – História de Minas Gerais Plataforma +IFMG

Objetivos
Nesta semana falaremos sobre História de Minas Gerais,
com especial atenção para o período colonial. Como grande
parte do patrimônio histórico mineiro se refere a este período
histórico, é interessante analisar este capítulo da nossa
história.

Mídia digital: Não deixe de assistir à videoaula número


02 para reforçar seus conhecimentos!

2.1 Uma breve história de Minas Gerais - período colonial

No apagar do século XVII, depois de muitas décadas à procura de metais e pedras


preciosas, finalmente chegou a Portugal a notícia de que haviam sido descobertos
depósitos auríferos no coração da América. A descoberta, feita na região então
denominada Sertão dos Cataguases, posteriormente conhecida como Minas Gerais,
inaugurou um processo de migração sem precedentes na América portuguesa.
Em fins do século XVII, tão rápido espalharam-se as primeiras notícias de que
bandeiras paulistas haviam achado ouro no Sertão dos Cataguases, a esperança de
enriquecimento advinda da extração deste mineral fez com que um grande número de
pessoas, tanto de algumas regiões da América, quanto do Reino, seguisse para a região.
Como bem descreveria Antonil, ainda nos primeiros anos do século XVIII: “[...] cada anno
vem das frotas quantidades de portugueses e de estrangeiros, para passarem para as
Minas. Das cidades, villas, recôncavos, e sertões do Brazil vão brancos, pardos e pretos, e
muitos índios de que os paulistas se servem” (ANTONIL, 2000, p.66).
A migração em massa para as Minas teve, neste sentido, impactos diretos no
cotidiano da América portuguesa e mesmo no Reino. Houve tentativas sistemáticas de
conter a migração para a região recém-descoberta, com a publicação de editais que
limitavam este acontecimento, pois foram muitos aqueles que decidiram se aventurar no
coração da América. Rapidamente, o território contaria com vários acampamentos de
mineradores e, gradativamente, seriam constituídos alguns instrumentos para normatizar e
dar lei e ordem aos povos que foram se estabelecendo na região. Tais medidas se
tornariam necessárias à medida em que a migração em massa para a região das Minas
teve como consequência um convívio entre os povos muito maior que em outros lugares
da América portuguesa (SOUZA, 1986, p.105). Os mineradores disputavam cada palmo
dos regatos dos rios e dos morros e o convívio se tornava, não raro, bastante tenso. A
disputa por lavras minerais, somada à grande heterogeneidade dos povos que vieram para
as Minas, bem como sua “qualidade”, acabou por resultar em uma série de distúrbios e

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conflitos. Segundo Dom Lourenço de Almeida, em carta enviada à Coroa do ano de 1722,
estes distúrbios relacionavam-se ao modo de vida dos povos. Para ele,

[...] por ser o seu cabedal pouco volumoso, por constituir todo em oiro, nem mulher
nem filhos que deixar, não só se atrevem à obediência e às justiças de Vossa
Magestade, se não também em cometerem continuamente os mais atrozes
delictos, como estão sucedendo nestas Minas (BOXER, 2000, p. 190).

Tais distúrbios prejudicariam muito os interesses da coroa com as Minas, no que diz
respeito a ficar com o quinhão que lhe cabia da mineração. Nesse sentido, da submissão e
obediência dos povos dependia o sucesso no trabalho nas lavras e o aumento nas rendas
da Coroa. Era necessário, portanto, estabelecer mecanismos que pudessem ordenar os
povos das Minas, colocando-os debaixo das leis régias.
Assim, em conformidade com o processo de ocupação do território, foi se
construindo uma estrutura política, econômica e social na região. Sem um “projeto” de
ocupação do território, sua vida política foi se organizando em conformidade com as
demandas que se apresentavam à sociedade. Quando do anúncio da descoberta de ouro
no Sertão dos Cataguases, no último decênio do século XVII, este estava subordinado
administrativamente à Capitania do Rio de Janeiro. Aos poucos foi sendo estruturando o
governo dos povos, bem como uma máquina tributária, especialmente das atividades
minerais.
O estabelecimento de povoados nas regiões mineradoras teve como consequência
um convívio entre os povos, muito maior que em outros lugares da América portuguesa.
Disso resultou uma série de conflitos, que fazia com que fosse necessária a normatização
da população, fazendo com que "os acampamentos de faiscadores da véspera [fossem]
subitamente assaltados por uma legião de burocratas portugueses". Da submissão e
obediência dos povos dependia o sucesso no trabalho nas lavras e o aumento nas rendas
da Coroa (SOUZA, 1986. p.105). A preocupação da coroa se justificava pelo grande
número de motins e rebeliões que aconteceram na região ao longo do século XVIII.
Podemos rapidamente nos lembrar de eventos como a Revolta dos Emboabas, ocorrida
em 1709, tendo como pano de fundo as disputas pelo poder na região, e as tensões entre
grupos de paulistas e reinóis. E, a partir dele, podemos encontrar várias outras tensões
como a Sedição de Vila Rica, de 1720. Não por acaso, o Conde de Assumar, governador
da região na altura da revolta, assim descreveria a região, procurando atestar a natureza
tensa da região: “a terra parece que evapora tumultos; a água exalta motins; o ouro troca
desaforos; destilam liberdade os ares; vomitam insolências as nuvens; influem desordem
os astros; o clima é tumba da paz e berço da rebelião”.

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Figura 5: Imagem alusiva a Sedição de Vila Rica, ou Sedição de Felipe dos Santos. Rebeliões que tiveram
como pano de fundo nas questões fiscais marcaram o cotidiano de Minas Gerais. O Julgamento de Filipe dos
Santos, líder do Levante de Vila Rica. Obra de Antônio Parreiras, c. 1923.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antonio_Parreiras_Julgamento_de_Filipe_dos_Santos.jpg.
(Acesso em 07/07/2021)

Esta é uma questão muito interessante a ser observada na história de Minas Gerais.
A forte presença das atividades minerais da região – que além das atividades de extração
do ouro também experimentaria a extração de diamantes na região mais ao norte – fez
com que o espaço urbano ganhasse grande destaque. As atividades minerais, que
demandaram um grande aparato tributário, somado ao intenso convívio entre os povos,
que não raro resultaram em tensões, levou a Coroa a fundar várias vilas e arraiais em
várias regiões de Minas Gerais, se comparadas com outras regiões da América
portuguesa.
As vilas eram uma instância administrativa que, em muitos graus, se assemelha às
nossas municipalidades. As casas de câmara geralmente compunham-se de dois a seis
vereadores, Juiz ordinário, procurador, e demais oficiais, como o alcaide, e o almotacé.
Tinham, entre suas principais atribuições, supervisionar a distribuição e arrendamento das
terras municipais e comunais, lançar e cobrar taxas municipais, fixar os preços de produtos
e provisões, passar licença aos vendedores ambulantes, construir e fazer a manutenção
de estradas, pontes, cadeias e demais bens públicos. Deviam também regular os feriados
e organizar os festejos e procissões. Eram responsáveis pelo policiamento das localidades
sob sua jurisdição, pelo lançamento de posturas e editais. Atuavam, ainda, como uma
espécie de tribunal de primeira instância, subjugados ao ouvidor mais próximo ou mesmo
ao Tribunal da Relação (BOXER, 1981. p. 265-266). As casas de câmara, açambarcavam
assim uma série de atribuições, que gravitavam nas áreas fazendárias, judiciárias e
administrativas. Importante lembrar que o acesso a estas câmaras se dava através do um
sistema eletivo, do qual participavam apenas as pessoas mais bem-postas das vilas, os
chamados homens bons.

