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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DELEGADO DE POLÍCIA TITULAR DA

DIRETORIA DE RECURSOS ESPECIAIS DA POLICIA CIVIL DE ALAGOAS -


DRE-DEIC

PAULO CESAR FRANCO PAZ, brasileiro, casado, empresário, portador do RG sob


nº 18.247.719-8 – SSP-AL e do CPF sob o n° 129.015.498-88, residente e domiciliado
na Av. Silvio Carlos Lunna Viana, nº 2635, Edf. Grand Classic, apt. 201, Ponta Verde,
Maceió/AL, CEP 57.035-160, telefone (82) 999494233, E-mail:
paulocfpp@hotmail.com, por seus advogados que abaixo subscrevem, consoante
instrumento de procuração anexa, vem, respeitosamente, à presença da autoridade
policial, com fulcro nos artigos 171, §5º c/c Artigo 147, ambos do Código Penal c/c Art.
21 da Lei nº 3.688/41 (vias de fato), parágrafo 3º do Código Penal, propor

REPRESENTAÇÃO CRIMINAL

em face de LUIZ ALBERTO MAFRA VILLAR DE CARVALHO (ACUSADO 01),


brasileiro, casado, empresário, com CPF inscrito sob o Nº 008.010.904-74 e RG sob o
nº 1.001.032 SSP-AL, residente e domiciliado na cidade de Maceió - AL, telefone (71)
99771-1111, consoante as razões fáticas e jurídicas esposadas a seguir.

Em face de ANDRE MAFRA VILLAR DE CARVALHO, brasileiro, casado,


empresário, residente e domiciliado na cidade de Maceió – AL.

I – SITUAÇÃO FÁTICA

1. Inicialmente, a vítima é proprietário de dois imóveis do tipo sala


comercial, salas 1402 (matrícula nº 129481 no 1º Registro Geral de Imóveis de
Maceió/AL) e 1403 (matrícula nº 129482 no 1º Registro Geral de Imóveis de
Maceió/AL), localizadas na cobertura do Edf. Norcon Empresarial, de alto padrão
construtivo e excelente localização, situado na Avenida Comendador Gustavo Paiva,
2789, bairro Mangabeiras, no município de Maceió, estado de Alagoas, CEP 57.038-
000.

2. O Sr. Paulo Paz, ora vítima, efetuou a compra dos dois imóveis em
17/03/2014 junto à empresa chamada Apoio – a qual solicitou da construtora Norcon –
Sociedade Nordestina de Construções S/A a escrituração em nome da empresa autora.
Conforme escrituras públicas anexas a aquisição pela empresa autora deu-se em 2014 e
foi no valor de R$ 165.157,34 por cada uma das duas unidades imóveis, totalizando o
valor de R$ 330.314,68 (trezentos e trinta mil trezentos e quatorze reais e trinta e quatro
centavos).

3. Ocorre que, em fevereiro de 2020, o Sr. Paulo Paz, ora vítima, colocou à
venda os dois imóveis com todos os móveis planejados que nela existem, levando em
consideração o alto padrão das salas, dos móveis planejados e a localização (Edf.
Norcon Empresarial) pelo valor comercial avaliado de R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais).

4. No mesmo mês de fevereiro de 2020, a vítima recebeu proposta de


compra dos irmãos e sócios supracitados. Após um mês de tratativas, a negociação
restou definida no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) as duas salas¸ sem
valor de corretagem por conta de ter ocorrido venda direta pelo vendedor e os
compradores.

5. No Instrumento Particular de Contrato de Compromisso de Compra e


Venda de Salas Comerciais (anexo) firmado entre a suposta vítima e os supostos
acusados, consta o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) porque os
sócios da empresa alegaram que precisariam informar esse valor na contabilidade de sua
empresa haja vista se tratar de empresa atuante no ramo de factoring e que sofriam
fiscalização rigorosas pelo Banco Central e Receita Federal. Por isso, fizeram constar no
contrato aquele valor pois se constasse o valor de fato negociado poderia caracterizar
agiotagem (segundo alegaram os sócios). Assim é que a vítima, de boa-fé, aceitou
assinar o contrato com valor a menor, com o ajuste pactuado de que a diferença de R$
750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) seria paga logo após serem resolvidas as
pendências registrais de indisponibilidade que existiam no Edifício Norcon Empresarial
à época.

