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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO

Escola de Química

Estruturas Cristalinas

EQI - 365 Ciência dos Materiais

Prof. Robinson L. Manfro e-mail: robinson@eq.ufrj.br


Estruturas Cristalinas
➢ Conceitos Fundamentais
Um material cristalino é aquele em que os átomos estão
Cristalino posicionados em um arranjo repetitivo ou periódico ao
longo de grandes distâncias atômicas;

Ausência de um arranjo atômico regular e sistemático ao


Não-Cristalino longo de distâncias atômicas relativamente grandes.
Algumas vezes, esses materiais tambem são chamados
amorfos.

Si
Oxigênio SiO2
Não-Cristalino

SiO2 Cristalino
Estruturas Cristalinas
➢ Conceitos Fundamentais

Estrutura Formada por células unitárias (menor porção que se repete


tridimensionalmente na rede cristalina)
Cristalina

Célula A célula unitária define a estrutura cristalina em função de


Unitária sua geometria e das posições dos átomos no seu interior.
Estruturas Cristalinas
Parâmetros importantes na estrutura cristalina

Número de Número de Coordenação (NC): número de vizinhos


Coordenação mais próximos que um certo átomo possui.

Ex.: NaCl
NC = 6

6 Na+ em torno de 1 Cl- ou


6 Cl- em torno de 1 Na+
Estruturas Cristalinas dos Metais
Parâmetros importantes na estrutura cristalina

Fator de Empacotamento Atômico (FEA)

O FEA é a soma dos volumes das esferas de todos os átomos no


interior de uma célula unitária (considerando o modelo atômico de
esferas rígidas) dividida pelo volume da célula unitária.

𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜𝑠 á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑢𝑚𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎


𝑭𝑬𝑨 =
𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎
Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ A geometria da célula unitária é completamente definida por seis
parâmetros:

Comprimentos das 3 arestas – a, b e c;


Pelos 3 ângulos entre os eixos – α, β e γ; Parâmetros da rede
Sistemas Cristalinos

❑ As estruturas cristalinas podem ser divididas


em 7 sistemas cristalinos, de acordo com as
configurações das células unitárias e/ou
arranjos atômicos.
Sistemas Cristalinos
Sistemas Cristalinos
Sistemas Cristalinos

Esses 7 sistemas cristalinos diferem ainda quanto à posição dos átomos


no interior da célula unitária. Por exemplo, para sistemas cúbicos (que
são os mais comuns em metais): CS (cúbico simples), CCC (cúbico de
corpo centrado) e CFC (cúbico de face centrada).

Existem um total de 14 redes cristalinas, chamadas de 14


redes de Bravais (Bravais mostrou em 1848 que na Natureza só
existem essas 14 redes).
Estruturas Cristalinas dos Metais

Três estruturas cristalinas relativamente simples são


encontradas para a maioria dos metais mais comuns,
elas são: cúbica de faces centradas (CFC), cúbica
de corpo centrado (CCC), e hexagonal compacta
(HC).
Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ Estrutura Cristalina Cúbica de Faces Centradas (CFC)

Célula Unitária Contém:


6 faces x 1/2 + 8 vértices x 1/8
= 4 átomos/ cel. unt.
NC = 12

Ex: Al, Cu, Au, Pb, Ni, Pt, Ag


Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ Estrutura Cristalina Cúbica de Faces Centradas (CFC)
Relação entre o parâmetro cristalino a e o raio atômico R:

Os átomos se tocam ao longo da diagonal da face do cubo.

𝑎 2 = 4𝑅

𝑎 = 2𝑅 2

𝑉𝑐 = 𝑎3 = 16𝑅3 2

4
4 ∙ 3 𝜋𝑅3
𝐹𝐸𝐴 = = 0,74
𝑎3
Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ Estrutura Cristalina Cúbica de Corpo Centrada (CCC)

Célula Unitária Contém:


1 centro + 8 vértices x 1/8
= 2 átomos/ cel. unt. NC = 8

Ex.: Cr, Fe(α), Mo, W, Ta


Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ Estrutura Cristalina Cúbica de Corpo Centrada (CCC)
Relação entre o parâmetro cristalino a e o raio atômico R:

Os átomos se tocam ao longo da diagonal do cubo.