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Figura 6: Chafariz construído pela câmara da então Vila Rica no século XVIII. Em seu topo, lia-se a seguinte
inscrição: Curia curat, amat, fabricat, propinat, abhorret, nos ubertatem, staqua, flu(…)ta sitim, que se pode
traduzir da seguinte maneira: “o senado cuida de nós, ama a abundância, fabrica os tanques, dá a beber as
águas correntes, aborrece a sede”. Na atualidade o chafariz ainda faz parte do acervo patrimonial da cidade
de Ouro Preto.
Fonte: Oliveira (2013).

A Capitania de Minas Gerais, ao longo do século XVIII, assistiu à fundação de


quatorze vilas e uma cidade. As vilas criadas neste período foram: Vila de Nossa Senhora
do Carmo (atual Mariana), Vila Rica (atual Ouro Preto) e Vila Real de Sabará (atual
Sabará), todas em 1711, Vila de São João d'el Rey (atual São João d’el Rey) em 1712, Vila
do Príncipe (atual Serro) e Vila Nova da Rainha (atual Caeté) em 1714, Vila Nova do
Infante (atual Pitangui) em 1715 e Vila de São José d'el Rey (atual Tiradentes) em 1718. A
vila de Nossa Senhora do Carmo foi elevada a Cidade em 1745, com o nome de Mariana,
e é a cidade fundada acima citada. Em 1730 foi criada a Vila de Bom Sucesso das Minas
Novas (atual Minas Novas). Novas vilas só voltariam na Capitania no final do século XVIII.
Neste período foram fundadas as Vilas de São Bento do Tamanduá (atual Itapecerica), em
1789, a Vila de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), em 1790, a Vila de Barbacena (atual
Barbacena), em 1791 e as Vilas de Campanha da Princesa (atual Campanha) e de
Paracatu do Príncipe (atual Paracatu). Se o número de municipalidades já era elevado
para os padrões coloniais, a região ampliava seu espaço urbano com uma enorme

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quantidade de arraiais, que sem contar com autonomia administrativa, eram subordinados
às Vilas.
O espaço urbano (e mesmo o rural) que se constrói em Minas Gerais ao longo dos
séculos XVIII, e mesmo no século XIX, além de ser espaço do poder, é espaço da
representação social, das sociabilidades. Os edifícios civis, públicos e religiosos
representavam as múltiplas facetas da sociedade mineira. A arquitetura colonial mineira é
uma adaptação das técnicas construtivas portuguesas, transplantadas para o coração da
América, em meio aos morros e regato dos rios. Para muitos estudiosos do tema, a
distância dos distritos minerais, e sua dificuldade de contato com as regiões litorâneas, e,
por conseguinte, à Europa, acabou por forjar uma forma arquitetônica peculiar. Mesmo
apartada de Europa, não deixou de ter seus referenciais, trazendo ainda referências da
arquitetura da África, da China, entre outras (ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 29).

Figura 7: Detalhe de decoração da Capela de Nossa Senhora do Ó, em Sabará, Minas Gerais, evidenciando
as influências orientais.
Fonte: Ricardo André Frantz - Obra do próprio, CC BY 3.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39732277

Os primeiros tempos da arquitetura mineira são marcados pela rusticidade, quando


a transitoriedade das atividades extrativas e a constante migração dos mineradores ainda
marcavam os primeiros exploradores, e os edifícios residenciais eram ranchos construídos
com materiais disponíveis como madeira e fibras vegetais. Este cenário se completava
com um mobiliário bastante simples, servindo à morada de abrigo ao tempo, e para a
guarda de ferramentas. À medida em que os povos iam se “assentando” no território, e as
vilas começaram a ser criadas, os edifícios foram ganhando mais “solidez”. Edifícios

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construídos na chamada “taipa de pilão”, assim descrita por Adriana Romeiro e Angela
Botelho: “sistema em que as paredes são maciças, erguidas sobre vigas de madeira,
dentro dos quais o barro é socado, e muitas vezes é misturado a ele estrume, fibras
vegetais, cascalho, areia, etc. (ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 30)
Com o passar dos anos as casas sofreram alterações quanto aos materiais
empregados nas construções, como a utilização de pedra, assim como os edifícios
ganham mais beleza. Além disso, começam a surgir edificações de dois andares: em geral
o primeiro andar se destina às atividades econômicas, ao passo que o segundo andar se
destina ao convívio íntimo.

Figura 8: Conjunto de casarões na praça Tiradentes, Ouro Preto, em fotografia tirada em 1948, quando a
cidade já era considerada patrimônio histórico.
Fonte: Acervo digital do autor.

A arquitetura religiosa de Minas Gerais também teria um importante papel no


universo estético da região. Os edifícios religiosos teriam aqui sua peculiaridade, em
comparação com as demais regiões da América portuguesa. Como já pontuamos, sua
distância com os grandes centros, e mesmo com a Europa, faria com que muitas soluções
estéticas precisassem de adaptações locais. Além disso, com a proibição da entrada de
ordens religiosas na região, as chamadas Irmandades leigas, confrarias de devotos que se
reuniam em torno da devoção religiosa, erguiam igrejas a suas custas. Questões que
seriam decisivas na construção da arquitetura religiosas mineira. Como apontaram Adriana
Romeiro e Ângela Botelho:

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Ao contrário do que ocorreu no litoral, onde as ordens e congregações religiosas se


incumbiram da construção das igrejas e capelas, nas Minas a proibição da entrada
dessas ordens, transferiu tal tarefa ás irmandades, que representavam os diversos
segmentos sociais (...). No litoral, as construções estavam sob responsabilidade
das ordens e congregações religiosas que obtinham não apenas os recursos, mas
também os riscos, os projetos e os modelos europeus, originando uma arquitetura
submissa às matrizes europeias e pouco representativa da sociedade local. Nas
Minas, ao contrário, a população organizou-se em torno das irmandades, confrarias
e ordens terceiras, que, refletindo a complexidade social, do lugar, corresponderam
plenamente às necessidades e valores estéticos de cada segmento social”
(ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 31).

Como forma de mostrar a importância e magnificência da ordem a que pertenciam,


contratavam os melhores construtores, pintores e escultores de seu tempo para edificarem
os templos de suas irmandades. Uma arquitetura que será original na forma, e
oportunamente na utilização de materiais construtivos, e neste último caso, a utilização da
chamada pedra sabão como solução construtiva – no lugar do mármore.