6. Contudo, dotados de má-fé e animus furandi, dolo de obter para si ou


para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo em erro,
mediante artifício, ardil e meios fraudulentos, os Representados solicitaram que o
contrato de compra e venda seria realizado em valor inferior ao real acordado, em
razão de que os Representados alegaram que precisariam informar esse valor na
contabilidade de sua empresa haja vista se tratar a ré de empresa atuante no ramo de
factoring e que sofriam fiscalização rigorosas pelo Banco Central e Receita Federal.

7. Dessa forma, fizeram constar no contrato o valor de R$ 250.000,00


(duzentos e cinquenta mil reais) pelas duas salas, localizadas na cobertura do Norcon
Empresarial, pois se constasse o valor de fato negociado, poderia caracterizar
agiotagem (segundo alegaram os Representados).

8. Assim é que a vítima, de boa-fé, aceitou assinar o contrato com valor a


menor, com o ajuste pactuado de que a diferença de R$ 750.000,00 (setecentos e
cinquenta mil reais) seria paga logo após serem resolvidas as pendências registrais
de indisponibilidade que existiam no Edifício Norcon Empresarial à época.

9. Nobre Delegado de Polícia, é de suma importância ressaltar tratam-se de


02 (duas) salas comerciais na cobertura de um dos empresariais mais conhecidos do
Estado de Alagoas, que em contrato no papel, seriam vendidos por R$ 250.000,00
(duzentos e cinquenta mil reais) os dois juntos. É distante de qualquer razoabilidade
mínima acreditar que se procede de verdade tal afirmação.

10. É imperioso consignar que o valor venal da unidade sala 1402 é de R$


246.942,66 e o valor venal do imóvel sala 1403 é de R$ 244.812,95. Ou seja, a soma do
valor venal dos dois imóveis é bastante superior ao valor de R$ 250.000,00 que consta
no contrato de compra e venda firmado entre a empresa da suposta vítima e os supostos
acusados, o que leva a, segundo padrões do homem médio, concluir que o valor de
mercado das salas 1402 e 1403 vendidas pela empresa autora jamais valeria apenas o
valor que está no contrato particular de compra e venda.

11. Ludibriado e enganado, a vítima assinou procuração onde outorgou


poderes a um dos Representados para que esse resolvesse pendências de débitos do
imóvel, haja vista que existiam valores em aberto à título de IPTU e condomínio, além
além do que existiam pendências registrais de indisponibilidade do edifício.

12. Dessarte, após a assinatura do contrato particular de compra e venda, os


sócios, ora Representados, procederam com o pagamento do valor de R$ 245.000,00
(duzentos e quarenta e cinco mil reais) à título de entrada da negociação, sendo
descontado o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) como custeio de despesas de
documentação. O pagamento realizado pelos criminosos se deu no valor de R$
245.000,00 (duzentos e quarenta e cinco mil reais), feito mediante transferência
bancária de titularidade de duas empresas:

i. pagamento do valor de R$ 10.000,00 feito em 02/03/2020 de


uma conta bancária da empresa Vector Cobranças Ltda;

ii. pagamento do valor de R$ 135.671,00 feito em 03/03/2023 de


uma conta bancária da empresa M L J M Cobranças
Extrajudiciais Eireli;

iii. o pagamento do valor de R$ 110.000,00 efetuado em


03/03/2023 de uma conta bancária da empresa Vector
Cobranças Ltda.

13. Para destaque, evidencia-se os referidos comprovantes (também


anexados nessa representação):
14. Vale ressaltar ainda, que os Representados utilizam conta laranja, em
nome de terceiros (M L J M Cobranças Extrajudiciais Eireli) como forma de tornar
LÍCITO, dinheiro obtido de maneira ILÍCITA, criminosa.

15. Outrora, foi ajustado que a vítima pagaria o valor em aberto de IPTU e
condomínio de ambas as salas, motivo pelo qual Sr. Paulo (sócio proprietário da
empresa AL IMOB) fez depósitos na conta da empresa MJM Cobranças (indicada pelos
sócios da empresa ré) para quitação de IPTUs e condomínios em atraso, totalizando o
valor de R$ R$ 64.834,00 (sessenta e quatro mil, oitocentos e trinta e quatro reais) –
comprovantes anexos.

