Você está na página 1de 18

PERSONALIDADEl

A psicologia da personalidade é o campo da psicologia científica que estuda os


indivíduos, as diferenças entre eles. O seu objetivo é contruir uma teoria científica que
permite descrever, explicar e prognosticar o comportamento dos indivíduos.
A personalidade pode ser definida como as causas subjacentes do comportamento e da
experiência individual que existem dentro da pessoa. É uma entidade única que traduz a
forma como uma pessoa pensa, reflete, age e se comporta em diferentes situações.
Assim, a personalidade é:
1. Uma organização (e não uma justaposição de partes)
2. Um processo ativo e dinâmico, interno do indivíduo
3. Um conceito psicológico cujas bases são fisiológicas
4. Uma força interna que determina o comportamento
5. Formada por padrões de respostas recorrentes e consistentes
6. Não se reflete apenas numa direção, mas sim em várias, à semelhança dos
comportamentos, dos pensamentos e dos sentimentos
Nem todos os psicólogos concordam sobre quais são essas causas subjacentes, e por isso
existe uma grande variedade de respostas às três perguntas fundamentais: a descrição
da personalidade considera os modos como deveríamos caracterizar um individuo. A
dinâmica da personalidade diz respeito ao modo como as pessoas se adaptam às suas
situações de vida e como são influenciadas pela sociedade e pelos seus próprios
processos cognitivos. O desenvolvimento da personalidade incide na influência de
fatores biológicos ou das experiências infantis e posteriores e no o modo como a
personalidade muda ao longo da vida.
Aspetos comuns a todas as definições: unicidade do indivíduo (aquilo que o distingue
dos outros); existência de um conjunto de características estáveis e duradouras ao longo
do tempo e das situações; referência a um estilo característico (da interação entre o
sujeito – estado interno – e o ambiente físico e social).
Atualmente a maioria dos psicólogos da personalidade aceita uma perspetiva
interacionista – explicar a personalidade implica considerar traços de personalidade,
relativamente estáveis, as mudanças inerentes às situações e a interação entre traços e
situações.
DESCRIÇÃO DA PERSONALIDADE
Foram sugeridas imensas maneiras de descrever as diferenças individuais. Podemos
escolher entre classificar as pessoas dentro de um número limitado de grupos – uma
abordagem por tipos – e decidir que mais dimensões são necessárias e descrever as
pessoas dizendo quantas das dimensões básicas estas possuem – uma abordagem por
traços.
Os tipos de personalidade são categorias de pessoas com características similares. Um
pequeno número de tipos é suficiente para descrever todas as pessoas. Cada pessoa é ou
não é membro de uma categoria de tipos, por exemplo, introvertidos e extrovertidos.
Um traço de personalidade é uma característica que distingue uma pessoa de outra e
que a leva a se comportar de maneira mais ou menos coerente. Pode dizer-se que um
individuo possui um grau qualquer de um traço, de pouco a muito. Os traços são
amplamente usados nas descrições quotidianas da personalidade. Em comparação com
os tipos, os traços abrangem um leque menor de comportamentos. Os traços permitem
uma descrição mais precisa da personalidade do que os tipos porque cada traço se refere
a um conjunto mais focalizado de características. O facto de os traços poderem ser
atribuídos em vários graus também torna este conceito mais preciso do que o dos tipos.
É uma medida quantitativa.
Um tipo de personalidade (ou dimensão) corresponde ao composto de diferentes traços
(subdimensões). Por exemplo, a extroversão corresponde a um tipo de personalidade
que se encontra frequentemente, compreendendo os seguintes traços: sociabilidade,
dominância, assertividade, atividade e nervosidade.
Estado de personalidade: exibição transitória de um traço de personalidade.
Coerência da personalidade: espera-se que a personalidade conduza a
comportamentos coerentes em diferentes situações. Mischel (1986) não concordava com
o excesso de generalizações feitas pelos clínicos quando prediziam comportamentos
com base em testes de personalidade, argumentando que a pesquisa não conseguia
provar a suposição de coerência do comportamento em diferentes situações. Acabou por
constatar que as situações são mais fortes do que a personalidade como determinantes
de comportamento.
Existe muita controvérsia relativamente à importância dos traços e das situações na
determinação do comportamento. Não existem dados que permitam uma afirmação
clara sobre a relação entre situações e comportamento. Acredita-se que dependendo das
situações ou dos traços específicos, tanto um quanto o outro podem aparecer como
determinante.
A teoria moderna da personalidade considera os processos cognitivos o principal aspeto
da dinâmica da personalidade. O modo como pensamos é um determinante
significativo das nossas escolhas e da nossa adaptação, além de que a sociedade nos
influencia através das suas expectativas e oportunidades.
DINÂMICA DA PERSONALIDADE
O termo dinâmica da personalidade refere-se aos mecanismos pelos quais a
personalidade se expressa, focando muitas vezes nas motivações que orientam o
comportamento.
A motivação fornece energia e orientação ao comportamento. Este termo implica que
uma pessoa visa a um ou outro objetivo. O termo dinâmica é mais geral – refere-se a
processos que podem ou não envolver a orientação para um objetivo.
As situações requerem que se lide com elas. A dinâmica da personalidade inclui
adaptação ou ajustamento dos indivíduos às exigências e oportunidades da vida e,
portanto, tem implicações para a saúde mental. A teoria moderna da personalidade
considera os processos cognitivos o principal aspeto da dinâmica da personalidade. O
modo como pensamos é um determinante significativo das nossas escolhas e da nossa
adaptação. Além, disso, a sociedade influencia-nos por meio das oportunidades e
expectativas. As pessoas adaptam-se de maneiras diferentes, de forma a que medições
de traços da personalidade podem ser usadas para prever o modo como o farão.