𝑎2 + (𝑎 2)2 = (4𝑅)2
4𝑅
𝑎=
3
64𝑅3
𝑉𝑐 = 𝑎3 =
3 3

4
2 ∙ 3 𝜋𝑅3
𝐹𝐸𝐴 = = 0,68
𝑎3
Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ Estrutura Cristalina Hexagonal Compacta (HC)

Célula Unitária Contém:


3 internos + 2 face x 1/2 + 12 vértices x 1/6 NC = 12
= 6 átomos/ cel. unt.

Ex.: Cd, Co, Ti(α), Zn, Mg


Estruturas Cristalinas dos Metais
➢ Estrutura Cristalina Hexagonal Compacta (HC)
Relação entre o parâmetro cristalino a e o raio atômico R:

4
6 ∙ 3 𝜋𝑅3
𝑎 = 2𝑅 𝐹𝐸𝐴 =
3 3 2
𝑎 𝑐
2

Para uma estrutura ideal: c/a = 1,633

FEA = 0,74

Área da base
6 x Aequilátero 𝑎2 3
𝐴∆𝑒𝑞 =
4
Cálculos de Massa Específica

massa/célula unitária (átomos/célula unitária)(g/átomo)


densidade= =
volume/célula unitária volume da célula

onde:
𝒏𝑷𝑨 n = número de átomos por célula unitária
𝝆= PA = peso atômico (g/mol)
𝑽𝒄 𝑵𝑨
VC = volume da célula unitária (cm3)
NA = número de Avogadro (6,023 x 1023 átomos/mol)
Exemplo:
O cobre tem estrutura CFC e raio atômico de 0,1278 nm. Calcule a sua densidade.
(PA=63,5g/mol)
(4 átomos/célula unitária) x (63,5g/mol)
𝜌=
[16 2 (1,28 × 10−8 𝑐𝑚)3 /célula unitária] × (6,023 × 1023 átomos/mol)

𝝆 = 𝟖, 𝟖𝟗 𝒈/𝒄𝒎𝟑 Valor Experimental 𝝆 = 𝟖, 𝟗𝟒 𝒈/𝒄𝒎𝟑


Densidade dos Materiais
Em Geral: Grafite/
Metais/ Compósitos/
r r r Cerâmicos/ Polímeros
metais > cerâmicos > polimeros Ligas
Semicond
Fibras
30
Por quê?
20 Platinum
Gold, W
Metais tem... Tantalum
• empacotamento denso
(lig. Metálica) 10 Silver, Mo
Cu,Ni
• átomos mais pesados Steels
Tin, Zinc
Zirconia
Cerâmicas tem... 5

(g/cm 3)
Titanium
4 Al oxide
• empacotamento Diamond
Si nitride
3
menos denso Aluminum Glass -soda
Concrete
Glass fibers
• elementos mais leves 2 Silicon PTFE GFRE*
Carbon fibers
r

Magnesium G raphite
Silicone CFRE *
PVC Aramid fibers
AFRE *
Polímeros tem... PET
PC
1 HDPE, PS
• baixo empacotamento PP, LDPE
(freq. amorfo)
• elementos leves (C,H,O) 0.5
Wood
0.4
Compósitos tem... 0.3
• valores intermediários
Polimorfismo e Alotropia

Alguns materiais podem ter mais de uma estrutura


Polimorfismo cristalina, fenômeno conhecido como polimorfismo.
Polimorfos são dois ou mais tipos de cristais que têm a
mesma composição.

Ex: Polimorfos de carbono = grafite e diamante


Polimorfismo e Alotropia

20 Hexágonos
12 pentágonos

Nanotubo de carbono

Fullerenos (C60)
Polimorfismo e Alotropia

Em sólidos elementares, como os metais, costuma-se usar


Alotropia o termo alotropia. Os polimorfos são variedades
alotrópicas de uma mesma composição.

Transformações polimórficas são modificações estruturais sem alteração de


composição, determinadas pelas condições ambientais (T e P).

