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CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

Renan Calgaroto
As classificações das constituições variam, sendo em certa medida
complementares, permitindo que uma constituição possa se encaixar em múltiplas
tipologias identificadas, dependendo dos critérios que fundamentam a categorização. Na
doutrina nem sempre a nomenclatura utilizada é uniforme, nem todos os autores adotam
todos os critérios de classificação.
A seguir estarão dispostas as diversas maneiras e suas principais características
respectivas as constituições.
VEICULAÇÃO
Escritas Constituições
escritas, também
conhecidas como
“constituições
dogmáticas”, são
aquelas veiculadas por
um texto normativo,
sistematizando as
normas constitucionais
em um documento
chamado de
constituição. Um
exemplo é a
Constituição norte-
americana de 1787 e a
maioria das
constituições em vigor
atualmente.
Não Escritas Constituições
não escritas, também
conhecidas como
históricas ou
costumeiras, não estão
contidas em um único
documento. Em vez
disso, são compostas
por textos diversos,
costumes e
precedentes judiciais
que, juntos, formam a
constituição.
Geralmente, essas
constituições surgem
de um processo
histórico de
sedimentação, como é
o caso da Constituição
inglesa.

MODO DE EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE


Constituições Constituições
democráticas ou democráticas ou
promulgada promulgadas são aquelas
que surgem de um
processo democrático,
envolvendo a elaboração e
aprovação através da
vontade popular expressa
por uma assembleia
constituinte livremente
eleita e autônoma. Um
exemplo de constituição
democrática ou
promulgada é a nossa
Constituição Brasileira de
1988, que foi resultado da
participação popular
através da assembleia
constituinte eleita
democraticamente.
Constituições não Constituições não
democráticas (outorgadas democráticas são impostas
ou cesaristas) por um ato autoritário, sem
consulta popular, por uma
pessoa ou grupo que
exerce o poder político. Na
história constitucional
brasileira, é o caso da
Carta Imperial de 1824, da
Constituição do Estado
Novo, de 1937, bem como
da EC 1/1969, muito
embora a qualidade de não
democrática seja também
atribuída à Constituição
aprovada em 1967.
Constituições Constituições
pactuadas pactuadas resultam de um
compromisso entre a
monarquia debilitada e
outras forças sociais e
políticas, como a
burguesia e a nobreza.
Essas constituições são
geralmente instáveis,
buscando equilíbrio
precário e protegendo
certos direitos e
privilégios. Um exemplo
de constituição pactuada é
a Constituição de 1824 do
Brasil. Ela foi resultado de
um compromisso entre a
monarquia brasileira e
diferentes forças sociais e
políticas, buscando um
equilíbrio entre os
interesses da elite agrária e
a necessidade de
centralização política.

ESTABILIDADE DO TEXTO CONSTITUCIONAL


Rígidas Elas exigem
procedimentos específicos,
geralmente mais
complexos e rigorosos,
para que qualquer
mudança seja aprovada.
Isso pode incluir uma
maioria qualificada de
votos no legislativo, a
convocação de uma
assembleia constituinte
especial ou a realização de
um referendo. A
constituição dos Estados
Unidos é um exemplo de
uma constituição rígida,
pois a alteração exige que
uma emenda seja proposta
pelo Congresso e, em
seguida, ratificada por três
quartos dos estados.
Flexíveis Constituições
flexíveis são aquelas que
podem ser alteradas com
relativa facilidade, por
meio de legislação
ordinária. Isso significa
que o mesmo processo
utilizado para aprovar leis
comuns é aplicado para
fazer emendas à
Constituição. Geralmente,
não há requisitos especiais
ou procedimentos
complexos para modificar
seu conteúdo. A
Constituição do Reino
Unido é um caso clássico
de uma constituição
flexível, pois pode ser
modificada pelo
Parlamento britânico sem
a necessidade de processos
mais rigorosos.
Semirrígidas Constituições
semirrígidas são aquelas
(raras, ao longo da história
das constituições escritas)
que possuem uma parte
rígida e uma parte flexível,
ou seja, parte do texto
constitucional está
submetida a um
procedimento agravado
(mais rigoroso) de
alteração, ao passo que o
restante do texto pode ser
alterado mediante o
mesmo procedimento
previsto para a legislação
infraconstitucional. A
Constituição brasileira de
1824 (Constituição do
Império) foi semi-rígida.

EXTENSÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL


Sintéticas Constituições
sintéticas são compostas
de um número reduzido de
dispositivos, estabelecendo
princípios e regras básicas
sobre a organização do
Estado e a relação com os
cidadãos. Geralmente,
possuem uma parte
orgânica e um catálogo
conciso de direitos e
garantias fundamentais,
enfocando estritamente a
matéria constitucional no
plano formal
(documental). A
Constituição norte-
americana, de 1787,
composta, na sua versão
original, de apenas sete
artigos, mas logo acrescida
de uma série de emendas
constitucionais (27 ao
todo, das quais 10
promulgadas em 1791).
Analíticas Constituições
analíticas (também
chamadas de prolixas ou
extensas) são aquelas que
são formadas por textos
longos, minuciosos,
dotados, além de
disposições normativas de
caráter principiológico, de
muitas regras mais ou
menos estritas. A título de
exemplo, basta apontar
novamente a experiência
constitucional brasileira,
que indica uma média de
mais de três emendas
constitucionais
computadas as emendas de
revisão por ano desde a
promulgação da
Constituição.

CLASSIFICAÇÃO ONTOLÓGICA POR KARL LOEWENSTEIN


Normativas Seriam aquelas
perfeitamente adaptadas à
realidade social, pois, além
de juridicamente válidas,
estariam em total
consonância com o
processo político e social,
no sentido de uma
adaptação e submissão do
poder político à
constituição escrita. Tais
constituições foram
comparadas pelo autor a
uma roupa que veste e que
assenta bem
Nominais São aquelas que,
embora sejam
juridicamente válidas,
carecem de eficácia e
efetividade, pois a
dinâmica do processo
político e social não está
adaptada às suas normas.
Tais constituições,
contudo, possuem uma
função educativa, pois
aspiram a se transformar,
no futuro, em constituições
normativas. O autor
compara tais constituições
a uma roupa guardada no
armário à espera do
crescimento do corpo.
Semânticas Encontram-se
submetidas ao poder
político dominante,
cuidando-se de um
documento formal que,
embora aplicado, foi
criado para beneficiar os
detentores do poder, que
dispõem do aparato
coercitivo do Estado. Em
vez de servirem como
instrumento de limitação
do poder, tais constituições
acabam operando como
instrumentos para
estabilizar e mesmo
eternizar o domínio dos
detentores do poder. O
autor compara tais
constituições a uma roupa
que aparentemente veste
bem, mas serve apenas
como disfarce.

As constituições ainda podem ser classificadas em formal e material. A


constituição formal é composta pelas normas com forma de constituição, criadas pelo
poder constituinte e agregadas pelo poder de reforma constitucional, dotadas de
hierarquia constitucional. A constituição material inclui as normas que vão além das
previstas na constituição formal, abrangendo normas fundamentais sobre a estrutura do
poder, direitos e garantias fundamentais e normas sobre a garantia da constituição.

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