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SUMÁRIO

UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 2


UNIDADE 2 – DIREITO PROCESSUAL ..................................................................... 5
UNIDADE 3 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PROCESSUAL
TRIBUTÁRIO .............................................................................................................. 7
3.1 A DIFERENCIAÇÃO DA LIDE E SEUS DESDOBRAMENTOS LÓGICOS ............................... 7
3.2 PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA VINCULADA DO ENTE TRIBUTANTE ................................... 9
3.3 PRINCÍPIO DA DUALIDADE DE COGNIÇÃO ............................................................... 10
3.4 PRINCÍPIO DA HARMONIZAÇÃO PROCESSUAL ......................................................... 11
3.5 PRINCÍPIO DA TUTELA JUDICIAL EFETIVA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA ............................ 12
3.6 PRINCÍPIO DA JUSTIÇA TRIBUTÁRIA ....................................................................... 13
UNIDADE 4 – PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL TRIBUTÁRIO ........... 17
4.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO (PAF)................................................... 17
4.2 O PROCESSO JUDICIAL TRIBUTÁRIO ...................................................................... 22
4.3 AÇÕES DE INICIATIVA DO FISCO ............................................................................ 24
4.4 AÇÕES DE INICIATIVA DO CONTRIBUINTE ............................................................... 26
4.5 AÇÕES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .................................................. 33
UNIDADE 5 - ORIGEM E EFICÁCIA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
TRIBUTÁRIO NO BRASIL........................................................................................ 35
UNIDADE 6 – SANÇÕES E INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS ....................................... 42
UNIDADE 7 – AÇÃO RESCISÓRIA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA ........................... 47
UNIDADE 8 – EXECUÇÃO FISCAL ......................................................................... 50
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO

Na mais simples e concisa das definições temos que o Direito Processual é


o ramo do direito público que estuda e aplica os princípios e normas legais que
regulamentam os procedimentos jurisdicionais, tendo como objetivo administrar o
direito.
Segundo EMERSON SANTIAGO (2010) esse ramo estrutura os órgãos de
justiça de modo a disciplinar a forma que devem ter os processos judiciais para
serem processados pelo sistema judiciário. O direito processual dá, em outras
palavras, as diretrizes, as instruções sobre como pedir em juízo a satisfação de um
determinado direito. E é assim, por meio do processo, com seu conjunto ordenado
de etapas, indo desde a petição inicial até a sentença transitada em julgado, que se
aplica o direito positivo (direito penal, direito civil, direito do trabalho, direito tributário,
etc.).
As principais divisões do direito processual são Direito Processual Civil,
Direito Processual Penal e Direito Processual do Trabalho, e cada uma destas
divisões atuam como suporte para as matérias civil, penal e trabalhista em suas
respectivas áreas (SANTIAGO, 2010).
Em se tratando da área tributária, a responsabilidade por infrações
tributárias é objetiva, independe da intenção com que foram praticadas e da
efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato, salvo disposição legal em
contrário – art. 136 (Lei nº 5.172/66, denominado Código Tributário Nacional – CTN).
Segundo a doutrina, este princípio não é absoluto, a responsabilidade
poderá ser excluída se o contribuinte ou responsável puder provar que não houve
descuido ou negligência, nem intenção de lesar o Fisco (inverte-se o ônus da prova).
O CTN permite remissão do crédito tributário atendendo ao erro ou
ignorância escusáveis quanto à matéria de fato – art. 172, II, CTN.
As sanções tributárias administrativas podem consistir em multa, apreensão
de mercadorias, veículo ou documentos, perda de mercadorias, proibição de
contratar com o poder público, sujeição a sistema especial de fiscalização, prisão
administrativa, etc.
A prisão administrativa só cabe nos casos de depositário infiel, ou seja, de
responsável que deteve o tributo e não o repassou para o Fisco, ex. Importo de
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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Renda (IR) retido na fonte. Atualmente, a prisão administrativa só pode ser


decretada pelo juiz competente – art. 5º, LXI, CF.
A penalidade pela infração tributária administrativa pode ser excluída por
denúncia espontânea, acompanhada do pagamento devido e dos juros de mora –
art. 138, CTN.
As premissas acima dão o tom do que veremos ao longo desta unidade,
conteúdo este que o operador do Direito Tributário deve conhecer de maneira mais
íntima possível, principalmente quando precisam aplicar seus instrumentos no
contexto prático.

Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se


fazem necessárias:

1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas


efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados.

2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo


original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância.

3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições


ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento
crítico.

1
Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, canais de congresso ou
similares.
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4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou


seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos
científicos.

Por fim:
5) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl +
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local.

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UNIDADE 2 – DIREITO PROCESSUAL

Nosso ponto de partida passa necessariamente por breves incursões no


direito processual, entendendo que ele é a base para os entendimentos futuros
acerca do direito processual tributário que tem, dentre outros objetivos, servir na
orientação do contribuinte frente à legislação tributária.
Os conceitos básicos do direito processual são:
• A jurisdição – obrigação de os tribunais darem a conhecer, julgarem e
executarem o condenado.
• A ação – quando uma pessoa solicita à jurisdição que se pronuncie sobre
algum assunto.
• O Processo – as ações judiciais relacionadas com a efetiva realização do
direito material.
São ainda características do direito processual ser formal, instrumental e
autônomo, ou seja, ele regula a competência dos tribunais; regula a jurisdição; é um
instrumento para o cumprimento do direito substancial e não está subordinado a
outras áreas do direito.
O Direito Processual veio ao longo do tempo se desenvolvendo segundo
métodos próprios de cada época e corrente doutrinária, inclusive levando em
consideração as implicações políticas e sociais vigentes em determinado sistema
normativo. Assim é que passamos pela fase em que o direito processual era mera
extensão do direito material, pela fase da autonomia do direito processual, até que
chegamos à fase da instrumentalidade do direito processual, como decorrência do
evolver dos estudos científicos em torno do processo (SILVA, 2010).
E, nesse caminhar, chegamos ao direito processual tributário.
Quando se fala em administração tributária, o primeiro pensamento passa
por ações como fiscalizar e arrecadar tributos, certo? Sim, correto, mas ela é muito
mais ampla, relacionando-se com toda e qualquer atividade administrativa exercida
na esfera fiscal.
FRANCIS RAJZMAN (2005) explica como essas atividades são ligadas, ou
seja, as repartições públicas fazendárias vão muito além de fiscalizar e arrecadar

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tributos; elas são órgãos incumbidos de atender e orientar o contribuinte, portanto,


todos devem estar treinados para atender ao público e ao Poder Público.
Pelas explicações acima percebe-se, então, que o direito processual
tributário atua na orientação do contribuinte, frente à legislação tributária.

2.1 Fatores que influenciaram na construção do Direito Processual Tributário


JAMES MARINS (2006, p. 14) pontua com muita propriedade os fatores que
podem ser destacados como de grande influência na tarefa de construção do Direito
Processual Tributário, a saber:
i) houve na doutrina tradicional ou fundacional do Direito Tributário fraca
percepção da importância da lide e do fenômeno processual;
ii) a doutrina de direito tributário desenvolveu-se acentuadamente mais no
campo material que no campo formal e processual;
iii) é notável, hodiernamente, o aperfeiçoamento e grande desenvolvimento
da justiça administrativa (processo administrativo) em todo o mundo;
iv) torna-se cada vez mais evidente a evolução doutrinária no bojo do
processo civil no sentido da construção do Direito Processual Público, como
necessidade teórica e prática;
v) no Brasil, a nova disciplina constitucional para o processo administrativo
torna imperativa a necessidade de adaptação das leis e da doutrina;
vi) o inevitável ponto de contato entre a justiça civil e a justiça administrativa
com inevitável conflito ou concorrência ou sobreposição entre elas torna imperativa
sua disciplina harmônica;
vii) existem recorrentes ameaças ao Estado Democrático de Direito sob a
ótica do procedimento e do processo tributário que somente serão debeladas
através de esforço jurídico coerente.

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UNIDADE 3 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO


PROCESSUAL TRIBUTÁRIO

3.1 A diferenciação da lide e seus desdobramentos lógicos


Se a relação jurídica tributária se afigura dotada de caráter peculiar, assim
também necessariamente se dará com a lide tributária e, portanto, com o processo
destinado à sua solução; logo, o Direito Processual Tributário passa a ser
desenhado com contornos próprios, particulares, tornando-se um processo
diferenciado.
A partir da noção peculiar da relação tributária nos deparamos com a
diferenciação da lide eclodida no percurso dinâmico desta relação. Nossa principal
premissa assume caráter estritamente tributário: a relação obrigacional de natureza
tributária que enlaça Estado e contribuinte é insuscetível de ser subsumida a
qualquer outra espécie de categoria jurídica. Não se assemelha à relação
obrigacional civil, contratual ou extracontratual, comercial, administrativa ou qualquer
outra. Também não é penal. Nada muda, ainda que não se queira aceitá-la como
obrigacional, e configurá-la, verbi gratia, como sujeição do contribuinte em face do
Estado.
Atribua-se-lhe a coloração jurídica que se desejar e o resultado permanecerá
o mesmo: é a relação tributária entre Estado e contribuinte, sem embargo de sua
vocação prosaicamente pecuniária, relação especial inassimilável a qualquer outra
conhecida no seio da vida civil (MARINS, 2006).
A premissa da diferenciação da relação jurídica tributária se nos afigura
indiscutivelmente sólida. Ficamos de qualquer modo, para as finalidades desta tese,
com Carnelutti para quem pouco importou a natureza da relação tributária, se de
Direito ou mesmo de Poder. Bastava ao maestro que esta relação se apresentasse,
como de fato sempre se apresentou - e permanece sendo - peculiar ou particular.
Esta premissa lança-nos a uma dedução: se a relação jurídica tributária é
evidencialmente peculiar, diferenciada, sui generis, assim também o será a lide de
natureza tributária. Contudo, não basta que se diga que a lide tributária é
diferenciada; é preciso que se diga com relação a que se registra esta nota
diferencial. Ora, para nossos propósitos é importante que se diga que a lide tributária

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é diferenciada da genericamente denominada lide civil, que é objeto de estudo do


Direito Processual Civil (MARINS, 2006).
Logo, se a lide civil é diferenciada da lide tributária o processo tributário há
que ser diferenciado do processo civil. Aqui fixam-se as raízes de nossos problemas
processuais tributários. Isso - a diferenciação do processo tributário - o reconhecem,
entre outros, de ontem e de hoje, juristas da estatura de Carnelutti, Allorio, Gomes
de Sousa, Sainz de Bujanda, Villegas, Jarach, Valdés Costa, Beltrán, Ferreiro
Lapatza e Soares Martínez, cada qual, obviamente, com suas matizes teóricas
próprias (MARINS, 2006).
Esta diferenciação do processo tributário não decorre apenas da
diferenciação da lide enquanto reflexo direto da diferenciação da relação jurídica
tributária. Esta diferenciação do processo tributário dá-se, também, por aspectos
puramente processuais, já que a dedução formal da lide tributária tem lugar tanto na
esfera administrativa como na esfera judicial.
Com efeito, as diversas garantias hoje encontráveis nos regimes
processuais tributários administrativos em todo o mundo (contraditório, produção de
provas, recurso hierárquico etc.) nada mais são do que sinais endoprocessuais da
existência da lide na esfera administrativa. A lide passa a existir assim que
formalizada, seja na esfera administrativa ou judicial. Se o Estado requer junto a si,
em seu quadro executivo, mecanismos que lhe ensejem apreciar este
inconformismo do contribuinte, não pode afastar-se do dever de oferecer ao cidadão
os meios necessários para que a solução da lide se dê de modo satisfatório sob o
prisma do Direito, isto é, com a observância do devido processo legal.
Se a relação jurídica tributária apresenta inequivocamente sua gama de
peculiaridades, já que cercada de um próprio conjunto de amarras e garantias
muitas vezes de foro constitucional, esta circunstância certamente opera efeitos no
momento da interpretação e aplicação da norma jurídica tributária. Com efeito, no
dizer de SOARES MARTÍNEZ (1993), a constituição criou um regime de especial
segurança no âmbito da tributação. Identificado este regime constitucional de
especial segurança em matéria de incidência tributária, haverão estas cautelas
materiais de se projetar no campo do Direito Tributário formal e do Direito
Processual tributário, implicando necessariamente que o procedimento e o processo

