Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caporossi C et al.
1. Doutorado em Medicina (Cirurgia do Aparelho Digestivo) pela Universidade de São Paulo; Professor Associado 4 da Universidade Federal de
Mato Grosso; Orientador da Pós-graduação Universidade Federal de Mato Grosso; Universidade Federal de Mato Grosso, Departamento de
Cirurgia, Cuiabá, MT, Brasil.
2. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Atenção Hospitalar; Enfermeira da Unidade de Bloco Cirúrgico, RPA e
CME; Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM), Cuiabá, MT, Brasil.
3. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo; Professora assistente 2 da Universidade Federal de Mato Grosso; Orientadora da
Pós-graduação Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil.
4. Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso; Fisioterapeuta do Hospital Universitário
Júlio Muller (HUJM), Cuiabá, MT, Brasil.
Entretanto, quando da avaliação da dinamometria do ± 8,75 kg e, após suplementação, média de 71,32 ± 8,72
quadríceps, os valores iniciais demonstram diferenças entre os kg. O valor de p=0,043 (grupo x tempo).
grupos (15,91 ± 4,93 kgf vs. 23,60 ± 8,01 kgf, p=0,024). O IMC foi similar nos grupos. O GM apresentou no início
A Tabela 2 revela valores das médias pré e pós-suple- média de 29,17 ± 6,50 kg/m² e, após a suplementação, de
mentação, segundo os grupos, e o valor de p, conforme o 29,37 ± 6,26 kg/m². No GG, pré-suplementação, o grupo
efeito em que foi analisado: tempo, grupo e grupo x tempo apresentou média de 25,11 ± 4,21 kg/m², após, média de
(interação). 25,45 ± 4,17 kg/m² (p=0,712).
Os pesos no momento pré-suplementação foram seme Os resultados foram semelhantes quanto à quantidade
lhantes entre os grupos, porém houve diferença após a de gordura. O GM apresentou média pré-suplementação de
suplementação na interação dos grupos. A média de peso 26,11 ± 12,74 kg e, após suplementação, de 22,6 ±13,33
do GM foi de 76,33 ± 15,11 kg e, após a suplementação, kg. O GG inicialmente apresentou média de 19,55 ±10,35
de 77,08 ± 14,37 kg. No GG, a média inicial foi de 71,63 kg e, após suplementação, de 19,76 ± 9,76 kg (p=0,103).
BRASPEN J 2020; 35 (1): 42-8
44
Ação da L-glutamina na estrutura e função muscular de pacientes com HIV/AIDS em uso de terapia antirretroviral
Quanto à quantidade da massa muscular nos grupos, o GM dificultado, visto que os estudos da L-glutamina em pacientes
pré-suplementação apresentou média de 43,74 ± 16,16 HIV/AIDS são escassos. Somado a isto, há muita variação
kg e após, média de 51,7 ± 10,98 kg. No GG, a média nos tipos de suplementos associados, no perfil dos pacientes
pré-suplementação foi de 38,4 ± 13,86 kg e após, 38,67 e nas variadas drogas utilizadas como antirretroviral.
± 14,86 kg (p=0,085). O IMC está fortemente associado à incidência de mortali-
Quanto à força do bíceps, houve diferença significativa dade desses pacientes10, por isso, para melhor compreensão
nos grupos após a suplementação. No GM, a média de força acerca das alterações corporais provocadas pelo HIV,
do bíceps foi de 12,31 ± 4,85 kgf pré suplementação, e de somado aos efeitos colaterais da TARV, realizamos a análise
10,23 ± 4,21 kgf após. Já o GG apresentou antes do suple- da composição corporal para obter maiores detalhes dessas
mento média de 15,48 ± 5,92 kgf e, após suplementação, alterações.
17,79 ± 8,87 kgf. O valor de p=0,006 (grupo x tempo).
