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Abril, 2022
Organização e Gestão Farmacêutica
2021/2022
A questão relativa à cedência de medicamentos por médicos é uma medida que contesto, pois
para além da questão de conflito de interesses, joga também com a questão do açambarcamento
da profissão farmacêutica, gerando com isso atritos interprofissionais e ainda o impacto financeiro
negativo para as farmácias comunitárias, pelas unidades farmacêuticas não vendidas.
As medidas legislativas implementadas em Portugal, relativas ao regime de propriedade de uma
farmácia, levaram a um processo de liberalização, onde a propriedade deixa de ser exclusiva dos
farmacêuticos. Do ponto de vista económico permite a injeção de maior capital, o que certamente
cria oportunidades no sector, para além de aumentar o leque de ideias e experiências, no entanto
não podemos nunca esquecer que gestão económica não pode interferir com qualquer ato
farmacêutico, sendo certamente mais fácil para o farmacêutico esta dissociação, pelas imposições
deontológicas da sua profissão e responsabilização pelo conhecimento científico de que é detentor.
Assim países como a Espanha e Alemanha permitem apenas que o proprietário da farmácia seja um
farmacêutico; a Áustria e a Hungria estabelecem medidas menos intransigentes e na qual a
legislação impõe que a maioria das ações de uma farmácia devem pertencer a um farmacêutico.
Penso que Portugal poderia adotar esta última medida, salvaguardando a questão da qualidade de
saúde que as farmácias prestam, sem comprometer a capacidade de investimento e inovação no
setor. Na suécia, as farmácias são propriedade do estado, mas não acredito de modo algum que
constitua uma solução viável do ponto de vista económico, até porque as farmácias seriam
obrigadas a adequar a sua atividade ao cumprimento de objetivos de interesse público
estabelecidos pelo Estado (Marques et al, 2006).
A integração horizontal das farmácias constitui em simultâneo um perigo de monopolização
económica e a possibilidade de uma gestão mais eficaz. Uma gestão mais eficaz, no sentido em que
possuindo uma rede de até quatro farmácias, como se verifica em Portugal, garante a facilidade de
distribuição de existências entre farmácias do mesmo proprietário, nomeadamente produtos sem
consumo e ruturas de stock, traduzindo-se numa rentabilização dos recursos disponíveis,
manutenção dos stocks e satisfação dos utentes, com impacto financeiro positivo. Negativamente,
a monopolização de um grupo de farmácias, numa mesma região, permite ao proprietário, dentro
dos requisitos legais, praticar preços mais elevados, que dificultam o acesso da população aos
medicamentos.
No que concerne ao número de profissionais que constituem a equipa de uma farmácia, em
Portugal existe notoriamente insuficiência. Esta parece ser justificada pelas dificuldades financeiras
vividas no setor. Desde modo, beneficiaríamos com um ajuste no número de profissionais efetivos
Bibliografia
WHO Regional Office for Europe (2019), “The legal and regulatory framework for community
pharmacies in the WHO European Region”
Marques, F., Rodrigues, A., Ferreira, P., & Raposo, V. (2006). Estudo do sector das farmacias em
Portugal.