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PSICOLOGIA HOSPITALAR

A criança e sua
dor: do L da cruz
ao V da Vida
Grupo
ANA JÚLIA CAETANO MEDEIROS
CÁSSIA GABRIELA FAGUNDES
DAVI ENÉIAS BORGES CARDOSO DE SOUSA
JUDITH MARIA DE JESUS HONÓRIO
JÚLIA DO CARMO LOPES DUMONT
MARIA CECÍLIA SILVA VERSIEUX MAGALHÃES
VITOR HELEONAY RODRIGUES COSTA
Influência dos
pais e alienação
O que os pais têm a dizer a respeito da
sintomatologia da criança?

Aposta narcísica sobre as crianças

É preciso escutar as crianças sem os


revestimentos das fantasias, ilusões e culpa dos
pais

Crianças alienadas frente a dependência da figura


adulta

A criança é autora do seu existir e se a escutarmos


ela se situará no discurso parental e sua própria
demanda surgirá
Qual o papel do
analista?
“Lugar de analista com criança, aquele ao qual podemos até ser convidados ao esquecimento,
a ser perdido sob a barra do recalque.”

Fatores do terapeuta Terapeuta/paciente Manejo da transferência e trabalho


terapêutico
Empatia. É fundamental na relação terapêutica Promover a regressão do paciente e a
Calor humano. a colaboração ativa entre o paciente repetição de elementos contidos nas
autenticidade. e o terapeuta. suas relações de objeto primitivas,
A estrutura e evolução da situação deslocando-as para a figura do analista
terapêutica facilitam o aparecimento A partir desse conflito transferencial
de reações transferenciais. reavivado que se induz o paciente a
buscar uma nova solução .
Silenciamento da
dor de crianças
Dor física x Dor psíquica Por que ocorre esse silenciamento da
dor?
“[...] na dor física predomina o
investimento de natureza narcísica, na Dificuldade de verbalizar ou nomear a
dor mental predomina o investimento dor;
libidinal do objeto, ou seja, o hiper Minimização da dor infantil;
investimento deste.” (SEMER, 2012)
Da dor de viver a castração a dor da
Nem as crianças estão imunes a dor; angústia e medo de morrer;

A dor é uma experiência subjetiva;


Transformação da dor:

Passa a ser expressões simbólicas;


Como lidar com crianças
hospitalizadas?
A hospitalização da criança costuma ser vivenciada por ela com grande
sofrimento psíquico potencializado pelo distanciamento da família, pela
submissão aos procedimentos e rotinas hospitalares e por lidar com a fantasia
ou o perigo real de morte.

hospitalização = experiência intrusiva

Para o hospital, muitas vezes, a criança é apenas um corpo que sofre.


Como lidar com crianças hospitalizadas?

Importância do BRINCAR
expressar e dominar a angústia
administrar a agressividade e destrutividade

A criança hospitalizada deve dispor de um brincar espontâneo e de


um acolhimento emocional.

“Quando uma criança ansiosa é tratada de maneira compreensiva, o que


geralmente significa uma observação inativa sem ansiedade por parte do
médico, o retorno à saúde pode, em muitos casos, ser acelerado”
(WINNICOTT)
Como lidar com crianças hospitalizadas?
Humanização

hospital acolhedor

A criança é um ser em desenvolvimento e como tal, pode não


estar preparada emocionalmente o bastante para lidar com a
experiência total de uma internação; portanto, a
hospitalização torna-se um evento traumático para ela e é
capaz de provocar um bloqueio no seu vir-a-ser.
Como lidar com crianças hospitalizadas?
percebe a criança hospitalizada além de um corpo que sofre,
Psicanálise porque compreende o adoecer de um ponto de vista
psicodinâmico.

O hospital cuida dos aspectos somáticos, a fim de curá-los o mais brevemente


possível. Desta forma, a instituição hospitalar sustenta ao paciente uma dinâmica
dissociada, concentrando-se nos aspectos físicos do caso.

É necessário um ambiente emocional acolhedor para a criança hospitalizada e a


Psicanálise pode contribuir para isso, pois tem outra lógica.

Psicanálise tem condições de oferecer um outro sentido àquilo que é percebido


apenas como rotineiro e como óbvio, pode acolher tanto a equipe de saúde
como a criança internada e seu acompanhante.
Como lidar com crianças hospitalizadas?

Psicanálise e o brincar
O brincar tomando por base a teoria psicanalítica é definido como forma de expressão
de conflitos, possibilidade de elaboração psíquica e experimentação.