Nos anos iniciais da epidemia da AIDS, havia o estigma
Quanto à dinamometria do quadríceps, o GM apresentou da perda de peso significativa nos indivíduos infectados.
média de força pré-suplementação de 15,91 ± 4,93 kgf, e Atualmente, o cenário mudou e, assim como no nosso estudo,
após, 20,47 ± 6,81 kgf. O GG, inicialmente, teve média de outros relatos demonstram que o peso encontrado é normal
23,6 ± 8,01 kgf e, após suplementação, de 24,57 ± 9,42 ou até mesmo sobrepeso2,11,12.
kgf. Não houve diferença significativa na interação entre eles
Clark et al.13, com grupos suplementados com maltodex-
(p=0,167 - grupo x tempo), mas no efeito isolado do tempo
trina e L-glutamina, descreveram ganho de peso corporal em
houve diferença, demonstrando aumento da média de força
ambos os grupos. Entretanto, nossa pesquisa relevou que o
do músculo quadríceps no tempo, independente do grupo,
ganho de peso foi identificado somente no GM, enquanto, no
todos tiveram aumento (p=0,040 - tempo).
GG, foi observada perda (p=0,043). Deve ser considerado
o fato que, no estudo citado, a L-glutamina estava associada
DISCUSSÃO à arginina e ao hidroximetilbutirato, além do tempo maior
A ação da L-glutamina na musculatura esquelética em de suplementação13.
soropositivos durante TARV foi avaliada no estudo, demons Estudo realizado em um grupo de homens jovens hígidos
trando aumento da força muscular do bíceps. A compa- suplementados antes e após exercício excêntrico demonstrou
ração dos nossos resultados com o de outros autores fica que a suplementação oral aguda também associada de
BRASPEN J 2020; 35 (1): 42-8
46
Ação da L-glutamina na estrutura e função muscular de pacientes com HIV/AIDS em uso de terapia antirretroviral
leucina e leucina + glutamina aumentou a taxa de recupe- Na presente pesquisa, o efeito da suplementação com
ração na força isométrica, altura do salto contra-movimento, L-glutamina na força do músculo bíceps foi diferente do
dor muscular de início tardio e creatina quinase comparado músculo quadríceps. Esta diferença poderia ser justificada
ao placebo14. Alterações na composição corporal de soro- considerando que, o bíceps é um músculo com predomínio
positivos podem ou não alterar o IMC, mesmo considerando de fibras musculares do tipo I, oxidativas (40%), que podem
ganho ou perda de peso corporal15. Assim como no IMC, apresentar três vezes mais estoque de glutamina quando
nas variáveis quantidade de gordura e de massa muscular, comparadas às fibras do tipo II, glicolíticas24,25. Assim, a
não ocorreram diferenças entre os grupos suplementados. suplementação com a glutamina determina melhor desem-
Considerando que a função muscular pode sofrer altera penho de força nesse grupo muscular quando avaliado
ções com o estado nutricional, a dinamometria mensura a comparativamente ao quadríceps.
força do músculo esquelético, e pode demonstrar modifica- Considerando, também, que estudos que avaliaram
ções funcionais antes de surgirem diferenças morfológicas quantidades de massa e de força muscular, relatam que a
clinicamente detectáveis16. Pode ser utilizada como referência musculatura esquelética se comporta de maneiras variáveis,
para avaliar o risco de mortalidade2. conforme o diagnóstico da doença e a atividade de vida
A força do músculo bíceps apresentou aumento significa- diária do paciente26-28. Para Ruiter et al.27, em algumas
tivo no GG (p<0,006). Waddell et al.17 avaliaram o efeito situações, a função muscular pode ser afetada de diferentes
da glutamina na força de contração muscular esquelética formas, comprometendo mais os membros superiores ou
de rato, e observaram ganho de massa muscular e da força inferiores, com intensidade também variável.
de contração. Rahmani-Nia et al.18, em estudo realizado O comprometimento nutricional desses pacientes tem sido
em humanos, concluíram que resultados favoráveis ao estudado atualmente como um determinante no aumento
aumento da força podem estar relacionados à otimização da da suscetibilidade de infecções oportunistas. Na medida
síntese proteica devido à oferta da L-glutamina. Freitas19, em em que aumenta a expectativa de vida, nos deparamos com
pesquisa com voluntários não soropositivos, após administrar a instalação de outras enfermidades que, a longo prazo,
L-glutamina, concluiu que a suplementação resultou em causam impacto na qualidade de vida destes pacientes. É
evidente aumento de força muscular no membro superior. importante que os profissionais de saúde que cuidam de
Holecek20, ofertando L-glutamina, concluiu que a sua suple- indivíduos infectados pelo HIV compreendam a relação entre
mentação é fundamental para a manutenção do seu nível em a nutrição, a infecção pelo HIV e a musculatura esquelética.
