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FISIOLOGIA GERAL

E DO MOVIMENTO

PROFESSOR
Dr. Felipe Natali Almeida
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


ALMEIDA, Felipe Natali.
Fisiologia Geral e do Movimento. Felipe Natali Almeida.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpressão 2019
160 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Fisiologia . 2. Sistema Esquelético . 3. Hormônios . 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1025-1
CDD - 22ª Ed. 612.04
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho,
Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff,
Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção
de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de
Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência de projetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Mara
Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva,
Designer Educacional Ana Claudia Salvadego e Nayara Valenciano, Revisão Textual Felipe Veiga
da Fonseca, Ilustração Bruno Cesar Pardinho Figueiredo, Gabriel Amaral Da Silva, Marcelo Yukio
Goto, Marta Sayuri Kakitani, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande as demandas institucionais e sociais; a realização
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, de uma prática acadêmica que contribua para o
informação, conhecimento de qualidade, novas desenvolvimento da consciência social e política e, por
habilidades para liderança e solução de problemas fim, a democratização do conhecimento acadêmico
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência com a articulação e a integração com a sociedade.
no mundo do trabalho. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: ser reconhecida como uma instituição universitária
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará de referência regional e nacional pela qualidade
grande diferença no futuro. e compromisso do corpo docente; aquisição de
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume competências institucionais para o desenvolvimento
o compromisso de democratizar o conhecimento por de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos universitária; qualidade da oferta dos ensinos
brasileiros. presencial e a distância; bem-estar e satisfação da
No cumprimento de sua missão – “promover a comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica
educação de qualidade nas diferentes áreas do e administrativa; compromisso social de inclusão;
conhecimento, formando profissionais cidadãos que processos de cooperação e parceria com o mundo
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade do trabalho, como também pelo compromisso
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar e relacionamento permanente com os egressos,
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com incentivando a educação continuada.
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Janes Fidélis Tomelin Kátia Solange Coelho Fabrício Lazilha


Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autor

Professor Dr. Felipe Natali Almeida


Doutor em Fisiologia Humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Univer-
sidade de São Paulo - USP (2012). Mestre em Ciências Biológicas pela Univer-
sidade Estadual de Maringá - UEM (2008) e graduado em Educação Física pela
mesma universidade (2005). Foi professor de Fisiologia Humana e do Exercício,
Anatomia e Bioquímica em diversos cursos da área da saúde.
Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8674351329205771>.
apresentação do material

FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Felipe Natali Almeida

Prezado(a) aluno(a), com este livro entraremos no universo da fisiologia. A


fisiologia é a disciplina que estuda as funções dos sistemas corporais. Ou seja,
iremos entender como o organismo humano funciona e, mais do que isso, tam-
bém procuraremos compreender como ele funciona durante o exercício físico.
Num primeiro momento, trazemos de volta um conteúdo a pouco estudado
por você anteriormente. Falaremos sobre métodos de obtenção de energia (em
nosso tópico de bioenergética), ou seja, discutiremos os mecanismos anaeróbios
e aeróbios de produção de ATP e traçaremos uma relação destes mecanismos
com o exercício físico (em nosso tópico de metabolismo do exercício físico),
ambos na Unidade I. Com base no conhecimento adquirido nesta unidade,
podemos entender como conseguimos energia rapidamente para executar
uma corrida de 100m e/ou atravessar uma rua correndo, assim como correr
uma maratona.
Posteriormente, trabalharemos com dois sistemas fisiológicos de fundamental
importância para a obtenção de oxigênio e remoção do gás carbônico em nosso
organismo: o sistema cardiovascular e o sistema respiratório. O primeiro, respon-
sável por, através do sangue, distribuir o oxigênio a todos os tecidos corporais de
acordo com a demanda e remover os dejetos metabólicos; o segundo, responsável
por oxigenar o sangue e remover o gás carbônico. Ambos aumentando sua ativi-
dade em exercício físico.
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Em geral, uma boa parte da energia produzida ao longo de um dia por meio dos
processos aeróbios e anaeróbios tem por finalidade proporcionar a contração muscu-
lar, em especial quando estamos realizando algum exercício físico. Além de energia,
uma integração entre o sistema nervoso central e o músculo esquelético é necessária
para que a contração muscular venha a ocorrer e, na Unidade III, discutiremos os
passos dessa interação.
Na unidade IV, entramos em contato com os hormônios. Durante nossa dis-
cussão sobre o sistema endócrino (nome que damos ao sistema que compreende
os tecidos corporais envolvidos na liberação dos hormônios) observaremos o
papel dos principais hormônios produzidos pelo organismo humano, além de sua
relação com o exercício físico.
Finalizando, em nossa Unidade V, discutiremos sobre uma importante asso-
ciação: atividade física e o desenvolvimento da saúde. Devemos saber que saúde é
muito mais do que ausência de doença, e engloba um completo bem-estar físico,
emocional, mental e espiritual. A prática regular de exercícios físicos é um dos
elementos fundamentais para uma saúde plena. Além desta relação, também dis-
cutiremos sobre a prática de exercícios para populações especiais como diabéticos,
hipertensos, idosos entre outros.
Espero que você aproveite ao máximo este material, extraia o máximo de in-
formação possível, se dedique e estude para que em um futuro próximo tenhamos
profissionais diferenciados ingressando no mercado de trabalho.
Um abraço.

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sum ário

UNIDADE I UNIDADE III


BIOENERGÉTICA E METABOLISMO DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO E A
EXERCÍCIO FÍSICO: COMO O CORPO OBTÉM ENERGIA? GERAÇÃO DO MOVIMENTO
14 Demandas Energéticas 84 O Sistema Nervoso e o Movimento
16 Substratos Energéticos 86 Grandes Vias Motoras
22 Bioenergética 90 O Músculo Esquelético e sua Relação com o
Movimento Humano
34 Metabolismo do Exercício
102 Considerações finais
39 Considerações finais
108 Referências
44 Referências
108 Gabarito
44 Gabarito

UNIDADE IV
UNIDADE II
HORMÔNIOS E EXERCÍCIO FÍSICO
SISTEMAS FORNECEDORES DE OXIGÊNIO:
SISTEMA CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO E SUA 114 Visão Geral do Sistema Endócrino
RELAÇÃO COM O EXERCÍCIO FÍSICO 118 Hormônios: Funções e sua Relação com o
50 Sistema Cardiovascular Exercício Físico
60 Funcionamento do Sistema Cardiovascular 128 Considerações finais
em Exercício 133 Referências
66 Sistema Respiratório 133 Gabarito
72 Respostas do Sistema Respiratório ao Exer-
cício Físico UNIDADE V
74 Considerações finais FISIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA VOLTADA PARA A SAÚDE
79 Referências 138 Atividade Física e Saúde
79 Gabarito 142 Exercícios Para Populações Especiais
154 Considerações finais
159 Referências
159 Gabarito
160 Conclusão geral
BIOENERGÉTICA E METABOLISMO
DO EXERCÍCIO FÍSICO: COMO O
CORPO OBTÉM ENERGIA?

Professor Dr. Felipe Natali Almeida

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Demandas energéticas
• Substratos energéticos
• Bioenergética
• Metabolismo no exercício

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os elementos envolvidos no gasto
energético.
• Discutir sobre os diferentes tipos de substratos
energéticos.
• Entender o conceito de fosfato de alta energia.
• Abordar o conceito de bioenergética por meio da discussão
sobre a produção anaeróbia e aeróbia de ATP.
• Discutir o metabolismo energético mediante a interação do
uso das vias anaeróbias e aeróbias de ressíntese de ATP no
repouso e nas diferentes fases do exercício.
unidade

I
INTRODUÇÃO

O
lá, seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a). Trataremos nesta uni-
dade de um dos assuntos que nos dão a base para o entendi-
mento da fisiologia. Alguns conceitos abordados aqui já po-
dem ter sido apresentados inicialmente a você no módulo de
bases biológicas e deverão ser trazidos novamente à mente nesta unidade.
Iniciamos nosso estudo por meio de uma visão geral sobre as neces-
sidades energéticas para o funcionamento corporal e os substratos neces-
sários para isso, com os conteúdos abordados em nossas duas primeiras
subunidades (demandas energéticas e substratos energéticos). Em adição
à visão global do gasto energético, sabemos que milhares de reações bio-
químicas ocorrem em todo o corpo a todo o momento, sendo o conjunto
destas reações químicas denominadas de metabolismo. Dentro do gran-
de grupo “metabolismo”, como todas as células necessitam de energia,
não surpreende que as células sejam dotadas de vias bioquímicas capazes
de converter alimentos em uma forma de energia biologicamente utilizá-
vel, processo este chamado de bioenergética.
Sendo assim, para que possamos realizar nossas atividades cotidia-
nas, como se deslocar, escrever, digitar, pensar, assim como para reali-
zação de exercícios físicos, nossas células devem ser capazes de extrair
a energia contida nos alimentos. Sem essa capacidade de extração da
energia dos alimentos, limitaríamos nossa capacidade de resistir aos es-
forços e rapidamente teríamos que interromper as atividades, visto que
para contração muscular, as fibras musculares precisam de uma fonte de
energia contínua, sendo as reações envolvidas nesses processos descritas
no tópico 3 intitulado de “Bioenergética”. Seguido esse assunto, no tópico
4, realizamos uma abordagem voltada ao exercício físico, descrevendo as
particularidades da bioenergética neste contexto. Em suma, dada a im-
portância da produção de energia celular durante todas as atividades di-
árias e, em especial, para realização de exercício físico, torna-se essencial
um bom nível de conhecimento sobre esse assunto.
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Demandas Energéticas
Por que nos alimentamos? Você já se fez esta pergunta? 2. Manutenção de um meio interno equilibrado
De uma forma geral, nos alimentamos (Figura 1), pois (manter as funções vitais dentro de uma fai-
por meio desse ato obtemos, em primeiro lugar, mate- xa de normalidade compatível com a vida) e,
depois que as necessidades basais (para ma-
riais que nos ajudam a construir ou renovar elemen-
nutenção de funções vitais) são preenchidas,
tos do nosso corpo (como quando você se machuca e
a energia adicional pode ser canalizada para:
precisa produzir tecido para renovar a lesão ou quan-
• estoque (na forma do gordura corporal ou
do você treina e precisa de proteína para hipertrofia
glicogênio hepático e muscular) e/ou
muscular) e energia que possibilita ao corpo realizar 2
• usada como combustível para uma ativida-
tarefas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011): de extra como, por exemplo, um exercício
1. Construção do nosso corpo (crescimento dos físico, passear com o cachorro, lavar o car-
tecidos, ganho e massa muscular, renovação ro, entre outras atividades cotidianas.
das células, construção de organelas celulares
entre outros).

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EDUCAÇÃO FÍSICA

a. Taxa metabólica basal (ou de repouso):


energia necessária para manutenção dos sis-
temas corporais.
b. Efeito térmico dos alimentos: aumento do
gasto de energia que segue a ingestão da
comida e está associada à digestão, à ab-
sorção e ao metabolismo dos alimentos e
de seus nutrientes.
c. Efeito térmico das atividades: gasto de ener-
gia associado à realização de movimentos
Figura 1 - Alimentos consumidos cotidianamente formam a base ener- espontâneos e de atividades musculares pla-
gética para produção de ATP nejadas (incluindo aqui atividades cotidia-
nas, como lavar um carro e limpar a casa, por
Logo, para manter nosso organismo funcionan- exemplo, assim como a realização de exercí-
do, precisamos gastar energia e ao gasto energéti- cios físicos efetivamente).
co ocorrido em 24 horas damos o nome de “gasto d. Gastos com o crescimento.
energético diário”. De uma forma geral, ele pode ser
subdividido em quatro elementos (Figura 2):

- Dependente da fase do
Crescimento desenvolvimento do indivíduo

Atividades físicas cotidianas


Atividade física
- Duração
Exercícios - Intensidade
Gasto energético diário - Massa corporal magra

Efeito térmico - Quantidade e tipo dos


dos alimentos alimentos consumidos

- Genética
- Idade
Taxa metabólica - Sexo
- Massa corporal magra
basal - Área de superfície
- Níveis hormonais
- Atividade do sistema nervoso
Figura 2 - Elementos do gasto energético diário
Fonte: adaptado de Maughan e Burke (2004).

Importante salientar que esses quatro elementos po- (MAUGHAN; BURKE, 2004). A Figura 2 também
dem ser influenciados, aumentando ou diminuin- apresenta os principais agentes influenciadores de
do sua participação no gasto energético diário total cada um deles.

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FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Substratos Energéticos

Como vimos, o corpo gasta energia para se manter principais, enquanto as proteínas têm um papel se-
funcionando (gasto energético diário) e durante o cundário na geração da energia utilizada, tanto em
processo de consumo alimentar, macro e micronu- repouso quanto em exercício (McARDLE; KATCH;
trientes devem fazer parte das refeições diárias e são KATCH, 2011 e MAUGHAN; BURKE, 2004).
de fundamental importância para que a homeostasia Para suprir a demanda por energia ao longo das
do corpo possa ser mantida. Carboidratos, gorduras 24 horas do dia, poucos são os substratos energéti-
e proteínas são os representantes dos macronutrien- cos que podem ser utilizados. Dentre os substratos
tes, elementos que entre outras funções são respon- energéticos temos os carboidratos, as gorduras e as
sáveis por produzir a energia a ser utilizada pelo cor- proteínas como seus representantes principais. Ini-
po. Carboidratos e gorduras são os macronutrientes ciaremos nosso estudo pelos carboidratos.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

CARBOIDRATOS
Os polissacarídeos são os carboidratos comple-
xos que contêm pelo menos três monossacarídeos
unidos. Eles podem ser moléculas pequenas (que
contêm três monossacarídeos) ou moléculas muito
amplas (que contêm centenas de monossacarídeos,
incluindo várias ramificações de sua cadeia linear).
Em geral, os polissacarídeos são classificados de
acordo com sua origem, sendo possível a origem
vegetal e a origem animal. As duas formas mais
comuns de polissacarídeos de origem vegetal são a
Figura 3 - Exemplos de carboidratos na alimentação cotidiana celulose e o amido. Os seres humanos não possuem
as enzimas utilizadas para digerirem a celulose e,
Os carboidratos (Figura 3) são compostos por áto- portanto, descartam a celulose como resíduo de
mos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Quando material fecal e não conseguem obter energia dela.
armazenados, fornecem ao corpo uma forma de Por outro lado, o amido (encontrado no milho, na
energia rapidamente disponibilizada, com 1g de batata, em grãos, entre outros) é facilmente dige-
carboidrato rendendo pouco mais de 4 kcal de rido pelos humanos e constitui uma fonte impor-
energia. São encontrados em três formas: 1) mo- tante de carboidratos da dieta alimentar. Depois
nossacarídeos, 2) dissacarídeos e 3) polissacarídeos de ingerido, o amido é quebrado para formar mo-
(DEVLIN, 2011). nossacarídeos (visto que no trato gastrointestinal
Os monossacarídeos são os açúcares mais sim- só conseguimos absorver carboidratos na forma de
ples e como exemplos temos a glicose (que muitos monossacarídeos) e pode ser usado imediatamente
conhecem pelo açúcar do sangue), a frutose (que como energia pelas células ou armazenado nestas
seria o açúcar contido nas frutas) e a galactose (o (não como amido, mas sim como glicogênio) para
açúcar contido no leite). Já os dissacarídeos são for- atender necessidades futuras de energia (McARD-
mados pela combinação de dois monossacarídeos. LE; KATCH; KATCH, 2011).
Entre eles temos com importância bioenergética O polissacarídeo armazenado no tecido animal
o açúcar de mesa, denominado quimicamente de é chamado de glicogênio, sintetizado nas células
sacarose, formado pela união de uma molécula de pela ligação de moléculas de glicose. Geralmen-
glicose e outra de frutose. Em adição, temos o dis- te, são moléculas amplas e ramificadas que podem
sacarídeo extraído do leite, a lactose, formado pela conter de centenas a milhares de moléculas de gli-
união de uma molécula de glicose com uma de ga- cose unidas. As células armazenam glicogênio como
lactose, e também a maltose, açúcar presente na cer- uma forma de suprir as necessidades de carboidra-
veja, nos cereais e em sementes em germinação, que tos como fonte de energia. Durante o exercício, por
é formada pela junção de duas moléculas de glicose exemplo, as células musculares quebram o glicogê-
(McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). nio em glicose (processo chamado de glicogenó-

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FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

lise) e usa esta glicose como fonte de energia para por três moléculas de ácidos graxos unidos a uma
a contração muscular. Esse processo também pode molécula de glicerol (que não é gordura, mas um
ocorrer no fígado (local de maior armazenamento tipo de álcool). Embora o maior sítio de armazena-
de glicogênio no corpo humano), porém a glicose é mento de triglicerídeos seja a célula adiposa, essas
liberada na circulação e disponibilizada para todos moléculas também são estocadas em muitos tipos
os tecidos (DEVLIN, 2011). celulares, incluindo o músculo esquelético (deno-
Importante salientar que apesar do corpo hu- minado de triacilglicerol intramuscular, geralmente
mano poder estocar glicose na forma de glicogênio presente em pequenas gotículas localizadas próxi-
tanto no músculo esquelético quanto no fígado, es- mas às mitocôndrias dessas células). Em situações
tas reservas são relativamente pequenas e podem de necessidade, os triglicerídeos podem ser que-
ser depletadas em poucas horas, como resultado de brados, por um processo denominado de lipólise,
um exercício prolongado, especialmente se estive- e seus componentes (ácidos graxos e glicerol) são
rem associadas a uma dieta pobre em carboidrato liberados e usados como substrato energético (o
(McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). glicerol só é utilizado como substrato após ser con-
vertido em glicose no fígado, por gliconeogênese).
GORDURAS Dessa forma, a molécula de triglicerídeo inteira
pode ser usada como fonte de energia (McARDLE;
Embora as gorduras contenham os mesmos ele- KATCH; KATCH, 2011).
mentos químicos presentes nos carboidratos, a Os fosfolipídeos não são usados como fonte de
proporção carbono, oxigênio nas gorduras, é signi- energia (ao menos não como função primordial),
ficativamente maior do que aquela encontrada nos são lipídeos combinados a diferentes moléculas de
carboidratos. A gordura corporal armazenada é um ácido fosfórico, responsáveis por formarem todas
bom combustível para o exercício prolongado, pois as membranas celulares de todas as organelas das
as moléculas de gordura contêm cerca de 9 kcal de células. Já os esteroides apresentam como elemento
energia a cada 1g, mais do que o dobro do conteúdo principal o colesterol, um componente de todas as
de energia de carboidratos ou proteínas. As gordu- membranas biológicas juntamente com os fosfo-
ras são insolúveis em água e podem ser encontra- lipídeos, além de serem utilizados para síntese de
das tanto nos vegetais como nos animais. Em geral, todos os hormônios ditos “esteroides”, onde incluí-
podem ser classificadas em quatro grupos: 1) ácidos mos os hormônios sexuais (estrogênio, progestero-
graxos, 2) triglicerídeos, 3) fosfolipídeos e 4) esteroi- na e testosterona), os glicocorticoides (cortisol) e
des (NELSON; COX, 2014). os mineralocorticoides (aldosterona). As gorduras
Os ácidos graxos são o tipo primário de gordura nos alimentos são encontradas em diversas fontes,
usada pelas células (incluindo aqui as musculares) podendo ser consideradas nutricionalmente bené-
para obtenção de energia. São armazenados no cor- ficas ou maléficas (figura 4) (McARDLE; KATCH;
po na forma de triglicerídeos, que são compostos KATCH, 2011).

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EDUCAÇÃO FÍSICA

cina, a metionina, a treonina, o triptofano e a valina.


Já os aminoácidos não essenciais, ou seja, aqueles
carne que podem ser produzidos pelo organismo, são o
GORDURAS gorda
aspartato, o glutamato, a alanina, a arginina, a aspa-
BOAS
ragina, a cisteína, a glicina, a glutamina, a prolina, a
serina e a tirosina (DEVLIN, 2011).
queijo
Um indivíduo típico de 70kg dispõe de um re-
abacates
servatório corporal de aproximadamente 12kg de
aminoácidos, sendo que a grande maioria deles exis-
te na forma de proteína e uma pequena quantida-
salmão sorvete de (cerca de 200g), na forma de aminoácidos livres.
Durante o dia, acontece um processo constante de
circulação das proteínas, envolvendo a ocorrência
nozes comida simultânea de sua quebra e síntese, e uma troca con-
frita
tínua de aminoácidos entre os vários reservatórios.
GORDURAS O sistema musculoesquelético responde pela maior
RUINS
reserva de proteínas do corpo e também por parte
azeite significativa dos aminoácidos livres (MAUGHAN;
BURKE, 2004).
GORDURAS BOAS vs GORDURAS RUINS Novos aminoácidos podem entrar no reservató-
rio de aminoácidos livres provenientes de três fon-
Figura 4 - Diferentes tipos de gorduras encontradas nos alimentos tes: ingestão alimentar, quebra de proteína existente
no corpo e nova síntese dentro do corpo (lembran-
PROTEÍNAS do que alguns aminoácidos podem ser produzidos
pelo organismo e outros devem ser obrigatoriamen-
As proteínas são macronutrientes compostos por te consumidos, conforme visto anteriormente). Por
unidades menores chamadas de aminoácidos. O outro lado, a saída do reservatório de aminoácidos
corpo necessita de 20 aminoácidos para formar os livres é via secreção no intestino, incorporação a no-
diversos tipos de proteínas necessárias ao bom fun- vas proteínas, oxidação como fonte de energia ou ser
cionamento corporal. Existem nove aminoácidos, convertido em gorduras ou carboidratos (esta últi-
chamados de aminoácidos essenciais, que não po- ma quando as proteínas são consumidas em exces-
dem ser sintetizados pelo corpo e, dessa forma, pre- so) (MAUGHAN; BURKE, 2004). A dinâmica desse
cisam ser consumidos com os alimentos e incluem a processo é observada na Figura 5.
fenilalanina, a histidina, a isoleucina, a lisina, a leu-

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FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Proteínas da dieta Oxidado para


(aminoácidos) produção de
energia

absorção Reservatório síntese


de Proteínas
intestino
aminoácidos do tecido
excreção livres degradação

Nitrogênio Convertido em
Fezes perdido na carboidratos e
(C e N) urina ou suor gorduras

Figura 5 - Ciclo dos aminoácidos no organismo


Fonte: o autor.

Como fonte de energia, as proteínas contêm cerca convertidas em glicose ou em algum intermediário
de 4 kcal por grama, mas devem ser quebradas em das vias metabólicas (processo de gliconeogênese)
aminoácidos para poderem ser utilizadas com este (MAUGHAN; BURKE, 2004).
propósito. Para fornecerem energia, ou deverão ser

SAIBA MAIS

Além dos macronutrientes, os micronutrientes (vitaminas e minerais) também desempenham um papel


chave na otimização da saúde e no desempenho do atleta. Em muitos casos, pode haver aumento na
exigência de determinado micronutriente em consequência da prática de programa regular de exercícios.
No entanto, não existem normas fixas para ingestão de vitaminas e minerais em atletas. Por enquanto,
os estudos ainda não apresentam indícios de que a suplementação vitamínica aumente o desempenho
no exercício, exceto nos casos em que havia deficiência preexistente. Entretanto, desperta interesse no
que tange as vitaminas, um possível papel das antioxidantes na prevenção aos danos causados pela
produção excessiva de radicais livres do oxigênio. Em relação aos minerais, sabe-se que alguns atletas
correm um risco de fazer ingestões subótimas de ferro e cálcio, o que pode afetar negativamente o
desempenho imediato ou a saúde a longo prazo.

Fonte: Maughan e Burke (2004).

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EDUCAÇÃO FÍSICA

FOSFATOS DE ALTA ENERGIA

A fonte de energia imediata para o funcionamento ATP e, ao desfazer estas ligações, a energia liberada
do corpo humano (incluindo aqui para a realização será utilizada pelas células (McARDLE; KATCH;
da contração muscular) é um composto de fosfa- KATCH, 2011).
to de alta energia, o trifosfato de adenosina (ATP). A estrutura do ATP consiste em três partes prin-
Embora o ATP não seja a única molécula transpor- cipais: (1) uma porção adenina, (2) uma porção ri-
tadora de energia na célula, é a mais importante. Na bose e (3) três fosfatos ligados (Figura 6). A forma-
ausência de ATP em quantidade suficiente, a maio- ção de ATP ocorre a partir da ligação do difosfato
ria das células morrem rapidamente. Basicamente, de adenosina (ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) e
a energia obtida dos alimentos e dos reservatórios requer uma ampla quantidade de energia, sendo que
celulares serve para manutenção dos estoques celu- uma parte dessa energia é armazenada na ligação
lares de ATP. Isso ocorre pelo fato de uma parte da química que une essas moléculas. Quando a enzima
energia contida nas ligações químicas das molécu- ATP quebra essa ligação, a energia é liberada e pode
las dos substratos energéticos serem armazenadas ser usada para realização de trabalho (exemplo: con-
nas ligações químicas existentes entre os átomos do tração muscular) (NELSON; COX, 2014).

Figura 6 - Estrutura do ATP


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 140).

21
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Bioenergética
O termo bioenergética engloba as vias energéticas O método mais simples e, consequentemen-
envolvidas no processo de síntese de ATP a partir te, mais rápido para produzir ATP envolve a doa-
de substratos energéticos, posibilitando a constante ção da energia contida na PC ao ADP, para que ele
renovação dos estoques de ATP. possa se unir ao Pi e formar o ATP. Esta reação é
Vamos adotar como exemplo as células mus- catalisada pela enzima creatina quinase e consiste,
culares. As células musculares armazenam quan- primeiramente, na quebra da PC em creatina livre e
tidades limitadas de ATP. Assim, como o exercí- Pi e, posteriormente, a utilização da energia liberada
cio muscular requer um suprimento constante de desta quebra para unir o ADP com o Pi (Figura 7)
ATP para o fornecimento da energia necessária à (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000).
contração (para que esta atividade não seja inter-
rompida por falta de ATP), a célula deve ter vias
metabólicas capazes de produzir rapidamente
ATP. Estas vias de renovação de ATP são subdivi-
didas em vias anaeróbicas (que não usam o oxigê- Figura 7 - Reação enzimática de ressíntese do ATP a partir da fosfocreatina
Fonte: o autor.
nio) e vias aeróbicas (que usam o oxigênio), apre-
sentadas a seguir.
Esse sistema, chamado de sistema ATP-PC, fornece
PRODUÇÃO ANAERÓBIA DE ATP energia para contração muscular no início do exercí-
As vias anaeróbias para produção de ATP compre- cio prolongado e durante o exercício de alta intensida-
endem: 1) formação de ATP por quebra da fosfocre- de e curta duração (duração inferior a 30 segundos).
atina (PC) e 2) formação de ATP via degradação de Já para restaurarmos os estoques de fosfocreatina que
glicose ou glicogênio (glicólise anaeróbia). foram utilizados devemos gastar ATP, porém isso só

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

ocorrerá na fase de recuperação (ou seja, depois que Na glicólise, observa-se que as reações entre gli-
acabou o exercício). Em atletas, a importância do sis- cose/glicogênio e piruvato podem ser subdivididas
tema ATP-PC pode ser apreciada considerando-se o em duas fases distintas, uma fase de investimento de
exercício intenso e de curta duração, como uma cor- energia (primeiras cinco reações) e uma fase de ge-
rida de 50m-100m, uma prova de 50m de natação, ração de energia ou fase de lucro (últimas cinco re-
um salto, um levantamento de peso, um arremesso, ações). As cinco primeiras reações constituem a fase
ou seja, todas atividades que requeiram poucos se- de investimento de energia pelo fato de gastarmos
gundos para serem concluídas e, assim, necessitam duas moléculas de ATP para fosforilar os intermedi-
de um suprimento rápido de ATP (Figura 8) (MAU- ários dessa via tornando a molécula energeticamente
GHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). mais favorável. Já as últimas cinco reações da glicólise
representam a fase de geração de energia da glicóli-
Trabalho biológico
se na qual quatro moléculas de ATP são produzidas.
Mecânico
Químico Dessa forma, o ganho líquido da glicólise é igual a
Transporte
dois ATPs (Figura 9). A Figura 10 ilustra a glicólise
completa, com suas dez reações juntamente com a
ATPase
ATP ADP + Pi + Energia conversão do piruvato, último intermediário da gli-
cólise, em lactato. Note que a glicólise envolve a con-
creatinoquinase versão da glicose, que tem seis carbonos, em piruvato,
PCr + ADP Cr + ATP
que tem três carbonos. Por isso que cada molécula de
Figura 8 - Papel da hidrólise da creatina-fosfato na geração de trabalho glicose é capaz de formar duas moléculas de piruvato
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 142).
(MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000).

Uma segunda via metabólica capaz de produzir ATP


rapidamente sem o envolvimento de O2 é denomina-
da glicólise. A glicólise envolve a quebra de glicose
ou glicogênio para formação de duas moléculas de
piruvato, que na ausência de oxigênio serão conver-
tidas em duas moléculas de lactato. De forma sim-
plificada, a glicólise é uma via anaeróbia usada para
transferir energia das ligações existentes na molécula
de glicose para unir a adenosina difosfato (o ADP)
com o fosfato inorgânico (Pi) formando ATP. Esse
processo envolve uma série de reações químicas (dez
reações até piruvato, e uma última que converte pi-
ruvato em lactato) que ocorrem exclusivamente no
citoplasma da célula e promove um ganho líquido de Figura 9 - Glicólise
duas moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014). Fonte: Powers e Howley (2014, p. 52).

