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Bacharelando no curso de graduação em Direito da Universidade Federal Fluminense, do Polo Universitário de
Volta Redonda - RJ. Estagiário da Defensoria Pública de Barra Mansa/RJ. Monitor de História do Direito na
Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Volta Redonda/RJ. Orador da Equipe de Direito e
Processo Penal da Universidade Federal Fluminense - Polo Universitário de Volta Redonda/RJ. Membro do
Grupo de Pesquisa Vulnerabilidades na Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Volta
Redonda/RJ.
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Bacharelando no curso de graduação em Direito da Universidade Federal Fluminense, do Polo Universitário de
Volta Redonda - RJ. Estagiário da Defensoria Pública de Barra Mansa/RJ.
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Bacharelanda no curso de graduação em Direito da Universidade Federal Fluminense, do Polo Universitário de
Volta Redonda - RJ. Estagiária da 2ª Vara Federal Criminal de Volta Redonda/RJ. Membro do Grupo de
Pesquisa Vulnerabilidades na Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Volta Redonda/RJ.
DA CONTEMPORANEIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA: UMA ANÁLISE
JURISPRUDENCIAL SOBRE O TEMA
RESUMO
A prisão preventiva é uma modalidade de medida cautelar e, como tal, precisa ser norteada
pelo postulado constitucional da presunção de inocência. Nesse sentido, a decisão que a
estabelece, conforme o § 2º do art. 312 do Código de Processo Penal brasileiro, deve contar
com fatos novos e contemporâneos capazes de comprovar que, por conta do perigo evidente,
não há outra alternativa a não ser privar o indivíduo da liberdade. Por meio de uma pesquisa
exploratória, volta-se a análise de como a jurisprudência e a doutrina dialogam acerca dessa
temática. Com o intuito de se demonstrar a realidade das decisões judiciais que determinam
esta medida, qual seja, a desconsideração da essencialidade da contemporaneidade dos fatos
e, por conseguinte, a deturpação dos preceitos constitucionais, analisar-se-á o termos do
julgamento do HC 318.702 – MG como ponto de partida deste trabalho acadêmico.
INTRODUÇÃO
ABORDAGEM TEÓRICA
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princípio fundamental de civilidade - e que enseja na escolha política de proteção pelos
direitos e garantias individuais frente a extensão do poder punitivo a cenário carente de
requisitos e fundamentos autorizadores. Dito isso, menciona-se que o princípio em tela se
desenvolve em três esferas, isto é, enquanto norma de tratamento, norma probatória e norma
de julgamento. Para o desenvolvimento deste estudo, explorou-se a primeira perspectiva,
levando em consideração o limite constitucional destacado e a natureza instrumental das
medidas cautelares previstas na legislação pertinente.
No tocante a este princípio, pode-se resumi-lo no dever de tratar como inocente a
pessoa do acusado até o esgotamento das vias recursais e, consequentemente, no
reconhecimento da excepcionalidade da decretação de mandamentos coercitivos (patrimoniais
ou pessoais) até este momento. Já quanto o carácter instrumental das cautelares, mostra-se
inelutável os dizeres de LOPES JR 4 de que “as medidas cautelares de natureza processual
penal buscam garantir o normal desenvolvimento do processo e, como consequência, a eficaz
aplicação do poder de penar”, ou seja, a decretação de medidas cautelares e, essencialmente, a
aplicação da prisão preventiva devem se ater a elementos justificadores com fulcro no
sopesamento entre a consagração de tal postulado constitucional e na excepcional
relativização de seus efeitos. Nesses moldes, prevalece-se que a sua aplicação, na verdade,
deve prostrar-se como ultima ratio, ainda que para isso tenha-se que pagar o preço da
impunidade de algum culpável, pois sem dúvida o maior interesse é que todos os inocentes,
sem exceção, estejam protegidos.
Quanto a aplicação da prisão preventiva (medida cautelar pessoal), afirma-se a
necessidade de que tal determinação ocorra tão somente perante a constatação, in casu, dos
elementos fumus commissi delicti e periculum libertatis, ambos previstos e somados aos
demais requisitos do artigo 312, caput, do Código de Processo Penal - CPP/41, ou seja:
garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica, garantia da aplicação da lei e
conveniência da instrução criminal. Enquanto o brocardo fumus commissi delicti trata da
averiguação de materialidade de conduta delitiva e da presença de indícios suficientes para
atribuição de autoria, este último atrela-se ao risco oriundo da situação de liberdade do
acusado ao curso normal do processo. Estes componentes são imprescindíveis para a
aplicação de tais mandamentos coercitivos, pois, ao contrário do que ocorre na esfera
processual cível, no âmbito penal o exercício do poder punitivo encontra-se atrelado aos
limites constitucionais e à forma processual para consumar-se (nulla poena sine prévio
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LOPES JR., Aury. Direito processual penal / Aury Lopes Jr. – 20. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2023, p.
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iudicio). Frente ao exposto, edifica-se o arcabouço conceitual necessário para discorrer acerca
do modo pelo qual o CPP/41, em seu Título IX, Capítulo III, artigos 311 a 316, retrata um dos
elementos justificadores da prisão preventiva, qual seja: a contemporaneidade do perigo.
