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A nutrição nos doentes com ferida

 A má nutrição é um estado de nutrição em que a deficiência ou o excesso de


energia proteica e de outros nutrientes causa efeitos adversos mensuráveis nos
tecidos, na forma e na função corporal e, consequentemente, nos resultados
clínicos.
Nota: Através de uma análise bioquímica consigo perceber como se encontram os
níveis de proteínas (ex: albuminas) para verificar se existe défice ou excesso nutricional
(a hipoproteinemia altera a cicatrização).
Avaliação do estado nutricional
 É realizada aquando da admissão do utente na unidade de saúde e durante o
seu internamento hospitalar ou permanência em outra unidade de saúde.
Verifica-se:
• Diminuição da ingestão diária;
• Acamamento prolongado;
• Permanência em cadeira de rodas;
A nutrição do doente com feridas
 A desnutrição calórica proteica é a deficiência nutricional mais comum nos
doentes hospitalizados – 40 a 50%.
Porque:
• Diminuição da proliferação fibroblástica;
• Diminuição da síntese de colagénio;
• Diminuição da angiogénese;

Diminuição da resposta hepática na elaboração das proteínas


Risco de má nutrição crónica proteica em adultos
IMC (kg/m2)
• < 18,5 -Baixo peso
• 18,5 – 20 -Baixo peso aceitável
• 20 – 25 -IMC desejável
• 25 – 30 -Peso em excesso
• > 30 -Obesidade
Interpretação:
• Risco moderado à 30 – 35 Kg/ m2
• Risco alto à 35 – 40 Kg/ m2
• Risco muito alto à > 40 Kg/m2
Feridas e Nutrição
• Arginina (Micronutriente fundamental na cicatrização de feridas)
Funções:
o Aumenta a síntese de colagénio;
o Estimula a ação dos fatores de crescimento;
o Regula o balanço nitrogenado;
o Aumenta a resposta imunológica;
o Possui efeito antioxidante.
• Vitaminas
Vitamina C (citrinos)
o Destruição bacteriana antioxidante.

Vitamina E
o Atividade antioxidante;
o Aumenta a regeneração tecidular
• Oligoelementos
Zinco
o Modela o balanço nitrogenado;
o Facilita a função tiroideia;
o Controla a atividade insulínica;
o Aumenta a resposta imunológica.
Cobre
Manganês
Selénio
Anula os radicais livres
Tratamento
Avaliação das necessidades nutricionais especificas para cada doente
Plano geral de tratamento:
• Calorias: 25 – 30 Kcal/Kg/dia
• Glucideos: 70%
• Lipídeos: 30% ( > a 3% ácidos gordos essenciais)
• Proteínas: 1,5 – 2,0g/ Kg/ dia

Resolução do conselho da Europa


Cuidados nutricionais nos Hospitais
• A avaliação do risco nutricional dos doentes deve ser feita de forma rotineira
antes e/ou no momento do internamento. Esta avaliação deve ser repetida
regularmente durante a hospitalização.
• Devem ser elaborados estudos para desenvolver e validar métodos simples de
avaliação, para uso nos hospitais e no setor dos cuidados de saúde primários.
• As múltiplas causas para a desnutrição associada à doença, devem ser sempre
consideradas para todos os doentes.
• Os jejuns não devem ser praticados de forma rotineira.
• A definição de desnutrição associada à doença deve ser universalmente aceite e
usada como diagnóstico clínico e tratada como tal.
• O apoio nutricional como parte do tratamento dos doentes deve ser
considerado sistematicamente.
• Os doentes que necessitem de apoio nutricional devem receber esse
tratamento antes do internamento (quanto possível), na primeira oportunidade
durante a hospitalização e após a alta.
• A comida comum, fornecida por via oral deve ser a primeira escolha para
corrigir ou prevenir a desnutrição nos doentes.
• Deve ser implementado um programa de formação continua em nutrição e
técnicas de apoio nutricional para todo o pessoal envolvido na alimentação dos
doentes.
• A nutrição clínica deve ser incluída no ensino pré e pós – graduado e
reconhecido como uma especialidade pelas faculdades de medicina.
• Todos os utentes devem ter a possibilidade de escolher o ambiente em que
comem.
• Os doentes com dificuldades físicas ou mentais, que os impeçam de se
alimentarem, devem ser assistidos por pessoal treinado e forma adequada.
• Devem ser desenvolvidos padrões nos serviços de alimentação baseados nas
necessidades dos doentes e não nas necessidades do hospital.
• As refeições devem ser flexíveis e individualizadas.
• Os menus devem ser focalizados para diferentes categorias de doentes.
• O conteúdo nutricional das refeições, as porções e o desperdício devem ser
auditados anualmente.
• O envolvimento dos familiares na alimentação dos doentes deve ser
encorajado, quando apropriado.
• Os doentes devem ser envolvidos no planeamento das suas refeições e terem
algum controlo sobre a seleção da comida
• O orçamento para a alimentação deve ser avaliado como parte do orçamento
para os serviços de apoio clínico e tratamento.
• Os administradores hospitalares devem ter em conta o custo potencial de
complicações e de internamentos prolongados devidos à desnutrição
A dor no doente com feridas
• A cicatrização das feridas está alterada
• A qualidade de vida dos doentes é afetada
Nota: Quando aumenta a intensidade da dor, a capacidade de resistência é menor, logo
a capacidade de cicatrização fica comprometida.
Origem: Poena ( latim ) – Tormento, punição, castigo
 Experiência sensorial e emocional desagradável relacionada com uma lesão real
ou possível num tecido ou descrita como um dano desse tipo.
A dor é um sintoma, não é um sinal
A dor não é um parâmetro independente
Nota: a dor deve ser sempre avaliada juntamente com os outros sintomas que o doente
refere

Tipos de dor
 Dor nociceptiva
 Resposta fisiológica apropriada a um estímulo doloroso.

