Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROPÓSITO
Apresentar o caminhar histórico da contabilidade e a longa transição da perspectiva de controle do
patrimônio para a outra de prestação de informações. Esse caminhar revela-se na queda das escolas
europeias e na ascensão da escola norte-americana, uma perspectiva particular sobre as escolas de
pensamento da contabilidade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
/
Descrever a evolução histórica da contabilidade, sobretudo os eventos disruptivos
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Nesse tema, estudaremos a evolução histórica da contabilidade, com ênfase nos principais eventos e
nas rupturas e consolidações ao longo da sua trajetória. Estudaremos também as escolas de
pensamento da contabilidade e a construção teórica da contabilidade, com a prevalência do valor
preditivo da informação contábil e da essência sobre a forma. Por fim, aprenderemos sobre as Normas
Brasileiras de Contabilidade.
MÓDULO 1
/
Descrever a evolução histórica da contabilidade,
sobretudo os eventos disruptivos
RECONHECIMENTO
MENSURAÇÃO
EVIDENCIAÇÃO
/
Fonte: Katemangostar / freepik
A teoria da contabilidade pode ser definida como as tentativas feitas para explicar, influenciar e
aperfeiçoar os três objetivos da contabilidade: reconhecimento, mensuração e evidenciação.
RECONHECIMENTO
O reconhecimento ou a tradução do evento econômico para linguagem binária universal implica
transformar esse evento em entidades contábeis primárias: ativo, passivo, patrimônio líquido, receita e
despesa. Para tal, utiliza-se uma linguagem binária, o par débito/crédito.
MENSURAÇÃO
Implica atribuir valor aos eventos econômicos traduzidos. O critério de atribuição de valor dependerá da
natureza contábil do evento traduzido, se ativo, passivo, patrimônio líquido e assim por diante.
EVIDENCIAÇÃO
Consiste em dar publicidade aos eventos econômicos, tornando-os compreensíveis pelos usuários com
interesse na informação.
/
O INÍCIO
Embora qualquer tipo de atividade seja um objeto em potencial da ciência contábil, uma vez que as
etapas de reconhecer, mensurar e evidenciar não se limitam a atividades econômicas tradicionais, a
história da contabilidade é uma história de avanços e consolidações, em linha com os avanços da
atividade econômica. E essa história não começa com a atividade comercial e industrial da era moderna.
Sempre que os assuntos econômicos progrediram além das condições mais básicas de produção e
troca, surgiram sistemas de registro e formalização de transações baseados em contas.
Há muitos registros contábeis anteriores aos séculos XIII e XIV (SIDEBOTHAM et al., 1970). A
metodologia moderna que, hoje, denominamos contabilidade, porém, tem como marco histórico a
criação do método de registro "partida dobrada", em resposta aos desafios da atividade comercial
crescente, nos séculos XIII e XIV. A profissão contábil, por sua vez, ganhou impulso a partir das
demandas econômicas da Revolução Industrial. Quanto maior a complexidade da estrutura de produção
e troca, maior a demanda por informações financeiras fidedignas.
O primeiro livro publicado sobre contabilidade é de autoria do monge franciscano Luca Pacioli, um
erudito reconhecido em sua época. Pacioli incluiu em sua obra Summa di Aritmetica Geometria
Proportioni et Proportionalita ('Tudo sobre Aritmética, Geometria e Proporção') , publicada em 1494,
uma seção sobre contabilidade intitulada"De Computis et Escrituras", onde descreve o método de
/
registro "partida dobrada". Essa seção foi republicada no ano 1504 como obra individual sob o título "La
Scuola Perfetta dei Mercanti" ('A Perfeita Escola de Comerciantes') .
Pacioli esclarece ainda no livro que não foi o inventor da dupla entrada, afirmando que ele apenas
descrevia o método usado em Veneza havia mais de 200 anos. A descrição do método feita por Pacioli é
considerada muito clara pelos teóricos da contabilidade (SIDEBOTHAM et al., 1970). No capítulo 34 da
Summa, ele afirma:
(Pacioli, 1494)
Pacioli também defende o balanço anual de contas, embora o procedimento não fosse obrigatório, pois
não havia regulamentos da lei ou convenções da sociedade para exigir isso. No capítulo 29 da Summa
ele afirma:
(Pacioli, 1494)
Os registros contábeis da Idade Média, embora simples, já estabeleciam a separação entre os registros
da entidade e o dos proprietários, um embrião do que viria a ser o Patrimônio Líquido e o posterior
princípio da entidade.
/
Fonte: Wikipedia
Ex-sede do Banco Medici
O desenvolvimento do comércio no século XIV fez surgir conglomerados empresariais com filiais
espalhadas pela Europa, exigindo um aperfeiçoamento da metodologia de registro das transações. Um
exemplo interessante desse período vem de Florença, região de grande poder econômico e sede do
Banco Medici, pertencente à tradicional família de mesmo nome, considerada a mais rica da Europa à
época.
SAIBA MAIS
BANCO MEDICI
O Banco Medici, desde a sua criação em 1397 e até sua derrocada em 1494, foi uma das
instituições mais prósperas e respeitadas da Europa. Além da realização de negócios bancários
consideráveis, em Florença e em outras cidades italianas – e em grandes centros comerciais no
exterior, por meio de filiais –, o banco operava vários estabelecimentos industriais, sobretudo
têxteis.
A estrutura societária adotada pelos Medici não era diferente em essência das holdings modernas
e suas subsidiárias. Nesse ambiente, cada filial e cada fábrica eram uma entidade separada, com
parceiros, capital e contas separados, embora a família Medici tivesse um controle acionário em
cada uma delas.
/
O Banco Medici foi uma das primeiras entidades a utilizar o método das partidas dobradas
utilizando débitos e créditos. Qualquer outro sistema mais simples teria sido inadequado para o
alcance, volume e complexidade de suas transações.
