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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Português
Trabalho de Literatura Portuguesa e Brasileira

Tema: Literatura Camoniana

Nome de Estudante: Estefânia Aquimo Muetetere


Código de Estudante: 96230426
Mandimba, Novembro de 2023
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Ensino de Português
Trabalho de Literatura Portuguesa e Brasileira

Tema: Literatura Camoniana

O presente trabalho é da disciplina


de Literatura Portuguesa e
Brasileira, a ser submetido na
UnISCED, para fins avaliativos
sob orientação de:
Tutor:

Nome de Estudante: Estefânia Aquimo Muetetere


Código de Estudante: 96230426
Mandimba, Novembro de 2023
Indice
Conteúdo Pag.

1. Introdução .................................................................................................................................. 3

1.1. Objectivos: ......................................................................................................................... 3

1.2. Metodologia ....................................................................................................................... 3

2. Desenvolvimento teórico ........................................................................................................... 4

2.1. Diferenciando a poesia clássica da Renascentista .............................................................. 4

2.2. Análise literária de um poema de Camões ......................................................................... 6

2.2.1. Características da corrente renascentista ........................................................................ 8

2.2.2. Influências ...................................................................................................................... 9

2.2.3. Influência da Experiência pessoal (Autobiografia/confessionalismo) ........................... 9

2.2.4. Temáticas ...................................................................................................................... 10

2.2.5. O Amor ......................................................................................................................... 10

2.2.6. A Natureza .................................................................................................................... 11

2.2.7. O Desconcerto do Mundo ............................................................................................. 11

3. Conclusão ................................................................................................................................ 12

4. Referencia Bibliográfica .......................................................................................................... 13


1. Introdução

O presente trabalho é da disciplina de Literatura Portuguesa e Brasileira, trabalho este


que tem como intuito de abordar acerca da Lírica Camoniana. Por tanto A lírica camoniana
reunida sob o título de “Rimas” abrange canções, odes, églogas, elegias, oitavas, sextinas,
redondilhas e sonetos. Além dessa obra, há também uma série de poemas chamados de
“apócrifos”, que, supostamente, seriam de autoria do poeta. No conjunto da obra convivem
aspectos da tradição medieval, traços tipicamente renascentistas - dos quais se recolhem
influências de nomes como Virgílio, Horácio, Ovídio, Tasso, Petrarca e Manrique, entre outros -,
e marcas maneiristas que atestam a consciência do poeta acerca das turbulências sociais, políticas
e económicas que desestabilizavam a visão ordenada do Renascimento. Para a sua materialização
recorremos algumas obras contundentes a literatura Portuguesa e Brasileira, que estão
apresentadas na referência bibliográfica do trabalho. E o trabalho está dividido em títulos e
subtítulos e seguintes objectivos:

1.1. Objectivos:

 Discutir o aporte teórico sobre a época clássica em Portugal, especialmente o período


renascentista; e

 Analisar literária de um poema de Camões.

1.2.Metodologia

Para a elaboração do presente trabalho recorremos a várias obras bibliográficas em busca do


assunto pertinente sobre a Literatura Camoniana.

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2. Desenvolvimento teórico

2.1.Diferenciando a poesia clássica da Renascentista

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.


De acordo com Saraiva e Lopes (s/a), Antes de iniciarmos a análise da maior obra épica em
língua portuguesa, vamos estudar alguns aspectos sobre a teoria do género épico e como ele
chegou até a actualidade. A citação acima contém uma intencionalidade criadora inegável: com
Os Lusíadas, Camões pretendia um valor épico capaz de superar a tradição à qual a própria obra
se vinculava.
Para Saraiva e Lopes (s/a), o Camões, na composição de seu poema, deixou de seguir
integralmente a estrutura épica reconhecida por Aristóteles a partir da observação das obras
gregas Odisséia e Ilíada, de Homero, Os cantos cíprios (aprox. 700 a.C), do poeta Estásino de
Chipre, e Pequena Ilíada (aprox. 660-657 a.C), de Lesqueos de Lesbos, identificadas pelo
estagirita como“epopéias”. Somadas as circunstâncias de ter a Arte poética servido de matriz para
as reflexões dos pensadores romanos, e seus seguidores medievais, acerca da Literatura e, por
outro lado, de as epopéias homéricas terem servido de modelo para produções épicas romanas e
medievais posteriores, ficou a formulação teórico-crítica de Aristóteles consagrada como teoria e
a obra homérica igualmente consagrada como modelo de realização épica de valor. Para
Aristóteles, sustenta que:

O que faz a epopéia destacar-se como um “gênero” é, em primeiro


lugar, o fato de esta utilizar como “meio de imitação” unicamente a
“palavra simples e nua dos versos, quer mesclando diferentes
metros, quer atendo-se a um só tipo” (p. 239). No entanto, em
relação à metrificação, o próprio Aristóteles completa a frase com
“como o tem feito até ao presente”, o que deixa em aberto a
possibilidade de evoluções posteriores. (Saraiva & Lopes (s/a).