estados de catabolismo, além de atuar como precursor para As limitações do nosso estudo, como o tamanho da
síntese de proteínas musculares, glucose e ácidos nucleicos. amostra, seleção de pacientes sem risco nutricional, o tempo
Quanto ao músculo quadríceps, inicialmente, o GG de suplementação da L-glutamina e a dose ofertada, sugerem
apresentou médias de força superiores comparado ao GM, a necessidade de realização de novas pesquisas acerca do
após o experimento, a análise de covariância demonstrou assunto. Estudos recentes com associações de aminoácidos
diferença significativa apenas no efeito isolado do tempo, e têm mostrado resultados satisfatórios, porém, em virtude da
não na interação entre os grupos (grupo x tempo), ou seja, fusão de compostos, ficamos limitados em discutir o efeito
não houve diferença significativa, como também foi relatado isolado da glutamina na resposta muscular dos indivíduos.
por Rahmani-Nia et al.21, em indivíduos não infectados pelo
HIV, ao comparar grupos após suplementação com malto-
CONCLUSÃO
dextrina e gln.
Em contrapartida, estudo realizado, utilizando suplemen- A suplementação da L-glutamina, por 7 dias, via oral,
tação de L-glutamina + maltodextrina e esta separadamente aumentou a força muscular do bíceps de pacientes com
como placebo, com indivíduos saudáveis para examinar a HIV/AIDS.
força muscular do quadríceps e classificação da dor pós exer-
cício, resultou em maior pico de torque e menores taxas de dor REFERÊNCIAS
pós exercício com a L-glutamina, especialmente em homens22. 1. Srinivasa S, Grinspoon SK. Metabolic and body composition
Ensaio clínico randomizado em recrutamento no Japão effects of newer antiretrovirals in HIV-infected patients. Eur J
Endocrinol. 2014;170(5):R185-202.
com pacientes de idade maior ou igual a 65 anos em pré- 2. Newman AB, Kupelian V, Visser M, Simonsick EM, Goodpaster
operatório de cirurgia cardíaca mostrará se a pré-suple- BH, Krirchevsky SB, et al. Strength, but not muscle mass, is asso-
mentação associada de leucina, glutamina e arginina irá ciated with mortality in the health, aging and body composition
apresentar resultados satisfatórios quanto à força muscular e study cohort. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2006;61(1):72-7.
3. Metter EJ, Talbot LA, Schrager M, Conwit R. Skeletal muscle
composição corporal, dentre outros desfechos relacionados strength as a predictor of all-cause mortality in healthy men. J
à suplementação23. Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2002;57(10):B359-65.
4. Rantanem T, Harris T, Leveille SG, Visser M, Foley D, Masaki life in persons with HIV. J Acquir Immune Defic Syndr.
K, et al. Muscle strength and body mass index as long-term 2000;24(2):137-46.
predictors of mortality in initially healthy men. J Gerontol A 17. Waddell D, Fredricks K. Effects of a glutamine supplement on
Biol Sci Med Sci. 2000;55(3):M168-73. the skeletal muscle contractile force of mice. Am J Undergra-
5. Frontera WR, Meredith CN, O’Reilly KP, Knuttgen HG, Evans WJ. duate Research. 2005;4(2):11-8.
Strength conditioning in older men: skeletal muscle hypertrophy 18. Rahmani-Nia F, Farzaneh E, Damirchi A, Majlan AS, Tadibi V.
and improved function. J Appl Physiol. 1988;64(3):1038-44. Surface electromyography assessments of the vastus medialis
6. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Associação and rectus femoris muscles and creatine kinase after eccen-
Brasileira de Nutrologia. Projeto diretrizes. Terapia nutricional tric contraction following glutamine supplementation. Asian J
na síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS). São Sports Med. 2014;5(1):54-62.
Paulo: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de 19. Freitas AMP. Efeito da suplementação com glutamina sobre
Medicina; 2011. p.1-12. a inflamação sistêmica e a composição corporal de idosos
7. Savy GK. Glutamine supplementation: heal the gut, help the [Dissertação de mestrado]. São Paulo: Universidade de São
patient. J Infus Nurs. 2002;25(1):65-9. Paulo; Mestrado em Interunidades Nutrição Humana Aplicada
8. Oliveira GP, Dias CM, Pelosi P, Rocco PR. Understanding the – PRONUT; 2014. 148p.
mechanisms of glutamine action in critically ill patients. An 20. Holecek M. Side effects of long-term glutamine supplementation.
