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Centro Obstétrica e Psicólogo
Centro Obstétrica e Psicólogo
DF
RESUMO: Este estudo teve como objetivo conhecer a percepção da equipe de saúde
obstétrica sobre o trabalho desenvolvido pelo psicólogo hospitalar no centro obstétrico – CO,
além de verificar se a equipe reconhece as potencialidades e limites da equipe de psicologia e
avaliar a inserção desse profissional na equipe. Trata-se de uma pesquisa quantitativa,
exploratória, transversal realizada em um hospital público do Distrito Federal, cujos sujeitos
foram trinta e um profissionais de saúde, entre eles: enfermeiros, enfermeiros obstetras,
técnico de enfermagem, residente de enfermagem, auxiliar de enfermagem, médicos obstetras
e pediatras, residente de medicina, nutricionistas, técnico de nutrição, técnico administrativo e
estagiários de diversas áreas da saúde. Os dados foram coletados através de questionário
semi-estruturado, auto-aplicativo e utilizado para a análise de estatística simples. Concluiu-se
que os profissionais de saúde têm conhecimento sobre a atuação do psicólogo hospitalar num
centro obstétrico, reconhecem a relevância para os aspectos subjetivos das pacientes e
identificam sua importância no processo de trabalho de parto e parto. Entretanto, a solicitação
do auxílio do psicólogo é restrito aos momentos que desafiamos limites profissionais da
equipe, quando se percebem impotentes, como nos casos de anomalias fetais, óbito fetal,
morte materna, entre outras intercorrências. Destaca-se ainda, a relevância da continuação da
pesquisa nessa área, para enfatizar o sentido da atuação psicológica num centro obstétrico e na
consolidação de sua inserção na equipe de saúde.
Palavras-chaves: Psicólogo Hospitalar. Psicologia Obstétrica. Centro Obstétrico. Trabalho
de Parto. Parto.
ABSTRACT: This study aimed to understand the perception of obstetric health care
team about the work of the psychologist in a hospital obstetric unit - CO, and verify that
the staff recognizes the potential and limits of psychology team and evaluate the
insertion of a trader in team. This is a quantitative cross-sectional, exploratory study,
1
Psicóloga. Doutora em psicologia, Especialista em Psicologia da Saúde e Intervenção Terapêutica, Psicóloga da
Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, Professora da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS),
Brasília, DF. Autora responsável para correspondência: alearrais@gmail.com
2
Psicóloga. Graduada pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, DF.
3
Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica e Cultura, Psicóloga da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito
Federal, Professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, DF.
conducted in a public hospital of the Federal District, whose subjects were thirty-one
health professionals, including: nurses, midwives, nurse technician, resident of nursing,
nursing assistant, obstetricians and pediatricians, medical resident, nutritionists,
nutrition technician, administrative and technical trainees from different areas of health.
Data were collected through semi-structured, self-application and used for statistical
analysis of simple questionnaire. It was concluded that health professionals have known
about the role of the psychologist in a hospital obstetric unit, acknowledge the relevance
to the subjective aspects of patients and identify their importance in the labor and
delivery process. However, the request for aid the psychologist is restricted to moments
that challenge professional boundaries of the team when they perceive themselves
powerless, as in cases of fetal anomalies, fetal death, maternal death, among other
complications. Moreover, we highlight the importance of continued research in this
area, to emphasize the sense of psychological performance in an obstetric unit and the
consolidation of its inclusion in the health team.
Keywords: Psychologist Hospital. Obstetric Psychology. Obstetric Center. Labor.
Delivery.
1 INTRODUÇÃO
ou ainda em casos de aborto e óbitos, pois o sofrimento das mães e da própria equipe fica
mais evidente nestas situações. Raramente somos chamadas para intervir de forma a
proporcionar a psicoprofilaxia das gestantes e puérperas. No entanto, ao longo do trabalho
desenvolvido neste setor, foi ficando claro ser de grande relevância a atuação do psicólogo na
obstetrícia, pois o psicólogo hospitalar em um CO. deve trabalhar com os aspectos
biopsicossociais, realizando atendimentos psicoterápicos diversos, discussão de casos,
orientações terapêuticas, supervisão de parto e manejo da dor, protocolo de luto e
encaminhamentos. Porém, nos deparamos com pouco respaldo teórico para nossa atuação.
2.1 Acompanhamento psicológico durante o trabalho de parto e parto para alívio não
farmacológico da dor
O parto, por mais que seja um momento crítico na vida da mulher, pode ser uma
experiência única. Mas para ter satisfação no parto, é fundamental a gestante fazer sua escolha
fundamentada em suas crenças e seus valores, sendo esclarecida sobre os procedimentos que
irá enfrentar.
O alívio da dor não é o único fator que deve ser levado em conta ao considerar o
cuidado e o conforto no trabalho de parto. Dessa forma, o psicólogo verifica o nível
ansiogênico positivo e negativo da parturiente, mediante avaliações e orientações terapêuticas
no trabalho de parto e com foco no parto. Sua atuação tem por objetivo realizar uma
contenção do estado psíquico da parturiente, que propicie uma ressignificação de suas dores.
