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TRABALHO 1

Mestrado Integrado Em Ciências Farmacêuticas

Organização e Gestão Farmacêutica

Joana Pereira Louro


2019199194

Abril, 2022
Organização e Gestão Farmacêutica
2021/2022

Em análise ao relatório poder-se-á frisar, de um modo geral, a falta de uniformidade


regulamentar europeia, com consequências nos processos de organização de equipas de trabalho,
competências, gestão económica e evolução do setor da farmácia comunitária. No entanto, “…não
só a componente económica da regulação em saúde é mais exigente do que em outros domínios,
como toda a componente de regulação ética e social é específica em saúde.” (Marques et al, 2006).
Do ponto de vista académico, as farmácias beneficiariam com a uniformização do período de
tempo de formação, nomeadamente alargar a Diretiva 2013/55/EU, a países fora da União
Europeia, facilitando assim o processo regulamentar de mobilidade e reconhecimento da profissão
entre países, trazendo certamente novas valências e cooperação entre estes, bem como partilha de
experiência e novas perspetivas no modo de gestão da farmácia. Em países como Alemanha e
Holanda verifica-se já o processo de especialização ou pós-graduação, um requisito, a meu ver cada
vez mais necessário, pois a área de formação dos farmacêuticos é extremamente abrangente, com
consequências no desempenho profissional. Com a especialização poder-se-ia proporcionar maior
excelência, nomeadamente na área da gestão e economia, sendo já um requisito obrigatório em
alguns países, como na Ucrânia, crucial para a melhor viabilização da farmácia enquanto negócio.
Saliento ainda a necessidade da sua continuidade, que embora já se verifique, em grande parte
surge de uma obrigação para com a entidade patronal, sendo a carga horaria reduzida. Tal não
reflete, de modo algum, a exigência que esta profissão merece, atendendo o desenvolvimento e
inovação constante, traduzindo-se numa menor qualidade dos serviços que prestam.
O processo de distribuição da rede farmácias na Europa é feito sobretudo com base em critérios
demográficos e/ou geográficos do país, com o objetivo de suprir as necessidades farmacêuticas das
populações. Uma elevada demografia pode não significar maior necessidade de produtos
farmacêuticos, dependerá do nível de saúde dessa população e por este prisma, as farmácias
tendem a aglomerar-se nos meios urbanos, negligenciando as zonas rurais. Os critérios geográficos
acabam por colmatar esta situação, obrigando a distâncias específicas entre farmácias, evitando
assim a concentração das mesmas numa dada área. O acesso insuficiente aos cuidados de saúde
em áreas remotas é uma preocupação crítica em muitos países, tendo sido criadas estratégias para
fazer face a esta problemática: na Finlândia verifica-se a existência de sucursais de venda de
medicamentos mais pequenos, extensões de uma farmácia sede, trazendo benefícios para
populações com menor acesso a estes serviços, bem como vantagem financeira para a farmácias
que expandem a venda a outros locais e públicos; aumento de subsídios (Espanha) e redução de
impostos (Lituânia) às farmácias, incentivos monetários aos farmacêuticos (Estónia).

Joana Pereira Louro


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2021/2022

A questão relativa à cedência de medicamentos por médicos é uma medida que contesto, pois
para além da questão de conflito de interesses, joga também com a questão do açambarcamento
da profissão farmacêutica, gerando com isso atritos interprofissionais e ainda o impacto financeiro
negativo para as farmácias comunitárias, pelas unidades farmacêuticas não vendidas.
As medidas legislativas implementadas em Portugal, relativas ao regime de propriedade de uma
farmácia, levaram a um processo de liberalização, onde a propriedade deixa de ser exclusiva dos
farmacêuticos. Do ponto de vista económico permite a injeção de maior capital, o que certamente
cria oportunidades no sector, para além de aumentar o leque de ideias e experiências, no entanto
não podemos nunca esquecer que gestão económica não pode interferir com qualquer ato
farmacêutico, sendo certamente mais fácil para o farmacêutico esta dissociação, pelas imposições
deontológicas da sua profissão e responsabilização pelo conhecimento científico de que é detentor.
Assim países como a Espanha e Alemanha permitem apenas que o proprietário da farmácia seja um
farmacêutico; a Áustria e a Hungria estabelecem medidas menos intransigentes e na qual a
legislação impõe que a maioria das ações de uma farmácia devem pertencer a um farmacêutico.
Penso que Portugal poderia adotar esta última medida, salvaguardando a questão da qualidade de
saúde que as farmácias prestam, sem comprometer a capacidade de investimento e inovação no
setor. Na suécia, as farmácias são propriedade do estado, mas não acredito de modo algum que
constitua uma solução viável do ponto de vista económico, até porque as farmácias seriam
obrigadas a adequar a sua atividade ao cumprimento de objetivos de interesse público
estabelecidos pelo Estado (Marques et al, 2006).
A integração horizontal das farmácias constitui em simultâneo um perigo de monopolização
económica e a possibilidade de uma gestão mais eficaz. Uma gestão mais eficaz, no sentido em que
possuindo uma rede de até quatro farmácias, como se verifica em Portugal, garante a facilidade de
distribuição de existências entre farmácias do mesmo proprietário, nomeadamente produtos sem
consumo e ruturas de stock, traduzindo-se numa rentabilização dos recursos disponíveis,
manutenção dos stocks e satisfação dos utentes, com impacto financeiro positivo. Negativamente,
a monopolização de um grupo de farmácias, numa mesma região, permite ao proprietário, dentro
dos requisitos legais, praticar preços mais elevados, que dificultam o acesso da população aos
medicamentos.
No que concerne ao número de profissionais que constituem a equipa de uma farmácia, em
Portugal existe notoriamente insuficiência. Esta parece ser justificada pelas dificuldades financeiras
vividas no setor. Desde modo, beneficiaríamos com um ajuste no número de profissionais efetivos

