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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA-UEFS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
COLEGIADO DE PEDAGOGIA

Disciplina: EDU 612 – Psicologia da Educação


Docente: Iron Pedreira Alves
Discentes: Aynã Caroline Santos Cerqueira e Bruna dos Santos Euzebio.
Data de entrega: 09/06/2022.

Estudo de Caso: curta metragem: “A peste da Janice”

Análise do caso em foco:


O curta metragem "A peste da Janice" de Luís Augusto Fischer apresenta a história de
uma menina com vida humilde que vive com sua mãe que trabalha como serviçal na
escola, local onde ela conseguiu uma bolsa de estudos para sua filha e mora
também com a sua avó, tendo o pai já falecido. Ao iniciar na escola, Janice percebe uma
diferença no padrão de vida das outras meninas em comparação ao seu, elas, por
conseguinte, começam a menosprezá-la praticando bullying pela sua condição
socioeconômica.
Durante uma das aulas, no início do ano escolar, uma aluna conhecida pelo seu mau
comportamento é repreendida pela professora ao ser pega jogando bolinhas de papel em
Janice com intuito de insultá-la, a docente lhe apresenta as boas maneiras que devem
exercer as meninas educadas. No horário do recreio numa tentativa solidária de
apaziguar a situação com a colega que percebera ficar triste pela repreensão da
professora, Janice num movimento de carinho toca na colega que tem uma reação
inusitada ao gritar “a Janice me tocou, peguei a peste da Janice” e assim repete esta fala
tocando nas outras colegas e dizendo “te passei a peste da Janice” e neste momento esta
prática se torna frequente entre as garotas da classe.
Entretanto, apenas uma garota chamada Verônica se omite de tal prática, ela se torna a
única amiga de Janice no caminho voltando da escola, mas apenas neste momento,
sendo mais conveniente estabelecer laços de amizade fora da escola do que na presença
das colegas de turma. Porém, no dia da aula de desenho em que as meninas usavam
réguas e compassos, algo aconteceu que obrigou Veronica a assumir uma posição.
Veronica pega seus lápis na mochila quando sua régua das figuras geométricas cai no
chão, é então que Janice, em um gesto de amizade ou simplesmente de educação, para o
que está fazendo e pega e estende a mão dando a Veronica. Todas as meninas da sala
esperam que Verônica passe “a peste da Janice.”

Relações entre o caso analisado e o texto “Construindo a autonomia moral na


escola: os conflitos interpessoais e a aprendizagem dos valores” de Vinha e
Tognetta.

Percebe-se que não existe neste caso em estudo situações de cooperação, uma vez que
as meninas que faziam bullying com Janice não pararam para analisar aquela
brincadeira de mal gosto “te passei a peste da Janice” poderia está deixando a criança
discriminada, triste, confusa, solitária, desanimada e sem senso de pertencimento
daquele espaço que também é seu. Por essa perspectiva, este curta-metragem está sendo
analisado, a priori, pelos conceitos de moral do dever e moral do bem.

A moral do dever coloca em questão a prática das regras como algo imitativo e
egocêntrico, neste caso as crianças com pais e mães com condições sociais e financeiras
bem estruturadas entendem que as pessoas diferentes delas, como a Janice uma menina
humilde e filha da faxineira da escola por possuírem um baixo padrão de vida, devem
ser tratadas como diferentes, entretanto, não um diferente aceitável mas como pessoas
desprezíveis e que não deveriam socializar com as classes com alto padrão de vida. As
consciências dessas pessoas veem como sagradas a obediência fidedigna às regras
previamente estabelecidas e hierarquizadas.

Quando é julgado as atitudes e/ou comportamentos de alguém pelos resultados


aparentes correm-se os riscos de estabelecer preconceitos e estereótipos ruins sobre
determinado sujeito, cenário este que Janice sofreu. Sendo muito inteligente e se
destacando na escola, despertou sobretudo os olhares de ciúmes e inveja de algumas
garotas. Ou até mesmo pelo seu comportamento mais retraído foi vista como um alvo
para preconceitos e retaliação.
Quando Sofia foi escrever na lousa, posterior a Janice, foi mais fácil justificar para a
professora que o giz estava pequeno, em vez de contar que na realidade o que ela não
queria era pegar em algo que a Janice havia pego primeiro e assim adquirir a suposta
“peste”, entende-se que para as pessoas condizentes com tais atitudes as mentiras e os
erros são mais feios quando são mais passíveis de serem descobertos e punidos.

