Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cherubim, Sebastião.
Dicionário 9e figuras de linguagem / Sebastião
Cherubim. -- Sao Paulo : Pioneira, 1989. -- (Manuais
de estudo)
89-1976
COD-808.003
lndices para catálogo sistemático:
1. Dicionários : Figuras de li~guagem 808.00ª
2. Figuras de linguagens : Retorica : Dicionarios
808.003
3. Figuras de palavras : Ret6r1cá : Di c io~ártos
808.003
4. Figuras de pensamento : Retórica : Dicionários
808.003
Apresentação
sinalefa
sinérese
diérese
Figuras de dicção hiato
sinafia
anacrusa
hiperbibasmo
prótese
adição epêntese
paragoge
rípio
Figuras de morfologia
aférese
diminuição síncope
haplologia
apócope
2 SEBASTIÃO CHERUBIM
aliteração
assonância
eco
onomatopéia
Figuras de harmonia paralelismo
parequema
paronomásia
ritornelo
simetria
sinestesia
Esta classificação não é sempre rígida, porque figuras como parale-
lismo, às vezes, são classificadas como figuras de construção uma vez que
é tida como figura de repetição.
As figuras de construção classificam-se em:
anadiplose
antanáclase
conversão
epanadiplose
epanástrofe
epfmone
epizeuxe
mesodiplose
palilogia
ploce
Figuras de repetição polissíndeto
anáfora
epanáfora
antimetábole
diácope
epanalepse
epânodo
epfstrofe
mesarqu1a
mesoteleuto
pleonasmo
poliptoto
s fmploce
aposiopese
Figuras de omissio elipse
asslndeto
zeugma
DICIONÁRlO DE FIGURAS DE LINGUAGEM 3
hipérbato
Figuras de transposição anástrofe
parêntese
sfnquese
a naco luto
ená lage
Figuras de discordância hendíades
hipálage
silepse
acumulação gradação
alusão hipérbole
ampliação ironia
antanagoge litotes
antítese optação
aplicação palinódia
apóstrofe paradoxo
Figuras de pensamento com inação parrésia
comparação per(frase
deprecação preterição
descrição prosopopéia
dialogismo prolepse
dubitação subjeção
epanortose suspensão
epifonema tautologia
exclamação trocadilho
4 SEBASTIÃO CHERUBJM
imagem
metáfora
Tropos de similaridade símbolo
catacrese
alegoria
metonímia
Tropos de contigüidade sinédoque
antonomásia
Sebastião Cherubim
ACUMULAÇÃO (Do lat. accumuiacione). Figura que consiste na junção
deidéias similares, apresentando como recurso mais evidente a enumeração.
Eis um expressivo exemplo de Camões em sua obra lírica: "Formosa manhã
clara e deleitosa,/ Que. como fresca rosa na verdura,/ Te mostras bela e
pura, marchetando/ As nuvens, espelhando teus cabelos/ Nos verdes montes
belos; tu só fazes./ Quando a sombra desfez triste e escura./ Formosa a
espessura e a clara fonte ,/ Formoso o alto monte e o rochedo ... " E este
famoso exemplo de Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José?/ Sua
doce palavra,/ seu instante de febre ,/ sua gula jejum,/ sua biblioteca,/ seu
temo de vidro,/ sua inocência,/ seu ódio-e agora?" Outro exemplo expres-
sivo é este de Castro Alves: ''O martírio, o deserto, o cardo, o espinho,/
A pedra, a serpe do sertão maninho,/ A fome, o frio, a dor,/ Os insetos,
os rios, as Iianas,/ Chuvas, miasmas, setas e savanas,/ Horror e mais hor-
ror. .. " (Cf. Hênio Tavares em sua Teoria Literária).
quando ia descer a vertente do oeste ,/ Viu uma cousa estra~a,/ Um~ figura
má .// Então, volvendo o olhar ao sutil , ao celeste,/ Ao gracioso Anel, q,ue
de baixo o acompanha,/ Num tom medroso e agreste/ Pergunta o que sera.//
Como se perde no ar um som festivo e doceJ Ou bem se fosse/ Um pensa-
mento vão,// Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta/ Para descer a encosta/
O outro estendeu-lhe a mão." Como se vê, nem o nome foi mencionado;
apenas se percebe a alusão por contraste com Ariel.
AMBIGÜIDADE (Do lat. ambiguitare). Circunstância de uma comuni-
cação lingüística se prestar a mais de uma interpretação; a Retórica grega
a focalizou na construção da frase sob o nome de anfibologia. Em sentido
lato, a ambigüidade é uma conseqüência, em qualquer língua, da: 1. polisse-
mia, 2. homonímia e 3. deficiência dos padrões sintáticos. A homonímia
e a polissemia desaparecem no contexto lingüístico, em princípio; mas em
certos contextos não desaparecem inteiramente e cria-se a ambigüidade,
que decorre da deficiência dos padrões sintáticos: colocação, concordância
e regência. A boa manipulação da língua no discurso individual elimina
a ambigüidade criando contextos em que a homonímia ou a polissemia se
anulam pela concatenação com outros termos, e jogando com a colocação,
a concordância e a regência de maneira a suprir a deficiência existente.