Ainda sustenta o autor que, Outras características da epopéia são: em relação ao objecto imitado,
“pintar o homem melhor do que é” (p. 242); e, em relação à maneira de imitar, utilizar-se de um
terceiro (alusão à terceira pessoa) para a apresentação do objecto imitado. À epopeia, comparada à
tragédia, é atribuída a função semelhante de cantar “assuntos sérios”, mas, em contrapartida, não
ter “limites de duração”, tal qual o tinha a tragédia, e “não empregar um só metro simples e a
forma narrativa” (p. 246).

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Sobre a selecção dos caracteres ou personagens, Aristóteles destaca que esta deve partir de quatro
considerações: a primeira, de que os personagens devem ter bom carácter, daí, segundo o
estagirita, abrirem-se as opções de escolha à inclusão de mulheres e escravos ¾ “Esta bondade é
possível em cada classe de pessoas, pois a mulher, do mesmo modo que o escravo, pode possuir
esta boa qualidade, embora a mulher seja um ente relativamente inferior e o escravo um ente
totalmente vil” (p. 263); a segunda, de que deve haver conformidade entre sua caracterização e a
realidade, por isso, Aristóteles afirma que “sem dúvida existem caracteres viris, mas a coragem
desta espécie não convém à natureza feminina”; a terceira, de que deve haver semelhança entre os
caracteres e a realidade; e, por fim, a quarta, que alude à coerência interna dos personagens, ou
seja, se estes/estas são “incoerentes” por natureza, que assim o sejam do início ao fim e vice-
versa.

Como a epopéia pinta “o homem melhor do que é”, a criação da obra deve revestir as atitudes
“iradas” dos caracteres em acções justificadas para que estes não pareçam “piores do que os
homens são”.

Aristóteles indica, a partir da análise de Odisséia, a existência, na epopéia, de um assunto básico


em torno do qual são elaborados os episódios que lhe darão preenchimento. No entanto, conforme
XXV, esse “preenchimento” deve partir da visão de que o “impossível verosímil” é preferível ao
“verdadeiro inverosímil”.

Conforme Silva (2007), Os capítulos que tratam especificamente da epoesia delimitam-lhe


particularidades tais como: a unidade de acção é derivada de um “recorte” da acção maior à qual
se refere; o reconhecimento, as peripécias e os acontecimentos patéticos (p. 255)1 integram-lhe a
estrutura; obedece à estrutura narrativa “princípio, meio e fim”; e, por fim, o metro heróico é-lhe o
mais “conveniente” por sua gravidade e amplitude.

São estas, portanto, as reflexões aristotélicas que, analisadas e reelaboradas, fizeram da epopéia
um gênero literário específico. Todavia, ainda que o próprio Aristóteles tenha definido a tragédia
como um género superior à epopéia por sua riqueza estrutural (já que se utiliza de outros meios de
imitar, como o coro, a encenação, etc.), síntese e efeito no público, há que se ressaltar o papel
literário-cultural que, intrinsecamente, parece ter ficado designado à natureza da epopéia:
representar, por meio de extenso texto lírico-narrativo, a história e os mitos das nações.

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Segundo Silva (2007), em estudos iniciados nos anos 70 e recentemente reestruturados, fixou
como especificidade estrutural de um poema épico a dupla instância de enunciação ¾ narrativa e
lírica, sem importar qual das duas seja predominante ¾ e a existência de uma matéria épica,
inerente à epopéia, na qual os planos histórico e maravilhoso, integrados através da ação heróica,
representam, respectivamente, as dimensões real e mítica (e sua fusão) inerentes à experiência
humanoexistencial que motiva a criação poemática.