16. Nesse contexto, o acerto firmado entre o Sr. Paulo (vítima) e os


Representados foi de que quando fosse resolvida a pendência de indisponibilidade
imobiliária do Edifício Norcon Empresarial pela construtora Norcon (Sociedade
Nordestina de Construções S/A) seria então confeccionada a competente escritura
pública e realizado seu devido registro, com o pagamento pela empresa ré do valor
residual.
17. Tamanha foi a boa-fé da vítima, que esse assinou procuração e emitiu
cheque em branco confiando na manutenção de tudo quanto foi negociado, tendo ainda
assinado uma nota promissória em garantia do cheque (a nota promissória está no valor
de R$ 272.500,00 pois foi alegado pelos sócios, que esse seria o valor com atualizações
- a nota promissória original continua com os Representados), ambos os documentos
anexos, como garantia em caso de eventual rescisão do contrato para que os
Representados recebessem de volta o valor pago à título de entrada.

18. Por diversas vezes a vítima indagou os Representados sobre a solução


das pendências de indisponibilidade do edifício, para que fosse realizado o pagamento
do valor restante da compra e venda das duas salas, ao que os criminosos alegavam que
ainda não tinham resolvido as pendências do Edifício Norcon Empresarial e que por
isso iriam aguardar a solução de tais pendências para então realizarem o pagamento do
valor residual da compra e venda.

19. Após resolvida a pendência registral do Edf. Norcon Empresarial pela


construtora Norcon, os sócios, aqui Representados, numa clara e manifesta má-fé,
alegaram que já tinham a escritura pública de compra e venda dos dois imóveis, em
desacordo com o que havia sido estabelecido entre as partes.

20. Em conduta delituosa, no dia 13/04/2023, após tomar conhecimento de


que as indisponibilidades registrais do Edifício Norcon Empresarial haviam sido
baixadas, a Vítima dirigiu-se até a sede da empresa pertencente aos Representados para
deles receberem o valor devido. Porém, para sua surpresa, os sócios alegaram que
nada deviam, e que na verdade a Vítima era quem devia valores à aos Representados,
pois supostamente o valor que pagaram teria que ser atualizado. Nesse mesmo dia, os
Representados, insatisfeitos com a cobrança dos valores, cometeram contravenção
penal de vias de fato em desfavor da vítima, ainda tendo lhe ameaçado. Importa
destacar que estes fatos foram gravados pelo sistema de câmeras da sala dos
Representados.

21. É necessário registrar que o ajuste entre as partes foi de que uma vez
resolvidas as pendências registrais de indisponibilidade do Edifício Norcon Empresarial,
é que seria pago o valor residual de R$ 750.000,00. Ocorre que somente em abril/2023
é que as indisponibilidades no registro do Edifício foram sanadas pela construtora
Norcon, motivo pelo qual o Sr. Paulo Paz então cobrou o pagamento da diferença da
compra e venda aos Representados por conta de que, no ano de 2020, o Edifício Norcon
Empresarial tinha registro de indisponibilidade por conta de pendências da empresa
construtora do edifício (conforme NOTA DE DEVOLUÇÃO número 233.063 anexa
expedida pelo cartório do 1º Registro Geral de Imóveis de Maceió/AL), além do que a
negociação deu-se exatamente durante o período da pandemia da Covid-19 que
dificultou o regular andamento das diligências para saneamento das pendências.

22. De forma evidente, algumas das vantagens ilícitas que se caracterizam


ainda mais, os dois imóveis encontram-se alugados pela Representados desde o ano
de 2020 (pois tiveram imissão na posse desde 01/07/2020), estando desde então os
sócios recebendo os valores à título de aluguel. As duas salas rendem o valor de R$
7.500,00 (sete mil e quinhentos reais) mensais à título de aluguel. Dessa forma, os
Acusados já receberam aluguel por 33 (trinta e três) meses, totalizando o valor de
R$ 247.500,00 (duzentos e quarenta e sete mil e quinhentos reais).

23. Vale ressaltar, que em processo nº 0722839-41.2023.8.02.0001 em


ação cível em trâmite 3ª Vara Cível da Capital, o Juiz de Direito proferiu decisão
liminar para decretar a indisponibilidade dos dois imóveis (sala 1402 – matrícula
129481) e (sala 1403 – matrícula 129482) sob o entender jurídico nos seguintes
termos em fls. 132:

“No que diz respeito ao pedido de indisponibilidade


do bem, verifica-se que os elementos, sejam fáticos ou
documentais, trazidos à colação junto à exordial, em
especial, o instrumento particular de compromisso de
compra e venda (fls. 43/45 e55/58), e o comprovante
de pagamento, o qual revela o preço acertado na
avença e que foi pago pelo autor aos réus, são aptos
para considerar, pelo menos neste momento, deque a
realidade fática corresponde ao quanto relatado,
levando-se, outrossim, em consideração que a demora
do provimento jurisdicional só acabará por causar
sérios e incontestáveis danos a parte autora, posto
que, o desconhecimento dos possíveis envolvidos
acerca da situação posta em deslinde, poderá levar a
um total prejuízo aos seus direitos de propriedade.”