De acordo com Sidebotham et al. (1970), uma cópia do balanço de cada agência era enviada todos os
anos à Florença e estava sujeita à auditoria, sobretudo quanto ao controle de vencimentos das
operações de crédito e dos créditos duvidosos. As contas utilizadas pelos Medici continham provisões
para salários, dívidas incobráveis e contingências, e essas provisões podiam ser usadas para corrigir
lucros de exercícios anteriores.
O papel de Pacioli como disseminador do método das partidas dobradas foi bem sucedido. Após a
publicação da Summa em 1494, as partidas dobradas ganharam a Europa. E a Europa foi o palco de
outra sequência importante de eventos para o desenvolvimento da contabilidade.
A Companhia Holandesa das Índias Orientais, fundada em 1602, foi a primeira empresa a emitir ações
com responsabilidade limitada para seus acionistas. As ações eram transferíveis e podiam ser
negociadas na Bolsa de Amsterdã, também estabelecida em 1602. Nos anos subsequentes, o conceito
de sociedade por ações, com existência permanente, responsabilidade limitada e ações negociadas em
bolsa de valores, tornou-se uma forma importante da organização empresarial (SCOTT, 2015).
Fonte: Wikipedia
/
Símbolo da Companhia Holandesa das Índias Orientais
A demanda por informações financeiras sobre as empresas cujas ações eram negociadas motivou uma
longa transição para a contabilidade financeira. De um sistema que permitia ao comerciante controlar
suas próprias operações, a contabilidade evoluiu para um sistema capaz de informar os investidores que
não estavam envolvidos nas operações diárias da empresa.
A disponibilização de informações em bases regulares não era suficiente para satisfazer a necessidade
dos novos usuários da informação contábil. Era necessário que tais informações também fossem
confiáveis, fidedignas. Essa demanda adicional estabeleceu as bases para o desenvolvimento da
auditoria e da regulação governamental acerca da prestação de informações. Em 1844, com a
publicação da Companies Act, a Lei das Empresas Inglesas, surge pela primeira vez a exigência de
fornecimento de um balanço auditado aos acionistas.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
No fim do século XIX, impulsionada pelo advento das máquinas a vapor, a Revolução Industrial
representou novo impulso ao desenvolvimento da contabilidade. O crescimento das unidades fabris,
antes compostas de um líder e meia dúzia de empregados, para fábricas imensas, com centenas de
operários, exigiu um outro tipo de abordagem contábil. Dessa vez, voltada para a contabilidade
industrial, controle de estoques, custos de produção, embrião do que viria a ser a contabilidade de
custos.
/
O desenvolvimento da contabilidade de custos foi a resposta da contabilidade aos crescentes problemas
enfrentados pelos industriais sob as condições comerciais mais competitivas do início do século XX. O
protagonismo dos Estados Unidos nos mercados internacionais eliminou o monopólio antes detido pelos
ingleses. Nesse cenário, a definição de preços competitivos exigia meios efetivos de identificação e
controle dos custos de produção.
Para Sidebotham et al. (1970), havia desafios particularmente complexos à época. O primeiro deles
tratava da distinção entre custos fixos e variáveis, ou seja, custos que permanecem constantes,
independentemente do nível de produção, e custos que variam conforme a produção se expande ou
contrai. Isso tem implicações óbvias quando mudanças no nível de produção são enfrentadas.
Outro desafio era a apropriação dos custos indiretos à produção. Conceitos derivados da gestão
científica, que tiveram um rápido desenvolvimento nos Estados Unidos na primeira década do século
XX, foram introduzidos na contabilidade de custos. A divisão da fábrica em "centros de produção", nos
quais os custos indiretos poderiam ser alocados com base nas horas-máquina utilizadas derivam dessa
confluência de conhecimentos.
O CRASH DE 1929
No início do século XX, os principais desenvolvimentos na contabilidade financeira surgiram nos Estados
Unidos, cujo poderio econômico crescia rapidamente. Segundo Scott (2015), a introdução do imposto de
renda corporativo nos Estados Unidos, em 1909, deu grande impulso à mensuração do lucro e, em
consequência, motivou o surgimento de novos conceitos que permitiam deduções do lucro, como a
depreciação do capital fixo. Contudo, a contabilidade ainda era uma atividade bastante
desregulamentada, permitindo toda a sorte de manipulações e superveniência de ativos. Uma das
práticas mais criticadas da época eram as frequentes reavaliações de ativos fixos, que levavam a
superestimações do imobilizado, as quais forneceram o combustível para o excesso de valorização da
Bolsa de Valores, descolado da realidade.
/
Fonte: Ijeab / freepik
O crash de 1929, uma mistura explosiva de crédito em excesso e de especulação em ativos mobiliários,
provocou uma forte resposta regulatória. A mais relevante foi a criação da Comissão de Valores
Mobiliários (SEC), em 1934, órgão regulador do mercado de valores mobiliários, cujo mandato é a
proteção de investidores por meio de uma estrutura baseada em divulgação de informações adequadas.
Na contabilidade, o efeito mais visível foi a fixação do custo histórico como base de mensuração, uma
resposta direta ao descontrole provocado pelas constantes reavaliações de ativos.
O fim dos anos 1990 e o início do século XXI foram o palco da bolha da internet. A chamada nova
economia apresentava modelos de negócios concentrados na prestação de serviços e baseados na
internet. Contrariamente aos segmentos tradicionais da economia, muitas dessas empresas,
especialmente as recém-criadas, com pouco ou nenhum histórico de lucros, praticamente não
apresentavam ativos fixos, a geração de caixa era negativa e o interesse despertado por elas derivava
de expectativas quanto ao crescimento futuro.
Para isso, relatavam um fluxo de receitas com expectativa de rápido crescimento, em linha com o
crescimento do acesso à internet. Contudo, as estimativas se mostraram exageradas e tiveram de ser
revertidas, levando ao colapso desse segmento, do qual poucas empresas resistiram. Dois exemplos
clássicos de fraudes contábeis desse tipo são os casos da Enron Corp. e Worldcom Inc.
