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25/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

Algumas razões político-criminais para a responsabilidade penal de pessoas


jurídicas: expansão ou necessidade?

ALGUMAS RAZÕES POLÍTICO-CRIMINAIS PARA A RESPONSABILIDADE PENAL


DE PESSOAS JURÍDICAS: EXPANSÃO OU NECESSIDADE?
Some political-criminal reasons to the criminal liability of legal persons: expansion or necessity
Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 152/2019 | p. 211 - 231 | Fev / 2019
DTR\2019\99

Paulo César Busato


Doutor em Problemas Atuais do Direito Penal pela Universidade Pablo de Olavide, de Sevilha, Espanha
(2005). Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (2004). Professor associado de
Direito Penal da Graduação, Mestrado e Doutorado da Universidade Federal do Paraná. Professor de
Direito Penal da FAE – Centro Universitário. Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do
Paraná. pbusato2013@gmail.com

Área do Direito: Penal


Resumo: O presente artigo aborda duas questões político-criminais a respeito da responsabilidade
penal de pessoas jurídicas. Primeiramente, discute a compatibilidade da responsabilidade penal de
pessoas jurídicas com o perfil de ultima ratio que deve ter o Direito Penal. Em seguida, exploram-se as
razões pelas quais o Direito Administrativo não pode se encarregar sozinho da tarefa de controle social
estatal das pessoas jurídicas. A abordagem é dedutiva partindo de hipóteses macro que se demonstram
mediante explicitação de casos. Pretende-se demonstrar a existência de um espaço de intervenção
estatal para o controle social das pessoas jurídicas que reclama a intervenção penal.

Palavras-chave: Responsabilidade penal de pessoas jurídicas – Princípio de intervenção mínima –


Limites com o direito administrativo
Abstract: This article discusses two criminal-political issues regarding the criminal liability of legal
persons. First, the compatibility of criminal liability of legal entities with the ultima ratio perspective
that should towards the criminal law. Secondly, it seeks to demonstrate why the administrative law is
not enough to accomplish the task of state social control of legal persons. The approach is deductive
based on hypotheses that try to demonstrate through case explicitation. It is intended to demonstrate
the existence of a state intervention area for the social control of legal entities that calls for criminal
intervention.

Keywords: Criminal liability of legal persons – Principle of minimum intervention – Limits with
administrative law
Sumário:

1.Introdução - 2.A responsabilidade penal de pessoas jurídicas é parte do processo de expansão do


Direito Penal? - 3.É necessário o emprego de Direito Penal para pessoas jurídicas? - Conclusões -
Referências bibliográficas

1.Introdução
A recente explosão legislativa deflagrada no Direito Penal continental europeu – e, como efeito, no
ambiente latino-americano – a respeito da responsabilidade penal de pessoas jurídicas, trouxe à baila
ampla discussão acerca da política criminal que ampara tal decisão.
O Código Penal francês já em 1992 passou a incluir a responsabilidade penal de pessoas jurídicas.
Holanda, Bélgica e Dinamarca optaram por seguir o modelo do Código Penal suíço que, desde 2003,
admitiu a imputação contra empresas por crimes cometidos com fins empresariais. Também aceitam
responsabilidade penal de pessoas jurídicas a Islândia e a Noruega1. No Japão, também se permite a
responsabilidade da empresa concomitante à pessoa natural, desde a adoção do sistema Ryobatsu-
Kitei. O mais recente a se dobrar em favor da responsabilização penal de pessoas jurídicas foi o Código
Penal da Espanha, com a reforma de dezembro de 2010, pela Lei Orgânica 5, de 22 de junho.
Há uma lista enorme de países que já adotam a responsabilidade penal de pessoas jurídicas, a saber:
Holanda (1976); Noruega e Irlanda (1991); Islândia (1993); França (1994); Finlândia (1995);
Eslovênia e Dinamarca (1996); Estônia (1998); Bélgica (1999); Malta (2002); Croácia, Lituânia, Suíça e
Polônia (2003); Áustria (2005-2006); Portugal (2007); e Espanha (2010 e 2015)2.
Neste cenário doutrinário, resulta bastante comum a associação entre a escolha por utilizar o Direito
Penal como estratégia de controle social das atividades das pessoas jurídicas, com o processo de
expansão que tem sido identificado como presente no campo desta disciplina3.