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tributário se pautem pelos desdobramentos teleológicos de tais garantias, em nova


visão do mesmo princípio da diferenciação do processo tributário (MARINS, 2006).
A diferenciação do processo tributário conduz, portanto, a diversos
desdobramentos que podem ser traduzidos em premissas ou princípios que devem
presidir o raciocínio de edificação do Direito Processual Tributário enquanto
disciplina jurídica, atribuindo-lhe coesão e sistematicidade e que denominamos de
Princípios Fundamentais do Direito Processual Tributário:
i) princípio da autotutela vinculada do ente tributante;
ii) princípio da dualidade de cognição;
iii) princípio da harmonia processual;
iv) princípio da tutela judicial efetiva em matéria tributária;
v) princípio da justiça tributária.
vi) princípio da diferenciação do processo tributário;

3.2 Princípio da autotutela vinculada do ente tributante


A necessidade de que o Estado reúna meios céleres para a atuação da
norma tributária transforma-se em princípio da autotutela vinculada do ente
tributante e deságua necessariamente no princípio da dualidade da cognição em
matéria tributária. Esta autotutela, embora não seja prestigiada com foros de
definitividade (já que não está imune ao controle do Poder Judiciário), é instrumento
essencial ao atendimento das premências instrumentais do Estado.
Está, entrementes, a autotutela estatal, inarredavelmente amarrada a
critérios exclusivamente legais, vinculantes da atuação do agente público, e,
teleologicamente não pode prescindir o elemento axiológico: a realização da justiça
tributária. Daí por que é melhor denominá-la de autotutela vinculada, extremando-a
assim da noção tradicional. Como esta autotutela comporta dois momentos distintos,
quais sejam, o acertamento da obrigação tributária e o julgamento de eventual
resistência deduzida pelo contribuinte (conflito de interesses deduzido pelo cidadão
ante o órgão administrativo com funções julgadoras), além da vinculação que
caracteriza a atuação do agente administrativo no primeiro momento, haverá ainda a
processualidade a conformar a atuação do julgador administrativo no segundo
momento, quando passa a incidir a cláusula due process of law (procedural due

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process). São fenômenos muito distintos. O primeiro refere-se ao Direito Tributário


formal, o segundo concerne ao Direito Processual tributário, onde se desenvolve
atividade julgadora em sentido amplo. As implicações decorrentes deste modo de
pensar são extraordinárias.

3.3 Princípio da dualidade de cognição


A dualidade da cognição ou dualidade do conhecimento da lide
administrativa (que não se confunde com a dualidade de jurisdições do sistema
francês e menos ainda com o princípio judicial do duplo grau de jurisdição ou o
princípio administrativo do duplo grau de conhecimento), em matéria tributária, é
princípio fundamental que tem seu nascedouro na necessidade política dos
governantes em trazer para si a solução dos problemas tributários.
Esta necessidade política foi tornada jurídica em todos os sistemas europeus
de inspiração romano-germânica como na Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Na
América Latina não se deu diferente, como se vê na Argentina e no Brasil. Em todos
estes países a lide tributária passa, obrigatoriamente ou não, por uma etapa
administrativa de julgamento e, mesmo que alguns vejam nesse sistema uma
deturpação das funções do Estado, não vislumbramos outra forma teórica ou prática
de funcionamento.
A proposta de RAMÓN VALDÉS COSTA (1984) no sentido de que toda lide
tributária deveria ser apreciada somente pelo Poder Judiciário, ainda que louvável,
carece de consistência jurídica, pois implicaria o desmantelamento, provavelmente
desastroso, da experiência jurídica vivenciada por décadas em ao menos uma dúzia
de países de cultura moderna. Ao contrário do desmantelamento, pregamos a
adoção de critérios que retirem estes sistemas de sua vida anacrônica e muitas
vezes antagônica, tornando-os compatíveis com o atual estágio de evolução do
princípio do Estado de Direito. E isso se obtém, entre outras providências, através
da “processualização” dos trâmites administrativos (MARINS, 2006).

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3.4 Princípio da harmonização processual


Do princípio fundamental da dualidade da cognição origina-se outro
postulado que Marins (2006) assevera ser de transcendental importância: o princípio
da harmonização processual entre as duas esferas cognitivas.
Este princípio destina-se a evitar e corrigir os desacertos tão frequentes no
confronto entre as duas etapas processuais tributárias, a administrativa e a judicial.
Esta harmonização, mais saliente em alguns regimes europeus, como o alemão e o
português, é princípio racional que busca evitar a superposição de “jurisdições”, ou,
melhor dizendo, de “esferas cognitivas”, com evidente e desnecessário desgaste do
aparelho estatal.
O fenômeno processual não se limita, hoje, por expressa injunção de
sucessos evolutivos do Estado de Direito, ao processo judicial. É mais amplo e
espraia consequências nas províncias da atividade administrativa quando dotada de
funções julgadoras que facultam ao cidadão a dedução administrativa de seu conflito
com o Estado.
Precisamente nesse aspecto concernente à ampliação do conceito de
processo, Marins (2006) acredita que aí aloja-se a principal problemática do
processo tributário e ao mesmo tempo sua maior conquista. Isto quer dizer que há
processo sem jurisdição e em matéria tributária é inútil combater-se esta realidade,
não apenas como decorrência da cristalização histórica de instituições
administrativas com funções especiais de julgamento, como em virtude da
consagração jurídica da noção de processo no seio da administração, muitas vezes
com gênese constitucional, como é o caso do Brasil.
Ao contrário de ser fenômeno indesejado, é circunstância evolutiva, fruto do
aperfeiçoamento de nossas instituições jurídicas em face do aperfeiçoamento do
próprio princípio do Estado de Direito. O processo, ao penetrar e fincar raízes no
sítio administrativo, sem com isso afastar a ampla e efetiva cognição judicial - isto é,
harmonizando-se com a conotação judicial do princípio do monopólio da jurisdição -
torna jurídico e por isso mais seguro o relacionamento conflituoso entre Estado e
contribuinte, sujeita ao Direito a discrição e o arbítrio que com frequência
contaminam as regiões vizinhas ao poder.

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A admissão de que se desenvolvam funções julgadoras no seio da


administração é decorrente da inquestionável necessidade que o Estado tem de
instrumentalizar-se adequadamente em sua ação de exigir tributos, lançando e
sempre que possível resolvendo conflitos com a celeridade que, ao menos
teoricamente, peculiariza a atividade administrativa.
Por outro lado, o reconhecimento da peculiar dimensão processual do
fenômeno litigioso no plano administrativo é garantia que se deve assegurar ao
cidadão-contribuinte. Este é um conceito amplo de processo, como propõe ENRICO
ALLORIO (1962 apud JAMES MARINS, 2006), já que não encarcera o fenômeno
processual ao perímetro próprio da atividade judicial, isto é, da atividade jurisdicional
propriamente dita. Nem por isso se enquadra, porém, em noção generalizante ou
generalizável, como conviria ao unitarismo.

3.5 Princípio da tutela judicial efetiva em matéria tributária


Características encontráveis nas legislações processuais latino-americanas
apontam para o fortalecimento dos poderes judiciais em sua função de controle dos
atos administrativos em matéria tributária. Nesse aspecto situa-se a superação de
boa parte dos problemas apontados, na exata medida em que através de
procedimentos céleres (através de remédios constitucionais como o mandado de
segurança ou medidas cautelares ou mesmo antecipatórias) logra-se obter a
proteção aos eventuais desvios na atividade administrativa, seja de fiscalização,
lançamento ou mesmo de solução de conflitos tributários deduzidos
administrativamente.
Ao lado do aperfeiçoamento dos tribunais administrativos, esta pode ser
considerada a tônica evolutiva que marca as legislações ocidentais, pois a
supressão dos aparatos administrativos de aplicação da lei tributária e solução de
eventuais lides assume contornos irrealizáveis.
O princípio da “garantia jurisdicional”, posicionado com gala por RAMÓN
VALDÉS COSTA (1984), ao lado do princípio da legalidade e da isonomia em
matéria tributária, deve ser compreendido não como a ampliação da competência do
Poder Judiciário na apreciação das lides tributárias (especialmente no que concerne
à aplicação de penalidades) com correspectiva exclusão da competência dos órgãos

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tributários administrativos, mas deve ser compreendido como um princípio que


assegure a efetiva tutela judicial do contribuinte, notadamente no controle dos atos
da administração tributária inclusive - e especialmente - dos seus atos destinados à
solução do conflito fiscal deduzido administrativamente pelo cidadão-contribuinte,
daí deduzindo-se o princípio fundamental da tutela jurisdicional efetiva em matéria
tributária.
Ao Estado também haverá de corresponder princípio apto para que suas
finalidades arrecadatórias não se vejam frustradas pelo conjunto protetivo que se
confere ao contribuinte. Afinal, como disse FRANCESCO CARNELUTTI (1932 apud
MARINS, 2006) o Estado é um credor particularmente digno de tutela. Por isso é
que o Estado recebe a primazia da autotutela vinculada, como já mencionamos
acima.

3.6 Princípio da justiça tributária


Os princípios acima nos levam ao princípio da justiça de grande importância
no processo tributário.
À Administração Pública não se pode afigurar estranho o objetivo de
realização de justiça, ainda que este não se constitua em sua finalidade específica
(satisfação de um interesse público que pode assumir a mais variada natureza)
(ALLORIO, 1962 apud MARINS, 2006).
Este aspecto, porém, não é excludente de que a Administração tenha na
realização de justiça o fim genérico de sua atuação. Nesse caso, e aqui realça-se
um aspecto de especial importância, quando o fim administrativo específico vem a
colidir com o fim genérico de justiça este último deve prevalecer. Assim não fosse,
de pouco adiantaria reconhecer-se na Administração o fim genérico de justiça.
A objeção consistente em se dizer que diante disso toda atividade
administrativa passaria a ser mister de justiça não pode ser sustentada por uma
razão lógica, que diz respeito à própria diferenciação entre a atividade jurisdicional e
a atividade de cunho administrativo, ou seja, nem toda atividade administrativa irá
conter em seu bojo uma questão de justiça, pois na atividade administrativa pode-se
revisar uma atuação de direito sem o específico fim de solução de uma lide,

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enquanto no mister jurisdicional opera-se à revisão de direito com o fim precípuo de


solucionar a relação conflituosa.
Segundo posicionamento de JAMES MARINS (2006), o princípio da justiça,
ainda que a muitos possa parecer impertinente, reclama constante reafirmação em
ambiente de tantas equivocidades científicas. A busca pela justiça no âmbito do
processo tributário é elemento de aproximação e harmonização entre a etapa
administrativa e a judicial, ainda cada qual com seu método próprio. Precisa ser
reafirmado para que o processo tributário que tenha lugar no seio da administração
se torne adequadamente jurídico, isto é, atenda mais claramente aos princípios
inerentes ao convívio jurídico calçado no Estado de Direito e na “ideia de Direito”.
Sabemos que esta posição, de extrema relevância, não é isolada, senão que
compartida, com nuances naturais, por diversos outros juristas como, dentre outros,
Sainz de Bujanda, Alberto Xavier e Ferreiro Lapatza, e além disso, está fundada em
noções que se subsumem à proposta nuclear elaborada pelo gigante Karl Larenz.
Ainda segundo Marins (2006), os princípios vistos acima, por seu caráter
geral, fundamental (da disciplina), devem informar a criação da norma processual
tributária e vetorar a hermenêutica e aplicação da norma positivada que venha a ser
invocada onde houver processo tributário. São cânones fundamentais deduzidos
logicamente com a finalidade de, calçados no princípio do Estado de Direito, conferir
contextura às normas processuais, administrativas ou judiciais, que disciplinam a
solução das lides tributárias e que compõem, frequentemente de modo caótico, o
Direito Processual Tributário.
Além dos princípios vistos anteriormente, a disciplina do direito Processual
Tributário é muito ampla, especialmente por abarcar o Direito Administrativo, o
Direito Processual Civil, o Direito Tributário e, naturalmente, o Direito Constitucional,
logo, sintetizamos os demais princípios que regem as diversas nuances desse
direito:

1)Princípios materiais da justiça tributária:


• Princípio da legalidade;
• Princípio da generalidade;
• Princípio da isonomia;

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• Princípio da capacidade contributiva;


• Princípio da irretroatividade da lei tributária;
• Princípio da anterioridade.

