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APOSTILA HISTÓRIA DE PERNAMBUCO

Ocupação e colonização | Contatos iniciais do europeu com o


nativo local | Capitanias Hereditárias | Duarte Coelho.
Ocupação e Colonização e o Contatos Iniciais com os Nativos
Em 1498, uma expedição liderada pelo navegador português Duarte Pacheco Pereira
zarpou de Portugal com o objetivo de explorar o litoral brasileiro. A missão tinha como
propósito identificar os territórios atribuídos a Portugal e a Castela pelo Tratado de
Tordesilhas, firmado em 1494. Pacheco Pereira, que desempenhou um papel nas negociações
do tratado, buscava mapear as fronteiras estabelecidas pelo acordo.
TOME NOTA: Apesar de Duarte Pacheco Pereira ter liderado essa expedição
em 1498 para explorar o litoral brasileiro, um dos mais notáveis exploradores
portugueses da época foi Pedro Álvares Cabral. Cabral, em sua expedição ao Brasil
em 1500, acabou "descobrindo" oficialmente o país para Portugal. A expedição de
Duarte Pacheco Pereira foi uma das primeiras tentativas de entender e delimitar os
territórios conforme o Tratado de Tordesilhas, mas é a expedição de Cabral que
muitas vezes é mais lembrada nos registros históricos.

Duarte Pacheco Pereira.

Em 26 de janeiro de 1500, outra expedição, sob o comando


do espanhol Vicente Yáñez Pinzón, alcançou o Cabo de
Santo Agostinho, situado no litoral sul de Pernambuco. Este
evento contribuiu para a crescente exploração das terras
recém-descobertas.

Vicente Pinzón

No início do mesmo ano, em 1500, Pedro Álvares Cabral


liderou uma expedição que partiu de Portugal em direção ao
Oriente, com o objetivo principal de fortalecer os laços comerciais
com as Índias. Além disso, a expedição tinha o propósito de
confirmar as vantagens estipuladas pelo Tratado de
Tordesilhas.

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Pedro Álvares Cabral
Quando Cabral e sua esquadra chegaram a Porto
Seguro, no litoral da terra que mais tarde seria
chamada de Ilha de Vera Cruz e, posteriormente,
Terra de Santa Cruz, os portugueses já possuíam
considerável experiência em suas explorações
marítimas.

À véspera da chegada dos europeus à América em 1500, estima-se que o território que
hoje compreende o Brasil (a costa oriental da América do Sul) era habitado por
aproximadamente dois milhões de indígenas, desde o Norte até o sul.

TOME NOTA: Antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500, as


terras agora conhecidas como Brasil eram habitadas por diversos povos
indígenas, com uma estimativa de aproximadamente dois milhões de
habitantes. Essas comunidades indígenas tinham uma rica diversidade cultural, com
diferentes línguas, costumes e formas de organização social. A chegada dos europeus
marcou o início de um período de encontros e conflitos entre as culturas
indígenas e os colonizadores, deixando um impacto duradouro na história e
na sociedade brasileira.

Grupos Indígenas Anterior a chegada de Cabral

Quando os portugueses chegam aqui no Brasil em


1500, devido a uma consequência direta dos
acontecimentos da Expansão Ultramarina, Pero Vaz de
Caminha relata para o Rei de Portugal Dom Manoel, a
não existência de metais preciosos ao rei, “aqui não tem
nem ouro nem prata nem pedras preciosas, e ele diz que a
tarefa mais árdua e mais honrosa que Portugal pudesse
fazer seria salvar essa gente” sugerindo a catequização
deles.

O período de 1500 – 1530 não tivemos uma colonização sistemática, uma


colonização de fé e fato, o que tivemos foi um período de reconhecimento do território
brasileiro. É onde a coroa vai promover o primeiro contato com os indígenas.

Portugal envia ao Brasil, expedições exploratórias que tinham como objetivos


investigar os potenciais atividades econômicas que o território poderia ter, e é em uma dessas
explorações que Gaspar de Lemos notifica que em boa parte do litoral brasileiro do Pau-Brasil
que será a primeira atividade econômica desenvolvida pelos portugueses em terras brasileiras.

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O pau-brasil se torna o principal produto que norteia a economia nesses 30
primeiros anos, uma atividade exploratória, uma atividade nômade, predatória que não
promove o povoamento do território. A atividade funcionava através do Estanco: O
monopólio que a coroa portuguesa possuía em relação a extração do pau-Brasil este que era
usada para o tingimento de tecido na Europa.

Extração do Pau-Brasil
O trabalho do Pau-Brasil era realizado pela
mão de obra indígena, através do Escambo, que
seria uma troca natural os índios faziam o trabalho
pesado e em troca ganhavam tecidos, objetos
metálicos, tecidos, dentre outras coisas, objetos que
eram desconhecidos pelos indígenas.

Os Indígenas tendo contato com novos “materiais”


em troca do Pau-Brasil

TOME NOTA: O contato dos indígenas com os novos materiais resultantes do


escambo durante a extração do Pau-Brasil não apenas introduziu elementos
estranhos em suas vidas, mas também teve implicações culturais
significativas. Muitos objetos metálicos e tecidos, até então desconhecidos pelos
indígenas, tornaram-se parte de sua realidade cotidiana. Essa troca cultural
influenciou não apenas a materialidade da vida indígena, mas também suas
práticas e percepções.