Assim, em Exigi de Pedro o livro , a colocação corrige a ambigüidade da
regência com de que pode indicar complemento verbal (como é o caso)
ou adjunto adnominal (o livro de Pedro). Na língua literária , em que a
colocação normal é comumente desrespeitada, para se conseguir efeito esti-
lístico, na figura de sintaxe chamada hipérbato (ex.: A grita se levanta ao
céu da gente, em vez de: A grita da gente levanta-se ao céu), cria-se , não
raro, a ambigüidad~, que em certas escolas literárias é propiciada sob o
nome de sínquese. E o defeito de construção da frase que a torna duvidosa
ou equívoca, permitindo mais de uma interpretação. No exemplo seguinte
- Ele saudou o amigo em sua casa - como se interpreta? - em casa
do amigo? em casa de quem saudou? ou em casa do interlocutor tratado
por você?. Os casos mais comuns de ambigüidade ocorrem com o possessivo
seu e o pronome relativo que, em vista de sua aplicação múltipla, e com
as inversões (A grita se levanta ao céu da genre). (Heitor Aquiles chama
ao desafio.) Grande parte das ambigüidades se deve à convergência sintática:
estruturas frasaís profundas diferentes, mediante transformações. assumem
estruturas superficiais idênticas. Assim: Vendem os escravos, Os escravos
vendem, Os escravos têm uma venda, convergem para uma mesma estrutura
superficial: A venda dos escravos. Esta é pois uma estrutura ambígua já
que representa qualquer daquelas estruturas básicas (ou profundas). A am-
bigüidade é um problema importante porque conflita com a clareza que
é requisito fundamental da comunicação.
12 SEBASTIÃO CHERUBIM
ANT ANAGOGE (De ant(i) + gr. anagogé, 'ação de puxar para cima'). Figura
pela qual se voltam contra o acusador os argumentos que lhe serviram à
acusação. Exemplo belíssimo este de Rui Barbosa: "Mas, senhores, o que
se me antolha, na verdade, estupendo, e não se poderá deixar sem adver-
14 SEBASTIÃO CHERUBIM
APÓCOPE (Do gr. apokopé . pelo lat . apocope). Metaplasmo que consiste
na supressão de um fonema no fim da palavra. Ex.: mar por mare; ama
por amat~ mal por male; bel por belo; são por santo; mui por muito. O
verbo é apocopar.
ATICISMO. (D~ gr. attikism?s, pelo lat. attictsmu) . É o termo que designa
0 estilo preciso, s1~ples, polido, elegante, composto de frases isentas de
omatos desnecessános ou excesso de palavras, em que a lucidez do pensa-
mento se reveste de ~~a forma cristalina e sucinta. A palavra a~icismo
prende-se ao falar de Atica , tornado o modelo de linguagem política e literá-
ria quando se processou a expansão da Grécia. Com a decadência do povo
helênico, no século II a.~., passou-se nostalgicamente a encarar os escritores
de Atenas (capital da Atica) dos séculos V e IV a.C. como mestres de
sobriedade lingüística, digna de preservação e culto. Em parte por reação
contra o estilo empolado que entrou em moda no contato do grego com
os idiomas orientais, o aticismo, transferindo-se para Roma alcançou o ápice
no século II da era cristã. De certo modo, os movimentos puristas das línguas
modernas têm origem nos exemplos oferecidos pelo aticismo, de sorte que
o estilo castiço e breve constitui sinônimo de estilo ático. Em vernáculo,
Manuel Bernardes e Machado de Assis podem ser considerados como pa-
drão em matéria de elegância, concisão e pureza. Veja casticismo.
1e1
CACOFONIA (Do gr. kakophonia) . Segundo Celso Pedro Luft, qual-
quer sonoridade desagradável na fala. Deve-se à ligação dos fonemas, à
sibilação, à distribuição dos acentos, etc. A cacofonia (termo abrangente)
compreende: 1. cacófaton , 2. colisão, 3. aliteração, 4. hiato externo ou
intervocabular e 5. eco. Exs.: 1. Pretensões acerca dela. 2. Vê se achas
as chaves. 3. Poucos podem passar por pontes-pênseis. 4. Vai a aia à aula.
5. A publicação da nomeação causou sensação na população.
CLÍMAX (Do gr. klímax, pelo lat. climax) . Apresentação duma seqüência
de idéias em andamento crescente ou decrescente. Ex.: "Tão dura, tão
áspera, tão injuriosa palavra é um Não." (Pe. António Vieira, Sermões ,
II, p. 88). "Entrava a girar em torno de mim, à espreita de um juízo, de
uma palavra, de um gesto, que lhe aprovasse a recente produção." (Ma·
chado de Assis, Memórias postumas de Brás Cubas, p. 138).
22 SEBASTIÃO CHERUBfM
lnl
-
DENOTAÇAO (Do lat. denotatione) .
p
· dadeddoJtermo
, .ropne
queacorres-
D bois deno-
ponde à extensão do conc~ito. (Cf. ~u~eho). Segun ~ã~ dou con~eito que
tação de uma unidade léxica é const1tmda pela exten
24 SEBASTIÃO CHERUBIM
expressa o seu significado. Por exemplo, sendo o signo cadeira uma associa-
çã~ d? conceito "móvel de _quatro pés, com assent~ e enco~to" e da imagem
acust1ca kadeyra, denotaçao será: a, b, c, ... , n sao cadeuas. Nessa quali-
dade, a denotação pode ser oposta à designação. Enquanto pela denotação
o conceito remete à classe dos objetos, na designação o conceito remete
a um objeto isolado (ou a um grupo de objetos) que faz parte do conjunto.