23
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

CH2OH
Uma pergunta que você deve estar O
H H H
fazendo seria: se o ATP já foi pro-
HO OH H OH
duzido, por que formar o lactato?
H OH
Sabemos que na via glicolítica, o Glicose
ATP
transportador de elétrons NAD+ 1 hexoquinase
ADP
(nicotinamida adenina dinucleo- Glicose 6-fosfato Glicogênio
fosforilase
tídeo) recebe elétrons e é reduzido
à sua forma NADH (nicotinamida 2 glicose-fosfato
isomerase
adenina dinucleotídeo reduzido)
frutose
(reação 6 da glicólise), que, neces- 6-fosfato
sariamente, deveria entrar na mito- ATP
3 fosfofrutoquinase
côndria e doar estes elétrons para a ADP
P H2C CH2 P
cadeia transportadora de elétrons, frutose 1,6-fosfato H HO
OH
processo este que só ocorre na pre- 4 Aldose
HO H
sença de oxigênio. Na ausência de
oxigênio, para que não haja o acú- triosefosfato
fosfato de
5 di-hidroxiacetona
isomerase
mulo de NADH no citoplasma das
3- fosfogliceraldeído 3- fosfogliceraldeído
células (que seria prejudicial/tóxico NAD+ 6 NAD+
para a célula), o piruvato aceita os NADH +
gliceraldeído 3- fosfato
NADH +
desidrogenase
elétrons, sendo convertido em lac- 1,3- difosfoglicerato 1,3- difosfoglicerato

tato (Figura 11) (McARDLE; KAT- ADP 7 ADP

ATP fosfogliceratoquinase ATP


Para a cadeia Para a cadeia
CH; KATCH, 2011). de transporte de transporte
3- fosfoglicerato 3- fosfoglicerato
Como não há o envolvimento de elétrons
8
de elétrons

direto do oxigênio na glicólise, a fosfogliceromutase


2- fosfoglicerato 2- fosfoglicerato
via é considerada anaeróbia, entre-
9
tanto, na presença de oxigênio na H20 enolase H20

mitocôndria, o piruvato pode par- fosfoenolpiruvato fosfoenolpiruvato


ADP 10 ADP
ticipar da produção aeróbia de ATP. piruvatoquinase
ATP ATP
Dessa forma, além de ser uma via COO- COO- COO- COO-
Lactato Piruvato Lactato Piruvato
capaz de produzir ATP sem oxigê- OH C OH desidrogenase C O C O desidrogenase OH C OH
láctica láctica
nio, a glicólise pode ser considerada CH3 CH3 CH3 CH3

a primeira etapa da degradação ae-


Figura 10 - Visão geral da glicólise com suas 10 reações representadas
róbia de carboidratos. Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 150).

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 11 - Formação do lactato: passo final da glicólise anaeróbia


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 152).

25
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

PRODUÇÃO AERÓBIA DE ATP

A produção aeróbia de ATP ocorre dentro da mito- tadores de elétrons que serão enviados para a cadeia
côndria e envolve a interação de duas vias metabóli- transportadora de elétrons onde os doarão para os
cas cooperativas: 1) o ciclo do ácido cítrico (antigo componentes dessa via. O oxigênio não participa das
ciclo de Krebs) e 2) a cadeia transportadora de elé- reações do ciclo do ácido cítrico e é utilizado ape-
trons. A função primária do ciclo do ácido cítrico é nas na cadeia respiratória como o último aceptor
completar a oxidação de carboidratos, gorduras ou de elétrons, sendo convertido em H2O (Figura 12)
proteínas, usando o NAD+ e o FAD como transpor- (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).

Figura 12 - Integração das vias dos diferentes substratos energéticos no ciclo do ácido cítrico
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 148).

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ciclo do ácido cítrico

A entrada no ciclo do ácido cí-


trico requer a formação de uma
molécula de dois carbonos de-
nominada Acetil-CoA, que pode
ser formada a partir da quebra
dos carboidratos, das gorduras ou
proteínas (McARDLE; KATCH;
KATCH, 2011). Dando um enfo-
que inicial sobre os carboidratos,
sabemos que pela via glicolítica a
glicose é convertida em piruvato.
Este, na presença de oxigênio, ao
invés de ser convertido em lactato
(conforme visto anteriormente),
será quebrado em Acetil-CoA,
que, em seguida, se combinará
com o oxaloacetato para formar o
citrato, compreendendo a primei-
ra reação do ciclo do ácido cítrico.
Posteriormente, um conjunto de
sete reações será responsável por
ressintetizar o oxaloacetato e ao
mesmo tempo formar três molé-
culas de NADH, uma molécula de
FADH2 e uma molécula de GTP
(que será convertido em ATP).
Para cada molécula de glicose que
entra na glicólise, duas moléculas
de piruvato são formadas, dando
origem a duas moléculas de acetil-
-CoA que girará o ciclo do ácido
cítrico duas vezes (figura 13) (DE- Figura 13 - Ciclo do ácido cítrico
VLIN, 2011). Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 155).

27
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Até aqui enfocamos o papel dos carboidratos na pro- Em relação às proteínas, conforme mencionado
dução de acetil-CoA para a entrada no ciclo do ácido anteriormente, elas não são consideradas uma fon-
cítrico, porém, como as gorduras podem ser utiliza- te de combustível importante durante o exercício,
das? Se nos lembrarmos do tópico “substratos ener- contribuindo para apenas 2-15% do combustível
géticos”, recordaremos que um dos tipos de gordura utilizado. As proteínas conseguem entrar nas vias
presente no nosso corpo é o triglicerídeo. Este, após bioenergéticas em diversos locais. Entretanto, a pri-
sofrer a ação de lipases (enzimas que quebram as meira etapa é a quebra da proteína em aminoáci-
ligações químicas existentes nos triglicerídeos), li- dos. Os eventos subsequentes dependem de quais
bera moléculas de ácido graxo e de glicerol. Os áci- aminoácidos estão envolvidos. Alguns aminoáci-
dos graxos, após passar por um conjunto de reações dos, por exemplo, podem ser convertidos em gli-
químicas (beta-oxidação), resultará em moléculas de cose ou piruvato, enquanto outros são convertidos
acetil-CoA que serão utilizadas tal qual o acetil-CoA em acetil-CoA, e outros, ainda, em intermediários
proveniente do piruvato (Figura 14) (DEVLIN, 2011). do ciclo do ácido cítrico (Figura 15) (MAUGHAN;
GLEESON; GREEENHAFF, 2000).
Em resumo, o ciclo do ácido cítrico completa a
oxidação dos carboidratos, gorduras ou proteínas,
produz CO2 e fornece elétrons que serão passados
pela cadeia de transporte de elétrons para forne-
cer energia destinada à produção aeróbia de ATP
(Figura 15). As enzimas catalisadoras das reações
do ciclo do ácido cítrico estão localizadas dentro
das mitocôndrias.

Figura 14 - Papel dos lípidos como fonte de energia


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 158).

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 15 - Papel dos aminoácidos como fonte de energia


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 164).

29
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Cadeia transportadora de elétrons


A produção aeróbia de ATP é possível graças a um gem diretamente com o oxigênio. Em vez disso, os
mecanismo que usa a energia potencial disponível elétrons removidos dos átomos de hidrogênio pas-
nos transportadores de elétrons reduzido, como o sam por uma série de proteínas (complexo I, II, III
NADH e o FADH2, para fosforilar o ADP em ATP. e IV) e ao final destes é doado ao O2 (Figura 16)
Os transportadores de elétrons reduzidos não rea- (NELSON; COX, 2014).

Figura 16 - Cadeia transportadora de elétrons


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 154).

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

Como o ATP é formado? A resposta para isso é,


atualmente, explicada por uma teoria chamada de
teoria quimiosmótica. Essa teoria aponta que con-
SAIBA MAIS
forme os elétrons são passados de um complexo ao
outro da cadeia respiratória, íons hidrogênio são en-
viados para o espaço intermembrana existente en- Tecido adiposo marrom: Você sabia que exis-
tre a membrana mitocondrial interna e membrana tem dois tipos de tecido adiposo no corpo
humano? Muitos de nós conhecemos apenas
mitocondrial externa. Com isso, cria-se um gradien- o chamado tecido adiposo branco, constituído
te elétrico e um gradiente químico entre o espaço por células adiposas especializadas (entre
intermembranas e a matriz mitocondrial. Elétrico outras funções) no armazenamento de ener-
gia excedente. Além deste, também apresen-
devido à carga positiva existente nos íons hidrogê- tamos um segundo tipo de tecido adiposo
nio, e a negatividade da matriz mitocondrial; quí- denominado de tecido adiposo marrom, que
mico devido a maior concentração de íons hidrogê- ao invés de acumular, gasta energia. Sabemos
que esta capacidade é possível devido a uma
nio presente no espaço intermembranas em relação grande quantidade de mitocôndrias que, ao
à matriz mitocondrial. Após criado esse gradiente, invés de apresentarem o complexo V da ca-
quando os íons hidrogênios são devolvidos para a deia respiratória, tem uma proteína chamada
de UCP (uncoupling protein). Infelizmente, seus
matriz mitocondrial, a energia cinética associada e níveis em humanos são muito reduzidos em
este retorno é canalizada por uma proteína (deno- comparação aos demais mamíferos, espe-
minada de complexo V, ou complexo da ATP sinta- cialmente na fase adulta, sendo seu papel de
pouco significado no gasto energético diário.
se) e utilizada para unir uma molécula de ADP com
uma molécula de Pi, formando o ATP (Figura 17) Fonte: Nelson e Cox (2014).

(DEVLIN, 2011; NELSON; COX, 2014).

31
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Figura 17 - Teoria quimiosmótica


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 59).

Exemplificando, este acúmulo de H+ no espaço De uma forma geral, cada elétron doado ao com-
intermembranas é similar à energia potencial da plexo I pelo NADH cria um gradiente eletroquímico
água armazenada em uma barragem de uma repre- suficiente para produção de aproximadamente 2,5
sa. Quando abrem-se as comportas e giram-se as moléculas de ATP, enquanto cada elétron doado ao
turbinas, a energia cinética da passagem da água complexo II pelo FADH2 cria um gradiente eletro-
através das turbinas é canalizada e convertida em químico suficiente para produção de aproximada-
energia elétrica. mente 1,5 moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014).

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

Então, por que o oxigênio é essencial à produ- de dois ATPs por molécula de glicose. Além disso,
ção aeróbia de ATP? O propósito da cadeia trans- quando o oxigênio está presente, as duas moléculas
portadora de elétrons é fazer os elétrons passarem de NADH produzidas na glicólise podem, então,
por uma série de proteínas ao longo dos complexos ser transportadas para dentro da mitocôndria e re-
que são reduzidas (quando recebem os elétrons) e sultar em mais cinco moléculas de ATP. Ainda no
oxidadas (quando passam esses elétrons adiante). Se processo de conversão de piruvato em acetil-CoA,
a última proteína desse processo não fosse capaz de forma-se mais um NADH para cada piruvato, to-
se oxidar, ou seja, não tivesse como passar o elétron talizando 2 NADHs (pois temos 2 piruvatos pro-
adiante, não seria possível que essa proteína recebes- venientes da glicose), levando a mais cinco molé-
se elétrons novamente e o processo seria interrom- culas de ATP formadas. Em adição, ao passar pelo
pido. Entretanto, na presença de oxigênio, o elétron ciclo do ácido cítrico, cada molécula de acetil-CoA
é doado a este. Ou seja, o oxigênio que respiramos forma três moléculas de NADH (como temos duas
permite dar continuidade à cadeia transportadora moléculas de acetil-CoA, teremos seis moléculas
de elétrons ao atuar como aceptor final de elétrons. de NADH formadas, totalizando quinze ATPs),
Essa molécula aceita dois elétrons, reduzindo-se e, uma de FADH2 (logo, teremos duas moléculas de
então, se liga a dois íons hidrogênio formando a mo- FADH2 formadas, resultando em três moléculas de
lécula de água (H2O) (DEVLIN, 2011). ATP) e um GTP (no caso, um para cada acetil-CoA,
totalizando duas moléculas de GTP que serão con-
CÁLCULO DO ATP AERÓBIO vertidas em duas moléculas de ATP). Ao final do
processo, teremos um montante de 32 moléculas
Hoje, é possível calcular a produção de ATP total de ATP para cada molécula de glicose oxidada, um
decorrente da quebra aeróbia de glicose. Lembre- valor 16 vezes maior do que o rendimento líquido
se que a produção líquida de ATP da glicólise era da glicólise por via anaeróbia.

33
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Metabolismo do Exercício

O exercício impõe um sério desafio às vias bioe- músculos esqueléticos, podendo aumentar o uso de
nergéticas da musculatura que trabalha. Durante o ATP por estes em até 200 vezes em relação ao utili-
exercício intenso, o gasto energético corporal total zado em repouso. Nesta etapa, iniciaremos com uma
pode aumentar 25 vezes acima do gasto observado discussão sobre as necessidades energéticas do cor-
em repouso, sendo a maior parte desse aumento po em repouso, seguida do estudo destas necessida-
usada no fornecimento de ATP para contração dos des após o início do exercício.

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

NECESSIDADE ENERGÉTICA DURANTE O


REPOUSO
3,5
Em condições de repouso, o corpo humano saudável
está em homeostasia e, dessa forma, a necessidade 3
energética corporal é igualmente constante. Em re-
2,5 Déficit de VO2 no estado estável
pouso, quase 100% da energia requerida para manter O2

VO2 (L • min-1)
as funções corporais é produzida por metabolismo 2
aeróbio. A isso sucede que níveis de lactato sanguí-
1
neo em repouso são estáveis e baixos, próximos a 1
mmol/L de sangue (MAUGHAN; GLEESON; GRE- -2
VO2 em pé
EENHAFF, 2000).
0,5
Como a mensuração do consumo de oxigênio é
um índice de produção aeróbia de ATP, a mensu-
-2 -2 0 1 2 3 4 5
ração do consumo de oxigênio em repouso fornece
Tempo (minutos)
uma estimativa da necessidade energética basal cor-
poral. Em repouso, a necessidade energética total de Figura 18 - Déficit de oxigênio
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 69).
um indivíduo é relativamente baixa. Um jovem adul-
to de 70kg, por exemplo, consome cerca de 3,5ml
de oxigênio/kg de peso em um minuto (McARDLE;
KATCH; KATCH, 2011).

TRANSIÇÃO DO REPOUSO AO EXERCÍCIO De fato, as evidências sugerem que no início do


exercício o sistema ATP-PC é a primeira via bioe-
Quando saímos da condição do repouso para a nergética a ser ativada, seguida da glicólise e, por
condição exercício, as necessidades energéticas fim, a produção de energia por via aeróbia. A efe-
também aumentam e com ela o consumo de oxi- tividade das vias anaeróbias é tão grande que mes-
gênio. Porém, durante esta fase de transição, o au- mo que o uso de ATP se torne muito elevado, com o
mento do consumo de oxigênio não é proporcional início do exercício, os níveis de ATP na musculatura
à nova demanda energética do organismo. Desta permanecem praticamente inalterados. Conforme
maneira, até o corpo atingir o estado estável (perí- o consumo de O2 em estado estável é alcançado, as
odo em que o corpo se readequou à nova demanda necessidades de ATP no corpo vão sendo atendidas
e é capaz de fornecer oxigênio de forma satisfa- pelo metabolismo aeróbio.
tória), as fontes de energia anaeróbia contribuem O principal ponto a ser enfatizado em relação à
para geração de ATP no início do exercício (Figura bioenergética das transições do repouso ao traba-
18) (POWERS; HOWLEY, 2014). lho (exercício) é o envolvimento de vários sistemas

35
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

energéticos. Em outras palavras, a energia necessá- torne mais ativa (POWERS; HOWLEY, 2014).
ria ao exercício não é fornecida pela simples ativa- Os indivíduos treinados atingem o estado está-
ção de uma via bioenergética isolada, e sim por uma vel do VO2 mais rápido do que os indivíduos sem
mistura de vários sistemas metabólicos que atuam treinamento (Figura 19) e, como consequência,
com uma considerável sobreposição (McARDLE; apresentam um déficit de oxigênio menor. Qual a
KATCH; KATCH, 2011). explicação para essa diferença? Teoricamente, isso
O termo déficit de oxigênio é aplicado ao atra- decorre de adaptações cardiovasculares e/ou mus-
so do consumo de oxigênio que ocorre no início culares induzidas pelo treinamento de resistência.
do exercício. Especificamente, o déficit de oxigê- Em termos práticos, isso significa que a produção
nio é definido pela diferença entre o consumo de aeróbia de ATP está ativa antes do início do exercí-
O2 nos primeiros minutos de exercício e um perí- cio e acarreta uma produção menor de lactato e H+
odo equivalente após o estado estável ser alcançado no indivíduo treinado, em comparação ao indivíduo
(POWERS; HOWLEY, 2014). sem treinamento (McARDLE; KATCH; KATCH,
O que causa o atraso no consumo de oxigênio no 2011; POWERS; HOWLEY, 2014).
início do exercício? Existem duas hipóteses para tal.
Primeiro foi sugerido que, no início do exercício, o 20

suprimento de oxigênio disponível para os múscu-


VO2 no
los em contração é inadequado. Isso significa que, ritmo estável
pelo menos em algumas mitocôndrias, ao menos em
Consumo de oxigênio (ml/kg/min)

15
uma parte do tempo é possível que não haja molé-
culas de oxigênio disponíveis para aceitar elétrons
ao final das cadeias de transporte de elétron. Nitida-
mente, se isso estiver correto, a taxa de fosforilação 10
oxidativa e, portanto, todo o consumo de oxigênio
corporal, seria restrito. A segunda hipótese sustenta
a ocorrência de um atraso, pois os estímulos para
fosforilação oxidativa demoram algum tempo para 5
Repouso

atingir seus níveis finais e produzir totalmente seus


efeitos em uma dada intensidade de exercício. Sa-
be-se que a cadeia transportadora de elétrons é es-
0
timulada por ADP e Pi e no começo do exercício as 0 2 4 5 8 10
Duração do exercício (min)
concentrações de ADP e Pi estão meramente acima
dos níveis de repouso, uma vez que a concentração Treinados Déficit de oxigênio treinados
de ATP está sendo mantida pela PC e glicólise acele-
Destreinados Déficit de oxigênio destreinados
rada. No entanto, chega um momento que estes dois
compostos começam a aumentar e passam a sinali- Figura 19 - Indivíduos treinados atingem estado estável mais rápido
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 170).
zar para que a cadeia transportadora de elétrons se

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

(a)
3
RESPOSTAS METABÓLICAS
VO2 em estado estável
NA FASE DE RECUPERAÇÃO
2,5
DO EXERCÍCIO
Déficit de O2 O suprimento
de ATP aeróbio
2 Componente rápido
atende à demanda
Da mesma forma que a taxa meta-
bólica não aumenta instantanea- 1,5

VO2 (L • min-1)
mente com o início do exercício, ao
finalizar uma sessão de treinamento, 1
Componente lento
a taxa metabólica não cai instanta- VO2 em EPOC
0,5 repouso basal
neamente, mas continua alta por
algum tempo, variando esse tempo,
principalmente, pela intensidade do -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14
exercício realizado. Tempo (minutos)

A este consumo elevado de (b)


5
oxigênio após a interrupção do Necessidade de O2
4,5
exercício físico damos o nome de
4 Déficit de O2
consumo excessivo de oxigênio Término do exercício
3,5
pós-esforço, o EPOC (do nome em
3 Componente rápido
inglês excess post-exercise oxygen
consumption) (Figura 20). Estudos 2,5
VO2 (L • min-1)

VO2 mais
alto alcançavel
apontam que o EPOC poderia ser 2

dividido em duas partes: 1) parte 1,5 Componente


lento
rápida, imediatamente subsequente 1 VO2 em EPOC
repouso basal
ao exercício (cerca de 2-3 minutos 0,5
após o exercício) e 2) parte lenta,
que persiste por mais de 30 minu- -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tos após o exercício (POWERS; Figura 20 - Consumo de oxigênio pós-esforço. a) Alcançar o estado estável durante o exercício
resulta num EPOC curto. b) Não alcançar o estado estável durante o exercício resulta um
HOWLEY, 2014). EPOC prolongado.
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 72).

37
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

A restauração das reservas de PC e de oxigênio no tizar que a transição do sistema ATP-PC para uma
músculo (O2 ligado à mioglobina) e no sangue (O2 maior dependência da glicólise durante o exercício
ligado à hemoglobina) é concluída em 2-3 minutos não constitui uma alteração abrupta e sim uma mu-
de recuperação e compreendem a parte rápida. Em dança gradual de uma via para outra (MAUGHAN;
adição, a temperatura corporal elevada, a gliconeo- GLEESON; GREEENHAFF, 2000).
gênese para converter lactato em glicose, os níveis Os eventos com duração superior a 45 segun-
elevados de adrenalina e noradrenalina e os valores dos usam uma combinação de todos os três sistemas
acima da normalidade de frequência cardíaca e fre- de energia (ATP-PC, glicólise anaeróbia e vias ae-
quência respiratória seriam os influenciadores da róbias). Em geral, o exercício intenso com duração
fase lenta do EPOC. aproximada de 60 segundos usa uma proporção de
produção de energia anaeróbia/aeróbia de 70%/30%,
REFLITA enquanto os eventos com duração de 2-3 minutos
empregam vias bioenergéticas anaeróbias e aeróbias
praticamente na mesma proporção (50%/50%), para
O que emagrece mais, alta intensidade e curta
duração ou baixa intensidade e longa dura- suprir o ATP necessário (MAUGHAN; GLEESON;
ção? Ambas as respostas são verdadeiras. GREEENHAFF, 2000).
Correto será escolher a que melhor se ade- Já a energia necessária à realização do exercício
quar ao indivíduo. Não existe receita pronta!
prolongado (duração superior a 10 minutos) é forne-
cida, primariamente, pelo metabolismo aeróbio. Um
consumo de oxigênio em estado estável geralmente
pode ser mantido durante o exercício submáximo,
RESPOSTAS METABÓLICAS AO EXERCÍ- de intensidade moderada. Entretanto, essa regra
CIO: INFLUÊNCIA DA DURAÇÃO E DA IN- apresenta duas exceções: 1) o exercício prolongado
TENSIDADE realizado em ambiente quente e úmido acarreta uma
tendência crescente de consumo de oxigênio, invia-
A energia usada para realizar um exercício de cur- bilizando a manutenção do estado estável, mesmo
ta duração e alta intensidade é fornecida primaria- que a taxa de trabalho seja constante; 2) o exercício
mente pelas vias metabólicas anaeróbias, porém se contínuo a uma taxa de trabalho relativamente alta
a produção de ATP é dominada pelo sistema ATP- (>75% VO2máx) ocasiona uma elevação lenta do
-PC ou pela glicólise, depende primeiramente da consumo de oxigênio com o passar do tempo. Nas
duração da atividade. Em geral, o sistema ATP-PC duas situações, o grande problema está na maior
pode suprir quase todas as necessidades de ATP produção de adrenalina e noradrenalina (visto que o
para realização de trabalho em eventos com duração bloqueio da ligação desses hormônios ao seu recep-
de 1-5 segundos. O exercício intenso com duração tor por fármacos possibilita a manutenção do estado
superior a 5 segundos começa a usar a capacidade estável) e no maior aumento da temperatura corpo-
de produção de ATP por glicólise. É preciso enfa- ral (POWERS; HOWLEY, 2014).

38
considerações finais

N
esta unidade, focamos no metabolismo energético e na síntese da
forma estocável de energia no corpo, o ATP. Abordamos assuntos
relacionados ao gasto energético diário, que remeteram grande im-
portância para quatro elementos básicos que envolvem tal condição e
falamos sobre alguns fatores que podem refletir em maior ou menor gasto ener-
gético diário, por influenciar direta ou indiretamente um destes quatro fatores.
Refletimos também sobre o papel dos diferentes substratos energéticos, além
de descrevermos com algum detalhe os sistemas básicos de geração de energia
por via anaeróbia e aeróbia, o que possibilita ao nosso corpo manter o processo
de contração muscular na presença ou na ausência de quantidades adequadas de
oxigênio, assim como a relação destes mecanismos com a intensidade do exercí-
cio e a possibilidade de mantê-los por um tempo maior ou menor (com os exer-
cícios anaeróbios durando menos tempo que os aeróbios).
Somado a estes quesitos, abordamos o papel de cada via metabólica nas di-
ferentes fases de uma sessão de exercício (déficit de oxigênio, exercício propria-
mente dito e recuperação pós-exercício), demonstrando o importante papel das
vias aeróbias durante o repouso, das vias anaeróbias durante a fase de transição
do repouso para o exercício e a permanência desta via para a ressíntese de ATP
até a exaustão em esforços de alta intensidade, ou a transição para as vias aeróbias
durante a realização de exercícios de longa duração. Além disso, ainda durante as
fases da sessão de exercício, visualizamos o papel das vias aeróbias durante a fase
de recuperação, em que o corpo consome muito oxigênio para restaurar elemen-
tos desgastados durante a sessão de treino.
Espero que você, caro(a) aluno(a), tenha extraído o máximo possível de in-
formação desta unidade, e nos vemos na próxima.

39
atividades de estudo

1. Ao dormir ou permanecer realizando uma atividade sentado ou deitado, ape-


sar do baixo gasto energético, nosso corpo ainda assim precisa de energia.
Baseado nesta colocação, incluindo todas as atividades passíveis de serem
realizadas em repouso, qual a principal via de fornecimento de energia
que permite a manutenção da realização desta atividade?
a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias.
b) Via aeróbia e fosfocreatina.
c) Fosfocreatina e glicólise.
d) Vias aeróbias.
e) Vias anaeróbias e glicose.

2. Durante a fase de transição do repouso ao exercício, o organismo se encontra


em déficit de oxigênio. Quais as vias metabólicas utilizadas nesta fase?
a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias.
b) Via aeróbia e fosfocreatina.
c) Fosfocreatina e glicólise anaeróbia.
d) Vias aeróbias.
e) Via anaeróbia e fosfocreatina.

3. Indivíduos que realizam exercícios físicos regularmente também apresen-


tam uma fase de déficit de oxigênio toda vez que inicia seu treino. Porém, ao
contrário do que ocorre em indivíduos sedentários, este período de tempo é
menor. Sabendo disso, quais os fatores que fazem com que o período
de déficit de oxigênio sejam menores nos indivíduos treinados em re-
lação aos não treinados?
a) Adaptações nos sistemas cardiovascular e muscular.
b) Adaptações nos sistemas renal e nervoso.
c) Adaptações nos sistemas imune e reprodutor.
d) Adaptações nos sistemas cardiovascular e respiratório.
e) Adaptações nos sistemas cardiovascular e renal.

4. Quando terminamos uma sessão de exercício, o nosso corpo continua con-


sumindo mais oxigênio e gastando mais energia em comparação ao repouso
por um determinado período de tempo. Esta fase compreende o EPOC. O
EPOC pode ser dividido em uma fase rápida e uma fase lenta. Sendo assim,
que condições influenciam a porção rápida do EPOC?
a) Frequência cardíaca e respiratória elevadas, níveis dos hormônios adre-
nalina e noradrenalina elevados.

40
atividades de estudo

b) Remoção do lactato, ressíntese do ATP e recuperação das reservas de O2.


c) Ressíntese da PC e recuperação das reservas de O2 na mioglobina e
hemoglobina.
d) Temperatura elevada e remoção do lactato da circulação.
e) Remoção de lactato, ressíntese do ATP e temperatura elevada.

5. Por que indivíduos correndo em clima quente e úmido apresentam um qua-


dro de fadiga precoce em relação a indivíduos que não o fazem, porém estão
correndo na mesma intensidade?
a) Sabe-se que fatores como temperatura e umidade elevada, assim como
correr próximo do limiar do lactato (85% do VO2max) são fatores que
impedem a manutenção do estado estável, levando a fadiga precoce.
b) Provavelmente o nível de condicionamento dos indivíduos são diferentes.
c) Pelo fato do calor aumentar a transpiração e desidratar o indivíduo que
tem que parar devido a sede.
d) Ocorre uma menor produção de adrenalina e noradrenalina e uma au-
mento da temperatura corporal.
e) Pelo fato de que a energia necessária à realização do exercício prolon-
gado é fornecida, primariamente, pelo metabolismo anaeróbio.

6. Na célula, onde ocorrerá a reação da fosfocreatina, glicólise, o ciclo do ácido


cítrico e a cadeia transportadora de elétrons, respectivamente?
a) Citosol, Citosol, Citosol, Mitocôndrias.
b) Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria, Mitocôndria.
c) Mitocôndria, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria.
d) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria.
e) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Citosol.

7. Quais os substratos energéticos utilizados, principalmente, nas seguintes mo-


dalidades esportivas: corrida de 100m, corrida de 400m e corrida de 10000m?
a) Fosfocreatina, fosfocreatina e glicólise anaeróbia.
b) Fosfocreatina, glicólise anaeróbia e vias aeróbias.
c) Vias aeróbias, glicólise anaeróbia e fosfocreatina.
d) Glicólise anaeróbica, vias aeróbicas e fosfocreatina.
e) Vias anaeróbias, glicólise anaeróbia e vias aeróbicas.

41
LEITURA
COMPLEMENTAR

Fatores que influenciam no gasto energético em exercício


Foram poucas as pesquisas de base sobre o metabolismo energético humano que procura-
ram abordar as necessidades de energia durante o exercício, particularmente, a influência
de tamanho corporal, idade, sexo e destreza. Porém, atualmente sabemos que esses fato-
res intercorrentes desempenham uma importante finalidade para a prescrição do exercí-
cio, assim como para estimar o dispêndio de energia a fim de ajustar o balanço energético
para a perda de peso corporal.
Mahadeva e colaboradores realizaram um dos primeiros estudos de larga escala sobre o
custo energético e que chamou a atenção para o dispêndio energético em duas formas
comuns de exercício: subida e descida de um degrau (step), que produzem um trabalho
externo mensurável para elevar a massa corporal, e a caminhada em um plano horizontal
com uma velocidade constante. Os pesquisadores fizeram múltiplas observações em 50
homens e mulheres com 13 a 79 anos de idade, com diversas etnias, cujo peso corporal
variava de 48 a 110 kg. As mensurações incluíram a medida do metabolismo basal e os
estudos com exercício adotaram as mensurações do consumo de oxigênio por meio de um
espirômetro portátil, realizando um protocolo de subida e descida em um banco com 25,4
cm de altura num ritmo previamente definido por um metrônomo durante 10 minutos e
uma caminhada numa pista por 10 minutos a 4,8 km/h.
Este estudo pioneiro foi um dos primeiros a demonstrar que o gasto energético variava
diretamente com o peso corporal do indivíduo, sendo maior conforme maior o peso do
indivíduo em atividades no qual o deslocamento do corpo é necessário (como caminhar
de um ponto “a” até um ponto “b” ou subir e descer um degrau). Somado a isto, também
observou que fatores como idade, sexo, etnia e a dieta previa a sessão de exercício que
contribuía pouco no sentido de prever o dispêndio energético.
Desta forma, devido aos resultados encontrados por Mahadeva e seus colaboradores, po-
demos, atualmente, prever com maior exatidão o dispêndio de energia durante uma cami-
nhada em ritmo estável, uma corrida ou um exercício de subida e descida de escada (além
de qualquer outro que envolva deslocamento) com base apenas no conhecimento da in-
tensidade do exercício e da massa corporal do indivíduo, não requerendo o conhecimento
de outras variáveis.

Fonte: Mahadeva K. et al. (1953, p. 121, 225).