Assim, a intervenção contribui para a redução da ansiedade e para seu empoderamento
(SIMONETTI, 2004).
Para Lopes (2004), o psicólogo deverá facilitar os contatos iniciais dos pais com o
seu bebê, oferecendo informações sobre a sua saúde, os cuidados que irá receber e o direito
que lhes assiste de estar junto ao seu filho, bem como seus familiares, estimulando a
vinculação afetiva ou preparando para possíveis sequelas e/ou até o óbito.
A organização Mundical da Saúde (OMS) define óbito fetal a morte que ocorre “[...]
em qualquer momento da gravidez, independentemente de sua localização, incluindo abortos
e gestações extrauterinas [...]”(BRASIL, 2012, p.101). Natimorto, portanto, é esse feto que
morre antes ou durante seu nascimento.
No caso de óbito fetal, o papel do psicólogo segundo Arrais, Muza, Sousa e Iaconelli
(2013), é o de prevenir possíveis psicopatologias relacionadas à vida ou morte do bebê, além
do esclarecimento e atenção às fantasias dos pacientes. Assim como, auxiliar esses pais,
incentivando os rituais fúnebres, quando possível, e visita ao natimorto, para que possam
tornar suas lembranças as mais reais possíveis, a fim de que se despeçam daquele que
reconhecidamente é seu filho. Ou seja, o trabalho do psicólogo é tornar os natimortos visíveis
para que a dor dos pais possa assim, ser reconhecida.
Este trabalho, nomeado como protocolo de luto é descrito por Iaconelli (2007) e
Arrais, Muza, Sousa e Iaconelli (2013) como procedimentos que permitem a desconstrução do
investimento subjetivo feito no bebê, tendo os pais a oportunidade de reconhecer o lugar do
bebê falecido, independente do seu número de semanas e formação, facilitando, por fim, a
elaboração desta perda e o surgimento do luto patológico.
gestante hipertensa no CO., na medida em que esse possibilita a criação de estratégias para
lidar com experiências que causam ansiedade, ajudando no enfrentamento da situação da
melhor forma possível e prevenindo o parto prematuro e o temor do óbito perinatal ou mesmo
da morte materna.
3 MÉTODO
O questionário foi composto por oito questões fechadas e quatro abertas, sobre os
temas: papel do psicólogo no CO, atividades desenvolvidas pelo psicólogo hospitalar no CO,
setting, quem deve anunciar o óbito, a clientela da psicologia no CO, aspectos positivos e
negativos em relação a presença do psicólogo no CO.
4 RESULTADOS
12,90% deles mencionaram as parturientes, seis (19,35%) responderam que o foco seria a
equipe de enfermagem ou equipe médica, e apenas um (3,23%) mencionou ser os recém
nascidos.
Dentre as atividades que os participantes acreditam que o psicólogo não possa fazer,
três receberam um percentual com maior elevação (≥41,94%), sendo: I - Orientar a parturiente
e seu acompanhante quanto ao procedimento do parto cesáreo (13 - 41,94%); II- esclarecer a
parturiente e seu acompanhante quando os mesmos tiverem dúvidas em relação às
intercorrências que estejam vivenciando (diabetes gestacional, síndrome hipertensiva
gestacional, hiperêmese gravídica, malformação fetal) (14 - 45,16%); III - Instruir a
parturiente e seu acompanhante sobre a rotina hospitalar (14 - 45,16%).
desconforto, muita ansiedade, medo e receio por parte da parturiente e seu acompanhante,
nesse momento o psicólogo poderá orientar os usuários sobre os procedimentos que serão
adotados pela equipe no momento do trabalho de parto e parto, auxiliando assim no trabalho
da equipe.
A presença do psicólogo no CO. não foi dispensada por nenhum profissional e dois
(6,45%) mencionaram que a presença do psicólogo é razoável por considerarem que o
psicólogo atrapalha a rotina do CO., ressaltando que seria importante contar com um
psicólogo no hospital em outro setor, para que quando sua intervenção fosse realmente
necessária, ele fosse chamado.
Por meio das perguntas abertas, constatamos que 93,55% equivalente a vinte nove
servidores, declararam que o psicólogo ajuda a equipe do CO.: proporcionando apoio
emocional à parturiente e acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto; orientando os
usuários sobre o trabalho de parto e rotina hospitalar; atendendo casos de óbito fetal,
anomalias fetais e morte materna, e amenizando o nível de ansiedade dos mesmos e da
própria equipe. A ajuda também é percebida quando o psicólogo auxilia no relacionamento
entre equipe de saúde, pacientes e familiares, evitando assim conflitos desnecessários entre
ambos e até mesmo entre a própria equipe, por seu apoio prestado aos servidores e por seu
trabalho de humanização.