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Também resulta bastante comum, em termos críticos, esgrimir o argumento de que o Direito Penal não
deveria se ocupar deste tema por força da subsidiariedade que é sua característica. Nestes termos,
afirma-se que o Direito Penal só deveria ser empregado onde outras instâncias de controle social
jurídico não desempenhassem suficientemente o mesmo papel (a vertente da subsidiariedade a
respeito do princípio de intervenção mínima)4. Advoga-se, então, que o emprego de Direito
Administrativo bastaria para dar solução à questão.
No presente texto, abordam-se estas duas questões colocando tais certezas em xeque.
Não se afirma que não existe o processo de expansão nem que ele não tenha sido associado à
responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Contesta-se, entretanto, que os critérios de identificação
do processo de expansão sejam os que comumente se aceita, qual seja, um crescente número de leis
penais.
De outro lado, não se proclama a absoluta necessidade de utilização do Direito Penal para dar solução
ao controle social das pessoas jurídicas, mas procura-se demonstrar a insuficiência flagrante dos
mecanismos de controle do Direito Administrativo.
2.A responsabilidade penal de pessoas jurídicas é parte do processo de expansão do Direito
Penal?
A primeira questão a ser colocada em discussão é, portanto, se a responsabilidade penal de pessoas
jurídicas5 constitui, em si mesma, um avanço de barreiras de imputação que supõe parte do processo
de expansão do Direito Penal.
O ponto de partida da discussão político-criminal deve ser a correspondência ou não da RPPJ a um
Direito Penal próprio de um Estado Social e Democrático de Direito.
Um Direito Penal verdadeiramente democrático somente pode ser um Direito Penal mínimo, de ultima
ratio, que se ocupe somente dos ataques mais graves aos bens jurídicos mais fundamentais para o
desenvolvimento social da humanidade.
A opção por um sistema jurídico-penal que inclua a responsabilidade dos entes coletivos seria, em
qualquer caso, violadora do princípio de intervenção mínima?
2.1.Delimitação do problema
Uma adequada análise deste problema verifica vários aspectos.
Em primeiro lugar, é preciso averiguar se realmente se vive, no momento atual, um processo de
expansão do Direito Penal e, muito mais importante do que isso, é imprescindível deixar delimitado
precisamente que elementos conduzem a tal expansão.
Em um segundo momento – admitida a expansão –, é necessário aferir a existência ou não de uma
associação direta ou indireta entre a RPPJ e os elementos pelos quais se identifica tal processo de
expansão.
Somente esta discussão pode oferecer ferramenta segura para concluir se efetivamente a RPPJ é um
instrumento do processo de expansão jurídico-penal em si mesma ou se aparece neste quadro apenas
sintomaticamente, em virtude de sua associação a estruturas, estas sim, capazes de alimentar tal
processo de expansão, ou seja, somente a partir de uma análise criteriosa acerca do que constitui
efetivamente o processo de expansão do Direito Penal, é possível afirmar, sem leviandade, que a RPPJ é
uma forma de manifestação de tal fenômeno.
2.2.Em que consiste efetivamente a “expansão do Direito Penal”

Tornou-se voz corrente, desde o estudo de Silva Sánchez6, que o Direito Penal vive um processo de
expansão. No entanto, esta afirmação – em certa medida fomentada pelo próprio argumento do autor –
vem sendo feita com base em uma abordagem criminológica e político criminal extremamente pobre.

Fala-se7 na existência de um número crescente de leis contendo normas incriminadoras e em um


incremento progressivo do patamar das penas.

Parte da doutrina8 tem questionado as próprias bases em que se ancora o estudo mencionado, no
entanto, aqui, parece mais proveitoso para a discussão aqui proposta, olhar para um outro ângulo da
questão.

A revolução cibernética9 e os outros avanços tecnológicos próprios do nosso tempo multiplicaram


exponencialmente o número de relações sociais diárias que todos temos e este é um processo
irreversível.
O mundo contemporâneo é composto de relações sociais, de regra, virtuais, fugidias e extremamente
velozes10.

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Estas condições em que se desenvolvem as relações sociais permitem o seu incremento quantitativo
em larga escala, de tal modo que é possível afirmar que o homem atual estabelece relações sociais
diárias, com muito mais pessoas do que se relacionava alguém há 50 ou até mesmo há 20 anos11.
