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PERCEPÇÃO DA EQUIPE OBSTÉTRICA SOBRE O PAPEL DO PSICÓLOGO

HOSPITALAR EM UM CENTRO OBSTÉTRICO DO DF

Perception Obstetrical Team on the Role of Psychologist in a Hospital Center of Obstetric

DF

Alessandra da Rocha Arrais1


Naraiana Oliveira da Silva2
Sílvia Renata Magalhães Lordello3

Recebido em: 8 out. 2014


Aceito em: 10 dez. 2014

RESUMO: Este estudo teve como objetivo conhecer a percepção da equipe de saúde
obstétrica sobre o trabalho desenvolvido pelo psicólogo hospitalar no centro obstétrico – CO,
além de verificar se a equipe reconhece as potencialidades e limites da equipe de psicologia e
avaliar a inserção desse profissional na equipe. Trata-se de uma pesquisa quantitativa,
exploratória, transversal realizada em um hospital público do Distrito Federal, cujos sujeitos
foram trinta e um profissionais de saúde, entre eles: enfermeiros, enfermeiros obstetras,
técnico de enfermagem, residente de enfermagem, auxiliar de enfermagem, médicos obstetras
e pediatras, residente de medicina, nutricionistas, técnico de nutrição, técnico administrativo e
estagiários de diversas áreas da saúde. Os dados foram coletados através de questionário
semi-estruturado, auto-aplicativo e utilizado para a análise de estatística simples. Concluiu-se
que os profissionais de saúde têm conhecimento sobre a atuação do psicólogo hospitalar num
centro obstétrico, reconhecem a relevância para os aspectos subjetivos das pacientes e
identificam sua importância no processo de trabalho de parto e parto. Entretanto, a solicitação
do auxílio do psicólogo é restrito aos momentos que desafiamos limites profissionais da
equipe, quando se percebem impotentes, como nos casos de anomalias fetais, óbito fetal,
morte materna, entre outras intercorrências. Destaca-se ainda, a relevância da continuação da
pesquisa nessa área, para enfatizar o sentido da atuação psicológica num centro obstétrico e na
consolidação de sua inserção na equipe de saúde.
Palavras-chaves: Psicólogo Hospitalar. Psicologia Obstétrica. Centro Obstétrico. Trabalho
de Parto. Parto.

ABSTRACT: This study aimed to understand the perception of obstetric health care
team about the work of the psychologist in a hospital obstetric unit - CO, and verify that
the staff recognizes the potential and limits of psychology team and evaluate the
insertion of a trader in team. This is a quantitative cross-sectional, exploratory study,

1
Psicóloga. Doutora em psicologia, Especialista em Psicologia da Saúde e Intervenção Terapêutica, Psicóloga da
Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, Professora da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS),
Brasília, DF. Autora responsável para correspondência: alearrais@gmail.com
2
Psicóloga. Graduada pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, DF.
3
Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica e Cultura, Psicóloga da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito
Federal, Professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, DF.

RIES, ISSN 2238-832X, Caçador, v.3, n.2, p. 49-67, 2014.


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conducted in a public hospital of the Federal District, whose subjects were thirty-one
health professionals, including: nurses, midwives, nurse technician, resident of nursing,
nursing assistant, obstetricians and pediatricians, medical resident, nutritionists,
nutrition technician, administrative and technical trainees from different areas of health.
Data were collected through semi-structured, self-application and used for statistical
analysis of simple questionnaire. It was concluded that health professionals have known
about the role of the psychologist in a hospital obstetric unit, acknowledge the relevance
to the subjective aspects of patients and identify their importance in the labor and
delivery process. However, the request for aid the psychologist is restricted to moments
that challenge professional boundaries of the team when they perceive themselves
powerless, as in cases of fetal anomalies, fetal death, maternal death, among other
complications. Moreover, we highlight the importance of continued research in this
area, to emphasize the sense of psychological performance in an obstetric unit and the
consolidation of its inclusion in the health team.
Keywords: Psychologist Hospital. Obstetric Psychology. Obstetric Center. Labor.
Delivery.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, já é possível encontrar muitos escritos a respeito da atuação de


psicólogos em hospitais, principalmente em relação a seu papel, que geralmente está
associado a ajudar pacientes e acompanhantes a lidarem com suas doenças e hospitalização
(SIMONETTI, 2004). Porém, a literatura torna-se escassa quando se trata da atuação do
psicólogo hospitalar aplicada à obstetrícia, especialmente quando este profissional atua em
um Centro Obstétrico - CO. Na nova área de psicologia obstétrica, assim denominada por
Bortoletti (2007), é mais comum encontrarmos livros e artigos que tratam a respeito do papel
do psicólogo durante o acompanhamento na gestação, durante o pré-natal e/ou no pós-parto,
nos casos que evoluiram para depressão pós-parto ou que necessitaram das UTIs Neonatais
(MOURÃO, ARRAIS, 2013). Porém, não há muito conhecimento disponível sobre como este
profissonal pode atuar em um CO., durante os trabalhos de parto, parto e suas intercorrências.