A personalidade é influenciada pelas nossas maneiras de pensar sobre nós mesmos,
sobre as nossas capacidades e sobre outras pessoas. Quando a experiência ou uma
terapia muda os nossos pensamentos, muda também a nossa personalidade.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Ao longo dos anos, as teorias da personalidade enfatizavam o indivíduo ignorando o
papel da sociedade, o que acabava por produzir uma imagem incompleta da
personalidade e impedia-as de explicar adequadamente as diferenças sexuais, étnicas e
culturais.
Atualmente, as teorias procuram considerar mais cuidadosamente as influências
sociais.
DETERMINANTES DA PERSONALIDADE
As diferenças observadas entre os comportamentos dos indivíduos são determinadas por
fatores genéticos, por fatores ligados ao meio e, sobretudo, pela sua interação. Isto
significa que o impacto de uma influência hereditária na personalidade não será o
mesmo em função do ambiente em que a pessoa cresce.
Influências biológicas e fisiológicas
Considera-se que os comportamentos dos indivíduos são determinados por fatores
múltiplos, internos e externos, sobretudo, pela sua interação. No entanto, não existe um
consenso claro sobre o modo como essas causas estão combinadas.
Vários estudos demonstram essa relação, por exemplo, estudos endocrinológicos e
psicofisiológicos concluíram que determinadas características da personalidade sofrem
influência de certas manifestações fisiológicas., como as hormonas. No entanto, as
metodologias dos estudos nem sempre mostram associações diretas e simples, o que se
pode dever às diferentes técnicas usadas, ou ao facto dos sujeitos incluídos nos estudos
poderem diferir entre pacientes ou voluntários saudáveis.
A maioria dos teóricos acreditam que a experiência desempenha um papel muito mais
significativo do que a hereditariedade na formação do indivíduo. Alguns, enfatizam o
carácter hereditário da personalidade, afirmando que a teoria da personalidade poderia
ser integrada à biologia.
Influências genéticas
A genética comportamental estuda o impacto da hereditariedade no comportamento e na
personalidade. Não é fácil encontrar associações consistentes entre genes e dimensões
de personalidade, uma vez que diferentes genes interagem entre si de modo a
originarem comportamentos estáveis.
Método dos gémeos
É o estudo mais usado em genética comportamental. Calcula-se a correlação de uma
medida observada em dois membros de um par de gémeos monozigóticos (ou
verdadeiros, provêm da mesma célula, têm o mesmo genótipo; toda a diferença
constatada entre eles dever-se-á ao meio). Calcula-se também a mesma correlação em
dois gémeos dizigóticos (ou fraternos, não provêm da mesma célula, não partilham o
mesmo genótipo, são comparáveis como dois irmãos “comuns”).
Comparam-se as duas correlações:
 Se, para essa medida, os gémeos monozigóticos forem tendencialmente mais
parecidos que os gémeos dizigóticos, esse facto deve-se à semelhança genética dos
primeiros, o que prova a participação da hereditariedade.
 No entanto, essa conclusão só é válida se assumirmos que os pares de gémeos são
expostos às mesmas experiências de vida e que o meio que vivem é constante. O
comportamento dos pais face aos filhos pode diferir de gémeos monozigóticos para
dizigóticos.
Críticas:
 Fiabilidade dos diagnósticos: antes da descoberta do DNA, os critérios de
classificação de gémeos baseavam-se na semelhança física.
 Generalização dos resultados face à restante população.
Método da Adoção
A adoção é uma situação única, que cria indivíduos geneticamente ligados, sem que
partilhem o mesmo meio familiar (deixaram de se usar os termos meio familiar e meio
extrafamiliar, sendo substituídos por ambiente partilhado e ambiente não partilhado,
uma vez que as experiências familiares podem não ser partilhadas, e as extrafamiliares
podem sê-lo).
O estudo destes indivíduos permite avaliar a contribuição dos genes nas semelhanças
entre indivíduos de uma mesma família. Se irmãos biológicos, que vivem em dois meios
diferentes na sequência de uma adoção, apresentarem uma correlação forte no que toca
a um traço, há grandes possibilidades desse traço estar sob influência de genes.
Críticas:
 Representatividade e generalização dos dados à restante população.
 Nem sempre é possível encontrar os pais biológicos das crianças adotadas.
 Influência do ambiente pré-natal: considera-se que as mães proporcionam aos fetos
um ambiente pré-natal.
 Colocações seletivas, relativamente às famílias de adoção.
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO
OBJETIVOS
 Construir uma teoria científica que permita descrever, explicar e prever o
comportamento dos indivíduos;
 Explicar a personalidade;
 Prever o comportamento em função dos dados que conhecemos do indivíduo;
 Estudar as perturbações de personalidade e respetivas modificações.
MÉTODOS
Método clínico (estudos de caso): consiste na recolha do máximo de informação
possível sobre uma pessoa, durante uma grande parte da sua vida; é frequentemente
realizado num contexto clínico para determinar as causas de um problema
comportamental específico.
Fragilidades: baseia-se em recordações da própria pessoa sobre a sua vida, ou seja, nem
sempre podemos verificar a veracidade das informações recolhidas; a pessoa que realiza
o estudo não é neutra, sendo a escolha das suas interrogações e temas subjetivos por
vários fatores; é difícil e ousado generalizar os resultados obtidos com uma pessoa a um
conjunto mais vasto de indivíduos e situações.
Método correlacional: consiste no estudo da relação (associação) entre duas variáveis
para examinar se as suas variações aparecem em conjunto; é o mais utilizado em
psicologia da personalidade.
Limitações: ainda que permita precisar o grau de associação entre duas variáveis, o
método em questão não nos informa sobre a causalidade entre as variáveis
Método experimental: permite dar resposta à questão da causalidade e tem um maior
poder explicativo; neste método, o experimentador interessa-se pelos efeitos que a
manipulação de uma variável sobre outra produz.