42
material complementar

Indicação para Ler

Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano


Willian D. McArdle, Frank I. Katch, Victor L Katch
Editora: Guanabara koogan
Sinopse:: este livro traz uma abordagem muito ampla sobre os aspectos relaciona-
dos à bioenergética e ao metabolismo e sua relação com a nutrição e o exercício
físico. Para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos na relação entre
as áreas do conhecimento nutrição e exercício é de grande valia a sua leitura.

43
referências

DEVILIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. São Paulo:


Blucher, 2011.
MAHADEVA, K.; et al. Individual variations in the metabolic cost of standardi-
zed exercises: the e�ects of food, age, sex and race. J Physiol 1953; 121: 225.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. I. Fisiologia do exercício: nutrição,
energia e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
MAUGHAN, R. J.; BURKE, L. M. Nutrição esportiva. São Paulo: Artmed, 2004.
MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREEENHAFF, P. L. Bioquímica do exercício
e do treinamento. São Paulo: Manole, 2000.
NELSON, DL; COX, MM. Princípios de bioquímica de Lehninger. São Paulo:
Artmed, 2014.
POWERS S., HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício. São Paulo: Manole, 2014.

gabarito

1. D
2. C
3. A
4. C
5. A
6. D
7. B

44
UNIDADE
II
SISTEMAS FORNECEDORES DE OXIGÊNIO:
SISTEMA CARDIOVASCULAR E
RESPIRATÓRIO E SUA RELAÇÃO
COM O EXERCÍCIO FÍSICO

Professor Dr. Felipe Natali Almeida

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Sistema cardiovascular
• Funcionamento do sistema cardiovascular em exercício
• Sistema respiratório
• Resposta do sistema respiratório ao exercício físico

Objetivos de Aprendizagem
• Fornecer uma visão geral da estrutura e da função do
sistema cardiovascular.
• Discutir o funcionamento do sistema cardiovascular
durante o exercício físico.
• Entender a estrutura e função do sistema respiratório.
• Discutir as adaptações sofridas pelo sistema respiratório
em exercício.
unidade

II
INTRODUÇÃO

O
lá, seja bem-vindo(a) a esta segunda unidade de nosso livro
de Fisiologia geral e do movimento. Neste momento, após ter-
mos aprendido sobre a geração de energia pelo organismo em
nossa primeira unidade, trataremos de um outro importante
assunto: a obtenção de oxigênio pelos tecidos corporais. Para tanto, o sis-
tema cardiovascular e respiratório trabalham em sintonia para poderem
suprir as demandas corporais deste gás, nos possibilitando gerar energia
de forma aeróbia (conforme visto na unidade anterior), assim como para
eliminar efetivamente o gás carbônico, mantendo a homeostasia (equilí-
brio) corporal.
Além dos desafios impostos a estes dois sistemas durante o repou-
so, sabemos que durante o exercício temos um grande incremento da
demanda muscular por oxigênio, visto que a necessidade de geração de
energia (ATP) é muito maior quando estamos correndo, nadando, pe-
dalando, na academia, ou realizando qualquer outro exercício físico ao
comparar com o estado de repouso. Sabemos que durante o exercício
intenso, a demanda pode se tornar 15-25 vezes maior do que no repouso.
Diante disso, veremos ao longo desta unidade que o principal pro-
pósito do sistema cardiorrespiratório é distribuir quantidades adequadas
de oxigênio e eliminar os resíduos formados nos tecidos corporais. Além
disso, o sistema cardiovascular também atua transportando nutrientes e
ajuda a regular a temperatura, enquanto o sistema respiratório atua como
auxiliar no equilíbrio de ácidos e bases do corpo.
É importante lembrar que o sistema respiratório e cardiovascular atu-
am como uma “unidade conjunta”, visto que o sistema respiratório adi-
ciona oxigênio e remove dióxido de carbono no sangue, enquanto o siste-
ma cardiovascular é responsável pela distribuição do sangue oxigenado e
dos nutrientes aos tecidos, de acordo com suas necessidades.
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Sistema Cardiovascular

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

Vamos começar a discutir as formas como o corpo las, que continuam se ramificando em vasos meno-
mantém o equilíbrio dos gases (em especial, man- res denominados de capilares. Estes são os meno-
tendo o fornecimento adequado de oxigênio e a re- res e mais numerosos vasos sanguíneos do corpo.
moção do gás carbônico), algo que requer o funcio- A partir deste ponto, o sangue passa a retornar em
namento em conjunto do sistema cardiovascular e sentido ao coração por meio do reagrupamento dos
respiratório. Neste primeiro momento, iniciaremos vasos capilares em vênulas. Conforme as vênulas se-
com uma visão geral do sistema cardiovascular em guem de volta ao coração, aumentam de tamanho
repouso e, posteriormente, analisaremos a forma e transformam-se em veias. As veias principais es-
como este sistema funciona em exercício. vaziam-se no coração (POWERS; HOWLEY, 2014).

ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA CARDIO- Coração


VASCULAR O coração proporciona o impulso para o fluxo de
sangue. Localizado na parte mediana da cavidade
O sistema cardiovascular consiste em um sistema torácica, cerca de dois terços de sua massa ficam à
fechado por meio do qual o sangue circula por to- esquerda da linha média do corpo. Esse órgão mus-
dos os tecidos corporais. Basicamente, consiste em cular pesa cerca de 310g para um homem adulto de
uma conexão contínua de uma bomba, um circuito tamanho médio e 255g para uma mulher de tama-
de distribuição de alta pressão, canais de permuta nho médio e bombeia cerca de 70mL em cada bati-
e o circuito de coleta e de retorno de baixa pressão. mento, totalizando, em repouso, cerca de 7.200L/dia
Se forem estendidos em uma única linha, os apro- (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
ximadamente 160.000km de vasos sanguíneos de Está dividido em quatro câmaras e, frequente-
um adulto de tamanho médio circundariam a Terra mente, é descrito como sendo duas bombas em uma.
cerca de quatro vezes (McARDLE; KATCH; KAT- O átrio e ventrículo direitos formam a bomba direi-
CH, 2011). Como dito, a circulação sanguínea re- ta, enquanto o átrio e ventrículo esquerdos consti-
quer a ação de uma bomba muscular, o coração, que tuem a bomba esquerda. Estes lados são separados
cria a força propulsora necessária para movimentar por uma parede muscular denominadas de septo
o sangue ao longo do sistema de vasos. O sangue interatrial (entre átrios direito e esquerdo) e septo
viaja pelo corpo saindo do coração pelas artérias e interventricular (entre ventrículos direito e esquer-
retornando pelas veias. Este sistema é considerado do), evitando que o sangue presente em cada um dos
fechado porque as artérias e veias permanecem em lados se misture. Funcionalmente, as câmaras ocas
continuidade entre si por meio de vasos menores. As que compreendem cada lado do coração apresentam
artérias ramificam-se extensivamente para formar funções distintas (McARDLE; KATCH; KATCH,
uma rede de vasos menores denominados arterío- 2011; POWERS; HOWLEY, 2014):

51
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

• “coração direito”: responsável por receber o sangue que retorna de todas


as partes do corpo (especificamente o átrio direito) e por bombear o san-
gue para os pulmões, para que possa ser oxigenado (especificamente o
ventrículo direito);
• “coração esquerdo”: lado que recebe sangue oxigenado proveniente dos
pulmões (átrio esquerdo) e que bombeia o sangue para a aorta a fim de ser
distribuído por todo o corpo (ventrículo esquerdo).

No coração, o sangue move-se dos átrios para os ventrículos e, a partir disso, para
dentro das artérias. Para prevenir o movimento retrógrado do sangue, o coração
conta com quatro valvas, as atrioventriculares (que impedem o movimento retró-
grado do sangue do ventrículo de volta para os átrios), a valva semilunar aórtica
(que impede o retorno do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo) e a valva
semilunar pulmonar (que impede o retorno de sangue das artérias pulmonares
para o ventrículo direito) (Figura 1) (POWERS; HOWLEY, 2014).

Veia cava
superior Artéria pulmonar

Veia pulmonar

Átrio direito
Átrio esquerdo

Valva tricúspide
Valva mitral

Valva pulmonar
Valva aórtica

Ventrículo direito
Septo Ventrículo esquerdo

Figura 1 - Visão simplificada do coração: observe aqui a localização das valvas entre os átrios e ventrículos e entre os
ventrículos e os grandes vasos

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

Outra particularidade do tecido que compõe o coração é sua parede, subdividida


em três camadas, sendo, de dentro para fora, denominadas de endocárdio, mio-
cárdio e epicárdio (para uma noção geral das três camadas, conforme a Figura 2).
O endocárdio é a camada interna composta por células endoteliais que atuam
como uma barreira entre o sangue presente dentro das câmaras cardíacas e a pa-
rede cardíaca. O miocárdio é a camada intermediária formada por células mus-
culares, sendo responsável pela contratilidade do coração e capaz de se adaptar às
exigências impostas a ele hipertrofiando. Já o epicárdio, a camada mais externa,
funciona como uma capa protetora e que também minimiza o atrito do coração
com estruturas externas a ele (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).

Figura 2 - A parede do coração e suas três camadas


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 192).

53
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Circulação pulmonar e sistêmica


Também conhecidas como pequena e
grande circulação, a circulação pulmo-
nar e sistêmica (respectivamente) tem
características distintivas entre elas. A
circulação pulmonar é restrita ao coração
e pulmão e tem por finalidade a oxige-
nação do sangue e a remoção do dióxido
de carbono presente nessa circulação. O
sangue que retorna ao átrio direito por
meio das grandes veias passa para o ven-
trículo direito e é ejetado para as artérias
pulmonares, que o direciona ao pulmão
para realização das trocas gasosas. Após
esta etapa, o sangue oxigenado retorna
ao átrio esquerdo pelas veias pulmonares.
Note que nesta circulação temos sangue
desoxigenado circulando por artérias e
sangue oxigenado circulando por veias. Já
a circulação sistêmica ocorre entre o co-
ração e os demais tecidos do organismo.
Inicia-se com o sangue oxigenado fluindo
do átrio esquerdo para o ventrículo es-
querdo que ejeta este sangue para a aorta
que irá distribuí-lo a todos os tecidos do
corpo (Figura 3) (KENNEY; WILMORE;
COSTILL, 2013).

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

Artéria carótida Artéria


Volume sanguíneo
interna vertebral
Área corporal ml %
Artéria carótida Artéria
Coração 360 7,2 externa subclávia
Pulmões Artéria carótida Arco
comum aórtico
Artérias 130 2,6
Artéria
Capilares 110 2,2 Aorta
braquiocefálica ascendente
Veias 200 4,0
Sistênica Artéria axilar Artéria
coronária
Aorta, grandes Artérias 300 6,0 Artéria braquial
Aorta
Pequenas Artérias 400 8,0 Tronco celíaco: torácica
Capilares 300 6,0 Artéria esplênica
Artéria gástrica esquerda Artéria renal
Pequenas veias 2,300 46,0
Grandes Veias 900 18,00 Artéria mesentérica
superior
Total 5,000 100,00
Artéria mesentérica
inferior Artéria
Artéria radial gonádica
Artéria ulnar Artéria
Veias provenientes ilíaca comum
da parte superior Palmar profunda
do corpo Palmar superficial Artéria
ilíaca interna
Artérias digitais
Artéria
Cabeça e braços Artérias para a parte ilíaca externa
superior do corpo
Veia cava Artéria pulmonar
superior Artéria femoral
Veia pulmonar
Aorta
Artéria poplítea

Átrio Átrio
esquerdo Artéria tibial
Pulmão direito Pulmão anterior
Artéria tibial
Ventrículo posterior
Ventrículo
direito esquerdo
Veias Artéria hepática
hepáticas
Veia porta Arco dorsal
Veia cava Canal
inferior alimentar
Rins

Figura 3 - Visão geral da circulação pulmonar e


Veias sistêmica, associado uma uma visão geral dos ra-
provenientes Pernas Artérias para mos da aorta, responsáveis por distribuir sangue
da parte inferior a parte inferior para os demais tecidos que não o pulmão
do corpo do corpo
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 314).

55
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Ciclo cardíaco Sístole Diástole


Repouso
Frequência cardíaca = 75 bpm
O ciclo cardíaco refere-se ao padrão repetitivo de 0,3 segundo 0,5 segundo
contração e relaxamento do coração. A fase de con- Sístole Diástole
Exercício intenso
tração é denominada sístole e o período de relaxa- 0,2 segundo 0,13 segundo
Frequência cardíaca = 180 bpm

mento é chamado de diástole. Átrios e ventrículos Figura 4 - Tempo do ciclo cardíaco em repouso e exercício
se contraem e relaxam. A contração atrial ocorre Fonte: Powers e Howley (2014, p. 194).

durante a diástole ventricular, enquanto o relaxa-


mento atrial ocorre durante a sístole ventricular. O Durante o ciclo cardíaco também ocorre alteração
coração, portanto, exibe uma ação de bombeamen- de pressão dentro das câmaras. De uma forma geral,
to em duas etapas: primeiro, os átrios contraem-se sabemos que o fluxo sanguíneo sempre se direciona
juntos, esvaziando o sangue atrial dentro dos ven- de um ambiente de maior pressão para um ambien-
trículos e, num segundo momento (cerca de 0,1s te de menor pressão. Desta forma, quando os átrios
após a contração atrial), os ventrículos contraem- estão relaxados, a pressão em seu interior é baixa, o
-se e distribuem o sangue para dentro dos circui- que possibilita a entrada de sangue a partir do siste-
tos sistêmico e pulmonar. Em repouso, a contração ma venoso. Conforme vai se enchendo, sua pressão
ventricular durante a sístole ejeta cerca de 2/3 do aumenta e torna-se superior à pressão nos ventrícu-
sangue contido nos ventrículos, deixando cerca de los, momento que o sangue direciona-se para esta
1/3 ainda nos ventrículos. Esses, então, enchem-se câmara. Conforme o sangue vai se direcionando
de sangue durante a diástole seguinte (POWERS; para os ventrículos, a pressão ali vai aumentando
HOWLEY, 2014). também, o que direcionará o sangue para as artérias
Para termos uma noção do tempo necessário (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
para realização de cada ciclo, se apresentarmos uma
frequência cardíaca de 75 batimentos por minuto, Pressão arterial
isso significa que o ciclo cardíaco total terá uma O sangue exerce pressão ao longo de todo o sistema
duração de 0,8 segundos (60s dividido por 75 ba- vascular, contudo esta pressão é mais intensa junto
timentos), sendo que 0,5 segundos corresponderá à às artérias, onde, em geral, é medida. Logo, a pressão
diástole e 0,3 segundos à sístole. Se os batimentos arterial consiste na força exercida pelo sangue con-
por minuto aumentarem (por exemplo, para cerca tra a parede das artérias, sendo influenciada pelos
de 180 batimentos por minuto), observa-se uma re- seguintes fatores: a) volume sanguíneo; b) frequên-
dução no tempo total de cada ciclo cardíaco que, em cia cardíaca; c) volume de ejeção; d) resistência vas-
especial, sofrerá diminuição no tempo de diástole (a cular periférica; e) viscosidade sanguínea. Todos os
diminuição no tempo da sístole é menor) (Figura 4) fatores são diretamente proporcionais aos valores da
(POWERS; HOWLEY, 2014). pressão arterial, ou seja, um aumento em qualquer
um destes levará a um aumento na pressão arterial

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

e uma redução em qualquer um destes levará a uma A regulação a curto prazo é realizada pelo sis-
queda na pressão arterial (HALL, 2012). tema nervoso simpático e, de uma forma resumida,
A pressão arterial pode ser estimada com o uso ocorre da seguinte maneira: uma queda na pressão
de um esfigmomanômetro. A pressão arterial nor- arterial (que pode ocorrer durante um quadro de
mal de um homem adulto é de 120/80 mmHg (milí- desidratação, por exemplo, devido à diminuição do
metros de mercúrio), enquanto a pressão de mulhe- volume sanguíneo associada) será sinalizada ao sis-
res tende a ser um pouco mais baixa (110/70mmHg). tema nervoso central que ativará o sistema nervo-
O número maior, em geral, refere-se à pressão arte- so simpático, aumentando a frequência cardíaca, a
rial sistólica, sendo a pressão gerada durante a sís- força de contração do coração (aumentando o vo-
tole ventricular. Durante o relaxamento ventricular lume de ejeção) e a resistência vascular periférica,
(diástole), a pressão arterial diminui e representa a resultando no aumento da pressão arterial. Já um
pressão arterial diastólica (geralmente o valor mais aumento na pressão arterial (resultante de um susto,
baixo) (POWERS; HOWLEY, 2014). ou durante o exercício, por exemplo) ao ser sinaliza-
do no sistema nervoso central, levará a um bloqueio
do sistema nervoso simpático, reduzindo a pressão
arterial. Em relação à regulação a longo prazo, ela
é dependente dos rins, que regulam a pressão ar-
terial controlando o volume sanguíneo (POWERS;
HOWLEY, 2014).
Quando estes mecanismos não são eficientes,
a pressão arterial pode permanecer cronicamente
alta (denominada hipertensão arterial), sendo ca-
racterizada, assim, com pressão arterial acima de
140/90mmHg. A hipertensão é classificada em uma
dentre duas categorias: 1) hipertensão primária ou
Ao longo de um dia, a pressão arterial não perma- essencial; 2) hipertensão secundária. A causa de hi-
nece igual, ou seja, ela apresenta oscilações de acor- pertensão primária é multifatorial, ou seja, existem
do com os eventos passados nas 24 horas. Sendo vários fatores cujos efeitos combinados produzem a
assim, como essas oscilações ocorrem? Conforme hipertensão. Constitui cerca de 90-95% de todos os
visto anteriormente, a pressão arterial é dependente casos relatados da doença. Já a hipertensão secun-
de cinco fatores e variações, em qualquer um deles dária resulta de alguns processos patológicos com-
resultará em modificações na pressão. Porém, esta provados e, portanto, é secundária a outra doença
pressão não pode permanecer alta ou baixa durante e, ao contrário da hipertensão primária que não
todo o tempo. Para tanto, apresentamos mecanis- apresenta resolução (apenas controle), a hipertensão
mos de regulação da pressão arterial, denominados secundária é “curada” a partir do momento que se
de mecanismos de regulação aguda (curto prazo) e trata da doença que levou ao seu desenvolvimento
de regulação a longo prazo. (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).

57
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

SAIBA MAIS a onda de despolarização dissemina-se ao longo dos


átrios e resulta na contração atrial. A onda de despo-
A hipertensão arterial é definida como o au- larização atrial não pode atravessar diretamente para
mento contínuo da pressão arterial acima dentro dos ventrículos, mas deve ser transportado
dos valores de 140mmHg para pressão arte- por meio de um condutor especializado. Este tecido
rial sistólica e 90mmHg para pressão arterial
diastólica. Inúmeras são as estratégias farma- condutor irradia a partir de uma pequena massa de
cológicas para o seu tratamento, porém nós células denominada de nodo atrioventricular (nodo
da área da educação física devemos entender AV). Esse nodo distribui esta informação aos ventrí-
o papel do exercício físico como um agente
terapêutico. De uma forma geral, os efeitos culos por um par de vias condutoras denominadas
benéficos do exercício físico envolvem, primei- de ramos direito e esquerdo (é importante ressaltar
ramente, a prevenção da instalação da hiper- que a passagem da atividade elétrica pelo nodo AV
tensão arterial e, após instalada, o tratamento
inicial do indivíduo hipertenso, visando evitar é retardada em cerca de 0,1 segundo, tempo neces-
o uso ou reduzir o número de medicamentos sário para que os ventrículos se encham antes que a
e de suas doses. Em indivíduos sedentários e informação elétrica, que irá levá-lo à despolarização
hipertensos, reduções clinicamente significa-
tivas na pressão arterial podem ser consegui- e contração, chegue). Ao chegarem nos ventrículos,
das com o aumento relativamente modesto estas vias condutoras se ramificam em fibras meno-
na quantidade de atividade física realizada res denominadas de fibras de Purkinje, que espa-
semanalmente.
lham a onda de despolarização por todo o ventrícu-
Fonte: Monteiro (2004). lo, levando à completa contração do coração (Figura
5) (POWERS; HOWLEY, 2014).

Nodo atrioventricular
Atividade elétrica do coração Nodo
Não sei se você já reparou, mas você não precisa sinoatrial
enviar um sinal consciente para o coração contrair Feixe de His
e relaxar. Ele bate, acelera e desacelera sem o seu
ramo esquerdo
“consentimento”. Isso só é possível devido a um sis-
tema formado por células especializadas presente na
constituição do coração, responsável pela geração da
atividade elétrica que levará, ao final do processo, no
batimento cardíaco.
No coração normal, a atividade elétrica espontâ-
nea limita-se a uma região específica localizada no
Ramo direito
átrio direito chamada de nodo sinoatrial (nodo SA),
que atua como um marcapasso cardíaco. Quando o Fibras de Purkinje
nodo SA atinge o limiar de despolarização e dispara, Figura 5 - Sistema de condução elétrico do coração

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

Débito cardíaco
O débito cardíaco é o produto da frequência cardí- rência da elevação da frequência cardíaca e/ou do
aca (FC) pelo volume sistólico (VS - quantidade de volume sistólico. A Tabela 1 apresenta valores de
sangue bombeada por batimento cardíaco). Desta débito cardíaco em repouso e exercício de pessoas
forma, o débito cardíaco pode aumentar em decor- sedentárias e treinadas.

Tabela 1 − Débito cardíaco: observe os valores de débito cardíaco entre indivíduos sedentário e treinados nas
condições repouso e exercício e identifique as variações na FC e VS entre eles

FC VS Q
Indivíduo
(batimentos/min) (mL/batimento) (L/min)
Repouso
Homem sem treinamento 72 x 70 = 5,00
Mulher sem treinamento 75 x 60 = 4,50
Homem treinado 50 x 100 = 5,00
Mulher treinada 55 x 80 = 4,40
Exercício máximo
Homem sem treinamento 200 x 110 = 22,0
Mulher sem treinamento 200 x 90 = 18,0
Homem treinado 190 x 180 = 34,2
Mulher treinada 190 x 125 = 23,8
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 201).

Basicamente, quando pensamos no controle das variá- pais: 1) enchimento das câmaras ventriculares; 2)
veis que influenciam no débito cardíaco, sabemos que resistência à saída do sangue do coração; 3) força de
a frequência cardíaca é influenciada principalmente contração do coração. De uma forma geral, sabemos
pela atividade do sistema nervoso autônomo, no qual que quanto maior o enchimento ventricular e maior
a porção parassimpática resulta numa diminuição e a a força de contração, maior será o volume sistólico e
porção simpática leva ao seu aumento (HALL, 2012). quanto menor for a resistência à saída do sangue do
Já o volume sistólico depende de três fatores princi- coração, maior será o volume sistólico (HALL, 2012).

59
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Funcionamento do Sistema
Cardiovascular em Exercício
Agora que já conhecemos o funcionamento do sistema cardiovascular em re-
pouso, trataremos das alterações ocorridas no momento em que começamos
a nos exercitar, necessárias para suprir o organismo com a nova demanda de
oxigênio e energia.

ALTERAÇÕES DO DÉBITO CARDÍACO EM EXERCÍCIO

O débito cardíaco aumenta durante o exercício de forma diretamente proporcional


à taxa metabólica necessária à realização do exercício. De acordo com a Figura 6,
podemos observar que a relação existente entre o débito cardíaco e o percentual de
consumo máximo de oxigênio (representado pela diferença de oxigênio arterio-
venosa) é essencialmente linear. Isso significa que quanto maior a necessidade de
oxigênio pelo corpo, mais o sistema cardiovascular tem que trabalhar, aumentan-
do, assim, a frequência cardíaca, o volume sistólico e o débito cardíaco.

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

240 sem treinamento ou moderadamente treinados, o


Pressão arterial
Sistólica
200
(mmHG)
volume sistólico não aumenta além de uma carga
160 Média
de trabalho de 40-60% do VO2máx. Portanto, em
120
80
Diastólica taxas de trabalho maiores de 40-60% do VO2máx,
25 50 75 100 a elevação do débito cardíaco destes indivíduos se
dá por meio de elevações apenas da frequência car-
Volume sistólico

díaca. Porém, é importante salientar que em indi-


(mL/batimento)

140 ~40%
40% V
VOO2máx
120 víduos treinados não ocorre este platô (POWERS;
100 HOWLEY, 2014).
80 O débito cardíaco máximo tende a diminuir de
25 50 75 100 modo linear tanto em homens quanto em mulheres
após os 30 anos de idade, e isto se deve principalmen-
25
Débito cardíaco

te a uma diminuição da frequência cardíaca máxima


(L/minuto)

20
15 que ocorre com o avanço da idade (representado
10 pela fórmula de Karvonen = 220-idade) (McARDLE;
5
KATCH; KATCH, 2011).
25 50 75 100

ALTERAÇÕES NO CONTEÚDO ARTERIO-


Frequência cardíaca

200 VENOSO MISTO DE OXIGÊNIO DURANTE


(bpm)

150
O EXERCÍCIO
100
50
A diferença arteriovenosa de oxigênio representa
25 50 75 100
a quantidade de oxigênio captada de 100mL de
18 sangue pelos tecidos durante uma viagem pelo
Diferença de O2
arteriovenosa
(mL/100 mL)

circuito sistêmico (Figura 6). Um aumento des-


12
sa diferença durante o exercício decorre de um
6 aumento da quantidade de oxigênio captado e
25 50 75 100 usado pela produção oxidativa de ATP pelo mús-
Percentual de VO2máx
culo esquelético. A relação existente entre o débi-
Figura 6 - Relação entre frequência cardíaca, volume sistólico, débito to cardíaco (Q) e a diferença arteriovenosa (a-v)
cardíaco e diferença arteriovenosa de oxigênio
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 207). O2 e o consumo de oxigênio é dada pela equação
de Fick (VO2= Q x (a-v)O2), que relata, de for-
ma simplificada, que o VO2 é igual ao produto
O aumento do débito cardíaco que ocorre duran- do débito cardíaco pela diferença arteriovenosa,
te o exercício realizado em posição vertical é me- significando que um aumento de qualquer um
diado por um aumento do volume sistólico e da dos dois levará a um aumento do VO2 (POWERS;
frequência cardíaca. Entretanto, em indivíduos HOWLEY, 2014).

61
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

REDISTRIBUIÇÃO DO FLUXO SANGUÍ-


NEO NO EXERCÍCIO

Para atender a demanda aumentada por oxigênio gastrointestinal (Figura 7). Durante um exercício
dos músculos esqueléticos durante o exercício, é ne- máximo, 80-85% do débito cardíaco total é destina-
cessário aumentar o fluxo sanguíneo para o músculo do ao músculo esquelético, sendo que em repouso
e, ao mesmo tempo, reduzir o fluxo sanguíneo para fica em torno de 15-20% (HALL, 2012).
os órgãos menos ativos, como fígado, rins e trato

Figura 7 - Redistribuição de fluxo sanguíneo entre os tecidos na condição repouso e exercício


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 210).

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

tólico e débito cardíaco é alcançado dentro de 2-3


REFLITA minutos. Essa resposta é similar à observada no con-
sumo de oxigênio no início do exercício (POWERS;
O óxido nítrico é produzido no endotélio das HOWLEY, 2014).
arteríolas e promove o relaxamento da mus-
culatura lisa arteriolar, resultando em vasodi- Recuperação do exercício
latação, com consequente aumento do fluxo
sanguíneo. Porém, é degradado muito rápido. A recuperação do exercício de baixa intensidade e
Sendo assim, devemos ou não utilizá-lo como curta duração geralmente é rápida, com todas as
agente de melhora de performance? variáveis cardiovasculares voltando rapidamente
aos níveis de repouso após este tipo de exercício.
Porém, esta velocidade é variável de um indivíduo
FASES DO EXERCÍCIO E A RESPOSTA CAR- para outro, com potências de recuperação melhores
DIOVASCULAR em indivíduos mais bem treinados em comparação
àqueles sem treinamento. Já a recuperação do exer-
As alterações nas variáveis cardiovasculares que cício prolongado é bem mais lenta, sendo particu-
ocorrem durante o exercício refletem o tipo e a larmente válido quando o exercício é realizado sob
intensidade de exercício realizado, a duração e as condições de calor e umidade, pois a temperatura
condições ambientais na qual o exercício está sen- corporal elevada retarda a queda da frequência car-
do realizado. díaca durante a recuperação do exercício (POWERS;
HOWLEY, 2014).
Influência emocional
O exercício submáximo realizado em uma atmosfera Exercício incremental
emocionalmente carregada resulta em frequências As respostas cardiovasculares ao exercício incre-
cardíacas e pressões arteriais mais altas, em com- mental dinâmico envolvem incrementos em fre-
paração ao observado quando o mesmo trabalho é quência cardíaca e débito cardíaco em proporção
realizado em um ambiente emocionalmente neutro. direta ao aumento no consumo de oxigênio pelos
Esta elevação se dá pelo incremento na atividade tecidos, assim como o aumento no fluxo sanguíneo
simpática ocorrido (POWERS; HOWLEY, 2014). sendo direcionado para o tecido. Isso garante que,
conforme a necessidade de sintetizar ATP aumen-
Transição do repouso para o exercício te, o suprimento de oxigênio que chega ao músculo
No início do exercício, há um rápido aumento da também aumenta. Entretanto, tanto o débito cardí-
frequência cardíaca, volume sistólico e débito car- aco quanto a frequência cardíaca atingem um platô
díaco. Se a taxa de trabalho for constante e estiver em 100% do VO2máx, representando o teto máximo
abaixo do limiar do lactato, um platô de estado es- de oxigênio capaz de ser disponibilizado para a mus-
tável em termos de frequência cardíaca, volume sis- culatura (POWERS; HOWLEY, 2014).

63
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Exercício intermitente Exercício prolongado


Quando o exercício é descontínuo (ex.: treinos in- Durante um exercício prolongado, observa-se
tervalados), a extensão da recuperação da frequên- a manutenção do débito cardíaco em um nível
cia cardíaca e da pressão arterial entre cada série de constante ao longo de toda a duração do exercí-
exercícios depende do nível de condicionamento cio. Entretanto, conforme a duração do exercício
do indivíduo, das condições ambientais e da dura- aumenta, o volume sistólico declina e a frequên-
ção e intensidade do exercício. Com a realização cia cardíaca aumenta. Isto ocorre, geralmente,
de um esforço relativamente leve em um ambiente pela diminuição do volume plasmático durante o
frio, em geral, há recuperação completa entre as sé- exercício prolongado, que levará a uma redução
ries de exercício em poucos minutos. Contudo, se do volume sistólico e consequente compensação
o exercício for intenso ou o trabalho for realizado pelo aumento da frequência cardíaca (POWERS;
em um ambiente quente/úmido, há um aumento HOWLEY, 2014).
cumulativo da frequência cardíaca entre os esforços
(POWERS; HOWLEY, 2014).