A classe das cadeiras existentes, que existiriam ou poderão existir, constitui
a denotação do signo cadeira, ao passo que "esta cadeira" ou "as três cadei-
ras" constituem a designação do signo cadeira no discurso.
"T~o C?_sme vivia com minha mãe, desde que ela enviuvou. Já
era entao vrnvo, como prima Justina; era a casa dos três viúvos. A
fortuna troca muita vez as mãos à natureza. Formado para as serenas
funções do capitalismo, tio Cosme não enriquecia no foro: ia comendo.
Tinha .º escri~ório na antiga Rua das Violas, perto do júri, que era
no extmto Aljube. Trabalhava no crime .
..... ... .. .. ........... .. . .. ...... .. .... .. .... ............ ........ .... .. .... ................
Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos dormi-
nhocos. Uma das minhas recordações mais antigas era vê-lo montar
todas as manhãs a besta que minha mãe lhe deu e que o levava ao
escritório. O preto que a tinha ido buscar à cocheira, segurava o freio,
enquanto ele erguia o pé e pousava no estribo; a isto seguia-se um
minuto de descanso ou reflexão. Depois, dá um impulso, o primeiro,
o corpo ameaçava subir, mas não subia; segundo impulso, igual efeito.
Enfim, após alguns instantes largos, tio Cosme enfeixava todas as forças
físicas e morais, dava o último surto da terra, e desta vez caía em
cima do selim. Raramente a besta deixava de mostrar por um gesto
que acabava de receber o mundo. Tio Cosme acomodava as carnes ,
e a besta partia a trote." (Machado de Assis, in Dom Casmurro, pp.
363-365).
DESNASALIZAÇÃO (De des- + nasal + iz + ação) . Figura de meta-
plasmo que consiste na passagem de um som nasal a um oral. E.: luna
- lúa - lua; bona-bõa - boa; ponere - põer - pôr. Veja nasalização.
"Louco, sim, louco, porque quis grandeza/ Qual. a sorte a n~o dá .~' (Fer-
nando Pessoa, idem, ibidem, p. 344). "Não mais, musa, nao mais, que
a Lira tenho ... (L. X, 145).
ECO (Do gr. echó, pelo lat. echo) . Figura de harmonia que consiste na
sucessão de palavras com final semelhante. Recomenda-se que o eco seja
evitado na língua lógica ou técnico-científica. O exemplo clássico de eco
na língua literária é o de Eugênio de Castro: "Na messe, que enlourece,
estremece a quermesse ... "
ELIPSE (Do gr. élleipsis, 'omissão' , pelo lat . ellipse). Figura de sintaxe que
consiste na omissão de um termo ou oração que facilmente se pode suben-
tender. É uma economia de palavras que toma o estilo conciso e elegante.
Na língua portuguesa, são comuns as elipses dos pronomes-sujeito: Ando
e corro.; dos verbos e de partículas de conexão (preposições e conjunções).
Exemplos apresentados por Domingos Paschoal Cegalla em sua Novíssima
gramática da Ungua portuguesa, p. 403: "João estava com pressa. Preferiu
não entrar"; "As mãos eram pequenas e os dedos delicados''; "As quares-
mas abriam a flor logo depois do carnaval, os ipês em junho.'' (Raquel
de Queirós); "Nossa professora estava satisfeita, como, aliás, todas as suas
colegas"; "Parece que, quando menor, Sereia era bonita" "Caçam todos
os animais que podem"; uPor que foi que a criatura se imolou?" "Um
ato de protesto contra o governo?" Veja zeugma.
DICIONÁRIO DE FIGURAS DE LINGUAGEM 31
ELISÃO (D~ lat. elisione). Figura de meta plasmo que consiste na supres-
são da vogal final de uma palavra quando a seguinte inicia por vogal. Ex. :
dalgum por de algum. A elisão é uma figura muito comum na língua
poética.
ENÁLAGE (Do gr. enallagé) . Figura que consiste na troca de classe gra-
matical, gênero , número , caso, pessoa, tempo, modo ou voz de uma palavra
por outra classe, gênero, número, etc. Exemplos citados por Hênio Tavares
em sua Teoria literária: "Começou a servir outros sete anos I Dizendo:
Mas servira, se não fora 1 Para tão longo amor tão curta a vida." (Camões,
soneto 179) - servira está por serviria, assim como fora está para fosse.
"Mais os amo quando volte, I Pois do que por fora vi." (Gonçalves Dias,
in "Minha Terra")- amo está por amarei assim como volte está por, voltar.
"Eu perdera chorando essas coroas I Se eu morresse amanhã!" (Alvares
de Azevedo) - perdera está por perderia. "O)l! quão sólida não fora a
estabilidade / das margaridas, se ligassem a sua existência I à execução séria
deste princípio sobre todos civilizados!" (Rui Barbosa, in O Marquês de
Pombal, p. 54) -fora está por seria.