24. Dessa forma, em consonância com os documentos acostados nessa


Representação, resta devidamente configurado que Sr. LUIZ ALBERTO MAFRA
VILLAR DE CARVALHO e o Sr. ANDRE MAFRA VILLAR DE CARVALHO
praticam assim o crime de Estelionato previsto no art. 171 do Código Penal em
desfavor de sr. PAULO CESAR FRANCO PAZ, motivando a presente representação
criminal, devendo ser INSTAURADO INQUÉRITO POLICIAL pela autoridade
competente para apurar o delito mencionado com o fito de que a autoridade policial
digne-se a determinar, no relatório final, PELO INDICIAMENTO DOS
REPRESENTADOS, a fim de que sejam aplicadas as penas cominadas no art. 171, do
Código Penal Brasileiro.

II - DA AUTORIA E MATERIALIDADE DO DELITO

25. Os indícios suficientes de autoria e a prova da materialidade do injusto,


circunstâncias probatórias imprescindíveis a observação da justa causa no processo
penal, restam indubitavelmente comprovadas através de COMPROVANTES DE
TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS, MICROFILMAGEM DE CHEQUE ASSINADO
PELA VÍTIMA, NOTA DE DEVOLUÇÃO DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE
IMÓVEIS, ITBI DA AQUISIÇÃO DOS IMÓVEIS, CONTRATO DE COMPRA E
VENDA DOS IMÓVEIS JUNTO A NORCON EMPRESARIAL, CONTRATO DE
PROMESSA DE COMPRA E VENDA DOS IMÓVEIS, CERTIDÕES DE ÔNUS DOS
IMÓVEIS, NOTA PROMISSÓRIA, PROCURAÇÃO ASSINADA PELA EMPRESA
DA VÍTIMA EM FAVOR DE UM DOS ACUSADOS, DOCUMENTOS
REFERENTES AO IPTU DOS IMÓVEIS, todos acostados à presente representação
criminal.

III – DOS FUNDAMENTOS JURIDICOS

26. Em acordo ao Código Penal Brasileiro, prevê-se em seu artigo 171, a


seguinte prática delituosa:

Art. 171: Obter, para si ou para outrem, vantagem


ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro mediante artificio, ardil ou
qualquer outro meio fraudulento:

Pena: reclusão de 01 a 05 anos e multa.”

27. Diante da análise do tipo penal, cabe ressalvar, que o depoimento da


vítima, além dos demais documentos que se encontram devidamente anexados,
configura prova suficiente à respeito dos fatos narrados, bem como do dolo específico
em obter vantagem ilícita induzindo e mantendo em erro o ofendido, sem restar dúvidas
no que tange a autoria e a materialidade.

28. Diante de tais fatos, requer-se a condenação do representado tendo como


base, os ditames legais disposto no ART. 171 do CP. Segundo a doutrina:

“O dolo do estelionato é a vontade de praticar a


conduta consciente o agente que está iludindo a
vítima. Exige-se o elemento subjetivo do injusto (dolo
específico), que é a vontade de obter ilícita vantagem
patrimonial para si ou para outrem”. (MIRABETE,
Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal.18 Ed. São
Paul: Atlas, Fla.304)
29. Ora, nos termos acima expostos, CONCLUI-SE PELA PRÁTICA
DO CRIME DE ESTELIONATO, devendo, ao final do processo, que estes sejam
condenados nos termos do artigo 171 do Código Penal.

III.I- DO BLOQUEIO DE BENS E VALORES

30. É sabido que no curso de uma ação criminal ou até mesmo antes de seu
início é comum acontecerem situações que demandem providências urgentes, por parte
da Autoridade Policial, do Ministério Público ou da própria vítima do delito, hábeis a
acautelar interesses, ora assegurando a correta apuração da infração penal, ora
garantindo a futura execução da pena que se pretende ver aplicada, ou ainda, garantindo
o ressarcimento do dano causado pela prática criminosa.