SAIBA MAIS

A morte súbita é definida como uma morte inesperada, natural e não violenta que ocorre nas primeiras
seis horas após o aparecimento dos sintomas. Podem ocorrer durante a realização do exercício físico
ou após a realização de exercício físico, dentro de um período de uma hora. Em geral, principalmente
quando relacionado ao exercício, é de origem cardiovascular, sendo em indivíduos com menos de 30
anos, geralmente resultante de um defeito genético e em pessoas com mais idade estão associadas
em sua maioria com doença aterosclerótica. Porém, sabe-se que a combinação de uma história médica
adequada com um exame médico completo realizado por um médico qualificado pode, geralmente,
identificar indivíduos com cardiopatia não detectada ou defeitos genéticos que os colocariam em risco
de terem morte súbita durante a prática de exercícios. Desta forma, reflita sobre o papel da avaliação
médica aos praticantes de atividade física regular e/ou em novos ingressantes, independente da idade.

Fonte: Bronzatto, Silva e Stein (2001, p. 163-169).

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

65
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Sistema Respiratório

Agora que já estudamos o sistema cardiovascular, iremos abordar a estrutura e


função do sistema respiratório para compreendermos a importância deste siste-
ma no fornecimento de oxigênio e na remoção do gás carbônico.

66
EDUCAÇÃO FÍSICA

ESTRUTURA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

O principal propósito do sistema respiratório é fornecer um meio de trocas gaso-


sas entre o ambiente externo e o corpo. Ou seja, o sistema respiratório fornece ao
indivíduo um meio de repor oxigênio e de eliminar dióxido de carbono.
Para a realização de tal função, o sistema respiratório humano é composto
por um grupo de passagens que filtram e transportam o ar até os pulmões, onde
ocorrem as trocas gasosas no interior de microscópicos sacos aéreos chamados
alvéolos (para uma revisão das estruturas que compõem o sistema respiratório,
Figura 8) (HALL, 2012).

Seio frontal

Cavidade nasal
Palato mole

Palato duro
Faringe

Narinas Epiglote
Cavidade oral
Esôfago

Laringe Traqueia

Brônquio

Pulmão direito Pulmão esquerdo


Figura 8 - Visão geral das vias aéreas
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 220).

67
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

A passagem do ar ao longo do sistema respiratório está dividida em duas zonas


funcionais (Figura 9): a) zona condutora, pela qual o ar apenas passa (incluem
traquéia, árvore brônquica e bronquíolos); b) zona respiratória, local onde ocor-
rem as trocas gasosas (incluem os bronquíolos respiratórios e os sacos alveolares).

Número
Nome dos ramos de tubos
no ramo

Traqueia 1
a) Zona condutora b) Zona respiratória

de ramos
Número
Brônquios 2
Zona condutora

Traqueia Bronquíolo terminal


4
(1)
8 Brônquio
(2) primário
Bronquíolos 16
32
Árvore
Bronquíolos terminais brônquica
6 x 104
Bronquíolos
respiratórios
Bronquíolos respiratórios (500.000)
Sacos
Zona respiratória

5 x 105 alveolares
Bronquíolos Alvéolo
terminais (8 milhões)
(60.000)
Ductos alveolares

Sacos alveolares 8 x 106

Figura 9 - Subdivisão das vias aéreas em zona condutora e zona respiratória. Em a), visão geral e b), visão anatômica das estruturas envolvidas
Fonte: Powers e Howley (2014 , p. 222 ).

FUNCIONAMENTO DO SISTEMA RESPI-


RATÓRIO: VENTILAÇÃO PULMONAR

A ventilação pulmonar envolve o movimento do ar por provocarem a expansão da caixa torácica.


para dentro e para fora dos pulmões por meio de Estes músculos, ditos músculos inspiratórios, en-
um gradiente de pressão existente entre o interior volvem o diafragma (principal músculo inspirató-
dos pulmões e a atmosfera. Logo, quando a pres- rio), os músculos intercostais externos e, durante
são é maior no interior dos pulmões em relação à o exercício ainda são solicitados músculos inspi-
atmosfera, o ar sai (expiração) e quando a pressão na ratórios adicionais, como o músculo peitoral, es-
atmosfera é maior do que a pressão no interior dos ternocleidomastoideo, levantador da escápula, es-
pulmões, o ar entra (inspiração) (HALL, 2012). calenos, entre outros, que aumentam ainda mais a
Durante a inspiração, alguns músculos estão expansibilidade torácica (TORTORA; DERRICK-
envolvidos na diminuição da pressão pulmonar SON, 2010).

68
EDUCAÇÃO FÍSICA

Já a expiração durante o repouso é um processo passivo, ou seja, sem a ne-


cessidade de contração de nenhuma musculatura, ocorrendo apenas pelo rela-
xamento das musculaturas inspiratórias. Porém, durante situações forçadas, tal
qual durante o exercício, observamos a contração de musculaturas auxiliares,
incluindo os músculos reto abdominal, músculos oblíquos interno e externo e
músculo transverso abdominal (TORTORA; DERRICKSON, 2010).

FUNCIONAMENTO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO: DIFUSÃO


DOS GASES

Além do processo de entrada e saída de ar dos pulmões, estes precisam adentrar


na circulação sanguínea para poderem ser disponibilizados a todos os demais
tecidos corporais. Para que esta troca ocorra, os gases são trocados por um pro-
cesso denominado de difusão.
A difusão é um processo de troca de compostos (no caso em questão, gases)
por meio de uma membrana permeável a eles, sem a necessidade de um trans-
portador, a favor do gradiente de concentração (ou seja, do local mais concentra-
do para o menos concentrado) e sem gasto de energia (HALL, 2011).
Dois são os locais no organismo onde ocorre esta troca: a) na zona respirató-
ria pulmonar; b) nos demais tecidos que requerem oxigênio. Na zona respirató-
ria, o sangue que entra em contato com esta região apresenta-se ricamente con-
centrado em CO2 e com uma baixa concentração de O2. Em contrapartida, o ar
que foi inspirado e que se encontra no interior desta estrutura apresenta-se rico
em O2 e com uma baixa quantidade de CO2. Desta forma, durante o processo de
difusão e troca, o O2, mais concentrado na zona respiratória, passa para a circula-
ção sanguínea e será direcionado aos demais tecidos, e o CO2, mais concentrado
no sangue que chegou naquela região, passa para o interior da zona respiratória
e será exalado durante a expiração. Já nos tecidos, o sangue que chega até eles é
rico em O2 e pobre em CO2, enquanto que os tecidos apresentam-se com uma
baixa quantidade de O2 (usado para produção de ATP) e uma alta quantidade de
CO2 (produto do metabolismo oxidativo). Desta forma, a difusão e troca nesta
região ocorre com a entrada de O2 do sangue para os tecidos e a saída de CO2 dos
tecidos para o sangue (Figura 10) (TORTORA; DERRICKSON, 2010).

69
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Figura 10 - Trocas gasosas existentes entre o sangue e os alvéolos pulmonares e entre o sangue e os tecidos corporais
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 224).

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

FUNCIONAMENTO DO SISTEMA RES-


PIRATÓRIO: TRANSPORTE DE O2 E CO2
NO SANGUE

Dois gases de extrema importância para a manuten- Uma particularidade do transporte de oxigênio
ção do correto funcionamento corporal envolve o trata-se de quando o oxigênio encontra-se dentro
oxigênio e o gás carbônico. Porém, para que seus ní- do músculo. Ao passar pela membrana plasmática
veis estejam adequados e para que possam ser elimi- da célula, o oxigênio precisa se deslocar até a mito-
nados quando em excesso ou fornecidos aos tecidos côndria, organela celular que utiliza o mesmo para
que precisam deles, necessitam ser transportados no geração aeróbia de ATP. Este processo é realizado
sangue, sendo que cada qual apresenta mecanismos por uma proteína que possui estrutura semelhante
de transporte específicos descritos a seguir. à hemoglobina, chamada de mioglobina (POWERS;
HOWLEY, 2014).
Transporte de O2
O oxigênio é transportado na circulação sanguínea Transporte de CO2
de duas maneiras: a) difundido no plasma; b) ligado Assim como o oxigênio, o dióxido de carbono também
à hemoglobina. Cerca de 2% de todo o oxigênio cir- encontra-se livre no plasma (cerca de 3%). Em adição, o
culante, na condição de repouso, encontra-se livre na mesmo também pode ser transportado ligado à hemo-
circulação, enquanto 98% está ligado à hemoglobina, globina (cerca de 27%), porém seu principal mecanis-
que acelera o processo de deslocamento do oxigênio mo de transporte é na forma de bicarbonato, por meio
de uma região a outra no organismo. Porém, sabemos da reação da anidrase carbônica. Quando os níveis de
que para que a difusão ocorra, apenas o oxigênio livre CO2 estão elevados na circulação, a anidrase carbônica
no plasma tem a liberdade de realizar esta troca, ne- catalisa a reação de junção da H2O com o CO2 forman-
cessitando que ele se desligue da hemoglobina. Assim, do ácido carbônico, que rapidamente se dissocia em
sabe-se que alguns fatores diminuem a afinidade da bicarbonato e H+ (Figura 11) (HALL, 2012).
hemoglobina pelo oxigênio, sendo chamada de disso-
ciação da hemoglobina com o oxigênio (HALL, 2012).
Os fatores que influenciam esta ligação são: os ní-
veis de oxigênio livres na circulação, os níveis de CO2
presentes no corpo, o pH e a temperatura. Atualmen-
te, sabemos que níveis elevados de CO2, temperatura Figura 11 - Reação da anidrase carbônica
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 233).
corporal aumentada, redução do pH e níveis baixos de
oxigênio circulante diminuem a afinidade da hemo-
globina pelo oxigênio, ficando mais fácil de ocorrer o Quando o sangue chega nos pulmões e os níveis de
desligamento destes dois componentes. O contrário é CO2 não são tão altos quanto nos tecidos, a reação
verdadeiro no que tange um aumento da afinidade da ocorre na forma inversa, liberando CO2 que será di-
hemoglobina pelo oxigênio (HALL, 2012). fundido para dentro dos alvéolos e será expirado.

71
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Respostas do Sistema Respiratório


ao Exercício Físico

Agora que estudamos o funcionamento do sistema início do exercício e, em seguida, há uma elevação
respiratório em repouso, passaremos a verificar as mais lenta rumo a um valor de estado estável. Em adi-
adaptações ocorridas no sistema respiratório em ção, nesta fase também observamos um aumento da
exercício. quantidade de CO2 no sangue arterial e uma diminui-
ção nos níveis de O2, o que nos indica que o aumento
TRANSIÇÃO DO REPOUSO AO EXERCÍCIO na ventilação não é tão acelerado quanto necessário
neste início de exercício (isto é um dos fatores que
Durante um exercício submáximo, observa-se que explica a necessidade da realização de ressíntese
a ventilação expirada aumenta de forma abrupta no anaeróbia de ATP durante esta fase de exercício).

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

EXERCÍCIO PROLONGADO EM AMBIEN- REGULAÇÃO DA VENTILAÇÃO DURAN-


TE QUENTE TE O EXERCÍCIO

Trabalhos comparando o exercício em tempera- A ventilação pulmonar durante o exercício responde


tura neutra e umidade relativa do ar média com a dois sistemas principais, um deles dependente de
exercício em elevada temperatura e umidade de- quimiorreceptores periféricos e outro dependente
monstram que o segundo tende a apresentar um de quimiorreceptores centrais. Os quimiorrecepto-
aumento na ventilação pulmonar durante o exer- res periféricos são receptores que “sentem” os níveis
cício prolongado, enquanto o primeiro apresenta de CO2, O2 e H+ na circulação sanguínea e sinalizam
valores estáveis de ventilação durante a realização o sistema nervoso central para que, entre outras coi-
do exercício. sas, possa regular a ventilação pulmonar. Sabemos
que quando os níveis de O2 reduzem e os níveis de
OS PULMÕES SE ADAPTAM AO EXERCÍCIO? CO2 e de O2 aumentam, tal qual durante o exercício,
os músculos da ventilação recebem um sinal para
Atualmente, foi demonstrado que os pulmões de aumentarem a frequência respiratória. Quando esta
indivíduos treinados em relação a indivíduos se- relação se inverte, reduzimos a frequência respirató-
dentários não apresentam grandes diferenças. Isto, ria (POWERS; HOWLEY, 2014).
teoricamente, vem do fato de a função pulmonar, Em adição, apresentamos os quimiorreceptores
na maioria das pessoas, já ser superior às necessi- centrais, localizados no tronco cerebral, responsáveis
dades diárias de cada um e quando nos inserirmos por “sentir” a acidificação do líquido cerebroespinal.
em uma atividade que requeira um pouco mais do Este evento ocorre durante aumentos elevados nos
funcionamento do sistema respiratório, o pulmão níveis de CO2 no sangue. Este ultrapassa a barreira
já está apto para suprir esta nova demanda, não re- hematoencefálica e sofre a ação da enzima anidrase
querendo novas adaptações. Até mesmo em atletas carbônica (visto mecanismo na figura 12) elevando
de elite observa-se que o sistema respiratório não os níveis de hidrogênio no líquido cerebroespinal.
seria um fator limitante de performance na maioria Com isso, temos o principal sinal para incrementos
deles. Salvo exceção para esforços superiores a 90% na frequência respiratória. Ao aumentarmos a ven-
do VO2max, no qual adaptações específicas seriam tilação, reduzimos os níveis de CO2 no sangue e, em
necessárias e limitantes de uma boa performance, consequência, minimizamos a acidificação do líqui-
devido à ocorrência do que chamamos de fadiga do cerebroespinal, reduzindo novamente a frequên-
muscular respiratória. cia respiratória (POWERS; HOWLEY, 2014).

73
considerações finais

O
lá aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade. Nesta segunda
unidade, trabalhamos dois sistemas de grande importância para o
bom funcionamento corporal: o sistema cardiovascular e o sistema
respiratório. Focamos principalmente na forma como o corpo obtém
o oxigênio e o distribui pelo organismo. Oxigênio este tão importante para a
realização das vias aeróbias de produção de energia. Além disso, também aborda-
mos a mecânica da remoção do gás carbônico do organismo, que em quantidades
elevadas é tóxico para o funcionamento corporal.
Ao longo desta unidade, realizamos, inicialmente, o estudo do funcionamen-
to do sistema cardiovascular em repouso, mediante o conhecimento dos elemen-
tos constituintes do sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos), a me-
cânica do batimento cardíaco por meio do entendimento do ciclo cardíaco e da
atividade elétrica do coração, revisamos o conceito de pressão arterial e os fatores
que a influenciam, assim como do débito cardíaco que é uma variável que reflete
o trabalho cardiovascular.
Posteriormente, passamos a analisar os efeitos do exercício físico sobre o sis-
tema cardiovascular. Em seguida, traçamos um paralelo com o sistema respira-
tório, mediante análise de seus elementos constituintes (vias aéreas superiores,
traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos) e de seu funcionamento através da
subdivisão em três subtópicos: a ventilação pulmonar (tratando da forma como
o ar entra e sai dos pulmões), a difusão dos gases (forma como o oxigênio e o gás
carbônico passam através das membranas celulares) e o transporte dos gases no
sangue. Encerrando esta unidade, trabalhamos as adaptações sofridas pelo siste-
ma respiratório na condição de exercício.
Sendo assim, espero que você, caro(a) aluno(a), tenha extraído o máximo
possível de informação desta unidade, e nos vemos na próxima.

74
atividades de estudo

1. Como sabemos, o coração é formado por mais de uma camada na consti-


tuição de sua parede, cada qual apresentando funções específicas. Sabendo
disso, quais são as camadas da parede do coração?
a) Endotélio, endocárdio e epicárdio.
b) Endocárdio e miocárdio.
c) Epicárdio, miocárdio e endocárdio.
d) Epicárdio e endocárdio.
e) Endotélio e endocárdio.

2. A pressão arterial envolve a medida da força imposta pelo sangue na pa-


rede dos vasos sanguíneos. Alguns elementos influenciam diretamente em
seu valor. Marque a alternativa que melhor representa os fatores que
influenciam na resposta da pressão arterial.
a) Débito cardíaco.
b) Resistência vascular periférica.
c) Volume sanguíneo.
d) Viscosidade sanguínea.
e) Todas estão corretas.

3. 3. Ao iniciarmos uma sessão de exercício físico algumas alterações em vários


sistemas corporais são necessárias para conseguirmos realizá-lo. Entre estes
sistemas que se adaptam, encontramos o sistema cardiovascular. Quais são
as duas principais adaptações agudas sofridas pelo sistema cardio-
vascular em exercício?
a) Aumento de débito cardíaco e redistribuição de fluxo sanguíneo.
b) Aumento da resistência vascular periférica e da força de contração.
c) Aumento do volume sanguíneo e do volume cardíaco.
d) Aumento da pressão arterial e do volume sanguíneo.
e) Aumento da pressão arterial e volume cardíaco.

4. O oxigênio, assim como o gás carbônico, precisa ser transportados no sangue


para correta distribuição entre os tecidos. Sabendo disso, de que maneira
o oxigênio pode ser transportado na circulação?
a) Difundido no plasma e na forma de bicarbonato.
b) Ligado à hemoglobina e na forma de ácido carbônico.
c) Na forma de bicarbonato e ligado a mioglobina.
d) Difundido no plasma e ligados a hemoglobina.
e) Na forma de ácido carbônico e ligado a mioglobina.

75
atividades de estudo

5. A hemoglobina é o principal transportador de oxigênio presente no orga-


nismo. Para que se possa realizar este transporte necessita ligar-se a este
elemento. Sabemos, entretanto, que esta ligação pode ser influenciada por
alguns fatores. Sendo assim, quais fatores influenciam na ligação da hemoglo-
bina com o oxigênio? Assinale a melhor alternativa.
a) Níveis de dióxido de carbono.
b) pH sanguíneo.
c) Temperatura corporal.
d) Níveis de oxigênio.
e) Todas estão corretas.

6. Assim como o oxigênio, o gás carbônico também pode ser transportado de


diferentes maneiras na corrente sanguínea. Sobre estes mecanismos de
transporte, assinale a alternativa que melhor representa as possibili-
dades de transporte que podem ser utilizadas por este gás.
a) Proteínas transportadoras específicas do dióxido de carbono.
b) Ligado à albumina e ligado a hemoglobina.
c) Livre no plasma, ligado à hemoglobina e na forma de bicarbonato.
d) Livre no plasma e ligado a mioglobina.
e) Na forma de bicarbonato e ligado a albumina.

7. Durante a prática de uma atividade física, percebemos que a frequência res-


piratória aumenta. Uma outra constatação é que este aumento na frequência
respiratória não foi algo consciente, ou seja, não foi algo determinado direta-
mente por nós. Para tanto, nosso organismo apresenta mecanismos capazes
de sentir alterações necessárias para estimular o aumento na ventilação pul-
monar. Entre estes mecanismos, temos um principal. Qual das alternativas
a seguir apresenta o principal sinalizador para um aumento na venti-
lação pulmonar?
a) Queda nos níveis de oxigênio no sangue.
b) Aumento nos níveis de gás carbônico no sangue.
c) Acidificação do sangue.
d) Acidificação do líquido cerebrospinal.
e) Aumentos dos níveis de oxigênio.

76
LEITURA
COMPLEMENTAR

Músculos respiratórios e exercício físico


Os músculos respiratórios são músculos esqueléticos funcionalmente similares aos
músculos locomotores. A tarefa primária desses músculos é atuar sobre a parede to-
rácica para mover os gases para dentro e para fora dos pulmões e, assim, manter a
homeostase do pH e dos gases no sangue arterial. A importância da função normal do
músculo respiratório pode ser avaliada se considerarmos que a falha muscular respi-
ratória decorrente de doença ou lesão da medula espinal acarretaria na incapacidade
de ventilar os pulmões e de manter níveis sanguíneos de gases e pH dentro da faixa
considerada aceitável.
O exercício muscular ocasiona aumento da ventilação pulmonar e, portanto, a imposi-
ção de uma carga de trabalho maior aos músculos respiratórios. Antigamente, acredita-
va-se que os músculos respiratórios não sofriam fadiga durante o exercício. Entretanto,
evidências crescentes indicam que tanto o exercício prolongado como o exercício de
alta intensidade podem causar fadiga muscular respiratória. Essa fadiga afeta tanto os
músculos envolvidos na inspiração (diafragma, mm. intercostais externos e mm. solici-
tados somente em inspiração forçada como m. esternocleidomastóideo, m. levantador
da escápula, entre outros) como os músculos atuantes na expiração forçada (m. reto do
abdome, m. oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome) e estes múscu-
los permanecem com sinais de fadiga por até 30-60 minutos após término do exercício.
Porém, assim como os músculos esqueléticos locomotores, os músculos esqueléticos
respiratórios são passíveis de adaptação.
O treinamento físico de resistência regular aumenta a capacidade oxidativa do músculo
respiratório e melhora a resistência muscular respiratória. Além disso, novas evidências
indicam que o treinamento físico também aumenta a capacidade oxidativa dos múscu-
los das vias aéreas superiores. Isso é importante pelo fato destes músculos exercerem
papel central na manutenção das vias aéreas abertas para diminuição do trabalho res-
piratório durante o exercício.

Fonte: McArdle, Katch e Katch, 2011.

77
material complementar

Indicação para Ler

Fisiologia do esporte e do exercício


Kenney WL, Wilmore JH, Costill DL
Editora: Manole
Sinopse:: considerado um dos grandes autores em fisiologia do exercício, traz uma
excelente abordagem sobre o funcionamento dos sistemas cardiovascular e respi-
ratório, associado com importantes informações relacionando estes sistemas com
o exercício físico. Definitivamente, uma obra que vale a leitura para aqueles que
pretendem se aprofundar na área.

78
referências

BRONZATTO H. A.; SILVA R. P.; STEIN R. Morte súbita relacionada ao exercí-


cio. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v7, n5, 163-169, 2001.
HALL J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
KENNEY W. L.; WILMORE J. H.; COSTILL D. L. Fisiologia do esporte e do
exercício. 5 ed. São Paulo: Manole, 2013.
McARDLE W. D.; KATCH F. I.; KATCH V. E. Fisiologia do exercício: nutrição,
energia e desempenho humano. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
MONTEIRO M. F.; SOBRAL-FILHO D. C. Exercício físico e controle da pressão
arterial. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v.10, n.6, 513-516, 2004.
POWERS S. K.; HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole, 2014.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. princípio de Anatomia e Fisiologia 12. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

gabarito

1. C
2. E
3. A
4. D
5. E
6. C
7. D

79
SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO
E A GERAÇÃO DO MOVIMENTO

Professor Dr. Felipe Natali Almeida

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• O sistema nervoso e o movimento
• Grandes vias motoras
• O músculo esquelético e sua relação com o movimento
humano

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender o papel do sistema nervoso na geração do
movimento humano.
• Estudar as grandes vias nervosas envolvidas no movimento
humano (vias motoras).
• Determinar os mecanismos ocorridos no músculo
esquelético associados à geração do movimento.
unidade

III
INTRODUÇÃO

Olá, seja bem-vindo(a) a mais uma unidade deste livro. Nesta unidade,
estudaremos a fisiologia do músculo esquelético e a sua relação com o
sistema nervoso e com os ossos para a geração do movimento, algo fun-
damental para a vida do ser humano.
O sistema nervoso fornece ao corpo um meio rápido de comunicação
interna, que nos permite coordenar a atividade de bilhões de células. As-
sim, a atividade neural é essencialmente importante para a manutenção
do bom funcionamento do organismo. Devido ao seu papel na geração
do movimento, apresentaremos no início desta unidade uma visão geral
do sistema nervoso, enfatizando seu papel no controle do movimento
voluntário. De uma forma geral, a aplicação efetiva da força durante a
realização de movimentos complexos aprendidos (saque no jogo de tê-
nis, lançamento de peso, balanceio no golfe, um lançamento num jogo
de futebol, entre outros) depende de uma série de padrões neuromus-
culares coordenados, e não apenas na força muscular. O circuito neural
no cérebro, na medula espinal e na periferia funcionam de uma maneira
bastante semelhante a uma rede sofisticada de computadores. Em respos-
ta às mudanças nos estímulos internos e externos, centenas de milhões
de bits de influxo sensorial são sincronizados automaticamente para o
processamento quase instantâneo por parte de mecanismos centrais de
controle neural. O influxo passa a ser devidamente organizado, orientado
e transmitido com extrema eficiência para os órgãos efetores, que são os
músculos esqueléticos.
Após o sinal chegar ao músculo esquelético, ele irá se contrair e, pelo
fato de estarem presos aos ossos por meio de um forte tecido conjuntivo,
os chamados tendões, teremos a movimentação articular.
Diante disso e considerando o papel dos músculos esqueléticos na de-
terminação do desempenho esportivo, um amplo conhecimento acerca
de estrutura e função musculares é importante para todos aqueles envol-
vidos com o movimento humano.


O Sistema Nervoso e o
Movimento

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

Todas as funções do corpo humano são, ou po- De uma forma geral, o sistema nervoso é dividi-
dem ser, influenciadas pelo sistema nervoso. Os do em sistema nervoso central (SNC) e sistema ner-
nervos formam uma rede pela qual virtualmente voso periférico (SNP). O SNC consiste no encéfalo
todas as partes do corpo enviam e recebem im- e na medula espinal, enquanto o SNP é dividido em
pulsos elétricos. O encéfalo funciona como um uma porção sensitiva ou aferente e uma porção de
computador central que integra todas as infor- resposta ou eferente. A porção sensitiva/aferente é
mações que chegam, selecionando uma resposta responsável por enviar informações ao SNC sobre o
apropriada e, em seguida, instruindo as partes do que está ocorrendo dentro e fora do organismo. Já a
corpo envolvidas para que executem uma ação porção de resposta/eferente é responsável pelo envio
apropriada. Assim, o sistema nervoso forma uma de informações do SNC aos diversos tecidos, órgãos e
rede vital, permitindo a comunicação e a coor- sistemas do corpo em resposta aos sinais que chegam
denação da interação entre os diversos tecidos e por meio da divisão sensitiva. A porção eferente do
sistemas do corpo, assim como com o ambiente sistema nervoso periférico ainda é dividida em duas
externo (KENNEY et al., 2013). partes: o sistema nervoso autônomo (formado por
Por ser um sistema de grande complexidade, neurônios que têm por função controlar/comandar
não temos por objetivo nesta unidade nos aprofun- todas as partes do corpo que não é músculo esquelé-
darmos em cada elemento do sistema nervoso, mas tico) e o sistema nervoso motor (formado por neurô-
sim apenas discutir uma base geral, para que, em se- nios que têm por função controlar/comandar apenas
guida, possamos discutir o papel do sistema nervoso músculo esquelético) (HALL, 2011). Uma visão geral
na geração/controle do movimento humano. do sistema nervoso está apresentada na Figura 1.

Sistema Nervoso

Sistema Nervoso Sistema Nervoso


Central Periférico

Divisão Aferente Divisão Eferente

Sistema Nervoso Sistema Nervoso


Autônomo Motor

Figura 1 - Modelo esquemático de divisão do sistema nervoso


Fonte: o autor.

85


Grandes Vias Motoras


As grandes vias motoras põem em comunicação os De acordo com Machado e Haertel (2014), as
centros suprassegmentares do sistema nervoso com grandes vias motoras envolvem:
os órgãos efetuadores, possibilitando a atividade dos a. Tratos corticoespinais: unem o córtex ce-
músculos esqueléticos, permitindo a realização de rebral aos neurônios motores da medula.
movimentos voluntários ou automáticos, regulando No nível das pirâmides bulbares, se divi-
dem em trato corticoespinal anterior, res-
ainda o tônus e a postura. O sistema motor é consti-
ponsável pelo movimento voluntário da
tuído pelos músculos estriados esqueléticos e todos musculatura axial e trato corticoespinal
os neurônios que os comandam, permitindo com- lateral, que controlam a musculatura distal
portamentos variados e complexos por meio da ação dos membros.
coordenada de mais de 700 músculos. Um dos aspec- b. Trato corticonuclear: unem o córtex aos
tos importantes da função motora é a facilidade com neurônios motores do tronco encefálico e
que executamos os atos motores sem pensar sobre não aos da medula espinal. Assim, este trato
coloca sobre controle voluntário os neurô-
qual músculo contrair. Apenas geramos a intenção e
nios motores situados nos núcleos motores
o resto acontece automaticamente. Quando se quer dos nervos cranianos, que, em sua maioria,
mover o corpo ou parte dele, o cérebro forma a repre- apresentam fibras homolaterais, ou seja, que
sentação do movimento, planejando a ação em toda a apresentam representação bilateral no cór-
sua extensão antes de executá-la. Esta representação é tex motor, como aqueles que não podem ser
chamada de programa motor, que especifica os aspec- contraídos apenas de um lado, tal qual a mus-
culatura da face, da mandíbula, motores do
tos espaciais do movimento, ângulos de articulação,
olho entre outros.
força, entre outros (MACHADO; HAERTEL, 2014).