Observamos uma lacuna teórica existente na literatura disponível na área da


psicologia aplicada à obstetrícia, quanto à sistematização de protocolos de atuação do
psicólogo neste setor. Em nossa busca bibliográfica, não encontramos sequer um artigo que
abordasse o papel do psicólogo, num CO., durante o trabalho de parto e parto, a maioria deles
se concentra na atuação no pré-natal ou no aleitamento. Pouco também se fala sobre o
atendimento à morte na maternidade. O óbito perinatal aparece basicamente em artigos sobre
a atuação nas UTIs Neonatais (UTINs) (Mourão, Arrais, 2013).

Pretendemos com este trabalho, compartilhar com os psicólogos hospitalares nossa

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experiência de quatro anos de trabalho em um CO. de um maternidade pública de Brasília.


Assim, o presente artigo irá descorrer sobre as intervenções psicológicas implantadas e
realizadas nesse setor, além de demonstrar a percepção da equipe de saúde obstétrica da
referida maternidade sobre o trabalho desenvolvido pela psicologia no CO.

2 CONDUTAS DO PSICÓLOGO HOSPITALAR NO CENTRO OBSTÉTRICO

Este trabalho é resultado da experiência de quatro anos de atuação no CO de uma


grande maternidade pública de Brasília, desde o ano de 2011. Pretende-se expor a rotina de
assistência psicológica construída neste setor, as quais pressupõem uma prática humanizada
de atendimento. Para tanto, abordaremos os desafios de um serviço de obstetrícia, assim como
questões que permeiam a internação de gestantes, parturientes, puérperas e neonatos e as
difuculades de inserção na equipe obstétrica.

A partir de um enfoque da psicologia hospitalar, apresentaremos uma proposta de


atuação para psicólogos que atuam ou pretendem atuar na área da obstetrícia, especialmente
com trabalhos de parto e parto, que foi construído por nós, que favoreceu a estruturação de
nossa atuação neste setor específico.

É importante ressaltar que a demanda para a atuação do psicólogo nesta instituição


partiu da diretoria que nos deu total liberdade para atuarmos no CO, solicitando que
implantássemos o serviço de psicologia nesse setor, pois em 52 anos de existência da
maternidade, o CO nunca havia contado com o trabalho exclusivo de psicólogos para as
parturientes e puérperas, durante trabalho de parto e parto. Portanto a presença constante de
um psicólogo neste setor era “novidade” para a maioria dos membros da equipe.

Em uma maternidade é mais trabalhoso construir a demanda e fazer com que as


pessoas percebam que ela existe a partir de cada paciente, principalmente porque a maioria
das pacientes atendidas neste setor “não está doente, apenas grávida”, e as pessoas não
costumam considerar que haja sofrimento no ciclo gravídico-puerperal (MOURÃO, ARRAIS,
2013), afinal este seria um processo natural e instintivo e a chegada de um bebê só pode trazer
alegrias.

Segundo Arrais e Mourão (2013), há poucos casos para os quais a equipe de


psicologia é solicitada a acompanhar, geralmente para os casos em que os bebês têm alguma
má formação, alguma deficiência, ou quando há alguma intercorrência decorrente dos partos,

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ou ainda em casos de aborto e óbitos, pois o sofrimento das mães e da própria equipe fica
mais evidente nestas situações. Raramente somos chamadas para intervir de forma a
proporcionar a psicoprofilaxia das gestantes e puérperas. No entanto, ao longo do trabalho
desenvolvido neste setor, foi ficando claro ser de grande relevância a atuação do psicólogo na
obstetrícia, pois o psicólogo hospitalar em um CO. deve trabalhar com os aspectos
biopsicossociais, realizando atendimentos psicoterápicos diversos, discussão de casos,
orientações terapêuticas, supervisão de parto e manejo da dor, protocolo de luto e
encaminhamentos. Porém, nos deparamos com pouco respaldo teórico para nossa atuação.

Apresentetaremos a seguir, as principais atividades que podem ser desenvolvidas


pelo psicólogo em um CO, baseados na nossa prática e na articulação teórica com a literatura
pequisada.

2.1 Acompanhamento psicológico durante o trabalho de parto e parto para alívio não

farmacológico da dor

O parto, por mais que seja um momento crítico na vida da mulher, pode ser uma
experiência única. Mas para ter satisfação no parto, é fundamental a gestante fazer sua escolha
fundamentada em suas crenças e seus valores, sendo esclarecida sobre os procedimentos que
irá enfrentar.

Quando se trata de parto normal, existem técnicas não farmacológicas de alívio da


dor que auxiliam nesse longo processo: banho quente, massagem, exercícios de respiração,
deambulação, posições específicas, exercícios sobre a bola e sobre o “cavalo” fisioterápico,
entre outros (MARTINHO, 2011). Esses recursos podem ser utilizados por psicólogos como
também por outros membros da equipe, como as enfermeiras obstetras e as doulas.