Figura 9: Projeto para a fachada da Igreja de São Francisco em São João del-Rei, Minas Gerais.
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aleijadinho,_Igreja_da_Ordem_Terceira_de_S%C3%A3o_Francisco
_de_Assis,_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_del_Rei.jpg (Acesso em: 07 de julho de 2021).

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Figura 10: Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais. Contou com os trabalhos de
Antônio Francisco Lisboa e Manoel da Costa Ataíde, dois mestres das artes do período colonial.
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Francisco_de_Assis_(Ouro_Preto)#/media/Ficheiro:
SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg (Acesso em: 30 de agosto de 2021).

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Além dos edifícios civis e religiosos, cabe registrar as iniciativas do poder público na
construção de edifícios. Como forma de representar o poder, e a ordem social. Assim, o
poder das municipalidades se traduziu nos edifícios das casas de câmara de cadeia. Na
antiga Vila Rica, sede da administração da Capitania, se fez edificar o palácio dos
governadores.

Figura 11: Palácio dos Governadores, Ouro Preto, Minas Gerais, em registro das primeiras décadas do
século XX.
Fonte: Acervo digital do autor.

Figura 12: Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto, Minas Gerais nas primeiras décadas do século XX.
Fonte: Oliveira (2013).

Mídia digital: Um projeto desenvolvido no IFMG nos


permite “passear” pela antiga Vila Rica no século XVIII.
Acesse o link e boa viagem!

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É nesse espaço que terá lugar uma manifestação artística que marcará a história de
Minas Gerais e do Brasil: O Barroco.
Expresso em muitas situações como um movimento estético, ele significou também
uma visão de mundo. Sua origem é europeia, podendo ser identificado a partir do século
XVII, estendendo-se até o século seguinte. Assim, embora o Barroco se perceba
especialmente no espaço religioso, ele também foi um instrumento muito importante de
sustentação do poder régio.
Como observa Adriana Romeiro, ele tem como epicentro a Roma dos papas, “cujo
programa contra-reformista exigia o apelo de uma arte exuberante e de caráter
propagandístico” (ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 50). Embora de fundo europeu, a
chegada do Barroco nas várias paragens foi ganhando variações, e em Minas Gerais não
foi diferente. Nas Minas, além de pontuar o cenário estético da região, também influencia a
construção de uma cultura mineira, como bem observa Adriana Romeiro, “a um só tempo
religiosa e profana, na qual a morte e as preocupações com a salvação da alma ocupam
um lugar central e convivem lado a lado com as festas – espaço privilegiado da
sociabilidade setecentista” (ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 50).
A estética barroca vai se marcar pela noção de movimento, característica da época,
“sugerindo a sensação de dinamismo e vertigem”. Exemplo dessa sensação os tetos das
igrejas estarão repletos de nuvens e anjos, “a arrastar o espectador em direção aos céus”
(ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 50). Uma sensação que se fará perceber em um sem
número de edifícios religiosos de Minas.

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Figura 13: Teto da Igreja São Francisco de Assis em Ouro Preto, MG, executado por Mestre Ataíde (1762-
1830).
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mestre_Ata%C3%ADde_-
_Glorifica%C3%A7%C3%A3o_de_Nossa_Senhora_-_Igreja_de_S%C3%A3o_Francisco_2.jpg (Acesso em
07/07/2021)

Em meio a todas estas referências, floresceu o barroco em Minas Gerais. Forjado


em torno das dificuldades naturais do território, que como já observamos estava distante
dos grandes centros, e ao mesmo templo a circulação de pessoas oriundas das várias
partes do império português, e também representando a multiplicidade da sociedade local,
em suas múltiplas experiências culturais, forjou um tipo singular de barroco, que o passar
dos anos consideraria única, singular. Como bem observa uma vez mais Adriana Romeiro,

Muitos fatores contribuíram para criar um estilo autônomo: o contato com técnicas
artísticas, tanto de origem culta quanto popular, como o modus operandi de
escravos e forros de origem africana, o recurso a material e a instrumentos
disponíveis na região, a atuação decisiva das irmandades e confrarias, a
constituição de uma sociedade diversificada. (ROMEIRO; BOTELHO, 2004, p. 52)

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Por conta de todas estas características, vai acabar por se forjar o que hoje se
denomina “barroco mineiro”. Na singularidade da arte mineira colonial, representada por
mestre Ataíde e Antônio Francisco Lisboa, de alcunha Aleijadinho, se construirá, nas
primeiras décadas do século XX, um discurso forte em torno do patrimônio histórico e
cultural brasileiro.

2.2 Minas Gerais e o Patrimônio Histórico

Apresentado o panorama de uma breve história de Minas Gerais, procurando


evidenciar suas práticas culturais, com especial atenção para o denominado Barroco, fica a
questão: como se encontra a cultura mineira com a memória nacional?
Talvez para compreender esta relação seja oportuno recuar ao início do século XX,
em suas primeiras décadas, e acompanhar as circulações de Mário de Andrade,
importante personagem do cenário cultural brasileiro daquele tempo, um dos ícones do
chamado Movimento Modernista.
Por volta de 1919 ele teria um primeiro contato com a região, quando esteve em
Mariana para visitar Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). Retornaria a região cinco
anos mais tarde, agora em companhia de comitiva mais ampliada, que contou com Oswald
de Andrade, escritor e dramaturgo, Tarsila do Amaral, artista plástica, entre outros.
Segundo Gustavo Werneck, essa seria considerada a “Viagem da Descoberta do Brasil”
(WERNECK, 2015). Citando Adalgisa Arantes Campos, assim se descreve o lugar daquela
“expedição”:

O grupo de modernistas, muitos deles de formação europeia, buscava a identidade


do homem brasileiro e, paradoxalmente, foi fazer essa descoberta no nosso
passado colonial, no barroco mineiro, na pedra-sabão, bem distante da faixa
litorânea, num afastamento das tradições do Rio e Bahia (WERNECK, 2015).

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Figura 14: Imagem da “expedição” de Mário de Andrade a Minas.


Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/05/09/interna_gerais,645732/a-redescoberta-do-
brasil.shtml (Acesso em: 07 de julho de 2021).

Após a visita, no ano de 1928, Mário de Andrade produziu um texto sobre Antônio
Francisco Lisboa, na obra Aspectos das Artes Plásticas no Brasil, procurando atestar suas
múltiplas habilidades, que deixava patente a singularidade da arte produzida nas Minas
Gerais. A singularidade artística de Minas Gerais se encontraria na encruzilhada da história
do Brasil no início das discussões para a criação de um serviço de proteção ao patrimônio
histórico cultural brasileiro, que viria a luz anos mais tarde a partir de um anteprojeto
redigido por Mário de Andrade, que se tornaria realidade pelas mãos do mineiro Rodrigo
de Mello Franco de Andrade (1898-1969), primeiro diretor do Serviço de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Neste contexto, Minas se tornaria patrimônio do
Brasil, como pode-se observar o lugar do estado na política de preservação do IPHAN
desde seus primórdios. Como bem observa Dênis Tavares,

[...] seus bens artísticos e sua arquitetura tradicional do século XVIII foram
consagrados como manifestação expressiva do “ser nacional”. Nesse prisma, o
passado mineiro seria “exemplar”, pois fornecia um cenário ideal, repleto de
tradições, heróis, monumentos e objetos fundadores da própria identidade nacional
(TAVARES, 2016, p. 42).