Verificamos que além dos relatos positivos sobre o trabalho do psicólogo, ele
também é percebido como um profissional que não contribui ou prejudica o trabalho da
equipe. Identificou-se que doze servidores ou 38,71% da amostra avaliaram que o psicólogo
pode atrapalhar a equipe de saúde, especialmente durante o parto, devido o espaço físico ser
insuficiente para toda equipe; caso esteja atendendo em um momento cuja necessidade é de
atuação médica; se realizar atendimento sem discutir previamente com a equipe; pelo grande
número de profissionais pode deixar a parturiente nervosa e se a equipe tiver dificuldade de
reconhecer a importância do trabalho multiprofissional.
equipe.
Aqueles que não declararam sua perspectiva (3- 10%) referiram que é fundamental
que a parturiente e seus familiares tenham suporte psicológico devido o trabalho de parto e
parto serem um processo abrupto na vida e para prevenir as depressões pós-parto,
mencionando que seria importante o acompanhamento psicológico durante um mês após o
nascimento.
5 DISCUSSÃO
No entanto, não identificam demanda para a atuação psicologica, quando não há esse
contexto de intercorrência. O profissional de psicologia não é requisitado pelos servidores de
saúde quando as pacientes passam pelo trabalho de parto e parto sem intercorrências. Nesses
casos, a equipe alega que o psicólogo pode atrapalhar a equipe devido ao espaço físico ser
insuficiente para toda equipe, e por ser um momento de necessidade da atuação médica.
Portanto, não percebem o papel preventivo e de ajuda que o psicólogo pode ter no momento
do parto, mencionando que grande número de profissionais pode deixar a parturiente nervosa.
Ou seja, não percebem o trabalho preventivo do psicólogo. Essa colocação é demonstrada
também no estudo de Arrais, Mourão (2013), quando pontua que raramente os psicólogos são
chamados para intervir de forma proporcionar a psicoprofilaxia das gestantes e puérperas.
Assim, é necessário o psicólogo ter uma postura ativa no processo, para realizar
profilaxia, pois, de acordo com a demanda da equipe, o psicólogo irá intervir apenas em
situações de crise. Cabe a esse profissional mostrar que também pode contribuir para que o
trabalho de parto e parto, seja menos traumático, mais humanizado, e bem sucedido, tanto em
casos de risco habitual como em casos de alto risco que enfrentem alguma intercorrância,
como afirma Bortoletti (2007).
Remetem também que os conflitos entre equipe e paciente são evitados quando o
psicólogo auxilia o relacionamento entre ambos. Esse papel de mediador da relação entre os
profissionais e os pacientes é confirmado por Souza, Delevati (2013), que argumenta que
independentemente da instituição onde atua, o psicólogo da saúde pode desempenhar essa
função, que facilita a compreensão dos procedimentos recomendados, assim como pode
ajudar estes profissionais na comunicação mais clara com os pacientes.
mente estiver boa o corpo irá refletir”(sic). Essa colocação está de acordo com Lazzaretti
(2007), quando pontua que a assistência física é insuficiente para abarcar o ser humano em
todos os seus âmbitos, e oferecer um tratamento que lhe proporcione a qualidade de vida em
sua totalidade.
Quase a metade dos servidores mencionou que o psicólogo não deve orientar os
usuários em relação ao procedimento do parto cesáreo, esclarecer as dúvidas em relação às
intercorrências e instruir os mesmos sobre a rotina hospitalar.Estas afirmações se opõem à
visão de Arrais, Mourão (2013) quando relatam que o psicólogo deve esclarecer os pacientes
sobre os procedimentos que estarão sendo feitos no período de internação, orientá-los e sanar
suas dúvidas em relação as intercorrências que estiverem vivenciando e preparar
psicologicamente a paciente para enfrentar o parto natural quanto cesáreo.
Essa pesquisa contou com a participação mais efetiva dos servidores que declararam
trabalhar com o modelo biopsicossocial, que pode ter influenciado os resultados encontrados,
pois de acordo com Tonetto e Gomes (2007), o trabalho da equipe de psicologia é mais bem
compreendido em instituições com predomínio do modelo biopsicossocial, no entanto, não é
viável colocar os profissionais que declararam trabalhar com o modelo biomédico como
obstáculo ao trabalho, já que os resultados obtidos pela parte participante não foi discrepante
com aqueles encontrados no modelo biopsicossocial.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação do psicólogo hospitalar num CO. é recente e rara, pois esse profissional
frequentemente não está presente em CO., sejam públicos ou privados. Sugere-se a
continuação da pesquisa na área, para renovar e atualizar sua atuação. As pesquisas que
poderiam auxiliar o trabalho do psicólogo hospitalar num CO. seriam: I – Pesquisa junto à
equipe sobre suas maiores fragilidades frente ao trabalho de parto e parto; II – Pesquisa junto
à pacientes e acompanhantes sobre suas maiores necessidades no momento parturitivo; III –
Padronização da atuação do psicólogo hospitalar num CO.
Por fim, além dos conteúdos expostos nesse trabalho, ainda há muito a ser realizado.
Além do conhecimento que a pesquisa proporcionou, sugere-se que o psicólogo deva sempre
refletir sobre sua atuação, buscando aperfeiçoar para contribuir com os pesquisadores da área
da psicologia da saúde, no trabalho com a equipe de saúde, como também para atender as
demandas dos pacientes.
REFERÊNCIAS
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