ENARGIA (Do gr. enargéia, pelo lat. enargia) . Termo usado pela retórica,
o qual designa a representação ou descrição muito ao vivo em um discurso.
Veja descrição ou hipotipose.
EPÍTESE (Do gr. epithesis. pelo lat. epithese). O mesmo que paragoge cu-
jo nome é mais usado em Poética e Gramática Histórica. Veja paragoge,
onde se pode encontrar farta exemplificação.
EPÍTROPE (Do gr. epicropé). Figura de retórica pela qual se aceita algo
que poderia ser contestado, a fim de dar mais força àquilo que se quer
provar. (Cf. Aurélio).
EPIZEUXE (Do gr. epízeuxis, pelo la t . epizeuxe). Figura pela qual se repe-
te seguidamente a mesma palavra, para ampliar, para exprimir uma paixão,
uma compaixão, para exortar. Exs.: " ... e eu vos darei tudo, tudo, tudo,
tudo, tudo, tudo ... " (Machado de Assis, Histórias sem data, p. 6). "Nise,
Nise? onde estás, onde?" (Cláudio Manuel da Costa, Obras poéticas, p.
109, citado por Hênio Tavares em sua Teoria literária) .
EUFONIA (Do gr. euphonía, pelo Iat. euphonia). Segundo Massaud Moi-
sés, antônimo de cacofonia, a eufonia consiste na combinação harmónica
de sons. "Além da neve coroa uma serra com um radiante nimbo de santi-
dade, e escorre, por entre os flancos despedaçados, em finas franjas que
refulgem." (Eça de Queiroz, Contos, 1946, p. 154). Veja aliteração eco
,. .
onomatopeia e rllmo.
' '
IRONIA (Do gr. eiróneia, 'interrogação', pelo lat. ironia). Figura de pensa-
mento pela qual se diz o contrário do que se pensa, com intenção sarcástica.
Aurélio define a ironia como "modo de exprimir-se que consiste em dizer
o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo, ou por pudor em
relação a si próprio ou com intenção depreciativa e sarcástica em relação
a outrem". A ironia depende muito do contexto extralingüístico; daí a difi-
culdade em exemplificá-la. Domingos Paschoal Cegalla em sua Novíssima
gramática da língua portuguesa faz a frase e explica assim: "Fizeste um
excelente serviço!'' (para dizer um serviço péssimo). Eis um exemplo que
já tem em si contexto: "Vejam os altos feitos desses senhores: dilapidar
os bens do país e fomentar a corrupção.'' (p. 407). Dentre as modalidades
de ironia, Hênio Tavares, lembra: 1. antifrase: exprime idéias funestas ou
antitéticas por palavras de sentido contrário. Ex.: "Moça linda bem tratada,
I três séculos de família, I burra como uma porta: / um amor." (Mário
de Andrade, in Lira Paulistana) . 2. parêmia: consiste em repetir, numa
inflexão zombeteira, sentença que encerra um pensamento já esteriotipado
e surrado. Exs.: Ensinar o padre-nosso ao vigário ... ". "Cresça e apareça ... "
É uma feição irônica do eptfoncma. 3. o sarcasmo: trata-se da iroma pesada
e injuriosa. "Eu lembrei-me devo~. funâmbulos da cruz Que andais pelo
universo, há mil e tantos anos / Exibindo. explorando o corpo de Jesus."
(Guerra Junqueiro, in Parasitas, cit. por 1Iênio Tavares e~ sua Te~ria ~iterá
ria). 4. eufemismo ou asteísmo: é a ironia delicada, sut1l~ a suav1zaçao ou
SEBASTIÃO CHERUBlM
42
e expressões rudes, chocantes ou repugnantes. Alguém já
abran dame nto d d' E - ·
disse ser 0 eufemismo a arma..verbal_ do )1p1oma~a . á~prdesso_es como: ,V~cê
fa 1tau a, verdade (por: você e mentiroso . Func1on
. ~r
1
no a 1rnpeza
,
publica
(por lixeiro) são nitidamente eufêmicas. Veja anll1rase. aste1smo.
LITOTES (Do lat. litotes). Figura de pensamento que consiste num mo-
do de afirmação por meio de negação do contrário. "Ele não é nada tolo."
(por: é muito esperto). Exemplo apresentado por Hênio Tavares: "Fará
que os seus, da vida pouco escassos." (L. X, 16): pouco escassos equivale
aqui a pródigo. Em relação à vida, significa "aqueles que não se poupam",
"que não temem a morte".
NASALIZAÇÃO Figura d t l .
transformação de ~m fo e mi e ap asmo que consiste na passagem ou
. nema ora a nasal Ex . nec _ . .h. .
Veja desnasalização. · ·· nem, mt t - mim.
lol
<?~SCURIDADE (Do lat. obscurilace). É a falta de clareza pela dispo-
saçao enleada da frase: " ... que em terreno não cabe o altivo peito tão
~queno" ( =. e'!1 terren~ ~ão pequ~no ). O preciosismo, o neologismo, as
ehp~es e os h1perbatos v1c1osos, as inversões afetadas, a ambigüidade, os
parentes:s e~tensos, o emprego exagerado dos homônimos, a acumulação
das ?raçoes mterferentes, a perissologia, as circunlocuções, os períodos de-
masiado longos e a má pontuação são circunstâncias que, pela maior parte,
trazem obscuridade ao discurso.
OCULTAÇÃO. Veja preterição.
OMISSÃO. Veja preterição.
~ ,
ONOMATOPEIA (Do gr. onomatopoiía, pelo lat. onomatopeia). E a figu-
ra que consiste no emprego da palavra cuja pronúncia imita o som natural
da coisa significada. Ex.: murmúrio, sussurro, cicio, mugir, pum, reco-reco,
tique-taque. Estas são as palavras onomatopaicas, naturalmente motivadas.
A onomatopéia pode ser construída também na base da aliteração. Exs.:
"Bramindo o negro mar de longe brada." (L. V, 38). "Tíbias flautins finíssi-
mos gritavam;/ Crótalos claros de metal cantavam." (Olavo Bilac). O se-
guinte texto é de Manuel Bandeira: "Sino de Belém, pelos que inda vêm!
I Sino de Belém bate bem-bem-bem. I Sino da Paixão, pelos que lá vão!
1 Sino da Paixão bate bão-bão-bão. // Sino de Belém , como soa bem! I
Sino de Belém bate bem-bem-bem. I Sino da Paixão ... Por meu pai? ...
Não! Não! / Sino da Paixão bate bão-bão-bão ... Eis um outro texto de
48 SEBASTIÃO CHERUBIM
Jorge de Lima apresentado por Hênio Tavares: "Vamos ver quem é que
sabe I soltar fogos de s. João?/ Foguetes, bombas, chuvinhas, / chios, chuvei-
ros, chiando, I chiando, / chovendo / chuvas de fogo!"
PA~ILOGIA (D~ gr. paliliogía.' ' repetição de uma idéia ou palavra'). Figura
de"s1~taxe que consiste ~a repetição de uma frase ou de um verso. Segundo
Hen10 Tavares, Opus crt., p. 347, a palilogia é uma "figura iterativa ou de
tautologia ~o~um ~ certos poemas de forma fixa como o rondó, a glosa, o
rondel, o tnole, a v1lanela, o pantum, o canto real, etc.; é muito encontrada
nos romances ou xácaras antigos. Exemplos também apresentados por Hê-
nio Tavares: "Quantos Césares fui! / Na alma e com alguma verdade; I Na
imaginação e com alguma justiça;/ Na inteligência, e com alguma razão -
I Meu Deus! Meu Deus! / Quantos Césares fui! / Quantos Césares fui! / Quan-
tos Césares fui!" (Fernando Pessoa). " ... Caminho pela cidade / sofrendo com
mal-de-amor/ sofrendo com mal-de-amor, I sofrendo com mal-de-amor I sofren-
do com mal-de-amor." (A frase parece que não pára mais.) (Mário de Andrade).
PARADOXO (Do gr. parádoxon, pelo lat. paradoxon) . É a figura que con-
siste em exprimir a opinião contrária ao senso comum, tendo por aparência
o erro, mas podendo conter a verdade ou parte dela, e ser , portanto ,
apenas uma forma de originalidade, e não raro engenhoso sofisma. Houve
escritores que se notabilizaram por suas tiradas paradoxais. Oscar Wilde,
B. Shaw, Chesterton estão nesse rol. Eça de Queiroz manejou-o com
perícia entre os portugueses, como também esse admirável Fernando
Pessoa. Exs.: " Ninguém é menos que quem tem reino:· (Antônio Ferrei-
ra). "Grandes homens! Apóstolos heróicos!. .. / Eles diziam mais do que
os estóicos: / Dor, - tu és um prazer! / Grelha, - és um leito ~ Brasa.
-és uma gema! I Cravo, - és um cetro! Chama, - és o viver!" (Castro
Alves).
m~nia qu~ C?nsiste. em reaproximar palavras parônimas, seja por uma simi-
landade fomca, seja por um parentesco etimológico ou formal.
POLIPTOTO (Do gr. polyptoton , pelo lat. polyptotu) . Fi~:a de sintaxe pela
qual se emprega, em um período outras:, uma pala_vra sob vanas formas gr~a-
t ica1s.
. · "Ex . .· "Trabalhar , trabalhei , porem antes nao houvesse trabalhado.
PROLEPSE (Do gr. prolépsis, 'antecipação', pelo lat. prolepse). Figura pe-
la qual se refutam ou se destroem antecipadamente as objeções do adver-
sário. Exemplos apresentados por Hênio Tavares: "Vejo que me perguntas
por que Deus não dá o mesmo dom aos pregadores." (Pe. Antônio Vieira).
"Dir-me-eis que não há C'Jm que premiar a tantos. Por essa escusa esperava.
Primeiramente, eles dizem que há para quem não quereis. Eu não digo
isso ... " (Pe. Antônio Vieira). "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo / Perdeste
o senso!" -Eu vos direi, no entanto, / Que para ouvi-las muita vez desperto
1E abro as janelas, pálido de espanto ... " (Olavo Bilac).