2)Princípios comuns ao procedimento e ao processo administrativo tributário:


• Princípio da legalidade objetiva;
• Princípio da vinculação;
• Princípio da verdade material;
• Princípio da oficialidade;
• Princípio do dever de colaboração;
• Princípio do dever de investigação.

3)Princípios do procedimento administrativo fiscal:


• Princípio da inquisitoriedade;
• Princípio da cientificação;
• Princípio do formalismo moderado;
• Princípio da fundamentação;
• Princípio da acessibilidade;
• Princípio da celeridade;
• Princípio da gratuidade.

4) Princípios do processo administrativo tributário:


• Princípio do devido processo legal;
• Princípio do contraditório;
• Princípio da ampla defesa;
• Princípio da ampla instrução probatória;
• Princípio do duplo grau de cognição;
• Princípio do julgador competente;
• Princípio da ampla competência decisória.

5)Princípios Constitucionais do Processo Judicial Tributário:


• Princípio da isonomia;
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• Princípio do juiz e do promotor natural;


• Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional;
• Princípio do contraditório’;
• Princípio da proibição da prova ilícita;
• Princípio da publicidade dos atos processuais;
• Princípio do duplo grau de jurisdição;
• Princípio da motivação das decisões judiciais.

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UNIDADE 4 – PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL


TRIBUTÁRIO

4.1 Processo Administrativo Tributário (PAF)


Processo administrativo-tributário é o conjunto de atos necessários à
solução, na instância administrativa, de questões relativas à aplicação ou
interpretação da legislação tributária.
Considera-se processo administrativo-tributário aquele que versa sobre a
aplicação ou a interpretação da legislação tributária. Observe-se que o processo
pode ser administrativo mas não versar sobre a interpretação ou aplicação da
legislação tributária, caso em que não será denominado administrativo-tributário
(FERREIRA, 2006).
O processo administrativo-tributário se destina a regular a prática dos atos
da administração e do contribuinte, no que se pode chamar de acertamento da
relação tributária.
Na aplicação do direito material pela autoridade administrativa tributária,
alguns atos devem ser praticados de forma ordenada e com observância dos direitos
do contribuinte. Por isso que deve existir um processo administrativo-tributário
(MARQUES, 2002).
Questão importante é de saber se a Constituição Federal de 1988 assegura
ao contribuinte o processo administrativo fiscal como instrumento de acertamento da
relação tributária. O que se quer com ela saber é se existem normas na Constituição
Federal de 1988, suficientes para a configuração do direito subjetivo do contribuinte,
ao processo administrativo, como instrumento de acertamento de sua relação com o
Estado-fisco.
Em outras palavras, a essa questão consiste em saber se o legislador
ordinário pode suprimir, simplesmente, o processo de acertamento tributário,
permitindo que o lançamento do tributo se faça unilateralmente, sem participação do
sujeito passivo da obrigação tributária.
HUGO DE BRITO MACHADO (2002) entende que sim. Afirma ele que o
direito ao processo administrativo fiscal está assegurado pelo dispositivo que,
expressamente, diz ser a todos assegurado, independentemente do pagamento de
taxas, o direito de petição aos poderes públicos, em defesa de direito ou contra
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ilegalidade ou abuso de poder, e também o que assegura o direito de duplo grau de


jurisdição.
O processo administrativo tributário pode ter dois significados, um amplo e
um estrito. No sentido amplo significa o conjunto de atos administrativos tendentes
ao reconhecimento pela autoridade competente, de uma situação jurídica pertinente
à relação fisco-contribuinte. Já no sentido estrito, é a espécie do processo
administrativo destinada à determinação e exigência do crédito tributário.
O processo administrativo tributário é de natureza administrativa, não
obstante o seu conteúdo seja em alguns casos de natureza jurisdicional.
O procedimento administrativo fiscal inicia-se pela notificação do
lançamento, pelo auto de infração ou pela apreensão de livros e mercadorias.
RICARDO FERREIRA (2006) explica que algumas entidades tributantes
estabelecem diferenças entre procedimento administrativo-tributário e processo
administrativo-tributário. Em sentido estrito, o procedimento administrativo-tributário
compreenderia o conjunto de atos necessários à interpretação ou aplicação da
legislação tributária quando não houvesse litígio. Seria a forma estabelecida na
legislação para o tratamento, perante a Administração, das questões administrativo-
tributárias não conflituosas. Já o processo administrativo-tributário consistiria no
conjunto de atos necessários à solução administrativa de um litígio. Ou seja, o
processo administrativo-tributário seria sempre litigioso e se iniciaria com a
impugnação (=contestação) apresentada pelo sujeito passivo.
O processo administrativo tributário ou fiscal merece um tratamento atento
por parte da doutrina considerando se tratar de espécie de processo administrativo,
orienta-se por princípios básicos referentes a esse tipo de instrumento de
exteriorização da ampla defesa e do contraditório por parte dos indivíduos. Assim,
há que atentar para as diversas normas jurídicas dos entes federativos regentes dos
seus respectivos ritos processuais. Cabe, ainda, lembrar que em se tratando se
Direito Tributário é sempre relevante rememorar que cabe a lei complementar
estabelecer normas gerais de tributação e as leis ordinárias a estipulação dos
tributos, podendo, ainda, esses sofrerem regulamentação através de decretos,
resoluções, portarias, instruções normativas e pareceres normativos (RAJZMAN,
2005).

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Segundo MARIA DO SOCORRO CARVALHO BRITO (2003), a ação fiscal é


diferente do processo judicial. No primeiro, busca-se o pronunciamento de uma
autoridade, que deve decidir ou homologar determinado ato, e no segundo, busca-se
a sentença.
O processo administrativo fiscal tem seu fundamento no art. 5º, LV da
Constituição Federal, no Código Tributário Nacional e na legislação específica de
cada ente. Sempre que houver uma obrigação tributária, seja ela principal ou
acessória, que espontaneamente não tenha sido satisfeita pelo contribuinte, ou por
aquelas pessoas a quem a lei transfere ou incumbe essas obrigações, pode ser
exigido pelo Fisco o pagamento do tributo ou a penalidade pecuniária decorrente,
mediante o seu lançamento, o que poderá dar ensejo a um conflito e nascimento do
processo administrativo.

Espécies de processo administrativo:


HUGO DE BRITO MACHADO (2002) adota o critério objetivo para classificar
as espécies de processo administrativo tributário. São elas:
a)Determinação e exigência do crédito tributário;
b)Consulta;
c)Repetição de indébito;
d)Parcelamento de débito fiscal;
e)Reconhecimento de direitos.

a) Determinação e exigência do crédito tributário


É a espécie mais importante de processo administrativo-tributário, que por
isso mesmo é muitas vezes confundida com o gênero. É aquela destinada à
constituição do crédito tributário e a sua cobrança “amigável”. É o processo de
lançamento do tributo. O processo de aceitação também pode ser denominado de
ação fiscal.
O processo de acertamento divide-se em duas fases: unilateral ou não
contenciosa e contenciosa ou bilateral.
A fase unilateral é essencial no lançamento de ofício de qualquer tributo.
Começa com o primeiro ato da autoridade competente para fazer o lançamento, ou

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seja, é caracterizada pela necessidade do lançamento tributário para existir. É um


processo necessariamente escrito, e dele há que ter conhecimento o sujeito passivo
da obrigação tributária correspondente (MARQUES, 2002; BETHONICO, 2010).
A ação fiscal tem início com a lavratura de um termo chamado de “termo de
início de fiscalização”, mas pode iniciar-se por outros atos, tais como a apreensão de
mercadorias. Esse ato inicial tem um prazo de 60 dias para ser efetivado.
O lançamento tributário divide-se em três grupos:
a) Lançamento direto ou de ofício: ocorre quando o Fisco age por iniciativa
própria, pelo fato de dispor de todas as informações necessárias, procedendo,
portanto de forma direta.
b) Lançamento por declaração ou misto: ocorre quando o Fisco recebe
informações do contribuinte, o qual tem obrigação legal de prestar estas
informações, para que se opere o lançamento.
c) Lançamento por homologação ou autolançamento: ocorre quando o
próprio contribuinte opera o lançamento e antecipa o pagamento, sob o controle
genérico de fiscalização e da condição da homologação pela Fazenda Pública.
Segundo ensina HUGO DE BRITO MACHADO (2002), “o que caracteriza essa
modalidade de lançamento é a exigência legal de pagamento antecipado. Não o
efetivo pagamento antecipado”.
Assim, é nessa etapa que o sujeito ativo – por meio de suas autoridades
competentes – dá conhecimento ao sujeito passivo do crédito tributário de que este
é devedor.
O principal efeito do início da ação fiscal é a exclusão da espontaneidade do
sujeito passivo, prevista no art. 138 do CTN.
A fase não contenciosa termina com o termo de encerramento de
fiscalização que será acompanhado por um auto de infração, nos casos em que tiver
sido cometida alguma infração.
A fase contenciosa começa com a impugnação da exigência formulada no
auto de infração. Auto de infração é o documento no qual o agente da autoridade
administrativa narra a infração da legislação tributária atribuídas por ele ao sujeito
passivo no período da ação fiscal (MARQUES, 2002).

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Em relação ao prazo para o sujeito passivo impugnar, RICARDO LOBO


TORRES (1999) explica que o contribuinte pode impugnar, no prazo de 30 dias, o
auto de infração ou o lançamento notificado. Instaura-se, assim, o processo
administrativo-tributário, de rito contencioso, durante o qual se realizarão as perícias
e provas necessárias à ampla defesa.
Para o sujeito passivo, não há necessidade de se esgotar a via
administrativa para o acesso ao Poder Judiciário.
Dessa forma, o contribuinte pode escolher entre a impugnação
administrativa e a judicial.
Quando é a via administrativa a escolhida, em geral, cabe a um julgador
singular promover o julgamento monocrático da impugnação, sobre questões por
esta suscitadas (BETHONICO, 2010).
O contribuinte pode vir a não concordar com a decisão e, então, apresentar
recurso, e o órgão julgador deverá apreciar a decisão monocrática de primeira
instância.
Caso a decisão seja desfavorável ao contribuinte, quer seja proferida por
autoridade singular, quer emanada de órgão colegiado, mesmo em grau de recurso,
não produz caráter definitivo para este, e se quiser, pode procurar a via judicial.
Um requisito imprescindível no auto de infração é a descrição do fato, que
no entender do autuante configura a infração.
O processo administrativo-tributário culmina com a inscrição da dívida
apurada no livro da dívida ativa.

b)Consulta
O processo de consulta tem por fim ensejar ao conhecimento ao contribuinte
oportunidade para eliminar dúvidas que tenham na interpretação da lei tributária,
fazendo assim uma consulta ao fisco.
A consulta pode ser formulada diante de um fato concreto ou de uma
simples hipótese. Uma vez formulada, fica vedada a ação fiscal. A resposta, se
contrária ao contribuinte, tem o efeito de obrigá-lo a assumir o entendimento nela
contido.