Além disso, o escambo estabeleceu um padrão de interação que, ao longo do


tempo, moldaria as relações entre os colonizadores europeus e os povos indígenas.
A dependência dos indígenas em relação aos objetos introduzidos pelos
europeus criou dinâmicas complexas de poder e influência. Essa fase inicial de
contato, marcada pelo intercâmbio de bens materiais, foi apenas o começo de uma
história mais ampla de interações entre culturas distintas no Brasil colonial.

Capitanias Hereditárias

No início da colonização Portuguesa a coroa optou por dividir o território em capitanias


hereditárias para a pequena nobreza de Portugal, dividindo em vários lotes de terras
que por sua vez era chamado de capitanias hereditárias sistema esse que Portugal já havia
experimentado nas ilhas oceânicas (Madeira, Açores e Cabo Verde). Portugal coloca na mão da

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iniciativa privada a tarefa de colonizar o território português. Território brasileiro foi dividido
em 15 lotes de terras, 14 capitanias que foi entregue a 12 donatários.

Capitanias Hereditárias, e seus respectivos


donatários.
As capitanias hereditárias é uma descentralização
administrativa colocando na mão da iniciativa privada a
tarefa de promover a colonização da américa portuguesa,
essa iniciativa privada seria responsável pela colonização
portuguesa e pelos recolhimentos dos impostos destinando a
metrópole portuguesa.

Apenas duas capitanias terão resultados eficientes, duas delas terão êxitos que é:
Pernambuco (Duarte Coelho) e São Vicente (Martim Afonso de Souza) essas duas
capitanias prosperaram devido ao cultivo da cana de açúcar.

Plantação de Cana de açúcar que será


responsável pelo sucesso de Pernambuco e
São Vicente.

As outras capitanias não obtiveram êxitos, são inúmeros fatores que levaram ao
declínio dessas capitanias hereditárias como: Ataques Indígenas, ataques de piratas
principalmente franceses, a distância de uma capitania a outra, ausência de apoio
financeiro por parte da coroa, falta de iniciativa dos donatários (alguns deles nunca chegaram
a vim ao território doado a eles)

Duarte Coelho

Duarte Coelho, nasceu em 1485, Porto,


Portugal
Falecimento: 7 de agosto de 1554,
Lisboa, Portugal

Primeiro capitão-donatário da
capitania de Pernambuco e Fundador de
Olinda.

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Comandou expedições para o brasil em 1501 e 1503.

Chegou em Pernambuco no dia 9 de março de 1535, vinha acompanhado da mulher,


Brites de Albuquerque, e do cunhado Jerônimo de Albuquerque, e alentada parentela, além
de famílias do Norte de Portugal. Chegaram em Pernambuco para tentar a sorte na indústria
canavieira (que já tinha uma certa experiência).

TOME NOTA: Duarte Coelho é uma figura importante na história da colonização


portuguesa no Brasil. Além de suas realizações como o primeiro capitão-donatário da
capitania de Pernambuco e fundador de Olinda, ele desempenhou um papel
significativo na introdução e desenvolvimento da indústria canavieira na
região.

A vinda de Duarte Coelho para Pernambuco em 1535, acompanhado de sua


família e outras pessoas do Norte de Portugal, destaca o caráter empreendedor
e a busca por oportunidades econômicas durante o período colonial. Sua
contribuição para a indústria canavieira teve um impacto duradouro na economia da
região, marcando o início de uma atividade que se tornaria crucial para a
história econômica do Brasil.

Dona Brites de Albuquerque

Jerônimo de Albuquerque

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Com ajuda de Vasco Fernandes de Lucena, que ali vivia com os tabajaras, em 1537 elevou
à categoria de vila a povoação de Olinda, que havia surgido em 1535 no local da aldeia indígena
de Marim dos Caetés.

Muitas foram às lutas entre os índios, Duarte Coelho e os colonos. Seu cunhado Jerônimo
de Albuquerque uniu-se com a índia filha do cacique Arcoverde dos tabajaras, batizada
Maria do Espírito Santo Arcoverde, para criar um clima de paz entre eles e os índios.

Duarte Coelho foi um dos principais exploradores e colonizadores do Brasil. Ele


nasceu em Portugal, em 1505 chegou ao território brasileiro. Coelho foi responsável por
estabelecer a cidade de Olinda em 1537, sendo considerado o fundador e primeiro
governador. Sua atuação na região foi fundamental para o crescimento e consolidação das
atividades econômicas, como a produção de açúcar, que se tornou uma das bases principais da
economia colonial. Além de seu papel como líder político e administrativo, a biografia de Duarte
Coelho também evidencia sua influência no campo cultural. Ele incentivou o
desenvolvimento das artes e da educação em Olinda, promovendo a construção de igrejas,
escolas e outros espaços dedicados à cultura. Seu legado perdura até os dias de hoje, com a
preservação de monumentos importantes e a valorização da história e identidade de Olinda.

Outra figura notável na história de Olinda é Brites de Albuquerque. Nascida em Portugal,


Brites era filha de Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor., um dos primeiros donatários
da Capitania de Pernambuco. Ela se casou com Duarte Coelho, tornando-se uma figura
importante na sociedade colonial. Sua biografia é lembrada por sua atuação na defesa da
Capitania de Pernambuco contra invasões estrangeiras e conflitos internos. Brites de
Albuquerque demonstrou liderança e coragem durante os confrontos com os invasores
franceses e holandeses, que ameaçavam a soberania portuguesa na região. Ela participou
ativamente da resistência, organizando defesas e liderando tropas, tornando-se uma
figura respeitada e admirada por seu papel na proteção de Olinda.

