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PERSPETIVAS NEO-ANALÍTICAS
Estas perspetivas derivam da psicanálise, mas afastam-se da mesma uma vez que
rejeitam os dogmas da psicanálise, como a universalidade do complexo de Édipo, e a
preponderância da sexualidade.
O aspeto central que caracteriza todas estas teorias é o estatuto importante atribuído ao
Ego, ao seu desenvolvimento e à influência da cultura.
JUNG
“A minha vida é uma história de autorrealização do inconsciente. Tudo, no
inconsciente, procura uma manifestação interior e a personalidade também deseja
evoluir a partir da sua condição inconsciente”
Segundo Jung, a personalidade resulta da interação do ego, do inconsciente pessoal e
coletivo, dos complexos e dos aequétipos.
ESTRUTURA
A personalidade compreende 3 sistemas:
O Ego representa tudo aquilo de que o individuo está consciente e tudo o que pensa,
estando no centro da consciência. Não está ao serviço de desejos do inconsciente,
apenas comunicando com o inconsciente coletivo. O desenvolvimento do Ego permite
harmonizar os elementos inconscientes com os elementos conscientes. Se o seu
desenvolvimento for fraco, destrói-se o equilíbrio entre os elementos inconscientes e
conscientes, abrindo-se a via às perturbações psicológicas.
O inconsciente pessoal corresponde aos elementos que, um dia, estiveram na
consciência, estando presentemente inacessíveis porque ou estão esquecidos ou
reprimidos. Trata-se de um conjunto de traços mnésicos e de sentimentos próprios ao
individuo. Assemelha-se ao inconsciente de Freud, mas não inclui os instintos.
O inconsciente coletivo é composto por elementos designados arquétipos, que
representam experiências universais que nos predispõem a reagir de determinada forma
em diferentes contextos. Trata-se das experiências ancestrais comuns a todos os
indivíduos. São disposições para o indivíduo se comportar de um modo preciso, fruto da
experiência passada, poe exemplo, sensações de déjà vu. Nunca foi consciente e nunca
foi adquirido individualmente, decorre de uma transmissão genética.
DINÂMICA
Ampliou a noção de líbido: energia psíquica generalizada que inclui, mas não se limita à
sexualidade (energia de vida); alimenta a personalidade (psique) através de atitudes ou
funções psicológicas;
Tipos de personalidade:
Jung dividiu os indivíduos de acordo com duas atitudes – “uma predisposição do
psiquismo para agir ou reagir de uma certa maneira face aos acontecimentos externos”.
Introversão: pessoas que orientam a sua líbido para si mesmas, o que implica que não
tenham centros de interesse dirigidos para os outros; têm dificuldades nas relações
sociais.
Extroversão: implica a existência de centros de interesse que não se encontram virados
para o próprio, mas sim para os outros; líbido dirigida para o exterior.
Paralelamente às atitudes do Ego, definiu 4 funções psicológicas: o pensamento, as
impressões, as sensações e as intuições. As duas primeiras consideram-se racionais,
pois implicam uma apreciação, sendo as duas últimas irracionais, visto que não se
baseiam no raciocínio.
O pensamento determina o que está presente, dando-lhe um sentido, uma interpretação.
Permite juntar diferentes experiências em conjunto para formar conceitos e para agir de
forma racional. É o pensamento que ordena as experiências e que determina de que
forma nós consideramos o meio, bem como as experiências que nele são realizadas.
As impressões avaliam de que modo as experiências nos tocam. Estas diferem do
pensamento no sentido em que constituem apreciações totalmente subjetivas.
As sensações determinam que algo está presente, não diferindo das perceções
sensoriais. Esta função está principalmente desenvolvida na criança e implica que nos
limitemos aos factos.
As intuições levam-nos a crer que determinadas coisas vão desenrolar-se como
previsto, ou ainda que compreendemos algo sem poder explica-lo. As intuições são
influenciadas por mecanismos inconscientes.
Estas 4 funções determinam quatro tipos de personalidade: o tipo pensamento é racional
e concentra-se em elementos sólidos, comprovados; apenas opera se tiver dados
objetivos sobre as coisas. O tipo impressão prende-se às relações entre as pessoas,
procura reunir pessoas e os resultados das ações são menos interessantes. O tipo
intuitivo considera as coisas de maneira global e detesta as ações rápidas. O tipo
sensação é pragmático, procurando rapidamente uma solução para os problemas.
Segundo Jung, o tipo pensamento opõe-se ao tipo impressão, enquanto o tipo intuição se
opõe ao tipo sensação.