Acad Bras Ciênc. 2010;82(2):417-30. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2013;37(5):607-16.
9. Cruzat V, Rogero MM, Keane KN, Curi R, Newsholme P. Gluta- 21. Rahmani Nia F, Farzaneh E, Damirchi A, Shamsi Majlan A. Effect
mine: metabolism and immune function, supplementation and of L-glutamine supplementation on electromyographic activity
clinical translation. Nutrients. 2018;10(11). pii: E1564. of the quadriceps muscle injured by eccentric exercise. Iran J
10. Pee S, Semba RD. Role of nutrition in HIV infection: review of Basic Med Sci. 2013;16(6):808-12.
22. Legault Z, Bagnall N, Kimmerly DS. The influence of oral
evidence for more effective programming in resource-limited
L-glutamine supplementation on muscle strength recovery and
settings. Food Nutr Bull. 2010;31(4 suppl):S313-44.
soreness following unilateral knee extension eccentric exercise.
11. Evans D, McNamara L, Maskew M, Selibas K, van Amsterdam
Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2015;25(5):417-26.
D, Baines N, et al. Impact of nutritional supplementation on
23. Ogawa M, Yoshida N, Satomi-Kobayashi S, Tsuboi Y, Komaki
immune response, body mass index and bioelectrical impedance K, Wakida K, et al. Efficacy of preoperative amino acid supple-
in HIV-positive patients starting antiretroviral therapy. Nutr J. ments on postoperative physical function and complications in
2013;12:111. open heart surgery patients: a study protocol for a randomized
12. Shabert JK, Winslow C, Lacey JM, Wilmore DW. Glutamine- controlled trial. J Cardiol. 2019;74(4):360-5.
antioxidant supplementation increases body cell mass in AIDS 24. Eriksson PO. Muscle-fibre composition of the human mandibular
patients with weight loss: a randomized, double-blind controlled locomotor system. Enzyme-histochemical and morphological
trial. Nutrition. 1999;15(11-12):860-4. characteristics of functionally different parts. Swed Dent J
13. Clark RH, Feleke G, Din M, Yasmin T, Singh G, Khan FA, et al. Suppl. 1982;12(Suppl):1-44.
Nutritional treatment for acquired immunodeficiency virus-asso- 25. Cruzat VF, Petry ER, Tirapegui J. Glutamina: aspectos bioquí-
ciated wasting using β-hydroxy β-methylbutyrate, glutamine, micos, metabólicos, moleculares e suplementação. Rev Bras
and arginine: a randomized, double-blind, placebo-controlled Med Esporte. 2009;15(5):392-7.
study. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2000;24(3):133-9. 26. Man WD-C, Soliman MGG, Nikoletou D, Harris ML, Rafferty
14. Waldron M, Ralph C, Jeffries O, Tallent J, Theis N, Patterson SD. GF, Mustfa N, et al. Non-volitional assessment of skeletal muscle
The effects of acute leucine or leucine–glutamine co-ingestion strength in patients with chronic obstructive pulmonary disease.
on recovery from eccentrically biased exercise. Amino Acids. Thorax. 2003;58(8):665-9.
2018;50(7):831-9. 27. Ruiter CJ, Jongen PJ, van der Woude LH, de Haan A. Contractile
15. Denue BA, Ikunaiye PN, Denue CB. Body mass index changes speed and fatigue of adductor pollicis muscle in multiple scle-
during highly active antiretroviral therapy in Nigeria. East rosis. Muscle Nerve. 2001;24(9):1173-80.
Mediterr Health J. 2014;19(suppl. 3):S89-97. 28. Edwards RH, Young A, Hosking GP, Jones DA. Human skeletal
16. Wilson IB, Roubenoff R, Knox TA, Spiegelman, Gorbach muscle function: description of tests and normal values. Clin Sci
SL. Relation of lean body mass to health-related quality of Mol Med. 1977;52(3):283-90.
Local de realização do estudo: Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil.