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Objetivos de aprendizagem
- reconhecer os sinais de gravidade numa avaliação inicial
- compreender a avaliação diagnóstica dos principais diagnósticos diferenciais
- conhecer a abordagem terapêutica inicial sindrômica
Dor de parede DOR SOMÁTICA Dor bem localizada, agravando-se com o movimento do
Lesões de pele (herpes zoster, equimoses e tronco, a postura ereta prolongada e a palpação local. O
abdominal hematomas em anticoagulados, cicatrizes), paciente encontra-se em posição antálgica, apresentando
herniações e dores musculares. espasmo da musculatura da região acometida.
Mecanismos de dor abdominal.
ORIGEM TIPO DE DOR | SIGNIFICADO CLÍNICA
Dor referida DOR VISCERAL e/ou NEUROPÁTICA • Dor localizada no andar superior do abdome, considerar
Dor causada por uma lesão ou disfunção dos a possibilidade de doença intratorácica (pneumonia de
no abdome nervos periféricos ou das raízes nervosas, ou base, isquemia miocárdica, derrame pleural).
pelo processamento anormal dos sinais da • Dor de origem na coluna vertebral por compressão ou
dor pelo cérebro e pela medula espinhal. irritação de raízes nervosas, agrava-se aos movimentos,
Frequentemente, a dor obedece um padrão principalmente vigorosos, realizados contrarresistência.
de localização compatível com o dermátomo • Cólica nefrética, dor de forte intensidade, intermitente,
acometido nos quadros de hiperestesia. irradiada da região lombar para flancos e região genital.
Com frequência associa-se a náuseas e vômitos.
Mecanismos de dor abdominal.
ORIGEM TIPO DE DOR | SIGNIFICADO CLÍNICA
Distúrbios vasculares DOR VISCERAL A dor por distúrbios vasculares apresenta discrepância em
Dor causada por comprometimento do fluxo relação ao exame físico. Quando o colapso vascular torna-
sanguíneo esplâncnico, levando a isquemia se definitivo, a dor modifica suas características passando
na altura dos plexos nervosos geradores dos a ser contínua, intensa, acompanhada por sinais de
estímulos dolorosos. irritação peritoneal e repercussões sistêmicas que podem
evoluir para o choque. Outros sinais e sintomas podem
sugerir o comprometimento vascular:
• Aneurisma de ilíacas ou bifurcação da aorta, claudicação
intermitente, redução de pulsos dos membros inferiores.
• Aneurisma de artéria renal, dor lombar e nos flancos,
hipertensão arterial de difícil controle e hematúria.
• Ruptura ou dissecação de aneurisma da aorta abdominal,
dor abdominal intensa com irradiação sacral ou genital.
Metabólica DOR VISCERAL Esse tipo de dor pode simular doenças intra-abdominais.
Mecanismos diversos, como níveis elevados Principais condições relacionadas: cetoacidose diabética,
de prostaglandinas. saturnismo e uremia.
Considerações a respeito do exame clínico em linhas gerais.
‒ Início da dor.
Anamnese ‒ Classificação da dor.
‒ Fatores de melhora e de piora da dor.
‒ Evolução clínica da dor.
‒ Modificação do padrão da dor abdominal.
‒ Atenção para a fase do ciclo menstrual e o passado gineco-obstétrico da paciente.
Inspeção Distensão e contratura abdominal, peristaltismo de luta, cicatrizes, hérnias e alterações cutâneas.
Exame físico
Ausculta Ruídos aéreos com timbre metálico coincidentes com a dor indicam obstrução intestinal.
Peristalse ausente ou muito reduzida sugere viabilidade comprometida das alças.
Quadro de dor em quadrante inferior esquerdo do abdome, distensão abdominal moderada, febre e
Diverticulite parada de eliminação de fezes.
Nos casos de perfuração do divertículo ocorre pneumoperitôneo com sinais clínicos e/ou radiológicos
(sinal de Rigler).
A colonoscopia encontra-se contraindicada em alguns dos casos.
A tomografia contrastada de abdome com contraste venoso, podendo ser complementada por
administração oral e retal de contraste, é o teste de escolha para confirmação de uma suspeita de
diverticulite. O achado de infiltração da gordura pericólica é diagnóstico, bem como o espessamento
da parede do cólon e a formação de abscessos.
O tratamento é preferencialmente clínico com sintomáticos e antibioticoterapia.
Drenagem de abscessos maiores que 5cm de diâmetro está indicada, guiada por método de imagem.
Abdome agudo perfurativo.
Trata-se de um quadro caracterizado por dor súbita e intensa, associada a potente defesa abdominal (abdome em tábua) e irritação peritoneal
por extravasamento do conteúdo gastrointestinal na cavidade peritoneal. Quanto mais alta a secreção gastrointestinal, mais lesiva ao
peritônio. A irritação peritoneal oriunda de material fecal apresenta um quadro mais arrastado em comparação àquelas que ocorrem acima do
ângulo de Treitz.
Etiologia Perfurações relacionadas a úlcera péptica gastroduodenal, diverticulite, corpos estranhos, fístulas e neoplasias.
Conduta A radiografia simples do abdome em AP é muito útil, tanto em ortostatismo quanto em decúbito dorsal, para avaliação
da possibilidade de pneumoperitôneo. A presença de ar sob a hemicúpula diafragmática direita (estudo em ortostatismo
de tórax PA ou de abdome AP) ou a presença de ar fora da luz intestinal, delineando a parede das alças distendidas de
delgado (sinal de Rigler na radiografia em decúbito).
