Mulheres Portuguesas e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Na Liga Republicana das Mulheres Por- tuguesas, da qual foi cofundadora com Ana de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo, Adelaide Cabete conciliou a defesa da implan- tação da República com a defesa da emanci- pação social, económica, política e cultural das mulheres. Mas a cumplicidade que antes da implantação da República os republicanos haviam manifestado com o programa global das feministas será esquecida na prática go- vernativa. O não cumprimento da promessa do sufrágio universal constituiu uma enorme deceção para as feministas e conduziria a divergências declaradas com o partido. Em março de 1914, Adelaide Cabete assiste em Washington à quinta Assembleia Quin- quenal do International Council of Women, organização feminista internacional formada em 1888, que em 1889 representava já 600 mil feministas e tinha conselhos em 11 países. Nessa assembleia propõe a criação do Con- selho Nacional das Mulheres Portuguesas, JORNAL ‘O SÉCULO’
do qual será presidente durante 20 anos.
O Conselho foi o grupo feminista português que teve maior longevidade e ligação mais orgânica ao feminismo internacional – iria filiar-se também na Aliança Internacional A Liga das Mulheres Republicanas n‘O Século’ Entre as várias médicas, estão Adelaide para o Sufrágio e a Ação Cívica e Política das Cabete (nº 14), Ana de Castro Osório (nº5), Maria Veleda (nº 6) e Carolina Beatriz Ângelo (nº 15) Mulheres, criada em 1904. Ainda que as mulheres que o integraram pertencessem sobretudo a um meio social Conselho, que Adelaide Cabete dirigiu entre privilegiado da burguesia urbana, cultural 1920 e 1929: o Boletim Oficial (1914), desig- e civicamente ativo, estando muitas delas nado depois Alma Feminina (1917) e, mais entre as primeiras licenciadas e as primeiras «Se a sociedade quiser tarde, A Mulher (1946). a exercer profissões nas suas áreas, o Conselho preparar uma raça de Enquanto presidente, Adelaide Cabete re- assumiu o propósito de mobilizar mulheres de cidadãos vigorosos presentou o governo português em dois con- todas as classes. O artigo 2º dos seus estatutos gressos feministas internacionais, nomeada estabelecia as bases de defesa da situação de (...) terá de principiar pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e todas as mulheres, especialmente operárias. por proteger os futuros pelo ministro do Trabalho: o Congresso In- A estratégia de integrar no seu seio agremia- cidadãos na sua vida ternacional Feminino, promovido em Roma ções federadas e criar grupos e secções profis- intrauterina e princípio pela Aliança Internacional para o Sufrágio e a sionais femininas traduziu esse propósito. Se Ação Cívica e Política das Mulheres, em 1923, a reivindicação do direito de voto feminino e o da extra uterina, e o Congresso do Conselho Internacional, incentivo à participação política das mulheres proporcionando às realizado em 1925 em Washington. foram a grande bandeira de reivindicação do mulheres grávidas Na esteira dos congressos internacionais, Conselho, a defesa dos direitos profissionais, pobres os meios de por altura do 10º aniversário o Conselho de- do «trabalho digno», da igualdade de salário cide realizar o Primeiro Congresso Feminista entre mulheres e homens, incitaram igual- conforto ao seu estado e da Educação Português, que decorreu de 4 a mente a ação e o discurso. Diversos artigos (…)» 9 de maio de 1924. Foi enorme o impacto que sob o tema seriam publicados na revista do Adelaide Cabete, 1908 teve, com a adesão de destacados organismos