ABORDAGENS
Abordagem nomotética: grupos de indivíduos são estudados e as pessoas são
comparadas pela aplicação dos mesmos traços;
Críticas: o método nomotético estuda muitas pessoas, o que torna difícil a obtenção de
uma compreensão bastante completa de cada uma das pessoas, destacando a medida dos
traços mais do que a compreensão integral das pessoas.
Abordagem idiográfica: estuda um individuo de cada vez, sem fazer comparações com
outras pessoas. Na prática, estas abordagens são impossíveis, já que qualquer descrição
de uma pessoa implica a comparação com outras pessoas. Chamamos, por isso, uma
pesquisa de idiográfica quando ela foca nas particularidades de um caso individual.
Criticam esta abordagem pela falta de controlo e repetição característica do método
científico.
Temos de conhecer o individuo e também saber como ele pode ser comparado com os
outros: “Cada homem é, em certos aspetos, como os outros homens, como alguns outros
homens, diferente de qualquer outro homem”.
Um facto adquirido é um dado de peso, suscetível de ser reproduzido e com um
importante poder explicativo. Um facto isolado pode dar origem a estudos de validação,
além de sugerir perspetivas de investigação e hipóteses de trabalho.
TEORIAS DA PERSONALIDADE
PERSPETIVA PSICANALÍTICA
A perspetiva psicanalítica considera que a personalidade é um conjunto dinâmico
constituído por componentes incessantemente em conflito, sendo dominada por forças
inconscientes; a sexualidade ocupa, nesta teoria, um papel fundamental. A personalidade
resulta da dinâmica do Id, Ego e Superego.
ESTRUTURA
Ponto de vista económico: princípios gerais da psicanálise (prazer, realidade e moral) a
partir dos quais as instâncias se regem.
Ponto de vista topográfico:
Primeira tópica, assenta em três elementos: o inconsciente, o pré-consciente e o
consciente. O inconsciente inclui as pulsões e as recordações recalcadas, o pré-
consciente corresponde a tudo o que poderia tornar-se consciente e o consciente
representa a informação diretamente acessível sem qualquer trabalho psicológico. Para
Freud, o inconsciente constitui a parte mais importante, pois domina a vida psíquica. A
ela se acede através dos sonhos, dos lapsos e dos sintomas clínicos. Constitui, na mesma
medida, a sede das pulsões sexuais e agressivas.
Segunda tópica compreende três instâncias: o Id, o Ego e o Superego. A personalidade
resulta da luta destes três componentes. O ego representa a parte racional do aparelho
psíquico, parte essa que procura satisfazer as pulsões e os desejos primitivos do Id,
respeitando os constrangimentos impostos pelo mundo exterior e pelas normas sociais
do Superego.
O Id é o primeiro elemento a desenvolver-se. Está fora de todo o controlo consciente e
encerra a base instintual da nossa personalidade, compreendendo, sobretudo, a nossa
energia sexual: a líbido, bem como as nossas necessidades primárias de sobrevivência: a
fome, a sede e a proteção. O Id funciona de acordo com o princípio do prazer, ou seja,
a satisfação das necessidades tão imediata quanto possível, em ordem a reduzir as
sensações de desconforto. Esta instância ignora os juízos de valor, o bem e o mal e a
moral. Para a compreender, podemos pensar nos comportamentos dos recém-nascidos –
as suas preocupações estão orientadas para si próprias, ignorando os outros, e dizem
respeito a necessidades físicas e de conforto.
O Ego é uma organização coerente de processos psicológicos que permite a adaptação
da personalidade ao mundo exterior; mantém contacto com a realidade através de
mecanismos conscientes e é independente do Id. O Ego corresponde ao princípio da
realidade, ou seja, pode reportar a satisfação de um desejo primário até que seja
encontrado um objeto adequado, sem causar prejuízos à pessoa. Não é inteiramente
consciente e disponibiliza mecanismos de defesa para fazer face às suas necessidades e
para retomar o controlo sobre o Id. Estes mecanismos protegem o individuo, impedindo
que determinados desejos alcancem a consciência.
A terceira instância é o Superego, que é o último componente da personalidade a
desenvolver-se e constitui uma representação interna das normas sociais e dos
comportamentos normais. Funcionar de acordo com princípios morais baseados em
valores da sociedade relativos ao que é considerado bem e mal (aceitável ou não). Trata-
se de um equivalente à nossa consciência que atrai a nossa atenção para algo que não
fizemos bem feito. A sua principal função é controlar os desejos do Id, dirigindo a
energia psíquica num sentido oposto à satisfação dos desejos sexuais e agressivos.
DINÂMICA
O Ego é a parte racional do aparelho psíquico, procura satisfazer as pulsões e os desejos
primitivos do Id, respeitando os constrangimentos impostos pelo mundo exterior e pelas
normas sociais do Superego.
Teoria dos instintos: todos os instintos juntos constituem a soma total da energia
psíquica disponível para a personalidade, as motivações da personalidade derivam dessa
energia.
Instinto: representação psicológica (desejo) inata de uma fonte somática interna de
excitação (necessidade); pertence ao Id
DESENVOLVIMENTO
De acordo com Freud, existem cinco fases no desenvolvimento da personalidade: a fase
oral, a fase anal, a fase fálica, o período de latência e a fase genital, sendo que quatro
delas se encontram em estreita relação com zonas erógenas, isto é, com zonas
sensitivas do corpo, a partir das quais pode ser obtida uma satisfação de um instinto
primário.