1Q1
QUIASMO (Do gr. chiasmós, ·ação de dispor cm cruz'). Figura de lingua-
gem pela qual se repetem palavras invertendo-se-lhes a ordem. Exs.: ·•Jgno-
tas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo." (Jos~ de Alencar. Jracema.
p. 15). ~'Tinhas a alma de sonhos povoada ! E a alma de sonhos povoada
eu tinha.'' (Olavo Bilac, Poesias, p. 112). Veja conversão.
DICIONÁRIO DE FIGURAS DE LINGUAGEM 57
s
SARCASMO. Veja ironia.
58 SEBASTIÃO CHERUBIM
SILEPSE (Do gr. syllepsis. 'ação de compreender', pelo lat. syllepse). Figura
de sintaxe pela qual a concordância das palavras se faz de acordo com o
sentido e não segundo as regras da gramática. Pode ser: 1. de gênero: ''Vossa
Majestade informado acerca de tudo." "Sobre a triste Ouro Preto o ouro
dos astros chove." (Olavo Bilac). ' Quando a gente é novo, gosta de fazer
1
SIMBOLO (Do gr. symbolon, pelo lat. symbolu) . É a imagem que vale
por um sinal, ou conforme Hugh Walpole, "uma palavra usada referencial-
mente". (Cf. Hênio Tavares, em sua Teoria literária) . Uma imagem pode
invocar-se como metáfora uma vez, mas se se repete persistentemente, con-
verte-se em símbolo. Para tornar-se símbolo a imagem ou metáfora deve
apresentar: repetição persistente e valorização universal. Tomando uma
frase em construções gradativas, notaríamos: a. João é forte; O leão é forte
- frases enunciativas em sentido próprio. b. João é forte como um leão
- figura e comparação ou símile, ainda no sentido próprio. e. João é um
leão - imagem ou metáfora já em sentido translato. d. O leão é imagem
da força - conclusão das frases anteriores. e. O leão é o símbolo da força
- conclusão da frase anterior. Assim o símbolo é de duas naturezas: 1.
símbolo metafórico. Ex.: o cordeiro. 2. símbolo metonímico. Ex.: a cruz.
Numa frase como: - Você é uma águia, há simultaneidade de imagem
ou metáfora e símbolo. Em - Ele é um Homero - há concomitância
de imagem ou metáfora, símbolo e sinédoque. Para a criação dos símbolos,
concorrem inúmeras fontes, dentre as quais destacamos: 1. mitologia: nomes
de deuses, heróis, animais, lugares, etc. Exs. : Vênus (em referência à beleza
e ao amor); Hércules (à força); Mercúrio (ao dinheiro); Narciso (à vaidade);
Tântalo (à insatisfação); Castália, Hipocrene. Parnaso, Pégaso (à inspira-
ção); Baco (ao vinho); Letes (ao esquecimento); Esculápio (medicina). No-
DICIONÁRIO DE FIGURAS DE LINGUAGEM 59
SIMETRIA Quando
(Do gr. symmetria, 'justa proporção, pelo lat. symmelria).
se observam o equilíbrio e a correspondência dos sons, funções e extensão
das palavras e proposições tem-se a simetria. As espécie.s simétrica.s mais
importantes são: 1. párison: também chamada toante, pois nada mais é do
que um tipo especial de assonância: a homofonia (v). que é a correspon-
dência das vogais a partir da tônica. 2. homeoleteuto ou homoteleuto; é
a mesma coisa que rima: desinências iguais no final de versos ou frases
e tem particular emprego no provérbios: Ex.: Varão, manda ele e ela nã~!
/ Varela manda ele e manda ela; I Varunca, manda ela, e ele nunca.
Como n~ verso a rima ocorre naturalmente, o homotclcuto deve ~r obse~
vado com atenção na prosa, q~ando dele certo~ au~o~es procuram ~,efe1·
tos estilísticos. Para ilustrar, eis de Pe. Antômo Vieira um e1emplo. Oue
faz o lavrador na terra, cortando-a com o arado, cavando, regando, mondan-
do, semeando? Busca pão. Que faz o soldado na campanha, canepdo
SEBASTIÃO CHERUBIM
anáfora e epfstrofe.
SINAFIA (Do gr. synápheia, pelo lat synaphia). Caso extremo de enjam-
bement, corrente quando dois versos se interprenetram de maneira que a
última palavra de um se completa no outro Exs .: "É como a água terna-
/ mente matutina." (Cassiano Ricardo, Poesias completas, p. 436). "Vê
com ardor / Teu belo cor - I po escultural!" (Antônio Feijó, Poesias comple·
tas, p. 81 ).
escrença. / Meu lara vagabu~do, / e co 'a taça na mão e o fel nos lábios
1
Zo!llb~remos d~ ~undo!" (Alvares de Azevedo, in "O conde Lopo"):
e~phcaçao necessana: ~~ra . sinédoque, símbolo, metáfora~ Lara é a cria-
çao de Byron e personifica o mdivíduo orgulhoso e egoísta.