/
Fonte: freepik / freepik
Esses e muitos outros casos de fraude ocorreram independentemente do fato de que as demonstrações
financeiras das empresas envolvidas foram auditadas e consideradas aderentes à regulação norte-
americana. Como resultado, a confiança do público nos relatórios financeiros e no funcionamento do
mercado de capitais foi severamente abalada. O resultado da perda de confiança do público foi o
aumento da regulamentação (SCOTT, 2015).
A Lei Sarbanes-Oxley, aprovada pelo Congresso dos EUA em 2002, foi a resposta mais objetiva à crise.
Essa lei é abrangente, destinada a regular a atividade de auditoria e ampliar o alcance da governança
corporativa, minimizando a chance de novas fraudes acontecerem. A criação do Comitê de Auditoria é
consequência da Lei Sarbanes-Oxley, assim como a criação do Public Company Accounting Oversight
Board (PCAOB), agência com mandato para estabelecer padrões de auditoria e inspecionar e disciplinar
auditores de empresas listadas em bolsa. Outras disposições da Lei Sarbanes-Oxley vão de encontro a
fragilidades que permitiram o surgimento de casos de fraudes contábeis, como da Enron Corp:
A restrição de serviços não vinculados à auditoria, mas oferecidos pelas empresas de auditoria aos seus
clientes, como serviços de consultoria, avaliações.
/
2
A relação societária entre a empresa "controladora" e a SPE é juridicamente confusa (daí as aspas).
Embora haja elementos suficientes para configurar a relação de controle, a regulação, à época,
autorizava a não consolidação dos balanços. Isso permitia que parcelas indesejáveis de ativos e
passivos fossem deslocadas para essas empresas e lá ficassem isolados, não contaminando o balanço
da controladora.
/
Esse artifício foi utilizado a exaustão no caso Enron Corp. Por meio dessas empresas, a Enron
contratava empréstimos no sistema financeiro e transferia esses recursos para a empresa, mantendo as
dívidas isoladas nas SPE. Como não havia consolidação, a maior parte dos passivos da Enron não
apareciam e a empresa era tida como saudável. Quando, por determinação da SEC, a Enron consolidou
todas as SPE, a realidade foi desmascarada e a empresa mostrou-se insolvente.
Cerca de dez anos depois, o mesmo artifício foi usado por vários bancos norte-americanos para
alavancar suas posições em hipotecas. Bancos são entidades altamente reguladas. Submetidos aos
denominados Acordos de Capital, também conhecidos como Acordos de Basileia, devem respeitar
limites mínimos de patrimônio para operar no mercado financeiro. Tais limites relacionam os ativos de
risco da instituição ao seu patrimônio líquido. Dessa forma, há um limite mínimo de alavancagem que
deve ser respeitado. Diferentemente de empresas de outros segmentos econômicos, bancos não podem
alavancar indiscriminadamente, pois para cada adicional de risco registrado no ativo é necessária uma
contrapartida na forma de capital.
Para burlar esses limites e registrar mais ativos de risco, na forma de operações de financiamento
imobiliário, do que o capital disponível suportaria, bancos norte-americanos utilizaram SPE para registrar
operações de financiamento imobiliário por eles originadas. Como as SPE não eram consideradas
bancos, não observavam os limites mínimos de capital, o que permitiu uma alavancagem muito além da
admitida para os bancos. Esse foi o combustível da crise financeira: o excesso de crédito concedido
pelos bancos turbinou o preço dos imóveis até que uma crise de confiança desmontou o castelo de
cartas.
/
As SPE, por sua vez, eram financiadas com passivos de curto prazo, na ordem de dois anos de
maturidade, enquanto mantinham operações de crédito de até 30 anos no ativo. Quando a crise de
confiança nas hipotecas subprime se manifestou, essas SPE não conseguiram rolar seus passivos e
foram buscar financiamento nos bancos "controladores". Isso impôs aos bancos a recompra dessas
operações de financiamento imobiliário. A reentrada dessas operações nos ativos dos bancos fez com
que o capital dos bancos se mostrasse muito inferior ao exigido pela regulação para fazer face ao risco
dos ativos. Adicionalmente, a queda no valor das hipotecas provocada pela crise impôs perdas severas
aos bancos. Perdas que excediam em muito seu patrimônio líquido, aprofundando a crise financeira que
exigiu a intervenção governamental para socorrer os bancos.
Responsável pelo estabelecimento de padrões contábeis nos Estados Unidos.
Formulador de padrões contábeis para os demais países, sediado na Inglaterra.
/
O segundo desenvolvimento relevante é a prevalência da contabilidade baseada em princípios sobre a
contabilidade baseada em regras. A ascensão de formuladores de padrões contábeis e a consequente
definição de padrões contábeis abrangentes e de aplicação obrigatória deriva da dificuldade que a
diversidade de práticas contábeis impõe a comparações entre empresas. Nesse ambiente, a capacidade
de produzir informações úteis para amparar a tomada de decisões é comprometida. Vejamos o contexto
em que o FASB e o IASB surgiram:
O FASB surgiu em 1973 e é uma organização independente, composta de sete membros remunerados
em período integral, com mandatos de cinco anos renováveis. No mesmo ano, a SEC reconheceu
oficialmente o FASB como formulador de padrões contábeis de aplicação obrigatória nos Estados
Unidos, conferindo a uma organização privada o mandato de emitir padrões contábeis.
Já o IASB foi criado em 2001, sucedendo o International Accounting Standards Committee (IASC),
organismo que exercia funções similares desde sua criação em 1973 pelos organismos profissionais de
contabilidade de dez países desenvolvidos. Diferentemente do FASB, o alcance do IASB é mundial.
Também diferentemente do FASB, a entrada em vigor dos pronunciamentos emitidos pelo IASB, os
IFRS, não é automática. Os reguladores locais devem referendar os IFRS localmente para sua
conversão em regulação contábil obrigatória. No presente, os IFRS são obrigatórios para as empresas
de capital aberto de 166 países.
Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, França, Irlanda, Japão, México, Países Baixos e
Reino Unido.