Freud considera que a personalidade de base se forma nos primeiros 5 anos de vida. A
importância que estas fases têm na compreensão da personalidade manifesta-se no
conceito de fixação – um indivíduo pode ter ficado fixado a uma destas fases, porque as
satisfações que se lhe associam não foram saciadas de modo adequado. Os tipos de
personalidade dependem da fixação da pessoa em cada fase.
A fase fálica é particularmente importante porque: 1) é a última fase do
desenvolvimento psicossexual da criança, 2) é neste momento que ocorre o complexo
de Édipo (rapazes sentem-se atraídos pelas mães, e consideram os pais como rivais) e de
Electra (raparigas sentem-se atraídas pelos pais, vendo as mães como rivais, devido à
inveja do pénis) e a angústia da castração, 3) constitui a base da identificação das
crianças, 4) determina a diferenciação sexual entre rapazes e raparigas e 5) determina o
desenvolvimento do Superego.
É durante a fase fálica que se instalam os mecanismos de defesa que, progressivamente,
permitem escapar aos desejos que, de modo inconsciente, se lhe encontram associados.
A má resolução desta fase leva o individuo a comportar-se de forma desadequada na
idade adulta.
AVALIAÇÃO
 Associação livre de ideias – acesso a medos, recordações e pensamentos reprimidos
 Análise e interpretação dos sonhos
 As duas técnicas freudianas de avaliação revelam uma grande quantidade de
material reprimido, expresso de forma disfarçada ou simbólica que o terapeuta deve
interpretar
 As técnicas projetivas de avaliação da personalidade foram desenvolvidas a partir de
ideias de base de Freud
CRÍTICAS
 Atribuía sexualidade às crianças
 A sua teoria era dificilmente testada, os conceitos eram vagos e ambíguos, não
sendo descritos de modo operacional
 Baseava-se no método do estudo de caso, que comportava uma grande subjetividade
 Base de dados pobre: selecionava criteriosamente os doentes
 Generalizava a partir de um caso – supostamente curado, quando não o era
 Posição machista e sexista

PERSPETIVAS NEO-ANALÍTICAS
Estas perspetivas derivam da psicanálise, mas afastam-se da mesma uma vez que
rejeitam os dogmas da psicanálise, como a universalidade do complexo de Édipo, e a
preponderância da sexualidade.
O aspeto central que caracteriza todas estas teorias é o estatuto importante atribuído ao
Ego, ao seu desenvolvimento e à influência da cultura.
JUNG
“A minha vida é uma história de autorrealização do inconsciente. Tudo, no
inconsciente, procura uma manifestação interior e a personalidade também deseja
evoluir a partir da sua condição inconsciente”
Segundo Jung, a personalidade resulta da interação do ego, do inconsciente pessoal e
coletivo, dos complexos e dos aequétipos.
ESTRUTURA
A personalidade compreende 3 sistemas:
O Ego representa tudo aquilo de que o individuo está consciente e tudo o que pensa,
estando no centro da consciência. Não está ao serviço de desejos do inconsciente,
apenas comunicando com o inconsciente coletivo. O desenvolvimento do Ego permite
harmonizar os elementos inconscientes com os elementos conscientes. Se o seu
desenvolvimento for fraco, destrói-se o equilíbrio entre os elementos inconscientes e
conscientes, abrindo-se a via às perturbações psicológicas.
O inconsciente pessoal corresponde aos elementos que, um dia, estiveram na
consciência, estando presentemente inacessíveis porque ou estão esquecidos ou
reprimidos. Trata-se de um conjunto de traços mnésicos e de sentimentos próprios ao
individuo. Assemelha-se ao inconsciente de Freud, mas não inclui os instintos.
O inconsciente coletivo é composto por elementos designados arquétipos, que
representam experiências universais que nos predispõem a reagir de determinada forma
em diferentes contextos. Trata-se das experiências ancestrais comuns a todos os
indivíduos. São disposições para o indivíduo se comportar de um modo preciso, fruto da
experiência passada, poe exemplo, sensações de déjà vu. Nunca foi consciente e nunca
foi adquirido individualmente, decorre de uma transmissão genética.
DINÂMICA
Ampliou a noção de líbido: energia psíquica generalizada que inclui, mas não se limita à
sexualidade (energia de vida); alimenta a personalidade (psique) através de atitudes ou
funções psicológicas;
Tipos de personalidade:
Jung dividiu os indivíduos de acordo com duas atitudes – “uma predisposição do
psiquismo para agir ou reagir de uma certa maneira face aos acontecimentos externos”.
Introversão: pessoas que orientam a sua líbido para si mesmas, o que implica que não
tenham centros de interesse dirigidos para os outros; têm dificuldades nas relações
sociais.
Extroversão: implica a existência de centros de interesse que não se encontram virados
para o próprio, mas sim para os outros; líbido dirigida para o exterior.
Paralelamente às atitudes do Ego, definiu 4 funções psicológicas: o pensamento, as
impressões, as sensações e as intuições. As duas primeiras consideram-se racionais,
pois implicam uma apreciação, sendo as duas últimas irracionais, visto que não se
baseiam no raciocínio.
O pensamento determina o que está presente, dando-lhe um sentido, uma interpretação.
Permite juntar diferentes experiências em conjunto para formar conceitos e para agir de
forma racional. É o pensamento que ordena as experiências e que determina de que
forma nós consideramos o meio, bem como as experiências que nele são realizadas.
As impressões avaliam de que modo as experiências nos tocam. Estas diferem do
pensamento no sentido em que constituem apreciações totalmente subjetivas.
As sensações determinam que algo está presente, não diferindo das perceções
sensoriais. Esta função está principalmente desenvolvida na criança e implica que nos
limitemos aos factos.
As intuições levam-nos a crer que determinadas coisas vão desenrolar-se como
previsto, ou ainda que compreendemos algo sem poder explica-lo. As intuições são
influenciadas por mecanismos inconscientes.