Joana Pereira Louro


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de acordo com horários de funcionamento, serviços prestados, comorbidades da população, sendo


uma das políticas aplicadas na Grã-Bretanha. A análise do volume de faturação é por norma o fator
mais decisivo para contratação, no entanto, constituindo a farmácia um local de saúde pública,
muitos dos serviços que atualmente se prestam não se traduzem imediatamente em valor
monetário, mas sim em matéria de saúde, fundamental para a fidelização do utente.
Para além da procura e da oferta, do meio onde a farmácia se insere e da disponibilidade
económica, também o espaço de armazenamento de uma farmácia é um fator decisivo para a
gestão de stock numa farmácia, devendo o inventário ser ajustado em função disso. Deste modo o
tamanho de uma farmácia pode limitar a sua atividade económica.
Após o alargamento da venda MNSRM a outros locais, a quota correspondente ao mercado das
farmácias tem registado uma tendência decrescente, contrariamente ao que verifica com a quota
de mercado fora das farmácias (Marques et al, 2006). Para fazer face a esta situação os horários de
funcionamento da farmácia em Portugal acabaram por ser alargados for forma a equilibrar o
volume de faturação. Do mesmo modo, a discrepância nos horários de funcionamento em
farmácias e outros postos de venda de MNSRM vieram criar desigualdades económicas. Na Áustria
as farmácias localizadas na mesma área devem ter o mesmo horário de funcionamento, evitando
assim a desigualdade referida. Os serviços noturnos obrigatórios, levam a que em zonas de
existência simultânea de farmácias abertas 24 horas, se tornem quase incomportáveis os
honorários que o proprietário tem que pagar, pois na dúvida em relação à farmácia de serviço, o
utente opta pelo estabelecimento permanentemente aberto. Sem vendas que justifiquem a
permanência de um profissional, esta obrigação torna-se insustentável.
A remuneração das farmácias e dos seus profissionais deverá evoluir no sentido de contemplar
a variedade e especificidades dos serviços que prestam. Em alguns países isto já se verifica, sendo
aplicada uma taxa no processo. Em Portugal, muitas vezes não são pagos honorários pelos serviços
disponibilizados, ou então são aplicados valores irrisórios, entrando na desvalorização da profissão
e na perda económica, pelo tempo e recursos que exigem.
Por fim destacar a temática da venda de medicamentos online, que embora represente um
crescimento económico para as farmácias que o praticam, pode também ser o reverso, pois a partir
do momento que a venda se estenda a mercados estrangeiros, o volume de negócios pode diminuir
(Marques et al, 2006). Nesta era tecnológica será um desafio à qual as farmácias terão que se
adaptar, garantindo do mesmo modo que a qualidade na dispensa e aconselhamento dos
medicamentos se mantêm.

Joana Pereira Louro


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Bibliografia

WHO Regional Office for Europe (2019), “The legal and regulatory framework for community
pharmacies in the WHO European Region”

Marques, F., Rodrigues, A., Ferreira, P., & Raposo, V. (2006). Estudo do sector das farmacias em
Portugal.

Guerra, A. S. F. (2013). As implicações sócio-económicas das últimas políticas no setor do


medicamento nas farmácias portuguesas (Doctoral dissertation).

Joana Pereira Louro


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