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Ebook Power House


Atualizações científicas, guia definitivo de estudo, entenda
a diferença entre estabilização segmentar e power house!

Janaína Cintas

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Ebook novembro de 2019
Autora: Janaína Cintas

Nenhuma parte pode ser duplicada ou reproduzida sem


expressa autorização do Editor.

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Janaína Cintas
Escritora, Bicampeã mundial de BMX e Fisioterapeuta
graduada pela Universidade da Cidade de São Paulo.
Posteriormente aperfeiçoou em Gerontologia na Pós-Graduação
da Universidade Federal do Estado de São Paulo.
Subsequentemente se especializou em Cadeias Fisiológicas do
Método Busquet, RPG de Philippe Souchard, estudiosa das
relações viscerais com a pressão intra- -abdominal, formou-se em
Pilates e Pilates Aéreo pela Escola de Madrid, trabalhou como
fisioterapeuta no Hospital Albert Einstein e atualmente faz parte
do Grupo Voll Pilates, onde ministra cursos e palestras.

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Janaína também é autora do Livro Cadeias Musculares do
Tronco lançado em 2015 em Madrid e no Brasil, A Ciência do
Pilates em 2017 pela Sarvier Editora de Livros Médicos Ltda e
Livro de Avaliação Postural 2018 e Assoalho Pélvico 2019.

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Introdução

A Estabilização Segmentar, Powerhouse ou Core sempre


foi muito intrigante para mim, e, portanto, durante muito tempo
foi algo que aprofundei bastante em meus estudos para melhor
compreendê-la. Para melhor entender a estabilização
segmentar proponho a vocês uma viagem através do tempo
comigo. Vamos nessa?
O princípio da estabilidade de núcleo (CS) foi derivado de
estudos de Paul Hodges e Richardson, 1996, que mais
demonstraram uma mudança no tempo inicial da contração dos
músculos do tronco em indivíduos portadores de dor lombar
crônica (CLBP), ou seja, os portadores de dor lombar crônica
teriam um atraso nessa ativação do núcleo (CS).
Esses achados e crenças gerais sobre a importância dos
músculos abdominais, sobretudo o músculo Transverso do
Abdômen (TsA), trouxeram fortes influências para o Pilates e o
Treinamento Funcional. O TrA tem várias funções na postura
vertical e, a estabilidade é somente uma dessas funções, porém
esta função deveria estar em sinergia com todos os outros

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músculos que compõem a parede abdominal e além (Hodges et
al., 1997, 2003, Sampford et al., 2001).
A musculatura atua no controle da pressão na cavidade
abdominal aumentando a rigidez para a estabilidade das
vértebras, além do tensionamento da fáscia tóraco-lombar. O tra
também atua na vocalização, respiração, defecação, vômitos,
etc. (Misuri et al., 1997).
LOGO, SURGE ASSIM A INSTABILIDADE LOMBO PÉLVICA
COMO A GRANDE VILÃ CAUSADORA DA DOR LOMBAR!

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O Power House

Imagem – 1 Transverso e suas fibras

Há cerca de 15 anos, Jospt, um periódico ortopédico, já


descreve a ativação do transverso do abdômen, como sendo,
assimétrica, e se analisarmos bem sua anatomia, veremos que o
transverso do abdômen, acaba por ser um músculo profundo,

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que possui duas aponeuroses o entrecortando ( aponeurose dos
retos do abdômen, e a fáscia tóraco-lombar), sendo portanto,
uma região de transmissão de força importante para o tronco
para a coordenação dos membros inferiores e superiores, tendo
como função justamente a transmissão das forças que chegam
na faixa abdominal, e, não paralisá-las. Como muito tempo
acreditamos que o transverso poderia ser ativado isoladamente
e de forma simétrica, eis aqui um paradigma que devemos
desconstruir. Treinemos movimentos e não músculos isolados,
isso não é possível! É impossível fazer um exercício isolado para
o oblíquo externo, tão logo para o transverso. A faixa abdominal
é constituída pelos músculos: transverso do abdômen, oblíquo
interno, oblíquo externo e retos do abdômen, que são ativados
de forma conjunta para realizar os movimentos no tronco, cada
qual tendo seu tempo de maior ou menor ativação, ou seja, de
forma, assimétrica direcionado especificamente para o reto
abdominal. Os músculos retos abdominais são dois e localizam-
se na frente do tronco, compõem a camada muscular superficial
dos músculos abdominais. Suas fibras são predominantemente
do tipo I, porém entrecortadas por áreas não contráteis fasciais.