TOME NOTA: É fascinante observar como Duarte Coelho desempenhou um


papel crucial não apenas na fundação e governança de Olinda, mas também na
promoção do desenvolvimento cultural e econômico da região. Sua visão abrangente
e comprometimento com o crescimento da cidade são evidenciados não apenas nas
realizações tangíveis, como a construção de igrejas e escolas, mas também na forma
como ele buscou estabelecer laços de paz com as comunidades indígenas locais.

Além disso, a presença e contribuições de Brites de Albuquerque acrescentam


uma dimensão interessante à história de Olinda. Sua atuação na defesa da
Capitania de Pernambuco contra invasões estrangeiras destaca a
importância das mulheres na resistência e na construção da história colonial
brasileira.

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Fixando o conteúdo

1. Pergunta: Qual era o objetivo da expedição liderada por Duarte Pacheco Pereira
em 1498?

2. Quem comandou a expedição que alcançou o Cabo de Santo Agostinho em 1500?

3. Por que Pedro Álvares Cabral liderou uma expedição em 1500?

4. O que Pero Vaz de Caminha relatou sobre o território brasileiro em 1500?

5. Qual atividade predominou nos primeiros 30 anos após a chegada dos portugueses
ao Brasil?

6. Como era realizada a extração do Pau-Brasil e qual era a moeda de troca com os
indígenas?

7. O que eram as Capitanias Hereditárias no início da colonização portuguesa no


Brasil?

8. Quais foram as duas Capitanias que prosperaram devido ao cultivo da cana de


açúcar?

9. Por que algumas Capitanias Hereditárias não obtiveram êxito?

10. Quem foi Duarte Coelho e qual foi seu papel na colonização de Pernambuco?

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11. Quem comandou a expedição que elevou a povoação de Olinda à categoria de vila
em 1537?

12. Qual foi a contribuição cultural de Duarte Coelho em Olinda?

13. Quem foi Brites de Albuquerque e qual foi seu papel na história de Pernambuco?

14. Qual era a atividade principal da Capitania de Pernambuco sob o comando de


Duarte Coelho?

15. O que Gaspar de Lemos notificou sobre o litoral brasileiro em suas explorações?

16. Qual era a principal moeda de troca entre os indígenas e os portugueses na


extração do Pau-Brasil?

17. O que eram as Capitanias Hereditárias e qual era o objetivo ao dividi-las?

18. Por que Pernambuco e São Vicente se destacaram entre as Capitanias


Hereditárias?

19. Quais foram os fatores que levaram ao declínio de algumas Capitanias


Hereditárias?

20. O que Pero Vaz de Caminha relatou sobre o território brasileiro em sua carta ao
Rei Dom Manoel?

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Respostas

1. Explorar o litoral brasileiro para identificar os territórios atribuídos a Portugal e


Castela pelo Tratado de Tordesilhas.

2. Vicente Yáñez Pinzón.

3. Fortalecer os laços comerciais com as Índias e confirmar as vantagens estipuladas


pelo Tratado de Tordesilhas.

4. A ausência de metais preciosos, sugerindo a catequização dos indígenas.

5. A exploração do Pau-Brasil, usado para tingimento de tecidos na Europa.

6. Realizada pela mão de obra indígena através do escambo, trocando trabalho


pesado por tecidos, objetos metálicos, entre outros.

7. Territórios divididos para a nobreza portuguesa colonizar, descentralizando a


administração e arrecadação de impostos.

8. Pernambuco (Duarte Coelho) e São Vicente (Martim Afonso de Souza).

9. Ataques indígenas, ataques de piratas, distância entre capitanias, falta de apoio


financeiro e iniciativa dos donatários.

10. Primeiro capitão-donatário, fundador de Olinda, promoveu crescimento


econômico, especialmente na produção de açúcar.

11. Duarte Coelho, com a ajuda de Vasco Fernandes de Lucena.

12. Incentivou o desenvolvimento das artes e educação, construindo igrejas e espaços


culturais.

13. Esposa de Duarte Coelho, atuou na defesa de Pernambuco contra invasões,


demonstrando liderança e coragem.

14. Indústria canavieira, com experiência prévia na produção de açúcar.

15. Identificou a presença do Pau-Brasil, primeira atividade econômica dos


portugueses no Brasil.

16. Escambo, troca por tecidos, objetos metálicos e outros desconhecidos pelos
indígenas.

17. Territórios divididos para a nobreza portuguesa colonizar, descentralizando a


administração e arrecadação de impostos.

18. Prosperaram devido ao cultivo bem-sucedido da cana de açúcar.

9
19. Ataques indígenas, ataques de piratas, distância entre capitanias, falta de apoio
financeiro e iniciativa dos donatários.