O alívio da dor não é o único fator que deve ser levado em conta ao considerar o
cuidado e o conforto no trabalho de parto. Dessa forma, o psicólogo verifica o nível
ansiogênico positivo e negativo da parturiente, mediante avaliações e orientações terapêuticas
no trabalho de parto e com foco no parto. Sua atuação tem por objetivo realizar uma
contenção do estado psíquico da parturiente, que propicie uma ressignificação de suas dores.
Assim, a intervenção contribui para a redução da ansiedade e para seu empoderamento
(SIMONETTI, 2004).

Quando se trata de parto cesáreo, o atendimento psicológico envolve esclarecimento

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à mãe sobre os procedimentos a serem realizados relacionados ao processo cirúrgico. Esse


esclarecimento envolve a anestesia, posição e como agir e ainda inclui orientações sobre a sua
permanência no bloco cirúrgico após a cirurgia.

Nesse atendimento, o psicólogo deve utilizar gravuras que demonstrem algumas


etapas da cesárea, auxiliando nas desmistificações de mitos e na redução da ansiedade. O
intuito é de qualificar a voz da gestante, focalizando a constituição do significado da
experiência do nascimento para as mulheres e homens envolvidos na reprodução.

2.2 Atendimento psicológico em casos de prematuridade e malformação fetal

O nascimento de uma criança pré-termo ou com diagnóstico de malformação é


consecutivamente seguida de angústia por parte das parturientes e seus familiares.

No caso de prematuridade, ou seja, idade gestacional inferior à 37 semanas, o


psicólogo realizará uma intervenção visando tranquilizá-las e orientá-las diante de uma
possível internação do concepto na UTI neonatal (UTIN).

Para Lopes (2004), o psicólogo deverá facilitar os contatos iniciais dos pais com o
seu bebê, oferecendo informações sobre a sua saúde, os cuidados que irá receber e o direito
que lhes assiste de estar junto ao seu filho, bem como seus familiares, estimulando a
vinculação afetiva ou preparando para possíveis sequelas e/ou até o óbito.

No caso de anormalidade do bebê, as intervenções do psicólogo podem ser propostas


desde o pré-natal, nas situações em que os casais tomam conhecimento do diagnóstico do
concepto (GOMES, 2007).

Bortoletti, Silva e Tirado (2007) ressaltam que os objetivos do psicólogo devem em


casos de inviabilidade do feto, preparar os pais para o luto, evitando que a gestante transforme
a esperança em negação da realidade; prevenir a depressão pós-parto e a psicose puerperal, já
que essas gestantes têm aumento nos riscos de desenvolvimento de psicopatologias.

2.3 Atendimento psicológico em casos de óbito perinatal

A organização Mundical da Saúde (OMS) define óbito fetal a morte que ocorre “[...]
em qualquer momento da gravidez, independentemente de sua localização, incluindo abortos
e gestações extrauterinas [...]”(BRASIL, 2012, p.101). Natimorto, portanto, é esse feto que
morre antes ou durante seu nascimento.

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No caso de óbito fetal, o papel do psicólogo segundo Arrais, Muza, Sousa e Iaconelli
(2013), é o de prevenir possíveis psicopatologias relacionadas à vida ou morte do bebê, além
do esclarecimento e atenção às fantasias dos pacientes. Assim como, auxiliar esses pais,
incentivando os rituais fúnebres, quando possível, e visita ao natimorto, para que possam
tornar suas lembranças as mais reais possíveis, a fim de que se despeçam daquele que
reconhecidamente é seu filho. Ou seja, o trabalho do psicólogo é tornar os natimortos visíveis
para que a dor dos pais possa assim, ser reconhecida.

Este trabalho, nomeado como protocolo de luto é descrito por Iaconelli (2007) e
Arrais, Muza, Sousa e Iaconelli (2013) como procedimentos que permitem a desconstrução do
investimento subjetivo feito no bebê, tendo os pais a oportunidade de reconhecer o lugar do
bebê falecido, independente do seu número de semanas e formação, facilitando, por fim, a
elaboração desta perda e o surgimento do luto patológico.

2.4 Atendimento psicológico a gestantes com hiperemese gravídica

Hiperemese gravídica trata-se de vômitos e náuseas que podem provocar


desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos, metabólicos e nutricionais, ocorrendo geralmente
no primeiro trimestre da gestação. A causa da hiperemese gravídica ainda não está
completamente esclarecida, mas, atualmente, alguns estudos incluem fatores biológicos e
psicológicos (SUN, 2007).

A manifestação da hiperemese começou a ser investigada psicologicamente pela


psicanálise, pois era compreendido que os vômitos poderiam ser interpretados como uma
rejeição da gravidez. Chertok et al (1963) apud Campos (2000), afirma que os vômitos não
seriam um ato simbólico de rejeição, como dizia a psicanálise, mas sim uma atitude mais
complexa, um sentimento de forte ambivalência da mãe frente à gravidez, ou seja, um conflito
entre a rejeição e seu oposto.