Laparotomia exploradora ou videolaparoscopia, se o paciente estiver hemodinamicamente estável.
Mantém-se inibidor de bomba de prótons por 60 dias e erradica-se Helicobacter pylori caso seja positivo.
Colonoscopia.
Orifícios colônicos de divertículos.
Pneumoperitônio (seta).
Sinal de Rigler (ar entre
a parede intestinal,
promovendo seu
delineamento)
Abdome agudo obstrutivo.
Nas fases iniciais da obstrução das vísceras ocas há aumento do peristaltismo na tentativa de vencer a área estenosada. Em se tratando do
trato gastrointestinal, a dor é em cólica, geralmente periumbilical. As ondas peristálticas acentuadas produzem ondas terciárias responsáveis
por náuseas e vômitos, que evoluem de alimentares, bilosos a fecaloides, conforme o nível da obstrução intestinal. Por sua vez, à medida em
que ocorre o comprometimento efetivo do peristaltismo, instalam-se distensão abdominal e parada da eliminação de flatos e fezes.
Quanto mais distal o nível da obstrução, maior a distensão abdominal e mais tardios são os vômitos.
Um quadro grave, presente no volvo e na obstrução por neoplasia retossigmoideana com válvula ileocecal contingente, é a obstrução em alça
fechada, que acarreta isquemia e ruptura da alça acometida.
Conduta As radiografias de abdome em AP em ortostatismo e em decúbito dorsal podem auxiliar na identificação da altura da
obstrução do trato gastrointestinal pela análise da disposição dos níveis hidroaéreos: no centro do abdome, delgado; e
na periferia do abdome, intestino grosso.
O tratamento do abdome agudo obstrutivo baseia-se em 3 pilares:
• Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos.
• Descompressão intestinal (sonda nasogástrica, colostomia).
• Remoção do fator mecânico.
Obstrução intestino grosso Obstrução intestino delgado
Abdome agudo vascular.
O quadro clínico é de dor abdominal difusa e mal definida, havendo desproporção entre a dor e os achados de exame físico. As causas mais
comuns são embolia ou trombose do tronco da artéria celíaca, artérias mesentérica superior e inferior, trombose de veia porta ou da veia
mesentérica com isquemia intestinal e necrose. Nessa fase os pacientes apresentam distensão abdominal importante, taquipneia e
enterorragia.
A história pregressa dos pacientes é positiva para tabagismo, eventos isquêmicos, arritmias, diabetes mellitus e dor abdominal pós-prandial.
Os pacientes evoluem rapidamente com distúrbios hdroeletrolíticos, desidratação, hipotensão, elevação de lactato e choque.
Conduta A tomografia de abdome permite investigar etiologias como trombose venosa, arterial e embolia. O espessamento das
paredes das alças, por edema da parede intestinal, e/ou ascite, de volume variável, por exsudação de líquido das alças
isquemiadas. A angiografia é o exame padrão ouro para isquemia aguda, pois confirma o diagnóstico e a etiologia.
O tratamento é reservado e envolve revascularização cirúrgica ou angioplastia (com ou sem stent). Nos casos agudos, é
necessária a estabilização hemodinâmica antes do tratamento é cirúrgico. Durante a cirurgia, caso se constate que o
intestino necrosou, é necessária ressecção da parte necrosada. Caso a etiologia seja trombose venosa, o paciente precisa
ser trombolisado.
Isquemia mesentérica. [1] À esquerda, tomografia computadorizada mostrando o intestino delgado dilatado com paredes afinadas
(seta preta), mostrando características da isquemia do intestino devido a trombose da veia mesentérica superior. [2] À direita,
registro peroperatório de isquemia de alças de intestino delgado.
Abdome agudo hemorrágico.
A hemorragia pode ocorrer intrabdominal e retroperitoneal. O paciente apresenta dor intensa e dor à descompressão súbita, associada a
sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese), evoluindo para choque. O abdome deve ser investigado quanto à
existência de massas abdominais pulsáteis.
Atenção especial deve ser dada a pacientes com dor abdominal em tratamento com anticoagulantes e história família positiva para discrasias
sanguíneas. Nas mulheres em menacme deve-se dosar beta-HCG na avaliação da hipótese de gravidez tubária rota.
Gravidez ectópica rota, ruptura de cistos, hemangiomas, aneurismas e de vísceras parenquimatosas (fígado e baço), o
Etiologia que também pode ocorrer de forma espontânea.
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Cirurgia convencional ou laparoscópica Cirurgia convencional Cirurgia convencional
Conduta conservadora na pancreatite ou laparoscópica ou endovascular*
aguda e diverticulite não complicada
Abordagem para diagnóstico da dor abdominal.
Dor crônica A maioria dos pacientes com dor abdominal crônica tem um distúrbio funcional benigno, como síndrome do
intestino irritável ou dispepsia funcional.
À anamnese deve-se observar algumas características que sugerem doença orgânica como perda de peso,
desnutrição, caquexia, febre, anemia ou perda de sangue macroscópica por via gastrointestinal.
Exames laboratoriais: Hemograma, eletrólitos, ureia, creatinina, glicemia, ionograma, perfil do ferro, provas
de função hepática e marcadores tumorais específicos, conforme a suspeita clínica.
Ultrassom de abdome, elastografia hepática, tomografia de abdome, endoscopia digestiva alta, ressonância
nuclear magnética (principalmente de patologias hepáticas), colangiografia retrógrada, laparoscopia
propedêutica e biópsia hepática ou de lesões identificadas aos demais métodos de investigação diagnóstica.