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c)Repetição de indébito
Se configura quando efetuado o pagamento indevido de um tributo, tem o
contribuinte direito de requerer à autoridade administrativa que determine sua
restituição, porém essa restituição é raríssima (MARQUES, 2002).

d)Parcelamento de débito fiscal


Tem o objetivo de estimular o adimplemento da obrigação tributária.

e)Reconhecimento de direitos
Destina-se à formalização de isenções e imunidades que estejam a
depender de manifestação da autoridade da administração tributária.

4.2 O processo judicial tributário


O processo judicial tributário é aquele que, depois de configurado o
lançamento e o crédito tributário, serve como instrumento do contribuinte para
exercer o seu direito de questionar a legalidade do tributo, caso o ache indevido, ou
para que a fazenda pública tenha o seu direito de crédito efetivado (MARQUES,
2002).
Não obstante no lançamento tributário haja uma fase de acertamento entre o
fisco e o contribuinte, pode este, ficar inconformado em ter que pagar o tributo ou a
penalidade, podendo recorrer a tutela jurisprudencial do estado.
O processo judicial tributário está resguardado pela nossa carta magna nos
dispositivos que contêm o direito a inafastabilidade do controle judicial e do direito ao
contraditória e ampla defesa.
Estabelece a Constituição que “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º , inc. XXXV). Tem-se, pois, no Direito
brasileiro, a inafastabilidade do controle judicial. Qualquer lei que, direta ou
indiretamente, exclua a apreciação do Poder Judiciário relativamente a qualquer
lesão, ou ameaça a direito, será inconstitucional.
O processo judicial tributário regula-se pelo código de processo civil, salvo
no que diz respeito à execução fiscal e a cautelar fiscal.

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No que diz respeito ao processo de conhecimento em matéria tributária, este


é sempre de autoria do contribuinte, pois a decisão no processo administrativo é
sempre do fisco, não existindo razão para este recorrer ao judiciário.
Nas palavras de HUGO DE BRITO MACHADO (2002, p. 400), como não
temos leis processuais específicas para a solução dos conflitos entre o fisco e o
contribuinte, o processo judicial tributário regula-se pelo Código de Processo Civil
(CPC), salvo no que diz respeito à execução fiscal e à cautelar fiscal. O processo de
conhecimento, em matéria tributária, é sempre de iniciativa do contribuinte, porque a
decisão, no processo administrativo, é sempre do fisco, inexistindo, assim, razão
para que este provoque o controle judicial da legalidade de tais decisões. Se o fisco
decide, administrativamente, pela existência de um crédito tributário, a cobrança
deste se faz mediante a propositura da execução fiscal, posto que o fisco constitui,
unilateralmente, o título executivo a seu favor. Por isso é que o fisco não tem
necessidade de ir a Juízo para pleitear uma decisão sobre o seu direito de crédito.
O objetivo genérico do processo judicial é a aplicação do Direito.
Inobservada a norma por seus destinatários, ao Poder Judiciário cumpre aplicá-la,
assegurando a estes a prevalência daquela. A atividade jurisdicional por excelência
desenvolve-se no processo, que tem por finalidade compor os conflitos, mas não é
apenas para a composição de conflitos que existe o processo judicial. Ele se destina
também a fazer valer um direito não controvertido e para acautelar direito sobre o
qual se questiona, de sorte a que a decisão da causa não resulte inútil em face de
seu perecimento (MACHADO, 2002, p. 403).
São espécies do processo judicial tributário:
a)Processo de conhecimento;
b)Processo de execução;
c)Processo cautelar.

a)Processo de conhecimento
Tem por fim a composição de um litígio. Instaura-se diante de uma
controvérsia sobre o direito material. O processo de conhecimento é a principal sede
onde se desenvolve a atividade jurisdicional.

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24

b)Processo de execução
Neste tipo de processo não ocorre a composição de litígio, porque este não
existiu ou já foi composto em anterior processo de conhecimento.
Por isto mesmo a propositura do processo de execução só é possível
quando se dispõe de um título, cuja formação pode ser judicial, como é o caso de
sentença proferida no processo de conhecimento, ou extrajudicial, um documento ao
qual a lei atribui essa qualidade, como é o caso da certidão de inscrição da dívida
tributária. Quem promove um processo de execução já possui, portanto, um título
executivo. Isto quer dizer que não vai a Juízo questionar o seu direito. Vai pedir
providências ao Juiz para fazê-lo valer. Não pede uma decisão sobre uma
controvérsia. Pede providências concretas para que o seu direito se torne efetivo
(MACHADO, 2002).

c)Processo cautelar
No processo cautelar também não se coloca para o juiz um conflito para ser
resolvido. Pede-se uma providência para a preservação de um direito que está
sendo ou vai ser questionado, mas poderá perecer se aquela providência não for
adotada.

4.3 Ações de iniciativa do fisco


a)Execução fiscal
É a ação que dispõe a fazenda pública para a cobrança de seus créditos,
que de acordo com o art. 142 do CTN, uma vez efetuado o lançamento tributário e
notificado o sujeito passivo e esgotado o procedimento administrativo, o crédito
tributário torna-se exigível, porém para ser executado, ou seja, para cobrar tem que
haver a inscrição do crédito tributário na dívida ativa, e no que diz respeito ao
processo de execução fiscal para cobrança de dívida ativa da União, dos Estados,
do DF, dos Municípios e sua autarquias, é regulado pela lei n. 6830/80, onde por
esta trazer um procedimento simples, faz com que os objetivos visados sejam
alcançados com celeridade (HARADA, 2005).
O objeto da execução fiscal não é a constituição nem a declaração do
direito, mas a efetivação deste, que se presume, por força de lei, líquido e certo.

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25

Tal presunção é relativa e pode, portanto, ser afastada por prova a cargo do
executado. A prova, porém, há de ser produzida no processo de embargos.
Obs: Até a decisão de primeira instância, a certidão de dívida ativa poderá
ser emendada ou substituída, assegurada ao executado a devolução do prazo de
embargos.
Depois de feito a inscrição da dívida ativa, quanto ao prazo para embargo da
execução fiscal é substancialmente diferente daquele previsto para o procedimento
comum da execução por quantia certa: trinta dias, e não dez dias (art. 16, lei n.
6830/80). Conta-se o prazo: i) do depósito, ii) da juntada da prova da fiança
bancária2, ou iii) da intimação da penhora.
Os embargos na execução fiscal pouco diferem dos embargos na execução
comum por quantia certa. É a ação incidental, que exige a segurança do juízo,
proposta por petição inicial, com todos os requisitos do art. 282 do CPC. Diferem,
apenas, no número limitado de testemunhas (até três ou a critério do juiz, até seis).
Não se admite reconvenção nem compensação. As exceções de suspeição,
impedimento ou incompetência serão arguidas em peça apartada.

b)Cautelar fiscal
Tem por fim tornar indisponíveis os bens do contribuinte. É cabível nas
hipótese indicadas na lei n. 8397/92, antes da propositura da execução fiscal ou no
curso desta.
A cautelar fiscal somente pode ser impetrada contra sujeito passivo de
crédito tributário ou não tributário, regularmente constituído em procedimento
administrativo. HUGO DE BRITO MACHADO (2002) entende que o pedido de
cautelar é inútil, pois nada acrescenta como garantia do tesouro público.
Essa ação quem propõe é a Fazenda Pública e quando concedida a liminar
os bens do requerido ficam indisponíveis até o limite da satisfação da obrigação. E
para conceder esta liminar não há necessidade da justificação prévia da Fazenda
Pública, isso de acordo com o art. 7º da lei n. 8397/92.

2
De acordo com redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014, conta-se o prazo “da juntada da prova da
fiança bancária ou do seguro garantia” (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13043.htm#art73).
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26

Esta medida cautelar, quando preparatória, a Fazenda Pública tem 60 dias


para ajuizar a execução fiscal, sob pena de cessão de sua eficácia.
Quanto a concessão de alguma garantia por parte do sujeito passivo da
ação, a medida pode sim ser substituída por alguma garantia correspondente ao
valor da prestação fazendária, e também pode ser ainda revogada ou modificada
(FONSECA, 2009).

4.4 Ações de iniciativa do contribuinte


a)Ação anulatória de lançamento tributário
Tem como objeto a anulação do procedimento administrativo de lançamento.
Esta ação refere-se ao processo de conhecimento, seguindo o rito ordinário, daí ser
chamada de ação ordinária.
Pode-se, ainda, impetrar tal ação contra a Fazenda Pública para anular ato
praticado no procedimento administrativo.
Segundo PRISCILA PRADO GARCIA (2010), a ação anulatória em matéria
tributária é uma modalidade processual antiexacional que sucede a constituição da
obrigação tributária. Tal ação tem como objetivo primeiro a produção de uma norma
concreta e individual que desconstitua a eficácia da anterior norma tributária (o
lançamento efetuado pelo Fisco). Desta forma, o Estado-Juiz ao julgar o pleito do
contribuinte, emite uma sentença que possui eficácia desconstitutiva da obrigação
tributária.
Embora a carga principal da sentença da ação anulatória seja
desconstitutiva, uma vez que a sentença funciona como veículo introdutor de uma
norma que leva a extinção da obrigação tributária, também possui carga
declaratória, eis que ao julgar a questão, o Estado-juiz além de desconstituir a
normal individual e concreta já produzida, proíbe o Fisco de, em condições fáticas e
jurídicas idênticas, efetuar o lançamento novos tributos.
Dessa forma, a sentença judicial produzirá efeitos não só sobre a obrigação
anteriormente posta, mas também sobre todas as situações futuras, que se
enquadrem no mesmo lineamento enfrentado pela Judiciário.
Em síntese, a sentença da ação anulatória retroage ao passado, reformando
o débito anteriormente constituído, além de constituir novo fato jurídico, eis que

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extingue a obrigação posta e, em consequência de tais fatos, regula conduta das


partes litigantes em situações futuras (PRADO, 2010).

b)Ação declaratória
Diz respeito ao processo de conhecimento e segue o procedimento
ordinário. Distingue-se da ação anulatória em razão do pedido. A ação declaratória
pede-se a declaração da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma
ralação jurídica.
Enquanto que na ação anulatória de lançamento o juiz afirma ou nega a
relação jurídica tributária como fundamento da decisão, na ação declaratória a
afirmação da existência ou da inexistência da relação jurídica constitui a própria
decisão.
Sua primordial função é esclarecer o direito em tese, sendo assim,
configura-se sua grande utilidade no Direito Tributário, que é precipuamente direito
obrigacional (FONSECA, 2009).
Desde que o contribuinte prove seu interesse e legitimidade, através de
petição instruída, o caso será submetido a apreciação contraditória.
O Código de Processo Civil estabelece em seus arts. 3º e 4º3 que, para
propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade; e que o interesse
do autor poderá limitar-se a declaração da existência ou inexistência de relação
jurídica, da autenticidade ou falsidade de documentos, e que é admitido ação
declaratória ainda não tendo ocorrido violação à direito.
Quando tratamos do instituto da consulta no processo administrativo fiscal,
mostramos que nele havia uma certa função de garantia de certeza administrativa, e
que o fisco, exigindo o cumprimento das obrigações fiscais desde a fase
administrativa, sendo ele órgão do Estado, está na obrigação de esclarecer as
possíveis dúvidas, mesmo porque a certeza dos direitos e obrigações é elemento
potencial para o seu cumprimento (FONSECA, 2009).
Através dessa ação, pode o sujeito passivo comparecer em juízo pra obter a
certeza conclusiva, definitiva, da existência ou inexistência de uma obrigação
tributária.

