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Contudo, é importante lembrar que a intensidade da dor não necessariamente mantém correlação
direta com a gravidade da doença subjacente.
A dor da inflamação peritoneal sempre é agravada por compressão ou por alterações na tensão do
peritônio, alterações essas produzidas por palpação ou por algum movimento, como a tosse ou o
espirro. O paciente com peritonite caracteristicamente permanece deitado quieto no leito,
preferindo evitar movimentos, diferentemente do paciente com cólica, que pode se contorcer em
razão do desconforto.
Outro aspecto típico da irritação peritoneal é o espasmo reflexo tônico da musculatura abdominal,
localizado no segmento corporal afetado. Sua intensidade depende da integridade do sistema
nervoso, da localização do processo inflamatório e da velocidade em que ocorre. O espasmo sobre
um apêndice retrocecal perfurado ou sobre uma perfuração no saco peritoneal menor pode ser
mínimo ou estar ausente, em razão do efeito protetor das vísceras sobrejacentes. Emergências
abdominais catastróficas podem estar associadas a dor ou espasmo muscular mínimos ou
indetectáveis em pacientes embotados, gravemente enfermos, debilitados, imunossuprimidos ou
psicóticos. Em processos de evolução lenta, muitas vezes o espasmo muscular também se
encontra bastante atenuado.
A distensão súbita da árvore biliar provoca um tipo de dor mais constante do que em cólica; logo,
o termo cólica biliar é enganoso
A distensão aguda da vesícula biliar geralmente acarreta dor no quadrante superior direito, com
irradiação para a região posterior direita do tórax ou para a ponta da escápula direita, mas
também não raramente é encontrada próxima da linha média.
Uma dilatação gradual da árvore biliar, como pode ocorrer no carcinoma da cabeça do pâncreas,
pode não causar dor ou apenas produzir uma sensação incômoda leve no epigástrio ou no
hipocôndrio direito. A dor da distensão dos ductos pancreáticos assemelha-se à descrita para a
distensão do colédoco, mas, além disso, é frequentemente acentuada em decúbito e aliviada pela
posição ereta
A obstrução da bexiga geralmente causa dor surda de baixa intensidade na região suprapúbica.
Inquietude sem queixa específica de dor pode ser o único sinal de distensão vesical em paciente
obnubilado. Por outro lado, a obstrução aguda da parte intravesical do ureter caracteriza-se por
dor intensa na região suprapúbica e no flanco que se irradia para o pênis, a bolsa escrotal ou a
face medial da parte superior da coxa. A obstrução da junção ureteropélvica manifesta-se com dor
no ângulo costovertebral, enquanto a obstrução das demais regiões do ureter está associada a dor
no flanco, que muitas vezes se estende ao mesmo lado do abdome.
Distúrbios vasculares
Um equívoco frequente é considerar que a dor causada por distúrbios vasculares intra-abdominais
tenha caráter súbito e catastrófico. Determinados processos de doença, como embolia ou
trombose da artéria mesentérica superior ou ruptura iminente de aneurisma da aorta abdominal,
podem certamente estar associados a dor intensa e difusa. Porém, com igual frequência, o
paciente com obstrução da artéria mesentérica superior se apresenta apenas com dor difusa e
leve, contínua ou em cólica, 2 ou 3 dias antes do aparecimento de colapso vascular ou de achados
de inflamação peritoneal.
De fato, a ausência de dor à palpação e de rigidez abdominal na presença de dor difusa e contínua
(p. ex., “dor desproporcional aos achados no exame físico”) em paciente com provável doença
vascular é bastante característica de obstrução da artéria mesentérica superior.
A dor abdominal com irradiação para região sacra, flanco ou genitália deve sempre sinalizar ao
médico a possibilidade de ruptura de aneurisma da aorta abdominal. Essa dor pode persistir por
vários dias antes que a ruptura e o colapso ocorram
Parede abdominal
doenças da parte superior da cavidade abdominal, como colecistite aguda ou úlcera perfurada,
podem estar associadas a complicações intratorácicas. Um aforismo de suma importância, porém
muitas vezes esquecido, diz que, em todo paciente com dor abdominal, deve-se considerar a
possibilidade de doença intratorácica, sobretudo quando a dor se localiza no abdome superior.
A palpação da região com dor referida no abdome não costuma acentuar a dor e, em muitos
casos, parece até aliviá-la.
