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1. Introdução .................................................................................................................................. 3
3. Conclusão ................................................................................................................................ 12
1.1. Objectivos:
1.2.Metodologia
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2. Desenvolvimento teórico
Ainda sustenta o autor que, Outras características da epopéia são: em relação ao objecto imitado,
“pintar o homem melhor do que é” (p. 242); e, em relação à maneira de imitar, utilizar-se de um
terceiro (alusão à terceira pessoa) para a apresentação do objecto imitado. À epopeia, comparada à
tragédia, é atribuída a função semelhante de cantar “assuntos sérios”, mas, em contrapartida, não
ter “limites de duração”, tal qual o tinha a tragédia, e “não empregar um só metro simples e a
forma narrativa” (p. 246).
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Sobre a selecção dos caracteres ou personagens, Aristóteles destaca que esta deve partir de quatro
considerações: a primeira, de que os personagens devem ter bom carácter, daí, segundo o
estagirita, abrirem-se as opções de escolha à inclusão de mulheres e escravos ¾ “Esta bondade é
possível em cada classe de pessoas, pois a mulher, do mesmo modo que o escravo, pode possuir
esta boa qualidade, embora a mulher seja um ente relativamente inferior e o escravo um ente
totalmente vil” (p. 263); a segunda, de que deve haver conformidade entre sua caracterização e a
realidade, por isso, Aristóteles afirma que “sem dúvida existem caracteres viris, mas a coragem
desta espécie não convém à natureza feminina”; a terceira, de que deve haver semelhança entre os
caracteres e a realidade; e, por fim, a quarta, que alude à coerência interna dos personagens, ou
seja, se estes/estas são “incoerentes” por natureza, que assim o sejam do início ao fim e vice-
versa.
Como a epopéia pinta “o homem melhor do que é”, a criação da obra deve revestir as atitudes
“iradas” dos caracteres em acções justificadas para que estes não pareçam “piores do que os
homens são”.
São estas, portanto, as reflexões aristotélicas que, analisadas e reelaboradas, fizeram da epopéia
um gênero literário específico. Todavia, ainda que o próprio Aristóteles tenha definido a tragédia
como um género superior à epopéia por sua riqueza estrutural (já que se utiliza de outros meios de
imitar, como o coro, a encenação, etc.), síntese e efeito no público, há que se ressaltar o papel
literário-cultural que, intrinsecamente, parece ter ficado designado à natureza da epopéia:
representar, por meio de extenso texto lírico-narrativo, a história e os mitos das nações.
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Segundo Silva (2007), em estudos iniciados nos anos 70 e recentemente reestruturados, fixou
como especificidade estrutural de um poema épico a dupla instância de enunciação ¾ narrativa e
lírica, sem importar qual das duas seja predominante ¾ e a existência de uma matéria épica,
inerente à epopéia, na qual os planos histórico e maravilhoso, integrados através da ação heróica,
representam, respectivamente, as dimensões real e mítica (e sua fusão) inerentes à experiência
humanoexistencial que motiva a criação poemática.
A forma como as instâncias lírica e narrativa incidirão para a elaboração do texto épico e o modo
como a matéria épica será apresentada variarão sempre em função da concepção literária à qual
determinado poema se prende. Ou seja, de forma bem simples, a partir dessa proposta, identifica-
se como épico ou epopéia todo poema que desenvolva uma matéria épica por meio da dupla
instância de enunciação lírica e narrativa.
Continuando sua pesquisa e utilizando como material de trabalho poemas da épica ocidental,
Silva identificou quatro modelos épicos principais:
Segundo Silva, por seu caráter híbrido, a epopéia apresenta os elementos do discurso narrativo
(personagens, espaço e acontecimento), entre eles, principalmente, o narrador. Entretanto, por se
estruturar formalmente como poema, dependendo, para isso, de uma consciência lírica, ou eu
lírico, o poema épico acaba por possuir uma identidade dupla, ou uma dupla instância de
enunciação: é narrativo e lírico, simultaneamente.