Em relação a moral do bem que tem seu significado embasado em almejar o bem ao
outro, podemos fazer relação com a única menina capaz de entender que a Janice não
tinha peste alguma e na sua simplicidade era uma menina incrível, os fatos se constatam
de tal forma, que se tornaram amigas. Mas será que de fato Verônica está disposta a
transgredir as regras estabelecidas pelas outras meninas para ficar do lado de Janice?

De fato, ela demonstra insatisfação com a discriminação que as meninas fazem com a
Janice, pautando suas ações em aproximar-se e não repetir aqueles atos, todavia, seria
uma amizade “às escondidas”? Na cena em que a menina Janice a chama pelo nome é
mais conveniente atender o pedido das outras, deixando-a de lado.

Nesse ambiente escolar, o respeito unilateral é mais utilizado pelas crianças, umas com
as outras, do que o respeito mútuo que a professora tenta fazer com que elas aprendam e
elas por sua vez, aplicam apenas com seus pares semelhantes. Tornando a sala de aula
um ambiente excludente e competitivo, sendo a coerção um mecanismo predominante.

Cabe problematizar o que o curta na sua cena final deixa duvidosamente: estaria
Verônica sujeita a agir seguindo a autonomia ou seu comportamento indicará uma moral
direcionada a heteronomia? Uma outra suposição é que Verônica não queira perder a
amizade de Janice mas, também, não queira ser excluída pelas demais crianças ou até
mesmo chamada de “peste”. Por esse lado, ela estaria envolta em um ambiente
coercitivo que lhe obriga a assumir uma posição contrária a menina Janice e esta, por
sua vez, deseja que Verônica haja de forma contrária ao esperado por todas as outras
garotas da classe.

Algumas maneiras concretas para a superação dos problemas apresentados:

Torna-se necessário a discussão e problematização sobre a prática da comunicação não


violenta e o respeito às diversidades desde a creche. Inserindo nos planejamentos das
instituições de ensino a abordagem sobre questões étnico-raciais, buscando apresentar
as crianças a pluralidade existente na sociedade e que todas as pessoas e suas
concepções sejam elas culturais, sociais e ideológicas precisam ser respeitadas.

Sendo fundamental a inserção de mecanismos que promovam a desconstrução das


negações que são inatas ao bebê durante o seu primeiro contato com outros indivíduos
em diferentes meios sociais. Sendo importante ser estimulado, cotidianamente, desde
cedo nas crianças em conjunto com a aprendizagem dos conteúdos programáticos, a
desconstrução das concepções estruturadas na sociedade. Um exemplo de uma
ferramenta que é aliada ao processo de ensino e aprendizagem são as brincadeiras,
sendo utilizadas para promover a interação entre as crianças, desenvolver a autonomia,
incentivar a cooperação, o respeito mútuo e assim criar um clima de sala de aula
favorável.

Contudo, é preciso que haja um investimento na formação continuada de professores


para que estes possam ofertar um ensino de qualidade constituindo-se um dever dos
órgãos públicos. Fundamental para que as crianças se percebam como seres moralmente
autônomos e, cotidianamente, pratiquem atos de forma involuntária exercitando o
respeito a si próprio e aos outros, até mesmo nas brincadeiras que são promovidas na
sala ou que eles participam com os colegas diante ou não da supervisão de um adulto.

Na perspectiva das brincadeiras, destacamos o jogo de colagens intitulado “criar um


rosto com partes diferentes” expondo as crianças revistas com pessoas plurais. Por
conseguinte, com a supervisão de um adulto pedir para que elas recortem vários olhos,
bocas, narizes, orelhas, sobrancelhas e cabelos, frisando que o objetivo da atividade é
montar um rosto com partes diversas. Essa atividade é recomendada para que seja
realizada em grupo e que o docente apenas ajude expondo as regras e auxiliando com as
tesouras. O intuito é fazer com que os pequenos entendem que não existe um padrão de
perfeição, uma vez que todas as pessoas possuem as suas belezas e características
distintas.

Referências:

VINHA, Telma Pileggi; TOGNETTA, Luciene Regina Paulino. Construindo a


autonomia moral na escola: os conflitos interpessoais e a aprendizagem dos valores.
Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 9, n. 28, p. 525-540, set./dez. 2009.
A peste da Janice. Youtube. A peste da Janice. Direção: Rafael Figueiredo. 2007. 1
vídeo (15 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=povo9wCtITo.
Acesso em: 23 jun. 2022.

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