Portanto, se há um número de relações sociais crescente em progressão geométrica, é de se esperar –
a lógica indica – que tanto as relações sociais lícitas quanto as ilícitas devem aumentar
exponencialmente.
As condutas em sociedade tanto podem ser de acordo como contrárias ao direito. Mantido o mesmo
quadro jurídico, naturalmente já haveria um aumento, em números absolutos de condutas ilícitas, entre
elas, os ilícitos penais.
Todavia, não é só isso. Existe também um progressivo aumento qualitativo de condutas. Há muitas
realizações outrora impossíveis, que hoje, presentes globalização e revolução cibernética, são
cotidianas. Pense-se, por exemplo, em negócios jurídicos, como compra e venda ou operações
financeiras, realizados por internet em um smartphone. Ora, se são atos jurídicos válidos, poderiam
também ser fraudulentos, sofrer ataques, desvios, etc. Esses são atos jurídicos que, anos atrás, seriam
impossíveis de realizar, simplesmente não existiriam, não entrariam na conta. Isso, ainda, sem contar
os crimes cibernéticos próprios como o cyberstalking, ou a difusão de spywares ou vírus cibernéticos,
por exemplo12.
Portanto, a questão é que há um crescente número de relações sociais lícitas e ilícitas diário. Não se
tem notícia, em contrapartida, de um estudo sério que relacione as duas coisas, mostrando que o
número de condutas ilícitas, proporcionalmente às lícitas, tenha sofrido um incremento
desproporcional. A isto poder-se-ia chamar efetivamente de expansão do Direito Penal. As análises
simples de números absolutos, ao contrário, não podem sustentar nenhuma evidência.
Por outro lado, em alguns lugares como o Brasil, é possível ver um resultado massivo de
encarceramento13, que evidencia que o resultado final da intervenção do controle social penal tem sido
mais grave do que foi outrora. Para que a isso se chame expansão do Direito Penal, é necessário
verificar em que plano ele realmente está se expandindo, e parece que este plano não é o do mero
incremento de número de condutas incriminadas.
Se, no entanto, não há um incremento proporcional de condutas ilícitas provado, mas sim está
evidenciada uma ampliação no encarceramento, a hipótese de expansão quiçá resida precisamente
naquilo que se encontra entre uma e outra coisa: as fórmulas de incriminação.
Ocorre que é fato notório no ambiente doutrinário – e não exclusivamente do Brasil – que tem crescido
o número de delitos em cujo desenho se insere um incremento nas barreiras de imputação, quer seja
pela via do abuso de elementos normativos do tipo, de leis penais em branco, de incriminações de
resultados de perigo abstrato, de bens jurídicos coletivos ou espiritualizados, de castigo de omissões de
deveres, de delitos culposos, de delitos de acumulação, de delitos de posse ou de estado e um longo
etc.
A cumulação destas fórmulas naturalmente dificulta as possibilidades de defesa e isso faz com que cada
vez mais se amplie o encarceramento.
Este dado, quiçá, possa ser vinculado a um processo de expansão, mas a lista de avanços de barreiras
de imputação não inclui, entre as técnicas de tipificação, a RPPJ. Se eventualmente se associa esta
opção a tal processo de expansão, isso pode dever-se, quiçá, ao emprego de tais técnicas de tipificação
violadoras de garantias, aos casos de responsabilização penal de pessoas jurídicas.
No entanto, isto não é, de modo algum, uma opção obrigatória.
É mais do que recomendável que se preserve ao máximo as garantias tão lentamente implantadas no
sistema punitivo. Optar por responsabilizar entes coletivos não necessariamente implica fazê-lo
mediante a adoção de técnicas de tipificação abusiva, nem tampouco a ampliação de posições de
garante, nem mesmo ao direcionamento de tal modalidade de incriminação a delitos de perigo ou bens
jurídicos coletivos. Simplesmente, não é necessário, para compatibilizar a RPPJ com a teoria do delito,
empregar, nas incriminações que lhe correspondem, as técnicas de tipificação que propõem avanços
nas barreiras de imputação com recortes de garantias fundamentais.
Por outro lado, a necessidade de incriminação das pessoas jurídicas é reclamada, no plano político
criminal, em razão do impulso de outras realidades criminológicas que, muitas vezes, estão associadas
a delitos muito concretos, que contemplam, eventualmente, resultado material e ofendem tanto bens
jurídicos individuais quanto coletivos essenciais.
Vejamos.
2.3.A realidade criminológica da atividade delitiva das pessoas jurídicas