A dor de origem metabólica pode simular quase todos os tipos de doença intraabdominal.
Diversos mecanismos podem atuar. Em certas situações, como na hiperlipidemia, a própria doença
metabólica pode ser acompanhada de um processo intra-abdominal, como pancreatite, que, a
menos que seja identificado, pode levar a uma laparotomia desnecessária. A deficiência do
inibidor de C1 esterase associada a edema angioneurótico está frequentemente relacionada com
episódios de dor abdominal intensa. Toda vez que a causa da dor abdominal for obscura, deve-se
considerar a possibilidade de origem metabólica. A dor abdominal também é uma das marcas da
febre familiar do Mediterrâneo
Em geral, é difícil distinguir a dor da porfiria e da cólica saturnina daquela causada por obstrução
intestinal, visto que o hiperperistaltismo intenso é uma característica proeminente de todas
IMUNOCOMPROMETIDOS
Nessas circunstâncias, as respostas fisiológicas normais podem estar ausentes ou ocultas. Além
disso, infecções incomuns podem causar dor abdominal tendo como agentes etiológicos
citomegalovírus, micobactérias, protozoários e fungos
Todos esses patógenos podem afetar os órgãos gastrintestinais, incluindo vesícula biliar, fígado e
pâncreas, assim como o trato gastrintestinal, onde podem causar perfuração oculta ou
francamente sintomática. Também se deve considerar a possibilidade de abscesso esplênico
causado por infecção por Candida ou Salmonella, especialmente ao se investigar pacientes com
dor no quadrante superior esquerdo ou no flanco esquerdo.
CAUSAS NEUROGÊNICAS
As doenças com lesão de nervos sensitivos podem causar causalgia. Essa dor tem caráter em
queimação e geralmente limita-se à distribuição de determinado nervo periférico. Embora a dor
possa ser precipitada por palpação suave, não há rigidez dos músculos abdominais, e a respiração
não é afetada. A distensão do abdome é incomum, e a dor não apresenta relação com a ingestão
de alimentos.
A dor que se origina de nervos ou raízes espinais aparece e desaparece subitamente, sendo do
tipo lancinante (Cap. 22). Pode ser causada por herpes-zóster, compressão por artrite, tumores,
hérnia de núcleo pulposo, diabetes ou sífilis. Não está associada a ingestão de alimentos,
distensão abdominal ou alterações na respiração. O espasmo muscular intenso, como o observado
nas crises gástricas do tabes dorsalis, é comum, sendo, porém, aliviado ou, ao menos, não
agravado pela palpação do abdome. A dor é agravada pelo movimento da coluna vertebral e, em
geral, limita-se a poucos dermátomos. A hiperestesia é muito comum.
Dor abdominal
São poucos os distúrbios abdominais que exigem intervenção cirúrgica tão urgente a ponto de ser
necessário abandonar uma abordagem sistemática, independentemente do quanto o paciente
esteja enfermo. Apenas os pacientes com hemorragia intraabdominal exsanguinante (p. ex.,
ruptura de aneurisma) devem ser levados imediatamente à sala de cirurgia
O uso de narcóticos ou analgésicos não deve ser retardado até que se tenha estabelecido o
diagnóstico definitivo ou elaborado um plano final; é improvável que a analgesia adequada
obscureça o diagnóstico.
Na mulher, uma história menstrual precisa é imprescindível. É importante lembrar que as relações
anatômicas normais podem estar significativamente alteradas no útero gravídico. A dor abdominal
e pélvica pode ocorrer durante a gravidez em razão de quadros que não requerem cirurgia.
Finalmente, alguns resultados laboratoriais que em outras condições seriam significativos (p. ex.,
leucocitose) podem ser resultantes de alterações fisiológicas normais durante a gestação
Os sinais abdominais podem estar prática ou totalmente ausentes nos casos de peritonite pélvica,
de modo que um exame pélvico e toque retal cuidadosos são imprescindíveis em todo paciente
com dor abdomina
Podem ocorrer tragédias, como uma obstrução do intestino delgado com estrangulamento ou
apendicite perfurada, na presença de peristalse normal. Por outro lado, quando a parte proximal
do intestino acima da obstrução torna-se acentuadamente distendida e edematosa, os ruídos
peristálticos podem perder as características de borborigmo, tornando-se fracos ou inaudíveis,
mesmo quando não há peritonite