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E é possível criar direitos especiais para um ou alguns sócios por alteração do contrato

social (introduzindo nova cláusula - cfr. o art. 85.°, 1)? Dir-se-á: é possível se a
alteração contratual for votada por unanimidade - assim exige o princípio da igualdade
de tratamento dos sócios.

Por outro lado ainda, as deliberações que criem direitos especiais por alteração do
contrato mas violando o princípio do igual tratamento são anuláveis (art. 58.°, 1, b));
por conseguinte, se os sujeitos legitimados para a acção de anulação (nomeadamente os
sócios que não tenham votado a favor da alteração) não impugnarem as deliberações no
curto prazo previsto na lei (art. 59.°), fica o vício sanado.

Contudo, acrescenta o n.° 3 do art. 227.° que, durante a suspensão, os sucessores podem
“exercer todos os direitos necessários à tutela da sua posição jurídica, nomeadamente
votar em deliberações sobre alteração do contrato ou dissolução da sociedade”. E mais
difícil compreender este preceito. Há mesmo uma proposta de interpretação ab-rogante
ou revogatória da parte final (“nomeadamente votar em deliberações sobre alteração do
contrato ou dissolução da sociedade”) (321). Não creio, porém, que seja esta a melhor
solução interpretativa. Os sucessores devem poder defender “durante a suspensão” a sua
“posição jurídica”, isto é, a conservação ou identidade da quota que era do sócio
falecido e o seu valor, absoluto e relativo (relativamente às quotas dos sócios
supérstites.

Há contradição flagrante entre o disposto no n ° 3, in fine, e o preceituado no número


anterior. O n.°3 do art. 227°, querendo precisar- -lhe o alcance, contradiz a norma do n.°
2. Como admitir um indivíduo, cuja qualidade ou direito de sócio está por definir, a
votar em deliberações sobre alteração do contrato? Como admitir o herdeiro a decidir,
com o seu voto, da dissolução da sociedade, sendo certo que o espírito da cláusula é
justamente assegurar a continuação do ente social só com os associados supérstites, se
nisso estiverem interessados? / Toda a contradição normativa tem de ser eliminada. (...)
Eliminemos, pois, como se não tivera sido escrita, a parte final do cit. n.° 3 (...)”.
No entanto, “a eficácia da deliberação de alteração do contrato de sociedade que proíba ou
dificulte a cessão de quotas depende do consentimento de todos os sócios por ela afectados”
(art. 229.°, 4).

É a amortização de quota alteração do contrato social ou, mais precisamente, alteração


do contrato sujeita ao regime dos arts. 85.° e 265.°, 1 e 2? Em particular, a deliberação
de amortização tem de ser tomada pelo menos por maioria de três quartos da totalidade
dos votos (art. 265.°, 1), ou basta a maioria dos votos emitidos (art. 250.°, 3)?
Para alguns autores, a amortização de quota é alteração estatutária. O estatuto de uma
sociedade por quotas deve mencionar o montante de cada quota e a identificação do
respectivo titular, bem como o capital social (arts. 9.°, 1, f), g), 199.°, a)). Ora, a
amortização extingue quota, que fica, naturalmente, sem titular; e se a quota amortizada
não passa a figurar no balanço, o valor das restantes quotas será modificado, ou será
modificado o capital. Em qualquer caso, portanto, haverá alteração de cláusula(s) do
contrato de sociedade.

Aliás, o art. 246.°, 1, b), sujeita a deliberação dos sócios a amortização de quotas e a
aquisição de quotas próprias; a amortização e esta aquisição aparecem em vários
preceitos como alternativas para a sociedade (arts. 225.°, 2, 226.°, 2, 240.°, 3, 242.°, 3);
a deliberação de aquisição de quotas próprias basta-se com a maioria simples dos votos
emitidos - por que haveria de ser diferentemente para a deliberação de amortização? Por
outro lado, o mesmo art. 246.“ Menciona, não na al. b) do n.° 1, mas sim na al. h) a
“alteração do contrato de sociedade”.

A amortização não tem de estar prevista no estatuto social, mas deve ser deliberada pela
maioria exigida para alteração do contrato de sociedade (v. o art. 386.°, 3, 4), e o
reembolso só poderá fazer-se com ressalva do capital social e das reservas legal e
estatutária - art. 346.°, 1.

Já no caso de a amortização ser simplesmente permitida compete exclusivamente aos


sócios deliberá-la (art. 347.°, 5), dentro do prazo fixado no estatuto (não superior a um
ano) ou no prazo de seis meses, a contar da ocorrência do facto que fundamenta a
amortização (art. 347.°, 6). Esta deliberação deve ser tomada com a maioria (em geral
qualificada) exigida por lei para a alteração do contrato social (v. o art. 386.°, 3, 4 )?
(444) Não me parece. É certo que a amortização “implica sempre redução do capital da
sociedade” (extinguindo-se as acções amortizadas na data da escritura de redução do
capital) - art. 347.°, 2; e a redução do capital é alteração do contrato de sociedade.

Independentemente do tipo societário, podem alguns vícios do acto constituinte ser


sanados. Segundo os arts. 42.°, 2, e 43.°, 3, são sanáveis por deliberação dos sócios,
tomada nos termos estabelecidos para as deliberações sobre alteração do contrato social
(v. arts. 194.°, 1, 265.°, 1, 386.°, 3, 4, 476.°)

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