O brincar envolve a espontaneidade e a criatividade, elementos característicos de um


viver criativo, também é autocurativo, terapêutico e configura-se como sinal de saúde.

A particularidade do brincar no hospital reside no manejo do setting construído nas


relações. A forma de olhar, de ouvir, de formular perguntas e de entrar no quarto da
criança delimitam a natureza dessa interação.

Brincar no hospital é uma forma da criança lidar criativamente com a sua realidade.
Análise do Caso
Alice
Breve descrição da Alice:

Características únicas: sensibilidade,


inteligência.

Múltiplas hospitalizações: problemas


respiratórios.

Jornada fascinante de autodescoberta.


Análise do Caso Alice
Tema Central da Análise:

Interpretação psicanalítica uma ferramenta


essencial na análise de Alice.

Interpretação que vai além da mera compreensão


lógica e busca provocar uma resposta emocional
profunda em Alice.

Análise dividida em três tempos:


- 1º tempo
- 2º tempo
- 3º tempo
1º tempo
A grafia enigmática de Alice:

Repetição de traço no 'l' de Alice.

Equívoco e questionamentos fundamentais.

A Interpretação da Analista:

Diálogo sobre o traço no 'l'.

Representação de uma cruz.

Reflexo de algo mais profundo.


1º tempo
A Angústia de Alice e o Enigma do "X":

Alice entra em um estado de angústia.

O papel crucial do analista na interpretação é tocar o ponto de angústia de


Alice e apresentar o enigma do "X".

A Ligação com a Mãe:

Preocupação com fantasias de morte.

Ideia de destino hereditário.

Manifestações do fantasma da mãe.


Expressões Criativas de Alice: 1º tempo
A criatividade de Alice é evidenciada quando ela usa sucata para criar
brinquedos.

Atos simbólicos, como cortar o cabelo e as roupas das bonecas, são expressões
de seu mundo interno, refletindo suas lutas e emoções.

Conclusão do 1º tempo:

Importância da interpretação na análise.

Aspectos profundos e enigmáticos da psique de Alice

Esse processo a leva a confrontar questões cruciais relacionadas à morte,


destino e herança, proporcionando insights valiosos para sua análise.
2º tempo
Jogo com as varetas e cruzes:

O jogo de varetas, aparentemente uma atividade lúdica,


serve como um espaço onde Alice pode expressar
inconscientemente seus conflitos e preocupações. A
contagem de pontos e a manipulação das varetas
revelam uma tentativa de encontrar ordem e significado
em sua experiência. No entanto, o verdadeiro significado
do jogo é simbólico. As varetas representam elementos
do mundo real que ela está tentando entender e
controlar.

As cruzes indicam uma carga emocional e simbolizam o


peso do real em sua vida, refletindo os problemas e
desafios que ela enfrenta. A aproximação da morte fala
de sua dor (física e psíquica) de existir.
Angústia e medo de morrer:
2º tempo
O medo de morte expresso por Alice é associado a uma cena no quarto com sua
família, onde percebe elementos simbólicos, como seu pai com uma mamadeira e
sua mãe com uma tesoura. Isso pode ser interpretado como uma representação
de sua ansiedade em relação à sexualidade, castração e ao corpo. A mamadeira
pode simbolizar o seio materno e a tesoura, a ameaça à sua integridade física e
identidade de gênero.

A cena do quarto com seu pai, irmã, irmão e mãe carregando uma tesoura
simboliza a ameaça percebida de castração e perda. Isso pode refletir a
ansiedade de Alice em relação à sua identidade e integridade pessoal.

Papel da mãe e do destino:


A mãe de Alice é representada como "DAS DING," o objeto estranho e ameaçador
que detém o destino. Isso reflete a influência da figura materna na psicodinâmica
de Alice. O medo da mãe representa a ansiedade em relação à figura materna e a
possível ameaça que ela representa para a identidade de Alice.
2º tempo

Fantasias de castração e sexualidade:

A referência às tesouras e a associação com o medo de


perder seu cabelo e a castração sugerem que Alice está
lidando com questões relacionadas à sua sexualidade e à
identificação de gênero. Ela posteriormente encena cenas
sexuais com bonecas, o que é uma expressão de suas
fantasias e preocupações nessa área.
2º tempo
Cruzes como símbolo de morte:
A declaração de que "a gente fica só uma cruz" indica uma
compreensão da mortalidade. Isso pode refletir o medo da
morte que Alice está enfrentando e a dificuldade em lidar
com o conceito de finitude.