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É um fato inarredável que, cada vez mais, fatos gravíssimos de intensa repercussão social têm
envolvido atividades de pessoas jurídicas.
É igualmente um dado criminológico que, no mundo da modernidade reflexiva, as principais agressões,
especialmente a bens jurídicos coletivos – que nem por isso deixam de ser fundamentais –, como nas
graves aflições ao ambiente, na maior parte dos casos, envolve pessoas jurídicas, sem as quais seria
impossível conseguir produzir tais crimes14.
O chamado Moderno Direito Penal, no afã – muitas vezes inútil – de conter o progressivo avanço na
violação destes bens jurídicos coletivos tem feito uso desmedido de modernas técnicas de tipificação,
em particular, a dos delitos de perigo abstrato e das normas penais em branco, que sem dúvida alguma
representam o adiantamento de barreiras de imputação e dão lugar ao que se convencionou chamar de
processo de expansão do Direito Penal.
Como as atividades que dão origem à aflição dos bens jurídicos coletivos, de maneira geral, ocorrem
envolvendo a atividade empresarial, é comum associar-se a responsabilidade penal de pessoa jurídica
com o problema da expansão do Direito Penal, sob o argumento de que aquela também é mais um
sintoma deste.
Trata-se, porém, de uma falsa impressão, facilmente desmentida.
Um excelente exemplo da realidade recente brasileira é o rompimento da barragem da companhia
Samarco, na cidade de Mariana, em Minas Gerais. Uma enorme gama de resultados de homicídios,
lesões corporais, danos de alta monta, poluição de águas potáveis e até mesmo aniquilação de espécies
aquáticas, enfim, um enorme número de resultados a bens jurídicos fundamentais, em delitos de
resultado material, sendo inclusive, alguns casos, de bens jurídicos individuais tão essenciais quanto a
vida e a integridade física.
Poder-se-ia somar, tendo por foco ainda no cenário brasileiro, o clássico delito de corrupção ativa.
Trata-se de um delito aflitivo da administração pública cuja tradição remonta às ordenações. Pois bem.
É de conhecimento público a apuração de vários delitos de corrupção ativa envolvendo empresas no
Brasil, até o ponto de estas contarem com setores próprios para a realização diuturna de tal atividade
e, não obstante a persecução individual tenha sido empreendida, a atividade ilícita claramente
persistiu.
Sendo assim, se ao Direito Penal de perfil minimalista incumbe justamente a intervenção contra os
ataques mais graves contra os bens jurídicos mais importantes, e estes, por vezes, são perpetrados por
e por intermédio de pessoas jurídicas, não há nenhuma incongruência entre a defesa teórica da postura
de sua incriminação e a defesa do postulado de intervenção mínima.
Ademais, as relações sociais são sabidamente mutantes e a preservação da ideia de intervenção
mínima obriga à constante revisão do que representam os ataques mais graves e quais são os bens
jurídicos mais importantes para o desenvolvimento humano, obrigando, por vezes, ao descarte de
incriminações consolidadas e à identificação de novos espaços de intervenção. É necessário combater o
processo de expansão do Direito Penal, porém, é igualmente necessário admitir a migração de seus
mecanismos de intervenção de acordo com as exigências socioculturais.
Note-se que a estrita obediência a um princípio de intervenção mínima resulta absolutamente
compatível com a adoção de uma RPPJ; logo, o simples fato de que se adote a RPPJ não se traduz em
um processo de expansão do Direito Penal, desde que se procure sua reserva a casos eminentemente
graves, onde a técnica de tipificação empregada seja obediente a um Direito Penal mínimo.
Outrossim, a afirmação a respeito de que a RPPJ não é, em si, um instituto que represente
necessariamente uma expansão do Direito Penal, conquanto valha para evitar sua absoluta renegação,
resulta ainda insuficiente para justificar sua adoção.
Que algo não seja essencialmente prejudicial não quer dizer que deva ser usado. É preciso que
represente alguma espécie de ganho.
Para esta discussão, é essencial responder a uma outra pergunta.
3.É necessário o emprego de Direito Penal para pessoas jurídicas?
Uma das críticas mais comuns à pretensão de responsabilização criminal de pessoas jurídicas volta-se à
questão da necessidade ou não do emprego do Direito Penal diante da questão.
Argumenta-se, comumente, que se a atividade empresarial promove danos, a melhor solução para tais
danos seria sua recomposição, o que pode ser obtido já no plano do Direito Civil ou Administrativo, de
modo que não seria necessário nem útil aplicar o Direito Penal para alcançar tal meta15.
Adiciona-se a isso o argumento de que não é possível a utilização da pena de prisão para pessoas
jurídicas e que o restante das medidas que podem ser tomadas pelo sistema criminal – restrições de