20. A ausência de metais preciosos, sugerindo a catequização dos indígenas.

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REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
Revolução Pernambucana
A Revolução Pernambucana de 1817 é, de fato, um marco importante na história do Brasil
e, mais especificamente, na luta pela independência. Algumas considerações e temas
associados te ajudar a entender esse período.
1. Guerras Napoleônicas e Invasões Francesas em
Portugal (1808-1814):
 Durante as guerras napoleônicas, Portugal foi
invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte.
 A família real portuguesa, liderada pelo príncipe
regente Dom João, fugiu para o Brasil, tornando o Rio de
Janeiro a capital do Império Português.
2. Período Joanino (1808-1821):
 O Brasil experimentou mudanças significativas
durante a estadia da família real portuguesa.
 A abertura dos portos às nações amigas em 1808
contribuiu para alterações econômicas e sociais.
 A elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal, em
1815, mostrou uma maior autonomia, mas
também gerou tensões.
 Influências das Ideias Iluministas e Liberais:
 Os ideais iluministas e liberais, que promoviam
conceitos como igualdade, liberdade e
fraternidade, inspiraram movimentos de independência ao redor do mundo.
 A Revolução Pernambucana refletiu essas influências ao buscar a emancipação e
a instauração de uma república.
3. Causas da Revolução Pernambucana (1817):
 Insatisfação com o domínio português e as políticas
centralizadoras.
 Desejo por maior participação política e autonomia regional.
 Adoção de ideias liberais e republicanas.
 Desdobramentos da Revolução:

A instauração da República Pernambucana em 1817 durou apenas alguns


meses.

O movimento foi reprimido pelas forças portuguesas, resultando em


perseguições e punições aos envolvidos.

4. Impacto Histórico:

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Mesmo que a República Pernambucana tenha sido efêmera, seu impacto histórico é
significativo, sendo um dos primeiros movimentos no Brasil em direção à
independência.
Os movimentos emancipacionistas, são os movimentos que tinha o objetivo de romper
com a metrópole (Portugal) ou seja, promover a independência do Brasil. Dentre esses
movimentos temos alguns:

1. Revolução Pernambucana (1817):

Destacou-se como o único movimento que, ainda que brevemente,


conseguiu efetivamente proclamar a independência e instaurar uma
república provisória.
2. Inconfidência Mineira (1789):

Apesar de não ter obtido sucesso como a Revolução Pernambucana, a


Inconfidência Mineira é considerada um marco significativo na luta pela
independência. Os inconfidentes mineiros almejavam a autonomia em relação a
Portugal, mas o movimento foi sufocado antes de ser efetivado.

3. Conjuração Baiana (1798):

A Conjuração Baiana, também conhecida como


Revolta dos Alfaiates, teve como epicentro Salvador, na
Bahia. Assim como os demais movimentos, buscava a
independência, mas também almejava a abolição da
escravidão. Entretanto, assim como a Inconfidência
Mineira, foi reprimida pelas autoridades coloniais.

Cada um desses movimentos teve suas peculiaridades, motivações e


desdobramentos, contribuindo para o processo de amadurecimento do desejo de
independência no Brasil. A Revolução Pernambucana se destaca por ter alcançado
brevemente a Proclamação da Independência, mesmo que sua efetividade tenha sido
passageira.

Antecedentes da Revolução Pernambucana

1. Período Joanino (1808-1821):

O Período Joanino refere-se ao tempo em que a família real portuguesa, liderada pelo
Príncipe Regente Dom João, se instalou no Brasil. Esse período foi marcado por eventos
significativos que impactaram diretamente a situação de Pernambuco e contribuíram para o
cenário que culminou na Revolução Pernambucana de 1817.

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2. Invasão Napoleônica:

O contexto internacional foi crucial para o Período Joanino.


Com a invasão napoleônica em Portugal em 1807, a família real
portuguesa fugiu para o Brasil como medida de preservação da
monarquia e da autonomia portuguesa.

3. Abertura dos Portos (1808):

Ao chegar ao Brasil, Dom João adotou uma série de


medidas que incluíram a abertura dos portos às nações amigas,
rompendo com o pacto colonial. Essa ação impactou as relações
comerciais e a economia local.

4. Elevação do Brasil a Reino Unido:

Em 1815, Portugal e Brasil foram elevados à condição de Reino Unido de


Portugal e Brasil, com igualdade de condições. Essa mudança refletiu uma certa
autonomia concedida ao Brasil.

O impacto desses eventos no cenário


pernambucano foi significativo. A abertura dos
portos gerou mudanças nas dinâmicas comerciais,
enquanto a presença da família real proporcionou
uma relativa autonomia ao Brasil. No entanto, essas
mudanças também acirraram as tensões sociais e
políticas na região, alimentando o desejo de
autonomia e independência. O sentimento
antilusitano persistiu, especialmente entre os
segmentos descontentes com o sistema colonial e comercial vigente. Todos esses elementos
contribuíram para o ambiente propício à eclosão da Revolução Pernambucana de 1817.

Causas da Revolução Pernambucana


1. Decadência Econômica:

Seca de 1816: A região de Pernambuco foi atingida por


uma severa seca em 1816, contribuindo para a decadência
econômica. A falta de chuvas afetou a produção agrícola e a vida
da população.

2. Declínio da Produção Açucareira:

O declínio da produção açucareira, que já vinha ocorrendo desde o século XVIII, agravou
a situação econômica de Pernambuco. Fatores como a concorrência com o açúcar das Antilhas
contribuíram para essa queda.

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3. Elevados Impostos das Cortes no Rio de Janeiro:

As cortes no Rio de Janeiro propuseram elevados


impostos para sustentar as despesas da corte portuguesa,
financiar projetos urbanos no Rio de Janeiro (como
Jardim Botânico, Banco do Brasil, Biblioteca Nacional,
Museu, Laboratório Astronômico) e custear as guerras,
como a Cisplatina e conflitos na Guiana Francesa.

4. Descontentamento com as Políticas Centrais:

A centralização das decisões políticas nas cortes do Rio de Janeiro gerou


descontentamento em Pernambuco. A imposição de políticas e tributações sem considerar as
especificidades locais contribuiu para a insatisfação.