Assim, a política de preservação do Patrimônio Histórico tem em Minas seu marco


inicial. Procurando marcar este percurso histórico, apresento aqui algumas iniciativas de
preservação promovidas pelo IPHAN, com especial atenção para o patrimônio edificado

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nos anos iniciais do órgão federal. A cidade de Ouro Preto é tombada como patrimônio
histórico no ano de 1938. Ainda conservando muito de suas feições coloniais, atestada
especialmente pelo traçado de parte da urbes e pelos edifícios religiosos, mesmo as
mudanças realizadas no espaço urbano ao longo do século XIX, quando ainda era a
capital de Minas Gerais, não retiraram delas as características que a definiriam como um
símbolo da arte nacional.
Uma das maiores cidades das Américas no período colonial, tinha um vasto acervo
de edifícios religiosos, chafarizes, pontes que persistiram em sua paisagem urbana. A
cidade ainda preservaria parte de seus acervos prediais em decorrência da mudança da
capital do estado para Belo Horizonte, construída especialmente para abrigar o aparato
estatal, no ano de 1897. Este movimento no apagar do oitocentos acabaria por “ajudar” na
preservação daquele lugar histórico, pois o esvaziamento da cidade acabaria por reduzir a
dinâmica da transformação urbana. Importante observar, Ouro Preto ainda contribuiria para
a construção da identidade nacional por meio da Inconfidência Mineira, traduzida na
república como um movimento em prol da independência nacional, tendo em Tiradentes
seu herói maior, e na antiga Vila Rica o palco das manifestações de libertação nacional.
Assim, a cultura material se casava com os anseios de um nacionalismo que se ancorava
nos heróis nacionais.

Figura 15: Registros da Cidade de Ouro Preto nas décadas seguintes ao seu tombamento, ocorrido em 1938.
Fonte: Acervo digital do autor.

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São João del Rei também foi objeto de tombamento no mesmo ano de Ouro Preto,
em 1938, entretanto, o IPHAN atesta que a delimitação do conjunto histórico tombado só
aconteceria em 1947. Situada nas cercanias de São João del Rei, a Cidade de Tiradentes
também seria objeto de tombamento no ano de 1938. Mais ao norte do estado, Diamantina
se tornaria patrimônio nacional no ano de 1938. Próxima a Diamantina, a cidade do Serro
foi tornada patrimônio também no ano de 1938.
Anos mais tarde, o conjunto do Santuário do Bom Jesus do Matozinhos, localizado
em Congonhas, seria tornado patrimônio no ano de 1939, reunindo o maior acervo reunido
de autoria de Antônio Francisco Lisboa. Dois anos mais tarde o conjunto urbano seria
tombado. A cidade de Mariana, denominada a primeira cidade de Minas Gerais, bem como
sua primeira capital, vizinha a Ouro Preto, se tornaria também patrimônio nacional no ano
de 1945. A cidade que fora a sede do primeiro bispado de Minas Gerais, ostentando um
desenho urbano planejado ainda no período colonial.

Figura 16: Santuário do Bom Jesus do Matozinhos, Congonhas, Minas Gerais, cerca de 1950.
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/370/ (Acesso em: 18 de maio de 2021).

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Figura 17: Cidade de Mariana.


Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/372 (Acesso em: 30 de agosto de 2021).

É preciso registrar que além da preservação da sua paisagem urbana, Minas


também contou com políticas federais de conservação de objetos ligados a cultura e
identidade nacional, através dos museus instalados no estado. Assim, em 1938 é criado
em Ouro Preto o Museu da Inconfidência, em 1941 o Museu do Ouro, localizado em
Sabará, em 1946 o Museu Regional de São João del Rei, em 1949 o Museu Regional
Casa dos Otoni, no Serro, e em 1954 o Museu do Diamante, em Diamantina.
Entre as iniciativas museológicas promovidas pelo governo por meio do SPHAN,
chamo a atenção para o Museu da Inconfidência, que além de conservar aspectos da
cultura material mineira, também conserva a memória da Inconfidência Mineira (1789),
evento que ganha bastante relevo com o advento da república (1889), o qual Getúlio
Vargas vai assimilar ao panteão dos heróis nacionais na conjuntura da construção de uma
identidade nacional por meio do patrimônio histórico. No referido museu foram depositados
os restos mortais dos inconfidentes degredados para a África. Se Minas Gerais marca a
história do patrimônio histórico brasileiro em consequência de seu vasto acervo do período
colonial, também terá papel assegurado por sua contribuição à história política nacional.

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Figura 18: Chegada dos restos mortais dos inconfidentes a Ouro Preto, em 1942. Os restos mortais dos
inconfidentes seriam conservados no Museu da Inconfidência, que ocupou o edifício da Casa de Câmara e
Cadeia da antiga Vila Rica. Ao lado, celebração do feriado de 21 de abril em Ouro Preto. Neste dia a Capital
de Minas Gerais é simbolicamente transferida para a antiga Capital dos mineiros.
Fonte: Acervo digital do autor.

Uma questão interessante a ser observada também é o fato de algumas destas


cidades terem se tornado patrimônio da humanidade, passando a ser objeto de atenção da
UNESCO. É interessante registrar o tombamento de Ouro Preto, em 1980, Congonhas, em
1985 e Diamantina em 1985. Outra questão igualmente digna de nota diz respeito às
importantes contribuições para a preservação da história recente do país.
Belo Horizonte, nascida para significar a modernidade do espaço urbano teria o
moderno complexo da Pampulha, estruturado na década de 1940, reuniu profissionais
como o arquiteto Oscar Niemeyer que realizou o projeto dos edifícios, Roberto Burle Marx
foi encarregado do paisagismo, e Cândido Portinari, responsável pelos painéis dos
edifícios tombado pelo Iphan, em 1997. Cabe registrar que a Igreja de São Francisco de
Assis, parte do complexo, já havia sido tombada em 1947, portanto poucos anos após sua
execução. O complexo da Pampulha tornou-se patrimônio da humanidade em 2016.

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Figura 19: Igreja da pampulha, parte do complexo da Pampulha.


Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/820/ (Acesso em: 30 de agosto de 2021).

Neste capítulo, procuramos falar em linhas gerais sobre a história de Minas Gerais,
pano de fundo para entender o lugar do estado na história do patrimônio histórico. Grande
parte de suas cidades coloniais se tornaram espaço preservado, fosse o conjunto urbano,
fosse ao menos alguns de seus edifícios. Se Minas Gerais marca o universo do patrimônio
edificado brasileiro, também terá muitas de suas práticas culturais registradas no IPHAN,
na conjuntura do decreto lei nº 3.551 de 04 de agosto de 2000. Entre as práticas culturais
tombadas podemos mencionar o “Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas, nas regiões
do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre”, registrado no Registro dos Saberes, em junho
de 2008. Além deste registro, há também o Ofício de Sineiro, registrado no Livro de
Registro dos Saberes, em 2009.