A intervenção psicologica em caso de hiperemese é intervir sobre o foco


desencadeador de acordo com a psicoterapia breve, transmitir tranquilidade à gestante,
esclarecê-la sobre o caráter fisiológico e orinetar a gestante sobre os hábitos alimentares
adequados (SUN, 2007)

2.5 Atendimento psicológico à parturiente com diabetes

O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é definido por Padilha et al (2010) pela

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diminuição da tolerância à glicose, que se inicia ou é reconhecida pela primeira vez na


gestação, podendo ou não persistir após o parto.

O diagnóstico de DMG está associado às sérias complicações, que incluem: maior


risco de rotura prematura de membranas, parto pré-termo, feto macrossômico, pré-eclâmpsia,
o risco da gestante desenvolver diabetes tipo 2 no futuro, e à chance de a criança desenvolver
obesidade e diabetes na idade adulta. Adicionalmente, o DMG aumenta a morbidade neonatal,
expondo os recém-nascidos a maiores riscos de síndrome de angústia respiratória,
cardiomiopatia, icterícia, hipoglicemia, hipocalcemia, hipomagnesemia e policitemia
(MATTAR et al, 2011).

Nesse contexto, o sofrimento psicológico à parturiente com diabetes está


frequentemente associado a diversas dificuldades ligadas ao enfrentamento da rotina diária do
tratamento e ao medo de desenvolver complicações futuras decorrentes. Esse sofrimento pode
impedir que a paciente assuma comportamentos de autocuidado, comprometendo o controle
glicêmico.

Dessa forma, o acompanhamento psicológico torna-se muito importante para as


gestantes com diagnóstico de DMG, pois proporcionará uma elaboração dos aspectos
emocionais da doença minimizando os sofrimentos psíquicos e o temor do parto prematuro,
do óbito perinatal ou mesmo da morte materna.

2.6 Atendimento psicológico a parturiente com síndrome hipertensiva

Quando diagnosticada com síndrome hipertensiva, a paciente necessitará de rigoroso


acompanhamento médico, com monitoramento constante da pressão arterial e
acompanhamento das dosagens de proteínas. Quando são detectados fetos com alterações
indicativas de grave insuficiência placentária, recomenda-se a interrupção da gestação,
independente da idade gestacional (MOURA et al, 2011).

A intervenção psicológica nesse contexto, ocorre no sentido de orientação da


gestante, devendo-se transmitir tranquilidade e orientação sobre a sua situação. De acordo
com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012), o psicólogo é o profissional preparado para
ajudar a paciente, bem como sua família a lidar com as dificuldades emocionais envolvendo
suas angústias, medo e dúvidas em relação à gestação e ao desfecho do parto.

Dessa forma, faz-se importante a presença e a intervenção do psicólogo junto à

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gestante hipertensa no CO., na medida em que esse possibilita a criação de estratégias para
lidar com experiências que causam ansiedade, ajudando no enfrentamento da situação da
melhor forma possível e prevenindo o parto prematuro e o temor do óbito perinatal ou mesmo
da morte materna.

2.7 Atendimento psicológico aos acompanhantes das parturientes

A presença de um acompanhante nos partos diminuiu o tempo de internação,


depressão pós-parto e melhora as condições de nascimento. Contribui, ainda, para que o parto
seja percebido pela mulher como uma experiência positiva e fortalecedora de vínculos (REIS;
PATRICIO, 2013).

O atendimento psicológico ao acompanhante é feito no momento de escuta à


gestante/parturiente, desde a sala de espera e na entrada do hospital. Há esclarecimento de
dúvidas, dinâmica do parto cesáreo ou natural, apoio emocional, orientações em saúde,
mediação entre equipe e acompanhante e marcação de interconsultas quando necessário.

Pode-se concluir que os acompanhantes devem ser considerados elementos que


integram o processo terapêutico, por conta de sua eficácia clínica. “Sempre que possível, a
autorização de visitas e acompanhantes deve respeitar o desejo e a autonomia do paciente e
considerar as demandas específicas” (BRASIL, 2007, p.13).

Cabe ao psicólogo estimular a presença dos acompanhantes no CO, escolhidos pela


parturiente, durante o trabalho de parto e parto. Orientá-los quanto a participação ativa no
processo, repassando informações sobre o processo do parto, controle não farmacológico da
dor, normas de conduta do CO.

3 MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório e tranversal, realizado em uma


unidade hospitalar pública do DF que consta a atuação do psicólogo hospitalar no CO.

Os colaboradores foram trinta e um servidores de um Hospital Público em Brasília,


atuantes diretamente no cento obstétrico da unidade.

Para conhecer como a equipe percebe o papel do psicólogo no CO., utilizou-se um


questionário semiestruturado elaborado com referência na literatura pela própria
pesquisadora.