5. Divisões Sociais e Raciais:

Pernambuco era marcado por divisões sociais e raciais. A elite branca, composta
principalmente por senhores de engenho, detinha poder econômico e político, enquanto a
população negra e mestiça enfrentava condições desfavoráveis.

Essas causas combinadas criaram um cenário propício para a eclosão da


Revolução Pernambucana em 1817, marcando um movimento emancipacionista e
republicano no contexto brasileiro.

Influências Externas

1. Pensamento Iluminista:

Liberdade Política: A influência do pensamento iluminista,


que defendia ideias como liberdade política, autogoverno e fim
do absolutismo, inspirou os revolucionários pernambucanos. Os
princípios iluministas foram fundamentais na concepção de uma
sociedade mais democrática e participativa.

Liberdade de Expressão: Os ideais iluministas também incluíam a defesa da liberdade de


expressão, um conceito que pode ter influenciado a busca por maior participação popular e
liberdade de manifestação durante a Revolução Pernambucana.

2. Revolução Francesa:

A Revolução Francesa, ocorrida entre 1789 e 1799,


teve impacto global ao promover a ascensão política da
burguesia, o fim do absolutismo e a busca por princípios
republicanos. Esses eventos podem ter servido de

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inspiração para os revolucionários em Pernambuco, alimentando a ideia de luta contra a tirania
e a busca pela liberdade.
3. Independência dos EUA:

A independência dos Estados Unidos, consolidada


em 1783, representou a criação da primeira república em
solo americano. Esse acontecimento histórico pode ter
inspirado os pernambucanos na busca por autonomia e
autodeterminação, refletindo a influência dos
movimentos republicanos.

As ideias e eventos que ecoaram do Iluminismo, da Revolução Francesa e da


independência dos Estados Unidos contribuíram para a formação de um contexto
intelectual propício à Revolução Pernambucana, influenciando os ideais e aspirações
dos participantes desse movimento.

Grupos Sociais
1. Camadas Populares de Pernambuco:

As camadas populares desempenharam um papel


significativo na Revolução Pernambucana. O
descontentamento causado por fatores como a seca, a crise
econômica e os elevados impostos mobilizaram os
segmentos mais pobres da população, levando-os a apoiar
e participar ativamente do movimento.
2. Proprietários de Terras:

Os proprietários de terras, especialmente os senhores de


engenho, eram uma classe influente em Pernambuco. A crise na
produção açucareira e a competição com outras regiões
impactaram negativamente esses proprietários, contribuindo
para o clima de insatisfação que alimentou a Revolução.

3. Lideranças Políticas e Religiosas (Revolução dos Padres):

Lideranças políticas e religiosas tiveram um papel proeminente,


e a Revolução Pernambucana ficou conhecida como a "Revolução dos
Padres". Algumas figuras religiosas, como Frei Caneca,
desempenharam papéis importantes na articulação política e na
mobilização popular.

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4. Maçonaria:

A Maçonaria também teve influência na


Revolução Pernambucana, disseminando
ideais iluministas de liberdade, igualdade e
fraternidade. Membros da Maçonaria podem
ter desempenhado papéis-chave na
organização e na propagação dos princípios
republicanos que inspiraram o movimento.

A convergência de diferentes grupos sociais, unidos por insatisfações políticas,


econômicas e sociais, foi crucial para a mobilização e o êxito temporário da Revolução
Pernambucana. Essa diversidade de atores reflete a complexidade do movimento e
as várias camadas da sociedade envolvidas em sua busca por mudanças.

Propostas Políticas

1. Elite Agrária (Grandes Proprietários de Terras):


 Autogoverno:
Buscavam maior autonomia política para a região, rompendo com a centralização
exercida por Portugal.
 Controle do Comércio:
Propunham o controle local sobre o comércio, visando uma maior autonomia econômica
em relação às imposições portuguesas.
 Fim dos Monopólios Portugueses:
Desejavam o fim dos monopólios comerciais que limitavam as oportunidades econômicas
da região.
 Fim dos Impostos Coloniais:
Almejavam a redução ou eliminação dos pesados impostos coloniais que recaíam sobre a
população local.
 Manutenção do Latifúndio e da Escravidão:
Buscavam preservar o sistema latifundiário e a escravidão, elementos fundamentais para
a economia baseada na produção agrícola.
2. Camadas Populares:
 Igualdade de Direitos:
Pleiteavam a igualdade de direitos para toda a população, incluindo camadas médias e os
mais pobres. Isso envolvia a questão da mão de obra e, em alguns casos, a abolição da
escravidão.

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3. Objetivos Comuns:
 Independência da Capitania de Pernambuco:
O anseio pela independência da capitania refletia o desejo de autonomia política em
relação a Portugal.
 Proclamação da República:

A Proclamação da República era um objetivo compartilhado, indicando a aspiração por


um governo republicano e descentralizado.

Essas propostas refletem as diferentes visões e interesses das classes sociais


envolvidas na Revolução Pernambucana. A busca por autonomia política, controle
econômico local e questões relacionadas à igualdade foram temas centrais que
uniram e, em alguns casos, diferenciaram os participantes do movimento.