Figura 20: Ofício de sineiro em Minas Gerais.


Fonte: http://portal.iphan.gov.br/mg/pagina/detalhes/70 (Acesso em: 30 de agosto de 2021).

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Mídia digital: Vamos conhecer o processo de


fabricação de um dos bens culturais de Minas mais
aclamados, o queijo! (link).

Não obstante, as políticas de preservação do patrimônio histórico e cultural mineiro,


promovidas pelo IPHAN, e mesmo pela UNESCO, o próprio governo do estado também irá
organizar políticas de preservação do acervo histórico do estado. No ano de 1971 foi
criado o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Somadas,
as políticas públicas federais e estaduais fazem com que o volume de acervos históricos
de Minas Gerais sejam um dos maiores do país. Exposto a situação do patrimônio histórico
mineiro. Vamos falar um pouco sobre as realidades das políticas de patrimônio em
algumas regiões do estado.

Atividade: A cidade em que você mora tem bens


tombados como patrimônio histórico-cultural estadual
e/ou federal. Conte-nos a história que você conhece
dele(s).

Nos encontramos na próxima semana.


Bons estudos!

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Semana 3 – Políticas de preservação do patrimônio histórico
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Objetivos
Nesta semana falaremos das Políticas de preservação do
Patrimônio Cultural brasileiro, procurando observar sua
situação em Minas Gerais. Na sequência, falaremos de
alternativas para a economia local e o patrimônio histórico e
cultural.

Mídia digital: Não deixe de assistir à videoaula número


03 para reforçar seus conhecimentos!

3.1 As políticas de preservação do patrimônio histórico

Na atualidade, há previsão legal de tombamento de bens de interesse histórico e


cultural nas esferas municipais, estaduais e federal. Como apontamos anteriormente, as
políticas de preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro tem seu ponto de
partida no Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que segue em vigência. Anos
mais tarde seria implementada a lei nº 3924/1961, que dispõe sobre os monumentos
arqueológicos e pré-históricos. Mais recentemente, as questões pertinentes ao Patrimônio
Histórico passaram a compor a Constituição Federal do Brasil, sendo o tema tratado nos
artigos 215 e 216. Registre-se ainda o decreto nº 3.551/2000, que Institui o Registro de
Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Questões que procuramos apontar nas seções
anteriores, observando as principais questões pertinentes ao tema. Além destes
instrumentos ainda há outros referenciais para a preservação patrimonial, como bem
observam Azevedo Netto e Silva: “Além disso, a preservação de bens de natureza culturais
são ainda guiadas por cartas, declarações e tratados nacionais e internacionais, além de
outros instrumentos legais, como as legislações que tratam de questões ambientais, de
arqueologia e de turismo cultural (2010, p. 24-25)”. A partir destes documentos, se
desenha a política de preservação do patrimônio histórico e artístico brasileiro, que pelas
temporalidades legislativas, foram sempre enfáticas na preservação dos bens de
relevância histórica para o país, preocupando-se com as questões ligadas às tradições
culturais do país apenas nas últimas décadas.
A partir destes instrumentos legais, são definidas as bases de atuação das
instâncias públicas na preservação do patrimônio histórico do Brasil. Em relação ao que
podemos denominar patrimônio histórico, a partir do exposto pela lei nº 25/1937, os tipos
de bens a serem preservados persistem como na altura da homologação da lei. Assim, é

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possível observar aquilo que persiste da política de preservação do patrimônio histórico,


em conformidade com os chamados livros de tombo, que se dividem em quatro, a saber:

1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas


pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular,
e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º.
2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interêsse histórico e as obras de arte
histórica;
3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou
estrangeira;
4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria
das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras (BRASIL, 1937).

Os bens considerados de interesse histórico, vencidos os processos de


levantamento sobre os bens a serem preservados, deverão ser inscritos nos Livros de
Tombo. Para que o processo de tombamento seja realizado, o IPHAN pode ser valer de
uma série de registros documentais utilizados pelo órgão, em conformidade com o tipo de
bem que será tombado. Segundo exposto pela instituição,

O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis


federal, estadual ou municipal. Os tombamentos federais são da responsabilidade
do IPHAN e começam pelo pedido de abertura do processo, por iniciativa de
qualquer cidadão ou instituição pública. Tem como objetivo preservar bens de valor
histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a
população, impedindo a destruição e/ou descaracterização de tais bens. 2

Como observa o documento acima citado, assim que acolhido o pedido de processo
de tombamento, ele passa por uma “avaliação técnica preliminar”. Em caso de aprovação
do processo de preservação de algum bem, o proprietário é notificado da intenção de
preservação. A partir deste ato, “o bem já se encontra sob proteção legal, e interditado
para venda, por exemplo, até que a instância máxima da área do Patrimônio adote uma
decisão final”. Para o caso do patrimônio cultural imaterial, também foram estabelecidos
Livros de Tombo, estabelecidos como abaixo segue:

I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de


fazer enraizados no cotidiano das comunidades;
II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que
marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de
outras práticas da vida social;
III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas
manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;

2Informações obtidas em http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Tombamento2.pdf. Acesso em


24/05/2021.

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IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras,


santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas
culturais coletivas.

O percurso de preservação, além de guiado pelos perfis estabelecidos pelos Livros


de Tombo, se regem de acordo com a Resolução IPHAN nº 1 de 03/08/2006, segundo o
qual para que seja possível implementar o processo de tombamento de uma manifestação
cultural, devem ser levantados os seguintes documentos:

Identificação do proponente e justificativa do pedido, Denominação e descrição do


bem proposto para registro, com indicação da participação e/ou atuação dos grupos
sociais envolvidos de onde ocorre ou se situa do período e da forma em que ocorre;
Informações históricas básicas sobre o bem; Documentação mínima disponível,
adequada à natureza do bem, tais como fotografias, desenhos, vídeos, filmes,
gravações sonoras ou filme; Referências documentais e bibliográficas disponíveis;
e por fim Declaração formal de representante da comunidade produtora do bem, ou
de seus membros, expressando o interesse e a anuência com a instauração do
processo de Registro (IPHAN, 2008).