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

VISÃO CONJUNTA DAS VIAS MOTORAS

c. Trato rubroespinal: juntamente com o trato As vias eferentes motoras estabelecem ligação entre as
corticoespinal lateral, controla a motricidade estruturas suprassegmentares relacionadas com o con-
voluntária dos músculos distais dos mem- trole da motricidade e os efetuadores, ou seja, os múscu-
bros. Trata-se de uma via indireta que foi per- los estriados esqueléticos. Na Figura 2 observa-se uma
dendo sua importância ao longo da evolução,
síntese das conexões dessas estruturas, assim como de
para a via direta corticoespinal. Mas em casos
de lesão da via corticoespinal lateral, pode suas vias de projeção sobre o neurônio motor, propor-
exercer papel fundamental na recuperação cionando uma visão conjunta das principais vias que
do movimento das mãos. regulam a motricidade somática. Ele mostra as prin-
d. Trato tetoespinal: recebe fibras da retina e cipais conexões do cerebelo com suas projeções para
do córtex visual. Está envolvido em reflexos o córtex cerebral, via tálamo, e para o neurônio motor,
visuomotores, em que o corpo se orienta a via núcleo rubro, núcleos vestibulares e formação reti-
partir de estímulos visuais.
cular. Mostram também as conexões do corpo estriado
e. Tratos vestibuloespinais: são dois, os me-
e suas conexões com o córtex cerebral através do circui-
diais e os laterais, tendo por função levar
aos neurônios motores informações necessá- to córtico-estriado-talamo-cortical, e as projeções do
rias à manutenção do equilíbrio, além de se córtex cerebral sobre o neurônio motor, diretamente
projetar para a medula lombar ativando os por meio dos tratos corticoespinal e corticonuclear, ou
músculos extensores (antigravitacionais) das indiretamente, por meio das vias corticorubroespinal,
pernas. São feitos, assim, ajustes posturais,
corticoreticuloespinal e corticotetoespinal.
permitindo que seja mantido o equilíbrio
Entretanto, o fato mais importante que o esque-
mesmo após alterações súbitas do corpo no
espaço. Por exemplo, durante uma tropeçada, ma mostra é que, em última análise, todas as vias
por ação das fibras do trato vestibuloespinal, que influenciam a motricidade somática convergem
ocorre resposta reflexa extensora dos múscu- sobre o neurônio motor que, por sua vez, inerva a
los antigravitacionais para impedir a queda. musculatura esquelética. Sabe-se que um neurônio
f. Tratos reticuloespinais: promovem a ligação motor da coluna anterior da medula espinal do ho-
de várias áreas de formação reticular com
mem pode receber 1500 botões sinápticos, o que dá
os neurônios motores da medula. A essas
áreas chegam informações de setores muito uma ideia do grande número de fibras que atuam
diversos do sistema nervoso central, como o sobre ele, podendo ser excitatórias ou inibitórias.
cerebelo e o córtex pré-motor. Os tratos reti- Além dessas fibras, o neurônio motor recebe tam-
culoespinais são dois: o trato reticuloespinal bém fibras envolvidas nos reflexos integrados na
pontino, que aumenta os reflexos antigravita- medula. Assim, o neurônio motor constitui a via
cionais da medula, facilitando os extensores
motora final comum de todos os impulsos que agem
e a manutenção da postura ereta e atua man-
tendo o comprimento e a tensão muscular; e sobre os músculos estriados esqueléticos. Se ele dis-
o trato reticuloespinal bulbar, que tem o efei- para ou não um potencial de ação, vai depender do
to oposto, liberando os músculos antigravita- balanço entre os impulsos excitatórios e inibitórios
cionais do controle reflexo. que agem sobre ele (MACHADO; HAERTEL, 2014).

87


CÓRTEX CEREBRAL
organização de um movimento voluntário delicado,
Substância
negra imaginemos o caso de um cirurgião ocular prestes a
Ponte
Striatum fazer uma incisão na córnea de um paciente, o que
envolve movimentos precisos dos dedos da mão que
Tálamo Pallidum segura o bisturi. A intenção de realizar a incisão foi
C
E
feita na área pré-frontal com base nas informações
Núcleo
R
E Núcleo Formação
subtalâmico que ele tem sobre as características da incisão e sua
Tecto
B rubro reticular
E adequação às condições daquele paciente.
L
O Essas informações são transmitidas para as áreas
retícu

córticTracto encarregadas de elaborar o programa motor: a zona


tecto-e cto
Tract inhal
lo-es
rub

Tra

o-esp

lateral do cerebelo, por meio da via corticoponto-


Tra espin
ro-

spinhal
o
p
cto ha

inhal

ves
Núcleos
vestibulares
tíb Trac
ulo to cerebelar, o corpo estriado e a área motora suple-
l

-es
pin
hal mentar. Nessas áreas, é elaborado o programa motor
Neurônio motor
que define quais músculos serão contraídos, assim
Via motora
como o grau e a sequência temporal das contrações.
final comum
Músculo estriado
esquelético
O programa motor é, então, enviado à área moto-
ra primária, principal responsável pela execução do
movimento da mão. Desse modo, são ativados de-
Figura 2 - Integração de todos os tratos neurais que influenciam neurô- terminados neurônios corticais que, atuando sobre
nios motores
Fonte: Machado e Haertel (2000, p. 315). os neurônios motores, via trato corticoespinal, de-
terminam a contração na sequência adequada dos
ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO músculos responsáveis pelo movimento da mão. As-
VOLUNTÁRIO sim, o cirurgião pode executar os movimentos preci-
sos necessários à incisão na córnea. As vias mediais
Na organização do ato motor voluntário, distingue-se da medula são ativadas para ajustes posturais e da
uma etapa de preparação, que termina com a elabo- musculatura proximal, para aproximar o corpo do
ração do programa motor, e uma etapa de execução. cirurgião do alvo. Informações sobre as caracterís-
A primeira envolve áreas motoras de associação do ticas desses movimentos, detectados por receptores
córtex cerebral em interação com o cerebelo e o corpo proprioceptivos, são levados à zona intermédia do
estriado. A segunda envolve a área motora primária, cerebelo pelos tratos espinocerebelares. As informa-
a área pré-motora do córtex e suas ligações diretas e ções obtidas antes do movimento, ou durante, antes
indiretas com os neurônios motores. Como parte da de o bisturi tocar a córnea, permitem ajustes por an-
etapa de execução, temos também os mecanismos que teroalimentação. O cerebelo pode, então, comparar
permitem ao sistema nervoso central promover os ne- as características do movimento em andamento com
cessários ajustes e correções no movimento já iniciado. o programa motor e promover as correções neces-
Para que se tenha uma visão integrada do papel sárias por anteroalimentação, agindo sobre a área
dos diversos setores do sistema motor envolvidos na motora por meio da via interpósito-tálamo-cortical.

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

Após tocar o alvo, informações sensoriais pro- que ela possa ser controlada automaticamente em
prioceptivas, originadas no segmento onde ocorre o nível medular. Experiências realizadas com ga-
movimento, ou seja, no exemplo na mão do cirur- tos, nos quais a medula e as raízes dorsais foram
gião, geram ajustes por retroalimentação quanto ao seccionadas, mostraram que os movimentos de
peso do bisturi e a força necessária ao procedimento. locomoção são mantidos mesmo nas condições
Ajustes posturais também são feitos por retroalimen- em que a substância cinzenta da medula perdeu
tação. O trato reticuloespinal pontinho o mantém todas as suas aferências sensoriais e supramedu-
na postura ereta imóvel, atuando sobre a muscula- lares. Surgiu, assim, o conceito amplamente con-
tura antigravitacional. Toda a informação gerada na firmado de que a locomoção depende de um cen-
execução do movimento será usada para melhorar tro situado na medula lombar, capaz de manter
a execução de movimentos futuros semelhantes, por o movimento automaticamente e sem qualquer
meio do aprendizado motor, a cargo principalmente aferência. Este centro contém circuitos neurais
do cerebelo (MACHADO; HAERTEL, 2014). com neurônios capazes de disparar potenciais de
ação espontaneamente, na ausência de quaisquer
LOCOMOÇÃO aferências (HALL, 2011).
Este centro, por sua vez, é comandado por ou-
tro centro locomotor situado no mesencéfalo, o
qual exerce sua ação pelos tratos reticuloespinais,
determinando o início, o fim e a velocidade da lo-
comoção. No homem, só muito raramente ocorrem
movimentos automáticos de marcha depois da sec-
ção da medula. Entretanto há evidências de que na
medula do homem existe também um centro que
permite a locomoção automática. Crianças exibem
a marcha reflexa logo após o nascimento, mesmo as
anencefálicas. Acredita-se que estes circuitos sejam
colocados sob controle supraespinal no primeiro
ano de vida, quando o córtex cerebral passa a con-
trolar o centro locomotor do mesencéfalo. O fato
de a locomoção humana ser bípede faz com que
Durante a locomoção, ocorrem movimentos al- os controles do equilíbrio e da marcha sejam mais
ternados de flexão e extensão das pernas. O ca- complicados e dependentes dos centros superiores
ráter rítmico e repetitivo da locomoção faz com (MACHADO; HAERTEL, 2014).

89


O Músculo Esquelético e sua


Relação com o Movimento Humano
O corpo humano contém mais de 600 músculos ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO
esqueléticos, que constituem de 40-50% do peso
corporal total. O músculo esquelético exerce três O músculo esquelético é composto por vários ti-
funções importantes: a) geração de força para lo- pos de tecido. Entre eles estão as próprias células
comoção e respiração; b) geração de força para sus- musculares, tecido nervoso, sangue e tecido con-
tentação postural; c) produção de calor durante os juntivo. A Figura 3 apresenta uma visão geral des-
períodos de estresse frio. sa organização.

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tendão

Fáscia

Osso
Músculo

Epimísio Fascículo

Perimísio
Endomisio

Fibras musculares
Axônio do
Sarcoleoma
Miofibrilas neurônio motor

Vaso sanguínio

Retículo Núcleo
sarcoplasmático
Filamentos

Figura 3 - Visão geral do músculo esquelético


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 165).

Os músculos individuais estão separados uns dos tro, a próxima camada de tecido conjuntivo é o pe-
outros e são mantidos na posição por um tecido rimísio, que circunda os feixes individuais de fibras
conjuntivo chamado fáscia. No músculo esquelético musculares (cada feixe individual é chamado de fas-
existem três camadas separadas de tecido conjun- cículo). Cada fibra muscular individual que compõe
tivo. A camada mais externa, que circunda todo o o fascículo é circundada por um tecido conjuntivo
músculo, é denominada epimísio. De fora para den- chamado de endomísio (KENNEY et al., 2014).

91


SAIBA MAIS Cada fibra muscular individual consiste em


um cilindro estreito e alongado, que geralmente se
A imobilização e seu efeito sobre o tecido estende por todo o comprimento do músculo. A
conjuntivo: a imobilização, muitas vezes, é membrana celular que circunda a fibra muscular é
necessária como estratégia de reabilitação em denominada sarcolema. Localizado no espaço en-
muitas lesões. Porém, Tipton foi o responsável
pela realização de um trabalho inovador que tre as fibras musculares, existe um grupo de células
proporcionou a primeira confirmação experi- precursoras musculares chamadas de células saté-
mental de que os ligamentos de pernas imo- lite. As células satélite são células indiferenciadas
bilizadas eram mais fracos e pesavam menos
que os ligamentos dos controles normais de que exercem papel central no crescimento e reparo
pernas exercitadas. O estudo gerou dúvidas musculares. Quando as fibras musculares são des-
também acerca da eficácia da imobilização truídas (por motivo de lesão ou doença) não po-
após uma cirurgia ligamentar. Pelo contrário,
o estudo apoia o treinamento com exercícios dem ser substituídas por divisão celular. Entretanto
como a primeira linha de reabilitação após a as células satélite também podem contribuir para
cirurgia de tecidos moles. o crescimento muscular durante o treino de força,
Fonte: adaptado de Powers e Howley (2014). ao se dividirem e fornecerem núcleos para as fibras
musculares já existentes. O aumento do número de
núcleos no interior das fibras musculares intensifi-
ca a capacidade das fibras musculares de sintetizar
Apesar de seu formato exclusivo (nenhuma outra proteínas e, desse modo, auxilia o crescimento do
célula do corpo tem esta característica alongada), músculo (POWERS; HOWLEY, 2014).
as fibras musculares apresentam a maioria das or- Embaixo do sarcolema está o sarcoplasma (cito-
ganelas presentes em todas as células corporais, plasma), que contém as proteínas, as organelas celu-
ou seja, contêm lisossomos, mitocôndrias, retícu- lares e as miofibrilas. As miofibrilas são numerosas
lo endoplasmático, complexo golgiense entre ou- estruturas filamentosas, onde estão contidas as pro-
tros. Entretanto, uma característica que a difere da teínas contráteis. Em geral, as miofibrilas são com-
maioria das outras células é o fato de ser multinu- postas por dois tipos de filamentos principais: a) os
cleada. Somado a isto, sua aparência microscópica filamentos grossos (constituídos de miosina) e b) os
estriada é outra marca registrada desse tipo celular. filamentos finos (constituídos de actina, troponina
Essas estrias são produzidas por faixas claras e es- e tropomiosina). O arranjo desses filamentos confe-
curas que se alternam ao longo de toda a extensão rem ao músculo esquelético sua aparência estriada
da fibra (POWERS; HOWLEY, 2014). (Figura 4) (KENNEY et al, 2014).

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 4 - Organização macroscópica e microscópica do músculo esquelético


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 369).

93


Conforme observado na Figura 4, as miofibrilas No interior do sarcoplasma do músculo, existe


podem ser subdivididas em segmentos individu- uma rede de canais membranosos que cerca cada
ais chamados de sarcômeros. Os sarcômeros estão miofibrila e segue paralelamente a ela. Esses canais
separados uns dos outros por uma lâmina delga- são conhecidos como retículo sarcoplasmático e
da de proteínas estruturais denominadas linha Z. são os locais de armazenamento de cálcio (que irá
Os filamentos de miosina estão localizados prin- apresentar um papel fundamental na contração
cipalmente na parte escura do sarcômero, que é muscular conforme visto posteriormente). Outro
denominada banda A, enquanto os filamentos de conjunto de canais membranosos, chamados de
actina ocorrem, sobretudo, nas regiões claras do túbulos transversos ou T, estende-se do sarcolema
sarcômero, denominadas bandas I. No centro do para dentro da fibra muscular e atravessa totalmente
sarcômero é encontrada uma parte do filamento a fibra, servindo como uma extensão da membrana
de miosina que não está sobreposto aos filamen- para áreas mais internas da fibra muscular (também
tos de actina, denominada de zona H (KENNEY apresenta papel importante na contração muscular)
et al., 2014). (Figura 5) (McARDLE et al., 2015).

Sarcolema
Miofibrilas

Tríade do retículo:
Cisternas terminais
Túbulo transverso Banda A

Banda I
Retículo sarcoplasmático

Linha Z

Mitocôndria
Núcleo

Figura 5 - Retículo sarcoplasmático e túbulos transversos


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 167).

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

JUNÇÃO NEUROMUSCULAR

Cada célula muscular esquelética está conectada a da fibra muscular. Isso causa um aumento na per-
uma ramificação da fibra nervosa (motoneurônio). meabilidade ao sódio na fibra muscular, resultando
O local onde o motoneurônio e a fibra muscular se em uma despolarização chamada potencial de placa
encontram é chamado de junção neuromuscular terminal, que se for forte o suficiente, constituirá o
(Figura 6) e é semelhante a um ponto de conexão en- sinal para iniciar o processo de contração muscular,
tre dois neurônios. A extremidade do motoneurônio processo este semelhante à sinapse química aprendi-
não está fisicamente em contato com a fibra muscu- do no módulo de “bases neuromotoras” (McARDLE
lar, mas sim separados por um espaço denomina- et al., 2015).
do de fenda neuromuscular. Quando um impulso Importante salientar que um motoneurônio
nervoso atinge a extremidade do neurônio motor, inervará várias fibras musculares e, a esse conjun-
o neurotransmissor acetilcolina é liberado, difunde- to de motoneurônio juntamente com todas as fibras
-se pela fenda sináptica (fenda neuromuscular) e se musculares inervadas por ele, damos o nome de uni-
liga a sítios de receptores existentes na membrana dade motora (McARDLE et al., 2015).

Fibra nervosa motora


Ramos da fibra nervosa
Núcleo da fibra muscular
Placa motora
Miofibrila da fibra muscular

Mitocôndrias
Vesículas sinápticas
Fenda sináptica
Sarcolema pregueada
Placa motora

Figura 6 - Junção neuromuscular


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 168).

95


SAIBA MAIS sas pontes cruzadas que se estendem como braços


a partir da miosina e se prendem à actina. A liga-
Fadiga neuromuscular: a fadiga representa ção da ponte cruzada de miosina à actina resulta em
o declínio na capacidade de gerar tensão ou uma orientação de pontes cruzadas, de tal modo que
força muscular com a estimulação repetida ou estas conseguem puxar a actina de cada lado e levá-
durante um determinado período de tempo.
Muitos fatores podem levar à fadiga, porém -la em direção ao centro. Esse puxão da actina so-
também observa-se fatores neurais envolvi- bre a molécula de miosina ocasiona o encurtamen-
dos nesse processo. A fadiga neuromuscular é to do músculo e gera força (Figura 7) (POWERS;
aquela que ocorre no caminho da informação
entre o sistema nervoso central e a fibra mus- HOWLEY, 2014).
cular. Atualmente, sabe-se que a diminuição
de neurotransmissores como a serotonina, a)
a dopamina e a acetilcolina estão envolvidos
neste tipo de fadiga, porém acredita-se que
outros mecanismos estejam envolvidos, mas
ainda não foram identificados.

Fonte: adaptado de Powers e Howley (2014).

CONTRAÇÃO MUSCULAR

A contração muscular é um processo complexo que


envolve certo número de proteínas celulares e siste-
mas de produção de energia. O resultado final deste
processo é o deslizamento da actina sobre a miosina,
com consequente encurtamento do músculo e de-
senvolvimento de tensão. Este processo é mais bem
explicado pela teoria dos filamentos deslizantes da
contração (Figura 7).
As fibras musculares contraem por meio do en-
curtamento de suas miofibrilas, que se deve ao des-
lizamento da actina sobre a miosina. Isso resulta na
diminuição da distância entre uma linha Z e outra.
Microscopicamente, isso ocorre, pois as cabeças das
pontes cruzadas de miosina estão orientadas na di-
reção da molécula de actina. Os filamentos de actina
e miosina deslizam uns nos outros durante a contra-
b)
ção muscular, em decorrência da ação de numero-

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

Segundo Powers e Howley (2014), a primeira


b)
etapa desse processo ocorre por meio da excitação,
que engloba dois processos:
1. a geração de um potencial de ação em um moto-
neurônio causa liberação de acetilcolina dentro
da fenda sináptica da junção neuromuscular;
2. a acetilcolina se liga aos receptores localiza-
dos na placa motora terminal, produzindo
um potencial de placa terminal que acarre-
ta a despolarização conduzida ao longo dos
c)
túbulos transversos, profundamente, para
dentro das fibras musculares. Essa despolari-
zação ocasiona a saída de cálcio de dentro do
retículo sarcoplasmático.

Sequencialmente, ocorrem as etapas envolvidas na


contração propriamente dita:
1. no estado de repouso, as pontes cruzadas de
miosina não estão conectadas à actina (não
há geração de força);
2. quando a despolarização chega ao retículo
sarcoplasmático, o Ca2+ é liberado no interior
do sarcoplasma e se liga à troponina, causan-
do uma mudança na posição da tropomiosi-
na, liberando os sítios de ligação para que a
miosina possa se ligar na actina. A quebra do
ATP resulta na ligação da miosina a actina;
3. da quebra do ATP permanece ligado a mio-
sina, os produtos desta quebra (ADP e Pi) e
após o desligamento do Pi, a ponte cruzada é
Figura 7 - Encurtamento do sarcômero durante o processo de con- energizada, ou seja, cria-se uma ligação forte
tração muscular entre a miosina e a actina;
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 376-377).
4. o ciclo é completo pela liberação do ADP da
miosina, resultando na movimentação com-
O termo acoplamento excitação-contração refere-se pleta da ponte cruzada;
à sequência de eventos em que um impulso nervoso 5. neste ponto da contração, a miosina ainda
atinge a membrana muscular e causa encurtamento continua ligada à actina. Esta ligação só é
do músculo via atividade de ponte cruzada (o proces- desfeita após a ligação de uma nova molécula
so todo pode ser acompanhado pelas Figuras 8 e 9). de ATP na cabeça da miosina.

97


Quando os potenciais de ação cessam e o retículo sarcoplasmático remove o Ca2+


do sarcoplasma, e o processo de contração é interrompido.

CONTRAÇÃO RELAXAMENTO

1 Potencial de ação
muscular propagado Membrana plasmática muscular

Túbulo transverso
Retículo
Saco lateral
sarcoplasmático

Ca2+ Ca2+

2 Ca2+ liberado ATP ADP + Pi


do saco lateral Ca2+
5 Ca2+ é captado

3 A ligação do Ca2+ 6 A remoção do Ca2+ da


à troponina troponina restaura a ação
remove a ação bloqueadora da tropomiosina
bloqueadora da
tropomiosina Troponina
Tropomiosina
Actina

Ponte cruzada 4 A ponte cruzada se move


ATP
de miosina
Filamento espesso

Figura 8 - Primeira ilustração das etapas envolvidas na excitação, contração e no relaxamento muscular
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 173).

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 9 - Segunda ilustração do processo de excitação, contração e relaxamento muscular


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 381).

99


REFLITA

Durante o envelhecimento temos uma tendência à perda de massa mus-


cular, refletindo negativamente na realização das atividades da vida diária.
Logo, conforme envelhecemos, necessitamos de exercícios para frear este
processo.

TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES

O músculo esquelético humano pode ser dividido em classes principais, com


base nas características histoquímicas ou bioquímicas das fibras individuais (o
modo como estas fibras são “tipadas” está ilustrado na Figura 10).

Figura 10 - Tipagem muscular: após o processo de biópsia muscular (A e B), as amostras serão preparadas para
marcação imunohistoquímica
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 383).

De modo geral, as fibras musculares são classificadas em duas categorias gerais:


a) fibras lentas tipo I e b) fibras rápidas tipo II. O músculo humano possui apenas
um tipo de fibra muscular lenta do tipo I, porém, de uma forma geral, apresenta
dois tipos de fibras rápidas do tipo II, as fibras do tipo IIa e as fibras do tipo IIx
ou IIb (para mais informações sobre as diferenças entre estes três tipos de fibras,
veja a Tabela 1). Embora alguns músculos sejam compostos predominantemente
por fibras rápidas ou por fibras lentas, a maioria dos músculos do corpo contém
uma mistura de tipos de fibras lentas e rápidas.

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

O percentual dos respectivos tipos de fibras contidos nos músculos esquelé-


ticos pode ser influenciado pela genética, níveis hormonais e hábitos de exercício
do indivíduo. Do ponto de vista prático, a composição de fibras dos músculos
exerce papel importante no desempenho dos eventos que envolvem potência e
resistência, ocorrendo diferenças nos tipos de fibras presentes nos músculos de
velocistas, fundistas e sedentários, porém este não é o único determinante do
sucesso esportivo (Tabela 2) (McARDLE et al., 2015).

Tabela 1 − Diferenças entre os três tipos de fibras musculares

Fibras Rápidas Fibras Lentas


Característica Tipo IIx Tipo IIa Tipo I
Número de mitocôndrias Baixo Alto/Moderado Elevado
Resistência à fadiga Baixa Alta/Moderada Elevada
Sistema energético predominante Anaeróbico Combinação Aeróbico
Atividade da ATPase A mais elevada Elevada Baixa
Vmáx (velocidade de encurta- A mais elevada Intermediária
Baixa
mento)
Eficiência Baixa Moderada Elevada
Tensão específica Elevada Elevada Moderada
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 179).

Tabela 2 − Percentual de fibras em diferentes atividades

Esporte % de Fibra Lentas (Tipo I) % de Fibras Rápidas (Tipos IIx e IIa)


Maratonistas 70-80 20-30
Velocistas 25-30 70-75
Não atletas 47-53 47-53
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 179).

Como pudemos ver, o mecanismo de contração é algo de grande complexidade e


requer uma série de passos entre sua geração no sistema nervoso central e a exe-
cução propriamente dita. Logo, o estudo em pequenas partes se faz necessário,
mas lembrem-se que tudo ocorre numa grande velocidade e com sobreposição de
alguns passos no funcionamento real.

101
considerações finais

Nesta unidade, estudamos a fisiologia do movimento humano e pudemos per-


ceber que apesar de os movimentos serem realizados em uma grande veloci-
dade, existe uma grande quantidade de eventos que ocorrem desde o ato da to-
mada da decisão da realização do movimento até a ocorrência do movimento
propriamente dito.
Num primeiro momento, aprendemos que o sistema nervoso tem um papel
fundamental para a geração do movimento, sendo o responsável por receber in-
formações diversas provenientes do ambiente interno e externo, integrá-las e, a
partir disso, tomar a decisão de realizar o movimento. Passada esta etapa, teremos
a elaboração de um esboço do movimento, seguido dos sinais para contração e
relaxamento dos músculos específicos. Para finalizar, teremos a constante análise
e correção do movimento em seu curso. Como vimos no início de nossa unidade,
este é o papel do sistema nervoso na geração do movimento, que enviará todos
estes sinais por meio de alterações no potencial elétrico dos neurônios.
Em um segundo momento, vimos que com a chegada destes sinais aos mús-
culos, eles passam por um conjunto de eventos que culmina na interação entre a
actina e a miosina, a aproximação das linhas “Zs” dos sarcômeros e a contração
e produção de força, contração esta necessária para uma infinidade de ações, in-
cluindo os movimentos de locomoção, contração do diafragma para respiração,
para manutenção da postura entre outros.
Finalizando esta unidade, entramos em contato com a informação de que a
palavra “músculo” engloba diversos tipos de fibras musculares (tipo I, tipo IIa e
tipo IIx/IIb) que podem predispor ou favorecer a realização de um tipo de ativi-
dade em detrimento de outro, de acordo com a maior população de fibras mus-
culares presente.
Desta forma, nos despedimos de mais uma unidade, espero que tenham ab-
sorvido o máximo de informação possível, nos vemos na próxima unidade.

102
atividades de estudo

1. Sabemos que para comandar os músculos esqueléticos apresentamos di-


ferentes grandes vias motoras, cada qual com uma função e/ou caracterís-
tica específica. Sobre as grandes vias motoras, assinale a alternativa a
seguir que indica a via motora que se divide em dois tratos no nível
das pirâmides bulbares.
a) Trato corticoespinal.
b) Trato rubroespinal.
c) Trato reticuloespinal.
d) Trato vestibuloespinal.
e) Trato tetoespinal.

2. Uma importante via motora na geração do movimento corporal envolve o tra-


to corticoespinal lateral. Sobre ele, assinale a alternativa que representa
a função do trato corticoespinal lateral.
a) Responsável direto pela movimentação da musculatura do abdome.
b) Responsável pelo controle da contração muscular de toda a musculatu-
ra da região axial do corpo.
c) Responsável pelo controle da contração de toda a musculatura distal
dos membros inferiores e superiores.
d) Responsável por levar aos neurônios motores informações necessárias
para a manutenção do equilíbrio.
e) Responsável pelos reflexos visuomotores, que orienta o corpo a partir
dos estimulos visuais recebidos.

3. Sabemos que para controle dos movimentos das porções distais dos
membros temos como principal via motora o trato corticoespinal late-
ral. Entretanto outra via pode auxiliá-lo nesta função. Assinale a alternati-
va a seguir que melhor representa esta(s) via(s) alternativa(s).
a) Trato tetoespinal.
b) Trato rubroespinal.
c) Trato corticoespinal medial.
d) Trato corticonuclear.
e) Trato vestibuloespinal.

103
atividades de estudo

4. Para o processo de geração do movimento voluntário, observamos a realiza-


ção de várias fases que ocorrem em sequência. Aponte a assertiva a seguir
que melhor representa as fases para geração do movimento voluntário.
a) Subdividido em etapas de preparação, que termina com a elaboração
do programa motor e a etapa de execução, propriamente dita.
b) Subdividido em três fases, o raciocínio, o pensamento do ato motor e
a execução.
c) Subdividido em etapas de execução, que termina com a elaboração do
programa motor e a etapa de elaboração, propriamente dita.
d) Subdividido em três fases, preparação, pensamento do ato motor e
correção do movimento já iniciado.
e) Subdividido em etapa de preparação que corrige o movimento iniciado,
e a etapa de execução, propriamente dita.

5. Para que a contração muscular possa ocorrer, nosso sistema nervoso deve
comandar a musculatura mediante a liberação de um neurotransmissor es-
pecífico, que iniciará a sequência de alterações necessárias para que o pro-
cesso de deslizamento das fibras ocorra. Sabendo disso, qual o neurotrans-
missor utilizado para transmissão da informação do motoneurônio
ao músculo esquelético?
a) Noradrenalina.
b) GABA.
c) Acetilcolina.
d) Glutamina.
e) Actina.

6. O sarcômero é a unidade contrátil do músculo esquelético e encontra em


sua constituição os filamentos finos e os filamentos grossos de proteínas.
Sabemos que estes filamentos são formados por proteínas específicas.
Baseado nesta informação, quais proteínas principais formam os fila-
mentos finos do sarcômero?
a) Miosina.
b) Miosina e actina.
c) Actina, troponina e tropomiosina.
d) Troponina e tropomiosina.
e) Miosina e tropomiosina.

104
LEITURA
COMPLEMENTAR

A discussão a seguir se baseia em um grande trabalho realizado por Tipton e colabora-


dores (1970), publicado em uma grande revista científica denominada American Journal
of Physiology, na qual demonstrou o impacto dos exercícios sobre o tecido conjuntivo
(tendões e ligamentos) até então com pouca evidência.
Antes de 1970, a evidência que demonstrava que o exercício aprimorava a força do
tecido conjuntivo provinha de estudos realizados em camundongos e ratos de labo-
ratório. O estudo pioneiro de Tipton e colaboradores proporcionou evidência expe-
rimental direta dos benefícios do treinamento com exercícios sobre a força dos liga-
mentos colaterais mediais intactos ou reparados cirurgicamente em cães. Esses dados
proporcionaram uma importante base para justificar a utilização terapêutica atual e
aceita comumente do exercício, e não da imobilização, para reabilitar a lesão e o reparo
cirúrgico dos tecidos moles.
Tipton estudou mais de 100 cães machos, com idade maior do que 1 ano para respon-
der várias questões, incluindo o efeito de 6 semanas de atividade física aumentada
ou reduzida (por meio de treinamento com exercícios, imobilização, atividade normal
e procedimento cirúrgico simulado) sobre a força dos ligamentos do joelho. Um se-
gundo objetivo consistiu em descrever os efeitos das variações no treinamento com
exercícios, na imobilização e na atividade normal na jaula sobre a força dos ligamen-
tos reparados cirurgicamente, o que constitui uma questão de interesse primário na
medicina do esporte.
Em todas as avaliações da força dos ligamentos, os músculos plantar, gastrocnêmio
e extensor longo dos dedos eram removidos (juntamente com os tecidos moles cir-
cundantes da articulação), deixando a cápsula e os ligamentos intactos. Um aparelho
de teste fixava o preparado representado por osso-cápsula-osso quando a tíbia era
tracionada e afastada do fêmur com uma velocidade constante de 0,25mm/s. A força
(kg) necessária para separar o ligamento do osso (mensuração do estresse-sobrecarga)
representava a força de separação. A relação entre a força de separação para peso cor-
poral era ajustada para as diferenças dos animais em seu peso corporal. O treinamento
com exercícios incluía a corrida na esteira rolante com velocidades, graus de inclinação
e durações diferentes por um máximo de 6 dias por semana durante 6 semanas. O trei-
namento consistia em 3 dias de endurance e 3 dias de piques explosivos. Na semana 3
os animais se exercitavam 1h diariamente.