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direitos e multas – podem perfeitamente ser alcançadas pelo Direito Administrativo e Civil16.
Basicamente: se não se vai aplicar prisão, por que utilizar o Direito Penal?
3.1.A abolição da prisão é a abolição do Direito Penal?
A primeira curiosidade dessa postura crítica é o fato de derivar precisamente de um setor da ciência
penal que defende de modo veemente o afastamento do emprego da pena de prisão pelo Direito Penal
em face de sua evidente falência17.
Ora, se o banimento da pena de prisão se efetuar, estará extinto o Direito Penal? Ou ele deverá seguir
existindo, justamente pelo exercício do controle mais ingente, ou seja, nos casos de restrições de
direitos mais graves ou de multas mais vultosas?
Caso o fim da pena de prisão represente o fim do Direito Penal, não cabe discussão. A postura
abolicionista, no entanto, sabidamente tem um caráter utópico que, por hoje, é absolutamente
irrealista e inaceitável. Nas palavras de Hassemer,
[...] a demanda de suprimir o Direito penal, de nenhuma forma é uma opção agradável para os seres
humanos e muito menos para os direitos humanos das pessoas. Tão somente se lograria, uma vez que
o controle social seguiria regendo nossas vidas, eliminar os limites das ingerências e intromissões,
deixando via livre aos poderosos interesses sociais para impor suas sanções. Isso sim que seria uma
verdadeira miséria18.
Por outra, se o Direito Penal deverá seguir existindo, ele deverá ser mantido como ultima ratio, e como
tal, independentemente das circunstâncias em que exista, reservado para as intervenções mais graves.
Se essas intervenções mais graves estão ocorrendo dentro do Direito Administrativo e do Direito Civil,
certamente isso não é um sintoma de que o Direito Penal deva ser desprezado, mas sim um sintoma
claríssimo da existência de uma fraude de etiquetas. Aquilo que se chama Direito Civil ou Direito
Administrativo, mas que promove restrições de direitos e multas graves, sem dúvida, deverá gozar de
uma estrutura de garantias absoluta, como só o Direito Penal pode proporcionar. O emprego de
mecanismos de inversão de prova contra o imputado, de presunções e abreviações processuais não é
tolerável diante da intervenção máxima.
Nesse caso, se for afirmado que o Direito Administrativo e o Direito Civil gozam de tais garantias,
estará provada a fraude de etiquetas. Intervenção grave e garantias máximas são as impressões
digitais do Direito Penal. Estar-se-ia chamando de civil e administrativo aquilo que claramente é Direito
Penal.
Se, ao contrário, é o Direito Penal que se está imiscuindo em atividade administrativa ou civil,
castigando condutas de somenos importância, o equívoco é do Direito Penal que deveria ser mantido à
margem delas. Mas tal afastamento, decerto, passa longe daquilo que tem sido perpetrado pelas
pessoas jurídicas.
Como se nota, não importa o nome que se dê, importa o conteúdo. Sempre será imprescindível que as
intervenções mais graves – sejam quais forem – contra o indivíduo sejam acompanhadas das maiores
garantias. A esse esquema se costuma denominar sistema penal.
Por outra, é também certo que a reação do sistema penal não opera, em 100% dos casos, com penas.
Medidas de segurança e medidas socioeducativas (aplicadas na área da infância e juventude) são
também medidas derivadas do sistema penal. Por muito que se queira maquiar estas últimas,
sustentando que servem ao desenvolvimento do caráter das crianças e adolescentes e que são medidas
sanitárias dirigidas aos enfermos mentais, as medidas (sejam socioeducativas ou de segurança) são
matéria efetivamente penal, porque essencialmente vinculadas e dependentes, em sua própria
existência, da ocorrência de um ilícito penal.
A afirmação do ilícito penal dissociada da pretensão de reprovação impede apenas a imposição de pena
e não a intervenção do sistema penal. O fulcro, disfarçado no caso das crianças e adolescentes e
explícito no caso dos portadores de enfermidades mentais, é a periculosidade.
Nesse ponto, resulta imperioso reconhecer que a atuação de uma pessoa jurídica envolvida em um
ilícito penal costuma ser bastante mais perigosa que o envolvimento de um inimputável, seja ele um
menor de 18 anos ou um portador de enfermidade mental. Portanto, se é a periculosidade que
fundamenta a aplicação da medida de segurança, não haveria, em princípio, porque descartar esta
possibilidade como consequência da RPPJ.
Em verdade, disso resultam duas opções possíveis.
A primeira é entender que não é possível o emprego de medidas de segurança para contrapor-se à
prática de ilícitos por pessoas jurídicas e igualmente afastar a discussão sobre a prática de ilícitos como
requisito para a aplicação de medidas socioeducativas e de medidas de segurança para os portadores
de enfermidades mentais, transferindo a discussão de modo completo e efetivo para o âmbito sanitário
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e educacional, completamente extrajurídico, quando não, ao menos, fora do Direito Penal. A segunda é
continuar antepondo o ilícito como requisito indeclinável para as medidas de segurança em face de
critérios de periculosidade e de proporcionalidade, aplicando-os indistintamente aos adolescentes, aos
inimputáveis e às pessoas jurídicas.
Qualquer terceira opção mesclando as anteriores peca, de início, de uma flagrante incongruência.
Assim, quer seja reagindo com penas restritivas de direitos, quer seja por meio de medidas de
segurança, o que está claro é que a reação penal é perfeitamente compatível, em sua modulação, com
a RPPJ.
É conhecido, na doutrina, um vasto manancial de consequências jurídicas aplicáveis a pessoas jurídicas
pela instância penal, absolutamente válidos e recomendáveis.
Aponta Adán Nieto Martín, por exemplo, para
[...] a interdição de participar em leilões e concursos públicos ou de contratar com a administração
pública, que figura tanto na Itália (art. 9.2.c do Dec. Lgs. 231), na França (art. 131 – 39.5 do CP) ou na
Espanha (art. 262.1.C) [...] proibição de captar poupança pública (art. 131-36.6 do CP francês);
interdição que inclui tanto a possibilidade de solicitar investimentos – por exemplo, através da emissão
de obrigações da empresa –, de atuar na bolsa ou de utilizar qualquer tipo de publicidade para
captação de poupança19.
Em caráter mais voltado à prevenção criminológica, pode-se pensar também na “revogação ou
suspensão de autorizações, licenças ou concessões que tenham sido funcionais para a comissão do
delito (Dec. Legs. 231 – art. 9.2.d)”20.
Outra fórmula muito difundida é a sanção voltada à imagem, como a adverse publicity order, a
simplespublicity order ou, ainda, a order of notice to victime, todas voltadas a tornar pública a violação
de direitos perpetrada pela empresa21.
Também se pode cogitar – em havendo vítima definida para o crime – impor a sanção de transferência
de cotas da empresa autora à vítima ou sua família.
3.2.Por que não Direito Administrativo?
Uma vez constatado que as medidas aplicáveis às pessoas jurídicas são compostas por restrições de
direitos, é bastante frequente que surja a pergunta: então por que não utilizar o Direito administrativo?
22