/
No Brasil, a decisão de convergir aos padrões contábeis internacionais foi determinada pela Lei 11.638
de 2017. A partir dela, Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), foi encarregado de realizar a
transição dos padrões contábeis emitidos pelo IASB para o ambiente doméstico. Criado pela Resolução
CFC n. 1.055/05, o CPC tem como objetivo:
O CPC possui quatorze membros, sendo que cada uma das sete entidades que o formam nomeia dois
membros. Além dos 14 membros, são convidados a participar representantes de outras entidades
privadas e dos reguladores do mercado financeiro. Os pronunciamentos emitidos pelo CPC, que
invariavelmente são traduções dos pronunciamentos emitidos pelo IASB, não têm valor normativo, pois
o CPC carece de competência legal para tal. Dessa forma, para que os pronunciamentos se tornem
obrigatórios, é necessário que os reguladores, que detêm a competência normativa, referende-os por
meio de atos normativos. Para que os CPC se tornem obrigatórios para as sociedades anônimas de
capital aberto, a CVM deve referendá-los. No caso das instituições financeiras, o Conselho Monetário
Nacional deve fazê-lo e, assim por diante, de acordo com o segmento regulado.
De maneira geral, os reguladores referendam os pronunciamentos tão logo o CPC os emite. A única
exceção é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que referendou poucos pronunciamentos para o
Sistema Financeiro Nacional. Um exemplo é o IFRS 9 (CPC 48) que trata de instrumentos financeiros. O
profundo efeito desse pronunciamento nas instituições financeiras e o risco que uma convergência
precipitada poderia trazer para a estabilidade financeira levou o CMN e o BC a estabelecer um
/
cronograma de convergência que estimasse os impactos do IFRS 9 (CPC 48) no sistema financeiro.
Embora emitido pelo CPC no fim de 2016, a norma não havia entrado em vigor até a produção desse
conteúdo.
QUATORZE MEMBROS
CONVIDADOS
Banco Central do Brasil (BC); Comissão de Valores Mobiliários (CVM); Secretaria da Receita
Federal do Brasil (RFB); Superintendência de Seguros Privados (Suseo); Federação Brasileira de
Bancos (Febraban); Confederação Nacional da Indústria (CNI); e Superintendência Nacional de
Previdência Complementar (Previc).
/
Fonte: Rawpixel.com / freepik
A adoção de padrões contábeis baseados em princípios significa que a referência para a elaboração de
padrões contábeis passa a ser a estrutura conceitual, o que garante que a divulgação financeira será
relevante para os investidores, e que os requisitos de reconhecimento e de mensuração serão baseados
nas características qualitativas da informação contábil (SCHIPPER, 2003). A consequência prática
desse modelo é que a sustentação da atuação profissional não estabelece critérios específicos para o
tratamento de situações particulares.
Um sistema contábil baseado em princípios oferece diretrizes para o julgamento profissional de cada
situação particular, em vez de especificar claramente como promover a classificação, o reconhecimento,
a mensuração e a divulgação de cada evento econômico (DANTAS et al., 2010). A justificativa é que o
oferecimento de um referencial para o julgamento profissional, combinado com a possibilidade de o
contador e o auditor decidirem a melhor forma de elaborar e divulgar as informações a respeito das
operações da empresa, permite a consideração da essência do negócio, tendo em vista que nem todas
as nuances de uma operação poderiam ser apropriadamente antecipadas pelos reguladores.
/
A contabilidade é um organismo vivo e em constante adaptação e aperfeiçoamento. A contínua
transformação do ambiente econômico e das necessidades das empresas e dos usuários de
informações contábeis são agentes de mudança que catalisam o processo de evolução da
contabilidade. O futuro reserva desafios ao cumprimento dos objetivos da contabilidade de reconhecer,
mensurar e evidenciar os eventos econômicos, mas é certo também que os profissionais e acadêmicos
de contabilidade estarão à altura deles.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Desde a respectiva criação, em 2005, além dos pronunciamentos técnicos, o CPC passou a emitir as
resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
C) O CPC tem prerrogativas legais, portanto a aplicação das próprias normas é obrigatória.
D) Os pronunciamentos técnicos emitidos pelo CPC subsidiam a emissão de normas que permitem a
convergência da Contabilidade Brasileira com os padrões internacionais.
D) Sempre a soma dos valores creditados será igual a soma dos valores debitados às contas
envolvidas.
GABARITO
O CPC não tem competência normativa, razão pela qual necessita que os reguladores, que detêm a
competência normativa, os referendem por meio de atos normativos.
Segundo Pacioli, "nunca deve ser uma quantia entrada em crédito que também não seja entrada no
mesmo montante em débito". O lançamento pode envolver um ou mais registros a débito e um ou mais
registros a crédito. A única restrição é que o total de débitos seja igual ao total de créditos.
MÓDULO 2
ESCOLAS DE PENSAMENTO DA
CONTABILIDADE
Já vimos que, embora os registros históricos que sugerem práticas contábeis primitivas se percam no
tempo, o início formal da contabilidade se dá com a publicação da obra Summa di Aritmetica Geometria
Proportioni et Proportionalita, do frei italiano Luca Pacioli.
/
Fonte: Stockholms Universitetsbibliotek / Wikimedia
Página de rosto da Summa de aritmética, geometria, proporções e proporcionalidade por Luca Pacioli,
edição de 1523.
RELEMBRANDO
/
Assim como você viu no Módulo 1, Pacioli não é o criador das técnicas publicadas em seu livro, onde afirma
que apenas descreveu técnicas largamente utilizadas pelos comerciantes italianos, em particular o método
das partidas dobradas.
Apesar de não ser o autor da técnica, Pacioli é o responsável por sua difusão. Com a publicação de sua
obra, a técnica básica de escrituração contábil ganhou a Europa e tornou-se dominante.
Por esse motivo, alguns autores definem a publicação de Pacioli como o início do pensamento científico
da contabilidade (IUDÍCIBUS; MARION, 1999). Houve, porém, poucos avanços dignos de nota, de modo
que seria mais adequado redefinir esse período de relativa estagnação como período pré-científico.