SINONÍMIA (Do gr. syn, 'conjunt o', e onyma, 'nomes' + -ia). Proprie-
dade de dois ou mais termos poderem ser empregados um pelo outro sem
prejuízo do que se pretende comunicar. A sinonímia aparece em todos
os planos das formas lingüísticas, embora a denominação, que nos vem
dos gregos, tenha apenas pressuposto um conjunto. Temos, pois, sinonímia
em: 1. formas mínimas, quer semantemas básicos, quer afixos; 2. palavras;
3. vocábulos gramaticais; 4. locuções; 5. frases. Exs.: 1. voe- = fon- (seman-
temas sinônimos, como mostram fônico = vocal); a = in = des (prefixos
sinónimos, como mostram anormal = inepto = desgosto, onde os prefixos
de forma diversa exprimem todos a idéia de 'falta de ... '); 2. levantar =
erguer; 3. pois = porque; 4. tenho de sair = preciso sair; 5. Espero que
ele cumpra o prometido = confio em que ele não falte com a sua palavra.
Em regra, a Gramática restringe a sinonímia ao plano da palavra, incluindo
aí a sinonímia das formas mínimas, que só aparecem integradas nas palavras~
e refere-se aos casos previstos nos itens 3, 4, 5. como equivalência, paral~
lismo, correspondência. Há, porém, quem distinga entre os sinônimos lexi-
cais, pondo de um lado o caso 2, in~luindo o 1. e do outro lado, .ºs c~s~s
3, 4, e 5 (Cf. Poelelungi. 1960). UE quase um truísmo .que a smo~1~~a
total é ocorrência extremamente rara, um luxo a que a lmguagem d1.f1ctl-
mente se dá." (Ullmann. 1957, p. 108). Os sinônimos distinguem-se, a ngor,
DICIONÁRIO DE FIGURAS DE LINGUAGEM 63
entre si por uma das seguintes circunstâncias: 1. Significação - a) mais
ampla ou mais restrita; b) mais simples ou mais complexa. Exs.: a) ave
e pássaro; b) sofrer e padecer. 2. Efeito estético do termo - a) delicado
ou grosseiro; b) n?bre ou vulgar; e) poético ou usual; d) usual ou cientifico;
etc. Exs. : a) nanna_ e ven~a; .b) enfadonho e cacete; e) pulcro e belo~ e)
queda e ptose. A cucunstancta 1 refere-se ao âmbito da denotação, e a
circunst~~cia ~ ~o . âmbito~ da conotaçã? de~ fundo estilístico. Eis por que
entre vanos smommos ha um que se tmpoe conforme a frase , para ela
se tornar realmente eficiente e expressiva. E no âmbito da denotação é
ainda preciso levar em conta a polissemia (v.) imanente em toda palavra,
de que resulta que a sinonímia depende essencialmente do contexto em
que se acha a palavra. Assim, o sinônimo de a) Levantar os braços é erguer;
b) levantar nos braços é suspender; e) levantar uma estátua é erguer ou erigir;
d) levantar a lebre é descobrir; e) levantar uma candidatura é lançar; O levan-
tar um terreno é medir. Verifica-se o valor sinonímico e as diferenças denota-
tivas ou conotativas entre duas ou mais palavras por dois processos: 1. substi-
tuição de uma pela outra ou de outras em determinado contexto; 2. determi-
nação do antônimo comum de cada uma delas. Assim em 1. o cão está
livre , a substituição por solto mostrará certa diferença de denotação; 2.
a mesma diferença aparecerá opondo-se livre a preso e solto a amarrado.
A sinonímia é um fato essencialmente sincrônico, pois diz respeito à signifi-
cação dos termos num estado lingüístico dado. A diacronia entra no estudo
da sinonímia para explicar as causas que a determinaram em caso concreto
e que podem ser, em última análise, duas: 1. empréstimo a uma língua
estrangeira; ex: fônico , ptose; empréstimos ao grego, ao lado de vocal, que-
da; 2. evolução semântica: ex: sofre, dá idéia de 'suportar' à de 'suportar
uma dor', o que associa o termo com padecer. A diacronia nos mostra
também a eliminação de sinônimos, quando há uma coincidência perfeita
na denotação e na conotação ou quando a falta de interesse pela área semân-
tica a que ele se refere faz que se ponham de lado os matizes denotativos
e um só termo é considerado suficiente para representar toda a área. As
línguas que servem a uma cultura muito refinada caracterizam-s~ pela rique-
za sinonímica por dois motivos: 1. a preocupação de não repetir os termos
num texto dado; 2. o esforço para criar cambiantes de significação e valor
estético e estabelecê-los firmemente, por meio de termos distintos; daí re-
sulta o empréstimo a línguas estrangeiras e uma tendência muito f~rte_ para
evoluções semânticas sutis dentro de certos contextos com a amphaçao de
sinonímia. Veja exergasia.
TAUTOLOGIA (Do gr. tauton , 'o mesmo' , + log- + -ia). Figura que con-
siste na repetição da mesma idéia ou desenvolvimento de um único tema
por meio de termos diferentes, sem, contudo, cair em perissologia viciosa
ou redundância vitanda, como em frases deste tipo: "A criança é órfã. Coita-
da não tem pais! "Mole se fez e fraco; e bem parece." (L. III. 139). "Não
chores, meu filho . I Não chores que a vida I É luta renhida: / Viver é lutar.
/ A vida é combate". (Gonçalves Dias apud Hênio Tavares em sua Teoria
lüerária, ci t.)