3
Atualizados, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para arts. n. 17, 19 e 20
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).
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Em geral, em matéria tributária, o contribuinte ingressa em juízo visando


obter uma sentença declaratória negativa, a inexistência de relação jurídica de
obrigação fiscal, ou que tal obrigação é menor ou diversa da pretendida.
Em caso de dúvidas às vezes pode ocorrer que para não ficar em posição
de responsabilidade, especialmente no tocante aos tributos indiretos, em que é
debitado o imposto pago, pode ir a juízo para obter certeza conclusiva, isto é com
efeito de coisa julgada (FONSECA, 2009).
Em geral, o autor, ao propor uma ação declaratória, já entra com seu pedido
sustentando um determinado sentido, entretanto, poderá também apenas submeter
à apreciação do juiz a dúvida para que declare o direito.
Pode ser proposta preventivamente mas quando exista no administrativo um
lançamento ou auto de infração, nada impede que independentemente da discussão
administrativa em espécie, seja a tese submetida ao judiciário, por meio da ação
declaratória. O interessado poderá, obtendo coisa julgada, utilizar-se da sentença
como título para que o próprio órgão julgador administrativo adote o julgado na tese.
Antes de chegar a questão ao judiciário poderá o contribuinte, por meio da
ação declaratória, obter um verdadeiro prejulgado no tocante à relação
anteriormente duvidosa, como se presumir com as garantias da coisa julgada contra
eventual pretensão, mesmo em juízo, conforme o CPC: “Art. 4744. Passada em
julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as
alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à
rejeição do pedido.”
Portanto, a ação declaratória pode ser utilizada pelo contribuinte, visando
obter a certeza perante Judiciário, que terá eficácia de coisa julgada.

c)Ação de consignação em pagamento


Pagar não é apenas um dever, é também um direito, e seu exercício há de
estar garantido por uma ação, e esta é a de consignação em pagamento. Pode ser
ajuizada quando a Fazenda Pública recusa o recebimento ou subordina este ao

4
Atualizado, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para “Art. 508. Transitada em julgado a decisão
de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte
poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido”
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).

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pagamento de outro tributo, subordina o recebimento ao cumprimento de exigências


administrativas sem fundamento legal, ou quando é exigido por mais de uma pessoa
jurídica de direito público tributo idêntico sobre mesmo fato gerador.
GISELE LEITE (2008) explica perfeitamente que a extinção das obrigações
pelas vias normais se faz pelo pagamento, sendo um meio anormal ou defectivo a
consignação em pagamento. No Código de Processo Civil Brasileiro a consignação
é disciplinada nos arts. 8905 e seguintes e, ainda, no Código Civil nos arts. 334 e
seguintes.
A ação consignatória em pagamento é o instrumento jurídico-processual
indicado para o devedor ou terceiro de uma obrigação de dar coisa ou de pagar
quantia em favor do credor, obtenha reconhecimento da sua liberação e, obtendo
igualmente a quitação, nas hipóteses previstas na lei civil.
Serve a actio consignatória ao direito das obrigações para permitir que o
devedor ou terceiro se exonere da qualidade de devedor quando, por exemplo, o
credor se recusar ao recebimento da quantia ou da coisa. Todavia, essa não é a
única hipótese.
Revela-se a consignação como forma judicial ou extrajudicial e tem como
pressupostos fundamentais:
a) a possibilidade de o devedor, antes da contestação, emitir declaração de
vontade, revogando o ato da consignação;
b) a mora do credor ou sua recusa em receber a obrigação, mora accipiendi
(arts. 890 e 898 do CPC6);
c) a dúvida sobre quem deve legitimamente receber a obrigação (arts. 895 e
898 do CPC7).
O autor da ação de consignação é chamado de consignante podendo
depositar o valor ou a coisa, em razão da mora accipiendi, ou porque foi o devedor
impedido de adimplir o pagamento por motivos alheios à sua vontade.

5
Atualizados, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para arts. 539 e seguintes
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).
6
Atualizados, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para arts. 539 e 544
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).
7
Atualizados, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para art. 547
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).
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30

A reforma do CPC de 1994 através da Lei n. 8.951 trouxe a alternativa de se


consumar a consignação por meio de depósito judicial ou extrajudicial em dinheiro.
Tem o devedor o direito de desvincular-se da obrigação, efetuando o
pagamento. Sendo inviável a sua efetivação pela recusa do credor em aceitá-lo ou
pela existência de obstáculos impeditivos, o devedor deverá valer-se da
consignação, que tem lugar, de acordo com o art. 335 do CC.
O rol desse supramencionado dispositivo legal do Código Civil não esgota as
hipóteses, pois há outras em leis extravagantes, em que admite a consignação
como, por exemplo, o Decreto-Lei 58/37, art. 17, parágrafo único.
Dentre essas hipóteses, a mais comum é a da recusa injustificada do credor
em receber o pagamento ou dar quitação. Não se acolhe a consignação se houver
justo motivo para a recusa. Assim, se o valor ofertado pelo devedor é inferior ao
devido, ninguém é obrigado a receber menos que lhe cabe.
Ainda que o devedor já esteja em mora, o credor não pode recusar-se a
receber o pagamento, desde que prestação ainda lhe seja útil e venha
acompanhada de todos os acréscimos e encargos decorrentes do atraso.
Se, no entanto, o credor já houver demandado o devedor, não caberá mais a
purgação da mora, salvo se a ação proposta houver previsão dessa possibilidade,
como ocorre no despejo por falta de pagamento.
Exemplificando, celebrado um contrato pelo qual alguém se compromete a
pagar a outrem um valor qualquer em dia predeterminado, o devedor está em mora
desde que não pague na data aprazada (mora ex re, que prescinde de interpelação,
pois há termo certo de vencimento).
Ainda assim, ser-lhe-á facultado consignar se houver recusa do credor em
receber, desde que o valor oferecido venha acompanhado de todos os acréscimos,
tais como atualização monetária, juros vencidos e outros encargos previstos no
contrato preveja para a hipótese de mora. A consignação, porém, será tardia se o
credor já houver ajuizado ação de rescisão de contrato, com fundamento na mora.
O simples atraso do devedor-consignante não o impede de se valer de
consignação, é o que decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “Tempo para consignar.
Enquanto ao devedor é permitido pagar, admite-se requerer o depósito em
consignação”.

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31

A consignação pode abranger inclusive os casos de mora debitoris pois


servirá para purgá-la, irrelevante a questão do tempo, pela permanência na recusa.
(RSTJ, 11:319).

d)Ação de repetição de indébito8


É aquela ação de procedimento ordinário em que o autor pede que seja
condenada a Fazenda Pública a restituir tributo pago indevidamente.
Questão importante é a do art. 166 do CTN, que diz que a restituição de
tributo que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo encargo
financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o referido encargo. Este
dispositivo é de flagrante inconstitucionalidade, como afirma HUGO DE BRITO
MACHADO (2002), pois viola de forma indireta o princípio da legalidade.
Com previsão no caput, art. 38, Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal -
LEF), fundamentado no princípio em que se proíbe o enriquecimento sem causa de
quem quer que seja, o fim colimado pela Ação de Repetição de Indébito é devolver
ou restituir ao sujeito passivo o quantum que porventura tenha pago indevidamente
ao Fisco, valor esse a ser monetariamente corrigido e com o acréscimo das demais
cominações legais. Idêntico à Ação Anulatória e ao Mandado de Segurança, ao teor
do parágrafo único, art. 38, LEF, o ingresso em Juízo com a Ação sob comento
importa na imediata extinção e arquivamento do mesmo pedido hipoteticamente
formulado antes à Administração Fazendária (COSTA, 2012).
A ação de repetição de indébito tributário tem como base o princípio geral de
direito que veda o enriquecimento sem causa, encontra-se prevista expressamente
no Código Tributário Nacional, sendo que sua composição estrutural encontra amplo
respaldo no Código de Processo Civil.

8 Vale entender... etimologicamente, “indébito” é o mesmo que “não-débito”, ou “crédito”. “Indébito”. A


terminologia é utilizada porque, no direito tributário, a terminologia “crédito” é utilizada para designar o
“crédito tributário”, que é o crédito do fisco contra o contribuinte.
Dessa forma, a utilização do termo “indébito” evita confusões terminológicas decorrentes das
polissemias do termo “crédito”.
No Código de Defesa do Consumidor, “Indébito” refere-se ao valor pago pelo consumidor de forma
indevida ou majorada de forma ilegal.
Repetição de Indébito originou da regra “solve et repete”, que define que para contestar um tributo, o
contribuinte deve primeiro pagá-lo. No entanto, o cerceamento de defesa é repelido pela Constituição
Federal, que visa facilitar o acesso do cidadão ao Judiciário.

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32

Outrossim, a restituição total ou parcial dos valores pagos a maior a título de


tributos encontra sua fundamentação legal no art. 165 do Código Tributário Nacional,
in verbis:
Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio
protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu
pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos:
I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o
devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias
materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;
II - erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota
aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de
qualquer documento relativo ao pagamento;
III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.
O direito material à restituição dos valores pagos a maior existe
independente da modalidade de pagamento adotada pelo sujeito passivo (art. 162,
CTN), bem como pela modalidade de lançamento do credito tributário. Ademais, o
Código Tributário Nacional disciplina expressamente que havendo pagamento
indevido é cabível a ação de repetição de indébito (OLIVEIRA, 2011).

e)Mandado de segurança
É a garantia constitucional do cidadão contra o poder público (art. 5º, inciso
LXIX). O mandado de segurança pode ser impetrado pelo contribuinte desde que
tenha um direito líquido e certo e que seja lesado ou ameaçado por ato de
autoridade.
Direito líquido e certo é aquele que sua demonstração independe de prova.
Ao mandado de segurança impetrado contra ameaça de prática de ato lesivo dá-se
o nome de preventivo. A doutrina têm afirmado que a impetração preventiva só é
admissível com a prova de ameaça. Tal entendimento é inadmissível pois mandado
de segurança preventivo não se confunde com impetração contra a lei em tese.

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33

O processamento do mandado de segurança esta previsto na lei n.


1.533/519, e esta traz em seu art. 1810 que o prazo para requerer o mando extingue-
se em 120 dias contados da data da ciência do ato impugnado (ROSA JUNIOR,
2000).
Quanto a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, para que seja feito
não basta a impetração do mandado, e sim de acordo com o art. 151, IV do CTN
tem que ser concedido a liminar do mandado de segurança, o que ocorre após o juiz
despachar a petição inicial, isto de acordo com o art. 7º da lei n. 1.533/51 (revogada
pela lei n. 12.016 de 07 de agosto de 2009), onde ele ira ordenar que seja suspenso
o ato que deu motivo ao pedido, quando for relevante o fundamento, e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida.