1. Dor Aguda- Consequência de deterioração tecidular, podendo ser limitada no


tempo, não permanecendo mais do que 3 meses

2. Dor Crónica – Inflamação persistente (superior a 3 meses e resulta de doenças


crónicas degenerativas)

a)Hiperalgesia primária – Dor na ferida


b)Hiperalgesia secundária – Dor na pele adjacente

3. Dor neuropática- Resposta inadequada provocada


Lesão primária - Lesão nervosa por:
 Trauma
 Infeção
 Cancro
Disfunção do sistema nervoso relacionada com sensações alteradas ou
desagradáveis
– ALODINIA (ex: Dor fantasma – sensação de dor sem que a mensagem seja
real).

Causas da dor
1. Dor de fundo – Dor em repouso (característica de processos degenerativos):
Contínua; Intermitente
Fatores locais da Ferida:
 Isquemia.
 Infecção.
 Maceração/abrasão
Patologia Relevante:
 Neuropatia diabética.
 Doença vascular periférica.
 Artrite reumatóide.
 Alterações dermatológicas

2. Dor ocasional-Dor com:


 Com a mobilização,
 Com a tosse
 Com a deslocação do penso.
 Dor durante o penso
 Ao retirar o penso
 Na limpeza da ferida
 Na aplicação de novo penso.

3. Dor operatória – Por secção de tecidos ou manipulação prolongada

Avaliação Inicial da Dor do Doente com Ferida


1. História da dor (dor de fundo, ocasional, tratamento, operatória? )
2. Localização.
3. Experiência anterior de dor.
4. Significado da dor para o doente.
5. Impacto na qualidade de vida diária
Escalas de avaliação da Dor
Escala Qualitativa:

Escala Quantitativa:
Avaliação da Dor do doente com Ferida:
Avaliação continua:
➢ Antes
➢ Durante
➢ Após (ex: o penso ficou apertado, reação a algum produto utilizado)

Mudança de Penso :
• Evitar o traumatismo da ferida
• Evitar a dor
• Evitar a infecção
• Evitar a lesão cutânea
• Penso seco
• Pensos adesivos
• Produtos que aderem
• Limpeza
• Experiência prévia
• Medo de magoar
• Penso de gaze (Se for uma ferida muito exsudativa o penso tende a aderir e
provoca sangramento após o descolamento
Intensidade da DOR
➢ Úlceras de perna
➢ Queimaduras superficiais
➢ Feridas infectadas Intensidade da dor de forma crescente
➢ Úlceras de pressão
➢ Cortes e abrasões
➢ Feridas cavitadas
➢ Feridas fungóides

Atitudes práticas para eliminar a dor no Tratamento das Feridas


• Promover o conforto e o bem estar do doente.
• Fazer o penso no pico máximo do efeito do analgésico administrado.
• Fazer o penso quando o doente estiver psicologicamente preparado
Limpeza da Ferida:
▪ Temperatura ambiente adequada
▪ Proteger as margens da ferida
▪ Utilizar solutos aquecidos
▪ Evitar o uso de agentes tópicos citotóxicos e químicos agressivos
▪ Irrigação das feridas limpas a baixa pressão
▪ Irrigação das feridas infetadas a pressão elevada
▪ Remover o tecido necrótico com o método de desbridamento mais
adequado
▪ Controlar o exsudato, mantendo a cicatrização em ambiente húmido
▪ Utilizar o penso mais adequado a cada ferida e ao seu estado de
cicatrização
Autoimagem da pessoa com Feridas
• A ferida cutânea não é bem aceita pela sociedade
• Pode ser motivo de exclusão social do doente
A pessoa com Feridas
O tratamento de feridas está a tornar-se uma área cada vez mais específica e científica,
diferenciando-se progressivamente como uma especialidade no campo dos cuidados
de saúde.
O profissional tem na sua frente um ser humano fragilizado com odores e exsudado,
com dores tanto no corpo quanto na alma.
A autoestima destroçada, a dura e prolongada recuperação a perspectiva das
complicações e sequelas, são fantasmas que, geralmente, acompanham o tratamento
deste tipo de doente.
• O profissional de saúde sofre também o impacto das lesões que se dispõe a
tratar.
• O cuidar da ferida de alguém vai muito além dos cuidados gerais ou da
realização de um curativo.
• Uma ferida pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que dói, sem
necessariamente precisar de estímulos sensoriais, uma marca ou uma mágoa,
uma perda irreparável ou uma perda incurável.
• A ferida é algo que fragiliza e muitas vezes incapacita
• O portador de uma lesão carrega consigo a causa dessa lesão: um acidente,
queimadura, agressão, doença crónica, complicações após um procedimento
cirúrgico…
A solução de continuidade passa a ser marca, lembrança de dor, da perda, mesmo após
a cicatrização
• Os aspectos éticos são muito importantes no tratamento de feridas…
As Feridas cuidam-se mantendo-as limpas, mantendo o ambiente externo cuidado,
alimentando quem as tem e dando-lhes carinho

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