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O músculo reto abdominal está recoberto por uma bainha,
a bainha do reto do abdome. Essa bainha mantém o músculo em
sua posição e é formada pelas fáscias dos músculos oblíquo
externo, oblíquo interno e transverso do abdômen. O músculo
reto abdominal é longo e aplanado, recobre toda a face anterior
do abdome. Ele é intercedido por faixas fibrotendíneas
chamadas intersecções tendíneas. Os números dessas
intersecções variam de pessoa para pessoa. Origem: da 5a à 7a
cartilagens costais, processo xifóide e ligamento costo xifóide.
Inserção: púbis e sínfise púbica. Inervação: sete últimos nervos
intercostais. Ação: flexão do tronco, comprime o abdome e
auxilia a expiração forçada. Os retos abdominais são os
responsáveis pelo enrolamento da unidade tronco, elevando o
púbis em direção ao umbigo e abaixando o esterno em direção
ao umbigo, também, o que nos parece ser uma zona de
convergências de forças importantes. Com esse enrolamento
indiretamente mobilizamos a coluna vertebral de forma cifótica
em sua região torácica baixa e retificadora na região lombar. O
excesso de tensão nos retos abdominais, músculos da cadeia de
flexão do tronco, pode, por falta de flexibilidade, ser importante

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músculo inibitório do movimento de extensão do tronco. Ao
contrair-se, o reto abdominal empurra as vísceras abdominais
para dentro, aumentando a pressão intracavitária, quando
competente.
Músculos largos são aqueles que se encontram nas laterais
do tronco e em sua forma estão em oposição ao longilíneo reto
abdominal. São três músculos largos que estão dispostos em
camadas e são eles:
1. Transverso abdominal
2. Oblíquo interno.
3. Oblíquo externo.
Todos os músculos largos são envolvidos por uma camada
bilaminar de fáscia (duas camadas de tecido conjuntivo), elas
saem unidas e em seguida são redistribuídas para envolver o
reto abdominal, unindo-se novamente na linha alba. Essa
distribuição é bem complexa. Nos dois terços superiores do
abdome, as aponeuroses que passam à frente do reto são: as
duas fáscias do oblíquo externo e a fáscia superficial do oblíquo
interno. E as fáscias que passam posteriormente ao reto do
abdome são: as duas do transverso e a profunda do oblíquo

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interno. Já no terço inferior do abdome todas as fáscias dos
músculos largos estão situadas à frente do reto do abdome.

Essa disposição fascial não se dá por acaso. Na parte


infraumbilical (terço inferior do abdome) temos a influência da
convergência de forças da contração do músculo diafragmático,
que é para baixo e para a frente. A contração do diafragma
traciona os órgãos da pelve menor à frente, e as fáscias
fornecem maior proteção aos órgãos e vísceras da fáscia
transversalis (antigo peritônio) a essa variação constante da
pressão realizada pela respiração. Logo fica fácil entendermos
esse reforço fascial à frente dos retos abdominais e acreditarmos
que a lordose lombar pode ser um meio de proteção dos órgãos
da pelve menor e as constantes diferenças de pressão
respiratória. Já nos dois terços superiores ou região
supraumbilical não temos esse reforço fascial tão potente, o que
torna a linha alba mais frouxa, facilitando o aparecimento de
diástases. Essa frouxidão é importante para o conforto das
vísceras, como vimos na região infraumbilical, e bem reforçada,
a fim de proteger os órgãos da pelve menor das diferenças de