DESENVOLVIMENTO
De acordo com Jung, o modo como a personalidade se desenvolve corresponde ao
mecanismo de individualização. Trata-se de um processo através do qual uma pessoa se
torna um individuo psicológico, ou seja, numa unidade indivisível, inteira e única.
É a realização do Ego que é responsável pelo processo descrito, através de um equilíbrio
entre os polos opostos que formam o indivíduo, como o inconsciente e o consciente, ou
ainda anima e animus. O processo por intermédio do qual o individuo consegue
equilibrar os extremos designa-se função transcendental.
4 fases do desenvolvimento: a infância, a puberdade, a meia idade e a idade adulta:
Infância – não se encontram problemas de maior e depende-se da atmosfera criada pela
família; funciona-se de forma instintiva e o Ego desenvolve-se de forma progressiva;
só existe o inconsciente coletivo.
Puberdade – altura em que se verificam importantes modificações fisiológicas, ao
mesmo tempo que tem lugar uma revolução psíquica; damo-nos conta de que temos de
abandonar as ilusões e fantasias de infância;
Meia idade – o individuo orienta-se para forças internas e espirituais, abandonando
pontos de vista mais materialistas; a contemplação torna-se mais importante do que a
ação; trata-se de uma fase espiritual, na qual se pensa o sentido da vida;
Idade adulta – assemelha-se à infância; Jung pensava existir uma forma de vida além
da morte. Para este autor, a vida psíquica não termina quando o corpo morre porque
ela deve continuar uma procura incessante de autorrealização.
AVALIAÇÃO
Associação de palavras: teste de associação de palavras, uma pessoa responde a uma
palavra estímulo com outra que lhe vier imediatamente à mente
Análise de sintomas: relatados pelo paciente em livre associação de ideias
Análise de sonhos (arquétipos)
CRÍTICAS
Conceitos eram vagos e não podiam ser cientificamente testados
Não existe uma definição operacional dos diferentes arquétipos
O conceito de inconsciente coletivo, por vezes, é exposto de forma ambígua
ADLER
“A meta da alma humana é a conquista, perfeição, segurança, superioridade. Toda a
criança se depara com tantos obstáculos na vida que nenhuma delas cresce sem lutar
por alguma forma de sentido”.
Segundo Adler, a personalidade equivale ao estilo de vida do indivíduo, ou seja, ao
modo como habitualmente lida com problemas e objetivos de vida.
ESTRUTURA E DINÂMICA
Adler não considera que o indivíduo seja constituído por Id, Ego e complexos. Rejeita a
importância da sexualidade na personalidade. Contrariamente a Freud, considera o
indivíduo como uma pessoa inteira, cuja vida passa da imaturidade para a
maturidade. Pensa ainda que os indivíduos decidem, eles próprios, que direção é que a
vida vai tomar e, independentemente da direção tomada, procuram alcançar a perfeição
dentro do que estabeleceram. Portanto, existe uma força que direciona o individuo para
um determinado objetivo, que o próprio estabeleceu para si mesmo e que, de alguma
forma, o individuo é influenciado por instintos ou pulsões, como sugeria Freud.
Postulava a existência de sentimentos de inferioridade, que apareciam precocemente na
vida do indivíduo e que careciam de compensações para o resto da sua vida. Este
conceito é central, exprimindo-se pelo termo complexo de inferioridade: o homem é,
por definição, inferior.
Neste sentido, Adler considerava que os indivíduos têm vontade de ser superiores e
atuantes com vista a compensarem frustrações infantis. Trata-se do complexo de
superioridade, que consiste numa forma exagerada de superioridade para compensar
fragilidades pessoais.
Resumo do pensamento de Adler: 1) todos os comportamentos têm um significado
social, e um objetivo, 2) a pessoa é um todo, 3) os comportamentos são emitidos para
ultrapassar sentimentos de inferioridade e alcançar sentimentos de superioridade e 4) os
comportamentos resultam das nossas perceções subjetivas.
DESENVOLVIMENTO
Adler considera que as diferenças individuais se devem ao que vamos fazer com o nosso
equipamento genético e não ao que está presente à nascença (hereditariedade).
As diferenças entre os indivíduos são, acima de tudo, psicossociais. Um dos fatores de
maior importância é o sentimento social – o facto de se sentir tocado pelos outros e a
necessidade de com eles cooperar.
