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ATUALIZAÇÃO CONTINUADA

Malformações oculares mais freqüentes

Juliana M. Ferraz Sallum'

Os avanços no mapeamento genéti­ diagnóstico das malformações e orien­ geralmente é malformado. A correção
co e nas técnicas de genética molecular tação para os pais destes pacientes . O cirúrgica desta anomalia deve ser rea­
deram um novo ímpeto nas áreas de interrelacionamento entre as especiali­ lizada se as estruturas oculares forem
diagnóstico e prevenção da algumas dades é importante para o diagnóstico normais .
doenças genéticas oculares. No Brasil, genético amplo e acompanhamento Coloboma de pálpebra: Geralmente
o acesso a estas técnicas ainda não é multiprofissional dos pacientes com acomete a pálpebra superior, é a ausên­
uma realidade na prática clínica, ape­ múltiplas anomalias. cia de tecido de parte da pálpebra.
sar disto, cada vez mais se faz diagnós­ Anquilobléfaro: Ocorre uma falha
ticos nesta área. parcial na clivagem da fenda palpebral.
Anomali a s c ongênitas maiores
ANOMALIAS OCULARES DE
ETIOLOGIA GENÉTICA Ectrópio e entrópio congênitos: É a
ocorrem em 2% a 3 % dos nascimentos rotação da margem palpebral para fora
vivos. As etiologias genéticas incluem Estão apresentadas abaixo as ano­ ou para dentro respectivamente. A cor­
as causas monogênicas, anomalias malias oculares mais freqüentes que reção cirúrgica está indicada em al­
cromossômicas, desordens multifato­ apresentam etiologia genética. Além guns casos.
riais, teratógenos ambientais e causas destas existem ainda muitas doenças Distriquíase: Os cílios tem implan­
não definidas. Infelizmente, a última oculares que sabidamente tem no seu tação incorreta.
categoria, etiologia desc onhecida mecanismo patogênico um fator pre­ Epibléfaro: Trata-se de prega de
soma 50% ou mais das malformações. disponente familiar. São exemplos deste pele horizontal, adj acente à pálpebra
Dentre as causas gênicas encontramos grupo: estrabismo, ceratocone e erros inferior ou superior, que vira os cílios
em o ftalmologia doenças herdadas refracionais. em direção à córnea. O acompanha­
com padrão autossômico dominante mento o ftalmológico é importante,
(AD), autossômico recessivo (AR), li­ ANOMALIAS DO B ULBO para prevenir lesão corneana.
gado ao cromossomo X ou em DNA OCULAR Euribléfaro : aumento lateral da
mitocondrial. abertura da fenda palpebral, com des­
As técnicas de diagnóstico pré-natal Micro/ta/mo: O bulbo ocular en­ locamento inferior da parte temporal
de malformações, como o ultra-som de contra-se diminuído. da pálpebra inferior.
alta definição, as técnicas invasivas de Nanoftalmo: O bulbo ocular é me­
Epicanto: prega de pele vertical
medicina fetal, e as técnicas laborato­ nor, porém sem alteração de suas es­
entre a pálpebra e o canto interno.
riais de diagnóstico cromossômico e truturas.
Telecanto: A distância intercantal
gênico, tornaram o diagnóstico das Anoftalmo: Não ocorre a formação
aumenta, porém a distância interpupi­
malformações possível ainda intra-úte­ da vesícula óptica e consequentemente
lar permanece normal.
ro. Os erros inatos do metabolismo po­ o bulbo ocular inexiste ou é rudimen­
Fissura palpebral oblíqua: A
dem ser diagnosticados por "screening" tar.
fissura palpebral tem orientação oblí­
laboratorial em urina e sangue. Apesar Estas anomalias freqüentemente es­
qua superior ou inferior.
de toda esta nova tecnologia, o pedia­ tão associadas a erros refracionais, que
Blefarofimose: Epicanto inverso e
tra tem o papel imprescindível para o devem ser corrigidos precocemente,
ptose palpebral estão freqüentemente
principalmente se unilaterais.
associados.
Ptose palpebral congênita: É um
ANOMALIAS DAS PÁLPEBRAS
• Pós graduanda em Oftalmologia e chefe do setor de
Genética Ocular do Departamento de Oftalmologia
déficit de elevação das pálpebras, de
Criptoftalmo: Não ocorre diferencia­ etiologia miogênica, mecânica ou neu­
Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de
Medicina.
Endereço para correspondência: R. Botucatu, 822 -
ção das p álpebra s . A p e l e p a s s a rogênica. Deve ser corrigida cirurgica­
ininterrupta sobre o globo ocular, que mente se estiver ocluindo o eixo visual.
São Paulo - 04023-062 Tel: (0 1 1 ) 572 77 1 3 Fax: (0 1 1 )
573 4002.