Sobre essa dupla identidade, o que Anazildo Silva constatou foi uma linha evolutiva no processo
de criação do poema épico, que conduzia o mesmo de uma configuração essencialmente narrativa
para uma configuração essencialmente lírica. O mais importante, porém, é que essa dupla
enunciação não se finda, por ser inerente à elaboração discursiva épica.
Contextualização:
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Na lírica camoniana coexiste a poética tradicional e o estilo renascentista, são as características da
corrente tradicional:
Temas tradicionais e populares: a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos;
o amor simples e natural; a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; o ambiente cortesão
com as suas “cousas de folgar” e as futilidades; a exaltação da beleza de uma mulher de
condição servil, de olhos pretos e tez morena (a “Barbara, escrava”); a infelicidade
presente e a felicidade passada.
Por “lirismo tradicional”, Moisés entende a poesia camoniana que dialoga com a tradição popular
medieval portuguesa. Assim, identifica nas redondilhas esse tipo de poesia e destaca a ternura, a
simplicidade e o lirismo quotidiano. Vale lembrar a tradição trovadoresca ressaltava, entre outras,
temáticas amorosas impregnadas do código da cavalaria (amor cortês), imagem idealizada da
mulher, diálogo com a natureza e certa dramaticidade.
Voltas a mote alheio
Verdes são as hortas
Com rosas e flores;
Moças que as regam
Matam-me d‟amores.
Rosas e jasmins
De diversas cores;
Anjos que as regam
Matam-me d‟amores.
É fácil observar nesse poema, que são redondilhas menores, os recursos das cantigas de amor
medievais, em que uma voz masculina canta seu sentimento amoroso, fornecendo detalhes a partir
de comparações com elementos da natureza. As mulheres, retratadas como “flores” são
inacessíveis e daí se origina o drama lírico. Camões soube, com delicadeza, captar imagens da
tradição medieval, despi-las da dramaticidade exagerada e compor um cenário bucólico, em que o
diálogo com a natureza, mais que uma forma de lamento, é um modo estético de desenhar o
lirismo amoroso.
O jogo constante entre a experiência amorosa subjectiva – marcada pelo desencontro, pela
indiferença e pela beleza irresistível da mulher amada - e exemplos extraídos da tradição mítico
histórica ocidental atenua o aspecto dramático, no que se refere a um teor confessional explícito, e
dá relevo ao trabalho poético criativo, remetendo a “dor amorosa” a um plano mais amplo que o
da experiência real.
Por “lirismo clássico”, Moisés compreende determinados sonetos, odes, elegias e canções
camonianas em que se percebe uma postura racionalista, que busca, através de procedimentos
líricos carregados do espírito analítico renascentista, explicações para questões como o “eu, a
“Pátria”, a “mulher, a „vida”, “Deus”, etc. Nesses poemas, a experiência individual é substituída
por uma voz de valor universal, ou seja, que constrói um “Eu” que representa questionamentos
colectivos.
O amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, entre a vida e a morte,
a água e o fogo, a esperança e o desengano;
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A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com
a temática amorosa e com o tratamento dado à Natureza (“locus amenus”), oscila
igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior),
representado pelo modelo de Laura e o modelo renascentista de Vénus.
2.2.2. Influências
Influência da Tradição Lírica (Lírica trovadoresca /Poesia palaciana dos Cancioneiros, reunida
por Garcia de Resende) Assim, e por influência tradicional, fez uso da medida velha e cultivou o
verso de cinco sílabas métricas (redondilha menor) e de sete sílabas métricas (redondilha maior),
escrevendo vilancetes, cantigas, esparsas, endechas ou trovas . As temáticas tradicionais e
populares usadas por Camões são geralmente mais ingénuas e graciosas e versam, sobretudo, o
amor, natureza, o ambiente palaciano e a saudade.
Da influência clássica Renascentista, Camões cultivou a medida nova fazendo uso do verso
decassílabo, através da composição poética, o soneto (composto por duas quadras e dois tercetos)
introduzido em Portugal a partir do séc. XVI, por Sá de Miranda, em composições de assunto
mais elevado do que as redondilhas. Nas temáticas de influência Renascentista cultivou o amor
platónico (amor ideal e inacessível), a saudade, o destino, a beleza suprema, a mulher vista à luz
do Petrarquismo e do Destino (retrato idealizado da amada, cuja beleza física e qualidades morais
e psicológicas resultam num quadro perfeito, quase celestial), a mudança, a brevidade da vida e o
desconcerto do mundo.
Camões enriquece a sua lírica com a sua experiência pessoal: o exílio (“Cá nesta Babilónia, donde
mana”), os erros, a má fortuna (Destino) e o amor que lhe causa sofrimento (“Erros meus, má
fortuna, amor ardente” / a predestinação quase maldita e apocalíptica (“O dia em eu que nasci,
moura e pereça”) / a falta de reconhecimento.
Em Camões coexistiu a poesia com sabor tradicional, com uma poesia cujos modelos formais e
temáticos revelam a cultura humanística e clássica do poeta. A estas influências juntou-se ainda a
sua própria experiência de vida.
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2.2.4. Temáticas
A Mulher Amada:
2.2.5. O Amor
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2.2.6. A Natureza
Associada à temática da mulher amada e do amor, surge também a própria Natureza. A natureza
aparece-nos na lírica camoniana como:
a) Uma natureza alegre, serena, luminosa, perfumada, em que avultam o verde, o cristal das
águas límpidas, os frutos saborosos e as flores - onde se vivem sentimentos amorosos -;
b) Como uma natureza indiferente á tristeza e às saudades do sujeito poético;
c) Como testemunha da separação dos amantes;
d) Como cenário que se transforma diante da triste saudade do sujeito poético e que lhe
provoca mesmo aborrecimento e lhe intensifica a dor da saudade.
“Experiência amorosa e experiência de vida colocam Camões perante uma constatação: a de que o
mundo, a realidade, é absurda e domínio do desconcerto, em que premeiam os maus e castigam os
bons. Esta constatação deixou marcas na lírica camoniana, em poemas de revolta, queixa,
desengano, perplexidade angustiada.
Ingratidão, abuso do poder, perseguições são manifestações de um Destino humano e pessoal que
o poeta sente como inexoravelmente hostil. Reflectindo sobre a sua experiência, o poeta conclui
que sempre às maiores expectativas sucederam os maiores desenganos, que, para ele, vítima da
Fortuna, a felicidade sempre foi uma ilusão e sempre o bem foi passado e o mal presente.
A Mudança, que é condição de tudo, e que poderia ser uma forma de renovação tal como o é na
natureza, no poeta faz-se sempre para pior.
Dai a sua dúvida, a sua perplexidade, o seu não entender, a sua raiva, a revolta impotente –
reflectidos em desabafos autobiográficos, em sonetos e canções.”
Amélia Pinto Pais, Eu cantarei de amor – Lírica de Luís de Camões, Areal Editores. Conclusão: A
lírica camoniana autobiográfica “(…) Exceptuando algumas redondilhas ou um ou outro raro
soneto de teor exclusivamente lúdico ou circunstancial, pode afirmar-se que a obra de Camões se
centra na evocação de um itinerário pessoal, assinado pelo Engano e pelo Desengano, pela
Carência e pela Culpa, pela amargura do desconcerto e pela aspiração a uma plenitude em que o
Amor ocupa, de facto, um lugar subordinante.” (Hauser, 2000).
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3. Conclusão
De acordo com as leituras feitas e em buscas face ao tema que aborda acerca da lírica
Camoniana., conclui-se que: Uma poesia que foi buscar na tradição medieval inspiração para uma
lírica renovada e revolucionária. Camões constrói uma poesia de reflexão que apresenta alguns
elementos do Maneirismo, pois ele já traduz o pessimismo de uma época cheia de contradições.
Sua produção lírico-amorosa tem belíssimos poemas em que a tradição trovadoresca é explorada a
partir do contexto renascentista.
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4. Referencia Bibliográfica
HAUSER, Arnold. (2000): História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes.
PIRES-DE-MELLO, José Geraldo. (2001): Teoria do ritmo poético. São Paulo: Ed. Riddel;
Brasília: UniCEUB.
SARAIVA, Antônio José; LOPES, Óscar. História da literatura portuguesa. 14 ed. Porto: Porto
Editora Lda., s/a
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