Principais Lideranças na Revolução Pernambucana:

1. Domingos José Martins (Comerciantes):

Representante do segmento de comerciantes, desempenhou um papel


importante na articulação política e na liderança do movimento.
2. Padres João Ribeiro e Miguel Joaquim de Almeida e
Castro (Padre Miguelinho):

Lideranças religiosas que se destacaram no movimento, sendo Padre


Miguelinho uma figura emblemática no contexto da Revolução
Pernambucana.

3. Frei Caneca:

Importante líder religioso e político, Frei Caneca teve


participação ativa no movimento, contribuindo para a organização e
difusão das ideias republicanas.
4. Antônio Carlos Ribeiro de Andrade (Ouvidor-
mor de Olinda):

Como Ouvidor-mor de Olinda, desempenhou um papel significativo na


liderança política, representando os interesses de Olinda na busca pela
autonomia.
5. Capitães José de Barros Lima e Pedro Pedroso:

Capitães que exerceram influência militar no movimento,


contribuindo para a organização das forças que buscavam a independência
de Pernambuco.

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Essas lideranças desempenharam papéis distintos, representando diferentes
setores da sociedade pernambucana. A união de comerciantes, líderes religiosos,
políticos e militares refletiu a diversidade de forças que se uniram na busca pela
autonomia e pela Proclamação da República na Revolução Pernambucana.

Ação Revolucionária

A ação revolucionária na Revolução Pernambucana de 1817 foi marcada por


eventos significativos que culminaram na Proclamação da República em Pernambuco.
Alguns dos principais acontecimentos e medidas adotadas foram:

1. Derrubada do Governador:

Os revolucionários conseguiram derrubar o governador de Pernambuco, Caetano Pinto


de Miranda Montenegro, marcando o início efetivo da revolta.
2. Proclamação da República em Pernambuco:

Após a queda do governador, foi proclamada a República em Pernambuco, sinalizando a


ruptura com o domínio português e a busca pela autonomia política.
3. Medidas Adotadas:

Foram adotadas medidas importantes, como a garantia da liberdade de expressão, de


imprensa e de religião. Além disso, a abolição de impostos sobre gêneros básicos visava aliviar
a carga tributária sobre a população.
4. Adesão de Capitanias:

As capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte aderiram à Revolução, ampliando o


alcance geográfico do movimento.
5. Lei Orgânica:

O governo revolucionário elaborou uma lei orgânica, que funcionava como um esboço de
constituição. Essa lei buscava estabelecer princípios republicanos, incluindo a igualdade de
direitos.
6. Busca por Apoio Externo:

Os revolucionários pernambucanos tentaram obter apoio externo, buscando alianças com


países como Estados Unidos, Inglaterra e Argentina.
7. Descontentamento Popular:

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Apesar das medidas progressistas, a manutenção da propriedade privada, incluindo a
escravidão, gerou descontentamento entre as camadas populares, que almejavam a abolição da
escravidão.
8. Ocupação do Poder por 3 Meses:

Os rebeldes ocuparam o poder por aproximadamente três meses, entre março e maio de
1817, período em que tentaram implementar suas ideias e consolidar a independência de
Pernambuco
A bandeira da Revolução Pernambucana de 1817, que simbolizou o período em
que Pernambuco proclamou sua independência, serve de inspiração para a bandeira
atual do estado de Pernambuco. As referências históricas e os símbolos presentes na
bandeira original foram incorporados à atual, criando uma conexão visual e simbólica
entre o passado revolucionário e a identidade contemporânea do estado. É comum
ver elementos históricos sendo preservados e reinterpretados nas bandeiras e
símbolos atuais de várias regiões, refletindo a importância da memória e das
tradições na construção da identidade cultural.

Derrota do Movimento
A execução do Padre Miguelinho e a repressão severa demonstram a resposta implacável
do governo à Revolução Pernambucana de 1817. A punição exemplar, como o fuzilamento de
lideranças, era uma estratégia comum para desencorajar futuros levantes e manter o controle
sobre as províncias coloniais. Infelizmente, a divergência interna entre os grupos sociais e a
falta de apoio externo foram fatores adicionais que contribuíram para a derrota do movimento.
Essa revolta, apesar de ter alcançado a independência temporária, enfrentou desafios
significativos que resultaram em sua supressão.

Fixando o Conteúdo
1. Quem liderou a família real portuguesa durante as Invasões Francesas em Portugal
(1808-1814)?
2. O que contribuiu para as mudanças econômicas e sociais no Brasil durante o Período
Joanino (1808-1821)?
3. Qual foi a principal influência ideológica na Revolução Pernambucana?
4. Quais foram as causas da Revolução Pernambucana em 1817?
5. Qual foi o impacto histórico da República Pernambucana de 1817?
6. Quais foram os desdobramentos da Revolução Pernambucana?
7. O que caracterizou a Inconfidência Mineira em relação à Revolução Pernambucana?
8. O que a Conjuração Baiana buscava além da independência?
9. Qual evento internacional impactou o Período Joanino?
10. O que contribuiu para a decadência econômica de Pernambuco antes da Revolução
Pernambucana?
11. Quais eram os objetivos das camadas populares na Revolução Pernambucana?
12. Quem foi conhecido como líder religioso e político na Revolução Pernambucana?
13. O que representou a bandeira da Revolução Pernambucana de 1817?
14. Quais foram as principais medidas adotadas durante a Revolução Pernambucana de
1817?
15. Quem derrubaram durante a ação revolucionária de 1817?
16. Qual foi a busca dos revolucionários por apoio externo durante a Revolução
Pernambucana?