ARQ. BRAS. OFTAL. 58(5), OUTUBR0/1995


http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19950049 3 89
Malformações oculares mais freqüentes

ANOMALIAS DAS VIAS Distrofia da Mem brana Basal Glaucoma congênito: Herança ge­
LA CRIMAIS Epitelial: Ocorrem invaginações da nética multifatorial. Ocorre persistên­
Atresia do ponto lacrimal: Falha na membrana basal epitelial com conse­ cia de tecido mesodérmico no ângulo
deiscência da membrana epitelial que qüente erosão recorrente, que abaixa a da câmara anterior, sobre o trabecula­
recobre o ponto lacrimal. acuidade visual. do. Isto impede a drenagem do humor
Pontos supranumerários. Distrofia Epitelial Juven il de aquoso, acarretando aumento da pres­
Meesman : Distrofia epitelial rara com são intra-ocular.
Obstrução congênita das vias lacri­ depósitos corneanos visíveis, que não Síndrome de Rieger: AD. Nestes
mais: Ocorre em 6% das crianças. Ge­ levam a erosão corneana e nem abai­ olhos, a anomalia do tecido mesodér­
ralmente se localiza na porção distal xam a acuidade visual. mico se localiza na íris.
do dueto nasolacrimal, e é uma falha Distrofia de Reis-Bucklers: Espes­ Síndrome de Peters: AR . O leuco­
de canalização das células epiteliais, samento da membrana de Bowman, ma corneano é o achado mais caracte­
que formam o dueto nasolacrimal. com fibrose e erosão recorrente da rístico.
DOENÇAS DA CÓRNEA córnea. Tem aspecto de favos de mel.
Megalocórnea: O diâmetro cornea­ Distrofias Estromais: Dependendo ANOMALIAS DA ÍRIS
no horizontal é maior que 1 3mm. da substância envolvida é classificada
Aniridia: A ausência da íris pode
Ceratoglobo: Apresenta afinamento como: granular (substância hialina),
ser total ou parcial. A fotofobia é fre­
corneano severo , com abaulamento macular (mucopolissacárides) e latti­
qüente pela falta de barreira à luz.
globoso da córnea. ce (substância amilóide). Apresentam
Coloboma de íris: É a falha de fe­
Ceratocone: AD. Ocorre afinamen­ aspectos biomicoscópicos diferentes e
no estudo anatomopatológico se coram chamento da vesícula óptica na área
to corneano e alteração da curvatura nasal inferior, que deixa uma desconti­
corneana. por colorações diferentes.
Distrofia de Schnyder ou Cristali­ nuidade de tecido nesta região da íris.
Microcórnea: Córnea com diâmetro Pode estar associado a colobomas de
menor que 1 Omm. na: Aparecem depósitos de colesterol
no estroma corneano. retina, coróide e corpo ciliar.
Leucomas corneanos: As opacida­
des congênitas da córnea podem estar Distrofia Fleck: Depósitos de
Iípides e mucopolissacárides no estro­ ANOMALIAS DO CRISTALINO
presente ao nascimento ou serem pro­
gressivas. ma corneano. Catarata congênita: Um terço é
Dermóide corneano: É um hamar­ Distrofia Hereditária Endotelial: A hereditária (AD), um terço está associa­
toma da região do limbo corneano, criança já nasce com a córnea espessada da a outras doenças hereditárias e o
composto de tecido fibrolipídico. e opaca por descompensação endotelial. restante é por causas indeterminadas.
Ceratite intersticial: Geralmente é Distrofia Polim orfa Posterior: As causas mais freqüentes são rubéola,
secundária à sífilis congênita. Espessamento da Descemet, não abai­ distúrbios metabólicos e genético autos­
As doenças da córnea devem ser xa a acuidade visual. sômico dominante.
avaliadas e acompanhadas pelo oftal­ Distrofia de Fuchs: É a distrofia Microesferofacia: É a diminuição
mologista. corneana mais freqüente. Na córnea do diâmetro e formato arredondado do
Distrofias corneanas: Alterações gutata ap arecem excre s c ências da cristalino.
corneanas de origem hereditária, ca­ Descemet na câmara anterior, afina­ Lenticone: Trata-se de alteração da
racteristicamente bilateral, simétrica e mento e al ongamento das c é lulas curvatura da parte central da face ante­
geralmente com herança autossômica endoteliais neste local. Conforme au­ rior ou posterior do cristalino.
dominante, exceto a distrofia macular, menta a gutata ocorre descompensação Afacia congênita: É a ausência do
e alguns casos de distrofia hereditária endotelial . cristalino .
endote l i a l , que são auto ssômicas Luxação e sub-luxação do cristali­
recessivas. A opacificação afeta pri­ DISGENESIAS MESODÉRMICAS no: Ectopia do cristalino pode ser
mariamente uma camada da córnea, e DA CÂMARA ANTERIOR completa ou parcial, nesta última ele
ocorre entre a primeira e segunda dé­ Estas três doenças decorrem de erros ainda está na área pupilar. Provoca
cadas de vida, exceção a distrofia de na embriogênese do segmento anterior grandes erros refracionais.
Fuchs e a distrofia da membrana basal do olho. A câmara anterior no desenvol­
epitelial que aparecem por volta da vimento normal é preenchida por tecido DOENÇAS DA RETINA
quarta década. Em seus estágios finais mesodérmico, que sofre clivagem para Distrofia de cones: Fotofobia e difi­
apresentam opacificação ou descom­ dar origem à câmara anterior e demais culdade de visão de cores são achados
pensação corneana. estruturas do segmento anterior. comuns.

