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Pelo que pôde perceber, a Direção acredita que os empregados estão temerosos quanto aos
seus empregos e benefícios conquistados ao longo tempo, principalmente depois que vazou a
informação de que a empresa pretendia, dentro das medidas anunciadas:
1. cancelar as tradicionais festas juninas;
2. cancelar a festa natalina e a distribuição de presentes aos filhos dos empregados e cestas
de Natal;
3. cancelar patrocínios de campeonatos de futebol da comunidade;
4. reduzir os financiamentos da empresa para a cooperativa de consumo;
5. cancelar todos os brindes;
6. interromper o lanche, composto de café com leite e pão como manteiga, fornecido todas
as manhãs, desde a fundação;
7. cortar vários operários em diversos setores da fábrica, inclusive com mais de 15 anos;
8. criar um terceiro turno de trabalho.
Além das informações vazadas, Tarcísio anunciou algumas medidas que seriam
implementadas imediatamente:
1. uso obrigatório dos equipamentos de proteção individual (EPI) e conseqüente punição
para o empregado que trabalhar sem esta precaução, incluindo-se a demissão sumária;
2. compra de novas máquinas e equipamentos, mais sofisticados tecnologicamente;
3. maior investimento em treinamento técnico;
4. implantação de prêmios individuais, por produtividade;
5. contratação de uma consultoria especializada em programas de qualidade.
6. implantação de manual de políticas, normas e procedimentos.
Uma semana após o anúncio das medidas, Tarcísio, em visita imprevista às instalações da
fábrica, surpreendeu um dos supervisores, num pequeno grupo de colegas e de alguns subordinados,
criticando as normas de segurança baixadas pela diretoria, por ele consideradas totalmente inócuas.
Tarcísio, demonstrando visível intenção de punir, indagou do supervisor: “quem você pensa que
é?”. Em seguida, exigiu que ele o procurasse, dentro de uma hora, em seu gabinete. Meia hora
depois, o Chefe de Produção procurou Tarcísio, levando o dossiê do empregado e mostrando-se
bastante surpreso com o acontecido. Disse tratar-se de um bom profissional, com cinco anos de
empresa, demonstrando espírito de colaboração, tendo, em vários momentos críticos da produção,
estendido seu horário muito além do convencional. A documentação e os registros em sua pasta
funcional comprovavam isso. Atribuiu o ocorrido à falta de orientação, observando que as críticas
seriam possivelmente motivadas, em grande parte, pelo desejo de acertar. Tarcísio, mesmo diante
das ponderações, resolveu advertir o empregado por escrito, exigindo a publicação no Boletim de
Pessoal. O supervisor foi informado de que sua punição não fora maior devido aos seus
apontamentos funcionais serem positivos.
Por outro lado, dias atrás exaltou publicamente determinado empregado que demonstrara
apoio às suas propostas, chamando-o de “empreendedor nato”, como aquele que “incorpora o sinal
dos tempos”.
A aplicação das medidas, mais o incidente ocorrido com o supervisor, provocaram, em
menos de 2 meses, considerável redução da produção e a fundação de uma comissão interna dos
trabalhadores, assessorada pela CUT.
O grupo decidiu, em pouco tempo, reivindicar:
1. reposição salarial relativa aos últimos três anos;
2. aumento real de salário, em torno de 5%;
3. estabilidade de emprego por 2 anos;
4. não implantação do terceiro turno;
5. criação de um plano de cargos e salários;
6. participação nos lucros da empresa;
7. pagamento de horas extras com 100% de acréscimo;
8. participação nas decisões de segundo escalão, através de um representante.
Tarcísio, assessorado pelo Gerente Geral da fábrica, tentou mostrar que os boatos eram
infundados e que os empregados não precisavam ficar temerosos quanto aos seus empregos. Além
disto, explicou que o incidente com o supervisor havia sido um mal-entendido e que isto não
ocorreria novamente. Inclusive a advertência escrita seria cancelada. No entanto, de nada
adiantaram as tentativas de Tarcísio, que se viu pressionado pelo grupo no sentido da
implementação das reivindicações. Por outro lado, há um grupo de empregados que prefere não se
aliar à comissão interna, por acreditar que esse tipo de conflito acaba não levando a lugar algum. Ao
contrário, aliaram-se a Tarcísio, por enxergarem nele o tipo de líder de que precisam. Para esse
grupo, Tarcísio “personifica nossos ideais e desejos de mudança”.
A essa altura, o Sr. Pereira já não sabe mais o que fazer, pois, em sua visão, os empregados
acreditam que ele os traiu ao nomear seu filho, que serviria como “testa-de-ferro” para as medidas
anunciadas e implantadas. O Gerente Geral da fábrica, Marcos Resende, tem sofrido ameaças de
alguns empregados, que o consideram “cúmplice da trama”.
A situação atual é a seguinte: o grupo assessorado pela CUT exige que as reivindicações
sejam atendidas em sua maioria, caso contrário as atividades produtivas serão suspensas a título de
greve, por tempo indeterminado, a despeito de a postura da comissão não ser compartilhada por
ampla maioria (informação essa desconhecida da administração da empresa).
QUESTÕES
2. Analise em que medida a Microhard – sob comando do Sr. Pereira e depois sob forte
influência de Tarcísio – gerencia de modo eficaz sua cultura, de modo a garantir a coesão interna e
sua capacidade competitiva?