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17. O que marcou o fim temporário da Revolução Pernambucana?
18. O que a divergência interna e a falta de apoio externo contribuíram para?
19. Quem liderou o movimento de independência nas capitanias da Paraíba e do Rio Grande
do Norte?
20. O que caracterizou a busca das camadas populares durante a Revolução Pernambucana?

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Fixando o conteúdo

1. Dom João, o príncipe regente, liderou a família real portuguesa durante as Invasões
Francesas.
2. A abertura dos portos às nações amigas em 1808 contribuiu para as mudanças
econômicas e sociais no Brasil durante o Período Joanino.
3. Os ideais iluministas e liberais, promovendo conceitos como igualdade, liberdade e
fraternidade, foram a principal influência ideológica na Revolução Pernambucana.
4. Insatisfação com o domínio português, desejo por maior participação política, autonomia
regional e adoção de ideias liberais e republicanas foram causas da Revolução
Pernambucana.
5. Mesmo efêmera, a República Pernambucana teve um impacto histórico significativo,
sendo um dos primeiros movimentos em direção à independência no Brasil.
6. A instauração da República Pernambucana durou apenas alguns meses, sendo reprimida
pelas forças portuguesas com perseguições e punições aos envolvidos.
7. A Inconfidência Mineira não obteve sucesso como a Revolução Pernambucana, mas é
considerada um marco significativo na luta pela independência.
8. Além da independência, a Conjuração Baiana também buscava a abolição da escravidão.
9. A invasão napoleônica em Portugal, em 1807, impactou o Período Joanino.
10. A seca de 1816 contribuiu para a decadência econômica de Pernambuco antes da
Revolução Pernambucana.
11. As camadas populares buscavam igualdade de direitos, incluindo camadas médias e os
mais pobres, na Revolução Pernambucana.
12. Frei Caneca foi conhecido como líder religioso e político na Revolução Pernambucana.
13. A bandeira da Revolução Pernambucana representou o período em que Pernambuco
proclamou sua independência.
14. Medidas importantes incluíram a garantia da liberdade de expressão, a abolição de
impostos sobre gêneros básicos e a elaboração de uma lei orgânica.
15. Os revolucionários derrubaram o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro
durante a ação revolucionária de 1817.
16. Os revolucionários pernambucanos buscaram apoio externo, tentando alianças com
países como Estados Unidos, Inglaterra e Argentina.
17. A execução do Padre Miguelinho e a repressão severa marcaram o fim temporário da
Revolução Pernambucana.
18. A divergência interna e a falta de apoio externo contribuíram para a derrota do
movimento revolucionário.
19. Capitães como José de Barros Lima e Pedro Pedroso lideraram o movimento de
independência nas capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
20. As camadas populares buscavam igualdade de direitos, incluindo a questão da mão de
obra e, em alguns casos, a abolição da escravidão.

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GUERRA DOS CABANOS (1835)
A Cabanada: Pernambuco/Alagoas (1832-1834)

As dificuldades financeiras do novo regime,


marcadas pelo quase estagnação do comércio
exterior, a queda nas cotações do algodão e da cana-
de-açúcar, e o privilégio aduaneiro concedido à
Inglaterra, levaram a elite a aderir à revolta conhecida
como "A Guerra dos Cabanos". Essa rebelião foi
conservadora, pois buscava o retorno de D. Pedro I ao
trono do Brasil.

Acontecendo na zona da mata e no agreste, a liderança ficou a cargo de Vicente de Paula,


tendo seguidores de origem humilde, principalmente índios, como os jacuípes, e
escravos foragidos, chamados de papaméis.

A "Guerra dos Cabanos" representa um episódio histórico marcante, sendo uma


revolta conservadora que surgiu devido às dificuldades financeiras do novo regime,
principalmente a quase estagnação do comércio exterior, a queda nas cotações do
algodão e da cana-de-açúcar, e o privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra. Uma
curiosidade adicional é que essa rebelião ocorreu na zona da mata e no agreste.

A liderança da revolta ficou a cargo de Vicente de Paula, e seus seguidores,


conhecidos como Cabanos, eram predominantemente de origem humilde, incluindo
índios, como os jacuípes, e escravos foragidos, chamados de papaméis. Essa
composição diversificada destaca a mobilização de diferentes grupos sociais em
busca de objetivos conservadores, incluindo o retorno de D. Pedro I ao trono do
Brasil. A "Guerra dos Cabanos" ilustra as complexas dinâmicas políticas e sociais que
caracterizaram o Brasil no século XIX.

Com a morte de Dom Pedro I em Portugal em 1834, o movimento perdeu sua razão de
existir. Em uma Conferência de Paz com a participação do bispo Dom João da Purificação
Marques Perdigão, a rebelião terminou. Mesmo assim, os governadores Manoel de Carvalho
Paes de Andrade e Antônio Pinto Chichorro da Gama enviaram um exército de 4000
soldados para cercar a região, resultando na prisão de centenas de revoltosos. Ao término
da Cabanada, o líder Vicente de Paula foi capturado e enviado para a ilha de Fernando de
Noronha.

Apesar do fim oficial da Cabanada, os governadores Manoel de Carvalho Paes


de Andrade e Antônio Pinto Chichorro da Gama não cessaram as ações. Eles enviaram
um exército de 4000 soldados para cercar a região, resultando na prisão de centenas
de revoltosos. No desfecho, o líder Vicente de Paula foi capturado e enviado para a
ilha de Fernando de Noronha. Esse episódio ilustra não apenas as complexidades

1
políticas da época, mas também as medidas repressivas adotadas para conter
movimentos rebeldes no contexto do Brasil no século XIX.