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O questionário foi composto por oito questões fechadas e quatro abertas, sobre os
temas: papel do psicólogo no CO, atividades desenvolvidas pelo psicólogo hospitalar no CO,
setting, quem deve anunciar o óbito, a clientela da psicologia no CO, aspectos positivos e
negativos em relação a presença do psicólogo no CO.

Tendo em vista os aspecto éticos, a pesquisa foi submetida ao comitê de ética em


pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS, por meio da
Plataforma Brasil. Inicando-se a coletado dos dados após a aprovação da FEPECS e
autorização da direção do hospital. Os funcionários foram contactados pessoalmente no
horário de seu plantão, sendo esclarecidos sobre o objetivo do estudo e apresentado o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, que foi lido e assinado quando concordaram
em ser colaboradores.

4 RESULTADOS

Foram disponibilizados cinquenta e dois questionários à equipe, mas somente trinta e


um servidores devolveram os instrumentos respondidos, os quais compuseram a amostra do
estudo, ou seja, somente 59,6% dos que aceitaram participar da pequisa efetivametne
compuseram a amostra. Desses, treze (41,94%) eram médicos, oito (25,81%) da equipe de
enfermagem, seis (19,35%) eram estagiários de enfermagem, três (9,68%) da equipe de
nutrição (nutricionistas e Técnico de nutrição), um (3,23%) era técnico administrativo.

Entre esses profissionais, vinte e dois (70,97%) declararam trabalhar com a


perspectiva biopsicossocial, seis (19,35%) com a perspectiva biomédica, e três (10%) não
responderam.

Quanto ao contato da equipe com profissional da psicologia no ambiente de trabalho,


a maioria (54,84%) ou dezessete profissionais declararam que não trabalhavam com psicólogo
no CO., contra (45,16%) quatorze profissionais que declararam trabalhar com esse
profissional. Por outro lado, em outros serviços de saúde, dezessete ou 54,84%, afirmaram
que já trabalharam com psicólogos, enquanto doze ou 38,71% nunca trabalharam com esse
profissional e restando dois ou 6,45% que não responderam a questão.

As respostas em relação ao foco de trabalho do psicólogo hospitalar no CO.


revelaram que vinte dos servidores ou 64,52% relataram que o foco seria os acompanhantes e
parturientes, sendo que ninguém mencionou ser exclusivamente os acompanhantes. Quatro ou

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12,90% deles mencionaram as parturientes, seis (19,35%) responderam que o foco seria a
equipe de enfermagem ou equipe médica, e apenas um (3,23%) mencionou ser os recém
nascidos.

Quanto ao local de atendimento psicológico, a maioria dos respondentes da pesquisa,


com 58,06% (18) das respostas, o local indicado para os atendimentos psicológicos no CO.
deveria ser onde os usuários estivessem, por não ter um local estipulado para procederem aos
atendimentos dessa natureza. Sete (22,58%) mencionaram que os atendimentos ocorreriam no
próprio leito e os três demais (9,68) relataram que ocorreriam em sala reservada se o usuário
solicitasse, ou o local do atendimento deveria ser avaliado dependendo de cada caso.

Todos os participantes mencionaram suas opiniões a respeito das atividades que


poderiam ser desenvolvidas pelo serviço de psicologia hospitalar em um CO. Verifica-se que
todos participantes acreditam que o psicólogo poderia desenvolver atividade para: amenizar o
nível de ansiedade da parturiente e seu acompanhante, durante o trabalho de parto – TP (31-
100%); realizar atendimento quando tiver ocorrência de natimorto (óbito fetal) (31-100%);e
orientar a puérpera e seu companheiro quanto a possíveis mudanças que poderão vir atreladas
àchegada do bebê (31-100%).

Dentre as atividades que os participantes acreditam que o psicólogo não possa fazer,
três receberam um percentual com maior elevação (≥41,94%), sendo: I - Orientar a parturiente
e seu acompanhante quanto ao procedimento do parto cesáreo (13 - 41,94%); II- esclarecer a
parturiente e seu acompanhante quando os mesmos tiverem dúvidas em relação às
intercorrências que estejam vivenciando (diabetes gestacional, síndrome hipertensiva
gestacional, hiperêmese gravídica, malformação fetal) (14 - 45,16%); III - Instruir a
parturiente e seu acompanhante sobre a rotina hospitalar (14 - 45,16%).

Dentre as atividades elencadas, apenas duas não receberam opinião de um


participante (3,23%) se o psicólogo pode ou não realizar a atividade descrita. Uma delas foi
referente à psicologia fazer uso dos recursos não-farmacológicos durante o trabalho de parto
para o alívio da dor e o ato de o psicólogo humanizar o centro cirúrgico através de sua
presença e de seu discurso diferenciado dos demais profissionais.

A avaliação dos participantes quanto à relevância da atuação do psicólogo no CO.,


pode ser vista que, 29 (93,55%) dos servidores acredita que a atuação do psicólogo é muito
importante ou importante, pois o momento do trabalho de parto e parto pode causar

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desconforto, muita ansiedade, medo e receio por parte da parturiente e seu acompanhante,
nesse momento o psicólogo poderá orientar os usuários sobre os procedimentos que serão
adotados pela equipe no momento do trabalho de parto e parto, auxiliando assim no trabalho
da equipe.