31. Neste contexto, as medidas assecuratórias penais de cunho patrimonial


visam a tutelar, provisoriamente, direitos até o momento em que o Estado-Juiz possa
decidir, definitivamente, a demanda, resolvendo, inclusive, o pagamento das custas
processuais e o ressarcimento do dano causado à vítima do delito.

32. Tais medidas, além das condições gerais para propositura de qualquer
ação, sejam elas, a legitimidade das partes, a possibilidade jurídica do pedido e o
interesse de agir, possuem mais dois requisitos, quais sejam, o fumus boni iuris e o
periculum in mora.

33. Vale salientar que, no processo penal, o sentido de urgência que inspira
as medidas assecuratórias possui particularidades que o diferenciam do processo civil. A
respeito, vejamos o que diz João Gualberto Garcez Ramos:

“A urgência, no caso, é quase onipresente. Essa


qualidade decorre de diversas razões. Em primeiro
lugar, do fato de que o crime é, ontologicamente, a
maior ofensa ao próximo que prevê o ordenamento
jurídico. Se o é à pessoa do indivíduo, muitas vezes
também o é ao seu patrimônio, irrazoadamente
atingido. Sendo assim, ocorrendo o prejuízo
patrimonial, justificada está a reação estatal
enérgica. Outra razão é referente ao destinatário das
regras viabilizadoras da responsabilidade patrimonial.
Tendo o agente cometido um crime patrimonial doloso
ou crime não patrimonial motivado pela cobiça, por
exemplo, é razoável pensar-se que, uma vez
consumado o crime, seu objetivo passe a ser manter o
status quo alcançado com a prática da infração penal;
talvez até com a repetição de ações moralmente
reprováveis. Nisso também reside a potencial
inutilidade das medidas patrimoniais do processo se
desvestidas de urgências.”

34. Desta feita, o bloqueio dos valores com o correlato sequestro é medida
adotada no interesse do ofendido e do próprio Estado, com o escopo de antecipar os
efeitos da sentença penal condenatória, salvaguardando a reparação do dano sofrido
pelo ofendido, bem como o pagamento das custas e da pena de multa a ser fixada
na sentença. Ela também tem por objetivo assegurar que da atividade criminosa não
resulte vantagem econômica para o infrator. Nos artigos 125 e 126 do CPP está previsto
como requisito para a concessão da medida a presença de indícios veementes da origem
ilícita dos bens do indiciado ou acusado, mesmo que estes tenham sido transferidos a
terceiros.

35. Vejamos o que entendem nossos Tribunais sobre a presença de indícios


suficientes da origem ilícita dos bens:

Origem: STF - Agravo Regimental em Inquérito N.º


705-6/140-DF. Relator: Ilmar Galvão. DJ: 20.10.1995
EMENTA: DESPACHO QUE, EM INQUÉRITO
POLICIAL, DECRETOU LIMINARMENTE,
ADREFERENDUM DO PLENÁRIO,
SEQÜESTRO DE BENS QUE TERIAM SIDO
ADQUIRIDOS PELOS INDICIADOS COM OS
PROVENTOS DA INFRAÇÃO (ARTS.125 E 132
DO CPP). IMPUGNAÇÃO MANIFESTADO POR
AGRAVO DEINSTRUMENTO.

36. Contemporaneidade da aquisição dos ditos bens com a imputada prática


de atos delituosos, os quais, segundo consta, envolveram elevadas somas de dinheiro.
Circunstância bastante para autorizar a presunção de que se está diante de produto da
ilicitude.

Precedentes do STF. Acordão Origem: TRIBUNAL -


QUARTA REGIÃO Classe: MS -MANDADO DE
SEGURANÇA Processo: 200104010465253 UF: RS
Órgão Julgador: SÉTIMA TURMA Data da decisão:
28/08/2001 Documento: TRF400081618 Fonte DJU
DATA:12/09/2001 Relator(a) JOSÉ LUIZ B.
GERMANO DA SILVA Decisão unânime. Data
Publicação 12/09/2001Ementa PROCESSUAL
PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. MEDIDA
ASSECURATÓRIA. SEQÜESTRO DE BENS. ART.
125 E SS. DO CPP. INQUÉRITO POLICIAL.
INDÍCIOS DE SEREM OS BENS FRUTO DE
ILÍCITOS PENAIS.