Ante a reforma processual trazida pela Lei nº 13.964/19, o art. 312 do CPP/41 foi
acrescido dos §§ 1º e 2º. Nesse viés, o primeiro destaca o caráter subsidiário da prisão
preventiva, enquanto o segundo consagra o entendimento de que a fundamentação da decisão
que determina a prisão preventiva deve basear-se no receio de perigo e na existência concreta
de fatos novos ou contemporâneos que a justifiquem. Logo, o referido dispositivo traz consigo
a ideia de que, para que seja decretada a prisão preventiva, o periculum libertatis deve ser
atual.
Pairou a dúvida quanto a que contemporaneidade estes fatos faziam menção: se da
data dos fatos, ou se da data da decisão que determina esta cautelar. Nessa linha,
AVENA5teoriza que esta refere-se a uma condição que tem sentido de atualidade entre o
momento da decisão judicial que decreta a prisão preventiva e a situação atual caracterizadora
de perigo concreto à ordem pública, isto é, a constatação de contemporaneidade não está
vinculada à proximidade temporal do fato imputado ao agente, mas sim à ideia de que, no
momento de expedição do decreto prisional, há riscos notórios. Com o intuito de mitigar esta
discussão, o STF, ao julgar o AG.REG. NO HABEAS CORPUS 192.519/BA 6, consolidou o
entendimento de que a hodiernidade referenciada pelo § 2º do art. 312 do CPP/41 abrange os
motivos que ocasionaram a prisão preventiva e não o momento da prática criminosa em si,
sendo desimportante que o fato ilícito tenha sido praticado há lapso temporal longínquo, mas
central comprovar que, mesmo com o decurso do tempo, perpetuam-se os requisitos
ensejadores desta medida.
Nota-se, pois, que o legislador, ao acrescentar aos referidos parágrafos, visou evitar
que as decisões que versam sobre prisões preventivas fossem justificadas por fatos pretéritos,
ainda que estes tenham natureza grave. Dessa forma, o juiz decide pela prisão preventiva
quando houver a real necessidade desta medida - se comprovada a agressão ao bem jurídico
tutelado e se preenchidos os requisitos legais - de maneira fundamentada, conforme preconiza
o art. 315, § 1º do CPP/41. Outrossim, é válido destacar que, por conta do princípio da
provisoriedade, exige-se o reexame periódico dos fatos que fundamentaram a decisão da
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AVENA, Norberto. Processo Penal. Ed. Método, 12ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 1.085.
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BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Segundo Agravo Regimental no Habeas Corpus 192.519/BA.
Agravante: Dourival P. Martins e outros. Agravado: Relator Do HC Nº 585.548 do Superior Tribunal de Justiça.
Relatora: Ministra Rosa Weber. Primeira Turma. Bahia, 15.dez.2020. Disponível em: < https://l1nq.com/KeoXK
>. Acesso em 04.out.2023.
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prisão preventiva, reiterando-se, pois, o seu caráter excepcional. Assim, caso percebida a
ausência do fummus comissi delitcti e do periculum libertatis, urge sua revogação.
Por último, é mister compreender a finalidade prática desse estudo ao demonstrar que
é essencial a contemporaneidade, além de uma justificativa plausível para cercear o Direito a
Liberdade do acusado antes do trânsito em julgado. Assim, examina-se o caso do HC 318.702
- MG, que chegou ao plenário do Superior Tribunal de Justiça em 2015. O Habeas Corpus
impetrado para acusar o abuso da decisão do tribunal ad quem, que não acolheu o recurso que
pedia a impugnação da prisão cautelar decretada pelo juízo de primeira instância.
Em primeira vista, a decisão do juízo a quo alegou que o réu apresentava perigo
significativo a ordem pública, e, por esta razão e pelo texto do art. 312 do CPP/41, deve-se
inibir suas ações na comunidade, necessitando, por conseguinte, da decretação da prisão
preventiva do acusado, visão que foi acompanhada pelo desembargador, posteriormente.
Ademais, argumenta o juiz singular:
CONCLUSÃO
Longe de exaurir estas questões, percebe-se que é preciso debater de forma mais
profunda sobre a coexistência entre o princípio da presunção de inocência como norma de
tratamento e a decretação de prisão preventiva do acusado, de maneira a se reconhecer a
imprescindibilidade da averiguação, no momento da decretação destas medidas, da real
situação de perigo que a liberdade do réu impõe ao curso processual. Esta que, por sua vez,
não seria outra senão a consagração do exercício do poder punitivo à luz das limitações
provenientes da CRFB/88. As razões que levaram o HC 318.702 - MG a ser impetrado
mostram que decisões que ferem princípios basilares de nossa República continuam sendo
proferidas e, por esse motivo, faz-se necessária esta abordagem.
REFERÊNCIAS
AVENA, Norberto. Processo Penal. Ed. Método, 12ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2020.
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DE LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de
Lima – 8. ed. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal / Aury Lopes Jr. – 20. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2023.