Estas 4 funções determinam quatro tipos de personalidade: o tipo pensamento é racional
e concentra-se em elementos sólidos, comprovados; apenas opera se tiver dados
objetivos sobre as coisas. O tipo impressão prende-se às relações entre as pessoas,
procura reunir pessoas e os resultados das ações são menos interessantes. O tipo
intuitivo considera as coisas de maneira global e detesta as ações rápidas. O tipo
sensação é pragmático, procurando rapidamente uma solução para os problemas.
Segundo Jung, o tipo pensamento opõe-se ao tipo impressão, enquanto o tipo intuição se
opõe ao tipo sensação.
DESENVOLVIMENTO
De acordo com Jung, o modo como a personalidade se desenvolve corresponde ao
mecanismo de individualização. Trata-se de um processo através do qual uma pessoa se
torna um individuo psicológico, ou seja, numa unidade indivisível, inteira e única.
É a realização do Ego que é responsável pelo processo descrito, através de um equilíbrio
entre os polos opostos que formam o indivíduo, como o inconsciente e o consciente, ou
ainda anima e animus. O processo por intermédio do qual o individuo consegue
equilibrar os extremos designa-se função transcendental.
4 fases do desenvolvimento: a infância, a puberdade, a meia idade e a idade adulta:
Infância – não se encontram problemas de maior e depende-se da atmosfera criada pela
família; funciona-se de forma instintiva e o Ego desenvolve-se de forma progressiva;
só existe o inconsciente coletivo.
Puberdade – altura em que se verificam importantes modificações fisiológicas, ao
mesmo tempo que tem lugar uma revolução psíquica; damo-nos conta de que temos de
abandonar as ilusões e fantasias de infância;
Meia idade – o individuo orienta-se para forças internas e espirituais, abandonando
pontos de vista mais materialistas; a contemplação torna-se mais importante do que a
ação; trata-se de uma fase espiritual, na qual se pensa o sentido da vida;
Idade adulta – assemelha-se à infância; Jung pensava existir uma forma de vida além
da morte. Para este autor, a vida psíquica não termina quando o corpo morre porque
ela deve continuar uma procura incessante de autorrealização.
AVALIAÇÃO
 Associação de palavras: teste de associação de palavras, uma pessoa responde a uma
palavra estímulo com outra que lhe vier imediatamente à mente
 Análise de sintomas: relatados pelo paciente em livre associação de ideias
 Análise de sonhos (arquétipos)
CRÍTICAS
 Conceitos eram vagos e não podiam ser cientificamente testados
 Não existe uma definição operacional dos diferentes arquétipos
 O conceito de inconsciente coletivo, por vezes, é exposto de forma ambígua
ADLER
“A meta da alma humana é a conquista, perfeição, segurança, superioridade. Toda a
criança se depara com tantos obstáculos na vida que nenhuma delas cresce sem lutar
por alguma forma de sentido”.
Segundo Adler, a personalidade equivale ao estilo de vida do indivíduo, ou seja, ao
modo como habitualmente lida com problemas e objetivos de vida.
ESTRUTURA E DINÂMICA
Adler não considera que o indivíduo seja constituído por Id, Ego e complexos. Rejeita a
importância da sexualidade na personalidade. Contrariamente a Freud, considera o
indivíduo como uma pessoa inteira, cuja vida passa da imaturidade para a
maturidade. Pensa ainda que os indivíduos decidem, eles próprios, que direção é que a
vida vai tomar e, independentemente da direção tomada, procuram alcançar a perfeição
dentro do que estabeleceram. Portanto, existe uma força que direciona o individuo para
um determinado objetivo, que o próprio estabeleceu para si mesmo e que, de alguma
forma, o individuo é influenciado por instintos ou pulsões, como sugeria Freud.
Postulava a existência de sentimentos de inferioridade, que apareciam precocemente na
vida do indivíduo e que careciam de compensações para o resto da sua vida. Este
conceito é central, exprimindo-se pelo termo complexo de inferioridade: o homem é,
por definição, inferior.
Neste sentido, Adler considerava que os indivíduos têm vontade de ser superiores e
atuantes com vista a compensarem frustrações infantis. Trata-se do complexo de
superioridade, que consiste numa forma exagerada de superioridade para compensar
fragilidades pessoais.
Resumo do pensamento de Adler: 1) todos os comportamentos têm um significado
social, e um objetivo, 2) a pessoa é um todo, 3) os comportamentos são emitidos para
ultrapassar sentimentos de inferioridade e alcançar sentimentos de superioridade e 4) os
comportamentos resultam das nossas perceções subjetivas.
DESENVOLVIMENTO
Adler considera que as diferenças individuais se devem ao que vamos fazer com o nosso
equipamento genético e não ao que está presente à nascença (hereditariedade).
As diferenças entre os indivíduos são, acima de tudo, psicossociais. Um dos fatores de
maior importância é o sentimento social – o facto de se sentir tocado pelos outros e a
necessidade de com eles cooperar.
O homem dever cumprir 3 tarefas na vida: inserir-se na sociedade, dedicar tempo a um
trabalho e desenvolver relações amorosas. É através destas tarefas que a criança
desenvolve os seus interesses sociais.
De acordo com Adler, as atitudes tomadas por um individuo face à sociedade, trabalho e
o amor estão resumidas no seu estilo de vida (estrutura que orienta o comportamento).
Os elementos que ocorrem particularmente entre os 3 e os 5 anos terão uma grande
influência nos processos que irão determinar o estilo de vida.
A primeira influência familiar sobre o desenvolvimento da personalidade é a mãe. O seu
contacto com a criança vai determinar a maior parte dos interesses sociais do individuo.