105
LEITURA
COMPLEMENTAR

A imobilização consistia em fixar uma das pernas traseiras com o joelho fletido em
60-80 graus com pinos colocados através do fêmur e um deles através da tibia. A se-
guir, um aparelho gessado de secagem rápida prendia a perna. O reparo cirúrgico do
ligamento colateral medial esquerdo expunha o ligamento fazendo-se uma incisão
através de suas porções superficial e profunda ao longo da interlinha articular, porém
preservando o suprimento sanguíneo. Dois pontos de fio de aço inoxidável reinseriam
o ligamento em seu local de origem. As operações simuladas (sem cortar o ligamento)
incluíam a introdução de pinos, a incisão da pele, a exposição do ligamento e o fecha-
mento da ferida.
Os resultados deste estudo nos mostraram que a força do ligamento intacto do joelho
se relaciona ao nível de atividade física do animal, com a imobilização produzindo me-
nor nível de força (ou seja, a força de separação era menor) e 6 semanas de corrida em
uma esteira rolante produzindo o mais alto nível de força (ou seja, a força de separação
era maior). A força dos ligamentos reparados cirurgicamente dependia do intervalo
de tempo antes do sacrifício e da quantidade de atividade realizada pela perna expe-
rimental. A localização da separação também variava entre os ligamentos intactos e
reparados. Os ligamentos intactos se separavam de sua inserção tibial, enquanto os
ligamentos reparados cirurgicamente se separavam no local do reparo.
De uma forma geral, este estudo interessante indica que a atividade física, além de in-
duzir adaptações específicas das células musculares, aprimora profundamente a força
dos ligamentos. Esses achados importantes confirmaram que o tecido conjuntivo res-
ponde ao estresse mecânico do exercício.

Fonte: adaptado de TIPTON et al. Influence of exercise on strength of medial collateral knee
ligaments of dogs. Am J Physiol 1970; 218:894.

106
material complementar

Indicação para Ler

Guyton e Hall: Tratado de Fisiologia Médica


John E. Hall
Editora: Elsevier
Sinopse:: livro de fisiologia humana que acrescenta detalhes ao estudo da fisio-
logia do controle motor (capítulos 54, 55, 56 e 57) e a mecânica da contração
(capítulos 6, 7 e 8).

107
referências

HALL J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12 ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2011.
KENNEY W. L.; WILMORE J. H.; COSTILL D. L. Fisiologia do esporte e do
exercício. 5 ed. São Paulo: Manole, 2013.
McARDLE W. D.; KATCH F. I.; KATCH V. E. Fisiologia do exercício: nutrição,
energia e desempenho humano. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
MACHADO A.; HAERTEL L. M. Neuroanatomia funcional. 2 ed. São Paulo:
Atheneu, 2000.
MACHADO A.; HAERTEL L. M. Neuroanatomia funcional. 3 ed. São Paulo:
Atheneu, 2014.
POWERS S. K.; HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole, 2014.
TIPTON et al. Influence of exercise on strength of medial collateral knee liga-
ments of dogs. Am J Physiol 1970; 218:894.

gabarito

1. A
2. C
3. B
4. A
5. C
6. C

108
UNIDADE IV
HORMÔNIOS E EXERCÍCIO FÍSICO

Professor Dr. Felipe Natali Almeida

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Visão geral do sistema endócrino
• Hormônios: funções e sua relação com o exercício físico

Objetivos de Aprendizagem
• Conceituar sistema endócrino e hormônios.
• Conhecer as principais funções dos hormônios e sua
relação com o exercício físico.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

S
eja bem-vindo(a), aluno(a), para mais um unidade do livro de
Fisiologia geral e do movimento. Neste momento, trabalharemos
um assunto de grande importância para aqueles que buscam co-
nhecer o funcionamento do organismo humano e a forma como
ele se organiza e se regula. Estamos falando do estudo do sistema endó- Glândula adre
crino, sistema este que juntamente com o sistema nervoso é o responsável
por regular e coordenar o funcionamento do organismo humano.
Ao longo desta unidade, estudaremos os principais sistemas hormo-
nais que estão envolvidos em uma grande quantidade de funções, in-
cluindo o controle do fornecimento e do gasto de energia, controle do
crescimento corpóreo, controle da osmolaridade corporal, controle da
taxa de hidratação do corpo, regulação térmica, características sexuais
secundárias masculinas e femininas, controle de íons, regulação da res-
posta de luta ou fuga, resposta ao estresse entre outras.
De uma forma geral, sabemos que o sistema endócrino é caracteri-
Pâncreas
zado pela presença de células capazes de produzir e secretar substâncias
químicas (os chamados hormônios), que tem por finalidade atuar em
curtas ou longas distâncias em relação ao local onde foi secretada, com
o intuito de alterar o funcionamento da célula-alvo após sua ligação ao
receptor. Esta é uma definição mais atual sobre o que engloba este impor-
tante sistema e, ao longo do início da unidade, previamente a descrição
específica do papel de cada hormônio, nos aprofundaremos um pouco
mais nesta definição.
Bom, espero que aprecie esta unidade, pois ela é de suma importância
para todos que desejam trabalhar com corpo humano e com a grande
gama de pessoas envolvidas com prática de exercícios físicos, perguntas
sobre funções hormonais são constantes, independente do ambiente de
trabalho em que se está inserido.

Timo
enal Cérebro Testículo

SISTEMA
ENDÓCRINO
Ovário

Glândula pituitária Tiróide




Visão Geral do Sistema Endócrino


Dois dos principais sistemas fisiológicos envolvi- abordagem deste tópico. Apesar dos dois siste-
dos no controle e na regulação das diversas fun- mas apresentarem um papel regulador, eles dife-
ções corporais são os sistemas nervoso e endócri- rem na emissão da mensagem, sendo o sistema
no. Ambos estão estruturados de modo a perceber endócrino por meio da liberação de hormônios
as informações, organizar uma resposta apropriada (sinal endócrino) para que atinjam os tecidos-al-
e, em seguida, enviar uma mensagem até o órgão vo, enquanto que o sistema nervoso faz isso por
ou tecido correspondente. meio de neurotransmissores. Em adição a isto,
Frequentemente, os dois sistemas trabalham outra importante diferença é a velocidade pela
em conjunto para manter a homeostase, fazen- qual a mensagem é transmitida, sendo aquela for-
do com que em alguns livros-texto se utilize a necida pelo sistema nervoso muito mais rápida
palavra neuroendrocrinologia para descrição e (POWERS; HOWLEY, 2014).

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

Partindo de nossa definição inicial dada na in-


trodução da nossa unidade, trabalharemos neste iní-
cio de unidade. Bom, conforme exposto, o sistema
endócrino é caracterizado pela presença de células
capazes de produzir e secretar substâncias químicas
(os chamados hormônios) que têm por finalidade
atuar em curtas ou longas distâncias em relação ao
local onde foi secretada, com o intuito de alterar o
funcionamento da célula-alvo após sua ligação ao
receptor (AIRES, 2012).
Note que destacamos alguns pontos importantes
na definição, ou no qual nos aprofundaremos um
pouco mais neste momento.

GLÂNDULAS ENDÓCRINAS
Figura 1 - Visão geral das glândulas endócrinas iniciais

A evolução da endocrinologia passou de uma vi-


são macroscópica para uma visão microscópica de Com o advento da tecnologia, foram caracterizadas cé-
acordo com o avançar da tecnologia. Isso fez com lulas secretoras que se encontram dispersas em deter-
que num primeiro momento poucos foram os teci- minados locais, sem formar um tecido especializado,
dos descritos que tinham a capacidade de secretar e muito menos ainda um órgão (ou glândula). Como
substâncias químicas com capacidade de alterar o exemplo, temos células dispersas na glândula tireoide
funcionamento de células/tecidos corporais, e a es- especializadas na síntese e secreção do hormônio cal-
tes foi dada a terminologia de glândulas endócrinas citonina, importante na regulação dos níveis de cálcio
(AIRES, 2012). no sangue. Além disso, à medida que evoluímos mais,
As primeiras glândulas endócrinas descritas fo- observou-se que praticamente todos os tipos celulares
ram: as gônodas (ovário e testículo), pâncreas, su- do organismo são capazes de produzir um ou mais
prarrenal (glândula adrenal), tireóide, paratireóide hormônios (como, por exemplo, o tecido adiposo, que
e hipófise, sendo que nesses tecidos foram caracte- secreta a leptina). Essa observação expandiu o sistema
rizadas as células secretoras dos hormônios (Figu- endócrino para muito além das clássicas glândulas en-
ra 1). Verificou-se, também, que em uma mesma dócrinas, inicialmente caracterizadas (AIRES, 2012).
glândula, diferentes tipos celulares poderiam estar
presentes e que, na maioria das vezes, cada tipo ce- HORMÔNIOS
lular era responsável pela síntese e secreção de um
hormônio específico, mas que em alguns casos um Os hormônios são substâncias químicas sintetizadas
tipo celular poderia produzir mais de um hormô- e secretadas pelos variados tipos celulares descritos
nio (HALL, 2011). anteriormente. De uma forma geral, todos têm por

115


função modular a atividade de uma célula/tecido/ REFLITA


órgão e, como veremos mais a frente, vários são
os hormônios presentes em nosso corpo (AIRES,
Baseado no conceito da palavra esteroide,
2012). Diante desse fato, buscou-se classificá-los, ou seja, aquele que deriva do colesterol, de-
sendo a afinidade deles por ambiente aquoso utili- vemos refletir se todo esteroide induz ana-
bolismo (crescimento muscular) e se todo
zado para tal finalidade. Dessa forma, classifica-se
anabólico é esteroide. Esses conceitos estão
quimicamente os hormônios em hidrofílicos (aque- se fundindo e muitos os usam como sinôni-
les que têm afinidade por ambiente aquoso) e em hi- mos de forma incorreta.
drofóbicos (aqueles que têm aversão por ambientes
aquosos) (HALL, 2011).
Os hormônios hidrofílicos ou hidrossolúveis são
a maioria e envolvem todos os hormônios que qui-
micamente são considerados peptídeos ou proteínas.
Assim como todas as demais proteínas do corpo são SISTEMAS HORMONAIS
constituídas de cadeias de aminoácidos que se ligam
por ligações peptídicas, a composição desses hormô- Ao lermos na definição de sistema endócrino so-
nios varia desde um único aminoácido modificado, bre a “atuação em curtas e longas distâncias” esta-
até grandes proteínas (com centenas de aminoáci- mos tratando dos chamados sistemas hormonais.
dos). Sua síntese depende de transcrição gênica, por Sistemas hormonais compreendem os meios pelo
não passarem livremente pela membrana, podem qual um hormônio atinge a célula-alvo (Figura 2).
ficar estocados em vesículas na célula produtora até Antigamente, o único sistema hormonal descrito
serem liberados e não obrigatoriamente precisam de envolvia a ação chamada endócrina, caracteri-
proteínas transportadoras na circulação. Em geral, zada pela ação do hormônio em uma célula-al-
apresentam meia-vida curta (AIRES, 2012). vo distante, na qual ele chega através do sangue.
Em contrapartida, os hormônios hidrofóbicos ou Posteriormente a isso, foram descritos o sistema
lipossolúveis são derivados, em sua grande maioria, parácrino, no qual o hormônio se difunde pelo
do colesterol, que sofre uma série de reações quími- líquido intersticial (localizado entre as células)
cas, dando origem aos variados hormônios chama- agindo em células vizinhas da célula secretora,
dos de esteróides. Diferentemente dos hormônios não necessitando atingir a circulação sanguínea
hidrossolúveis, os lipossolúveis não são armazena- e o sistema autócrino, no qual o hormônio é se-
dos em grânulos, sendo secretados por difusão na cretado e atua na própria célula que o secretou
membrana plasmática à medida que são produzidos, (HALL, 2011).
não havendo estoque. Ao atingirem a circulação, por Atualmente, outros sistemas hormonais foram
sua característica de “aversão à água”, necessitam de descritos, tal como o criptócrino, o justácrino e o
uma proteína com função de transporte, que facilita intrácrino, mas não se faz necessária a abordagem
sua migração até a célula em que irá agir. Em geral, neste material de estudo.
apresentam meia-vida longa (AIRES, 2012).

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

Autócrino Parácrino
De uma forma geral, a ligação do hormônio a um re-
ceptor segue um princípio chave-fechadura (Figura
4), ou seja, cada determinado hormônio apresentará
Células secretoras Células-alvo
adjacente um ou vários tipos de receptores que são específicos
Endócrino
ao hormônio em questão, impedindo que um hor-
mônio se ligue a receptores que não são específicos
Vasos sanguíneos a ele (AIRES, 2012).

Importância da insulina
Sinal extracelular
Receptor Células-alvo distantes Receptor de insulina

Figura 2 - Principais sistemas hormonais Célula


Fonte: Cavalcante (2015, on-line)1. Insulina

Canal de Glicose
RECEPTORES HORMONAIS
Glicose
Quando escutamos que um hormônio desenvolve
efeitos no organismo humano, tendemos a achar Figura 4 - Hormônios se ligam a seus receptores num conceito de cha-
que é o hormônio propriamente dito que realiza esta ve-fechadura
ação. Como exemplo, ao entrarmos em contato com
a informação que a insulina é responsável por redu- Esses receptores podem, de uma forma geral, ser sub-
zir a glicose do sangue, a imaginamos “pegando e divididos em receptores de membrana celular e em
lançando a glicose” para dentro das células. receptores intracelulares (localizados no citoplasma
A ação hormonal é desencadeada por meio de sua ou no núcleo celular) (Figura 5). Em geral, hormônios
ligação a receptores específicos de hormônios no órgão- capazes de atravessar a membrana plasmática (hormô-
-alvo, ou seja, é por meio da ligação do hormônio ao seu nios lipossolúveis) apresentam receptores intracelula-
receptor que se inicia uma cascata de eventos que cul- res. Em contrapartida, hormônios hidrossolúveis apre-
mina com a ação propriamente dita (MOLINA, 2007). sentam receptores de membrana (MOLINA, 2007).
Fazendo uma analogia, o hormônio é só a primeira
peça do dominó a cair em um efeito dominó (Figura 3). Molécula
lipofílica
Receptor
no citosol
Molécula lipofílica
ou lipofóbica Receptor
no núcleo

Receptor na superfície
da membrana celular

Figura 5 - Receptor de membrana celular e intracelular (citoplasmático


Figura 3 - Efeito dominó: analogia à forma como os hormônios atuam, e nuclear)
iniciando uma série de eventos que resultará em seu efeito biológico final Fonte: o autor.

117


Hormônios:
Funções e sua Relação
com o Exercício Físico
Nesta seção, estudaremos as ações de hormônios es- uma grande quantidade de hormônios (descritos
pecíficos e sua relação com o exercício físico. adiante) e seu padrão de secreção hormonal é con-
trolado por hormônios estimuladores ou inibidores
HORMÔNIOS HIPOFISÁRIOS provenientes do hipotálamo que atingem a hipófise
por meio de um conjunto de vasos sanguíneos deno-
A hipófise é uma glândula localizada na base do cé- minado de sistema porta hipotálamo-hipofisário. Já
rebro, acoplada ao hipotálamo (Figura 6). A glân- a hipófise posterior, libera dois hormônios que são
dula possui dois lobos: o lobo anterior (ou adenohi- produzidos no corpo celular de neurônios localiza-
pófise), que é considerada uma glândula endócrina dos no hipotálamo e que se dirigem até os terminais
verdadeira e o lobo posterior (ou neurohipófise), axônicos localizados na chamada neurohipófise, em
que é o tecido nervoso que se projeta do hipotála- que são secretados na corrente sanguínea quando
mo. A hipófise anterior é responsável por secretar necessários (HALL, 2011).

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

GLÂNDULA HIPÓFISE
A hipófise posterior é responsável pela secreção
GLÂNDULA
HIPÓFISE de dois hormônios, a ocitocina e o hormônio an-
tidiurético (ou vasopressina). A hipófise anterior
é responsável por secretar o hormônio adrenocor-
ticotrófico (ACTH), o hormônio tireoestimulante
HIPOTÁLAMO
(TSH), o hormônio folículo-estimulante (FSH), o
hormônio luteinizante (LH), o hormônio de cres-
HIPÓFISE
HIPÓFISE cimento (GH) e a prolactina (AIRES, 2012) (Figura
ANTERIOR
POSTERIOR 7). Iniciaremos o estudo da hipófise pelos hormô-
Figura 6 - Visão geral da hipófise nios da hipófise anterior.

HIPÓFISE
Córtex Seio
adrenal

Pele
Prolactina
Ocitocina

Rim

Gonadotrofinas

Osso

Ovário

Tireóide
Músculo Testítculo

Figura 7 - Hormônios secretados pela hipófise

119


Gonadotropinas (FSH e LH) hipotalâmico denominado de hormônio liberador


Os hormônios gonadotrópicos (FSH e LH) são sin- de corticotropinas (CRH). O ACTH resulta de uma
tetizados e secretados por um conjunto de células da molécula proteica maior, denominada de proopio-
adenohipófise chamados de gonadotropos, em res- melacortina (POMC), após ser sintetizado e libera-
posta à estimulação destas células por um hormônio do é clivado em várias moléculas menores, incluindo
proveniente do hipotálamo chamado de hormônio o hormônio estimulador de melanócitos (que atua
liberador de gonadotropinas (GnRH). O FSH e o no controle da produção dos melanócitos na pele),
LH exercem seus efeitos fisiológicos sobre múltiplas as beta endorfinas (opioides endógenos) e o ACTH.
células do sistema reprodutivo (células da granulosa Após sua liberação na circulação, o ACTH se dirige
e da teca no ovário e células de Leydig e de Sertoli por meio do sangue até o córtex da glândula suprar-
nos testículos) resultando na síntese dos hormônios renal e estimula a síntese e secreção de cortisol e, em
sexuais (estrogênio e testosterona), espermatogêne- menor grau, da aldosterona (AIRES, 2012).
se, foliculogênese e ovulação. Sobre sua relação com o exercício físico, acredita-
Dessa forma, pode-se resumir o papel desses hor- -se que as concentrações de ACTH podem aumentar
mônios em controle da função reprodutiva de ambos proporcionalmente com a intensidade e a duração do
os sexos (MOLINA, 2007). Relatos inconsistentes exercício, desde que a intensidade seja superior a 25%
descrevem as alterações a curto prazo no FSH e LH da capacidade aeróbica (McARDLE et al., 2015).
associadas ao exercício (McARDLE et al., 2015).
Prolactina
Hormônio tireoestimulante (TSH) A prolactina é um hormônio secretado pelos lacto-
O TSH é um hormônio liberado por células da hi- tropos da hipófise anterior. Os níveis de prolactina
pófise anterior chamadas de tireotropos em resposta se mostram mais elevados na mulher do que no ho-
a um hormônio estimulador proveniente do hipo- mem, sendo o papel deste hormônio na fisiologia
tálamo, chamado de hormônio liberador de tireo- masculina ainda pouco elucidado (MOLINA, 2007).
tropinas (TRH). Ao cair na circulação, o TSH atinge Seus principais efeitos fisiológicos consistem na
a tireoide e estimulará o crescimento da glândula estimulação do crescimento e desenvolvimento da
e a produção dos hormônios tireoidianos (HALL, glândula mamária, na síntese do leite e na manu-
2011). Devido ao papel dos hormônios tireoidia- tenção da secreção do leite, além de bloquear o eixo
nos como reguladores do metabolismo, esperava- produtor de estrogênio quando presentes em quan-
-se efeitos mais pronunciados do exercício físico tidades elevadas, tal qual ocorre no período pós-na-
sobre os níveis de TSH, porém a resposta é incerta tal (AIRES, 2012).
(McARDLE et al., 2015). Estudos apontam que os níveis de prolactina
aumentam com as altas intensidades do exercício
Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e retornam ao nível basal dentro de 45 minutos
O ACTH é um hormônio liberado pela hipófise an- após iniciada a recuperação. Em virtude de seu
terior, mais especificamente por células denomina- papel sobre o equilíbrio dos hormônios esteroides
das de corticotropos, estimulado por um hormônio sexuais femininos, acredita-se que a liberação repe-

120
EDUCAÇÃO FÍSICA

tida de prolactina induzida pelo exercício em atletas Sobre sua relação com o exercício físico, sabe-
de alto rendimento possa ser uma das explicações mos que a atividade física estimula um aumento na
da inibição da função ovariana e bloqueio do ciclo amplitude dos pulsos e na quantidade de hormônio
menstrual nestas mulheres (POWERS; HOWLEY, secretado em cada pulso. Somado a isto, estimula
2014). Em geral, sabe-se que mulheres que correm a liberação das isoformas de GH com meias-vidas
sem utilizar roupa íntima que dê apoio às mamas mais longa, prolongando a ação do GH sobre os te-
(por exemplo, top ou sutiã) acentuam esta produ- cidos-alvo. Aparentemente, esta secreção é direta-
ção, assim como o jejum e o consumo de alimentos mente proporcional à dificuldade relativa do esforço
gordurosos. Este aumento de prolactina também é físico. Dessa forma, beneficia o crescimento e remo-
observado nos homens (McARDLE et al., 2015). delagem do músculo, osso e cartilagem, além de oti-
mizar a mistura de combustíveis durante a atividade
Hormônio do crescimento (GH) física, reduzindo a captação de glicose (impedindo
O GH é um hormônio liberado pelos somatotropos uma queda acentuada na glicemia, preservando-a
na adenohipófise em pulsos, sendo mais pronun- para ser usada pelo sistema nervoso) e aumentando
ciado no período noturno, especialmente na fase o uso das gorduras (McARDLE et al. 2015).
de ondas lentas do sono. Sofre influência de fatores
estimuladores (GHRH, dopamina, catecolaminas, Ocitocina
aminoácidos, hormônio tireoidiano) e de fatores A mama em fase de lactação e o útero durante a gravi-
inibidores (somatostatina, IGF-1, glicose, ácidos dez constituem os dois principais órgãos-alvo dos efei-
graxos, cortisol) (HALL, 2011). tos fisiológicos da ocitocina. Na mama, durante a lac-
O GH induz efeitos fisiológicos sobre as células- tação, a ocitocina estimula a ejeção do leite por meio
-alvo diretamente por meio da ativação do receptor da produção da contração das células mioepiteliais
de GH ou indiretamente por meio da estimulação que revestem os alvéolos e ductos da glândula mamá-
da síntese e secreção do IGF-1. O principal efeito fi- ria. No útero gravídico, a ocitocina produz contrações
siológico do GH consiste em regular o crescimento, rítmicas para induzir o trabalho de parto e a regressão
estimulando condrogênese e o alargamento da placa do útero após o parto (AIRES, 2012). Os efeitos da ati-
epifisária, seguido da deposição de matriz óssea. Em vidade física sobre a ocitocina continua desconhecido.
adição, estimula a captação de aminoácidos e síntese
de proteínas musculares (efeito anabólico), lipólise, Hormônio antidiurético (ADH)
resistência à ação da insulina e manutenção da fun- O ducto coletor dos néfrons no rim constituem o
ção imune (MOLINA, 2007). principal alvo da ação do ADH. A permeabilidade
Já o IGF-I estimula a formação óssea e a reabsor- à água é relativamente baixa neste local, mas na pre-
ção óssea, captação de glicose no músculo, sobrevi- sença do ADH, aumenta-se grandemente a perme-
da dos neurônios e síntese de mielina. Atua ainda na abilidade (devido ao aumento na quantidade de ca-
inibição da degradação proteica e estímulo de sua nais de água nesta região) aumentando a reabsorção
síntese, além de estimular a síntese e inibir a degra- de líquidos com consequente diminuição no volume
dação de colágeno (MOLINA, 2007). urinário formado (MOLINA, 2007).

121


A atividade física proporciona um poderoso es- Suas ações fisiológicas envolvem uma grande gama
tímulo para a secreção de ADH. A maior liberação de tecidos. De uma forma geral, estimulam a termo-
de ADH, estimulada provavelmente pela transpira- gênese auxiliando na manutenção da temperatura
ção, ajuda a conservar os líquidos corporais, parti- corporal, estimula a formação de células adiposas,
cularmente durante a atividade física realizada em em excesso (como no caso do hipertireoidismo) esti-
um clima quente e com desidratação concomitan- mula a lipólise, aumenta a quantidade de receptores
te. Esse efeito do ADH, que consiste na conserva- de catecolaminas no organismo, tornando-o mais
ção de água, contribui para manutenção do volume suscetível à ação da adrenalina e noradrenalina (ele-
sanguíneo, preservando o trabalho cardiovascular vando a frequência cardíaca e a força de contração do
(McARDLE et al., 2015). coração, por exemplo), atua na remodelação óssea,
atua na eritropoese, é essencial para o crescimento e
HORMÔNIOS TIREOIDIANOS desenvolvimento normal da criança, assim como do
desenvolvimento do sistema nervoso (AIRES, 2012).
A glândula tireoide fica localizada na parte ante- Durante a atividade física, os níveis sanguíneos
rior do pescoço, em frente a traqueia (Figura 8). É de T4 livre (tiroxina) aumentam em aproximada-
constituída por dois lobos (direito e esquerdo), co- mente 35% (McARDLE et al., 2015) e este incremen-
nectados por um istmo. Apresenta como principal to ocorre em decorrência de treinamento aeróbio,
elemento constituinte as células foliculares, que da- com o treinamento de força produzindo elevações
rão origem aos folículos produtores dos hormônios não significativas (POWERS; HOWLEY, 2014).
tireoidianos (triiodotironina, ou T3 e a tiroxina, ou Além dos hormônios tireoidianos, a tireoide
T4). O T4 é o principal produto sintetizado e secre- apresenta um conjunto de células denominadas de
tado pela tireoide, porém, por ser a forma inativa do células parafoliculares, envolvidas na produção de
hormônio, necessita sofrer uma ação hormonal para calcitonina, um hormônio que atua na regulação
conversão à forma ativa T3 (MOLINA, 2007). dos níveis de cálcio no sangue. De uma forma ge-
ral, a calcitonina age diminuindo a reabsorção ós-
sea e a absorção intestinal de cálcio com o intuito
de minimizar os níveis de cálcio circulantes (MO-
LINA, 2007). Evidências atuais sugerem que a cal-
citonina não aumenta como resultado do exercício
(POWERS; HOWLEY, 2014).

PARATORMÔNIO

A regulação dos níveis plasmáticos de Ca2+ é deci-


siva para a função normal das células, transmissão
neural, estabilidade das membranas, estrutura óssea,
Figura 8 - Visão geral da glândula tireóide coagulação sanguínea e sinalização intracelular. Essa

122
EDUCAÇÃO FÍSICA

CORTISOL

regulação baseia-se nas interações entre o parator- O cortisol é um hormônio esteroide, ou seja, deriva-
mônio das glândulas paratireoides, a vitamina D da do do colesterol, sintetizado e secretado pelas glân-
dieta e a calcitonina (da glândula tireoide) descrita dulas suprarrenais (ou adrenais) (Figura 10). Esta
anteriormente (HALL, 2011). glândula é de extrema importância, visto que sua
As glândulas paratireoides são glândulas do ta- região central (conhecida como medula da suprar-
manho de uma ervilha, localizadas nos pólos su- renal) é responsável pela síntese e secreção da adre-
perior e inferior das bordas posteriores dos lobos nalina e sua região mais externa (córtex da suprar-
laterais da glândula tireoide (Figura 9). O parator- renal) é dividida em 3 porções: a zona glomerulosa
mônio, hormônio liberado por estas glândulas, tem (responsável pela secreção da aldosterona), a zona
por função estimular a reabsorção óssea e libera- fasciculada (responsável pela produção de cortisol)
ção de cálcio na circulação. No rim, o paratormô- e a zona reticular (responsável pela produção de an-
nio promove a reabsorção de cálcio e a excreção de drogênios fracos, como a epiandrosterona e a dei-
fosfato inorgânico na urina e a ativação da vitamina droepiandrosterona) (HALL, 2011).
D (MOLINA, 2007). O paratormônio aumenta du-
glândula adrenal
rante exercícios intensos e prolongados (POWERS;
HOWLEY, 2014).
A vitamina D ativa apresenta efeitos muito seme-
lhante ao do paratormônio, aumentando a absorção
intestinal e a reabsorção renal de cálcio, além da re-
absorção óssea, sendo que todos estes efeitos levam
ao aumento do cálcio plasmático (AIRES, 2012).