O homem dever cumprir 3 tarefas na vida: inserir-se na sociedade, dedicar tempo a um
trabalho e desenvolver relações amorosas. É através destas tarefas que a criança
desenvolve os seus interesses sociais.
De acordo com Adler, as atitudes tomadas por um individuo face à sociedade, trabalho e
o amor estão resumidas no seu estilo de vida (estrutura que orienta o comportamento).
Os elementos que ocorrem particularmente entre os 3 e os 5 anos terão uma grande
influência nos processos que irão determinar o estilo de vida.
A primeira influência familiar sobre o desenvolvimento da personalidade é a mãe. O seu
contacto com a criança vai determinar a maior parte dos interesses sociais do individuo.
Em segundo lugar, tem lugar o contacto com o pai e, por fim, em terceiro, vem a ordem
de nascimento. Adler considerava que este fator contribuía para as diferenças de
personalidade.
O autor definiu 4 tipos de personalidade:
Dominador: indivíduos assertivos, agressivos, ativos e que manifestam poucos
interesses sociais;
Dependente: sujeitos que se satisfazem a si próprios e que tendem a receber sem
necessariamente dar;
Esquivo: pessoas pouco ativas e com pouco contacto social;
Socialmente útil: indivíduos sociáveis e ativos.
AVALIAÇÃO
Primeiras lembranças: técnica de avaliação da personalidade na qual se presume que
as nossas primeiras lembranças revelam o interesse básico da nossa vida (estilo de
vida)
Análise de sonhos: não revelam desejos ou conflitos ocultos; envolvem sentimentos
sobre um problema atual (orientação para o presente, para além do passado);
manifestação do estilo de vida da pessoa
Medidas de interesse social/estilos de vida desenvolvidos posteriormente
CRÍTICAS
Nunca foi demonstrada que a ordem dos nascimentos exerce influência sobre a
personalidade
A teoria é baseada na própria vida do autor
Não se pode universalizar os conceitos da teoria
HORNEY
“O mal básico é invariavelmente a falta de calor e afeto genuínos”.
Horney não considerava que a personalidade fosse exclusivamente determinada por
pulsões inconscientes, nem que a líbido constituísse a fonte energética das pulsões.
À semelhança de Freud, Horney baseou a sua teoria no papel que as experiências
ansiosas da criança desempenham no ajustamento da personalidade adulta. A autora
empregou também o termo neurose para designar as perturbações da personalidade.
A noção de ansiedade é central na sua teoria, mas à imagem da maioria dos neo-
analistas, ela concedeu um papel crucial aos mecanismos sociais no desenvolvimento da
personalidade.
ESTRUTURA E DINÂMICA
O desenvolvimento normal da personalidade só acontece se os fatores presentes no
ambiente social da criança lhe permitirem adquirir confiança em si mesma e nos outros.
Isso acontece quando os pais proporcionam afeto, ternura e respeito aos filhos e quando
manifestam interesse pelos mesmos. Quando estas condições não estão preenchidas, em
vez de desenvolver confiança em si e nos outros, a criança vai desenvolver uma
ansiedade de base definida como “a perceção constante de estar só e desesperada num
mundo hostil”. Essa ansiedade pode ser proporcionada, por exemplo, pela indiferença, a
superproteção, falta de respeito e falta de contacto com outras crianças.
Se se verificar a ansiedade de base, a criança desenvolverá um conjunto de técnicas para
fazer face a estas situações (mecanismos de autodefesa).
Essas técnicas designam-se necessidades neuróticas – defesas irracionais contra a
ansiedade que se tornam parte permanente da personalidade e afetam o comportamento:
1. Afeto e aprovação
2. Ter um parceiro dominador
3. Poder
4. Explorar os outros
5. Reconhecimento social e prestígio
6. Admiração
7. Autossuficiência e independência
8. Perfeição e insaciabilidade
Estas defesas irracionais criam 3 tipos de personalidade: tipo submisso, cujas principais
características são a dependência, o desespero, a não assertividade e a necessidade de
ser protegido. Trata-se dos indivíduos que procuram o contacto dos outros,
reconhecendo a sua própria angústia (carecem do afeto dos outros). O segundo é o tipo
agressivo ou hostil; estes indivíduos procuram entrar em conflito com as outras
pessoas, são ambiciosos, aspirando com ardor ao poder e ao prestígio. O terceiro
corresponde ao tipo desligado ou desprendido; estes sujeitos não procuram o contacto
com os outros, preferindo a solidão, concentram-se em si próprios, consideram ser
únicos e incompreendidos e constroem um mundo próprio, através de jogos, de sonhos
e, por exemplo, de leituras.