Manipulação de letras e varetas:


Ao brincar com letras e varetas, Alice está tentando criar
uma narrativa ou sentido a partir de elementos
aparentemente caóticos. Ela sugere que ao modificar o "l"
do seu nome, pode se tornar um "V" da vida, o que pode
representar uma tentativa de encontrar um significado
positivo e vital na vida, apesar de seus medos e ansiedades.
2º tempo
Convite à analista:
O choro de Alice seguido de sua aproximação silenciosa à
analista indica a busca por consolo e segurança.
Isso pode sugerir um desejo de apoio emocional e proteção.
O convite implícito à analista para "desarmar o destino"
sugere a necessidade de explorar essas questões de forma
terapêutica. Alice busca entender e controlar seu destino, e
a psicanálise oferece um espaço para desvendar os
significados subjacentes e lidar com seus conflitos internos.

O caso destaca a complexidade dos conflitos internos de Alice,


revelando a presença de ansiedades, medos e desejos ocultos.
Através do uso de símbolos e jogos, Alice expressa sua luta
para encontrar um senso de identidade e segurança emocional.
3º tempo
Significado original do nome de Alice com o "I" da cruz.

Descrição do simbolismo das "flores negras, flores da morte"..

Análise do momento em que Alice utiliza o termo "dô" de forma


ambígua.

Discussão sobre a interpretação da Analista e a resposta


enigmática de Alice.
3º tempo
Alice assume o papel de professora, ensinando sobre notas
musicais.

Exploração da relação entre letras, fonemas e notas musicais na


narrativa

Discussão sobre a marca da cruz como símbolo de dor.

Como a análise transforma essa dor em poesia e música,


representadas no refrão
3º tempo
A referência à "cruz" simboliza a dor e a morte, enquanto a
transformação do nome "Dolores" em "flores" indica uma
mudança de perspectiva, resignificando a dor em algo mais
bonito e poético.

Vale ressaltar que a Alice/ O sujeito se encontrava petrificada


nos significantes dor e morte.

E que agora há um deslizamento do sujeito pela discurso.

A fala de Alice faz ligar a angústia a pulsão de vida.

Desta forma, Alice parece estar usando a criatividade para lidar


com suas experiências dolorosas, encontrando significado e
expressão através da música e da poesia.
Conclusão
Nesse sentido, concluímos que houve uma inversão de significantes
primários na vida de Alice. As questões de origem, morte/vida que são
centrais na vida das crianças, aparecem de forma determinante em sua
vida. Mas a partir da análise, a menina consegue se situar no discurso
parental e consequentemente construir sua própria demanda. Através da
simbologia de sua escrita, Alice substitui a angústia e a influência do
discurso materno (L da cruz), pela construção de sua própria identidade
(V da vida). Isso ilustra a importância do analista na medida em que
possibilita voz e narrativa à criança, permitindo que ela lide com os
temores familiares e individuais.
Referências
CABRAL, MARIA DOLORES LUSTOSA. A CRIANÇA E SUA DOR: DO L DA CRUZ AO V DA
VIDA. IN: PSICOLOGIA E HOSPITAL: A CRIANÇA E SUA DOR. REVINTER: RIO DE JANEIRO,
1999

FERRARI, ANDREA GABRIELA. SINTOMA DA CRIANÇA, ATUALIZAÇÃO DO PROCESSO


CONSTITUTIVO PARENTAL?. TEMPO PSICANAL., RIO DE JANEIRO , V. 44, N. 2, P. 299-
319, DEZ. 2012 . DISPONÍVEL EM <HTTP://PEPSIC.BVSALUD.ORG/SCIELO.PHP?
SCRIPT=SCI_ARTTEXT&PID=S0101-48382012000200004&LNG=PT&NRM=ISO>. ACESSOS
EM 29 OUT. 2023.

OLIVEIRA, MÁRCIA CAMPOS DE; MATTIOLI, OLGA CECILIATO. HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL:


O BRINCAR COMO O ESPAÇO DE SER E FAZER. DISPONÍVEL EM:
HTTPS://WWW2.ASSIS.UNESP.BR/ENCONTROSDEPSICOLOGIA/ANAIS_DO_XIX_ENCONTRO/
96_MARCIA_CAMPOS_DE_OLIVEIRA.PDF. ACESSO EM: 29 OUT. 2023.

SEMER, NORMA LOTTENBERG. DOR E SOFRIMENTO PSÍQUICO: UMA REFLEXÃO SOBRE AS


RELAÇÕES E REPERCUSSÕES ENTRE CORPO E MENTE. REVISTA BRASILEIRA DE
PSICANÁLISE , V. 3, PÁG. 188-199, 2012.

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