Figura 10 - Visão geral da glândula adrenal

Entre os seus efeitos fisiológicos, podemos dividi-los


em metabólicos, hemodinâmicos e imunológicos.
Os efeitos metabólicos incluem degradação de pro-
teína muscular, aumento na degradação de gorduras
nos membros (lipólise periférica) e aumento na de-
posição de gordura central (lipogênese centrípeta),
diminui a sensibilidade tecidual à insulina, estimula
Figura 9 - Visão geral da paratireóide a glicogenólise e gliconeogênese hepática. Em rela-

123


ção a seus efeitos hemodinâmicos, temos que eles chamamos de sistema renina-angiotensina-aldostero-
mantêm a integridade vascular e a reatividade, man- na, que auxilia na retenção de sódio e, indiretamente,
têm a responsividade aos efeitos pressores das cate- de água durante o exercício (McARDLE et al., 2015).
colaminas e mantêm o volume hídrico. Já os efeitos
sobre o sistema imunológico, observamos uma ação ADRENALINA
anti-inflamatória aliada a uma diminuição da ativi-
dade do sistema imune (MOLINA, 2007). A adrenalina é um hormônio secretado pela região
Sobre a relação do cortisol com o exercício físico, central da glândula adrenal conhecida como medula
sabemos que o turnover do cortisol (taxa de renova- da suprarrenal. É de fundamental importância visto
ção, a diferença entre a produção e a remoção) exibe que potencializa a resposta do sistema nervoso sim-
uma considerável variabilidade com a intensidade pático em nosso corpo. Dentre suas ações, podemos
do exercício, o nível de aptidão, o estado nutricional citar o aumento da frequência cardíaca e da força de
e até mesmo o ritmo circadiano. A maior parte da contração do coração, dilatação da pupila, broncodila-
pesquisa vigente demonstra aumento da produção tação, aumento na produção de calor, lipólise, glicoge-
do cortisol com a intensidade do exercício, o que nólise, relaxamento da musculatura lisa do intestino,
acelera a lipólise, a cetogênese e a proteólise. Em bexiga e útero, aumento na produção de suor, maior
relação ao volume de treino, observa-se níveis ex- atividade cerebral e estado de alerta (AIRES, 2012).
tremamente altos de cortisol após uma maratona. Por ser um hormônio fundamental para prepa-
Até mesmo treinos moderados com duração mais rar o organismo para respostas de “luta ou fuga” e
prolongada elevam os níveis de cortisol. Importante pelo fato de o exercício se enquadrar em atividades
salientar que este estado de hipercortisolismo per- que simulem este estado, os estudos demonstram
manece por até 2 horas após a interrupção da sessão um incremento nos níveis de adrenalina, assim
de exercício (McARDLE et al., 2015). como nos níveis de noradrenalina (seu correspon-
dente liberado pelo sistema nervoso) em resposta
ALDOSTERONA diretamente proporcional à duração e intensidade
dos exercícios. Seus efeitos principais, que potencia-
Como dito anteriormente, a aldosterona é um dos lizam a realização do exercício físico, englobam re-
hormônios secretados pela glândula suprarrenal, distribuição de fluxo sanguíneo, potencialização do
mais especificamente na zona glomerulosa. Sua prin- trabalho cardíaco (aumentando frequência cardíaca
cipal função fisiológica consiste no estímulo para re- e força de contração cardíaca) e a mobilização dos
absorção renal de sódio (e indiretamente de água) substratos energéticos (McARDLE et al., 2015).
associado à excreção renal de potássio (HALL, 2011).
Durante o exercício, em resposta à maior ati- INSULINA
vidade do sistema nervoso simpático, nota-se uma
constrição das arteríolas aferentes renais, resultando A insulina é um hormônio proteico produzido por
na ativação de um sistema hormonal que culmina no um tipo celular específico do pâncreas (Figura 11)
incremento dos níveis de aldosterona. A este sistema chamado de células beta. Liberada principalmente

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

em resposta ao aumento nos níveis glicêmicos, têm Por ser um hormônio com características ana-
como principal função remover o excesso de glicose bólicas e o exercício físico ser uma atividade tipica-
do sangue e mantê-la em níveis consideradas ade- mente catabólica, os estudos comprovam o que era
quados. Porém, seus efeitos metabólicos vão muito esperado, ou seja, níveis de insulina inversamente
além de apenas remover a glicose da corrente san- proporcionais em relação à intensidade do esforço.
guínea. De uma forma geral, sabemos que a insulina Sendo assim, conforme incrementamos duração e
é um hormônio anabólico, ou seja, estimula todas as intensidade do exercício, notamos uma queda nos
vias de síntese e estoque de substratos energéticos níveis circulantes de insulina. Em parte, essa supres-
no organismo e inibe praticamente todas as vias de são na secreção de insulina é explicada pela ativi-
degradação de substratos (MOLINA, 2007). dade inibidora exercida pelo sistema nervoso sim-
pático nas células beta pancreáticas e também pelos
níveis reduzidos na glicose circulante (McARDLE et
al., 2015).

GLUCAGON

O glucagon é um outro hormônio sintetizado e


secretado pelo pâncreas, porém por uma popu-
lação celular diferente das secretoras de insulina,
denominadas de células alfa pancreáticas. Tem por
finalidade principal impedir que a glicose sanguí-
nea atinja valores demasiadamente baixos (ação
Figura 11 - Visão geral do pâncreas contrária a da insulina, por isso sua denominação
de hormônio contrarregulador). Seus principais
Sobre o metabolismo dos carboidratos, a insulina esti- efeitos fisiológicos envolvem o fígado e incluem
mula o transporte de glicose para o interior do tecido um estímulo para a glicogenólise e gliconeogênese
adiposo e do músculo esquelético, estimula a glicólise hepática, duas vias metabólicas que têm por fina-
e a síntese de glicogênio no fígado e no músculo es- lidade aumentar a glicose na corrente sanguínea
quelético. Em adição, inibe a glicogenólise (hepática (MOLINA, 2007).
e muscular) e a gliconeogênese hepática. No metabo- Por ser um regulador da glicemia, uma diminui-
lismo dos lipídeos, é responsável por estimular a sín- ção nos níveis de glicose circulante induzida pelo
tese de ácidos graxos, de triacilglicerol e de colesterol exercício ou por um jejum prolongado estimula a
e reduz a taxa de oxidação das gorduras e a síntese liberação do glucagon. Entretanto o papel regula-
de corpos cetônicos. Em relação ao metabolismo das dor inicial para manutenção da glicemia durante o
proteínas, estimula o transporte de aminoácidos para exercício é realizado pela adrenalina e pelo sistema
os tecidos e síntese de proteínas, inibindo a degrada- nervoso simpático, com o glucagon tendo um papel
ção protéica e a formação de ureia (AIRES, 2012). mais tardio (McARDLE et al., 2015).

125


TESTOSTERONA

A testosterona é o principal hormônio esteroide an- Observa-se que a testosterona incrementa seus ní-
drogênico. Sintetizada principalmente pelas células veis durante a realização do exercício (seja resis-
de Leydig nos testículos (Figura 12) apresenta ações tido ou aeróbio) mantendo-se elevado por até 30
diretas ou moduladas pela sua conversão à diidrotes- minutos durante a recuperação. Esses incrementos
tosterona. Dentre essas funções, temos o direciona- são maiores quanto mais destreinado for o indiví-
mento sexual embrionário, atividade secretora pós- duo, sendo que uma adaptação associada à melhora
-púbere, crescimento puberal da laringe e mudança do condicionamento envolve incrementos cada vez
da voz, efeitos anabólicos sobre o músculo e ossos, menores nos níveis de testosterona durante os exer-
eritropoiese, estimulação da espermatogênese e libi- cícios (McARDLE et al., 2015). Este padrão de in-
do. Também é responsável pelo crescimento penia- cremento ocorre tanto em homens quanto em mu-
no, calvície, desenvolvimento de pelos púbicos e axi- lheres, porém em valores absolutos diminuídos nas
lares e atividade da glândula sebácea (AIRES, 2012). mulheres (visto que elas apresentam níveis de testos-
terona cerca de 10 vezes menores do que os homens
(McARDLE et al., 2015).

ESTROGÊNIO

O estrogênio é o principal hormônio esteroide


envolvido com a função sexual no sexo feminino.
É produzido, principalmente, nas células da gra-
nulosa nos ovários (Figura 12), a partir de andro-
gênios produzidos nas células da teca. Tem como
principais efeitos sistêmicos a influência sobre o
humor, manutenção da densidade mineral óssea,
crescimento e diferenciação dos órgãos sexuais
femininos, crescimento e proliferação do tecido
mamário, auxilia na manutenção do ciclo mens-
trual e fertilidade, estimula a produção de HDL e
triglicerídeos e inibe a produção de LDL, aumenta
a disponibilidade de fatores de coagulação e inibe
a adesão plaquetária.
Sobre o papel do exercício em seus níveis, a
maioria dos trabalhos comprovam um aumento nos
níveis circulantes de estrogênio com a realização do
Figura 12 - Visão geral dos testículos e ovários exercício físico (McARDLE et al., 2015).

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS

O tecido adiposo é um órgão endócrino: o


tecido adiposo era considerado apenas como
o principal local de armazenamento para a
gordura, sobretudo triglicérides. Quando a
ingestão calórica excede o gasto, aumenta-
mos as reservas de gordura e o inverso se
faz verdadeiro. Entretanto nas últimas duas
décadas, essa visão sobre o tecido adiposo foi
modificada em decorrência da comprovação
que este tecido é capaz de secretar um con-
junto de hormônios.
Entre estes hormônios temos a leptina, hor-
mônio secretado de maneira diretamente
proporcional à quantidade de massa adi-
posa e que tem por finalidade influenciar
o apetite diretamente sobre os centros
de controle de fome e saciedade no hipo-
tálamo. Estudos com camundongos sem
a capacidade de produzir leptina observa-
ram que eles comem em demasia e ficam
obesos. A adiponectina é outro hormônio
secretado pelo tecido adiposo, tendo como
função a melhoria da sensibilidade corpo-
ral a insulina. Entretanto seus níveis são
incrementados quanto menores forem os
estoques de tecido adiposo.

Fonte: adaptado de Powers e Howley (2014).

Como vimos, hormônios são fundamentais para


o bom funcionamento corporal, com seus níveis
oscilando dentro de uma faixa considerada ótima.
Lembrem-se que qualquer alteração nestes níveis
hormonais podem magnificar ou impedir o cor-
reto funcionamento corporal. Nenhuma alteração
hormonal permanece por longos períodos sem al-
teração corporal.

127
considerações finais

C
hegamos ao final de mais uma unidade na qual nos aprofundamos
no universo dos hormônios. Inicialmente, entramos em contato com
a parte conceitual e introdutória do tema, esclarecendo conceitos im-
portantes para uma boa base de estudo do sistema endócrino. Nesta
primeira parte, chamo a atenção novamente para algo que trouxe na seção “refli-
ta” e envolve o conceito de esteroides. Há muito, a palavra esteroide vem sendo
adotada como sinônimo para tratar todas as substâncias que simulam os efeitos
anabólicos da testosterona. O conceito correto da palavra esteroide trata de hor-
mônios que derivam quimicamente do colesterol e não “substância que hipertro-
fia”. Vários são os esteroides presentes em nosso organismo e somente um deles,
a testosterona, leva à hipertrofia. Portanto, cuidado no emprego desta palavra.
Num segundo momento, discutimos isoladamente os principais hormônios
presentes no organismo, seguindo uma sequência de raciocínio que englobou os
locais de produção no corpo humano, suas principais funções e sua relação com
o exercício físico. Grande parte dos hormônios apontados neste material sofrem
influência do exercício físico. Lembrem-se que não esgotamos o assunto, muita
informação existe em literatura sobre a relação entre hormônios e exercício fí-
sico. Porém, este módulo servirá para atrair sua atenção e te proporcionar um
conhecimento de base sobre o tópico.
Conforme abordado na introdução da unidade, o estudo dos hormônios é
algo muito atrativo e muitas dúvidas os cercam, sendo que independente da área
de atuação do profissional de educação física, os conceitos sobre hormônios de-
verão receber especial atenção e serão indagados pelo público-alvo do profissio-
nal. Portanto, espero ter atraído a atenção de vocês e que tenham aproveitado a
oportunidade.

128
atividades de estudo

1. Diversos hormônios circulam pelo nosso organismo realizando funções das


mais variadas possíveis, necessárias para o bom funcionamento corporal. En-
tre estas funções temos o aumento na síntese proteica muscular. Sendo as-
sim, assinale a alternativa a seguir que melhor representa hormônios
que tem por finalidade o crescimento muscular.
a) Testosterona e ocitocina.
b) Estrogênio e TSH.
c) GH e prolactina.
d) Testosterona e GH.
e) GH e cortisol.

2. A definição da palavra esteroides está atrelada a “um hormônio que deriva


do colesterol”, uma definição muito diferente da ideia popular de que este-
roide representa “hormônio que estimula massa muscular”. Sabendo disso,
assinale a alternativa a seguir que melhor representa que hormônios
são considerados esteróides.
a) Testosterona e GH.
b) Estrogênio e ADH.
c) GH e TSH.
d) Estrogênio e testosterona.
e) Testosterona e TSH.

3. Durante uma corrida em um clima muito quente, experimenta-se um incre-


mento na temperatura corporal e consequente aumento na transpiração.
Com o intuito de evitar uma perda acentuada de água corporal, o organismo
libera qual dos hormônios a seguir?
a) Hormônio antidiurético.
b) Insulina.
c) Glucagon.
d) T4.
e) TSH.

129
atividades de estudo

4. Sabendo que uma das funções da insulina é remover a glicose do sangue e


levar para dentro da célula muscular e do tecido adiposo, esperamos que os
níveis de insulina durante o exercício:
a) Aumente.
b) Diminua.
c) Aumente após os 20 minutos iniciais.
d) Aumente somente em exercícios de força.
e) Aumente após 2 horas de treinamento aeróbio.

5. Ao longo de um dia, nossa glicemia oscila entre aumentos (que ocorreram


após as refeições) e quedas (que ocorreram durante períodos de jejum). Sa-
bemos que a queda da glicemia é extremamente danosa ao organismo, pois
afeta o funcionamento do sistema nervoso, sendo assim, diante de uma
situação de queda na glicemia, assinale a alternativa que melhor re-
presenta os hormônios que atuarão com o intuito de combater esta
queda:
a) Insulina e estrogênio.
b) Glucagon e cortisol.
c) Adrenalina e testosterona.
d) Cortisol e aldosterona.
e) Glucagon e insulina.

130
LEITURA
COMPLEMENTAR

Um excesso de hormônio do crescimento (GH) duran- O que esta administração leva? Aparentemente, os estu-
te a infância está ligado ao gigantismo, enquanto a dos têm apontado para:
secreção inadequada desse hormônio causa nanismo.
a. Adultos normais exibiram aumento de massa cor-
Essa última condição exige a administração de GH (jun-
poral magra, mas isso se deve mais à retenção de
tamente com demais hormônios promotores do cres-
água do que a um aumento na massa muscular;
cimento) durante os anos de crescimento, para que
a criança readquira sua posição normal no gráfico do b. Há mínimos ganhos em massa corporal magra e
crescimento. Já em adultos deficientes em GH, doses em força nos homens quando o GH é utilizado com
terapêuticas do hormônio provocam aumentos na oxi- o treinamento de resistência, em comparação com
o uso exclusivo do treinamento de resistência;
dação das gorduras, aumento no VO2 máx e na força
e melhoram a composição corporal, reduzindo o per- c. Há diversos eventos adversos nos casos de uso de
centual de gordura e aumentando a massa muscular. GH, e esses eventos dependem da dose. Os even-
Originalmente o GH era obtido a partir da extração de tos adversos são: supressão do eixo GH/IGF, re-
hipófise de cadáveres (algo difícil e dispendioso), mas tenção de água e edema, dores articulares e mus-
atualmente podemos contar com GH recombinante. culares, bem como maior risco ligado à aplicação
Caso ocorra um excesso de GH durante a vida adulta, das injeções.
ocorrerá uma condição conhecida como acromegalia. O Além disso, estudos têm apontado que apesar de efeitos
GH adicional na vida adulta não afetará o crescimento na benéficos, em idosos saudáveis constatou-se um núme-
altura, pois já se fecharam as placas de crescimento epi- ro maior de efeitos adversos do que de benefícios, tendo
fisárias nas extremidades dos ossos longos. Infelizmen- sido recomendado que o GH não fosse usado como tera-
te, o GH em excesso causa deformidades permanentes, pia antienvelhecimento.
conforme pode ser observado em um espessamento dos Portanto, apesar de ser consenso em muitos centros de
ossos da face, mãos e pés. Até recentemente, a causa treinamento do papel benéfico do GH para performance,
habitual de acromegalia era um tumor de hipófise ante- mais estudos devem ser realizados para tratar da relação
rior que resultava em excesso de secreção de GH. Atual- benefícios versus malefícios de seu uso indiscriminado.
mente, este não é mais o caso. Em um impulso de tirar Fonte: adaptado de Powers e Howley (2014).
vantagem dos efeitos anabólicos do GH, adultos jovens
com níveis normais desse hormônio estão injetando o
GH humano, combinado a outros hormônios.

131
material complementar

Indicação para Ler

Título: Fisiologia endócrina


Autor: Patricia E. Molina
Editora: Lange
Sinopse: livro inteiramente destinado ao estudo da fisiologia endócrina, trazen-
do informações de forma aprofundada a todos aqueles que querem incrementar
seus conhecimentos.

132
referências

AIRES M. M. Fisiologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2012.


HALL J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
POWERS S. K.; HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desem-
penho. São Paulo: Manole, 2014.
McARDLE W. D.; KATCH F. I.; KATCH V. E. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho huma-
no. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
MOLINA P. E. Fisiologia endócrina. Freguesia do Ó: Lange, 2007.

Referências on-line:

1
Em: <https://www.slideshare.net/felipecavalcante33/fisio-endcrino?ref=>. Acesso: 03 jul. 2017.

gabarito

1. D
2. D
3. A
4. B
5. E

133
FISIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA
VOLTADA PARA A SAÚDE

Professor Dr. Felipe Natali Almeida

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Atividade física e saúde
• Exercícios para populações especiais

Objetivos de Aprendizagem
• Entender o conceito de atividade física voltada para saúde.
• Explanar sobre a prática de exercícios físicos para
populações especiais.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Olá aluno(a), seja bem-vindo(a) a nossa última etapa nesta escalada de


conhecimentos. Nesta quinta e última unidade, discutiremos informações
pertinentes à realização da prática de atividade física relacionada à saúde.
Por saúde muitos entendem como apenas a ausência de doenças, po-
rém saúde é algo bem mais amplo. De uma forma geral, saúde é definida
como o completo bem-estar físico, mental e espiritual do indivíduo, com
os três elementos colocados dentro de um continuum (continuum repre-
senta uma série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos, fazendo
com que haja uma continuidade entre o ponto inicial e o final) no qual ou
você se aproxima do espectro “saúde” ou se aproxima do espectro “mor-
te”. Isso significa que todos os hábitos realizados por nós ao longo dos
dias refletem positiva ou negativamente no nosso continuum, nos aproxi-
mando mais do polo saúde ou nos direcionando para o polo morte.
Diante deste fato, um dos pilares para nos aproximarmos mais do
polo saúde engloba a realização de exercícios físicos. Entretanto diferen-
temente do direcionamento que temos que dar para atletas envolvidos em
competições esportivas com o intuito de vencer, os elementos envolvidos
na realização de exercícios voltados para saúde são bem menos intensos e
devem refletir, principalmente, na capacidade funcional do indivíduo, ou
seja, nos elementos necessários para que tenham uma vida independente,
ou o mais independente fisicamente possível. Somado a isto, a prática de
exercícios físicos deve ser capaz de reduzir a predisposição à instalação
de uma série de doenças associadas à falta de movimentação e, caso essa
doença já esteja instalada, o exercício deve ser capaz de, juntamente com
outras medidas, frear a evolução e servir como uma medida auxiliar ao
tratamento.
Sendo assim, trataremos inicialmente nesta unidade de conceitos re-
lacionados ao exercício físico voltado para a saúde, seguido da prática de
exercícios em indivíduos acometidos por algumas doenças comuns em
nossa sociedade. Espero que aproveitem este material.
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Atividade Física
e Saúde

Os padrões de vida atuais direcionam o ser huma-


no para uma vida cada vez mais sedentária. Com a
introdução das novas tecnologias, o homem mo-
derno transformou-se. Em um passado não tão dis-
tante, ele era um indivíduo do campo, fisicamente
ativo, que retirava seu sustento do trabalho braçal,
mas com as ondas migratórias para as grandes ci-
dades passou a adotar um estilo de vida urbano,
com um comportamento tipicamente sedentário Figura 1 - Vida urbana: marcada por comportamentos associados ao
(Figura 1) (STEIN, 1999). baixo nível de movimentação corporal

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os seres humanos foram “construídos” para serem ativos. Do ponto de vista fisio-
lógico, não nos adaptamos muito bem a este estilo de vida sedentário, informação
esta podendo ser comprovada mediante análise da grande quantidade de doen-
ças associadas ao sedentarismo e que tem crescido em incidência nas últimas
décadas. Somado a isto, muitos são os estudos que demonstram que um estilo
de vida mais ativo é de fundamental importância para uma boa saúde (Figura 2)
(HAMER et al., 2014).

Não saudável Saudável

Figura 2 - Associação entre exercícios físicos e melhora da saúde

139
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Em literatura, segundo Stein (1999), ao exercitar-se o indivíduo assume uma pos-


tura positiva em relação a outros fatores de risco para saúde, procurando assumir
um hábito de vida mais saudável. Podemos mencionar isto uma vez que existe uma
relação inversa entre a prática de exercícios físicos e diferentes hábitos não reco-
mendáveis em se tratando de saúde. O exercício pode ter um impacto sobre o ta-
bagismo, sobre a ingestão de caloria inadequada, sobre o estresse exagerado, além
de poder atuar sobre a dependência de álcool e de drogas psicoativas (Figura 3).

Alimentação inadequada Alimentação saudável

Depressão Sensação de bem-estar

Diabetes Saúde física

Doença cardíaca Ausência de doença

Câncer Atividades físicas

Estilo de vida sedentário Relações interpessoais

Figura 3 - Associação entre exercícios com melhores hábitos de vida levam a um fenótipo mais saudável

Dentro deste contexto, um campo específico do conhecimento é utilizado para


estudar a associação entre atividade física e saúde e trata-se da epidemiologia da
atividade física. Esta área aplica definições específicas para caracterizar os padrões
comportamentais e as consequências. A terminologia relevante inclui o seguinte:

• atividade física: movimento corporal produzido pela contração muscular


e que faz aumentar o dispêndio de energia;
• exercício: atividade física planejada, estruturada, repetitiva e intencional;
• aptidão física: atributos relacionados com a maneira pela qual se executa
uma atividade física;
• saúde: bem-estar físico, mental, social e espiritual e não apenas ausência
de doenças;
• aptidão física relacionada à saúde: componentes da aptidão física associados
a algum aspecto de boa saúde ou à prevenção da doença.

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

Desta forma, a atividade física torna-se um termo genérico que engloba pratica-
mente todo tipo de movimento. Já a saúde concentra-se num espectro que varia
desde a ausência completa dos elementos (presentes num extremo de quase mor-
te) aos mais altos níveis de função do organismo. Já em relação à aptidão física,
muitas são as variáveis mensuráveis que se enquadram neste elemento, porém
quando tratamos de atividade física voltada à saúde, seus componentes mais im-
portantes envolvem o condicionamento aeróbio, a composição corporal, a força
e resistência muscular e a flexibilidade (POWERS; HOWLEY, 2014).
De uma forma geral, os elementos relacionados ao exercício necessários para
uma boa saúde estão explicitados na pirâmide a seguir (Figura 4).

• Tempo dedicado a assistir televisão


• Surfando na internet
REDUZIR • Leitura e uso de computador excessivos

Atividade de lazer-estilo de Flexibilidade e força


vida (exercício aeróbico baixo) • calistenia fácil
PELO MENOS 2
• golfe • ioga
VEZES/SEMANA
• jardinagem leve • treinamento de resistência
• atividades caseiras leve-moderado
Exercício aeróbico
Exercício recreativo
• caminhada
PELO MENOS • tênis
• trote
3 VEZES/SEMANA • pedestrianismo
• natação
• raquetebol
• pedalagem
• basquete
• aeróbica

• carregando os mantimentos
DIARIAMENTE • subindo as escadas
(COM A MAIOR FREQUÊNCIA POSSÍVEL) • caminhando até o trabalho
• empurrando o cortador de grama

PIRÂMIDE DE ATIVIDADE FÍSICA

Figura 4 - Pirâmide do exercício: exercícios para uma saúde adequada


Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 867).

REFLITA

Diante de todos os benefícios proporcionados pela prática de exercícios


físicos de forma regular, não existem informações pertinentes que respal-
dam a opção por não se exercitar. Estimule as pessoas a sua volta para o
aumento no gasto energético com atividades físicas.

(Powers e Howley)

141
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Exercícios Para Populações


Especiais

Ao nos atermos em exercícios específicos, muitas são as condições que reque-


rem um cuidado especial durante a realização. A seguir, trataremos de quatro
condições, devido a sua grande presença no público que busca a realização de
exercícios físicos.

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

DIABETES

Saudável Insulina Receptor de


insulina
Glicose

Diabetes tipo I Insulina Receptor de


insulina
Glicose

Diabetes tipo II Insulina Receptor de


insulina
Glicose

Figura 5 - Diferença do pâncreas funcionando normalmente e em dia-


béticos tipo I e tipo II

Diabetes tipo I
O diabetes tipo I (Figura 6), também chamado de
O diabetes (Figura 5) é uma doença caracterizada insulino-dependente, ocorre principalmente em
por níveis elevados de glicose na corrente sanguí- indivíduos mais jovens (abaixo dos 20 anos) e está
nea de forma crônica. Duas são suas apresentações: associado a um ataque do corpo do indivíduo às
o diabetes tipo I, caracterizado por uma reduzida/ células produtoras de insulina. Ou seja, o organis-
ausente capacidade de secreção de insulina pelas mo, por algum motivo, acredita que as células beta
células beta-pancreáticas; e o diabetes tipo II, ca- sejam agentes invasores (tal qual uma infecção por
racterizado pela reduzida capacidade de ação da vírus ou bactérias) e direciona o sistema imune para
insulina, ou seja, o corpo libera, mas o hormô- combatê-las, resultando em sua destruição (AIRES,
nio não consegue agir de forma efetiva (Figura 6) 2012). Este tipo acomete cerca de 5-10% dos indiví-
(HALL, 2011). duos diabéticos tipo I (POWERS; HOWLEY, 2014).

143
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

período; tem hipertensão arterial associada; fuma;


apresenta níveis de lipídeos sanguíneos alterados ou
problemas na retina ou no rim já instalados. Todos
esses fatores são ditos fatores agravantes e requerem
cuidados adicionais em relação à intensidade do
exercício para evitar piora no quadro (POWERS;
HOWLEY, 2014).
Ao prescrever exercícios ao diabético tipo I, a
principal preocupação reside em evitar a hipogli-
cemia. Isso pode ser conseguido se alguns cuidados
forem tomados:
Figura 6 - Imagem representativa de um indivíduo com diabetes tipo I:
1. monitorar a glicemia antes e depois dos exer-
observar aplicação da insulina em região abdominal cícios físicos;
2. evitar exercícios se os níveis de glicose de je-
Os sintomas iniciais envolvem urina frequente, jum estiverem superiores a 250mg/dL e/ou
associado à cetose;
muita sede, muita fome e emagrecimento. Por não
3. ingerir carboidratos se os níveis glicêmicos
produzirem insulina suficiente, esses indivíduos
estiverem inferiores a 100mg/dL;
serão dependentes da administração de insulina
4. identificar quando há necessidade de mudança
para manter a glicemia dentro de valores normais
na dose de insulina ou na ingestão de alimentos;
(HALL, 2011).
5. aprender como a glicemia responde a dife-
Em relação à prática de exercícios físicos por in- rentes tipos de exercícios;
divíduos diabéticos tipo I, alguns cuidados devem 6. ingerir carboidratos conforme necessidade
ser tomados visto que, por serem dependentes de para evitar hipoglicemia;
insulina e pelo fato da dose de insulina ser ajustada 7. alimentos com carboidratos devem estar dis-
com base nas atividades cotidianas do indivíduo e poníveis durante e depois dos exercícios físicos.
na alimentação, a inserção do exercício físico pode
ser um agente dificultador do ajuste da dose de insu- Existe variabilidade no modo como um diabéti-
lina, facilitando o desenvolvimento de hipoglicemia. co tipo I responde ao exercício e à hipoglicemia.
Porém, devido aos amplos benefícios da prática re- Em consequência disso, são essenciais a monito-
gular de exercícios físicos, tal prática deve ser esti- rização frequente e consistente da glicemia e um
mulada em indivíduos portadores de diabetes tipo I ajuste fino da dose de insulina e da ingestão de
(POWERS; HOWLEY, 2014). carboidratos, para que se obtenha sucesso prolon-
Antes do início da prática de exercícios físi- gado na prevenção da hipoglicemia (McARDLE
cos, idealmente seria necessária a avaliação por um et al., 2015).
profissional médico, especialmente se o indivíduo A prescrição de exercício para o diabético tipo
apresenta mais de 40 anos, tem a doença a mais I também deve levar em consideração outros pro-
de 10 anos e permaneceu sedentário por todo este blemas associados a essa doença, como neuropa-

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

tia autonômica, neuropatia periférica, retinopatia


e nefropatia. Indivíduos com disfunção do sistema
nervoso autônomo podem exibir respostas anor-
mais da frequência cardíaca e da pressão arterial ao
exercício. Pessoas com lesões nervosas periféricas
podem sentir dor, comprometimento do equilíbrio
e redução da propriocepção. A lesão de retina, algo
frequente em diabéticos tipo I, pode ser agrava-
da pelo aumento da pressão arterial ou qualquer
movimento rápido da cabeça. Finalmente, a lesão
renal também é algo a ser considerado pela sua
grande prevalência e probabilidade de ser agravada Figura 7 - Diabetes tipo II: em geral, apresenta como principal fator de
pelo aumento da pressão e redistribuição de fluxo risco o excesso de peso

sanguíneo durante o exercício. Por isso, não é de


se surpreender que a prescrição do diabético deve Geralmente, esses pacientes exibem diversos fatores
levar em consideração a presença destes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardio-
(POWERS; HOWLEY, 2014). vasculares além do diabetes, hipertensão, colesterol
Portanto, acredita-se que embora não possa ser alto, obesidade e inatividade física são as mais fre-
considerado como fator essencial para a manuten- quentes (AIRES, 2012).
ção da glicemia na faixa normal (apesar de auxiliar), Há evidência convincente de que o diabetes
o fato de que diabéticos tipo I, que permanecem fisi- tipo II está ligado à falta de atividade física, inde-
camente ativos, sofrem menos complicações diabé- pendente da obesidade. Além disso, pesquisas atu-
ticas já seria a razão suficiente para continuar com ais corroboram os benefícios do treinamento na
uma vida ativa (KENNEY et al., 2013). prevenção e tratamento da resistência à insulina e
do diabetes tipo II. Em comparação com o indi-
Diabetes tipo II víduo diabético tipo I, cuja vida pode estar mais
O diabetes tipo II, também conhecido como não in- complicada quanto ao controle da glicemia no iní-
sulino-dependente, ocorre geralmente com maior cio do programa do exercício, a prática de exercício
lentidão, visto que hábitos do indivíduo vão tornan- é recomendação essencial para o diabético tipo II,
do o corpo do diabético deste tipo menos responsivo tanto para ajudá-lo a enfrentar a obesidade (geral-
à insulina. Logo, surge, geralmente, em idade mais mente associada) como para ajudar no controle da
avançada do que o diabetes tipo I. No entanto, por glicemia (McARDLE et al., 2015).
estar relacionado, entre outras coisas, ao excesso de A combinação de exercício e dieta pode ser su-
peso, pode ser observado em crianças e adolescen- ficiente, eliminando a necessidade de insulina ou da
tes com excesso de peso. Cerca de 90-95% dos in- medicação oral para estimular a secreção deste hor-
divíduos diabéticos são diabéticos tipo II (Figura 7) mônio (KENNEY et al., 2013). Em comparação com
(McARDLE et al., 2015). o diabético tipo I, o diabético tipo II não sofre as

145
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

mesmas oscilações na glicemia durante o exercício,


contudo, pessoas que tomam medicação oral para
estimulação da insulina talvez tenham que diminuir
a dose para manter a glicemia normal durante o
exercício (POWERS; HOWLEY, 2014).
Como ocorre com todos os programas de
exercícios para indivíduos descondicionados, é
mais importante fazer menos do que demais no
início do programa. Ao começar com uma ativi-
dade física moderada, aumentando gradualmente
a duração, os exercícios podem ser feitos todos os
dias. Essa estratégia permite aprender como deve
ser mantido um controle adequado da glicemia,
ao mesmo tempo que minimiza a probabilida-
de de uma resposta hipoglicêmica. Além disso,
ajuda a formar o “hábito” da prática do exercício
regular, condição crucial para obtermos benefí-
cios que perdurarão a longo prazo (POWERS;
HOWLEY, 2014). Figura 8 - Método de aferição da pressão arterial

HIPERTENSÃO ARTERIAL Indivíduos hipertensos devem tomar medicação


para controle da pressão arterial e, geralmente, este
A hipertensão arterial é caracterizada pelo au- uso perdurará por toda a vida, evitando assim o
mento crônico da pressão arterial acima dos va- desenvolvimento de problemas associados à eleva-
lores considerados normais para o repouso (Fi- ção da pressão (Figura 9). O fato da pressão arte-
gura 8). As diretrizes atuais consideram valores rial estar controlada na presença da medicação não
acima de 140/90mmHg para pressão arterial sis- permite a retirada do medicamento, visto que esta
tólica e diastólica, respectivamente, como classi- atitude (sem o consentimento de um profissional
ficação de hipertensão arterial. A pressão arterial médico) geralmente desregulará a pressão arterial
considerada normal envolve valores abaixo de novamente. Aliado à medicação, recomenda-se o
120/80mmHg e os valores presentes entre estas uso de medidas conhecidas como não farmacoló-
duas escalas considera o indivíduo como pré-hi- gicas para o controle da pressão arterial e incluem,
pertenso (entre 120-139mmHg para pressão ar- principalmente, o controle do peso corporal, con-
terial sistólica e entre 80-89 para pressão arterial trole alimentar e prática regular de exercícios físicos
diastólica) (AIRES, 2012). (KENNEY et al., 2013).