1. A decretação do sequestro de bens é medida


assecuratória prevista em lei que pode ser operada
pelo Juiz em qualquer fase, mesmo antes da ação
penal, quando ainda na fase inquisitorial.

2. Se das investigações da Polícia apurou-se a


existência de fortes indícios de que a impetrante
participa de organização criminosa, especializada em
roubo de cargas e distribuição do produto do roubo
por várias regiões do país, sendo filha do cabeça da
quadrilha, que utiliza suas contas bancárias para
movimentação de dinheiro proveniente do ilícito,
merece ser mantida a decisão que determinou o
sequestro de seus bens.

3. Ordem denegada. Ocorre que muitas vezes o


criminoso tem, na frente da atividade criminosa,
uma atividade lícita que oculta a origem criminosa
do seu patrimônio, dificultando sobremaneira a
demonstração da relação entre o patrimônio e a
atividade ilícita, todavia, a jurisprudência vem,
com acerto, permitindo a desconsideração da
personalidade jurídica nestas hipóteses.

37. Vejamos o seguinte precedente:

Acordão Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO


Classe: ACR- APELAÇÃO CRIMINAL Processo:
200070000272889 UF: PR Órgão Julgador: SÉTIMA
TURMA Data da decisão: 25/09/2001
Documento:TRF400082018 Fonte DJU
DATA:17/10/2001 PÁGINA: 1070 Relator(a)JOSÉ
LUIZ B. GERMANO DA SILVA Decisão unânime.
Data Publicação17/10/2001 Ementa PROCESSO
PENAL. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS.
INDÍCIOS DO CRIME. EMPRESA USADA
COMO MEIO PARA ATOS
ILÍCITOS.DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA.1. As medidas
assecuratórias previstas no CPP têm ensejo quando
houver indícios veementes de atos ilícitos e a
competência para apreciar o cabimento da medida é
do Juízo Criminal.

2. Se a pessoa jurídica serve como instrumento


para a prática de delitos como sonegação fiscal,
entre outros, cabe a desconsideração da
personalidade jurídica e o sequestro de bens, a fim
de acautelar o ressarcimento do prejudicado. É
certo que o ônus da prova cabe a quem alega, assim,
quem postula a medida caberá provar a proveniência
ilícita dos bens, já que esse é requisito para concessão
da medida. No entanto, dada a dificuldade na
comprovação da origem ilícita dos bens nos delitos de
"lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores,
entende-se possível a inversão do ônus da prova,
cabendo ao acusado do crime provar que o patrimônio
é lícito (v. g. art. 4º, § 2º da Lei n.º 9.613/98).

38. Neste caso, a possibilidade da inversão do ônus da prova, mesmo


tratando-se de medida que visa garantir os efeitos de uma eventual e futura condenação
criminal, dá-se porque a constrição é meramente patrimonial, ou seja, incide sobre o
patrimônio e não sobre a liberdade do indivíduo.

39. Por sua vez, o artigo 127 do CPP e o art. 4º. Da lei 9.613/1998 dispõe que
o sequestro pode ser ordenado “antes de oferecida a denúncia ou queixa”, ou, “em
qualquer fase do processo”. Ressalta-se, aqui, que a determinação da medida, antes de
iniciada a ação penal, deve-se ao risco de que durante o inquérito o investigado se
desfaça dos bens produto do crime ou adquiridos com os haveres obtidos por meios
criminosos, tornando difícil ou impossível a reparação do dano.

40. Nessa ótica, é imperiosa que a medida assecuratória de sequestro dos


bens imóveis adquiridos de forma ludibriosa e fraudulenta em nome de (VERIFICAR
NOVA CERTIDÃO DE ÔNUS DOS IMÓVEIS), bem como de valores em contas
bancárias, como medida para evitar a ocultação/dissimulação destes, visando eventual
reparação dos danos causados, em desfavor dos Acusados seja requerida e
posteriormente deferida, em razão do iminente risco de frustração a qualquer forma de
reparação do dano causado na empreitada delituosa, nos termos do art. 125, 126 e 127
do Código de Processo Penal.