Estes procedimentos, previstos pela União, foram transcritos para os estados e


municípios brasileiros ao longo das décadas seguintes à produção da legislação
patrimonial produzida no país a partir de 1937. No caso de Minas Gerais, este processo
tem sua regulação a partir da criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de
Minas Gerais (IEPHA-MG). A instituição foi criada no ano de 1971, através da Lei nº 5.775,
de 30 de setembro de 1971. Seu marco de criação se baliza na assinatura do
Compromisso de Brasília, produzido em abril de 1970, entendia que era “inadiável” que
estados e municípios dividissem com a União a tarefa de zelar pelo patrimônio histórico e
cultural brasileiro. Além disso, os dois primeiros entes deveriam passar a resguardar bens
de interesse para a cultura regional (com orientação da então Diretoria de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional). Era, portanto, um novo capítulo das discussões pertinentes
ao patrimônio brasileiro, que passava a encontrar nos estados e municípios as condições
para a construção de uma memória local. Para cumprir a tarefa, os estados seriam
subsidiados pelo DPHAN em vários aspectos, como por exemplo para a construção de
quadros técnicos, especialmente no que tocava seu grau de especialização nas questões
patrimoniais. Como já observado, estas questões seriam transcritas na lei que cria um
serviço estadual de patrimônio histórico em Minas Gerais. Em seu artigo 3º ficam assim
definidas as atribuições do IEPHA-MG:

I - proceder ao levantamento e tombamento dos bens considerados de excepcional


valor histórico, arqueológico, etnográfico, paisagístico, bibliográfico ou artístico
existentes no Estado e cuja conservação seja do interesse público, classificando-os
e, se for o caso, promovendo junto à Secretaria da Cultura (SEC), do Ministério da
Cultura, o respectivo processo de tombamento federal;
II - exercer, por delegação da Secretaria da Cultura (SEC), do Ministério da Cultura,
a proteção e fiscalização de bem por ela tombado;

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III - realizar, por si ou através de convênio com pessoa jurídica de direito público ou
privado, bem como em decorrência de contrato com pessoa física ou jurídica, obra
de conservação, reparação e recuperação, ou obra complementar necessária à
preservação dos bens indicados no inciso I;
IV - estimular os estudos e pesquisas relacionados com o patrimônio histórico e
artístico de Minas Gerais, inclusive através de concessão de bolsa especial, ou de
intercâmbio com entidade nacional ou estrangeira;
V - promover a realização de curso intensivo de formação de pessoal especializado,
ou curso de extensão sobre problemas ou aspectos do patrimônio histórico e
artístico e sobre normas técnicas a ele aplicáveis;
VI - promover a publicação de trabalho, estudo ou pesquisa relacionados com o
patrimônio histórico e artístico;
VII - estimular a criação, pelos municípios, de mecanismos de proteção aos bens a
que se refere esta Lei, em ação supletiva à da União e à do Estado;
VIII - estimular, em conjunto com os órgãos competentes, e incentivar, em
articulação com os municípios, o planejamento do desenvolvimento urbano como
meio para que se atinja o equilíbrio entre as aspirações conflitantes de preservação
e desenvolvimento.

Os processos de tombamento a nível estadual previstos na lei seguiriam de perto


aqueles estabelecidos pela União, devendo ser criados livros que deveriam seguir o
mesmo parâmetro estabelecido pelo então DPHAN. Cabe registrar, décadas mais tarde o
governo de Minas Gerais também teria as políticas federais para o patrimônio histórico e
cultural como referência para organizar políticas de preservação do patrimônio cultural
imaterial do estado, o que se deu através do Decreto 42505, de 15/04/2002, que instituiu
as formas de registros de bens culturais de natureza imaterial ou intangível que constituem
patrimônio cultural de Minas Gerais.

Dica do professor: uma oportunidade muito bacana de


ampliar seu conhecimento sobre as questões do patrimônio
no estado de Minas Gerais é através do IEPHA/MG, neste
link.

Estabelecidas as competências estaduais, os municípios também começariam a se


mobilizar em torno do processo de preservação do patrimônio histórico, organizando
localmente seus processos de preservação do patrimônio histórico e cultural. Cabe
registrar, o município e o conselho ligado ao Patrimônio Histórico e Cultural têm um papel
muito importante no desenvolvimento de políticas de preservação, deliberando sobre o
destino de bens de interesse público, encaminhando discussões que possam resultar na
preservação e comunicação dos bens culturais. De acordo com o Ministério Público de
Minas Gerais assim são fixadas as ações do conselho municipal:

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- propor as bases da política e acompanhar as ações de proteção e valorização dos


bens culturais do município;
- receber e analisar propostas de proteção de bens culturais encaminhadas por
indivíduos, ou entidades representativas da sociedade civil;
- emitir parecer prévio e licenças, atendendo solicitação do órgão competente da
prefeitura;
- analisar o estudo prévio de impacto de vizinhança, de acordo com o “Estatuto da
Cidade”, Lei Federal nº 10.257/01, em relação aos aspectos de proteção da
paisagem urbana e do patrimônio cultural;
- permitir o acesso de qualquer interessado a documentos relativos aos processos
de tombamento e ao estudo prévio de impacto de vizinhança, bem como dar
publicidade a todos os atos do Conselho;
- elaborar e aprovar seu regimento interno. 3

A partir da construção das políticas municipais de preservação do patrimônio


histórico e cultural, ficava estabelecido o grande arcabouço de criação das políticas de
preservação do patrimônio histórico em todo o país, em todas as esferas públicas.
Por fim, cabe registrar que nas três esferas públicas os conselhos ligados aos
órgãos de preservação e defesa do patrimônio histórico exercem um papel fundamental no
desenvolvimento de diversas iniciativas da área. A proposição da preservação de bens de
interesse histórico cultural, material e imaterial, passa pelos conselhos. E no que tange
especialmente os conselhos do patrimônio ligados ao município, é a partir dele que se
pode traduzir com especial atenção os anseios das comunidades.
Apresentados em linhas gerais a questão legislativa do patrimônio histórico e
cultural, fazemos uma discussão final do curso, sobre as realidades e potencialidades em
torno do tema.

3.2 O patrimônio e suas interações com as comunidades: limitações e


possibilidades

Expostos os princípios mais ampliados sobre o Patrimônio Histórico, considerando


seu histórico, a legislação, vale a pena ponderar ainda que de forma geral, sobre as
limitações e possibilidades em torno do tema. São questões pertinentes se considerarmos
que o patrimônio histórico e cultural, material e imaterial, existe como registro das
tecnologias e adaptações ao meio realizadas pelos homens, ele segue em muitos casos
“interagindo” com os espaços em que se encontram. Conjuntos urbanos, edifícios isolados,
práticas culturais, todos eles, em muitos casos, persistem na rotina das pessoas que fazem
usos variados desses bens. Cidade como Ouro Preto seguem cidades, e seus cidadãos
demandam serviços públicos. Procuram viver confortavelmente em suas casas tombadas,
veem nos edifícios religiosos mais do que lugares de arte, mas espaços de fé.

3 https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-do-cidadao/patrimonio-historico-e-cultural/perguntas-
frequentes/quais-sao-as-principais-funcoes-do-conselho-municipal-do-patrimonio-cultural-1.htm (Acesso em:
23 de junho de 2021).