Em segundo lugar, tem lugar o contacto com o pai e, por fim, em terceiro, vem a ordem
de nascimento. Adler considerava que este fator contribuía para as diferenças de
personalidade.
O autor definiu 4 tipos de personalidade:
Dominador: indivíduos assertivos, agressivos, ativos e que manifestam poucos
interesses sociais;
Dependente: sujeitos que se satisfazem a si próprios e que tendem a receber sem
necessariamente dar;
Esquivo: pessoas pouco ativas e com pouco contacto social;
Socialmente útil: indivíduos sociáveis e ativos.
AVALIAÇÃO
 Primeiras lembranças: técnica de avaliação da personalidade na qual se presume que
as nossas primeiras lembranças revelam o interesse básico da nossa vida (estilo de
vida)
 Análise de sonhos: não revelam desejos ou conflitos ocultos; envolvem sentimentos
sobre um problema atual (orientação para o presente, para além do passado);
manifestação do estilo de vida da pessoa
 Medidas de interesse social/estilos de vida desenvolvidos posteriormente

CRÍTICAS
 Nunca foi demonstrada que a ordem dos nascimentos exerce influência sobre a
personalidade
 A teoria é baseada na própria vida do autor
 Não se pode universalizar os conceitos da teoria
HORNEY
“O mal básico é invariavelmente a falta de calor e afeto genuínos”.
Horney não considerava que a personalidade fosse exclusivamente determinada por
pulsões inconscientes, nem que a líbido constituísse a fonte energética das pulsões.
À semelhança de Freud, Horney baseou a sua teoria no papel que as experiências
ansiosas da criança desempenham no ajustamento da personalidade adulta. A autora
empregou também o termo neurose para designar as perturbações da personalidade.
A noção de ansiedade é central na sua teoria, mas à imagem da maioria dos neo-
analistas, ela concedeu um papel crucial aos mecanismos sociais no desenvolvimento da
personalidade.
ESTRUTURA E DINÂMICA
O desenvolvimento normal da personalidade só acontece se os fatores presentes no
ambiente social da criança lhe permitirem adquirir confiança em si mesma e nos outros.
Isso acontece quando os pais proporcionam afeto, ternura e respeito aos filhos e quando
manifestam interesse pelos mesmos. Quando estas condições não estão preenchidas, em
vez de desenvolver confiança em si e nos outros, a criança vai desenvolver uma
ansiedade de base definida como “a perceção constante de estar só e desesperada num
mundo hostil”. Essa ansiedade pode ser proporcionada, por exemplo, pela indiferença, a
superproteção, falta de respeito e falta de contacto com outras crianças.
Se se verificar a ansiedade de base, a criança desenvolverá um conjunto de técnicas para
fazer face a estas situações (mecanismos de autodefesa).
Essas técnicas designam-se necessidades neuróticas – defesas irracionais contra a
ansiedade que se tornam parte permanente da personalidade e afetam o comportamento:
1. Afeto e aprovação
2. Ter um parceiro dominador
3. Poder
4. Explorar os outros
5. Reconhecimento social e prestígio
6. Admiração
7. Autossuficiência e independência
8. Perfeição e insaciabilidade
Estas defesas irracionais criam 3 tipos de personalidade: tipo submisso, cujas principais
características são a dependência, o desespero, a não assertividade e a necessidade de
ser protegido. Trata-se dos indivíduos que procuram o contacto dos outros,
reconhecendo a sua própria angústia (carecem do afeto dos outros). O segundo é o tipo
agressivo ou hostil; estes indivíduos procuram entrar em conflito com as outras
pessoas, são ambiciosos, aspirando com ardor ao poder e ao prestígio. O terceiro
corresponde ao tipo desligado ou desprendido; estes sujeitos não procuram o contacto
com os outros, preferindo a solidão, concentram-se em si próprios, consideram ser
únicos e incompreendidos e constroem um mundo próprio, através de jogos, de sonhos
e, por exemplo, de leituras.
A ideia de que as pessoas utilizam necessidades neuróticas para reduzir uma ansiedade
base, causada por perturbações afetivas ocorridas durante o desenvolvimento e que as
pessoas a elas recorrem de forma exagerada e persistente não se encontra distante da
noção atual de perturbação de personalidade – “modificação durável da experiência
vivida e das condutas, relativamente ao que é esperado na cultura do individuo; tais
modificações são rígidas, invadindo situações sociais e pessoas muito diversas;
desencadeiam um sofrimento clinicamente significativo”.
DESENVOLVIMENTO
Não existem fases de desenvolvimento universais (nem conflitos inevitáveis); a autora
dá ênfase aos primeiros anos de vida, aos fatores sociais e culturais e às experiências
ansiosas da criança.
AVALIAÇÃO
 Associação livre: não pretendia investigar o inconsciente; concentrou-se nas
relações emocionais dos pacientes a si própria como terapeuta (presente) e nas
primeiras experiências de infância (passado)
 Análise dos sonhos: revelar o verdadeiro self da pessoa; não forneceu lista de
símbolos universais dos sonhos; concentrou-se no conteúdo emocional do sonho
 Inventário de avaliação das 3 tendências neuróticas: submisso, agressivo e
desprendido
CRÍTICAS
 Não existir um estudo controlado para testar a validade dos conceitos teóricos
 Conceitos vagos e descrições breves
 A teoria incidia, essencialmente, sobre a personalidade patológica e as neuroses,
sendo limitada no que diz respeito à personalidade normal
MURRAY
“Para mim, a personalidade é uma selva sem fronteiras”
Segundo Murray, a personalidade trata-se da continuidade de formas e forças pulsionais,
manifestadas através de sequências de processos organizados dominantes e de
comportamentos manifestados do nascimento ao final da vida.
