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CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 2 1

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Tal como falamos antes, a presença de símbolos é comum a várias sociedades e
religiões.

Derivada do Judaísmo, em que, tradicionalmente, se proíbem as representações


iconográficas de Deus, a religião Cristã tornou possível a ideia de materializar a
Divindade. Isto acontece a partir do momento em que se divulga a ideia de
encarnação de Deus na figura de Jesus Cristo, revertendo, assim, a tendência
iconoclasta da religião.

A ideia de criar arquétipos dentro da religião passa a ser entendida como forma de
prestar homenagem a determinada figura religiosa, através da sua materialização,
elevando, assim, a sua importância, ao revés do pensamento anterior que ditava que
não se deveria prestar veneração a um objecto, como seja a imagem de uma
personagem religiosa.

O uso de ícones é prolífero no mundo Cristão. No entanto, a partir do século VI,


surgiram algumas fações dentro da Igreja Cristã que condenavam o uso das
representações iconográficas, acusando idolatria. Estes, apelidados de Iconoclastas,
destruíram publicamente várias representações sagradas, defendendo que apenas se
deveria utilizar o Crucifixo para o ato de veneração.

Finalmente, e após muito debater o assunto entre as diferentes fações, no Concílio de


Niceia, em 787, o uso de ícones e representações afins foi aprovado, como parte
integral da tradição Cristã.

Depois deste período de crise, determinaram-se normas acerca das formas de


representação e esquemas decorativos das igrejas cristãs do Oriente, normas estas
seguidas até hoje.

Nas igrejas do Ocidente, todavia, estas normas foram seguidas até sensivelmente ao
século XIII, data a partir da qual se começa a assistir a uma diferenciação de estilos
entre o Oriente e o Ocidente cristãos. A Igreja Cristã do Oriente continuará com o uso
de ícones (retratos planos ou em baixo-relevo, com representações estilizadas de
figuras religiosas), enquanto que no Ocidente se vai atribuindo um pouco mais de
liberdade de expressão ao artista, na feitura das imagens sagradas, surgindo estas
assim com feições mais realistas e humanizadas.

A questão da idolatria/iconoclastia surgirá de novo apenas na época da Contra


Reforma, sendo que os Luteranos terão sido os que lutaram com maior veemência
contra o uso destes ícones-retrato, mesmo aqueles de Cristo.

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Os Católicos mantiveram e, até, intensificaram o uso da imagem religiosa, fazendo uso
dos estilos renascentista e barroco. Especialmente em Itália e Espanha, a imagética
popular católica manterá a influência do estilo barroco.

Para o Cristão medieval, tudo no mundo era símbolo: coisas, pessoas e


acontecimentos simbolizavam outras coisas, pessoas ou acontecimentos. Assim
sendo, faziam representar, através da redução ao símbolo, os conceitos e ideias que
queriam deixar passar e que eram importantes de reter.

De certa maneira, acreditavam que a imagem era uma forma de transpor o mundo
material e corpóreo, chegando ao imaterial e transcendente.

Por outro lado, personalidades como Gregório Magno e Tomás de Aquino defenderam
que as imagens eram uma forma excelente de ensinar aos pobres e analfabetos os
preceitos da doutrina Cristã, de forma simples e eficaz. Esta postura manteve-se até
ao final da época medieval e deu origem a vários tratados e textos afins (por exemplo:
Speculum Maius, de Vincent de Beauvais) sobre os programas iconográficos a utilizar
nos diferentes espaços do templo.

Pelo final da época medieval, a par com a nova mentalidade gótica, as representações
preferidas tornaram-se aquelas da infância e relações pessoais de Cristo (com a sua
Mãe e João Baptista, por exemplo), visões estas mais «humanas» de Cristo e que nos
mostram como Ele se aproximou a nós, fomentando o exemplo.

Durante o período do Renascimento, as imagens tornam-se menos simbolistas ainda,


buscando o realismo e atribuindo maior importância à cena como aspeto histórico. De
acordo com Alberti, a maior importante função da arte é a de apresentar uma história.
A esta ideia, acrescentava-se a necessidade destas histórias serem escolhidas pelo
seu fundamento moral e a representação em si deveria ser convincente e expressiva,
de tal forma a despertar o sentimento no espectador.

Como Nicolas Poussin viria a dizer mais tarde: «Leia a história e a imagem ao
mesmo tempo.» Era este o objetivo último das representações religiosas.

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Como mencionamos no ponto anterior, as representações sagradas seguiam
convenções e programas decorativos estabelecidos. A iconografia dependia em
grande parte da literatura, que crescia com o passar do tempo.

Neste ponto, serão brevemente enumeradas as principais fontes escritas para a Arte
Ocidental, sobre as quais nos podemos sustentar no estudo da Iconografia, desde a
Antiguidade à época Barroca.

1. Antiguidade Clássica: Metamorfoses, de Ovídio

2. Cristianismo: Apócrifos do Novo Evangelho; Legenda Aurea, de Jacobus de Vo-


ragine (séc. XIII); A Bíblia Sagrada; Meditationes vitae Christi, atribuída a São Bo-
aventura (séc. XIII);

3. Contra-Reforma: De picturis et imaginibus sacris, de Johannes Molanus (1533-


1585);

4. Renascença e Barroco: Iconologia, de Cesare Ripa; [Emblematum liber] Andreae


Alciati Emblemata, de Andrea Alciati (1492-1550).

Podemos, ainda, mencionar, da época contemporânea (sécs. XIX e XX):

1. Iconografia Cristã: Iconographie chrétienne [Iconografia Cristã], de Adolphe Na-


poléon Didron (1806-1867); Ikonographie der christlichen Kunst [Iconografia da Ar-
te Cristã], de Karl Künstle (1859-1932);

2. Iconografia secular: Iconographie de l’art profane au moyen-âge et la renaissan-


ce, et la décoration des demeures [Iconografia da arte profana na Idade Média e
Renascimento, e a decoração doméstica], Raimond van Marle (1888-1936).

Para saber mais… (Ligações no separador respetivo do curso)

http://www.limc-france.fr/presentation (base de dados sobre iconografia clássica e


outros estudos gerais no âmbito da iconografia; disponível em francês, inglês, alemão,
italiano, espanhol, árabe e grego)

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http://warburg.sas.ac.uk/vpc/VPC_search/main_page.php (base de dados de
iconografia do Instituto Warburg; em inglês)

https://archive.org/details/christianiconog01stokgoog (cópia on-line do livro Iconografia


Cristã, de Didron, disponível para download; versão em inglês).

http://www.the-orb.net/encyclop/religion/hagiography/bguide.htm (guia de fontes


bibliográficas para estudos de Hagiografia Medieval; inclui lista bibliográfica de
iconografia; em inglês)

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Até ao ano 313, quando o Imperador Constantino legitimou a prática da religião Cristã
no Império Romano, através do Édito de Milão, os primeiros Cristãos dissimulavam as
suas práticas religiosas através da utilização de símbolos que os distinguiam entre si,
fugindo, assim, às perseguições e martírios.

As catacumbas romanas dos séculos II e III documentam os primeiros séculos do


Cristianismo, fornecendo-nos algumas informações importantes quanto aos símbolos
mais utilizados nesta primeira fase da religião.

Com base nos relevos nelas encontrados, podemos observar que, durante bastante
tempo, os símbolos mais habituais são a âncora, o tridente ou navio, na medida em
que são formas disfarçadas de fazer representar a cruz.

A par com as inscrições funerárias, os símbolos mais habitualmente encontrados são


os que se seguem:

- monogramas como o Chi-Rho ou IHS,

- objectos comuns que substituem a Cruz, como a Âncora ou a Barca, já mencionados,

- o Bom Pastor e a figura do Orante,

- o Ichthus ou Ichthys,

- o Pavão e a Pomba,

- a Folha de Palma e a Vinha e Cachos de Uva,

- e, finalmente, bastante mais tarde, começam a representar, também, a própria Cruz.

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etext.lib.virginia.edu/cgi-local/DHI/dhi.cgi?id_dv2-57

http://www.limc-france.fr/presentation

http://warburg.sas.ac.uk/vpc/VPC_search/main_page.php

http://www.jesuswalk.com/christian-symbols/

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