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Ao tratar das interações entre a população local e o serviço de patrimônio histórico,


Dênis Tavares aponta três situações que constantemente ocorreram as seguintes
situações:
a) processos de preservação em que havia comum acordo entre o setor de
preservação e a comunidade;
b) processos que contam com legitimidade por parte do serviço de Patrimônio, mas
não junto à comunidade;
c) processos que contam com legitimidade por parte da comunidade, mas não por
parte do serviço de Patrimônio (TAVARES, 2016, p. 54).
São situações que rotineiramente aparecem nas discussões em torno do Patrimônio
Histórico. Se pensarmos nos primeiros processos de tombamento, percebido nas primeiras
décadas do século XX, o estado promoveu uma série de processos de tombamento a partir
de um discurso unilateral, promovido por agente e intelectuais em prol de um debate da
identidade nacional. Com o passar das décadas, percebe-se uma aproximação das
políticas de preservação com as populações locais, no que inclusive as discussões
pertinentes ao patrimônio imaterial podem ser um bom exemplo. Mas decerto ainda há
longo caminho a ser percorrido na tentativa de aproximar plenamente as políticas públicas
e as comunidades locais.
Quando pensamos nesta questão, observar o caso de Ouro Preto pode ser bastante
elucidativo. O processo de tombamento da cidade de Ouro Preto ocorrido nos primórdios
do SPHAN, não via a cidade como tal, dotada de organismos vivos e dinâmicos,
desconsiderando, portanto, a dinâmica da cidade e seus moradores. A cidade era
percebida como obra de arte, que a partir de seu tombamento, não sofreria mais
transformações. Segundo Maria Cristina Rocha Simão, autora da obra Preservação do
patrimônio cultural em cidades, não se mensurou que ao determinar que a cidade não
sofreria mais alterações na estrutura urbana, a cidade como organismo vivo e dinâmico se
perderia, causando problemas na funcionalidade da cidade (SIMÃO, 2001, p.32).
A preocupação em tombar as cidades com o propósito de preservar a memória
nacional, teve como consequência reflexos negativos para as populações diretamente
envolvidas nos processos. Estas populações tiveram que arcar com o ônus da
preservação, que entre outras situações, privou-os da possibilidade de progresso, de
mudanças (SIMÃO, 2001, p.44). Questões que parecem fugazes em cidades “modernas”
como poder estacionar um carro, acesso a supermercados e equipamentos públicos
variados, assumem outros foros em cidades históricas.
Muitas dos núcleos urbanos tombados nas décadas de 1930 e 1940 se
encontravam em situação de estagnação. Isso em muitos casos não causou grandes
empecilhos ás políticas de preservação do patrimônio histórico. Ouro Preto é um caso
interessante para observar esta situação. A cidade deixou de ser Capital do estado de
Minas Gerais em 1897, e isso acabou fazendo com que grande parte de sua população
migrasse da cidade. Mas, assim como muitas cidades brasileiras, no final dos anos de
1960 e 1970, em decorrência do grande impulso desenvolvimentista que alguns núcleos
urbanos tomam, em virtude da crescente industrialização do país, as cidades tombadas

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pelo SPHAN começam a alterar sua configuração espacial, preocupando os gestores deste
órgão.
Ainda podendo citar o caso de Ouro Preto, esta cidade conviveu com atividades
minerais e siderúrgicas nos limites da cidade, além de ter instituições de ensino técnico e
superior que motivaram a migração de muitos estudantes para ali. Segundo Maria Cristina
Rocha Simão, o período é marcado, "ao mesmo tempo, pela tentativa de elaboração de
planos urbanísticos e pelo crescimento desordenado dos núcleos urbanos tombados"
(SIMÃO, 2001, p.35).

Figura 21: Ouro Preto e o processo de ocupação dos seus morros. Sinal da expansão urbana.
Fonte: https://saci2.ufop.br/servico_clipping?id=746 (Acesso em: 30 de agosto de 2021).

O grande passo para a preservação dos bens tombados está em sensibilizar a


comunidade que vive neles. Segundo a Maria Cristina Rocha Simão, "se se entender que o
processo é dinâmico, e não estático, que todos participam de um caminho, de uma
trajetória histórica de evolução e desenvolvimento, a preservação terá outra abordagem". É
essencial para as políticas de preservação do patrimônio histórico que seja feita uma
sensibilização da memória coletiva da comunidade, de modo a despertar o amor e o gosto
pelo seu passado, para que esta possa de fato preocupar-se com a preservação dos bens
que a cercam (SIMÃO, 2001, p.45).
Esta questão faz eco ao que apontada Maria Cecília Fonseca, para quem o grande
problema dos bens e lugares tombados passa pela questão da instituição do patrimônio,
pois sendo as suas políticas encampadas pelas elites (ou os intelectuais que atribuem
valor a determinados edifícios e bens), que inevitavelmente discursam partindo do seu
ponto de vista, levando em muitos casos a que o patrimônio corra o risco de, apresentado
como símbolo da nação, muitas vezes se tornar algo abstrato para aquela comunidade. A
este respeito:

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No caso da política federal de preservação, os cerca de mil bens tombados


(incluindo-se aí desde monumentos isolados a conjuntos de extensão do Centro
Histórico de Salvador, com aproximadamente 300 imóveis, e cidades inteiras, como
Ouro Preto, Tiradentes, Olinda, Antônio Prado) funcionam mais como símbolos
abstratos e distantes da nação do que como marcos efetivos de uma identidade
nacional com que a maioria da população se identifique, e que integrem a imagem
externa do Brasil. Na verdade, a identidade brasileira tem sido representada
basicamente pelo samba, pelo futebol, pelo carnaval e, mais recentemente, pelas
telenovelas e pela Fórmula 1 (FONSECA, 1997, p.17)

O patrimônio histórico pode significar, em alguns casos, alternativas financeiras para


muitas comunidades. Se por um lado a emergência do Patrimônio Histórico e Cultural
esteve muito ligada a identidade nacional, com o passar dos anos ela foi se aproximando
das oportunidades ligadas ao exercício do turismo. Assim,

[...] as transformações promovidas pela era industrial (do início do século XIX a
meados do século XX) contribuíram para uma inversão de valores, de forma que o
estético assumiu a primazia na seleção dos patrimônios oficialmente reconhecidos,
alimentando o ideário dos turistas sobre o patrimônio (CARVALHO;
MENEGUELLO, 2020, p. 97)

Desta forma, as experiências turísticas foram incorporando também os espaços


tornados patrimônios, promovendo experiências culturais por meio das leituras do
passado, com especial atenção para as questões estéticas. Segundo Cristina Rocha
Simão, para que a relação entre o patrimônio histórico e o turismo se faça perceber, ela
deve ser percebida a partir de três eixos, a saber:

1) Atrativos: são os recursos naturais e culturais de uma localidade, que são


potencializados em prol do desenvolvimento turístico. Entretanto, a potencialização de
certos recursos os deixa mais suscetíveis ao arruinamento, que podem ser evitados
medindo a sua capacidade de suporte, educação, controle ambiental e urbano, bem como
por meio da capacitação profissional;
2) Equipamentos e serviços turísticos: sua existência e qualidade são um dos fatores que
definem o tempo de permanência de um turista em uma dada localidade. Concatena os
serviços de hospedagem, alimentação, entretenimento e diversão, compra, locais para
realização de encontros de acadêmicos, empresários, desportivos, pontos de embarque e
desembarque de passageiros;
3) Infraestrutura básica urbana: fator importante para o turismo. Sem infraestrutura
competente, não existem meios de implantar o turismo (SIMÃO, 2001, p. 52).