Ex.: Fe
Líquido
1535 °C
CCC - Fe-δ
1394 °C
CFC - Fe-

912 °C
CCC - Fe-
Direções Cristalográficas
❑ Ao se trabalhar com materiais cristalinos, frequentemente torna-se
necessário especificar um ponto particular no interior da célula unitária,
uma direção cristalográfica, ou algum plano cristalográfico de átomos.

Uma direção cristalográfica é definida como sendo uma linha entre dois
pontos, ou um vetor.

As seguintes etapas são utilizadas na determinação dos 3 índices direcionais:

➢ Traça-se um vetor que passa pela origem até uma determinada posição no
cristal (não importa o tamanho, mas sim a direção);

➢ Determina-se a projeção deste vetor sobre cada um dos 3 eixos, em termos


das dimensões da célula unitária (a,b,c);

➢ Esses números devem ser reduzidos ao menor valor inteiro (multiplicando-


se por um fator comum)
➢ Os 3 índices são colocados entre colchetes [uvw].
Direções Cristalográficas

Ex1: x y z
Projeções sobre os eixos a/2 b 0c
Projeções (em termos de a, b e c) 1/2 1 0
Redução 1 2 0

[120]

Ex2: x y z
Projeções sobre os eixos 1a -1b 0c
Projeções (em termos de a, b e c) 1 -1 0
Redução 1 -1 0

[11ത 0]
Direções Cristalográficas

Direções equivalentes: Significa que o espaçamento entre os átomos ao


longo de cada direção é o mesmo (mesma densidade linear)

Ex.: Para cristais cúbicos.

são equivalentes

Por conveniência, as direções equivalentes são agrupadas como uma


Família que é representada entre colchetes angulados: <100>
Direções Cristalográficas
Cristais Hexagonais
[uvtw] → Índices de direção compostos por 4 índices.
a1 a2 a3 z
Sistema de coordenadas com 4 eixos (a1, a2 e a3 e z) → Sistema de Miller-
Bravais
Conversão de [𝒖′ 𝒗′ 𝒘′ ] → [𝒖𝒗𝒕𝒘]

𝟏 𝟏
𝒖 = (𝟐𝒖 − 𝒗 ) 𝒗 = (𝟐𝒗′ − 𝒖′ )
′ ′
𝟑 𝟑

𝒕 = −(𝒖 + 𝒗) 𝒘 = 𝒘′

a1, a2 e a3 estão contidos em um único


plano → chamado de Plano basal.
Direções Cristalográficas
Cristais Hexagonais
𝟏 𝟏
𝒖 = (𝟐𝒖 − 𝒗 ) 𝒗 = (𝟐𝒗′ − 𝒖′ )
′ ′
Ex.: 𝟑 𝟑

𝒕 = −(𝒖 + 𝒗) 𝒘 = 𝒘′

𝒖′ = 𝟏 𝒗′ = 𝟏 𝒘′ = 𝟏

𝟏 𝟏 𝟐
𝒖= 𝒗= 𝒕=− 𝒘=𝟏
𝟑 𝟑 𝟑

Reduzindo ao menor conjunto de inteiros.

Temos a direção:

[𝟏𝟏𝟐𝟑]
Planos Cristalográficos

Em todos os sistemas cristalinos, exceto o sistema hexagonal, os planos


cristalográficos são especificados por 3 índices de Miller na forma (hkl). Deve-se
seguir o procedimento:

1. Se o plano passa através da origem, uma nova origem deve ser estabelecida no
vértice de uma outra célula unitária;

2. Determinam-se as interseções do plano com cada eixo, em termos de a, b e c;

3. Toma-se os inversos desses valores;

4. Os valores são reduzidos aos menores números inteiros;

5. Os 3 índices são colocados entre parênteses (hkl);


Planos Cristalográficos
Ex 1:

Quaisquer dois planos paralelos entre si são equivalentes e possuem índices


idênticos.