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pressões abdominais, empurrando as vísceras para baixo. Logo
as vísceras que são prioridades, encontram nessa folga
supraumbilical o conforto de acordo com suas necessidades e as
variações pressóricas. Portanto, as diástases não são fraquezas
dos músculos da parede abdominal, mas sim uma adaptação
corporal importante ante as variações pressóricas.
Transverso abdominal é o músculo mais profundo entre
todos os músculos largos, tem sua origem na crista ilíaca, fáscia
toracolombar e dois terços laterais do ligamento inguinal. Sua
inserção nas bordas inferiores das últimas três costelas e linha
alba estende-se inferiormente sobre o ligamento inguinal
acompanhando a prega inguinal.

Como vimos na figura, o transverso é cortado pela frente


pela potente linha alba, e por trás, pela fáscia toracolombar,
temos ainda a existência de duas porções do músculo
transverso: o direito e o esquerdo. Portanto, discordo do
comando de levar o umbigo para a coluna, pois isso só seria
capaz com a colaboração dos retos abdominais, pois o
transverso não realiza esse movimento, não há fibras musculares

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do transverso à frente do umbigo e, além disso, há um engano
sobre sua contração.

Imagem – 2 Transverso

Observemos bem a figura em suas linhas de tração, origem


e inserção, analisemos agora uma contração concêntrica dos
músculos. O transverso é um dos músculos abdominais que

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menos atua sobre o esqueleto, tendo em sua ação principal
questões viscerais: fonação, vômitos, tosse, espirro, entre
outras. Esse músculo tem atuação importante sobre as vísceras,
pois quando se contrai diminui o diâmetro da cintura, podendo
aumentar consideravelmente a pressão intra-abdominal, e
somada a esse aumento e pressão a ação gravitacional acaba por
empurrar as vísceras para baixo. As linhas inferiores do
transverso, ao se contrair, reforçam a borda do ligamento
inguinal que é a parte inferior e tendínea da aponeurose do
músculo oblíquo externo do abdome. Esse ligamento estende-se
da espinha ilíaca ântero superior até o tubérculo púbico. Sua
margem livre, ou terço medial, denominada arco inguinal
superficial, reforça a contenção da parte inferior do abdômen,
ajudando em consequência, na contenção visceral. Além disso,
ele traz sua contração para a crista ilíaca de forma ascendente,
formando assim uma cintura fininha na altura de suas fibras
médias, que são horizontais, mas não nas fibras inferiores. Suas
fibras superiores apresentam um direcionamento dado para
baixo e para fora, sendo responsáveis pelo sutil fechamento das
costelas.

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O transverso do abdômen, um dos
principais músculos que controlam a PIA (pressão intra-
abdominal) e outras pressões do corpo agem de maneira
sinérgica de acordo com sua pré-programação no córtex
cerebral.
Para que contraiam em conjunto durante as tarefas
posturais, existe o mecanismo de ajuste postural antecipatório
que é ativado pelo aumento da PIA.
Apesar de ser essencial para funções vitais, as pressões
quando aumentadas provocam situações negativas. Isso pode
acontecer por uma série de variáveis, incluindo problemas dos
mecanoceptores do aparelho músculo esquelético, sistema
vestibular, formação reticular, áreas corticais e subcorticais,
entre outras. Hoje em dia, o próprio Paul Hodges assume que o
aumento da PIA para a estabilização lombar pode gerar altos
custos para todo sistema visceral corpóreo.
Posto isso, o comando de levar o umbigo para as costas,
pode ser prejudicial.
Além disso, o músculo transverso do abdômen não
consegue funcionar de forma isolada, contraindo-se em

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conjunto, com a faixa abdominal, da qual constam mais 2
músculos: oblíquo interno e externo.

Os problemas gerados na contração do Transverso além do


aumento pressórico intra-abdominal, serão abordados mais
adiante.