TMESE (Do gr. tmesis , 'corte'. pelo lat. tmese). É a separação de dois ele-
mentos que compõem uma palavra, habitualmente adjacentes; deste modo,
o preverbo pode ficar separado do verbo na poesia grega. 1. Nas línguas
clássicas (grego e latim), partição de palavras, s~b retudo compo~ta~, pela
intercalação de termo entre seus dois eleme ntos. E semelhante ao h1perbato.
Ex.: saxo cere comminuit brum por saxo cerebrum comminuit (feriu o cére-
bro com uma pedra). 2. Em português, chama-se tmese a intercalação do
pronome complemento entre o radical ( = infinitivo) e as terminações ver-
bais no futuro e no futuro do pretérito: contar-lhe-ei, soltá-los-eis. Sinônimo:
mesóclise. (Cf. Jean Dubois et alii, Dicionário de lingüística, citado, p. 589).
TROCADILHO (Diminutivo de trocado) . Arranjo de palavras seme-
lhantes no som e cuja seqüência propicia equívocos de sentidos dúbios,
principalmente visando a fazer humor ou graça. Ex.: "Se do rosto os primores,
/ Em teu rosto se pintam várias cores, / Vejo, pois, para pena e para gosto
/ As sobrancelhas arco-íris o rosto". (Botelho de Oliveira). Veja calembur.
TROPO (Do gr. trapos , 'desvio', pelo lat. tropa) . Segundo Massaud Moi-
sés, espécie de linguagem figurada , o tropa consiste na translação de sentido
de uma palavra ou expressão, de modo que passa a ser empregada em
sentido diverso do que lhe é próprio. Ex.: dizer vela ou lenho no sentido
de embarcação; ou o Mártir da Inconfidência por José Joaquim da Silva
Xavier. Quando a mudança se opera ao nível da palavra, temos tropa de
dicção, quando ao nível da expressão, trapo de sentença. Num caso ou
noutro, o desvio promana de uma simples associação de idéias, efetuada
por semelhança, conexão ou correlação. Desses três processos advêm os
tropas de dicção: a metáfora, que utiliza a analogia, a sinédoque, a conexão;
e metonímia, a correspondência. Entre os tropas de sentença, classificam-se
a alegoria, a ironia, a litotes, a metalepse , a preterição e outros. Os tropas
integram um capítulo muito complexo da Retórica, em que ainda se estudam
as figuras de linguagem como todas estas que o leitor tem a oportunidade
de consultar neste dicionário.
lu 1
UMLAUT (Do alemão). Palavra alemã que é empregada para designar
a metafonia. Veja metafonia.
DICIONÁRIO DE FIGURAS DE LINGUAGEM 67
1z1
ZEUGMA (Do gr. zeúgma, 'junção' , pelo lat . zeugma). Figura de sintaxe
pela qual uma palavra, expressa em determinada parte do período, é em
outras partes subentendida. "Paulo canta e eu também." Exemplos citados
por Aurélio: "Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o
mundo ; Bernardes para a cela, para si, para o seu coração". (Antônio Feli-
ciano de Castilho, apud Álvaro Lins e Aurélio Buarque de Holanda Ferrei-
ra, Roteiro literário de Portugal e do Brasil, l , p. 169). O adjetivo correspon-
dente a zeugma é zeugmático.
BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia . Trad. coord. e rev. por Alfredo
Bosi, com a colab. de Maurice Cunio et alü, 2~ ed. São Paulo: Mestre Jou, 1962.
ALI, Said. Meios de expressão e alterações semânticas. 3~ ed. rev. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1971.
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 14~
ed. São Paulo: Edição Saraiva, 1962.
ALONSO, Amado. Estudos lingüísticos: temas espaiíoles. 2~ ed. Madrid: Gregos,
1961.
- - - · Matéria y forma en poesia. Madrid: Gredos, 1955.
ALONSO, Dámaso. Poesía espariola: ensayo de métodos y límites esti[{$ticos. 5~
ed. Madrid: Gredos, 1976.
AMORA, António Soares. Teoria da literatura. 1~ ed. São Paulo~ Editora Clássico-
científica, 1967.
ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Trad. de António Pinto de Carvalho.
Rio de Janeiro: Edições de Ouro, (s.d.).
AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Editora Delta S.A., 1971.
AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de. Poesia e estilo de Cecflia Meireles. Rio
de Janeiro: Livraria José Olympio, 1970.
BACK, Eurico e MATIOS, Geraldo. Gramálica construtura/ da lingU6 portuguesa,
vol. 2. São Paulo: Editora FID, 1972.
BALLY, Charles. EI lenguajt y la vida. Trad. de Amado Alonso. S~ ed. Buenos
Aires: Editorial Losada, S.A., 1967.
- - - · Traité de stylistique /rançaise. 3~ ed. Paris: Librairie C. Klincsieck, 1951.
- - - · et alii. "Imprcsionismo e expresionismo y gram,tica". E/ impnsionismo
en el lenguaje. Faculdad de Filosofia y Letras de la Univcnidad de Buenos
Aires, 1942.
70 SEBASTIÃO CHERUBIM
GUI~Á uo, Pierre. A esriUsiica. Trad . de Michel. São Paulo: Editora Mestre Jou,
0
1970.
72 SEBASTIÃO CHERUBCM