4.5 Ações de controle de constitucionalidade


No Brasil existem duas formas de controle de constitucionalidade: o controle
por via de exceção e o controle por via de ação. O primeiro é exercido por qualquer
órgão do judiciário por via incidental, ou seja, no decorrer do processo, enquanto
que por via de ação, só o STF pode declarar inconstitucional uma lei.
Questão de vital importância é que a ação de controle de constitucionalidade
das leis tem como objeto a própria lei, e não diz respeito à esta ou àquela situação
concreta em que esta esteja sendo aplicada. Diz respeito ao direito-norma, ou direito
objetivo, e não ao direito efeito da norma, o direito subjetivo (MARQUES, 2002).

a)Ação direta de inconstitucionalidade


O art. 103 da nossa carta magna (com alterações pontuais efetuadas pela
Emenda Constitucional nº 45, de 200411) enumera quem tem legitimidade para
propor a ação direta de inconstitucionalidade. Com respeito aos efeitos das leis
declaradas inconstitucionais, quando a declaração acontece por via indireta, as

9
Revogada pela Lei n. 12.016, de 2009 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L12016.htm#art29)
10
Revogado e atualizado, de acordo com a Lei n. 12.016, de 2009, para art. 23
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12016.htm#art29)
11
Ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1
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34

autoridades da administração tributária seguem exigindo o tributo; já se for por via


direta, a autoridade administrativa tributária não pode mais exigir o tributo.

b)Ação declaratória de constitucionalidade


Só quem tem legitimidade para propor esta ação é o Presidente da
República, a Mesa do Senado, a Mesa da Câmara dos Deputados e o Procurador-
Geral da República.
Podemos destacar algumas diferenças entre ação direta de
inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade. Nesta, seu efeito
obriga a todos como se todos fossem parte do processo, e sua inobservância é
reclamada diretamente ao STF. Já aquela tem efeito contra todos como o tem uma
lei, e sua inobservância não autoriza reclamação ao STF (MARQUES, 2002).
AÇÃO POPULAR
É um instrumento que a nossa constituição oferece ao cidadão para a
defesa do patrimônio público. Prestando-se para o anulamento de qualquer ato
lesivo ao patrimônio, pode ser utilizada para anular atos ilegais concessivos de
favores, como isenção tributária, anistia, etc. (MARQUES, 2002).

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35

UNIDADE 5 - ORIGEM E EFICÁCIA DO PROCESSO


ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO NO BRASIL

Segundo MARIA DO SOCORRO CARVALHO BRITO (2002) o processo


administrativo, sem dúvida, nasceu com o estado de direito, onde as garantias
individuais constituem direitos fundamentais. Possivelmente, nos estados totalitários,
a vontade do Estado se sobrepõe aos direitos individuais e pratica-se a
arbitrariedade, porquanto a vontade do Estado é a do seu governante.
A doutrina dispõe de informações que nos leva a crer que o processo
administrativo teve sua origem no due process of law, surgido na Grã-Bretanha,
sendo que, inicialmente, era de cunho eminentemente processual penal.
ALBERTO NOGUEIRA (2002), em sua obra intitulada “O devido Processo
Legal Tributário”, enfatiza quanto a origem, evolução e universalização do due
process of law, asseverando que os inúmeros estudos publicados sobre a cláusula
due process of law, sob os mais variados enfoques, sem discrepância indicam que a
mesma se constituiu, como princípio, inicialmente na Grã-Bretanha, como forma
democratizadora da sociedade, a partir da fórmula primitiva law of land, inserida no
art. 39 da Carta Magna de 1215 (Great Charter).
A cláusula law of land, por seu turno, evoluída do campo estritamente
processual, em matéria predominantemente penal, segundo a qual ninguém seria
julgado por um juízo pré-constituído (juiz natural) e somente nos fatos previamente
tipificado como crime (nullum crimen sine lege), para assegurar a própria
regularidade da atividade jurisdicional.
As Emendas V e XIV à Constituição norte-americana de 1787, introduziram
a cláusula due process of law (...). A Constituição brasileira de 1988 viria a
consagrar de forma explícita e clara o princípio do devido processo legal (art. 5º,
LIX), logo, o processo administrativo tributário encontra seu fundamento de validade
no art. 5º da CF, no CTN e na legislação específica de cada ente.
Sempre que houver uma obrigação tributária, seja ela principal ou acessória,
que espontaneamente não tenha sido satisfeita pelo contribuinte, ou por aquelas
pessoas a quem a lei transfere ou incumbe essas obrigações, pode ser exigido pelo
Fisco o pagamento do tributo ou a penalidade pecuniária decorrente, mediante o seu

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lançamento, o que poderá dar ensejo a um conflito e nascimento do processo


administrativo.
De acordo com o Código Tributário Nacional, artigo 113, a “obrigação
principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de
tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela
decorrente” (§ 1º).
Já a “obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as
prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da
fiscalização dos tributos” (§ 2º). Pode, ainda, a obrigação acessória converter-se em
principal, caso seja inobservada, em relação a penalidade pecuniária (§ 3º).
O lançamento, segundo definição do próprio Código Tributário Nacional,
artigo 142, é procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o
montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor, a
aplicação da penalidade cabível.
Há que se salientar que “a atividade administrativa de lançamento é
vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional” (art. 142, Parágrafo
único, do CTN).
Nesta fase do lançamento, não há que se falar em processo administrativo,
mas sim em procedimento que, na lição de RUI BARBOSA NOGUEIRA (1993, p.
246):
é a forma administrativa de exame e apuração das possíveis obrigações e,
como elas, igualmente regulado por lei e, por isso mesmo, a própria forma de
proceder constitui um direito assegurado às partes. É o ‘devido processo legal’. Para
que a solução não venha a ser errônea ou resulte em injustiça, a lei prevê um
método, uma carta ordem. O procedimento fiscal é, pois, um ordenamento do modo
de proceder para que tanto a imposição, como a arrecadação e a fiscalização sejam
feitas na medida e na forma previstas na lei.
Estando o contribuinte de acordo com o lançamento, o que é difícil ocorrer, e
efetuando o pagamento no prazo estabelecido, a obrigação se extingue. Mas, como
pode acontecer, o contribuinte não acata a imposição e socorre-se do processo
administrativo, muitas vezes, tendo ou não razão, seja para ganhar tempo, seja

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37

porque considera que é indevida, ilegal ou inconstitucional a exação ou a forma de


proceder do fisco.
Na assertiva de JAMES MARINS (2001, p. 162) a etapa contenciosa
(processual) caracteriza-se pelo aparecimento formalizado do conflito de interesses,
isto é, transmuda-se a atividade administrativa de procedimento para processo no
momento em que o contribuinte registra seu inconformismo com o ato praticado pela
administração, seja ato de lançamento de tributo ou qualquer outro ato que, no seu
entender, lhe cause gravame, como a aplicação de multa por suposto incumprimento
de dever instrumental.
A mera bilateralidade do procedimento não é suficiente para caracterizá-lo
como processo. Pode haver participação do contribuinte na atividade formalizadora
do tributo e isso se dá, por exemplo, quando este junta documentos contábeis que
lhe foram solicitados ou quando comparece ao procedimento para esclarecer esta
ou aquela conduta ou procedimento fiscal que tenha adotado na sua atividade
privada. Até esse ponto não se fala em litigiosidade ou em conflito de interesse, até
porque o Estado ainda não formalizou sua pretensão tributária. Há mero
procedimento que apenas se encaminha para a formalização de determinada
obrigação tributária (ato de lançamento).
Após essa etapa, que se pode mostrar mais ou menos complexa, praticado
o ato de lançamento e, portanto, formalizada a pretensão fiscal do Estado, abre-se
ao contribuinte a oportunidade de insurgência, momento em que, no prazo
legalmente fixado, pode manifestar seu inconformismo com o ato exacional
oferecendo sua impugnação, que é o ato formal do contribuinte em que este resiste
administrativamente à pretensão tributária do fisco. A partir daí instaura-se
verdadeiro processo informado por seus peculiares princípios (que são
desdobramentos do due process of law) e delimita-se o instante, o momento em que
se dá a alomorfia procedimento/processo modificando a natureza jurídica do atuar
administrativo.
Este mesmo autor assevera que o processo administrativo tributário
contempla o conjunto de normas que disciplinam o regime jurídico processual
aplicável às lides tributárias deduzidas perante a administração pública (pretensões

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tributárias e punitivas do Estado impugnadas administrativamente pelo contribuinte).


Integra, ao lado do Processo Judicial Tributário, o Direito Processual Tributário.
É inegável que há um conjunto de normas que integra o ordenamento
jurídico tributário brasileiro, ao qual chamamos de sistema tributário, que rege o
processo administrativo.
Estuda-se o processo administrativo tributário, não como um processo
uniforme para todos os entes da federação, como é o processo civil e o penal, por
exemplo, pois somente no âmbito judicial tem-se a nítida compreensão do processo
e tanto a Constituição Federal tração normas específicas (BRITO, 2003).
Observa-se, pois, que o processo administrativo tributário busca na CF (art.
5º LV) e no CTN (art. 145) as linhas mestras para sua constituição, cabendo aos
entes da federação, obedecidos os ditames da Lei Maior, estipular as demais
condições ou “ritos” procedimentais.
Pois bem, a finalidade do processo administrativo tributário deveria ser a
justiça administrativa!
É assegurado ao contribuinte todo o direito de tentar desconstituir a exação,
mediante a utilização do processo administrativo tributário, que é regido por uma
legislação específica, ressaltando-se que, na sistemática brasileira, cada ente da
federação adota a sua própria.
Partindo da premissa de que o lançamento tributário apresenta vícios
formais ou materiais, ou que o fato gerador da obrigação lançada não se conforma
às disposições expressas da lei ou se funda em disposição inconstitucional, sem
embasamento legal, resta evidenciada a motivação para ensejar o processo
administrativo. Mas, muitas vezes, o lançamento apresenta-se inquestionável e,
ainda assim, o contribuinte lança mão do processo administrativo, impugnando-o
perante o órgão competente, com o fito de adiar ou não pagar o que é devido a
Fazenda Pública.
É indiscutível que o processo administrativo tributário é um instrumento
valioso de solução de conflitos, de forma mais célere e menos dispendiosa, tanto
para o contribuinte como para o próprio Fisco, e tem por escopo a justiça fiscal.
Entretanto, a justiça administrativa não vem sendo alcançada como se
espera, seja porque falta independência funcional dos julgadores que, quer queira

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ou não, normalmente seguem uma orientação do ente tributante, que os impede de


livre apreciar o conflito; quer seja pela morosidade no julgamento, em flagrante
prejuízo à administração pública; quer seja, ainda, porque, considerando que o
nosso sistema adota a teoria dualista, que implica em processos autônomos nas
esferas administrativa e judicial, ao cabo do processo administrativo, permanecendo
incólume o lançamento, o contribuinte se utilizará das vias judiciais, repetindo todo o
processo.
A Constituição Federal, em seu artigo 22, I, estabelece que compete
privativamente à União legislar sobre: direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo aeronáutico, espacial e do trabalho.
Pela inteligência do dispositivo constitucional tem-se a convicção de que a
expressão “direito processual” está relacionada ao direito processual judicial e não a
todo e qualquer processo.
Não se pode conceber que abranja o processo administrativo tributário,
porquanto tem-se a convicção de que trata apenas do processo judicial que deve ser
uniforme em todo o território nacional.
Ademais, se compete aos entes da federação legislar concorrentemente
sobre direito tributário, artigo 24, da Constituição Federal, é difícil admitir que o
processo administrativo tributário possa ser disciplinado através de uma lei nacional.
A prevalecer a exegese de que o processo administrativo tributário é de
competência privativa da União, todas as leis, federal e estadual, que versam sobre
o assunto seriam inconstitucionais pois não há uma Lei nacional, muito menos a
Constituição Federal assegurou a competência legislativa plena aos demais entes,
em caso de inexistência da lei de sua competência, como ocorre, quando esta é
concorrente e suplementar.
JAMES MARINS (2001, p. 121), com a autoridade que dispõe para tratar da
questão, afirma, textualmente, que:
Compete, portanto, à União a disciplina do Sistema processual tributário
nacional, estabelecendo por via de lei ordinária as garantias de processo que
assistem ao cidadão contribuinte – em toda a federação – quando da solução
administrativa de sua relação tributária litigiosa com o ente da tributante; deve ainda
a União criar normas gerais de procedimento em matéria de processo, com o fito de