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Anatomia do Diafragma

Imagem – 3 Diafragma

O diafragma é um músculo de função respiratória. Ele é


composto por uma lâmina músculo-fibrosa curvada que divide a
cavidade torácica da cavidade abdominal. Em sua composição
anatômica a face superior convexa está voltada em direção
cefálica, para o tórax. Já em sua face inferior côncava está

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voltado para o abdômen. As suas posições cupulares possuem
movimentos oscilatórios e variáveis pois trabalham de acordo
com a fase respiratória da ventilação.
Anatomicamente encontraremos após expiração forçada a
cúpula direita na altura aproximada da quarta cartilagem costal
(mamilo direito). No entanto, a cúpula esquerda se encontra
aproximadamente uma costela abaixo. No momento de uma
inspiração máxima, a cúpula pode descer aproximadamente
10cm.
A origem das fibras musculares do diafragma emergem da
circunferência oblíqua da abertura superior do tórax. As
inserções são baixas posteriormente e lateralmente, porém altas
anteriormente. O músculo anatomicamente possui três partes:
Esternal, Costal e Crural.

A porção esternal do diafragma inicia-se no rebordo


posterior do processo xifoide, e nem sempre está presente. A
parte costal do diafragma tem origem nas faces internas das seis
cartilagens costais inferiores e de suas costelas adjacentes a cada

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lado. Ela possui íntima relação com o músculo transverso do
abdômen, essa relação inclusive é diretamente fascial.

A porção lombar (crural, ou ainda os pilares do diafragma)


do diafragma origina-se nos dois arcos aponeuróticos: os
ligamentos arqueados medial e lateral.
O ligamento arqueado lateral é uma faixa espessada de
fáscia que recobre o músculo quadrado lombar. Ele arqueia
através da parte superior do músculo, se fixando medialmente à
frente do processo transverso da primeira vértebra lombar e
lateralmente à margem inferior da décima segunda costela,
próximo ao seu ponto médio.
O ligamento arqueado medial é um arco tendíneo na fáscia
que recobre a parte superior do músculo psoas maior.
Medialmente, é contínuo com a margem tendínea lateral do
pilar correspondente. Deste modo encontra-se fixado ao lado do
corpo da primeira ou segunda vértebra lombar. Lateralmente,
está fixado à frente do processo transverso da primeira vértebra
lombar.

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Os pilares do diafragma são tendíneos em suas inserções e
se misturam ao ligamento longitudinal anterior da coluna
vertebral. O pilar direito é mais largo que o esquerdo, e surge a
partir das faces antero-laterais dos corpos vertebrais e dos
discos intervertebrais das três vértebras lombares superiores. O
pilar esquerdo se origina nas partes correspondentes das duas
vértebras lombares superiores.
Estas fixações circunferenciais fazem com que as fibras do
diafragma convergem para o centro tendíneo. As fibras a partir
do processo xifoide são curtas, seguem quase horizontalmente.
Já as fibras derivadas dos ligamentos arqueados medial e lateral,
e mais especialmente aquelas derivadas das costelas e suas
cartilagens, são mais longas.
Elas se elevam quase verticalmente primeiro, e em seguida
se curvam em direção à sua fixação central. As fibras mediais do
pilar direito envolvem o esôfago por onde atravessa o diafragma,
sendo que as fibras mais superficiais ascendem à esquerda e as
fibras mais profundas cobrem a margem direita. O fascículo
muscular derivado da face medial do pilar esquerdo cruza a

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aorta e segue de forma obliqua através das fibras do pilar direito
em direção ao forame da veia cava.
O centro tendíneo do diafragma é uma delgada, porém
forte, aponeurose de fibras intimamente entrelaçadas, situada
próximo ao centro do músculo, contudo bem próximo da parte
anterior do tórax, de maneira que suas fibras musculares
posteriores sejam mais longas. No centro, ele se encontra abaixo
do pericárdio, com o qual se funde parcialmente.