(a) x y z
Interseções com os eixos   1c
Interseções (em termos de a, b e c)   1
Inversos 0 0 1
Planos Cristalográficos
Ex 1:

Quaisquer dois planos paralelos entre si são equivalentes e possuem índices


idênticos.

(b) x y z
Interseções com os eixos 1a 1b 
Interseções (em termos de a, b e c) 1 1 
Inversos 1 1 0
Planos Cristalográficos
Ex 1:

(c) x y z
Interseções com os eixos 1a 1b 1c
Interseções (em termos de a, b e c) 1 1 1
Inversos 1 1 1
Planos Cristalográficos
Determinação de Índices Planares (Miller)
Ex.: 2

Ex.:2 x y z
Interseções com os eixos ∞a -b c/2
Interseções (em termos de parâmetros da rede cristalina) ∞ -1 1/2
Inversos 0 -1 2
Colocação entre parênteses
Planos Cristalográficos
Planos equivalentes: Significa que possuem o mesmo
empacotamento atômico (mesma densidade planar).

Ex.: Para cristais cúbicos (hkl):

São todos equivalentes

Família de planos: {111}


FAMÍLIA DE PLANOS {110}
É paralelo à um eixo
Planos Cristalográficos – Cristais Hexagonais

Utiliza-se o sistema coordenado de Miller-Bravais, com 4 eixos


(a1, a2, a3, c) e 4 índices (h, k, i, l), onde i = -(h+k).
Planos Cristalográficos – Cristais Hexagonais
Determinar os índices de Miller-Bravais.

a1 a2 a3 c
Interseções com os eixos 1  -1 1
Inversos 1 0 -1 1
Planos Cristalográficos – Cristais Hexagonais
Determinar os índices de Miller-Bravais.

Ex.:2 a1 a2 a3 z
Interseções 1a1 -1a2 ∞a3 1c
Interseções (em termos de parâmetros da rede cristalina) 1 -1 ∞ 1
Inversos 1 -1 0 1
Colocação entre parênteses
Densidade Linear - DL

n o átomos interceptados numa direção


DL= (átomos/mm)
comprimento da linha

comprimento da linha interceptada pelos átomos


DL=
comprimento da linha

Direções equivalentes possuem a mesma densidade linear.


Densidade Linear - DL

2 á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 á𝑡𝑜𝑚𝑜
𝐷𝐿111 = =
4𝑅 2𝑅

𝑎 3 4𝑅
𝐷𝐿111 = = =1
[111] 4𝑅 4𝑅
[110]

1 á𝑡𝑜𝑚𝑜
𝐷𝐿110 = (á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠/𝑚𝑚) Lembrando que:
𝑎 2
2𝑅
𝐷𝐿110 = = 0,612 𝑎 3 = 4𝑅
𝑎 2
Densidade Linear - DL
Ex: Calcule a densidade linear na direção [110] da rede cristalina do Al (CFC), dado que
a=0,405 nm.
Densidade Planar - DP

n o átomos contidos no plano


DP= (átomos/mm 2 )
área do plano

área dos átomos contidos no plano


DP=
área do plano

Planos equivalentes têm a mesma densidade planar.


Densidade Planar - DP
Plano (110)
Lembrando que:

𝑎 2 = 4𝑅
4𝑅
𝑎= = 2𝑅 2
2

2 á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 1
𝐷𝑃110 = = (á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠/𝑚𝑚2 )
4𝑅 ∗ 2𝑅 2 4𝑅2 2

2 π𝑅2
𝐷𝑃110 = = 0,555
4𝑅 ∗ 2𝑅 2
Densidade Planar - DP
Plano (110)

Lembrando que:
2 á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 1
𝐷𝑃110 = = (á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠/𝑚𝑚2 )
𝑎∗𝑎 2 𝑎2 2 𝑎 3 = 4𝑅
4𝑅 4𝑅 3
𝑎= =
2 π𝑅2 2 π𝑅2 3 3
𝐷𝑃110 = = = 0,833
𝑎∗𝑎 2 𝑎2 2
Densidade Planar - DP
Ex: Calcule a densidade planar no plano (100) do Pb (CFC),
sabendo que R= 0,175 nm.

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