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uniformizar em toda a federação o modo de exercício (procedimento) das garantias


constitucionais do processo;
Sequer vislumbramos a necessidade de uniformização da legislação do
processo administrativo tributário para vigorar em todo o território nacional, pois a
instituição, por cada ente, do seu processo não ensejará nenhum conflito,
considerando que cada um deles tem sua competência tributária devidamente
estabelecida na Constituição Federal e jamais haverá conflito entre eles, em relação
a este aspecto, porquanto a sua jurisdição não ultrapassará as fronteiras de cada
um.
Ademais, para observar os princípios constitucionais não se faz necessário
que haja uma lei nacional, pois toda e qualquer legislação tem o dever, a obrigação,
até para gozar de validade, de cumprir e respeitar estes primados (BRITO, 2003).
Entendemos pois, que cada ente tem competência para editar Lei sobre o
seu processo administrativo tributário aplicando-se o art. 22, I, da Constituição
Federal apenas ao processo judicial.
MARIA DO SOCORRO CARVALHO BRITO (2003) conclui em seu artigo
que o processo administrativo tributário brasileiro, apesar de condignamente
concebido pela Carta Magna, ainda se apresenta tímido, sem alcançar, vastamente,
o seu fim maior, que é realizar a justiça administrativa, afastando a
discricionariedade do órgão tributante e a arbitrariedade.
É indiscutível que o processo administrativo tributário seria um instrumento
valioso de solução de conflitos, de forma mais célere e menos dispendiosa, tanto
para o contribuinte como para o próprio Fisco, se a controvérsia não se estendesse
por tanto tempo e não se renovasse na esfera judicial.
Considerando, pois, a teoria dualista adotada pelo sistema jurídico brasileiro,
em que o julgamento administrativo não encerra a questão, propiciando a repetição
de toda a discussão perante o Poder Judiciário, tem-se que o processo
administrativo não cumpre a sua finalidade, apenas posterga a resolução do
problema, muitas vezes, em prejuízo do próprio administrado.
No entendimento da autora, a justiça administrativa não vem sendo
alcançada como se espera, seja porque falta independência funcional dos julgadores
que, quer queira ou não, normalmente seguem uma orientação do ente tributante,

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que os impede de livre apreciar o conflito; quer seja pela morosidade no julgamento,
em flagrante prejuízo à administração pública; quer seja, ainda, porque,
considerando que o nosso sistema adota a teoria dualista, que implica em processos
autônomos nas esferas administrativas e judicial, ao cabo do processo
administrativo, permanecendo incólume o lançamento, o contribuinte se utilizará das
vias judiciais, repetindo todo o processo.
Entende-se que se faz necessário repensar o contencioso administrativo em
vigor em nosso país, pois, da forma como posto nas mais variadas leis existentes, a
justiça administrativa, para o qual se propõe, constitui mais um entrave à célere
solução da controvérsia tributária.

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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
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UNIDADE 6 – SANÇÕES E INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS

MARCUS CLÁUDIO ACQUAVIVA (2003) afirma sobre a natureza da norma


jurídica que: “percebe-se, desde logo, que a natureza da norma jurídica é a de uma
norma garantia e, portanto, sancionadora, consagrada, reconhecida pelo estado. Eis
que assim deve ser definida a norma jurídica: preceito obrigatório imposto ou
reconhecido como tal pelo estado”.
A sanção vem a ser a reação do direito diante da não realização dos
comportamentos devidos, ante a falta de acatamento que ele crê desejável numa
sociedade e momento determinado. Nem sempre se traduz em castigo, pena,
penalidade, que são todas espécies do gênero sanção jurídica.
Pode-se afirmar que é a consequência derivada da desobediência ao
mandamento principal de uma norma jurídica. A sanção tributária, na verdade,
funciona como um elemento intimidatório capaz de obrigar o contribuinte a efetuar o
pagamento do tributo. Trata-se de uma norma de tornar a lei eficaz.
Entende-se por normas sancionantes ou punitivas aquelas que estabelecem
sanções para determinadas condutas. Tal ação não é obrigatória nem proibida. Se
fosse proibida, sua prática acarretaria uma punição.
A sanção é aplicada toda vez que ocorre o descumprimento de uma
determinada conduta prevista em uma dada norma jurídica. O direito utiliza-se da
sanção toda vez que deseja o cumprimento de um determinado comportamento, ou
obrigação prevista na norma. Trata-se de um forte elemento intimidatório, que
confere maior eficácia às normas jurídicas, eis que o destinatário da norma, ao ler o
seu conteúdo, toma ciência de imediato da consequência jurídica a que será
submetido em caso de descumprimento da hipótese nela prevista. Deste modo, o
contribuinte que não pagar os seus impostos, saberá exatamente a que penalidades
estará sujeito.

Infração tributária
Podemos dizer que infração é toda ação ou omissão do contribuinte, com o
fim de descumprir os deveres jurídicos.
Quanto às espécies, as infrações podem ser:

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43

• infração de obrigação principal: Neste caso, ocorre o fato jurídico tributário e o


sujeito passivo da relação jurídica não recolhe o imposto devido.
• infração de obrigação acessória: O sujeito passivo tem, por exemplo, vinte
dias para entregar determinado documento na repartição fiscal e não o faz.
As condutas que inobservam os deveres jurídicos tributários podem ser
examinados a luz de variadas classificações. Entre elas, das mais usadas por seu
sentido prático, está a divisão que cogita das infrações à obrigação tributária e
daquelas que violam simples deveres instrumentais ou formais.
Exemplo da primeira: um comerciante deve pagar o ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) por ter realizado o fato jurídico daquele
tributo. Nos prazos estabelecidos na legislação estadual, deixa de promover o
regular recolhimento da importância correspondente. Tal comportamento se
caracteriza com infração a obrigação tributária do ICMS.
Exemplo da segunda: pessoa física, contribuinte do IR, não oferece, em
tempo oportuno, sua declaração de rendimentos e de bens, fazendo-o quinze dias
após o termo final do prazo estabelecido. Descumpriu, por isso, dever instrumental
ou formal do IR (Pessoa física).
Também podem classificar-se as infrações tributárias, consoante haja ou
não referência à participação subjetiva do agente, na descrição hipotética da norma.
Teremos, assim, as infrações subjetivas e objetivas.
Infração subjetiva é aquela para a configuração que exige a lei que o autor
do ilícito tenha operado com dolo ou culpa (estar em qualquer de seus graus). Caso
de infração subjetiva é o comportamento do contribuinte do imposto sobre a renda
que, ao prestar sua declaração de rendimentos, omite, propositadamente, algumas
receitas, com o objetivo de recolher quantia menor do que a devida.
As infrações objetivas, de outra parte, são aquelas em que não é previsto
apurar-se a vontade do infrator. Havendo o resultado previsto na descrição
normativa, qualquer que seja a intenção do agente, dá-se por configurado o ilícito.
Situação típica é a do não pagamento de determinada quantia, a título de imposto
predial e territorial urbano, nos prazos fixados na notificação de lançamento. Sendo
irrelevante o ânimo do devedor, não realizado o recolhimento até o limite final do
prazo, incorrerá ele em juros de mora e multa de mora.

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Ainda que o princípio geral, no campo das infrações tributárias, seja o da


responsabilidade objetiva, o legislador não está tolhido de criar figuras típicas de
infrações subjetivas. São elas a sonegação, a fraude e o conluio, além daquelas em
que se eleger a culpa (nos aspectos da negligência, imprudência ou imperícia),
como ingrediente necessário do tipo legal.
A legislação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) chegou a
definir os três ilícitos dolosos (sonegação, fraude e conluio).
Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar,
total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária:
I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua
natureza ou circunstâncias materiais:
II – das condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de afetar a
obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente.
A delimitação do conceito, tal qual expresso no direito positivo, da ênfase ao
acontecimento do fato jurídico tributário, encarecendo que o infrator haverá de
proceder dolosamente, dirigindo sua vontade a materialização do fato infringente,
impedindo que os agentes da fazenda pública tomem conhecimento ou retardem a
identificação de sua ocorrência.
Bem parecida é a definição de fraude, também recolhida na legislação do
IPI:
Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total
ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a
excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o
montante do imposto devido ou a evitar ou diferir o seu pagamento.
Nessa ideia de ilícito tributário subjetivo, temos o comportamento do infrator
caracterizado pelo esforço deliberado no sentido de retardar ou impedir o
acontecimento tributário, ou ainda, tentando modificar ou excluir os traços peculiares
à identificação daquele evento, tudo dirigido ao escopo de não pagar a quantia
devida a título de imposto, de pagá-lo com redução, ou de deferir, no tempo, a
prestação pecuniária.
Observa-se que a sonegação pressupõe a ocorrência factual. Ao passo que
a fraude se opera em momentos que antecedem a efetivação do evento tributário.

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A outra figura de infração subjetiva, de natureza dolosa, é o conluio, assim


relatado pela legislação do IPI:
Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas,
visando qualquer dos efeitos da sonegação ou da fraude.
Não seria preciso referir a ajuste doloso, uma vez que a sonegação e a
fraude já encerram a intenção deliberada de obter o resultado ou de assumir o risco
de produzi-lo. Em todo o caso, para que haja conluio, necessário se faz a presença
de dois ou mais agentes, com personalidades jurídicas que concertam praticar a
sonegação e a fraude, em benefício de uma, de algumas, ou de todas (CARVALHO;
2002; NOGUEIRA, 2004).
OBS.: as presunções do Fisco só se admitem nas infrações objetivas. Nas
subjetivas, o dolo e a culpa não se presumem, provam-se. Aqui compete ao Fisco,
“com toda a gama instrumental dos seus expedientes administrativos, exibir os
fundamentos concretos que revelam a presença do dolo ou da culpa, como o nexo
entre a participação do agente e o resultado material que dessa forma se produziu.
Já nas infrações objetivas o suposto autor do ilícito, para defender-se deve
demonstrar a inexistência material do fato, descaracterizando-o em qualquer de
seus elementos constituintes”.

Sanções tributárias
Sanções tributárias seria o mesmo que a falta de cumprimento do comando
embutido na lei.
Elas podem ter como objetivo serem ressarcitórias (recompor o tributo
devido e não pago) ou punitivas (além do ressarcimento, há um acréscimo na receita
pública).

São espécies de sanções tributárias:


• penalidades pecuniárias – diversas formas punitivas de acréscimo do débito
fiscal;
• multas de mora – não tem caráter punitivo, têm intuito indenizatório;
• juros de mora – tem essência remuneratória do capital;
• apreensão de mercadorias, documentos, etc.

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• regime especial de controle – em casos especiais, a empresa poderá sofrer


regime especial com o objetivo do contribuinte cumprir a legislação tributária.
• cassação de regimes especiais
OBS.: a correção monetária não é sanção, representa a atualização do valor
da dívida, em função da desvalorização da moeda, pela inflação. A dispensa da
correção monetária equivale à remissão.

CTN – Seção IV – Responsabilidade por infrações

Art. 136 - Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por


infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do
responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.
Art. 137 - A responsabilidade é pessoal ao agente:
I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções,
salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função,
cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de
direito;
II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja
elementar;
III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo
específico:
a) das pessoas referidas no Art. 134, contra aquelas por quem respondem;
b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,
preponentes ou empregadores;
c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito
privado, contra estas.
Art. 138 - A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da
infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros
de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa,
quando o montante do tributo dependa de apuração.