A ideia de que as pessoas utilizam necessidades neuróticas para reduzir uma ansiedade
base, causada por perturbações afetivas ocorridas durante o desenvolvimento e que as
pessoas a elas recorrem de forma exagerada e persistente não se encontra distante da
noção atual de perturbação de personalidade – “modificação durável da experiência
vivida e das condutas, relativamente ao que é esperado na cultura do individuo; tais
modificações são rígidas, invadindo situações sociais e pessoas muito diversas;
desencadeiam um sofrimento clinicamente significativo”.
DESENVOLVIMENTO
Não existem fases de desenvolvimento universais (nem conflitos inevitáveis); a autora
dá ênfase aos primeiros anos de vida, aos fatores sociais e culturais e às experiências
ansiosas da criança.
AVALIAÇÃO
Associação livre: não pretendia investigar o inconsciente; concentrou-se nas
relações emocionais dos pacientes a si própria como terapeuta (presente) e nas
primeiras experiências de infância (passado)
Análise dos sonhos: revelar o verdadeiro self da pessoa; não forneceu lista de
símbolos universais dos sonhos; concentrou-se no conteúdo emocional do sonho
Inventário de avaliação das 3 tendências neuróticas: submisso, agressivo e
desprendido
CRÍTICAS
Não existir um estudo controlado para testar a validade dos conceitos teóricos
Conceitos vagos e descrições breves
A teoria incidia, essencialmente, sobre a personalidade patológica e as neuroses,
sendo limitada no que diz respeito à personalidade normal
MURRAY
“Para mim, a personalidade é uma selva sem fronteiras”
Segundo Murray, a personalidade trata-se da continuidade de formas e forças pulsionais,
manifestadas através de sequências de processos organizados dominantes e de
comportamentos manifestados do nascimento ao final da vida.
ESTRUTURA E DINÂMICA
O primeiro princípio da personologia de Murray, o seu termo para o estudo da
personalidade, é que ela está enraizada no cérebro. A fisiologia cerebral da pessoa
controla todos os aspetos da personalidade. Um exemplo simples disso, é que certas
drogas pode alterar o funcionamento do cérebro e, consequentemente, a personalidade.
Tudo aquilo de que a personalidade depende está no cérebro, inclusive sentimentos,
lembranças conscientes e inconscientes, crenças, atitudes, temores e valores.
O segundo princípio do seu sistema envolve a ideia de redução da tensão. Ele
concordava com Freud e com outros teóricos que as pessoas agem para reduzir as
tensões fisiológica e psicológica, mas isso não quer dizer que buscamos um estado
totalmente livre de tensão. Segundo Murray, é o processo de agir para reduzir tensão
que é satisfatório, e não o alcance de uma condição livre de toda a tensão. Para ele, uma
existência sem tensões já é, por si só, uma fonte de angústia. Precisamos de excitação,
atividade e movimento, que envolvem um aumento da tensão, e não uma redução. Nós
geramos a tensão para ter a satisfação de a reduzir – estado ideal da natureza humana,
segundo Murray.
O terceiro princípio da personologia de Murray é que a personalidade de um indivíduo
continua a desenvolver-se ao longo dos anos e é composta por todos os eventos que
ocorrem no decorrer da vida. Portanto, o estudo do passado de uma pessoa é de grande
importância.
O seu quarto princípio envolve a teoria de que a personalidade muda e evolui, não
sendo, pois, fixa ou estática.
Em quinto lugar, Murray enfatizou a singularidade de cada pessoa e ao mesmo tempo
reconheceu a familiaridade entre todos. Segundo ele, um ser humano nunca é igual ao
outro, é parecido com algumas pessoas e com todas.
FREUD MURRAY
ID Conjunto de todos os instintos; busca a Inclui os impulsos inatos que a sociedade
satisfação imediata considera aceitáveis e desejáveis
EGO Mediador, facilitador de interação Organizador central do comportamento que, de
entre o id e as circunstâncias do maneira, raciocina, decide e determina; mais
mundo exterior ativo na determinação do comportamento
SUPEREGO Interiorização das normas e valores Na formação do superego participam outros
culturais fatores, tais como grupos de pares, mitologia
Tal como Freud, Murray assume que a personalidade é formada pelo id, ego e superego.
CRÍTICAS
Falta de lógica interna, por exemplo, a nível de oposição de conceitos
O facto de a teoria ser influenciada pela experiência de vida do autor