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ENTREVISTA: A importância da comunicação na carreira profissional

Do ponto de vista profissional, qual a real importância da comunicação?

Mario Persona: A boa comunicação é ferramenta essencial para qualquer


profissional. E isso não só para obter benefícios diretos para sua carreira, mas até
para desempenhar seu papel na função que exerce. Há pessoas com excelente
bagagem que não conseguem passar para uma posição de gerência por absoluta falta
de comunicação. Como poderão dirigir pessoas se não sabem como transmitir a elas o
que desejam, suas metas, diretrizes e expectativas de desempenho?

Mas, para o profissional, o papel da comunicação começa bem antes de sua atuação
numa determinada função, começa na hora de conseguir um emprego ou um contrato
para prestar um serviço ou fornecer um produto. Sem essa habilidade ele já sai em
desvantagem em relação aos seus concorrentes. E quando falo de comunicação,
trata-se de comunicação integral que envolve fala, escrita, postura e até mesmo suas
atitudes, crenças e valores. O ser humano é um verdadeiro objeto de comunicação
multimídia, e por onde passa deixa sua influência, tanto pelo que é como por aquilo
que diz ou escreve.

Dependendo da situação, ele poderá precisar de maior ou menor habilidade na fala ou


na escrita, por exemplo. Atualmente, a universidade dá grande importância à
capacidade de escrever do aluno, mas o que o mercado exige dele é justamente uma
capacidade maior de comunicação oral. Será que algum curso já pensou em preparar
seus alunos para falar?

As pessoas tímidas correm o risco de serem eliminadas do mercado de


trabalho?

Mario Persona: Isso é relativo. Há pessoas tímidas que se expressam muito bem
quando escrevem ou mesmo quando falam. Às vezes, a timidez pode ser uma
característica desejável em certas funções, pois poderá ser associada a um
comportamento reservado e discreto, útil em algumas profissões. Como acontece com
muitas outras características pessoais, o que o profissional precisa é saber
transformar suas características em pontos positivos, buscando uma atuação em que
essa característica seja mais desejável.
Vivemos imersos em paradigmas que nem sempre têm razão de ser. Achamos que só
alguém com a desenvoltura de um político ou a dicção de um apresentador de TV será
capaz de ter sucesso na profissão. Veja, por exemplo, a imagem que fazemos do bom
vendedor. Um sujeito falante, destemido, desenvolto e bom de conversa para qualquer
ocasião. No entanto, o norte-americano Ben Feldman, que foi considerado um dos
maiores vendedores de seguros do mundo, dificilmente passaria em um teste de
marketing pessoal ou comunicação segundo o conceito de alguns. Ele era baixinho,
gordinho, careca, tinha a língua presa e a primeira vez que precisou falar em público
só conseguiu fazê-lo atrás da cortina do palco, de tanta vergonha que tinha de
enfrentar uma plateia. Para ele, vender era acreditar naquilo que vendia e ser
apaixonado pelo que fazia.

A paixão faz os olhos do profissional brilharem quando ele fala daquilo que faz, e só
esse brilho no olhar pode valer mais que mil palavras ditas por um tagarela sem
convicção. Portanto, melhor que uma comunicação perfeita é uma convicção perfeita
daquilo que se procura comunicar. Evidentemente, se a pessoa tiver essa convicção e
ainda uma boa comunicação, será mais fácil conquistar seu espaço no mercado e
influenciar pessoas com suas ideias. Mas tenha sempre em mente o que escreveu
Ralph Waldo Emerson: “Aquilo que você é soa tão alto que mal posso ouvir o que
você diz.”

Existe alguma técnica para se comunicar melhor?

Mario Persona: Há muitas, mas a primeira e mais importante é saber perguntar.


Comunicação é uma via de mão dupla, e todo profissional deve ter bem claro em
mente que aquilo que deve dizer é aquilo que precisa ser dito para uma audiência em
particular, em uma ocasião em especial, dentro de um contexto bem definido e com
objetivos claros. Tudo isso só pode ser alcançado se o profissional fizer um trabalho
investigativo prévio, perguntando ou pesquisando.

Veja, portanto, que a comunicação eficaz é um processo, e não um discurso qualquer


bem elaborado. Começa investigando, perguntando, percebendo a situação, as
pessoas e o ambiente, para então adaptar a mensagem de forma a ser compreensível
ao receptor, levando em consideração os ruídos do processo, as necessidades do
público-alvo, diferenças culturais, meios utilizados e uma série de outras variáveis.
Tudo se resume em saber perguntar, em fazer as perguntas certas para que sua
comunicação seja efetivamente uma resposta aos anseios e expectativas de sua
audiência.

Qual a tendência para novos profissionais, ou seja, o que é necessário para se


ter certeza que será possível manter-se empregado?

Mario Persona: Primeiro, acho que o velho conceito de se manter empregado já não
se aplica nos dias de hoje. Se encontrar alguém que conseguiu manter um emprego
por trinta anos, estará diante de alguém vivendo o conceito de empregabilidade que
vigorou nos dias de nossos pais e avós. Hoje eu prefiro falar em empregabilidade, um
tema muito bem abordado por José Augusto Minarelli, em seu livro homônimo, que é a
capacidade de o profissional se manter apto a estar sempre sendo “empregado”, no
sentido de utilizado, pelo mercado.

O conceito de emprego está mudando, e hoje é comum encontrar empresas onde o


número de colaboradores que fazem parte da lista de funcionários é menor do que o
de colaboradores que trabalham como prestadores de serviços. Obviamente é mais
fácil para a empresa substituir um prestador de serviços que não atenda às
expectativas do que substituir um colaborador efetivo, por isso o profissional de hoje
deve se preparar para ser um prestador de serviços, ainda que esteja
temporariamente trabalhando com carteira assinada.

Pensando desta forma, ele se manterá sempre afinado, em contínuo aprendizado,


porque sabe que não existe mais emprego duradouro visando uma aposentadoria,
mas uma carreira que vai se adaptando conforme o mercado, seus conhecimentos,
habilidades e capacidade de trabalho, o que também vai mudar dependendo de sua
idade, disposição física, etc. Comunicação é apenas um dos fatores envolvidos numa
carreira hoje, mas é um fator importante o suficiente para ser o diferencial entre uma
carreira de sucesso ou de fracasso. Afinal, como as pessoas saberão que sou apto se
eu não souber demonstrar isso de alguma forma? Essa demonstração de minha
capacidade é a comunicação.

PERSONA, Mario. A importância da comunicação na carreira profissional. Entrevista


concedida ao Jornal Identidade, da ALIE, em 25 out. 2005, para uma matéria sobre
comunicação. Disponível em: <http://mariopersona.com.br/entrevista_identidade.html>. Acesso
em: 6 ago. 2013.

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