São inúmeros os argumentos pelos quais se deve negar uma migração total para o campo
administrativo das consequências do ilícito praticado por pessoas jurídicas. Aqui se procurará, no
entanto, esgrimir alguns dos principais.
O primeiro deles guarda estreita conexão com um dos argumentos expostos no tópico anterior. Se o
ilícito perpetrado por uma pessoa jurídica é uma das ofensas mais graves aos bens jurídicos mais
importantes para o desenvolvimento social dos indivíduos (só isso o autentica a pertencer à seara
penal), o uso do Direito Administrativo supõe um abuso, uma vez que este modelo jurídico se vale de
presunção de culpa, de aplicação de sanção diretamente pelo Poder Executivo, de inversão do ônus da
prova e de uma série de violações de direitos fundamentais.
Poder-se-ia argumentar, então que, neste caso, se estaria protegendo mais as pessoas jurídicas,
dando-lhes privilégios que hoje elas não possuem.
A falácia do contra-argumento é o esquecimento de que não poucas vezes estarão implicados na
prática delitiva pessoa física e pessoa jurídica e o recorte de garantias de um, para preservar a lógica e
equanimidade do sistema, deveria implicar no recorte do outro. A opção contrária implicaria a
necessidade de afirmar que a aplicação de uma mesma consequência em virtude de um mesmo fato
deveria percorrer caminhos de imputação diferente para pessoa física e para pessoa jurídica. Com as
inversões de culpa e de prova, a consequência catastrófica para um mínimo de lógica jurídica na
atribuição de responsabilidade levaria ao frequente castigo das pessoas jurídicas com absolvição de
pessoas físicas pelo mesmo fato, criando, então, sim, um bode expiatório perfeito.
Há ainda o efeito colateral de aplicação do Direito Administrativo como instrumento de ultima ratio,
levando à abolição perversa do Direito Penal, mediante a implementação de um Direito com bem
menos garantias para os mesmos fatos onde até então se preservavam garantias fundamentais.
O segundo argumento diz respeito a peculiaridades sociológicas.
É bastante comum ouvir-se falar que na Alemanha, por força de um Direito Administrativo
extremamente forte e interventivo, não se faz necessária a instauração de um modelo que contemple
RPPJ, o que seria um sintoma de que um Direito Administrativo ajustado poderia resolver o tema muito
melhor do que uma migração para o campo da responsabilidade penal.
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Espera-se que tenha ficado no passado o hábito da importação acrítica de institutos jurídicos europeus
para a aplicação na América Latina.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que a imensa maioria dos países europeus do Direito continental
já adota a RPPJ a despeito da postura alemã.
É verdade que o Direito Administrativo sancionador alemão é bastante interventivo e que foi criada em
torno dele uma subserviência de comportamento do cidadão médio que leva a que as obrigações – de
regra – sejam atendidas pelos setores empresariais.
O que pouco se destaca é que tal dureza e tal obediência cega, no caso alemão, podem estar
culturalmente relacionadas com as origens históricas do Direito Administrativo e sua associação ao
Direito de Polícia que, ao absorver uma boa parte da instância penal durante a página mais negra da
história alemã23, legou um histórico terrível e pode ter deixado marcas capazes de justificar a
submissão dos indivíduos à diretriz estatal. Em boa parte, é possível associar esta cultura de obediência
a um histórico de medo.
No outro extremo de um leque de posturas diante da obediência às normas administrativas, encontra-
se precisamente o Brasil, cujas origens históricas revelam uma incomum leniência com a prática ilícita,
uma porosidade enorme à corrupção24.
Não é de se esperar tal postura de cumprimento do Direito Administrativo no Brasil. Mas é ainda pior.
Se o Direito Administrativo é realizado a partir da potestade do Poder Executivo, enquanto os crimes
envolvendo pessoas jurídicas se desenvolvem especialmente na seara empresarial, o cruzamento de
dados não permite esperar desenvolvimento alvissareiro, cientes de que os maiores delitos já
identificados na história da nação brasileira foram perpetrados precisamente mediante a associação
criminosa entre empresas e órgãos do Poder Executivo.
Isso sem mencionar o fato de que o que estrutura a base do Direito Administrativo é precisamente a
discricionariedade regrada, o que implicaria, em outro momento, não apenas na legitimidade da não
persecução, como também na mesma legitimidade de um emprego seletivo e direcionado a interesses
inconfessáveis do ente público.
Não é proposta digna de se oferecer a qualquer brasileiro uma solução para os ilícitos empresariais
partindo de entregar todo o poder sancionatório nas mãos do Executivo.
O mecanismo penal, nesse sentido, exerce uma importante contrapartida, consistente na submissão da
decisão sancionatória ao Poder Judiciário e a iniciativa persecutória à pessoa diversa de um dos
interessados no conluio, qual seja, o Ministério Público.
Portanto, parece óbvio que o Direito Administrativo não pode resolver sozinho um problema que
claramente suplanta suas fronteiras, sem se converter, ele próprio, em Direito Penal disfarçado.
3.3.Uma questão de igualdade
Por último, mas não menos importante, resta analisar a questão da igualdade, já antes aventada por
Carbonell Mateu. O autor valenciano afirmou que:
todos os sujeitos que intervêm no âmbito vital regulado pelo Direito – ou seja, que intervêm nas
relações sociais e no correspondente sistema comunicativo – devem estar submetidos às consequências
jurídicas que implicam seus descumprimentos, assim tem que acontecer, porque as relações sociais – a
vida em comum – não pode funcionar se não existe uma submissão igualitária de todos às normas25.