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Malformações oculares mais freqüentes

Retinose pigm entária : Afeta o s Distrofias padrão do epitélio retina na margem do coloboma. Pode
bastonetes, com quadros clínicos poli­ pigmentário da retina: De acordo com ocorrer descolamento de retina secun­
morfos, com diminuição progressiva seu padrão morfológico são classifica­ dário por rotura na margem do
da visão periférica, cegueira noturna, e das em: di strofi a foveomacular do coloboma.
extinção progressiva do eletrorretino­ adulto , em borboleta, reticular e
grama. Ao exame fundoscópico nota­ pulvurulenta. MALFORMA ÇÔES DO NER VO
se deposição na retina de pigmento em Distrofia Viteliforme de Best: AD ÓPTICO
forma de espículas ósseas, osteoclas­ com p enetrância incomp l eta e Atrofia congênita do nervo óptico:
tos, esclerose vascular e atrofi a de expressividade variável . A acuidade Palidez de papila e diminuição da
papila. 1 6% é AR, 22% AD, 9% ligado visual permanece boa apesar da mácu­
acuidade visual.
ao X recessivo e o restante ou é caso la apresentar lesão amarelada seme­
Atrofia óptica de Leber: Herança
isolado ou não apresenta padrão de lhante a uma gema de ovo, histopatolo­
materna provavelmente por DNA
herança definido. Nas distrofias da re­ gicamente corresponde a lipofuscina.
mitocondrial. Perda abrupta de visão
tina é importante que se examine toda O eletrooculograma é anormal.
durante a 2 ° ou 3 ° décadas de vida.
a família para que casos subclínicos Amaurose congênita de Leber: AR.
Síndrome Morning Glory: Papila é
sejam detectados e se possa estabele­ Caracteriza-se por uma criança que
grande e malformada com os vasos
cer o padrão de herança genético. Mui­ não enxerga, com um eletrorretinogra­
emergindo radialmente.
tas doenças sistêmicas podem apresen­ ma abolido entretanto com fundo de
Coloboma de papila: É a falha do
tar retinose pigmentária associada. Na olho normal.
síndrome de Usher (AR) a retinose Retinosquise juvenil: ligada ao X fechamento da fissura óptica na região
pigmentária aparec e a s s ociada a recessiva. Trata-se da separação pro­ da papila. Quando pequena e circuns­
hipoacusia. gressiva da retina neurosensorial em crita à área papilar é chamada de "pit
Distrofias Fleck da retina: As lesões camadas, ao nível da camada de fibras de papila". Ocorre hiperplasia reacio­
flecks, comuns a este grupo de doenças, nervosas, que mimetiza um de sco­ nal do epitélio pigmentário da retina
são lesões amareladas ao nível do lamento de retina. A onda b do eletrorreti­ na margem da papila. Pode ocorrer
epitélio pigmentário da retina, dispersas nograma estará diminuida na propor­ descolamento de retina seroso secun­
pelo pólo posterior, que não alteram o ção da retina acometida. dário, por vazamento de líquido céfalo­
eletrorretinograma e nem o e letro­ Coroideremia: Ligada ao X reces­ raquidiano pela comunicação do espa­
oculograma. São 4 entidades clínicas: siva. Homens afetados apresentam res­ ço sub-retiniano com o espaço sub­
1 ) Fundus flavimaculatus, ou Doença de trição do campo visual periférico e ce­ aracnoídeo da bainha do nervo óptico.
Stagardt, AR, apresenta maculopatia gueira noturna. A perda do epitélio Macropapila: Papila aumentada,
além das lesões flecks. Histologica­ pigmentário e da coriocapilar é pro­ porém com características normais.
mente as lesões são depósitos de gressiva e permite que os grandes va­ Papila hipoplásica: É pequena e
lipofucsina. Cegueira noturna com sos da coróide sej am vistos. malformada.
campo visual podendo apresentar um Persistên cia do vítreo primário Papila inclinada: A papila inclina­
escotoma central, e constrição perifé­ h iperplásico: É uma mal formação da ou "tilt de papila" é hipoplásica,
rica discreta. congênita porém não hereditária, onde torta e assimétrica, isto é, com uma
2) Drusas familiares, AD com pene­ os vasos hialoideos persistem e for­ metade mais afetada que a outra. Cau­
trância incompleta, aparecem entre mam um tecido fibroso que ocupa a sa astigmatismo.
20 e 3 0 anos. cavidade vítrea. Amaurose congênita de Leber: A
3 ) Fundus albipuntatus, AR e Coloboma de coróide: Ausência de cegueira profunda está presente ao nas­
4) Retinite puntata alba, AR. E stas fechamento da fissura óptica à nível da c imento , entretanto as e s truturas
duas últimas doenças caracterizam­ coróide. Como o fechamento se inicia ópticas são normais .
se pela presença de múltiplos pon­ ao nível do equador e progride anterior­
tos brancos dispersos pelo fundo de mente e posteriormente podemos en­
olho . Entretanto enquanto o fundus contrar uma · ilha de coróide e retina
DOENÇAS GENÉTICAS SISTÊMICAS
COM ALTERAÇÕFS OCULARES
albipuntatus é uma causa de ceguei­ normais e colobomas anteriores atin­ ASSOCIADAS
ra noturna não progre s s iva, a gindo íris, cristalino, corpo ciliar e
retinite puntata alba apresenta ce­ coróide e retina periféricos e ainda ou­ As doenças genéticas sistêmicas
gueira noturna, com perda progres­ tra área colobomatosa posterior, próxi­ mais freqüentes e as anomalias ocula­
siva de campo visual e atenuação ma à p ap i l a . Ocorre hiperplasia res associadas encontram-se descritas a
dos vasos retinianos. reacional do epitélio pigmentário da seguir.