ESTRUTURA E DINÂMICA
O primeiro princípio da personologia de Murray, o seu termo para o estudo da
personalidade, é que ela está enraizada no cérebro. A fisiologia cerebral da pessoa
controla todos os aspetos da personalidade. Um exemplo simples disso, é que certas
drogas pode alterar o funcionamento do cérebro e, consequentemente, a personalidade.
Tudo aquilo de que a personalidade depende está no cérebro, inclusive sentimentos,
lembranças conscientes e inconscientes, crenças, atitudes, temores e valores.
O segundo princípio do seu sistema envolve a ideia de redução da tensão. Ele
concordava com Freud e com outros teóricos que as pessoas agem para reduzir as
tensões fisiológica e psicológica, mas isso não quer dizer que buscamos um estado
totalmente livre de tensão. Segundo Murray, é o processo de agir para reduzir tensão
que é satisfatório, e não o alcance de uma condição livre de toda a tensão. Para ele, uma
existência sem tensões já é, por si só, uma fonte de angústia. Precisamos de excitação,
atividade e movimento, que envolvem um aumento da tensão, e não uma redução. Nós
geramos a tensão para ter a satisfação de a reduzir – estado ideal da natureza humana,
segundo Murray.
O terceiro princípio da personologia de Murray é que a personalidade de um indivíduo
continua a desenvolver-se ao longo dos anos e é composta por todos os eventos que
ocorrem no decorrer da vida. Portanto, o estudo do passado de uma pessoa é de grande
importância.
O seu quarto princípio envolve a teoria de que a personalidade muda e evolui, não
sendo, pois, fixa ou estática.
Em quinto lugar, Murray enfatizou a singularidade de cada pessoa e ao mesmo tempo
reconheceu a familiaridade entre todos. Segundo ele, um ser humano nunca é igual ao
outro, é parecido com algumas pessoas e com todas.
FREUD MURRAY
ID Conjunto de todos os instintos; busca a Inclui os impulsos inatos que a sociedade
satisfação imediata considera aceitáveis e desejáveis
EGO Mediador, facilitador de interação Organizador central do comportamento que, de
entre o id e as circunstâncias do maneira, raciocina, decide e determina; mais
mundo exterior ativo na determinação do comportamento
SUPEREGO Interiorização das normas e valores Na formação do superego participam outros
culturais fatores, tais como grupos de pares, mitologia
Tal como Freud, Murray assume que a personalidade é formada pelo id, ego e superego.

O id é o depósito de todas as tendências impulsivas inatas. Fornece energia e rumo para


o comportamento e preocupa-se com a motivação. O id contém os impulsos primitivos,
amorais e sensuais descritos por Freud, mas no sistema de Murray também engloba
impulsos inatos que a sociedade considera aceitáveis e desejáveis (influência do
arquétipo da sombra de Jung). A força ou intensidade do id varia de pessoa para pessoa.
O ego é o regente racional da personalidade. Ele tenta modificar ou adiar os impulsos
inaceitáveis do id. Murray ampliou a formulação de Freud propondo que o ego é o
organizador central do comportamento. Ele pondera, decide e determina
conscientemente o rumo do comportamento, sendo, assim, mais ativo na determinação
do comportamento do que Freud imaginava.
Murray definiu o superego como a internalização dos valores e das normas culturais,
regras segundo as quais avaliamos e julgamos o nosso comportamento e o dos outros. O
superego não está em constante conflito com o id, pois contém forças boas e más. O
superego tem de tentar obstruir os impulsos socialmente inaceitáveis, mas também age
para determinar quando, onde e como uma necessidade aceitável precisa de ser expressa
e satisfeita.
O superego desenvolve-se junto com o ideal de ego, que nos fornece as metas de longo
prazo que devemos procurar. Este ideal representa aquilo que nos poderíamos tornar na
nossa melhor forma e é a soma das nossas ambições e aspirações.
Tipos de necessidades (motivação para o comportamento):
Necessidades primárias (viscerogénicas): surgem de processos físicos internos e
incluem as necessidades de sobrevivência (comida, água, ar e defesa física) e de sexo e
sensualidade.
Necessidades secundárias (psicogénicas): provêm indiretamente das primárias de uma
maneira que Murray não deixou muito claro, mas não têm uma origem determinável no
corpo; estas preocupam-se com a satisfação emocional e incluem a maioria das
necessidades da lista original de Murray.
Necessidades reativas: envolvem uma resposta a algo específico do ambiente e são
estimuladas apenas quando o dito objeto aparece (exemplo, a necessidade de defesa
física surge só quando há uma ameaça presente).
Necessidades pró-ativas: não dependem da presença de um determinado objeto; são
espontâneas, trazendo à tona o comportamento adequando sempre que estimuladas,
independentemente do ambiente (exemplo, pessoas com fome procuram comida para
satisfazer a sua necessidade).
DESENVOLVIMENTO
Cinco estágios de desenvolvimento infantil, cada um deles caracterizado por um
complexo inconsciente (prazer versus sociedade) que determina o desenvolvimento
posterior e a personalidade adulta.
Entre os estágios de desenvolvimento na infância estão os complexos claustral (a
existência segura no útero), oral (o prazer sensual de sugar alimentos enquanto se é
segurado), anal (prazer resultante de defecar), uretral (prazer que acompanha o ato de
urinar) e genital (prazeres genitais).
Complexo: entidade total duradoura que determina (inconscientemente) o curso do
desenvolvimento posterior.
AVALIAÇÃO
 Testes de aperceção temática: o TAT apresenta um conjunto de imagens ambíguas
que representam cenas simples, a pessoa avaliada elabora um relato no qual
descreve as pessoas, os objetos da lâmina, a situação e o que as pessoas sentem e
pensam; baseiam-se no mecanismo freudiano de projeção
ERIKSON
“A personalidade compromete-se de modo contínuo com os acasos da existência,
inclusivamente à medida que o metabolismo do corpo enfrenta o deterioro”.
ESTRUTURA, DINÂMICA E DESENVOLVIMENTO
Erikson concebe o desenvolvimento da personalidade de acordo com 8 estádios
psicossociais. O termo psicossocial refere-se à relação que existe entre o
desenvolvimento psicológico do individuo e o contexto social em que o
desenvolvimento tem lugar. Isto é, um individuo não se desenvolve do mesmo modo em
dois ambientes diferentes.
A maturidade adquire-se através da resolução de conflitos ligados a estas contradições
(virtudes versus crise). Em contrapartida, o sujeito estagna se não puder resolver os seus
conflitos – crises psicossociais. A resolução de uma crise prepara a pessoa para a fase
seguinte na batalha pela procura da identidade.
As formas de lidar com cada crise são incorporadas na identidade do ego: quando está
presente apenas uma forma de lidar com os conflitos, surgem situações “mal-adaptadas”
ou “malignas” (mau desenvolvimento).
No entanto, Erikson insiste no facto de as crises nunca serem inteiramente resolúveis,
sendo necessário atingir uma proporção satisfatória de resolução. Metaforicamente, em
cada estádio, a pessoa é submetida a forças negativas e positivas, que se opõem,
devendo a própria pessoa conseguir aproximar-se das forças positivas para resolver a
crise.
8 estádios de desenvolvimento psicossocial
1. Bebé (primeiro ano) – crise: poder contar com os outros versus não poder contar
com os outros; resolução: estar confiante quanto à satisfação das necessidades; má
resolução: raiva devida a uma má satisfação das necessidades; qualidade: esperança
2. Primeira infância (2-3 anos) – crise: autonomia versus vergonha, dúvida; resolução:
autocontrolo; má resolução: ser controlado; qualidade: poder
3. Idade pré-escolar (3-5 anos) – crise: iniciativa versus culpabilidade; resolução: agir
de acordo com os desejos; má resolução: não agir de acordo com a vontade;
qualidade: prosseguir os seus objetivos
4. Idade escolar (6-11 anos) – crise: fazer algo útil aos outros versus inferioridade;
resolução: ter os outros em conta nas tarefas; má resolução: habilidades
insuficientes; qualidade: competência
5. Adolescência (12-20 anos) – crise: identidade versus confusão de papéis; resolução:
fazer-se apreciar pelos outros; má resolução: mau desenvolvimento anterior;
qualidade: fidelidade
6. Jovem idade adulta (20-45) – crise: intimidade versus isolamento; resolução: ter
uma relação íntima; má resolução: não ter uma relação íntima; qualidade: amor
7. Idade adulta (45-65 anos) – crise: criação versus estagnação; resolução: conduzir a
geração seguinte; má resolução: parar o crescimento; qualidade: tomar cuidado
8. Velhice (acima dos 65 anos) – crise: auto-integridade versus desespero; resolução:
integração emocional; má resolução: o tempo é demasiado curto; qualidade:
sabedoria
AVALIAÇÃO
 Análise psicohistórica (estudos biográficos)
 Testes psicológicos

CRÍTICAS
 Falta de lógica interna, por exemplo, a nível de oposição de conceitos
 O facto de a teoria ser influenciada pela experiência de vida do autor

RESUMO – COMPARAÇÃO DAS PERSPETIVAS


AUTOR ESTRUTURA DA DINÂMICA DA DESENVOLVIMENTO AVALIAÇÃO DA
PERSONALIDADE PERSONALIDADE DA PERSONALIDADE PERSONALIDA
DE
FREUD Ponto de vista Teoria dos instintos Fases do desenvolvimento Livre associação;
económico (princípios psicossexual (fase oral, acesso a medos,
gerais da psicanálise); anal, fálica, latência e fase recordações,
ponto de vista genital) pensamentos
topográfico (1ª e 2ª reprimidos –
tópica); mecanismos análise e
de defesa interpretação dos
sonhos (conflitos
inconscientes)
JUNG 3 sistemas (eu ou ego, Ampliou a noção de Infância, Associação de
inconsciente pessoal e líbido; energia puberdade/juventude, meia palavras, análise de
inconsciente coletivo) psíquica que alimenta idade (período de sintomas e análise
a personalidade (4 transição), idade adulta de sonhos
tipos de (arquétipos);
personalidade); Perspetiva dos
atitudes traços de
personalidade – 8
tipos psicológicos
ADLER Sentimentos de Inferioridade – necessidade Estilo de vida – estrutura Primeiras
de se ultrapassar (compensação); complexo que orienta o lembranças, análise
de inferioridade e de superioridade comportamento (interesse dos sonhos e
social, 3 tarefas na vida e medidas de
interações sociais) interesse social /
estilos de vida
HORNEY Necessidade de segurança; ansiedade de Importância dos primeiros Associação livre,
base; necessidades neuróticas; três formas de anos da infância – relação análise dos sonhos
viver, pensar e comportar-se – 3 formas de pais-criança; não existem e Inventário de
personalidade fases de desenvolvimento Avaliação das 3
universais nem conflitos Tendências
inevitáveis; importância Neuróticas
dos fatores sociais e
culturais
MURRAY Personologia: sistema de personalidade de Cinco estádios de Testes de
Murray; Id, Ego e Superego; tipos de desenvolvimento infantil; Aperceção
necessidades (motivação para o complexo claustral, anal, Temática
comportamento) oral, uretral e castração
ERIKSON Princípio epigenético da maturação; crise; 8 estágios de Erikson Análise
forças / virtudes básicas psicohistórica;
testes psicológicos

Você também pode gostar