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Figura 22: Semana Santa em Ouro Preto. A aliança entre a história e cultura.
Fonte: http://www.aceop.com.br/noticia/802/beleza-e-emocao-marcam-as-celebracoes-da-fe-na-semana-
santa-em-ouro-preto (Acesso em: 27 de maio de 2021).

Assim, o Patrimônio Histórico pode significar uma oportunidade econômica para as


comunidades em que se encontra. Entretanto, o mais importante é que as pessoas se
percebam, possam interagir com o patrimônio histórico. É fundamental que as
comunidades sejam agentes ativos na política de preservação, seja discutindo os sentidos
dos bens tombados, seja nas condições destes, sendo convidados a tomar parte neles
através de ações de Educação Patrimonial. O Patrimônio Histórico e Cultural só fará
sentido se as comunidades conseguirem se sentir parte dele. Que juntos possamos
construir uma nova realidade para nossa história!

Atividade: Para concluir o curso e gerar o seu


certificado, vá até a sala virtual e responda ao
Questionário “Avaliação geral”.
Este teste é constituído por 10 perguntas de múltipla
escolha, que se baseiam em todo o conteúdo da
apostila.

Parabéns pela conclusão do curso!


Foi um prazer tê-lo conosco!!

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Parabéns pela conclusão do curso. Foi um prazer tê-lo conosco!

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Referências

AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier de; SILVA, Hallana suellen Albuquerque da.
Documentos e procedimentos necessários par a preservação do patrimônio material pelo
processo de tombamento. Biblionline, João Pessoa, v. 6, n. 2, p. 16-28, 2010.
BOXER, Charles R. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma
sociedade colonial. Rio de Janeiro: nova Fronteira, 2000.
BOXER, Charles R. O império colonial português (1415-1825). Lisboa: Ed: 70, 1981.
CARVALHO, Aline; MENEGUELLO Cristina. Dicionário temático de patrimônio: debates
contemporâneos. Campinas: Editora da Unicamp, 2020.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade; Editora
Unesp, 2001.
FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política
federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/IPHAN, 1997.
LONDRES, Cecília. O patrimônio histórico na sociedade contemporânea. Revista Escrito,
nº1, 2007, p. 159-171.
OLIVEIRA, Pablo M. Cartas, pedras, tintas e coração: As casas de câmara e a prática
política em Minas Gerais (1711-1798). 2013. Tese (doutorado em História) – Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2013.
SIMÃO, Maria Cristina Rocha. Preservação do patrimônio cultural em cidades. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
TAVARES, Dênis Pereira. A invenção do patrimônio nacional: aspectos da política de
preservação de conjuntos urbanos tombados em Minas Gerais. Revista Memória em
rede, Pelotas, v. 8, n. 15, jul./dez. 2016, p. 40 – 62.
SOUZA, Laura de Melo e. Os desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século
XVIII. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.
ROMEIRO, Adriana. Dicionário histórico das Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica,
2004.
POULOT, Dominique. A razão patrimonial na Europa do século XVIII ao XXI. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, 2012, nº 34, p. 27-43.
WERNECK, Gustavo. Nossa História: a descoberta do Brasil. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/05/09/interna_gerais,645732/a
-redescoberta-do-brasil.shtml. Acesso em 18/05/2021.

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Currículo do autor

Pablo Menezes e Oliveira é Doutor em História pela Universidade Federal


de Minas Gerais (2013), mestre em História pela mesma Universidade
(2005), e graduado em História (Licenciatura e Bacharelado) pela
Universidade Federal de Ouro Preto (2003). Foi professor substituto do
Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto entre os
anos de 2011 e 2013, lecionando nos cursos de História, Museologia e
Turismo. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do
Brasil Colônia, bem como tem experiência na área de organização e análise
de acervos documentais e Patrimônio Histórico. Foi um dos organizadores
do livro "As Minas e o Império: dinâmicas locais e projetos coloniais
portugueses" (Editora Fino Traço, 2013). Tem se dedicado ao estudo da
Educação Profissional e Tecnológica, com especial atenção para a História da Educação Profissional. É
membro do grupo de pesquisa GEPHHEP (Grupo de Estudos e Pesquisa em História e Historiografia da
Profissional) e do GEPET (Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Profissional e Tecnológica do
IFMG). Atualmente é professor do Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Ouro Branco, atuando
como professor de História, e como professor do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica
(ProfEPT).

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7716118836684097

Feito por (professor-autor) Data Revisão de layout Data Versão

Pablo Menezes e Oliveira 28/05/2021 Viviane Lima Martins 07/07/2021 1.0

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Dica do professor Mídia digital


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Mídia digital Mídia digital


Vila Rica do Século Bens culturais –
XVIII queijo minas

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Videoaula 03 Sobre o IEPHA - MG

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Plataforma +IFMG

Plataforma +IFMG
Formação Inicial e Continuada EaD

A Pró-Reitoria de Extensão (Proex), neste ano de


2020 concentrou seus esforços na criação do Programa
+IFMG. Esta iniciativa consiste em uma plataforma de cursos
online, cujo objetivo, além de multiplicar o conhecimento
institucional em Educação à Distância (EaD), é aumentar a
abrangência social do IFMG, incentivando a qualificação
profissional. Assim, o programa contribui para o IFMG
cumprir seu papel na oferta de uma educação pública, de
qualidade e cada vez mais acessível.
Para essa realização, a Proex constituiu uma equipe
multidisciplinar, contando com especialistas em educação,
web design, design instrucional, programação, revisão de
texto, locução, produção e edição de vídeos e muito mais.
Além disso, contamos com o apoio sinérgico de diversos
setores institucionais e também com a imprescindível
contribuição de muitos servidores (professores e técnico-
administrativos) que trabalharam como autores dos materiais
didáticos, compartilhando conhecimento em suas áreas de
atuação.
A fim de assegurar a mais alta qualidade na produção destes cursos, a Proex
adquiriu estúdios de EaD, equipados com câmeras de vídeo, microfones, sistemas de
iluminação e isolação acústica, para todos os 18 campi do IFMG.
Somando à nossa plataforma de cursos online, o Programa +IFMG disponibilizará
também, para toda a comunidade, uma Rádio Web Educativa, um aplicativo móvel para
Android e IOS, um canal no Youtube com a finalidade de promover a divulgação cultural e
científica e cursos preparatórios para nosso processo seletivo, bem como para o Enem,
considerando os saberes contemplados por todos os nossos cursos.
Parafraseando Freire, acreditamos que a educação muda as pessoas e estas, por
sua vez, transformam o mundo. Foi assim que o +IFMG foi criado.

O +IFMG significa um IFMG cada vez mais perto de você!

Professor Carlos Bernardes Rosa Jr.


Pró-Reitor de Extensão do IFMG
Plataforma +IFMG
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Características deste livro:


Formato: A4
Tipologia: Arial e Capriola.
E-book:
1ª. Edição
Formato digital
Plataforma +IFMG

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