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Malformações oculares mais freqüentes

ERROS INATOS DO METABOLISMO Sín drom e de Eh lers-Danlos ou contralateral e a íris mais escura.
Mucopolissacaridoses: AR. A de­ Fibrodisplasia elástica: AD com Doença de von Hippel-Lindau ou
posição de mucopolissacárides ocorre expressividade variável. Ceratoglobo é A ngiomatose retiniana: AD com
na córnea causando opacificação da o afinamento e protrusão da córnea. A expressividade variável. Cada angioma
mesma (leucoma), principalmente nos esclera também é afinada, apresentan­ é nutrido por uma artéria e drenado por
tipos MPS-1 e MPS-IV. O epitélio do uma coloração azul. Mais raramen­ uma veia, que ficam muito dilatadas.
pigmentário da retina pode sofrer de­ te apresentam glaucoma. Síndrome de Wyburn-Mason ou
generação. Atrofia óptica e glaucoma A rtrogripose m últipla congênita: A ngio m a racemoso de retin a:
são achados menos freqüentes . Padrão de herança desconhecido. Es­ Tortuosi dade dilatação dos vasos
Mucolipidoses: AR. Leucoma por trabismo e ptose palpebral. retinianos, com shunts arteriovenosos.
deposição de metabólitos na córnea. Weill-Marchesani: AR. Microesfe­ Síndrome de Louis-Bar ou Ataxia­
Lipidoses: AR. Na doença de rofacia, isto é, o cristalino apresenta telangiectasia : Telangiectasia de
Niemann-Pick a córnea pode apresen­ alteração da forma e diminuição do ta­ conjuntiva, estrabismo e nistagmo.
tar opacificação ; nistagmo, atrofia manho e pode estar sub-luxado.
óptica e cegueira podem estar presen­ Síndrome de Stickler ou Artroftal­ SÍNDROMES CROMOSSÔMICAS
tes . A cápsula anterior do cristalino mopatia: AD com expressividade variá­ Trissomia do 13 ou Síndrome de
apresenta coloração marrom. Na doen­ vel. Alta miopia aparece antes dos 1 O Patau: Apre sentam hipertelorismo,
ça de Fabry (ligada ao X)ocorre depo­ anos de idade. Descolamento de retina pregas epicânticas e rarefação do
sição de metabólitos na córnea, com e catarata usualmente estão presentes. supercílio, microftalmia, colobomas
disposição peculiar e catarata. A doen­ de íris e corpo ciliar, retina displásica
ça de Gaucher pode causar estrabismo DEFEITOS RENAIS acompanhada de vítreo primário hiper­
paralítico e pinguécula. Síndrome de Alp ort : AD com plástico e catarata congênita.
Gangliosidoses: AR. Provocam dis­ penetrância variável. Lenticone, é ca­ Trissomia do 18 ou Síndrome de
túrbios da motilidade ocular como es­ racterístico desta síndrome . Esfero­ Edwards: Os achados oculares são pre­
trabismo, nistagmo e oftalmoplegia. facia, nistagmo e retinose pigmentária gas epicânticas, blefarofimose, fendas
Galactosemia: AR. Catarata. também são encontrados. palpebrais estreitas e anti-mongolói­
Homocistin ú ria : AR. C atarata. des, hiper ou hipotelorismo, catarata,
Luxação do cristalino pode ser encon­ FA COMA TOSES leucoma c orneano, microftalmo ,
trada em 90% dos pacientes . O deslo­ Doença de von Recklinghausen ou glaucoma congênito, coloboma uveal e
camento geralmente é inferior e bilate­ Neu rofibromatose: AD com alta miopia.
ral. Pode ocorrer glaucoma secundário penetrância e variabilidade de expres­ Trisso m ia do 21, Sín drome de
ao deslocamento do cristalino para a são. Nódulos de Lisch são encontrados Down: Hipertelorismo, prega epicân­
câmara anterior. na íris em 90% dos pacientes com mais tica, blefarite, ectrópio palpebral estra­
Cistinose e Síndrome de Fanconi: de 6 anos de idade. Gliomas do nervo bismo, ceratocone e obstrução de vias
AR. Cristais se depositam na córnea e óptico aparecem em 50% e em menor lacrimais. As manchas de Brushfield
conjuntiva, diminuem a acuidade vi­ freqüência, meningiomas. Raramente na íris ocorrem em 8 5 % dos casos.
sual e causam muita fotofobia. apresentam hamartomas de retina, po­ Catarata congênita ou juvenil em 65%.
Doença de Wilson: AR. O cobre na rém os de coróide são freqüentes. O Síndrome de Turner: Ptose palpe­
córnea forma o anel patognomônico de aparecimento de neurofibromas na ór­ bral, estrabismo, hipertelorismo, epi­
Kayser-Fleischer. bita pode causar proptose. Se ocorrem canto, escleras azuis são achados fre­
na margem palpebral o paciente desen­ qüentes. A catarata quando presente
DEFEITOS MÚSCULO­ volve ptose palpebral e glaucoma devi­ está associada a diabetes. Coloboma de
ESQUELÉTICOS E DOENÇAS DO do à compressão do globo ocular pela coróide, membrana pupilar persistente,
TECIDO CONJUNTIVO massa neurofibromatosa. microcórnea e microftalmo são rara­
Síndrome de Marfan : AD com Esclerose tuberosa: AD. Facomas mente encontrados.
expressividade variável. A acuidade visual de retina tipo hamartomas astrocíticos.
é geralmente diminuida pela luxação ou Sín drome de Sturge- Weber ou RETINOBLASTOMA
subluxação do cristalino. Esta alteração A ngiom atose encefalo-trigem inal: É o tumor ocular mais freqüente na
está presente em 50 a 80% dos casos e Hereditariedade desconhecida. Glau­ infância. Em c a s o s fami liares ou
geralmente é bilateral. a subluxação é coma ip s i l ateral, hemangioma de multifocais o paciente herda o primei­
geralmente supero-temporal. Miopia e coróide em 40% dos casos, o fundo de ro gene anti-câncer, localizado no
astigmatismo são freqüentes. olho é mais vermelho que do olho cromossomo 1 3 , com uma mutação em

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Malformações oculares mais freqüentes

todas as células de seu organismo. Po­ supercílios ; heterocromia de íri s ; e INFECÇÔES CONG.iNITAS
rém a doença só se expressará se ocor­ fundo de olho hipopigmentado. As infecções congênitas, apesar de
rer a segunda mutação no gene anti­ Síndrom e de Goldenn h ar: Etio­ preveníveis em grande parte por medi­
câncer na célula retiniana. Em casos logia genética desconhecida. A altera­ das de saúde pública, continuam sendo
esporádicos acredita-se que as duas ção ocular varia de anoftalmia a assi­ as maiores responsáveis pelas malfor­
mutações ocorram apenas nas células metria da fenda palpebral. A presença mações oculares no Brasil. As infec­
da retina. Portanto não são herdadas. O de dermóide epibulbar no limbo ções congênitas, dentre elas toxoplas­
"brilho do olho do gato", leucocoria, é comeano é achado característico. Ge­ mose, rubéola, citomegalovírus, her­
o sinal clínico característico. O diag­ ralmente é unilateral, porém em 25% é pes e lues, causam severa disrupção da
nóstico precoce é a chave para o me­ bilateral. Provoca astigmatismo. formação das vias ópticas por encefa­
lhor resultado do tratamento. lite, meningite, aracnoidite, neurite
ALBINISMO ÓCULO-CUTÂNEO óptica e coriorretinite, causando dimi­
TUMOR DE WILMS Diminuição da pigmentação da íris, nuição da visão. Quando a lesão na via
Deleção de parte do braço curto do retina, ni stagm o , fot o fobia, erro s óptica ocorre entre o quiasma óptico e
cromossomo 1 1 causa, por vizinhança refracionais e diminuição da acuidade o córtex cerebral, apesar do olho ser
de loci gênicos o tumor de Wilms e visual são achados freqüentes em vá­ normal, a criança não enxerga.
aniridia. rios tipos de albinismo. Os padrões de A rubéola é a principal causa de
herança AD, AR e ligado ao X podem catarata congênita em nosso meio.
DISOSTOSES CRÂNIO-FA CIAIS - estar relacionados . Também pode causar microftalmo ,
NEUROCRISTOPA TIAS leucoma comeano, glaucoma congêni­
to e a retina pode apresentar um aspec­
Conj unto de malformaçõ e s ou MALFORMAÇÕES OCULARES DE to característico de sal e pimenta. Este
síndromes crânio-faciais envolvendo ETIOWGIA AMBIENTAL
aspecto fundo scópico moteado do
estruturas que derivam da crista epitélio pigmentário da retina que se
neural . TERA TÓGENOS parece com sal e pimenta não diminui
Cranio-sinostose: Resulta do fecha­ a acuidade visual. Acredita-se que a
mento prematuro das suturas crania­ A formação do olho ocorre princi­
palmente da 4 ° a 8 ° semana de gesta­ progressão desta alteração do epitélio
nas. Dentre este grupo de doenças te­ pigmentário da retina nos primeiros