A presença do psicólogo no CO. não foi dispensada por nenhum profissional e dois
(6,45%) mencionaram que a presença do psicólogo é razoável por considerarem que o
psicólogo atrapalha a rotina do CO., ressaltando que seria importante contar com um
psicólogo no hospital em outro setor, para que quando sua intervenção fosse realmente
necessária, ele fosse chamado.

Por meio das perguntas abertas, constatamos que 93,55% equivalente a vinte nove
servidores, declararam que o psicólogo ajuda a equipe do CO.: proporcionando apoio
emocional à parturiente e acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto; orientando os
usuários sobre o trabalho de parto e rotina hospitalar; atendendo casos de óbito fetal,
anomalias fetais e morte materna, e amenizando o nível de ansiedade dos mesmos e da
própria equipe. A ajuda também é percebida quando o psicólogo auxilia no relacionamento
entre equipe de saúde, pacientes e familiares, evitando assim conflitos desnecessários entre
ambos e até mesmo entre a própria equipe, por seu apoio prestado aos servidores e por seu
trabalho de humanização.

Verificamos que além dos relatos positivos sobre o trabalho do psicólogo, ele
também é percebido como um profissional que não contribui ou prejudica o trabalho da
equipe. Identificou-se que doze servidores ou 38,71% da amostra avaliaram que o psicólogo
pode atrapalhar a equipe de saúde, especialmente durante o parto, devido o espaço físico ser
insuficiente para toda equipe; caso esteja atendendo em um momento cuja necessidade é de
atuação médica; se realizar atendimento sem discutir previamente com a equipe; pelo grande
número de profissionais pode deixar a parturiente nervosa e se a equipe tiver dificuldade de
reconhecer a importância do trabalho multiprofissional.

Os participantes foram solicitados a expressarem seus pensamentos sobre a atuação


do psicólogo nos hospitais, e constatamos que os seis (19,35%) profissionais que declararam
trabalhar com o modelo biomédico mencionaram que é importante a atuação do psicólogo
para amenizar a ansiedade, medo e receio da parturiente e seu acompanhante, favorecendo na
concentração das mesmas no trabalho de parto e parto, contribuindo assim com o trabalho da

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equipe.

Os profissionais que trabalham com o modelo biopsicossocial (22- 70,97%),


relataram que o psicólogo é o profissional mais habilitado a prestar assistência emocional aos
pacientes de forma adequada, ajudando compreender a situação e as particularidades dos
pacientes.

Aqueles que não declararam sua perspectiva (3- 10%) referiram que é fundamental
que a parturiente e seus familiares tenham suporte psicológico devido o trabalho de parto e
parto serem um processo abrupto na vida e para prevenir as depressões pós-parto,
mencionando que seria importante o acompanhamento psicológico durante um mês após o
nascimento.

A pesquisa propôs um espaço para os participantes falarem livremente sobre o


trabalho do psicólogo no CO. Com essa abertura, dezoito servidores (58,06%) mencionaram
que o trabalho da Psicologia é fundamental e essencial, pois “se a mente estiver boa o corpo
irá refletir”(sic). Também mencionaram suas angústias referentes ao número de profissionais
da área de Psicologia, relatando que a quantidade de psicólogos no setor não é suficiente,
sendo necessário ter mais profissionais para garantir assistência a todos, até mesmo nos finais
de semana. Os demais (13 - 41,94%) não expressaram seus pensamentos.

5 DISCUSSÃO

O estudo demonstrou que a equipe obstétrica de um hospital público do Distrito


Federal percebe o trabalho do psicólogo hospitalar relevante para contribuir com a equipe
quando há alguma intercorrência no trabalho de parto e parto. O profissional de psicologia é
requisitado por todos servidores de saúde quando os mesmos se deparam com situações
especiais na rotina do CO. Afirma Arrais, Mourão (2013) e Chiattone (2007), que em casos de
óbito fetal, anomalias fetais, morte materna, entre outras intercorrências, a equipe de saúde
demanda atuação psicológica emergencial, pois o sofrimento dos pacientes fica mais evidente
nestas situações.

No entanto, não identificam demanda para a atuação psicologica, quando não há esse
contexto de intercorrência. O profissional de psicologia não é requisitado pelos servidores de
saúde quando as pacientes passam pelo trabalho de parto e parto sem intercorrências. Nesses
casos, a equipe alega que o psicólogo pode atrapalhar a equipe devido ao espaço físico ser

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insuficiente para toda equipe, e por ser um momento de necessidade da atuação médica.
Portanto, não percebem o papel preventivo e de ajuda que o psicólogo pode ter no momento
do parto, mencionando que grande número de profissionais pode deixar a parturiente nervosa.
Ou seja, não percebem o trabalho preventivo do psicólogo. Essa colocação é demonstrada
também no estudo de Arrais, Mourão (2013), quando pontua que raramente os psicólogos são
chamados para intervir de forma proporcionar a psicoprofilaxia das gestantes e puérperas.