CONTISMO
Após Pacioli, mas ainda no período pré-científico, a primeira escola de pensamento contábil relevante
nasceu na França: o Contismo (RICKEN, 2003). Um dos participantes mais ativos dessa escola foi
Matthieu La Porte que editou o livro La science des négocians et teneurs de livres, em 1712. Lopes de
Sá (1997) assinala que:
Até o início do século XIX, o Contismo ainda possuía muitos seguidores, apesar do surgimento de novas
escolas (RICKEN, 2003). Somente nas primeiras décadas desse século é que o Contismo foi sufocado
pela Escola Lombarda de Francesco Villa e pela Escola Personalista, de Francesco Marchi e depois
Giuseppe Cerboni, difundidas principalmente na Itália.
/
A ESCOLA LOMBARDA
/
Fonte: Wikimedia
Retrado de Francesco Marchi
A ESCOLA PERSONALISTA
Uma variante da Escola Personalista foi a Escola Personalista das Contas, estabelecida por Giuseppe
Cerboni, em 1873. Ele construiu a teoria personalista das contas, a partir do trabalho de Marchi
(RICKEN, 2003). O mesmo defendia que a contabilidade, no fim do século XIX, já havia saído da era de
transição pré-científica, entrando definitivamente no estágio científico. Nesse estágio, ela não mais
simplesmente registrava e contava as riquezas, mas contribuía nas áreas jurídica e administrativa das
entidades.
/
Fonte: Freepik / Freepik
A teoria personalista teve extraordinário impulso com o trabalho desenvolvido por Cerboni, que teve
grande interesse pelo aspecto jurídico das relações entre o proprietário e a entidade. aspecto esse não
abordado no trabalho de Marchi. Marchi não abrodou esse aspecto em seu trabalho e, por isso, é
considerado o iniciador da teoria personalista, enquanto Cerboni é o construtor (SCHMIDT, 2000). Na
teoria personalista, cada conta assume a configuração de uma pessoa no seu relacionamento com a
empresa ou entidade (NEVES; VICECONTI, 2009). Assim:
Podemos concluir, então, que as obrigações e o patrimônio líquido são pessoas credoras e representam
aquelas pessoas que têm a receber da sociedade, enquanto os bens e direitos são pessoas devedoras
em relação à entidade. Na época, não existia o conceito de pessoa jurídica, tal como conhecemos
atualmente, e o comerciante era considerado o proprietário dos bens que adquiria e comercializava. Os
relacionamentos comerciais eram pessoais. Dessa forma, o dinheiro que ele entregava ao banqueiro
como depósito seria o correspondente da moderna conta "Bancos conta movimento"; a importância que
ele devia a outro comerciante corresponderia à conta fornecedores e assim por diante.
/
Embora dominante no século XIX, a Escola Personalista era alvo de críticas, cujos principais
argumentos eram:
A contabilidade estava se transformando em um campo com conteúdo excessivo por querer englobar
toda a administração da entidade.
/
Fonte: flaticon / Freepik
As funções econômicas variavam demasiadamente de uma entidade para outra. Contudo, Cerboni
pensava ter encontrado um sistema de funções administrativas único, que serviria para todas as
entidades.
(RICKEN, 2003)
II
Contas diferenciais, que representam as contas do patrimônio líquido e suas variações inclusive as
receitas e despesas.
O patrimônio é constituído pelas contas materiais ou integrais, ou seja, as contas representativas dos
bens, direitos e obrigações. As contas de patrimônio líquido, que representam a diferença entre os bens
os direitos e as obrigações são as contas diferenciais.
/
MODERNA ESCOLA ITALIANA OU AZIENDALISMO
A Escola Controlista é sucedida pela Moderna Escola Italiana ou Aziendalismo, com destaque para a
figura de Gino Zappa, que criticava os que faziam da contabilidade um simples instrumento e propunha
uma ciência da economia aziendal, que deveria preocupar-se com todos os fenômenos aziendais,
assumindo a gestão e organização de toda azienda (RICKEN, 2003). Também não achava correto ter
uma posição totalmente pragmática, preocupando-se somente com a forma de registrar e esquecendo-
se da ciência que é a essência da forma. Segundo Lopes de Sá (1997):
ESCOLA PATRIMONIALISTA
Ricken (2003) assinala que a sociedade sempre precisou registrar aquilo que possuía por necessidade
de se saber quantos eram seus bens e como melhor administrá-los. Com isso, percebe-se que, de fato,
o foco de preocupação sempre esteve na riqueza e não no registro da riqueza. Dessa forma, o
argumento central do Patrimonialismo sempre esteve presente, embora até aquele ponto não tivesse
sido reconhecido como escola de pensamento ou teoria.
Os Patrimonialistas estendiam essa crítica a outras escolas além da Contista, como a personalista, a
controlista e a aziendalista, pois alegavam que elas também davam mais importância à forma (que é
apenas a parte instrumental de nossa disciplina, ou seja, os registros e as demonstrações), do que à
essência (que é a parte fundamental que deveríamos nos ocupar, ou seja, o estudo do fenômeno
patrimonial). Segundo Neves e Viceconti (2009), na Teoria Patrimonialista, o patrimônio é o objeto a ser
administrado. Dividindo-se da seguinte maneira: as contas que representam a situação estática são
separadas das contas que representam a situação dinâmica. Vejamos:
CONTAS PATRIMONIAIS
Representam a situação estática, ou seja, bens, direitos, obrigações com terceiros e o patrimônio
líquido.
CONTAS DE RESULTADO
Representam a situação dinâmica, ou seja, as contas que alteram o patrimônio líquido: receitas e
despesas.
ESCOLA NEOCONTISTA
A partir do fim do século XIX, a França novamente busca um patamar de destaque na Contabilidade,
com a nova escola denominada Neocontista. Essa escola surge com um movimento que contraria o
personalismo das contas (Cerboni) e defende o valor das contas. Seu principal colaborador foi Jean
Dumarchey que reelaborou o Contismo como corrente de pensamento. Segundo Dumarchey (1933):
/
O VALOR É A PEDRA ANGULAR DA CONTABILIDADE. PARA
ELE, A IDEIA DE VALOR É QUE FUNDAMENTA A TEORIA DA
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL E DAS CONTAS, QUE DEVEM
REFLETIR O VALOR DOS COMPONENTES PATRIMONIAIS.