A forma como as instâncias lírica e narrativa incidirão para a elaboração do texto épico e o modo
como a matéria épica será apresentada variarão sempre em função da concepção literária à qual
determinado poema se prende. Ou seja, de forma bem simples, a partir dessa proposta, identifica-
se como épico ou epopéia todo poema que desenvolva uma matéria épica por meio da dupla
instância de enunciação lírica e narrativa.

Continuando sua pesquisa e utilizando como material de trabalho poemas da épica ocidental,
Silva identificou quatro modelos épicos principais:

o modelo clássico, o renascentista, o moderno e o pós-moderno. A definição desses modelos teve


por objetivo elucidar as transformações do gêneron através dos tempos, destacando, por exemplo,
como a inalterabilidade de ânimo, reconhecida tanto por Aristóteles como por Staiger, pôde ser
substituída pela participação do narrador no mundo narrado, dada, entre outros, a introdução dos
episódios líricos na elaboração épica.

Segundo Silva, por seu caráter híbrido, a epopéia apresenta os elementos do discurso narrativo
(personagens, espaço e acontecimento), entre eles, principalmente, o narrador. Entretanto, por se
estruturar formalmente como poema, dependendo, para isso, de uma consciência lírica, ou eu
lírico, o poema épico acaba por possuir uma identidade dupla, ou uma dupla instância de
enunciação: é narrativo e lírico, simultaneamente.

Sobre essa dupla identidade, o que Anazildo Silva constatou foi uma linha evolutiva no processo
de criação do poema épico, que conduzia o mesmo de uma configuração essencialmente narrativa
para uma configuração essencialmente lírica. O mais importante, porém, é que essa dupla
enunciação não se finda, por ser inerente à elaboração discursiva épica.

2.2.Análise literária de um poema de Camões

Contextualização:
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Na lírica camoniana coexiste a poética tradicional e o estilo renascentista, são as características da
corrente tradicional:

 As formas poéticas tradicionais: cantigas, vilancetes, esparsas, endechas, trovas...

 Uso da medida velha: redondilha menor e maior.

 Temas tradicionais e populares: a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos;
o amor simples e natural; a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; o ambiente cortesão
com as suas “cousas de folgar” e as futilidades; a exaltação da beleza de uma mulher de
condição servil, de olhos pretos e tez morena (a “Barbara, escrava”); a infelicidade
presente e a felicidade passada.

Por “lirismo tradicional”, Moisés entende a poesia camoniana que dialoga com a tradição popular
medieval portuguesa. Assim, identifica nas redondilhas esse tipo de poesia e destaca a ternura, a
simplicidade e o lirismo quotidiano. Vale lembrar a tradição trovadoresca ressaltava, entre outras,
temáticas amorosas impregnadas do código da cavalaria (amor cortês), imagem idealizada da
mulher, diálogo com a natureza e certa dramaticidade.
Voltas a mote alheio
Verdes são as hortas
Com rosas e flores;
Moças que as regam
Matam-me d‟amores.

Entre estes penedos


Que daqui parecem,
Verdes ervas crê[s]cem,
Altos arvoredos.

Vai destes rochedos


Água com que as flores
Doutras são regadas
Que matam d‟amores.

Coa água que cai


Daquela espessura,
Outra se mistura
Que dos olhos sai:
Toda junta vai
Regar brancas flores,
Onde há outros olhos
Que matam de amores.
Celestes jardins,
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As flores, estrelas,
Horteloas delas
São uns serafins.

Rosas e jasmins
De diversas cores;
Anjos que as regam
Matam-me d‟amores.

É fácil observar nesse poema, que são redondilhas menores, os recursos das cantigas de amor
medievais, em que uma voz masculina canta seu sentimento amoroso, fornecendo detalhes a partir
de comparações com elementos da natureza. As mulheres, retratadas como “flores” são
inacessíveis e daí se origina o drama lírico. Camões soube, com delicadeza, captar imagens da
tradição medieval, despi-las da dramaticidade exagerada e compor um cenário bucólico, em que o
diálogo com a natureza, mais que uma forma de lamento, é um modo estético de desenhar o
lirismo amoroso.
O jogo constante entre a experiência amorosa subjectiva – marcada pelo desencontro, pela
indiferença e pela beleza irresistível da mulher amada - e exemplos extraídos da tradição mítico
histórica ocidental atenua o aspecto dramático, no que se refere a um teor confessional explícito, e
dá relevo ao trabalho poético criativo, remetendo a “dor amorosa” a um plano mais amplo que o
da experiência real.
Por “lirismo clássico”, Moisés compreende determinados sonetos, odes, elegias e canções
camonianas em que se percebe uma postura racionalista, que busca, através de procedimentos
líricos carregados do espírito analítico renascentista, explicações para questões como o “eu, a
“Pátria”, a “mulher, a „vida”, “Deus”, etc. Nesses poemas, a experiência individual é substituída
por uma voz de valor universal, ou seja, que constrói um “Eu” que representa questionamentos
colectivos.