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UNIDADE 7 – AÇÃO RESCISÓRIA EM MATÉRIA


TRIBUTÁRIA

Estudos de LARISSA FERREIRA DA SILVA (2006) apontam que a Ação


Rescisória é remédio processual excepcional, cabível apenas nas situações
expressamente previstas no CPC, que tem por objetivo atacar a coisa julgada
material já formada, mas que está eivada de vícios que permitem a sua
desconstituição e, em alguns casos, o rejulgamento da lide, em consonância com o
ordenamento jurídico.
Dispõe o art. 485 do CPC12 sobre as hipóteses de cabimento da Ação
Rescisória, nos seguintes termos:
“Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do
juiz;
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou
de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar literal disposição de lei;
Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou seja provada na própria ação rescisória;
Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência
ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar
pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação,
em que se baseou a sentença;
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da
causa.”
A Ação Rescisória tem como escopo rescindir a decisão transitada em
julgado, propiciando, nas hipóteses cabíveis, o rejulgamento da causa. Depreende-

12
Atualizado, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para art. 966
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm)
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se desse objetivo a possibilidade de coexistência de dois tipos de pedido na Ação


Rescisória: pedido rescindente e pedido rescisório.
O primeiro (judicium rescindens) refere-se ao mérito da rescisória, ou seja,
se há na decisão rescindenda algum dos vícios elencados no art. 48513 do CPC, que
autorize sua desconstituição. Sua natureza será, pois, sempre desconstitutiva ou
constitutiva negativa.
Já o segundo (judicium rescissorium) diz respeito ao mérito da ação cuja
sentença se pretende rescindir, vale dizer, trata-se de pedido de novo julgamento da
ação rescindenda que será realizado pelo próprio tribunal, caso este julgue
procedente a Ação Rescisória. Terá tal pedido a mesma natureza jurídica da
sentença substituída.
Cumpre ressaltar que o pedido rescisório é cabível apenas em algumas
hipóteses, como no caso de violação de literal disposição de lei material (art. 485,
V). Ademais, o rejulgamento da causa está adstrito ao pedido da ação cuja decisão
fora rescindida.
Sobre o alcance do pedido rescisório, vale citar os ensinamentos de
ERNANE FIDÉLIS DOS SANTOS (2006, p. 762), no sentido de que o novo
julgamento tem o condão de fazer com que, caso a decisão rescindida já tenha sido
executada, as coisas voltem ao estado anterior, por força de nova execução. Eis
seus dizeres:
“O pedido que se pode cumular ao de rescisão é apenas o de novo
julgamento da causa. Não se comporta, na rescisória, pedido específico de
condenação à devolução de coisa, dinheiro, indenização por serviço prestado etc.,
quando já tiver havido execução da sentença ou acórdão rescindendos. Mas, na
consideração de que, declarada a rescisão do ato jurídico judicial, tudo volta ao
estado anterior, o iudicium rescissorium poderá gerar efeitos secundários que
também autorizam execução. O autor da rescisória fora condenado, como réu, a
pagar quantia em dinheiro, ou a entregar imóvel que tinha em sua posse. No novo
julgamento, o acórdão da rescisória deu pela improcedência do pedido condenatório,
ou ao de reivindicação. Como efeito secundário da decisão, que é declaratória,

13
Atualizado, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para art. 966
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).
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muito lógico que, já tendo havido execução, por outra se façam voltar as coisas ao
estado anterior, isto é, que se permita ao autor fazer, através do processo
executório, o imóvel voltar a sua posse, e a se reembolsar da quantia que pagou
indevidamente, em execução, com os acessórios que lhe são peculiares”.
No mesmo sentido é a lição de PONTES DE MIRANDA (2003, p. 521),
segundo a qual a prestação jurisdicional que fora entregue em ação anterior será
desfeita, em caso de êxito do juízo rescisório. Noutros dizeres, sendo julgado
procedente o pleito rescisório, os efeitos decorrentes da decisão rescindida
desfazem-se de forma ex tunc, a fim de que a situação volte a seu status quo. Isso
porque, com o trânsito em julgado da sentença rescindente, tudo que fora rescindido
é retirado do mundo jurídico, ou seja, a sentença que anteriormente era eficaz, deixa
de existir, prevalecendo, portanto, o novo julgamento proferido em sede do juízo
rescisório. Pertinente, pois, a seguinte observação apontada mais adiante pelo autor
em comento:
“Há um ponto que merece atenção: a execução ou cumprimento da
sentença rescindenda, se advém a rescisão com a desconstituição completa, não
pode beneficiar a quem recebeu algo do efeito sentencial. Daí, não se pode dizer
que o réu, vencido na sentença proferida em ação de reivindicação, não está
obrigado a restituir os frutos da coisa reivindicada auferidos no período entre a data
da sentença rescindenda e a sentença rescindente”.
Trazendo os ensinamentos supratranscritos especificamente para o campo
do Direito Tributário, pode-se inferir que a Fazendo Pública, logrando êxito em Ação
Rescisória ajuizada para desconstituir decisão sobre a qual se amparava o
contribuinte para não recolher um determinado tributo, estaria autorizada a lançar
todos os débitos originados sob a égide da decisão rescindida, respeitado o prazo
decadencial (SILVA, 2006).

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UNIDADE 8 – EXECUÇÃO FISCAL

A execução fiscal é regulada pela Lei Especial n. 6.830 de 22 de setembro


de 1980, e subsidiariamente o Código de Processo Civil e tem por objetivo dar ao
fisco um instrumento célere de cobrança de sua dívida ativa (crédito), ou seja, a
Fazenda ingressa em juízo para a cobrança forçada ao crédito tributário, i.e., tem o
fim de regular a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública.
É o processo para cobrança de créditos da Fazenda Pública (União,
Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios) e constitui um conjunto de atos
sucessivos e coordenados destinados à realização do direito, consubstanciado no
título executivo.
O seu art. 1° estabelece que a cobrança judicial se estenda a toda dívida
ativa tributária ou não-tributária. A dívida ativa, conforme define o seu art. 2º.
consiste em crédito da Fazenda Nacional, de qualquer valor, cuja cobrança seja
atribuída por lei às entidades de que trata o seu art. 1º.
As partes no processo de execução fiscal são exequente e executado, e o
processo se inicia por meio de petição do exequente objetivando a satisfação do seu
direito, ou seja, o pagamento da dívida em dinheiro. Sem o pagamento do débito no
prazo legal, faz-se a penhora em bens do executado e a sua intimação desta para a
oposição de embargos a execução no prazo de 30 (trinta) dias. Transcorrido esse
prazo, a conversão desta em dinheiro efetua-se por meio de leilão, que é a
transferência da propriedade do bem para um terceiro adquirente. Esse
procedimento de transferência de propriedade ou alienação judicial sucede à
penhora. Desde que o executado devedor não se oponha à execução por meio de
embargos ou. ainda, pague o débito, o que extinguira o processo; em não havendo
oposição, o procedimento é automático: 1º - avaliação; 2º - publicação dos editais do
leilão; 3º - lavratura (em 24 horas após o leilão) do auto de arrematação; 4º - quando
se tratar de bem imóvel, o arrematante irá ao Cartório de Registro de Imóveis com a
Carta da Arrematação (desde que pago o imposto de transmissão), para efetuar a
transcrição.
Embora a lei n. 6830/80 seja uma lei com mais de 30 anos, alterada pelas
leis 11.960, de 2009, e 13.043, de 2014, há que se falar em inovações. Portanto,
abaixo segue as mesmas:
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1 - faculta que a certidão de dívida ativa seja preparada e numerada por


processo manual, mecânico ou eletrônico (art. 2º § 7°);
2 - a petição inicial será instruída com a certidão da dívida ativa, que dela
fará parte integrante, como se estivesse transcrita (art. 6º § 1º);
3 - a petição inicial e a certidão da dívida ativa poderão constituir documento
único, preparado até mesmo por processamento eletrônico (art. 6º § 2º);
4 - a produção de provas pela Fazenda Pública independerá de
requerimento na petição inicial (art. 6º § 3º);
5 - o valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos
legais (art. 6º § 4º);
6 - segundo o princípio da economia processual, evita a repetitiva “conclusão
dos autos”, para a prolação de despachos ordenatórios de autos cuja sequência é
óbvia e vai. Desde logo, implicitamente admitida no deferimento da inicial (art. 7º);
7 - a citação será por via postal (art. 8º);
8 - o prazo para pagar será de cinco dias (art. 8º);
9 - a citação será por edital para o réu ausente do país (art. 8º §1°);
10 - a competência para processar e julgar a execução da dívida ativa da
Fazenda Pública exclui a de qualquer outro juízo, inclusive o de falência, concordata,
liquidação, insolvência ou inventário (art. 5º);
11 - a faculdade de se garantir a execução, mediante depósito, fiança
bancária14 ou indicação à penhora de bens oferecidos por terceiros (art. 9º);
12 - a faculdade de se pagar parcela da dívida e garantir a execução pelo
saldo sobre o qual recai a controvérsia (art. 9º, § 6º);
13 - a intimação da penhora será feita mediante publicação na imprensa
oficial do ato da juntada de penhora aos autos (art. 12);
14 - a avaliação poderá ser efetuada pelo Oficial de Justiça (art. 13);
15 - o registro de penhora, independente do novo despacho, de mandado ou
de pagamento de custas ou de outras despesas, será efetuado mediante contra fé e
cópia de termo ou auto de penhora (art. 14);
16 - o prazo para os embargos será de trinta dias (art. 16);

14
De acordo com redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014, conta-se o prazo “oferecer fiança
bancária ou seguro garantia” (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13043.htm#art73).
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52

17 - haverá dispensa de audiência nos casos do art. 17, parágrafo único,


combinado com o art. 330 do CPC15;
18 - será realizada intimação de terceiro que ofereceu garantia para remição
ou pagamento (art. 18);
19 - na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo
deprecado, que os remeterá ao juiz deprecante, para instrução e julgamento (art.
20).
20 - elimina-se a distinção entre praça e leilão;
21 - estabelece-se o que já ocorre na praxe forense, com relação à
intimação do procurador (art. 25. parágrafo único);
22 - se antes da decisão de primeira instância for a inscrição cancelada,
extinguir-se-á a execução fiscal (art. 26);
23 - facultam-se as publicações dos atos processuais resumidamente ou
reunidas num só texto, referentes a diversos processos (art. 27);
24 - permite-se a reunião de processos contra um mesmo devedor (art. 28);
25 - a cobrança da dívida ativa não é sujeita a concurso de credores,
habilitação em falência, concordata, liquidação, inventário ou arrolamento (art. 29);
26 - nos processos de falência, concordata, liquidação, inventário,
arrolamento ou concurso de credores, nenhuma alienação será judicialmente
autorizada sem a prova de quitação da dívida ativa ou concordância da Fazenda
(art. 31);
27 - os depósitos serão feitos na Caixa Econômica Federal ou no banco
oficial do Poder Público (art. 32);
28 - será feita comunicação da decisão final contrária à Fazenda (art. 33);
29 - serão cabíveis embargos infringentes e de declaração às decisões em
execuções fiscais de valor igual ou inferior a 50 ORTN (ou padrão equivalente) (art.
34);
30 - dispensar-se-á revisor nas apelações (art. 35);
31 - dispensar-se-á a Fazenda Pública do pagamento de custas e de
emolumentos e a prática de atos de seu interesse independerá de preparo ou prévio
depósito (art. 39);

15
Atualizado, de acordo com a Lei nº 13.105, de 2015, para art. 355
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm).
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32 - suspender-se-á a execução enquanto não for localizado o devedor ou


encontrados bens penhoráveis (art. 40);
33 - durante o período de suspensão de que trata o item anterior não
ocorrerá a prescrição; e, sendo encontrado o devedor ou o bem, será determinado
pelo juiz o prosseguimento do feito (art. 40 § 3º). (BRASIL, 1980).

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REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS BÁSICAS

AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei nº 5. 172, de 25 de Outubro de 1966.
Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e Institui Normas Gerais de Direito
Tributário Aplicáveis à União, Estados e Municípios.
Alterada pela Lei Complementar nº 118, de 09 de fevereiro de 2005. Disponível em:
http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm
CAMPOS, Marcelo (org). Direito Processual Tributário. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2008.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 14 ed. revista e atualizada
São Paulo: Saraiva, 2002.
HARADA, Kioshi. Direito Financeiro e Tributário. 14 ed. São Paulo: Atlas 2005.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

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