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MULHERES // SÉCS.

XIX-XX

guesas (1916-1938), a Liga Republicana das


Mulheres Portuguesas e o Conselho Nacional
das Mulheres Portuguesas.
Na Liga Republicana das Mulheres Por-
tuguesas, da qual foi cofundadora com Ana
de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo,
Adelaide Cabete conciliou a defesa da implan-
tação da República com a defesa da emanci-
pação social, económica, política e cultural
das mulheres. Mas a cumplicidade que antes
da implantação da República os republicanos
haviam manifestado com o programa global
das feministas será esquecida na prática go-
vernativa. O não cumprimento da promessa
do sufrágio universal constituiu uma enorme
deceção para as feministas e conduziria a
divergências declaradas com o partido.
Em março de 1914, Adelaide Cabete assiste
em Washington à quinta Assembleia Quin-
quenal do International Council of Women,
organização feminista internacional formada
em 1888, que em 1889 representava já 600
mil feministas e tinha conselhos em 11 países.
Nessa assembleia propõe a criação do Con-
selho Nacional das Mulheres Portuguesas,
JORNAL ‘O SÉCULO’

do qual será presidente durante 20 anos.


O Conselho foi o grupo feminista português
que teve maior longevidade e ligação mais
orgânica ao feminismo internacional – iria
filiar-se também na Aliança Internacional A Liga das Mulheres Republicanas n‘O Século’ Entre as várias médicas, estão Adelaide
para o Sufrágio e a Ação Cívica e Política das Cabete (nº 14), Ana de Castro Osório (nº5), Maria Veleda (nº 6) e Carolina Beatriz Ângelo (nº 15)
Mulheres, criada em 1904.
Ainda que as mulheres que o integraram
pertencessem sobretudo a um meio social Conselho, que Adelaide Cabete dirigiu entre
privilegiado da burguesia urbana, cultural 1920 e 1929: o Boletim Oficial (1914), desig-
e civicamente ativo, estando muitas delas nado depois Alma Feminina (1917) e, mais
entre as primeiras licenciadas e as primeiras «Se a sociedade quiser tarde, A Mulher (1946).
a exercer profissões nas suas áreas, o Conselho preparar uma raça de Enquanto presidente, Adelaide Cabete re-
assumiu o propósito de mobilizar mulheres de cidadãos vigorosos presentou o governo português em dois con-
todas as classes. O artigo 2º dos seus estatutos gressos feministas internacionais, nomeada
estabelecia as bases de defesa da situação de
(...) terá de principiar pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e
todas as mulheres, especialmente operárias. por proteger os futuros pelo ministro do Trabalho: o Congresso In-
A estratégia de integrar no seu seio agremia- cidadãos na sua vida ternacional Feminino, promovido em Roma
ções federadas e criar grupos e secções profis- intrauterina e princípio pela Aliança Internacional para o Sufrágio e a
sionais femininas traduziu esse propósito. Se Ação Cívica e Política das Mulheres, em 1923,
a reivindicação do direito de voto feminino e o
da extra uterina, e o Congresso do Conselho Internacional,
incentivo à participação política das mulheres proporcionando às realizado em 1925 em Washington.
foram a grande bandeira de reivindicação do mulheres grávidas Na esteira dos congressos internacionais,
Conselho, a defesa dos direitos profissionais, pobres os meios de por altura do 10º aniversário o Conselho de-
do «trabalho digno», da igualdade de salário cide realizar o Primeiro Congresso Feminista
entre mulheres e homens, incitaram igual-
conforto ao seu estado e da Educação Português, que decorreu de 4 a
mente a ação e o discurso. Diversos artigos (…)» 9 de maio de 1924. Foi enorme o impacto que
sob o tema seriam publicados na revista do Adelaide Cabete, 1908 teve, com a adesão de destacados organismos

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