III.II - ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA – ART. 288 DO CP

41. No caso em tela, os integrantes dessa suposta ASSOCIAÇÃO


CRIMINOSA realizam operações de “lavagem” de dinheiro através de empresa laranja
de CNPJ Nº 27.412.732/0001-45, de nome empresarial M L J M COBRANCAS
EXTRAJUDICIAIS LTDA, em nome de MARIA LIBIA JUCA MAFRA,
funcionária dos Acusados, sendo esta empresa, um dos destinos do recurso obtido de
maneira ilícita e operações e transações de valores provenientes do golpe de estelionato.
Somente com o bloqueio das contas bancárias dos envolvidos e com o sequestro dos
bens será possível a restituição ao erário público e as vítimas dos valores ilícitos
transacionados pelos criminosos.

42. Vale ressaltar, que todas essas afirmações se substanciam com os


comprovantes de transferências bancárias realizadas para a empresa supracitada,
conforme anexado.

43. Dessa forma, predispõe o Artigo 288 do Código Penal:

Associação Criminosa

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,


para o fim específico de cometer crimes:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

44. Não nos olvidemos de que os indiciados, ao longo dos últimos anos, em
conjunto com outros membros da Associação Criminosa, sobretudo “testas-de-ferro” e
operadores financeiros, transacionaram valores ilícitos na ordem altíssimos valores em
reais.
45. Dessa forma, em razão dos indícios ora apresentados, é que seja apurado
a prática do crime de associação criminosa, diante dos requisitos preenchidos no artigo
288 do Código Penal.

III.III – DA LAVAGEM DE CAPITAIS – LEI Nº 9.613/98

46. Ainda, pode-se verificar que os recursos obtidos de maneira ilícita


(alugues dos imóveis que os Acusados recebem mensalmente, valores decorridos da
negociação fraudulenta) podem ser empregados nas empresas que os Acusados
possuem, no ramo de factoring, bem como em outros patrimônios, de maneira que se
busque aplicar o recurso obtido de maneira ilícita, em algo visivelmente lícito.

47. Assim, dispõe a Lei nº 9.613/98:

Art. 1º - Ocultar ou dissimular a natureza, origem,


localização, disposição, movimentação ou propriedade
de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal.

§ 1º- Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou


dissimular a utilização de bens, direitos ou valores
provenientes de infração penal:

I - os converte em ativos lícitos;


II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em
garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou
transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não
correspondentes aos verdadeiros.

§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:

I - utiliza, na atividade econômica ou financeira,


bens, direitos ou valores provenientes de infração
penal;
48. Desse modo, é imperioso que se abra procedimento investigativo para
apurar as condutas tipificadas e narradas nessa Representação Criminal, para fins de
investigação para eventual persecução penal.

IV – DOS REQUERIMENTOS

Diante de todo o exposto, o OFENDIDO VEM REPRESENTAR COM BASE


NO ARTIGO 171, §5º, DO CÓDIGO PENAL, requerendo os seguintes termos:

a) A INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL pela autoridade


policial para que seja apurado os crimes previstos no Art. 171, 147 e 288, todos do
Código Penal, Art. 1º em diante, da Lei nº 9.613/98, Art. 21 da Lei nº 3.688/41 (vias de
fato);

b) A produção de todas as provas em direito admitidas;

c) Doravante, por força dos elementos de convicção arrecadados e com


fulcro nos art. 126, 127, 128,132 e 144-A do Código de Processo Penal c/c art. 91, §2º,
do CPB, e 144, §4º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Que
esse douto Delegado de Polícia represente pelo Bloqueio de todas as contas bancárias e
demais investimentos através do Sistema BACENJUD, existentes em quaisquer
instituições financeiras em nome dos investigados;

d) Que esse douto Delegado de Polícia represente por busca e apreensão,


com SEQUESTRO DOS BENS APREENDIDOS na posse dos representados, no
interesse de salvaguardar os valores provenientes de ilícitos cometidos pelos
Representados e objeto de lavagem de dinheiro:

e) E, por fim, digne-se a autoridade policial, determinar pelo


INDICIAMENTO DOS REPRESENTADOS, a fim de que sejam aplicadas ao
representado, as penas cominadas nos Art. 1º da Lei 9.613/98 (Lavagem de dinheiro),
Art. 171 (Estelionato), Art. 288 (Associação criminosa). Art. 147 (ameaça), todos do
Código Penal e Art. 21 da Lei nº 3.688/41 (vias de fato), da Lei de Contravenções
Penais.

Termos em que,

Pede deferimento.
Maceió/AL, 16 de junho de 2023.

DOUGLAS BASTOS RODRIGO MONTEIRO THYAGO SAMPAIO


OAB/AL 8.012 OAB/AL 9.580 OAB/AL 7.488

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