2.2.1. Características da corrente renascentista

 O estilo novo: soneto, canção, écloga, ode, entre outros.

 Medida nova: decassílabos.

 O amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, entre a vida e a morte,
a água e o fogo, a esperança e o desengano;

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 A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com
a temática amorosa e com o tratamento dado à Natureza (“locus amenus”), oscila
igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior),
representado pelo modelo de Laura e o modelo renascentista de Vénus.

2.2.2. Influências

Influência da Tradição Lírica (Lírica trovadoresca /Poesia palaciana dos Cancioneiros, reunida
por Garcia de Resende) Assim, e por influência tradicional, fez uso da medida velha e cultivou o
verso de cinco sílabas métricas (redondilha menor) e de sete sílabas métricas (redondilha maior),
escrevendo vilancetes, cantigas, esparsas, endechas ou trovas . As temáticas tradicionais e
populares usadas por Camões são geralmente mais ingénuas e graciosas e versam, sobretudo, o
amor, natureza, o ambiente palaciano e a saudade.

Influência Renascentista - Medida Nova – soneto

Da influência clássica Renascentista, Camões cultivou a medida nova fazendo uso do verso
decassílabo, através da composição poética, o soneto (composto por duas quadras e dois tercetos)
introduzido em Portugal a partir do séc. XVI, por Sá de Miranda, em composições de assunto
mais elevado do que as redondilhas. Nas temáticas de influência Renascentista cultivou o amor
platónico (amor ideal e inacessível), a saudade, o destino, a beleza suprema, a mulher vista à luz
do Petrarquismo e do Destino (retrato idealizado da amada, cuja beleza física e qualidades morais
e psicológicas resultam num quadro perfeito, quase celestial), a mudança, a brevidade da vida e o
desconcerto do mundo.

2.2.3. Influência da Experiência pessoal (Autobiografia/confessionalismo)

Camões enriquece a sua lírica com a sua experiência pessoal: o exílio (“Cá nesta Babilónia, donde
mana”), os erros, a má fortuna (Destino) e o amor que lhe causa sofrimento (“Erros meus, má
fortuna, amor ardente” / a predestinação quase maldita e apocalíptica (“O dia em eu que nasci,
moura e pereça”) / a falta de reconhecimento.

Em Camões coexistiu a poesia com sabor tradicional, com uma poesia cujos modelos formais e
temáticos revelam a cultura humanística e clássica do poeta. A estas influências juntou-se ainda a
sua própria experiência de vida.

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2.2.4. Temáticas

A Mulher Amada:

A mulher pode ser descrita como:


a) Uma jovem donzela graciosa, em quase tudo semelhante ao sujeito poético das cantigas de
amigo (influência tradicional
b) Uma mulher cuja idealização e exaltação da beleza denuncia a clara influência
petrarquista.
c) A mulher é o reflexo da beleza divina, é a ponte para a perfeição do amador. Por isso, não
é retratada com traços físicos precisos – a sua beleza reside sobretudo no olhar, na postura
“humilde” e na bondade. O seu retrato é, sobretudo, psicológico e moral. Ela é a perfeição
e a pureza. O sujeito poético regista mais a impressão que a sua beleza causa do que a
beleza em si.
Esta é a causa frequente do fascínio do sujeito lírico e da sua elevação a um estado espiritual
superior, mas também causa de dor e de sofrimento, sobretudo quando a imagem feminina não se
adequa às necessidades físicas e reais do sujeito poético.