O argumento é antigo e remonta a von Liszt26, quem, em frase famosa, sustentou que quem pode
celebrar contratos também pode realizar contratos fraudulentos ou usurários, portanto, pode praticar
crimes.
Mas Carbonell vai além apontando que o próprio ordenamento jurídico perde coerência quando impõe
igualmente uma submissão às regras, mas difere entre as pessoas no que tange ao nível de coerção
para a efetivação do resultado destas regras. Os bens jurídicos não podem ser defendidos de modo
diverso conforme seja a pessoa que os ataque, ou seja,
[...] as relações sociais – a vida em comum – não podem funcionar se não existe uma submissão
igualitária de todos às normas, se não existe a razoável expectativa de que qualquer abuso de uma
posição determinada vai comportar uma reação do próprio sistema, que assegura a posição que a cada
qual corresponde27.
Realmente não é razoável que as pessoas jurídicas gozem do privilégio de não se submeterem às
mesmas regras de controle social que limitam os comportamentos das pessoas físicas.
Não é aceitável que, enquanto uma pessoa física tenha que arcar, pelo mesmo ilícito, com
responsabilidades cumulativas no Direito Civil, administrativo e penal, à pessoa jurídica seja reservado
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o privilégio de jamais sofrer idêntica cumulação.


Pense-se, por exemplo, no caso de um acidente de trânsito. Ao cruzar o sinal vermelho, por culpa sua,
o condutor abalroou outro veículo e provocou lesões corporais no outro motorista. Responderá
civilmente pelos danos causados no veículo e na pessoa; sofrerá uma multa administrativa por violação
da regra de trânsito e ainda responderá criminalmente por lesões corporais.
Caso o mesmo acidente tenha sido provocado por uma falha no sistema informático de controle de
tráfego, que abriu dois sinais verdes concomitantemente, e se demonstre que este defeito produziu-se
por um corte de gastos em equipamentos informáticos promovidos pela empresa que controla o tráfego
da cidade, somente se produziria responsabilidade civil e quiçá – caso não fosse empresa pública –
alguma responsabilidade administrativa.
Olhando especificamente para a realidade legislativa brasileira, os exemplos são ainda mais aberrantes.
Ex. 1: se uma pessoa física é causadora de um vazamento de produto radioativo em um rio que
contamina e mata várias pessoas, responderá concomitantemente pelos homicídios e pela infração
administrativa perante os órgãos de fiscalização ambiental. Caso se trate de pessoa jurídica,
remanescerá a responsabilidade administrativa e – dadas as restrições legislativas brasileiras – quando
muito, um crime ambiental de poluição.
Ex. 2: se o sonegador fiscal é pessoa física, responderá concomitantemente pelo crime de sonegação
fiscal e pela infração administrativa tributária correspondente. Caso seja pessoa jurídica, apenas pela
infração administrativa tributária.
Parece bastante claro que, em um sistema jurídico pretendidamente equânime, não há porque dar
tratamento privilegiado para uns em detrimento de outros.
Menos ainda, quando os privilégios são oferecidos precisamente para aqueles que são mais
hipersuficientes sob todos os aspectos.
Conclusões
Pretendeu-se oferecer razões político-criminais para discutir a RPPJ à margem de considerações
dogmáticas, simplesmente no plano da conveniência de sua adoção e com o foco posto em convicções
que aparentemente são assentadas na doutrina, tratando precisamente de colocá-las em xeque.
Parece haver uma evidência criminológica do envolvimento das corporações em quase todos os casos
mais graves de agressões a bens e direitos fundamentais para o desenvolvimento social das pessoas.
Esta evidência questiona a etiqueta habitualmente imposta à RPPJ de ser um sintoma de um processo
de expansão do Direito Penal.
Verifica-se que o vetusto aforisma de que as sociedades não podem delinquir não resulta aceitável se
for interpretado como afirmação de uma evidência empírica – já que é real o envolvimento das pessoas
jurídicas em boa parte da afetação dos bens essenciais de todos – nem tampouco se pode admitir se
interpretado como vedação a que o ordenamento jurídico opte por sua responsabilização pela via penal,
porque, neste caso, consistiria em fomento da iniquidade28.
A realidade social latino-americana e, especialmente, do Brasil evidenciam a clara insuficiência dos
mecanismos de Direito Administrativo para promover o controle social do intolerável perpetrado por
pessoas jurídicas, precisamente em razão da infiltração de sua influência nas próprias esferas de
vigilância.
Um modelo jurídico equânime reclamaria o esgotamento do privilégio da posição hoje ocupada pela
pessoa jurídica, que é o desejo de toda e qualquer pessoa em sua relação com o controle social
perpetrado pelo Direito Penal: poder ser vítima, mas jamais poder ser réu!
Tratou-se de argumentos que, em seu conjunto, inclinam-se por entender que o Direito Penal tem um
papel – ainda que restrito – a ser exercido no que refere ao controle social estatal diante das atividades
das pessoas jurídicas.
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1 Veja-se ARAÚJO JÚNIOR, João Marcello de. Societas delinquere potest – revisão da legislação
comparada e estado atual da doutrina. In: GOMES, Luiz Flávio (Org.). Responsabilidade penal de
pessoa jurídica e Medidas Provisórias em Direito penal. São Paulo: Ed. RT, 1999. p. 72-87.

2 Sobre a relação de países veja-se ORTS BERENGUER, Enrique; GONZÁLEZ CUSSAC, Jose Luis.
Compendio de Derecho penal. 3. ed., Valencia: Tirant lo Blanch, 2011. p. 279 e GOMEZ-JARA DÍEZ,
Carlos. Fundamentos modernos de la responsabilidad penal de las personas jurídicas. Bases Teóricas,
regulación internacional y nueva legislación española. Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2010. nota 4, p.
9.

3 Nesse sentido, especialmente, a crítica de Luis Gracia Martín. In: GRACIA MARTÍN, Luis. La cuestión
de la responsabilidad penal de las propias personas jurídicas. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel
(Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011, esp. p. 107 e ss.

4 Especificamente sobre o tema, veja-se BUSATO, Paulo César. Fundamentos para um sistema penal
democrático. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 172-174 e BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito
penal brasileiro. 12. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011 p. 82-88.

5 Deste ponto em diante, para fins de facilitar a escrita, adota-se a expressão RPPJ para designar a
responsabilidade penal de pessoas jurídicas.

6 A referência é ao livro de SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del Derecho penal. Aspectos de
la política criminal en las sociedades postindustriales. Madrid: Civitas, 1999, cuja última edição é SILVA
SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del Derecho penal. Aspectos de la política criminal en las
sociedades postindustriales. Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2006.

7 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión..., cit., 2006. p. 1.

8 Veja-se crítica em MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y de la empresa. Parte
General. 4. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2014. p. 85-99.

9 O tema foi trabalhado em BUSATO, Paulo César. Una crítica a los delitos de posesión a partir del
concepto de acción significativa. Conexiones entre el civil law y el common law en las tesis de Tomás
Vives Anthony George Patrick Fletcher. In: Revista Penal, Huelva, n. 35. Huelva, p. 11, jan. de 2015.

10 Sobre o tema, veja-se LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os tempos hipermodernos. Trad.
Luís Filipe Sarmento. Lisboa: Edições 70, 2011; LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A cultura-mundo.
Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2011; VARGAS LLOSA, Mari. La
civilización del espectáculo. Barcelona: Penguin Random House, 2015 e BAUMAN, Zygmunt.
Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, esp. o Capítulo 3.

11 Esta multiplicidade de relações sociais é derivada do que Bauman definiu como “construção digital
do mundo”. O tema é amplamente explorado em BAUMAN, Zygmunt. La metamorfosi del mondo. Trad.
Marco Cuppelaro, Bari: Laterza, 2017. p. 142 e ss.

12 Sobre o tema da criminalidade em matéria digital, veja-se, WALL, David S. Crime and the Internet.
New York: Routhledge, 2006; SOARES, Gustavo Torres. Investigação Criminal e inovações técnicas e
tecnológicas. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017; AGUIAR, Poliana Policarpo de Magalhães; BRENNAND,
Edna Gusmão de Góes. Cibercrimes na e-democracia. 2. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017; CASTRO,
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Ana Lara Camargo de; SYDOW, Spencer Toth. Stalking e Cyberstalking: obsessão, internet,
amedrontamento. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017; SYDOW, Spencer Toth. Crimes informáticos e suas
vítimas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015 e FURLANETO NETO, Mário; SANTOS, José Eduardo Lourenço
dos; GIMENES, Eron Veríssimo. Crimes na internet e inquérito policial eletrônico. São Paulo: Edipro,
2018.

13 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, quando cotejados com os dados do


Departamento Penitenciário do Ministério da Justiça mostram que, no ano de 1990, a população
brasileira era de aproximadamente 143 milhões de habitantes, enquanto que a população carcerária era
de aproximadamente 90 mil pessoas. No final de 2014, o número de encarcerados era de
aproximadamente 550 mil pessoas e a população brasileira, em 2015, girava em torno de 204 milhões
de pessoas. Em 25 anos, o aumento da população foi de 33%, enquanto que da população carcerária
foi superior a 500%.

14 Os exemplos são oferecidos por Ulrich Beck. In: BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo. Trad. Jorge
Navarro, Daniel Jiménez e Maria Rosa Borrás. Barcelona: Paidós, 1998. p. 28. Na seara penal, o tema
também já é tratado com o qualificativo de “evidente”. Veja-se, por todos, GALÁN MUÑOZ, Alfonso;
NÚÑEZ CASTAÑO, Elena. Manual de Derecho penal económico y de la empresa. Valencia: Tirant lo
Blanch, 2017. p. 36.

15 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal. Parte Geral. Rio de Janeiro-Curitiba: Lumen Juris-ICPC,
2006. p. 424.

16 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal. Parte Geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva,
2011. p. 276-277.

17 Um bom exemplo de tal curiosa mescla de convicções está presente em SANTOS, Juarez Cirino dos.
Direito penal..., cit., compare-se p. 423-450 e p. 451-489. Já há muito se defende a ideia de que o
projeto que concebeu a prisão como pena é um projeto falido. Para detalhes, veja-se a consagrada tese
doutoral de Cezar Roberto Bitencourt, publicada como BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena
de prisão. São Paulo: Ed. RT, 1993.

18 HASSEMER, Winfried. Contra o abolicionismo: acerca del porqué no se debería suprimir el derecho
penal. In Revista Penal, Huelva, n. 11. Trad. Miguel Ontiveros Alonso, p. 40, 2003.

19 NIETO MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: un modelo legislativo.
Madrid: Iustel, 2008. p. 301.

20 Idem, p. 301.

21 Veja-se detalhes em COFFEE, John. No soul, no damn, no body to kick: An unscandalized Inquiry
into de problem of Corporate Punishment. In: Michigan Law Review, 1981, p. 211 e ss. e Fisse, Brent;
Braithwaite, John. The Impact of Publicity on Corporate Offenders. Albany: S.U.N.Y. Press, 1984. p. 303
e ss.

22 A respeito, veja-se, por todos, ORTOLAN, Marcelo. “A responsabilidade objetiva da pessoa jurídica
pela prática de atos de corrupção: norma penal ou administrativa? In: Revista Justiça e Sistema
Criminal, Curitiba, v. 8, n. 14, p. 151-166, jan.-jun. 2016.

23 Veja-se, a respeito, LLOBET RODRÍGUEZ, Javier. Nacionalsocialismo y antigarantismo penal (1933-


1945). San José (Costa Rica): Editorial Jurídica Continental, 2015, esp. o Capítulo Quarto, onde se
aborda com detalhe a absorção do Direito Penal nacional-socialista pelo direito de polícia. O texto conta
com publicação próxima, sendo preparada para a Espanha como LLOBET RODRÍGUEZ, Javier.
Nacionalsocialismo y antigarantismo penal (1933-1945). Valencia: Tirant lo Blanch, 2018 e para o
Brasil, como LLOBET RODRÍGUEZ, Javier. Nacionalsocialismo e antigarantismo penal (1933-1945). Trad.
Paulo César Busato, Florianópolis: Tirant Brasil, 2018.

24 Sobre o tema, veja-se BUSATO, Paulo César. Historia y perspectivas respecto de la corrupción en
Brasil. In: Revista Penal, Huelva, n. 36, p. 14 e ss., jul. 2015.

25 CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad penal de las


personas jurídicas. In: CARBONELL MATEU, J. C.; CUSSAC, J. L. González; BERENGUER, E. Orts (Orgs.)
Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Semblanzas y estudios con el motivo del
setenta aniversario del Profesor Tomás Salvador Vives Antón. Valencia: Tirant lo Blanch, 2009. t. I, p.
310. Há versão em português como CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Responsabilidade penal das
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pessoas jurídicas: reflexões em torno de sua “dogmática” e sobre o sistema da reforma de 2010 do CP
espanhol. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Trad. Paulo César Busato, São Paulo, v. 133, p.
39-40, jul. 2017. O argumento é esgrimido também, em parte, em MIR PUIG, Santiago. Derecho penal.
Parte General. 10. ed. Barcelona: Reppertor, 2015. p. 206.

26 LISZT, Franz von. Tratado de Derecho penal. Trad. Luis Jiménez de Asúa, 1999. t. II, p. 299-300,
nota 4.

27 CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas..., cit., p. 39-40.

28 Argumentos similares foram expostos em idem, p. 40.

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