Funções do diafragma

A função respiratória do diafragma se dá pelo aumento da


pressão intra-abdominal. Ela sobe quando o centro frênico se
contrai, gerando um aumento da pressão sobre a massa visceral.
Essa, por sua vez, cria o que chamamos de área de aposição
(aumento da pressão das paredes diafragmáticas nas costelas).
Essa área de aposição é o que permite levantamos as costelas,
ao contrário do que pensávamos, o tendão central não é
necessário para o ato respiratório. As pesquisas atuais indicam
que sua principal função seria promover um aumento e

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diminuição da tensão do saco pericárdico. Assim, favorece um
melhor retorno venoso. Em pesquisa realizada aonde foi cortado
o nervo frênico em cachorros foi observado a falta do
comprometimento respiratório.
O diafragma crural e o diafragma costal trabalham em
série. O diafragma crural através de sua ligação e ação direta na
coluna vertebral através de seus pilares. O diafragma costal
através do aumento da pressão abdominal que age em sinergia
com outros músculos, criando uma alavanca de flexão no tronco;
A alavanca será, para manter o equilíbrio do indivíduo, pré-
compensada por uma alavanca de extensão também no tronco,
gerando assim a estabilização da coluna vertebral. O diafragma
também possui as funções de:
• Mobilidade visceral,
• Retorno venoso e linfático
• Contenção gastroesofágica

A contração do diafragma aumenta:


• Pressão abdominal;
• Pressão torácica;

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• Pressão craniana.
Existe uma relação pressórica entre as diversas cavidades
corporais. Essas alterações pressóricas são responsáveis pelo
mecanismo de estabilização da coluna vertebral e pélvica.
Contudo, o diafragma trabalha em sinergia muscular numa
atividade pré-programada do córtex cerebral. O trabalho é
realizado junto ao transverso do abdômen e ao assoalho pélvico.
Portanto, solicitar a respiração forçada e profunda durante
a pratica do Pilates, não parece uma boa estratégia para aliviar
o mecanismo de dor na coluna vertebral, uma vez que as
alterações no padrão respiratório individual sugerem um
mecanismo inteligente de compensação do sistema
neuromuscular para aumentar as forças de fechamento da pelve
quando a estabilidade da mesma está comprometida por uma
disfunção. Contudo, toda compensação possui um custo muito
alto.
Neste caso é o aumento da compressão da articulação
sacro-ilíaca em até 4 vezes da sua pressão normal. Além disso,
essas estratégias não são totalmente eficazes para manter a

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estabilidade da articulação sacro-ilíaca, pois aumentarão
substancialmente a pressão intra-abdominal.
Somando a todos fatores citados, nessa tentativa corporal
de estabilizar a articulação sacro-ilíaca, a coluna vertebral
também estará submetida a esse aumento de pressão intra-
abdominal e a articulação sacro-ilíaca em disfunção será
retroalimentada por mais pressão do contato articular, gerando
assim, um ciclo vicioso de disfunção.

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Multifideos

São os primeiros a se hipotrofiar e serem substituídos por


gordura durante o processo de dor lombar crônica, o que os
achados mostram de novo, é que, indivíduos com dor lombar
possuem fraqueza nos extensores do tronco, e não somente no
multifideo. Alguém consegue contrair só o multifideo? De novo,
hoje sabemos que os músculos trabalham por tarefas, sendo
assim, a ativação do musculo multifideo não pode ser isolada,
pois é o mais profundo extensor da coluna que agira em
conjunto com os músculos responsáveis por realizar a extensão
da coluna vertebral.

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Imagem – 4 Multífideo

E, por fim, encerrando o Powerhouse, teremos os


músculos do períneo e do assoalho pélvico.

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Assoalho Pélvico

Imagem – 5 Assoalho pélvico

Por acaso você já usou o comando de “segure o xixi” para


sua aluna durante a aula? Isso é um problema bastante sério que

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acontece quando muitos profissionais tentam trabalhar o
assoalho pélvico no Pilates.
Recomendo não utilizar esse comando e deixar o assoalho
pélvico livre para prevenir sobrecarga, causada pelo peso do
saco visceral, somado à forca gravitacional nos pequenos
músculos do assoalho pélvico. Vamos entender os motivos
científicos para tantas dificuldades ao trabalhar o assoalho
pélvico no Pilates. Dentre esses problemas, encontra-se o fato
de não compreendermos bem, se o assoalho pélvico está tenso
pela sobrecarga, ou fraco por sua ineficiência de fato, caso
estejamos diante do primeiro caso citado, podemos acabar por
corroborar com a formação de uma incontinência urinaria de
esforço.