2.2.5. O Amor

O Amor é um sentimento contraditório (“contrário a si mesmo”); algo indefinido e capaz de


provocar efeitos contraditórios no sujeito poético. Fonte de desconcerto emocional (“Tanto do
meu estado me acho incerto”) é ao mesmo tempo:

a) Sentimento essencial para a elevação do sujeito poético (“Transforma se o amador na


cousa amada”) – Dimensão eufórica;
b) Causa de uma dor constante (Dimensão disfórica), sobretudo:
Quando o simples amor espiritual não consegue satisfazer o poeta que busca algo mais físico
(“Como matéria simples busca a forma”), quando a sua amada está ausente e as saudades
aumentam ao ponto de transformar a própria visão que outrora tinha da natureza e da sua beleza
(Ah!, minha Dinamene! Assi deixaste” / “A fermosura desta serra fresca…/ Sem ti, tudo enoja e
me avorrece” / “Alma minha gentil que te partiste”), quando tem de se separar dela (“Aquela triste
leda madrugada”) quando os olhos claros da amada o tomam descuidado, tal como se fosse um
passarinho (Está o lascivo e doce passarinho”), quando amada é indiferente ao seu sofrimento.

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2.2.6. A Natureza

Associada à temática da mulher amada e do amor, surge também a própria Natureza. A natureza
aparece-nos na lírica camoniana como:
a) Uma natureza alegre, serena, luminosa, perfumada, em que avultam o verde, o cristal das
águas límpidas, os frutos saborosos e as flores - onde se vivem sentimentos amorosos -;
b) Como uma natureza indiferente á tristeza e às saudades do sujeito poético;
c) Como testemunha da separação dos amantes;
d) Como cenário que se transforma diante da triste saudade do sujeito poético e que lhe
provoca mesmo aborrecimento e lhe intensifica a dor da saudade.

2.2.7. O Desconcerto do Mundo

Hauser (2000), Refere que:

“Experiência amorosa e experiência de vida colocam Camões perante uma constatação: a de que o
mundo, a realidade, é absurda e domínio do desconcerto, em que premeiam os maus e castigam os
bons. Esta constatação deixou marcas na lírica camoniana, em poemas de revolta, queixa,
desengano, perplexidade angustiada.
Ingratidão, abuso do poder, perseguições são manifestações de um Destino humano e pessoal que
o poeta sente como inexoravelmente hostil. Reflectindo sobre a sua experiência, o poeta conclui
que sempre às maiores expectativas sucederam os maiores desenganos, que, para ele, vítima da
Fortuna, a felicidade sempre foi uma ilusão e sempre o bem foi passado e o mal presente.
A Mudança, que é condição de tudo, e que poderia ser uma forma de renovação tal como o é na
natureza, no poeta faz-se sempre para pior.
Dai a sua dúvida, a sua perplexidade, o seu não entender, a sua raiva, a revolta impotente –
reflectidos em desabafos autobiográficos, em sonetos e canções.”
Amélia Pinto Pais, Eu cantarei de amor – Lírica de Luís de Camões, Areal Editores. Conclusão: A
lírica camoniana autobiográfica “(…) Exceptuando algumas redondilhas ou um ou outro raro
soneto de teor exclusivamente lúdico ou circunstancial, pode afirmar-se que a obra de Camões se
centra na evocação de um itinerário pessoal, assinado pelo Engano e pelo Desengano, pela
Carência e pela Culpa, pela amargura do desconcerto e pela aspiração a uma plenitude em que o
Amor ocupa, de facto, um lugar subordinante.” (Hauser, 2000).

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3. Conclusão

De acordo com as leituras feitas e em buscas face ao tema que aborda acerca da lírica
Camoniana., conclui-se que: Uma poesia que foi buscar na tradição medieval inspiração para uma
lírica renovada e revolucionária. Camões constrói uma poesia de reflexão que apresenta alguns
elementos do Maneirismo, pois ele já traduz o pessimismo de uma época cheia de contradições.
Sua produção lírico-amorosa tem belíssimos poemas em que a tradição trovadoresca é explorada a
partir do contexto renascentista.

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4. Referencia Bibliográfica

CAMÕES, Luís de.(1963): Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar.

HAUSER, Arnold. (2000): História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes.

MOISÉS, Massaud. (1962): A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix.

PIRES-DE-MELLO, José Geraldo. (2001): Teoria do ritmo poético. São Paulo: Ed. Riddel;
Brasília: UniCEUB.

SARAIVA, Antônio José; LOPES, Óscar. História da literatura portuguesa. 14 ed. Porto: Porto
Editora Lda., s/a

SILVA, Anazildo Vasconcelos da; RAMALHO, Christina. (2007): História da epopéia


brasileira. Vol. 1 Rio de Janeiro: Garamond.

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