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PROGRESSISMO
Na medida em que é uma filosofia, o progressismo consiste, largamente, na
aplicação do pragmatismo à educação.
Muitos educadores, vagamente conhecidos como progressistas, se rebelaram
contra o que chamavam de excessivo formalismo da educação tradicional, com sua
ênfase na rigorosa disciplina, no ensino passivo e no treino intensivo, mas sem
finalidade.
O progressismo em suas primeiras fases era de natureza acentuadamente
individualista. Depois, sacrificando o seu anterior individualismo, lançou todo o seu
peso no movimento para a transformação social em favor da cooperação e democracia.
Partindo do conceito pragmático de que a transformação é a própria essência da
realidade, o progressismo declara que a educação está sempre em processo de
desenvolvimento. Os educadores devem estar preparados para mudarem os seus
métodos e diretrizes, à luz dos novos conhecimentos e de mudanças no ambiente. O
âmago da educação não é a adaptação à sociedade, ou ao mundo externo, ou a certos
padrões perenes de bondade, beleza e verdade; é a contínua reconstrução da experiência.
Como foi expresso por Dewey, filósofo e educador, que primeiro dominou a
educação progressista e a filosofia pragmática (1916, 89):
De acordo com esta proposta, isso não significa que à criança deva permitir-se
proceder de acordo com todas as suas inclinações. Sobretudo porque ela não tem
maturidade suficiente para definir propósitos significativos. Neste caso, embora a
criança conte consideravelmente para o processo de aprendizagem, não é o seu árbitro
final. Aqui entra a figura do professor, que deve orientar os seus interesses de forma
mais realística.
CRÍTICA AO PROGRESSISMO
O princípio da escola centralizada na criança foi muito criticado. O progressismo
sustenta que a auto-atividade conduz à melhoria individual, ao progresso e a vida boa.
Mas como definir melhoria, progresso e a vida boa? Sobretudo quando se substitui a
verdade pela utilidade.
Se permitirmos à criança a liberdade para que exerça a auto-atividade, terá de
haver um objetivo determinado a ser atingido por ela. O crescimento como tal não pode
justificar-se a si próprio, afinal, é preciso saber para que fim se dirige. Muitos críticos
afirmam que a auto-atividade propícia ao desenvolvimento só se justifica quando possui
um fim absoluto e não uma série de fins relativos. Sendo o progressismo a aplicação do
pragmatismo à educação, se torna impossível evitar a relativização de tudo.
Os críticos também atacaram o princípio de que a criança deve aprender de
acordo com seus próprios interesses. O progressismo insiste que, como a criança é
naturalmente ativa e curiosa, deve ser encorajada a descobrir ela própria os
conhecimentos, cooperando com seus colegas e aconselhada pelos seus professores. O
problema é que, como a capacidade para discriminar entre o saber essencial e acessório
é uma conquista adulta, compete ao próprio mestre transmitir grande parte daquilo que a
criança aprende. A maturidade intelectual não pode ser acelerada. É um produto da
disciplina mental que só se adquire após muitos anos. Disciplina esta que muitas
crianças e, até mesmo, muitos adultos são renitentes em desenvolver por si mesmos.
Pelo menos é de se esperar que o mestre saiba mais sobre o assunto do que uma criança
ou um adulto teimoso e ignorante. E ainda, por que consultar advogados, médicos e
dentistas, se não há a intenção de aceitar os seus conselhos especializados?
Os progressistas insistem que é preciso conjugar a educação com a vida.
Contudo, sem uma clara e compreensiva definição do significado e finalidade da vida,
não é fácil aprofundar exatamente o que se entende por educar para a vida. Não se pode
reduzir, evidentemente, essa educação para a vida como aprendizagem através da
resolução de problemas.
O progressismo é uma proposta educacional que sugere que a educação não é
simplesmente uma preparação para a vida, mas a própria vida. É difícil, em qualquer
caso, ver como a escola poderia ser uma réplica da vida, mesmo que tentasse.
Inevitavelmente, a escola é uma situação artificial de aprendizagem, cercada de
restrições e proibições diferentes das que se encontram no contexto da vida como um
todo. É unicamente uma situação da vida, uma entidade educacional. Assume tarefas
que as outras entidades sociais não podem realizar. Com efeito, a lógica progressista
leva-os a uma situação estranha. Por um lado, defendem a situação de vida real e, por
outro, preconizam tipos de tolerância, liberdade e controle raramente permitidos na vida
real. É notório que a educação não é a própria vida; é antes, a vida como deveria ser.
Quanto ao realce dado pelos progressistas à cooperação, em lugar da
competição, os críticos assinalam que o indivíduo desejoso de contribuir para o bem
geral pode, em dado momento, estar incapacitado para colaborar, precisamente porque
os seus princípios são inaceitáveis para a maioria das pessoas. A tirania da maioria,
como a de poucos, também tem seus perigos. Aliás, como se criam tiranias em nome da
coletividade.
É oportuno lembrar que a maioria não é necessariamente mais clarividente ou
mais generosa que o indivíduo. A mentalidade da massa pode ostentar vendas imorais e
intelectuais que a mente singular não tem. Muitas reformas foram obtidas pela coragem
e persistência de indivíduos que estavam preparados para enfrentar a impopularidade
por amor ao que acreditavam ser justo. É preciso assegurar que a cooperação seja livre e
espontânea para que não se converta em conformismo.
Finalmente, o que dizer da relação entre progressismo e democracia? O primeiro
problema é definir a democracia. Cada pensador a caracteriza de uma forma. Até
mesmo entre os progressistas há divergências. Uma coisa é certa: a democracia não faz
a verdade.
Kneller (1964, 140) faz uma afirmação interessante:
Já foi dito: todo sistema é formado por princípios. É preciso entendê-los para
que se possa entender o sistema. O progressismo, sem dúvida, introduziu uma série de
mudanças. É preciso analisá-lo com maior profundidade. É preciso perguntar: quais
mudanças foram boas? Quais foram más? O que pode realmente ser aproveitado? O que
não? O discurso em prol do progressismo é belíssimo, mas o que está por trás das
aparências? O que há de essencial no progressismo? É óbvio, há muitas perguntas a
serem feitas. Muitas respostas a serem alcançadas.