PARA DUMARCHEY, A CONTABILIDADE É UMA CIÊNCIA
SOCIAL, QUE APENAS USA A MATEMÁTICA PARA SEU
AUXÍLIO, ASSIM COMO MANTÉM RELAÇÃO COM
ECONOMIA, SOCIOLOGIA E FILOSOFIA.
(Dumarchey , 1933)
Segundo a doutrina da Escola Neocontista, as contas são divididas em ativo, passivo e situação líquida.
As contas do ativo e do passivo são representadas por valores concretos (ou valores diretos ou reais), e
a conta da situação líquida é representada por valores abstratos (ou derivados) (SCHMIDT, 2000).
(IUDÍCIBUS, 1997)
Enquanto declinavam as escolas europeias, florescia a Escola Norte-Americana com suas teorias e
práticas contábeis, favorecida não apenas pelo apoio de uma ampla estrutura econômica e política, mas
também pela pesquisa e trabalho sério dos órgãos associativos (AMORIM, 1999).
A ESCOLA NORTE-AMERICANA DE
CONTABILIDADE: A VITÓRIA DA INFORMAÇÃO
SOBRE O PATRIMÔNIO
A escola norte-americana ergueu-se com toda força, principalmente, com o desenvolvimento industrial.
A escola desenvolvia-se por meio da atuação das associações, com grande ênfase em satisfazer os
vários usuários da contabilidade.
/
Fonte: Isis França / unplash
A escola norte-americana tem como principal característica seu aspecto prático, que trata dos aspectos
gerenciais (como contabilidade de custos, controle orçamentário, análise de demonstrações contábeis e
outros), mas também trata dos aspectos financeiros da Contabilidade. Nos aspectos teóricos, a escola
norte-americana voltou-se para a explicação da prática contábil.
Um dos principais pontos que também fizeram com que essa escola pendesse para o lado prático foi a
época em que ela surgiu. Nesse período, a demanda por informações gerenciais (para fins de gestão e
administração das empresas) e também de informações financeiras (para atender a acionistas,
investidores, credores e ao governo) era muito intensa. Com isso, a contabilidade passava a ter um
papel cada vez mais complexo dentro das organizações. Segundo Iudícibus e Marion (1999) e Iudícibus
(1997), algumas razões da ascensão da Escola Norte-Americana são:
Ênfase no usuário da informação contábil: a contabilidade é apresentada como algo útil para
a tomada de decisões; atender os usuários é o grande objetivo.
/
Procura das universidades em busca da qualidade: grandes quantias foram dedicadas para
as pesquisas no
campo contábil.
Considera-se que a Escola Aziendalista foi a primeira escola que oficialmente ensinou contabilidade em
nosso país, baseando-se principalmente nas obras de Fabio Besta, como você já viu.
A decadência das escolas europeias, acompanhada pela ascensão da escola norte-americana, porém,
também teve consequências no Brasil.
/
Gradualmente, a influência externa sobre a escola brasileira foi migrando da Escola Italiana para a
Escola Norte-americana. Segundo Marion (1986), a mudança de enfoque da Escola Italiana para a
Escola Norte-americana deu-se em função da influência de algumas empresas de auditoria, que
acompanhavam as multinacionais norte-americanas.
MULTINACIONAIS NORTE-AMERICANAS
Para Schmidt (2000), a contabilidade nacional pode ser dividida entre antes de 1964 e depois de 1964:
(Schmidt, 2000)
Antes desse momento histórico, a Escola Brasileira sofria maior influência das escolas europeias; depois
dele, passou a ser mais influenciada pela escola norte-americana. A convergência brasileira às normas
internacionais de contabilidade por meio da Lei n. 11.638/07 aproximou a escola brasileira das escolas
anglo-saxãs de maneira definitiva. A uniformização decorrente do processo de convergência eliminará
as particularidades locais em prol de uma escola de contabilidade única, internacional.
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) aziendalista.
B) patrimonialista.
C) contista.
D) personalista.
GABARITO
Na Teoria Patrimonialista, o patrimônio é o objeto a ser administrado. Surge como uma crítica ao
contismo e suas variantes, as quais acusava de privilegiar a forma, o registro, em relação à essência, o
patrimônio.
A escola norte-americana volta-se à prestação da informação contábil útil, amparada nos conceitos de
relevância e representação fidedigna, e voltada à entidade moderna, onde proprietário e gestor não se
confundem. As escolas europeias focavam, ora os registros, ora o patrimônio, num ambiente em que a
moderna pessoa jurídica não existia e o proprietário e o gestor eram a mesma pessoa.
MÓDULO 3
/
OS PRINCÍPIOS DA CONTABILIDADE
POSTULADO
Vamos começar entendendo o que é postulado. Para isso, observe as definições a seguir:
(IUDÍCIBUS, 2009)
/
POSTULADOS SÃO ENUNCIADOS MAIS GENÉRICOS AOS
QUAIS SE LIGAM OS PRINCÍPIOS E CONVENÇÕES.
Riahi-Belkaoui (2000)
Portanto, é correto dizer que os postulados representam alicerces sobre os quais se desenvolve o
raciocínio contábil, isto é, os postulados são balizadores essenciais para o alcance dos objetivos
propostos. São dois os postulados de contabilidade consagrados no Brasil, como veremos a seguir.
POSTULADO DA ENTIDADE
Nesses termos, uma entidade contábil pode, teoricamente, ser constituída a partir de qualquer
organização humana com existência formal na realidade ou não. Pode ser uma pessoa física, uma
empresa, um município, um estado, ou um país. O patrimônio é condição fundamental para a existência
da entidade contábil, ou seja, apenas quando o patrimônio está juridicamente formalizado como
pertencente à entidade poderá ser objeto da contabilidade.