Paradoxalmente, alguns participantes ressaltaram que o psicólogo ajuda a equipe


quando proporcionam apoio emocional à parturiente e acompanhante no trabalho de parto,
parto e pós-parto amenizando o nível de ansiedade. Apesar dos servidores não demandarem
uma atuação preventiva do psicólogo, observa-se que os mesmos concordaram com as
atividades desenvolvidas pelo psicólogo que visa cumprir os objetivos da psicoprofilaxia
mencionado por Bortoletti (2007), no quesito de facilitar o desenvolvimento das
potencialidades dos envolvidos do processo para a nova realidade.

Essas contradições reafirmam o estudo de Tonetto e Gomes (2007), dos psicólogos


não serem totalmente aceitos pela equipe. Essa não aceitação também pode ser sugerida
quando 21 servidores não devolveram os instrumentos respondidos, ressaltando que essa
ocorrência também pode ser levada em consideração as variáveis, que no caso, rotina
hospitalar, sobrecarga no serviço e/ou a não valorização da pesquisa psicológica.

O estudo revelou que a maioria dos profissionais entrevistados não trabalhou


conjuntamente com o psicólogo no CO, por mais que o serviço conte com dois psicólogos e
seis estagiários de psicologia no setor. Esse desconhecimento pode-se dar devido à
desvalorização do profissional de psicologia, por não assumirem uma posição de igualdade, e
por não considerarem as necessidades biopsicossociais e culturais das pacientes, ou
simplesmente, pelo fato dos profissionais ficarem a maioria do tempo no bloco cirúrgico ou
nos consultórios do CO., onde o psicólogo raramente atua.

Assim, é necessário o psicólogo ter uma postura ativa no processo, para realizar
profilaxia, pois, de acordo com a demanda da equipe, o psicólogo irá intervir apenas em
situações de crise. Cabe a esse profissional mostrar que também pode contribuir para que o
trabalho de parto e parto, seja menos traumático, mais humanizado, e bem sucedido, tanto em
casos de risco habitual como em casos de alto risco que enfrentem alguma intercorrância,
como afirma Bortoletti (2007).

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O psicólogo hospitalar no CO. é reconhecido pelos funcionários de saúde como


profissional capaz de amenizar o nível de ansiedade, medo e desconforto da parturiente e seu
acompanhante, durante o trabalho de parto e parto. Esse reconhecimento reafirma que os
objetivos psicológicos pontuado por Simonetti (2004) são cumpridos por realizar uma
contenção do estado psíquico da parturiente, que muitas vezes encontra-se “desorganizado” e
necessitando de uma intervenção de “maternagem” por parte deste profissional, que propicia
uma ressignificação de suas dores físicas e suas falas e, assim, ao “emprestar” o equilíbrio
emocional à mesma, corroborar para o seu empoderamento e à redução da ansiedade.

Os servidores mencionaram que os focos de trabalho do psicólogo hospitalar no CO.


são os acompanhantes e parturientes. Porém apresentam também uma demanda para
atendimento também à equipe quando mencionam que o psicólogo poderia atender as queixas
emocionais e de trabalho da equipe, evitando também conflitos desnecessários entre ambos.
Essa demanda é apresentada também no estudo de Gorayeb, Borges, Oliveira (2012), quando
evidenciaram a necessidade de uma intervenção psicologica voltada para o suporte à equipe,
visando melhorar as relações interpessoais entre os profissionais.

Remetem também que os conflitos entre equipe e paciente são evitados quando o
psicólogo auxilia o relacionamento entre ambos. Esse papel de mediador da relação entre os
profissionais e os pacientes é confirmado por Souza, Delevati (2013), que argumenta que
independentemente da instituição onde atua, o psicólogo da saúde pode desempenhar essa
função, que facilita a compreensão dos procedimentos recomendados, assim como pode
ajudar estes profissionais na comunicação mais clara com os pacientes.

No presente trabalho verificamos que a visão dos servidores em relação ao setting


psicológico em um ambiente hospitalar está de acordo com a literatura, quando mencionam
que os atendimentos aconteceriam onde os usuários estivessem, por não ter um local
estipulado para procederem aos atendimentos, pois conforme Simonetti (2004), a capacidade
de escuta deste profissional nesse contexto é mais importante do que em um setting pré-
determinado.

A pesquisa revelou que os servidores de saúde dão relevância ao psiquismo e a


subjetividade dos usuários como aspectos importantes no processo do trabalho de parto e
parto. Essa importância aparece quando solicitam mais profissionais de psicologia no CO.,
para garantir assistência a todos, até mesmo nos finais de semana, por acreditarem que “se a

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mente estiver boa o corpo irá refletir”(sic). Essa colocação está de acordo com Lazzaretti
(2007), quando pontua que a assistência física é insuficiente para abarcar o ser humano em
todos os seus âmbitos, e oferecer um tratamento que lhe proporcione a qualidade de vida em
sua totalidade.

Quase a metade dos servidores mencionou que o psicólogo não deve orientar os
usuários em relação ao procedimento do parto cesáreo, esclarecer as dúvidas em relação às
intercorrências e instruir os mesmos sobre a rotina hospitalar.Estas afirmações se opõem à
visão de Arrais, Mourão (2013) quando relatam que o psicólogo deve esclarecer os pacientes
sobre os procedimentos que estarão sendo feitos no período de internação, orientá-los e sanar
suas dúvidas em relação as intercorrências que estiverem vivenciando e preparar
psicologicamente a paciente para enfrentar o parto natural quanto cesáreo.

Observa-se que os servidores de saúde do CO. solicitam outros profissionais de


outras especialidades para compreensão do caso quando se deparam com seus limites, e não
simplesmente por trabalharem com a perspectiva biopsicossocial ou biomédica, pois ambos
profissionais independentemente da perspectiva de trabalho concordam em relatar que o
psicólogo é o profissional habilitado para atuar na esfera emocional.

Essa pesquisa contou com a participação mais efetiva dos servidores que declararam
trabalhar com o modelo biopsicossocial, que pode ter influenciado os resultados encontrados,
pois de acordo com Tonetto e Gomes (2007), o trabalho da equipe de psicologia é mais bem
compreendido em instituições com predomínio do modelo biopsicossocial, no entanto, não é
viável colocar os profissionais que declararam trabalhar com o modelo biomédico como
obstáculo ao trabalho, já que os resultados obtidos pela parte participante não foi discrepante
com aqueles encontrados no modelo biopsicossocial.

Constatamos que apesar do psicólogo estar inserido no contexto hospitalar, sua


inserção efetiva para com a equipe está em construção. Então vale ressaltar que o psicólogo
em sua competência, deve investir em comunicação empática e escuta ativa, para que através
de seus atendimentos ele possa mostrar o sentido de sua atuação. Assim, progressivamente,
poderá sensibilizar a equipe e fazê-la entender a contribuição da psicologia para a área da
saúde, revertendo o quadro de desvalorização para o conhecimento e aceitação da atuação
psicológica.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa demonstrou que os servidores de saúde têm conhecimento sobre a


atuação do psicólogo hospitalar no CO., visando um trabalho multiprofissional, por mais que
essa busca seja apenas em momentos que desafia seus limites profissionais.

Quanto ao processo parturitivo, o ideal seria que os servidores reconhecessem a


importância dos aspectos fisiológicos e mentais para abarcar o ser humano em sua totalidade e
proporcionar um trabalho de parto e parto ativo e feliz. Essa ideia não foi corroborada pelo
presente estudo, pois os aspectos psiquicos deixam de ser invisíveis apenas em situações de
crise, onde o psicologo é solicitado a intervir. O atendimento psicológico primário não é
requisitado, por mais que os relatos dos servidores afirmem a valorização do cuidar em todos
os níveis. Assim, pode-se questionar o discurso por fantasia de agradar ao entrevistador e ser
“politicamente correto”.

Acredita-se que o reconhecimento da importância da contribuição de diversos


profissionais da área da saúde no trabalho de parto e parto seja um facilitador para o processo
parturitivo, por oferecer um atendimento integral à parturiente e seu acompanhante, no
quesito do cuidar, tanto nas mudanças fisiológicas, como também no acolhimento das
alterações emocionais acometidas no trabalho de parto e parto.

Acredita-se que este estudo possa contribuir para a construção e sistematização do


papel do psicólogo hospitalar em um CO., expandindo as áreas de atuação no âmbito
hospitalar, que favorecerá a inserção do psicólogo neste tipo de serviço. Pretende-se que sua
participação em um CO. venha ser aceito e requisitado pelos hospitais e profissionais que
atuam no setor, por acreditar que sua atuação primária possa preservar a saúde mental.

A atuação do psicólogo hospitalar num CO. é recente e rara, pois esse profissional
frequentemente não está presente em CO., sejam públicos ou privados. Sugere-se a
continuação da pesquisa na área, para renovar e atualizar sua atuação. As pesquisas que
poderiam auxiliar o trabalho do psicólogo hospitalar num CO. seriam: I – Pesquisa junto à
equipe sobre suas maiores fragilidades frente ao trabalho de parto e parto; II – Pesquisa junto
à pacientes e acompanhantes sobre suas maiores necessidades no momento parturitivo; III –
Padronização da atuação do psicólogo hospitalar num CO.

Por fim, além dos conteúdos expostos nesse trabalho, ainda há muito a ser realizado.
Além do conhecimento que a pesquisa proporcionou, sugere-se que o psicólogo deva sempre

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refletir sobre sua atuação, buscando aperfeiçoar para contribuir com os pesquisadores da área
da psicologia da saúde, no trabalho com a equipe de saúde, como também para atender as
demandas dos pacientes.

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