mos a Síndrome de Apert (AD) e a ção. Caso algum teratógeno atue nesta
época, poderá provocar graves anoma­ anos de vida retina sej a indicativo de
síndrome de Crouzon (AD com varia­ persi stência do vírus no epitélio
bilidade de expressão). Estes pacientes lias oculares congênitas isoladas, ou
pigmentário.
apresentam: hipertelorismo, aumento associadas a malformações sistêmicas
A toxoplasmose congênita pode
da distância entre os cantos internos ou ainda seqüências malformativas.
apresentar alterações oculares isoladas
dos olhos; proptose, protrusão do glo­ Radiação ionizante, poluentes, drogas,
ou associadas a alterações sistêmicas,
bo ocular para fora da órbita por dimi­ organismos patogênicos e anormalida­
principalmente do SNC ( microcefalia,
nuição do volume das órbitas; papile­ des metabólicas (ex . : diabetes) são al­
calcificações intra-cranianas e convul­
dema; atrofia óptica; e alteração da guns dos teratógenos mais freqüentes.
sões). A coriorretinite é a lesão mais
motilidade extrínseca ocular com es­ Como a completa maturação visual
freqüente e pode estar presente ao nas­
trabismo secundário. ocorre por volta dos dois anos de ida­ cimento ou se manifestar tardiamente.
Seqüência de Pierre-Robin: Desco­ de, fatores que atuem até esta época As máculas dos dois olhos podem estar
lamento de retina, microftalmia, glau­ ainda podem provocar alterações no acometidas e nestes casos a visão esta­
coma congênito, catarata e miopia. desenvolvimento normal da visão. rá muito comprometida.
Disostose mandíbulo-facial (Trea­ Síndrome fetal pelo álcool: Fenda A coriorretinite também pode ser
ch er-Collins ou Francesch etti­ palpebral pequena, bordas palpebrais causada pela lues congênita. Nestes
Zwahlen-Klein) : AD. Deslocamento vermelhas, pregas epicânticas, telecan­ casos o fundo de olho apresenta altera­
do canto externo das pálpebras inferio­ to, ptose palpebral, microftalmia, disge­ ç õ e s difusas com áreas hiper e
res, tomando a fenda palpebral oblíqua nesias mesodérmicas do segmento an­ hipopigmentadas, também chamadas
com orientação anti-mongolóide e terior e erros refracionais, principal­ de fundo em sal e pimenta, porém com
coloboma de pálpebra inferior. mente a alta miopia. padrão mais grosseiro, formando pla­
Síndrome de Waademburg: AD . Síndrome fetal pela hidantoína: cas. Iridociclite e ceratite intersticial
D e s l o c amento do ponto l acrima l ; Estrabismo, ptose palpebral, hiperte­ também são manife stações da lues
sinofris superciliar, isto é, fusão dos lorismo e pregas epicânticas. congênita.

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Malformações oculares mais freqüentes

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