/
Fonte: snowing / freepik
Avançando do abstrato para o concreto, pense numa pessoa física constituída como
microempreendedor individual (MEI). Considerando que o MEI exerce controle sobre recursos, aceita
responsabilidade por assumir e cumprir compromissos e conduz a atividade econômica, o MEI é uma
entidade contábil, embora seja uma pessoa física.
/
Pense, agora, em um exemplo contrário: o grupo econômico Petrobras, com mais de uma centena de
empresas sob controle da holding. Cada uma dessas empresas é uma entidade contábil independente
com patrimônio juridicamente formalizado. Interessa, no entanto, ao usuário da informação contábil uma
visão consolidada do grupo econômico, o que motiva a formação de uma unidade de natureza
econômico-contábil, representada pela consolidação do grupo econômico Petrobras numa única
"empresa" reunindo as informações de todas as empresas integrantes do grupo.
Tal "empresa" não possui autonomia sobre o patrimônio, razão pela qual não forma uma entidade
contábil. De maneira similar, o interesse do usuário final da informação contábil do grupo Petrobras pode
voltar-se para a atuação da empresa em setores específicos da economia. Nesse sentido, as
informações das empresas do grupo que atuem em segmentos econômicos específicos são
consolidadas numa única "empresa", formando também uma unidade de natureza econômico-contábil,
mas não uma entidade. O patrimônio de uma entidade é o conjunto de bens, direitos e de obrigações
para com terceiros juridicamente formalizados como pertencentes à entidade. Veja o quadro abaixo.
Patrimônio
Bens Obrigações
Direitos
O patrimônio pertence à entidade e não se confunde com o patrimônio dos sócios. Do patrimônio deriva
o conceito de patrimônio líquido, mediante a equação considerada básica na contabilidade, conforme
abaixo:
Patrimônio
Bens Obrigações
O patrimônio líquido não é uma dívida da entidade para com seus sócios ou acionistas, pois eles não
emprestam recursos para que ela possa ter vida própria; os recursos são entregues à entidade para que
formem seu patrimônio.
/
POSTULADO DA CONTINUIDADE
O Postulado da Continuidade prevê que o processo contábil deve ser desenvolvido supondo-se que a
entidade nunca terá um fim, ou seja, não tem prazo estimado de duração. A suspensão das suas
atividades pode provocar efeitos na utilidade de determinados ativos, com a perda, até mesmo integral,
de seu valor. A queda no nível de ocupação pode também provocar efeitos semelhantes.
De maneira geral, as entidades contábeis são constituídas para atuar por um período indeterminado
(HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). A implicação imediata dessa premissa é que a entidade contábil
continuará funcionando por tempo suficiente para cumprir seus compromissos existentes. O conceito
fundamental de continuidade fundamenta a utilização do custo histórico como base de valor. As
implicações do conceito da continuidade, também denominado "going concern", na composição do
patrimônio da entidade, são mais bem compreendidas quando utilizamos seu contrário.
EXEMPLO
Pense, por exemplo, em uma empresa que cessou suas atividades, portanto, teve sua continuidade
interrompida e vamos avaliar seus efeitos. Os ativos avaliados pelo custo histórico devem ser reavaliados
pelo preço de liquidação, ou venda forçada. Dessa forma, todo o imobilizado deve sofrer um impairment
correspondente à diferença entre o custo histórico e o valor de venda forçada. Ativos diferidos, ou seja,
despesas reconhecidas como ativos em obediência ao conceito da competência (visto mais à frente), devem
ser baixados como despesa, uma vez que a atividade operacional que geraria as receitas futuras que
amparam o registro do ativo não acontecerão. A redução do valor do patrimônio líquido da entidade é a
contrapartida contábil desses eventos e revela o valor embutido na presunção de continuidade.
PRINCÍPIOS
A ciência contábil sustenta-se em princípios. Princípios são verdades fundamentais; uma lei ou doutrina
abrangente, da qual outras decorrem, ou nas quais outras estão baseadas; uma verdade geral; uma
proposição básica ou premissa fundamental; uma máxima; um axioma; um postulado. São, portanto,
uma lei ou regra geral considerada diretriz de ação; uma base aceita de conduta ou prática. É preciso
diferenciar os princípios em sua concepção filosófica das concepções legais definidas nas estruturas
conceituais do regramento contábil (IUDÍCIBUS et al., 2020). /
Fonte: freepik / freepik
A última versão dos princípios de contabilidade anterior à revogação, elencava os seguintes princípios:
Entidade
Continuidade
Oportunidade
Competência
Prudência
/
CONVENÇÕES
Convenções são conceitos que servem como um guia para o profissional da área contábil, normatizando
padrões de conduta na hora de escriturar os fatos contábeis, tais como:
Objetividade
Conservadorismo
Materialidade
Evidenciação
Uma informação contábil-financeira possui valor preditivo quando puder ser utilizada como um dado de
entrada em processos utilizados pelos usuários para predizer resultados futuros da entidade que reporta
a informação. Essa informação com valor preditivo não precisa ser uma predição ou uma projeção, mas
deve permitir que os usuários possam fazer suas próprias predições.
/
Fonte: pch.vector / freepik
Do ponto de vista do FASB, normatizador norte-americano, o conceito de valor preditivo é definido como
a qualidade da informação em auxiliar os usuários a aumentar a probabilidade de realização de
previsões corretas sobre os efeitos de eventos passados e presentes (FASB, 1990). O American
Accounting Association Committee (AAAC), citado por Hendriksen e Van Breda (1999), sugere a
existência de ao menos quatro caminhos pelos quais a informação contábil apresentaria valor preditivo.
Veja a seguir um resumo de todos eles:
VALOR PREDITIVO
/
EXEMPLO
De forma semelhante, é a partir de informações sobre o estado financeiro atual de uma companhia e
das mudanças observadas nesse estado, que previsões de sucesso, fracasso, crescimento ou
estagnação podem ser inferidas. Os usuários da informação contábil preferem fontes de informação e
métodos analíticos que tenham maior valor preditivo para atender a seus objetivos específicos. Valor
preditivo, aqui, significa valor como input num processo preditivo, e não, como uma previsão direta.