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A Pressão Intra-abdominal (PIA)

As pressões intracavitárias deveriam ser um mecanismo


para favorecer a respiração, o controle postural e a circulação
venosa. Em alguns casos, elas se tornam uma bomba que pode
causar uma série de problemas para o corpo de acordo com o
tempo de aumento.
O transverso do abdômen, um dos
principais músculos que controlam a PIA e outras pressões do
corpo agem de maneira sinérgica de acordo com sua pré-
programação no córtex cerebral.
Para que contraiam em conjunto durante as tarefas
posturais, existe o mecanismo de ajuste postural antecipatório
que é ativado pelo aumento da PIA.
Apesar de ser essencial para funções vitais, as pressões
quando aumentadas cronicamente provocam situações
negativas. Isso pode acontecer por uma série de variáveis,
incluindo problemas dos mecanoceptores do aparelho músculo
esquelético, sistema vestibular, formação reticular, áreas
corticais e subcorticais, entre outras. Hoje em dia, o próprio Paul

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Hodges assume que o aumento da PIA para a estabilização
lombar pode gerar altos custos para todo sistema visceral
corpóreo.
Posto isso, o comando de levar o umbigo para as costas,
além de segurar o xixi, podem ser prejudiciais. Não podemos
esquecer que estamos diante de um corpo viscerado.

Visão de novos autores sobre o Powerhouse:

Alguns autores dizem com autoridade que a teoria de Paul


Hodges caiu por terra, todo esse raciocínio vem da linha
osteopática, que defronta o Pilates de forma ferrenha por
aumentar durante o acionamento do powerhouse a pressão
intracavitária que já possui suas forças intracavitárias
centrípetas ou centrífugas, dadas pelas próprias vísceras,
afirmando que a respiração proposta pelo método é
hiperpressórica. Caso resolvamos fortalecer os músculos do
powerhouse, sem a clareza necessária, estaremos aumentando
a pressão intra-abdominal, gerando todos os efeitos negativos
citados anteriormente.

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Corroborando, Stuart, Mc Guill (biomecanicista da
Universidade de Waterloo) afirma não existir um músculo
comprovado capaz de estabilizar o tronco. E o próprio Paul
Hodges afirma atualmente que a força do núcleo envolve todos
os músculos do tronco, que devem funcionar como uma sinfonia
muito bem afinada, e que sua proposta de estabilização foi mal
interpretada, gerando troncos rígidos, indo contra os princípios
de tudo que objetivamos durante a prática do Pilates, que é
movimento. Por tudo que a ciência vem demonstrando, há
algum tempo não solicito mais nenhum tipo de contração do
powerhouse.

O Powerhouse e o Pilates

Powerhouse?
Logo, e como sempre digo em meus cursos, o método
Pilates foi uma filosofia de vida criada por Joseph, e não é
possível galera, vou repetir, trocando as palavras dessa vez, é
impossível que um dos pilares do Pilates que sugere a força de

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núcleo, que Joseph se referia, fosse a mesma estabilização
central (CS) de Paul Hodges.

Haja visto, que o Método Pilates foi desenvolvido na


primeira guerra mundial, e que Joseph Pilates morreu em 1967,
quando Paul Hodges (02 de janeiro de 1966) tinha apenas 1
aninho, tornando, pouco provável um possível encontro dos 2
gênios para unir a Teoria da Estabilização (CS) de Paul Hodges e
a casa de força de Joseph. Gostaria de citar aqui, ainda, que,
nunca li na obra original de Joseph a palavra powerhouse. Para
o filósofo Joseph Pilates, a casa de força era algo muito além de
tentar isolar um grupo de músculos profundos.
Fui ao dicionário e encontrei que força vem do latim fortia
e indica: poder, energia, impulso. Logo, seguem as minhas
conclusões individuais:

• Fica-me muito claro, que a CS e a casa de força não são


sinônimos.
• A casa de força para Joseph poderia ser algo como o
empoderamento corporal.