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

Complicações da hipertensão

Ataque cardíaco Desordens neurologicas


Infarto agudo do miocárdio
Cardiomiopatia Acidente vascular cerebral
Falência cardíaca Demência

Falência renal Retinopatia

Danos aos vasos sanguíneos Dores de cabeça

Figura 9 - Problemas associados à hipertensão arterial

OBESIDADE

A recomendação dietética para o controle da pres- A obesidade (Figura 10) é caracterizada pelo acú-
são arterial é a redução da ingestão de sal e de calo- mulo de gordura corporal acima de valores conside-
rias. Acredita-se que a redução no consumo do sal rados normais, no qual em resposta a variados mo-
reduza, em média, 5 e 3mmHg para pressão sistó- tivos a ingestão energética ultrapassa cronicamente
lica e diastólica, respectivamente, enquanto a per- o dispêndio de energia. São relatados como causas
da de 1kg de peso corporal leve a uma redução de as influências genéticas, ambientais, metabólicas, fi-
cerca de 2mmHg para pressão sistólica e diastólica siológicas, comportamentais, sociais e, talvez, raciais
(POWERS; HOWLEY, 2014). (POWERS; HOWLEY, 2014).
Já a relação com o exercício físico, sabe-se que tan-
to o condicionamento físico como o exercício físico re-
gular estão inversamente relacionados com a possibili-
dade de ocorrência de hipertensão arterial. Acredita-se
que o exercício de resistência aeróbia reduza cerca de
5-7mmHg os valores de pressão arterial em repouso
do indivíduo hipertenso. Associada a isso, a prática re-
gular de exercícios levam a mudanças no organismo
que diminuem o risco de doença coronariana, mesmo
em casos que a pressão arterial não diminui. Figura 10 - Excesso de gordura corporal

147
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Esta ruptura no equilíbrio energético começa com Tratando especificamente da relação da atividade fí-
frequência na infância e, quando chega a ocorrer a sica com o desenvolvimento do excesso de gordura
probabilidade de obesidade na vida adulta, aumen- corporal, temos que a atividade física regular, tanto
ta consideravelmente. Como exemplo, sabemos que por meio da recreação quanto da ocupação profis-
crianças obesas entre os 6 e 9 anos de idade com- sional, dificulta efetivamente o aumento do peso e
portam uma probabilidade de 55% de se tornarem as alterações adversas na composição corporal. Esse
obesas quando adultas (um risco cerca de 10 vezes efeito frustra a tendência em recuperar o peso per-
maior que aquele apresentado por crianças com dido e contraria uma variação genética comum que
peso normal) (McARDLE et al., 2015). torna a pessoa mais propensa a ganhar um peso ex-
Apesar disso, é entre os 25 e 44 anos que temos cessivo. Os indivíduos que conseguem manter a per-
o período mais perigoso em relação ao desenvolvi- da de peso ao longo do tempo mostram uma maior
mento da adiposidade excessiva. Estudos com norte- força muscular e participam em mais atividade físi-
-americanos apontam que entre os 20 e 40 anos eles ca que os congêneres que recuperam o peso perdido
ganham, em média, cerca de 900g por ano (McAR- (POWERS; HOWLEY, 2014).
DLE et al., 2015). E, apesar dos relatos de influên- Os estilos de vida fisicamente ativos reduzem
cias genéticas serem de suma importância para este o padrão “normal” de aumento de gordura na vida
grande incremento no peso corporal, os pesquisa- adulta. Para homens jovens e de meia-idade que se
dores apontam que alterações genéticas por si só não exercitam regularmente, o tempo gasto na ativida-
podem ser a única explicação e relatam que o estilo de física relaciona-se inversamente com o nível de
de vida sedentário associado a uma grande disponi- gordura corporal. Corredores de longa distância de
bilidade de alimentos saborosos e ricos em lipíde- meia-idade continuam sendo mais magros que seus
os e calorias servidos em porções cada vez maiores congêneres sedentários (McARDLE et al., 2015).
continuam sendo os principais culpados (Figura 11) Mas o que torna a adiposidade excessiva um
(KENNEY et al., 2013). problema? Diversos estudos comprovam que ela
está associada a uma deterioração da saúde e qua-
lidade de vida do indivíduo. De uma forma geral,
observa-se um prejuízo na função cardíaca; uma
associação com desenvolvimento de hipertensão
arterial; acidente vascular cerebral e trombose ve-
nosa profunda; resistência à insulina e diabetes;
doença renal; apneia do sono; restrição ventilató-
ria; osteoartrite; dores articulares devido à sobre-
carga excessiva; gota; câncer de endométrio; da
mama, da próstata e do cólon; níveis anormais de
lipídeos sanguíneos; irregularidades menstruais;
alterações psicológicas; entre outros (Figura 12)
Figura 11 - As escolhas de vida levam ao fenótipo obeso (KENNEY et al., 2013).

148
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além do excesso de adiposidade, também devemos


COMPLICAÇÕES MÉDICAS DA OBESIDADE
levar em consideração a distribuição da gordu-
Doenças pulmonares Acidente
vascular cerebral
ra corporal (Figura 13), visto que este fator altera
os riscos para a saúde em crianças, adolescentes e
Catarata
Doença hepática
adultos. O maior risco para a saúde envolve a de-
gordurosa não alcoólica Doença posição da gordura na área abdominal (obesidade
coronariana
Distúrbios da
central ou andróide), visto que ela, em compara-
Câncer
vesícula biliar ção com a obesidade ginóide (aquela onde a de-
posição de gordura ocorre na região do quadril e
coxa), aumenta a propensão para doença cardíaca,
Figura 12 - Distúrbios associados à adiposidade excessiva hiperinsulinemia, intolerância à glicose, diabetes
tipo II, câncer de endométrio, hipertrigliceride-
Em números, utiliza-se o percentual de gordura ou mia, dislipidemias, hipertensão e aterosclerose. De
o Índice de Massa Corporal (IMC) para caracterizar uma forma geral, utiliza-se os valores de circunfe-
o indivíduo como obeso. Em relação ao percentual rência de abdome de 102cm para homens e 88cm
de gordura, estima-se que homens jovens são con- para mulheres como limítrofe em relação aos riscos
siderados com padrões de adiposidade excessiva (McARDLE et al., 2015).
acima de 20% de gordura corporal (com homens
mais velhos aceitando até 25-30%), enquanto em
mulheres estes valores devem ser superiores a 30%
(McARDLE et al., 2015).
Tratando-se do IMC, sabemos que segundo a
Organização Mundial de Saúde, os valores e sua clas-
sificação correspondentes seguem a tabela a seguir.

Tabela 1 - Índice de Massa Corporal (IMC), calculado


pela divisão do peso (Kg) pela altura (m) ao quadrado

Valores de IMC Classificação


<18,5 Baixo peso
Figura 13 - Acúmulo de gordura na região central (andróide) ou na re-
18,6-24,9 Normopeso gião de quadril e coxas (ginóide)
25-29,9 Sobrepeso
30-34,9 Obesidade grau I Em relação à redução ou controle do peso corporal,
35-39,9 Obesidade grau II as recomendações partem de algo a muito descrito
>40 Obesidade grau III (mórbida) em literatura: a primeira lei da termodinâmica, que
postula que a energia pode ser transferida de um
Fonte: Diretrizes Brasileiras de Obesidade, 2009.
sistema a outro, mas não pode ser criada nem des-

149
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

truída. Em termos de peso corporal, significa que se Para isso, um dos primeiros passos para estimular
a ingesta calórica for igual ao gasto, o peso corporal o indivíduo é colocar metas atingíveis, para evi-
não modificará. Caso a ingesta seja maior do que tar grandes frustrações que podem desencadear
o gasto, o peso corporal aumenta e, se o gasto for danos psicológicos que levariam o indivíduo a
maior do que a ingesta, o peso corporal tenderá a abandonar o programa de emagrecimento. Atual-
reduzir (Figura 14) (KENNEY et al., 2013). mente, estimula-se a estabelecer como meta ini-
cial uma perda de peso de 5-15% do peso corporal
(McARDLE et al., 2015).

IDOSOS

As pessoas idosas perfazem o seguimento de cres-


cimento mais rápido da sociedade na maioria dos
países (Figura 15). Há 30 anos, o marco de 65 anos
representava o início da velhice. Porém, os geron-
tólogos consideram agora 85 anos como a demar-
cação de “mais velho-velho” e a idade de 75 anos
como o “jovem-velho”. Isso se torna um desafio, de-
vido ao declínio físico-funcional destes indivíduos,
associado à maior prevalência de doenças, fazen-
Figura 14 - Balança representando o equilíbrio entre o dispêndio e a
necessidade energética do com que a vitalidade e não a longevidade seja
o principal elemento a ser almejado (POWERS;
Três maneiras desequilibram a equação do equilíbrio HOWLEY, 2014).
energético de forma a produzir uma perda de peso:
1. reduzindo a ingesta calórica abaixo das ne-
cessidades energéticas diárias;
2. mantendo a ingesta calórica e aumentando o
dispêndio de energia por meio de uma ativi-
dade física adicional acima das necessidades
energéticas diárias;
3. reduzindo a ingesta calórica diária e aumen-
tando o dispêndio diário de energia.

Importante salientar que o processo de perda de


peso corporal parece ser simples quando descrito,
porém requer muita perseverança do indivíduo
tanto durante o processo de redução quanto pos- Figura 15 - Grupo etário que mais cresce, especialmente em países de-
teriormente, para manutenção do peso corporal. senvolvidos

150
EDUCAÇÃO FÍSICA

De uma forma geral, pesquisadores esperam atual- tempo de processamento central e tempo de
mente que uma grande parte da deterioração fisio- contração muscular, o envelhecimento afeta
lógica considerada previamente como “envelheci- mais negativamente o tempo necessário para
mento normal” possa ser reflexo do estilo de vida identificar um estímulo e processar a infor-
mação de forma a produzir a resposta;
adotado pela pessoa ao longo dos anos, com o en-
4. alterações endócrinas: basicamente, as alte-
velhecimento bem-sucedido, incluindo quatro ele-
rações na função endócrina afetam 3 eixos
mentos, de acordo com McArdle et al. (2015): hormonais: a) eixo hipotálamo-hipófise-gô-
1. saúde física; nodas, sentido especialmente pelas mulheres
2. espiritualidade; que apresentam uma queda nos níveis de es-
3. saúde emocional e educacional; trogênio, adentrando na menopausa. O de-
4. satisfação social. clínio da testosterona também ocorre, porém
os efeitos são mais pronunciados nos homens
somente por volta da sétima década de vida;
Sendo que, de acordo com os mesmo autores, a ma-
b) córtex suprarrenal, porém seus efeitos
nutenção e até mesmo o aprimoramento das fun- acometem principalmente a produção dos
ções físicas e cognitivas, o engajamento pleno nas androgênios fracos (DHEA e DHEA sulfata-
atividades vitais e a participação em atividades pro- do); c) eixo GH/IGF, observando diminuição
dutivas e relações interpessoais contribuem para a na amplitude média dos pulsos, a duração e a
concretização desses objetivos. fração do GH secretado. Reflete também em
uma diminuição paralela nos níveis circulan-
Em relação às adaptações fisiológicas, observa-
tes de IGF-I;
-se alterações em:
5. função pulmonar: ocorre uma deterioração
1. força muscular: homens e mulheres alcan-
da função pulmonar estática e dinâmica;
çam seus níveis de força mais altos entre os 20
e os 40 anos, declinando a partir da meia-i- 6. função cardiovascular: o VO2 máximo apre-
dade. Esta velocidade de perda é diretamente senta um declínio entre 0,4 e 0,5 ml/kg a cada
proporcional à mobilidade e estado de apti- ano em homens e mulheres adultos, sendo
dão do indivíduo; este mais acentuado em pessoas sedentárias.
Adicionalmente, observa-se uma redução na
2. redução de massa muscular: ocorre por atro-
frequência cardíaca máxima, no débito car-
fia muscular por desnervação, uma degene-
díaco, complacência das grandes artérias e na
ração irreversível das fibras musculares, par-
capilarização muscular;
ticularmente das fibras do tipo II;
7. composição corporal: estudos indicam que
3. função neural: um declínio de quase 40% no
após os 18 anos, homens e mulheres ganham
número de axônios medulares e outro de 10%
progressivamente peso e gordura corporal até
na velocidade de condução nervosa refletem
a quinta ou sexta década de vida, época em
os efeitos cumulativos do envelhecimento so-
que se evidencia uma queda no peso corporal;
bre a função do sistema nervoso central. Essas
modificações contribuem provavelmente para 8. massa óssea: observa-se uma redução de
a redução relacionada com a idade no desem- massa óssea aproximada de 30-50% nas pes-
penho neuromuscular avaliado pelos tempos soas acima de 60 anos de idade.
de reação. Ao dividir o tempo de reação em

151
FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO

Sobre a relação entre o envelhecimento e a prática de SAIBA MAIS


exercícios físicos, pesquisas mostram que a partici-
pação em atividades atléticas na condição de adulto Exercício e morte súbita: muito se comenta
jovem não garante uma boa saúde e longevidade nas sobre a probabilidade de sofrer uma morte
fases subsequentes da vida. Em contrapartida, a ma- súbita ao realizar um esforço físico. E real-
mente, mesmo com a taxa de morte durante
nutenção de níveis mais altos de atividade física e de o exercício declinando no transcorrer dos úl-
aptidão durante a vida inteira, proporciona benefí- timos 30 anos (apesar do aumento global da
cios significativos em termos de saúde e longevidade participação de exercícios), sabemos que o
esforço físico intenso comporta um pequeno
(KENNEY et al., 2013). (porém maior) risco de morte súbita (uma
Além disso, surgiram gradientes inversos de morte súbita por 1,51 milhões de episódios
risco por meio das categorias de aptidão baixa, mo- de esforço) durante a atividade, em compa-
ração com o repouso por período de tempo
derada e alta, com uma taxa de morte mais baixa equivalente, particularmente para pessoas
entre os indivíduos moderadamente aptos em com- sedentárias.
paração com os grupos de baixa aptidão. Homens Porém, estudos comprovam que este risco é
particularmente elevado se você não realiza
e mulheres menos aptos comportavam uma proba- esforços com frequência. Dados mostram que
bilidade quase 2 vezes maior de virem a morrer em pessoas que treinam cinco vezes semanais
virtude de todas as causas do que seus congêneres correm um risco de morte súbita cerca de sete
vezes menos do que aqueles que se exercitam
mais aptos durante um acompanhamento de 8 anos apenas uma vez por semana.
(McARDLE et al., 2015).
Fonte: adaptado de McArdle et al. (2015).
Dessa forma, algumas orientações são específi-
cas para o idoso em relação à prática de exercícios
físicos. Recomenda-se que os idosos devam reali-
zar ao menos 150 minutos semanais de atividade CRIANÇAS
física de intensidade moderada, porém se o ido-
so não puder realizar devido à alguma condição Há ainda muitas questões pendentes em relação às
crônica, deverá ser tão ativo quanto o permitirem respostas fisiológicas da criança saudável a vários ti-
suas habilidades e condição. Em adição, o idoso pos de exercício. Isso se deve ao número limitado de
deve realizar exercícios que melhorem o equilí- pesquisas envolvendo este público.
brio (contudo, eles tendem a ser mais vantajosos Dentre as poucas informações observadas, uma
no idoso pré-frágil em relação ao já fragilizado), delas envolve as características do sistema cardiopul-
fortalecimento muscular e flexibilidade. Somado monar. Acreditava-se que o coração da criança não
a isso, o idoso com algum problema crônico deve resistiria tão bem à sobrecarga imposta por exercí-
ter conhecimento de como sua condição afeta a ca- cios aeróbios de longa duração, chegando a levantar
pacidade de praticar atividade física em segurança a hipótese de que treinamentos de alta intensidade
(McARDLE et al., 2015). em crianças e adolescentes resultaria em lesões ir-

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

reversíveis neste sistema. Porém, relatos científicos


atuais demonstram que crianças inseridas em trei-
namento aeróbio de longa duração podem apresen-
tar evolução física semelhante ao do adulto sem de-
monstrar índice de lesão (McARDLE et al., 2015).
Em adição, outra dúvida referente ao impacto
de programas e treinamento sobre crianças tratava
do déficit de crescimento que viria associado à trei-
namento de alta intensidade em crianças. Porém,
atualmente sabe-se que o crescimento e o desenvol-
vimento tanto de meninos quanto de meninas não é
afetado adversamente por programas de treinamen-
to bem orientados. Mais ainda, espera-se que um
programa de treinamento bem orientado seja capaz
de estimular e otimizar o crescimento. Somado a
isso, sabemos também que crianças envolvidas em
programas bem elaborados de treinamento de força
não apresentam qualquer prejuízo ósseo, muscular
ou cartilaginoso e que seu ganho de força é obtido,
em sua grande maioria, por mudanças que ocorrem
no sistema nervoso, associado a uma limitada hiper-
trofia (McARDLE et al., 2015).

153
considerações finais

B
om aluno(a), chegamos ao fim desta quinta e última unidade, na qual
discutimos conceitos relacionados à fisiologia da atividade física e saú-
de. Num primeiro momento, abordamos tópicos relacionados ao tema
proposto de uma forma geral, mediante abordagem de terminologias
e o impacto da realização do exercício físico para manutenção de uma saúde
adequada no presente e a longo prazo, visto que os efeitos obtidos pelo exercício
físico não são infinitos. Ou seja, os benefícios estão presentes enquanto estamos
inseridos numa rotina cotidiana de exercícios.
Ressalto novamente, nesta parte final, que o exercício é um dos elementos
necessários para uma boa saúde, visto que o conceito atual de saúde é muito mais
amplo do que apenas bem-estar físico (elemento realmente trabalhado pelo exer-
cício, apesar de possuir influências sobre a esfera mental e social). Logo, uma boa
alimentação, bom sono, convívio social satisfatório, espiritualidade, entre outros
também tem seu impacto positivo e devem fazer parte de uma rotina diária.
Posteriormente, entramos em conceitos mais específicos sobre cuidados a se-
rem tomados em condições especiais. Muitas são estas condições presentes em
grande parte da população atualmente, mas demos um enfoque em quatro mais
prevalentes: diabetes, hipertensão, obesidade e idosos. De uma forma geral, à
exceção do diabetes tipo I e o envelhecimento (que ocorrerá com todos), os de-
mais são passíveis de prevenção com a escolha de hábitos saudáveis de vida. Até
mesmo a forma como nos apresentamos na velhice reflete os hábitos realizados
na maior parte de nossas vidas. Sendo assim, procuramos esclarecer informações
básicas acerca destes quatro quesitos, incluindo definições, fatores de risco, male-
fícios associados e a relação com o exercício físico.
Diante disso, espero ter contribuído com informações pertinentes à sua atu-
ação profissional, parta deste livro e se aprofunde mais, conhecimento nunca é
demais. Abraços.

154
atividades de estudo

1. Quando tratamos da elaboração de programas de exercícios físicos, devemos


nos ater aos objetivos do indivíduo. De uma forma geral, podemos dividir a práti-
ca regular de exercícios em voltados para a saúde e voltados ao alto rendimento.
Sendo assim, assinale a seguir a alternativa que melhor representa ele-
mentos envolvidos na aptidão física voltada para a saúde.
a) Potência.
b) Resistência aeróbia.
c) Força.
d) Mais de uma está correta.
e) Nenhuma está correta.

2. Diabetes é definido como a manutenção da glicemia cronicamente acima de va-


lores considerados dentro da normalidade (>126mg de glicose/dL de sangue).
Além disso, o diabetes pode ser subdividido em diabetes tipo I e diabetes tipo II.
Diante do exposto, marque a assertiva a seguir que melhor representa a
definição de diabetes tipo I.
a) O organismo humano nasce sem os órgãos do trato gastrointestinal, in-
cluindo o pâncreas.
b) O organismo humano promove um ataque das células beta pancreáticas
por meio de seu sistema imune.
c) Está associado a uma inabilidade do corpo em responder a insulina pro-
duzida por ele.
d) Devido a um quadro de obesidade e hipertensão, o corpo produz uma
insulina com características químicas diferentes.
e) O organismo humano não produz insulina o suficiente, devido a um qua-
dro obesidade e hipertensão.

155
atividades de estudo

3. O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida antropométrica amplamente


utilizada para definir padrões de acúmulo de peso corporal, devido a sua fácil
mensuração por meio de medidas relativamente simples de obter (peso e esta-
tura). Sabendo disso, dentre os valores de IMC a seguir, assinale a alternativa
que representa um indivíduo com obesidade grau I.
a) 34,2.
b) 29,8.
c) 35,1.
d) 39.
e) 43.

4. A hipertensão arterial é caracterizada pela manutenção da pressão arterial acima


de 140/90mmHg cronicamente. Sabe-se que muitas são as doenças associadas
a ela. Sobre a hipertensão arterial, marque a alternativa que melhor repre-
senta doenças associadas.
a) Acidente vascular cerebral e obesidade.
b) Infarto agudo do miocárdio e diabetes tipo I.
c) Doença renal e diabetes tipo II.
d) Infarto agudo do miocárdio e doença renal.
e) Obesidade e diabetes tipo I.

5. Durante o processo de envelhecimento, podemos observar algumas alterações


fisiológicas importantes associadas ao declínio da funcionalidade corporal, algo
previsto para ocorrer com o avançar da idade, mas não está relacionado propria-
mente dito com o desenvolvimento de doenças. A respeito destas alterações,
leia as assertivas a seguir e, em seguida assinale a alternativa correta.
I - Redução do débito cardíaco.
II - Redução da frequência cardíaca máxima.
III - Diminuição da densidade mineral óssea.
IV -Redução de massa muscular.

a) Apenas I e II.
b) Apenas I e III
c) Apenas II e IV
d) Apenas I, II e III.
e) I, II, III e IV.

156
LEITURA
COMPLEMENTAR

Um dos maiores desafios da educação física escolar envol- proporciona às crianças e aos adolescentes a viabilização
ve a compreensão de que o aluno é um ser composto de da cultura que envolve corpo e movimento, de forma que
corpo e mente. Logo, enquanto o corpo precisa de exercí- suas práticas e experiências sejam caminhos abertos para
cios físicos, movimentos e experiências corporais, a men- uma vida saudável e prazerosa. A interação em brincadei-
te precisa de exercícios lógicos, raciocínios e experiências ras, jogos, danças, atividades físicas, lutas e modalidades
mentais. Impossível separar um do outro. Sendo assim, a esportivas diversas cria um vínculo de respeito, coopera-
saúde e bem-estar do escolar depende de uma reflexão ção e afeto. Portanto, o ambiente escolar deve se adequar
sobre a prática pedagógica do currículo educacional atual, para a nova proposta pedagógica que visa estimular o es-
para que o aluno desenvolva plenamente corpo e mente. colar para a cooperação, a participação e o respeito, num
A Educação Física tem por proposta promover a saúde clima de descobertas, brincadeiras, exercícios e atividades
escolar e o estilo de vida ativo, porém, para que isto pos- físicas e outros, uma maior valorização de sua cultura, seu
sa ocorrer, devemos superar a ideia de que Educação conhecimento e suas experiências. Comumente, o exer-
Física é somente uma prática esportiva, pois por suas cício físico estimula no escolar a capacidade de construir
características competitivas acaba por excluir alguns alu- potencialidades físicas, limites, superações, expectativas,
nos. Esta, por sua vez, deve envolver todos os exercícios possibilidades e outros fatores importantes para a sua
físicos atribuídos pela escola, desenvolvendo comporta- formação humana, que permitem avaliar a si mesmo na-
mento ativo e permanente no escolar. quilo que é capaz de enfrentar para seu conhecimento,
Logo, a educação está ligada à saúde por meio das práti- aprendizado, sucesso, valorização cultural, social, acadê-
cas inovadoras aderidas pelas escolas, no sentido de in- mica e profissional. Isso significa envolver e respeitar os
centivar os escolares, por meio da Educação Física, para escolares nas suas aptidões e limitações físicas.
terem compromisso com a saúde corporal e mental, pra- Assim, percebemos que para a manutenção da saúde e
ticando exercícios regulares para a manutenção e a pro- da qualidade de vida do escolar, faz-se necessário esti-
moção da saúde, bem-estar e qualidade de vida ao longo mular os alunos para a adoção de atitudes saudáveis,
de toda sua vida. Os Parâmetros Curriculares Nacionais ou seja, que valorizem a saúde. Para esta intervenção, a
preconizam que a Educação Física, além da valorização e prática regular e permanente de exercícios físicos é o pri-
do cuidado com o corpo, bem como o desempenho das meiro passo para o desenvolvimento integral do escolar.
técnicas e habilidades, deve ainda valorizar o sociocultu- Fonte: ALVES, Marta Teixeira; ALVES, Queila de Jesus; PA-
ral do escolar, pois muito além de um corpo, existe um GANI, Mario Mecenas; GODOI JUNIOR, Fernando Cesar
ser que precisa ser alicerçado na vida política, social, cul- de Maio. O Exercício Físico na Melhoria da Saúde do Es-
tural, profissional, dentre outros e, assim, ter um desen- colar. [2017]. Disponível em <https://www.inesul.edu.br/
volvimento pleno, abrangendo todo o contexto (saúde). revista/arquivos/arq-idvol_32_1421771721.pdf>. Acessa-
Importante destacar ainda que a Educação Física Escolar do em: 15 fev. 2018.

157
material complementar

Indicação para Ler

Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida


Markus V. Nahas
Editora: Midiograf
Sinopse:: a intenção deste livro é veicular as informações mais recentes ligadas
ao tema de Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida, numa linguagem menos
técnica, com sugestões para autoavaliações e ações que possam ser incluídas no
dia a dia da maioria das pessoas.

158
referências

AIRES M. M. Fisiologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2012.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA ESTUDO DA OBESIDADE E SÍNDROME
METABÓLICA. Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010, 2009.
ALVES, M. T.; ALVES, Q. J.; PAGANI, M. M.; GODOI-JUNIOR, C. M. O exercí-
cio físico na melhoria da saúde do escolar. Disponível em: <https://www.inesul.
edu.br/revista/arquivos/arq-idvol_32_1421771721.pdf>. acesso em: 22 set. 2017.
HAMER M.; LAVOIE K. L.; BACON S. L. Taking up physical activity in later life
and healthy ageing: the English longitudinal study of ageing. Br J Sports Med, 2014.
HALL J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
McARDLE W. D.; KATCH F. I.; KATCH V. E. Fisiologia do exercício: nutrição,
energia e desempenho humano. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
POWERS S. K.; HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao
condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole, 2014.
STEIN, R. Atividade Física e Saúde. Rev Bras Med Esp, v.5, n;4, 1999.
KENNEY, W. L,; WILMORE, J. H., COSTILL, D. L. Fisiologia do Esporte e do
exercício. 5. ed. São Paulo: Manole, 2013.

gabarito

1. D
2. B
3. A
4. D
5. E

159
conclusão geral

Caro(a) aluno(a), neste livro entramos em contato Posteriormente (Unidade IV), passamos a discu-
com uma série de informações sobre mecanismos de tir o papel do outro sistema de grande importância
funcionamento corporal. Discutimos na Unidade I para o comando e controle do corpo humano: o sis-
sobre mecanismos de obtenção de energia anaeróbia tema endócrino, um sistema dotado de hormônios
(por meio da quebra da creatina fosfato e da glicose) produzidos por glândulas endócrinas com o intuito
e aeróbia (por meio da oxidação da glicose, gorduras de alterar o funcionamento de determinadas regiões
e proteínas mediante atividade do ciclo do ácido cí- do corpo. Lembrem-se que muitos deles alteram seus
trico e da cadeia respiratória) e formas de obtenção níveis circulantes em resposta ao exercício físico. En-
de oxigênio e remoção do gás carbônico por meio da cerrando nosso módulo (Unidade V), trabalhamos
integração do funcionamento do sistema cardiovas- com o conceito de atividade física e saúde e a relação
cular e respiratório (Unidade II). do exercício físico com algumas das doenças mais
Tratamos também do papel do sistema nervo- prevalentes na sociedade atual, assim como em ido-
so como gerador dos sinais que levarão o múscu- sos e crianças.
lo esquelético ao ciclo contrátil. Descobrimos que Espero que tenha aproveitado os conteúdos tra-
existem áreas cerebrais específicas para geração de balhados em cada unidade, e tenha compreendido a
padrões de movimento e vias específicas de controle importância desta disciplina em sua formação pro-
de determinados músculos em áreas do organismo fissional. Há muitos anos eu tive meu primeiro con-
humano. Sabemos que por meio da junção neuro- tato com a fisiologia e até hoje me surpreendo com
muscular o neurônio motor envia o sinal que irá al- a importância dela na formação de um profissional
terar elementos das células musculares que levarão à bem capacitado na área.
contração muscular (Unidade III). Um grande abraço.

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