/
Fonte: cookie_studio / freepik
A investigação superior da contabilidade, aliada à sua técnica e lógica, tende a aplicar o princípio da
essência sobre a forma, a fim de obter uma autônoma interpretação dos fatos que ocorrem no
patrimônio (SILVA, 2011). O princípio da essência sobre a forma regula como entender substancialmente
um acontecimento, no seu funcionamento real, de existência, de interpretação, sobre a sua forma de
expressão (SILVA, 2011). A forma é a materialização da essência, ou sua manifestação demonstrativa;
se o fato acontece, há uma essência, e o registro é uma forma de torná-lo inteligível, então, o primeiro
passo para se ver a forma é que a essência exista como fenômeno.
Para que haja essência sobre a forma, deve haver realidade, existência, substância, mas em conexão
com os fenômenos patrimoniais. Deve, portanto, haver o fato, sem o qual não há como avançar em
qualquer análise. No exemplo citado a seguir, você vai entender que, para que haja essência sobre a
forma, deve haver realidade, existência, substância, mas em conexão com os fenômenos patrimoniais:
TÉCNICA
Reúnem os detalhes relacionados aos conceitos e procedimentos da área.
PROFISSIONAL
Servem para regulamentar as ações dos contadores em seu exercício.
/
As NBC seguem os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais e
compreendem as normas propriamente ditas, as Interpretações Técnicas e os Comunicados Técnicos.
Veja a seguir um extrato dos principais pontos das NBC:
ESTRUTURA
As Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais se estruturam conforme segue:
I - Geral - NBC PG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas indistintamente a todos os
profissionais de Contabilidade;
II - do Auditor Independente - NBC PA - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas,
especificamente, aos contadores que atuam como auditores independentes;
III - do Auditor Interno - NBC PI - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente
aos contadores que atuam como auditores internos;
IV - do Perito - NBC PP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente aos
contadores que atuam como peritos contábeis.
A estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade foi definida através da Resolução CFC 1.328/2011.
O Comunicado Técnico tem por objetivo esclarecer assuntos de natureza contábil, com a definição de
procedimentos a serem observados, considerando os interesses da profissão e as demandas da
sociedade.
INOBSERVÂNCIA
A inobservância às Normas Brasileiras de Contabilidade constitui infração disciplinar sujeita às
penalidades previstas nas alíneas de "c" a "g" do art. 27 do Decreto-Lei nº 9.295/46, alterado pela Lei nº
12.249/10, e ao Código de Ética Profissional do Contador.
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) não for capaz de retroalimentar – servir de feedback – avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las).
D) Puder ser utilizada como dado de entrada em processos empregados pelos usuários para predizer
futuros resultados.
/
INDEPENDENTEMENTE DA FORMA JURÍDICA. COM BASE NESSA
INFORMAÇÃO, AS DUPLICATAS DESCONTADAS CLASSIFICAM-SE:
A) no passivo.
B) no ativo circulante.
GABARITO
Quando essência e forma não forem as mesmas, a essência deve ser privilegiada para que o fenômeno
econômico seja representado de maneira fidedigna. Em consequência um desconto de duplicata, antes
registrado como uma redução do ativo duplicatas a receber, passou a ser registrado como passivo, uma
vez que sua essência é de operação de crédito tomada pela entidade.
CONCLUSÃO /
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, vimos a evolução histórica da contabilidade e a longa transição de uma perspectiva de
controle do patrimônio para outra de prestação de informações. Esse caminhar revela-se na queda das
escolas europeias e na ascensão da escola norte-americana, uma perspectiva particular sobre as
escolas de pensamento da contabilidade. A prevalência do valor preditivo da informação contábil e da
essência sobre a forma representam a vitória da abordagem informacional sobre a abordagem
puramente patrimonial.
REFERÊNCIAS
AMORIM, L. P. A evolução histórica dos cursos de contabilidade em Santa Catarina. Florianópolis:
CRCSC, 1999.
DANTAS, J. A.; NYIAMA, J. K.; RODRIGUES, F.; MENDES, P. C. Normatização contábil baseada em
princípios ou em regras? Benefícios, custos, oportunidades e riscos. RCO – Revista de Contabilidade
e Organizações, FEA-RP/USP, v. 4, n. 9, p. 3-29, 2010.
Hendriksen, E.; Van Breda, M. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, S.; OLIVEIRA, V. R. F.; NIYAMA, J. K.; BEUREN, I. M. Reflexões sobre as bases filosóficas
dos princípios contábeis. Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 158-
173, jan./mar., 2020.
LOPES DE SÁ, A. História geral e das doutrinas da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997.
Neves, S.; Viceconti, P. Contabilidade básica. 14. ed. São Paulo: Frase, 2009.
Niyama, J.; Iudícibus, S.; Beuren, I. M. Reflexões sobre as bases filosóficas dos princípios contábeis.
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 158-173, 2020.
Sidebotham, R.; BROWN, R.; CHANDLER, G.; DAVIS. W. A. Introduction to the Theory and Context
of Accounting. Oxford: Elsevier, 1970.
SILVA, A. O Princípio da essência sobre a forma e o leasing. Revista Mineira de Contabilidade, Belo
Horizonte, ano 12, n. 41, p. 34-41, 2011.
EXPLORE+
A história da contabilidade é rica em eventos que provocaram mudanças estruturais em sua abordagem.
Nas sugestões de leitura a seguir, são apresentadas a evolução histórica da contabilidade, com
destaque para as rupturas no pensamento e prática da contabilidade que a transformaram no que é
hoje.
/
História do pensamento contábil: com ênfase na história da contabilidade brasileira.
Antonio Carlos Ribeiro da Silva e Wilson Thomé Sardinha Martins
CONTEUDISTA
José Américo Pereira Antunes
CURRÍCULO LATTES