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• Que a parte filosófica do Método fora perdida em algum
lugar do tempo.
• Que por algum motivo, desconhecido por mim, a Teoria
de Paul Hodges foi engendrada no Método Pilates.

Elucubrações à parte voltemos a realidade, com todos


esses resultados científicos, tenho certeza que Joseph jamais
desenvolveria um Método de Movimento limitando movimento,
pois é isso que a CS faz. Além de aumentar inúmeras vezes a
pressão intra-abdominal (admitido pelo próprio Paul Hodges).
A pressão intra-abdominal medida por via intra bexigal,
em posição deitada com os abdominais relaxados, se considera
patológica a partir de 12mm de hg.
Acima deste valor falasse já em hipertensão abdominal e,
acima de 20mm Hg, estamos em uma condição de Síndrome
Compartimental Abdominal. Para os urgentistas, um caso de
hipertensão abdominal e/ou síndrome compartimental,
medidas urgentes de descompressão devem ser adotadas.
Todavia, segundo alguns autores, o abdômen funciona
como um sistema hidráulico, cuja pressão interna normal varia

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de 5 a 7 mm Hg. Segundo Cernea, acima de 10 mmHg, a pressão
já pode provocar danos aos órgãos intra, extra-abdominais, e
também, ao sistema nervoso central.
Estes dados nos dizem em primeiro lugar que, não existe
um consenso sobre os valores normais e patológicos da pressão
intra-abdominal, e que de qualquer forma, pequenas variações
já podem ser suficientes para determinar uma condição
patológica.
O que parece ser determinante à respeito do efeito danoso
da hiper pressão intra-abdominal sobre a saúde, é
principalmente o seu caráter temporal, ou seja: mais que os
valores maximais, que em caso de esforço transitório podem
aumentar e muito, mesmo sem provocar danos, o que mais pode
comprometer a homeostasia, é o caráter permanente, do
aumento.
O tempo durante o qual a pressão intra-abdominal
permanece aumentado é o que mais impacta sobre a saúde,
pois, quanto maior for o tempo do aumento, piores serão os
danos ao organismo.

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Segundo estas pesquisas, mesmo pequenas variações da
pressão abdominal quando prolongadas no tempo, podem
determinar efeitos danosos, entre eles:
• Atraso de Cicatrização de Feridas
• Danos e Insuficiência de (Rins, Sistema Digestório,
Sistema Respiratório, Sistema Cardio Vascular e Sistema Nervoso
Central)
• Aumento de Endo Toxinas Bacterianas no Sangue
• Transmigração Bacteriana através das Membranas
Celulares – que estarão mais permeáveis ao aumento da
pressão.
De fato, o que deveria ser um mecanismo favorecedor da
respiração e do controle postural e que deveria permitir a
normal circulação do sangue e da linfa, se torna uma bomba
armada e pronta a explodir, tendo como fator determinante o
tempo de duração do aumento da pressão intra-abdominal
dentro do nosso corpo.
Nunca desejei tanto existir a máquina do tempo para bater
um papo com Joseph Pilates, e só serviria ele, para esclarecer
minha dúvida, visto que como disse no artigo anterior, temos

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pouco material escrito original deixado pelo Sr. Joseph Pilates, e
pouquíssimos discípulos diretos, que já estão mortos, com
exceção de Lolita de San Miguel. Tornando o método frágil e
passível à distorções. Alguém encontra a casa de força de Joseph
Hubertus Pilates para mim?

Conclusão

Pesquisas recentes indicam, conforme exposto, que a


ativação do powerhouse encontra-se ultrapassada,
necessitamos quebrar esse paradigma para que nosso Método
Pilates tão excepcional não se torne ultrapassado também.

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