Cabanada
A Cabanada, ocorrida entre Pernambuco e
Alagoas, durante o conturbado período regencial
entre a abdicação de D. Pedro I (1831) e a
maioridade de D. Pedro II (1840), é um conflito
muitas vezes esquecido e confundido com a
Cabanagem no Pará. Ao contrário de outras revoltas
da época, a Cabanada não foi uma contestação ao
regime imperial autoritário nem tinha como objetivo
alcançar a independência regional. Tratou-se de
uma guerra das "gentes do mato" – índios, escravos, posseiros – em defesa de suas terras.
As motivações iam desde a busca por terra até a necessidade básica de viver no ambiente
natural.

Ao contrário de outras revoltas da época, a Cabanada não foi uma contestação


ao regime imperial autoritário, nem tinha como objetivo alcançar a independência
regional.

A característica singular da Cabanada reside no fato de ser uma guerra das


"gentes do mato" – índios, escravos, posseiros – em defesa de suas terras. As
motivações variavam desde a busca por terras até a necessidade básica de viver no
ambiente natural. Esse aspecto a diferencia de muitas revoltas da época, ressaltando
suas raízes na defesa do território e na busca por condições de vida dignas para as
comunidades envolvidas.

O conflito teve início na cidade do Recife, em


abril de 1832, com um levante de militares de alta
patente e proprietários rurais insatisfeitos com os
desdobramentos após a abdicação de D. Pedro I. A
volta do imperador para Portugal levou à anistia dos
remanescentes da Confederação do Equador, que
haviam lutado pela independência da região em 1824.
Com a perda de poder na província para seus
adversários, parte da elite local se rebelou contra o
novo governo provincial, mas foi rapidamente
derrotada.

No entanto, a situação se complicou quando esses


proprietários rurais armaram escravos e índios no
interior, esperando contar com seu apoio na batalha.
Diante desse cenário, o governo decidiu enviar um
exército com mais de mil homens em direção à divisa com
Alagoas para enfrentar a "gente das matas", os habitantes
das florestas que viviam à margem da economia local baseada

2
na cana-de-açúcar e no plantio de algodão. A resistência dessas comunidades à investida foi
imediata e brutal.

As autoridades militares passaram a chamar os rebeldes de "cabanos", uma


referência às cabanas em que viviam. Quando começaram a ganhar vantagem contra as tropas
oficiais no final de 1832, tornou-se pública a figura de seu principal líder: Vicente de Paula.
Pouco se sabe sobre suas origens, mas ele afirmou ser filho de um padre de Goiana, importante
vila próxima à divisa com a Paraíba. As autoridades o acusavam de ser um "ladrão de
escravos".

Entretanto, se tivesse vendido alguns dos inúmeros escravos que diziam ter "roubado" ou
os colocado para trabalhar em seu benefício, teria se tornado um homem rico. A acusação
era, na verdade, um eufemismo para encobrir a escolha feita espontaneamente pelos
cativos, que optavam por deixar os engenhos e eram assimilados pelos cabanos. Apesar
de obrigados a obedecer à hierarquia do grupo, sua situação passava a ser muito diferente da
escravidão, marcando o início da liberdade.

Em seus manifestos, os cabanos eram


claros em seus objetivos. Lutavam pela volta
de Pedro I, pela defesa da Igreja e contra os
"jacubinos" (termo utilizado por eles), que
afirmavam terem se apropriado do governo
após derrubarem o legítimo imperador. O cerne
da luta era manter suas terras contra os
proprietários rurais que começaram a
invadir as florestas, anteriormente
reservadas à Marinha Imperial para
extração de madeira. Muitos habitantes das
matas, que antes foram recompensados por sua
participação na repressão às revoltas contra o
imperador, agora temiam represálias, como os índios de Jacuípe.

Os escravos envolvidos na revolta tinham uma demanda específica: lutavam pela


nova condição adquirida após serem "roubados" por Vicente de Paula. Em fevereiro de
1833, o comandante das Armas de Pernambuco, José Joaquim da Silva Santiago, considerava a
possibilidade de exterminar os revoltosos caso não se rendessem. Uma proclamação foi
afixada nas árvores, chamando os cabanos de "brasileiros degenerados", mas a "gente das
matas" não se deixou intimidar. Retomaram a povoação de Jacuípe e lutaram para conquistar o
porto natural de Barra Grande, na expectativa de uma esquadra que, acreditavam, traria de
volta Pedro I.

Naquele ponto estratégico, onde a


esquadra imperial havia aportado para
reprimir insurreições anteriores, os
cabanos consideravam vital para seus
interesses. Desferiram vários ataques dali,
inclusive em Barra Grande, onde a esquadra
imperial havia aportado para reprimir a
Insurreição Pernambucana de 1817 e a
Confederação do Equador em 1824. Tanto
Barra Grande quanto Porto Calvo, que era o

3
centro das operações contra o Quilombo de Palmares (destruído em 1695), foram tomados e
perdidos pelos cabanos em sucessivos combates.

Vicente de Paula possuía uma vantagem estratégica única: sua habilidade em navegar
pelos labirintos das matas. Suas tropas surgiam de lugares inesperados, tomando posições
importantes, disseminando o terror e derrotando inúmeros guardas nacionais e soldados de
primeira linha. O batalhão mais temido era o dos "papa-méis", composto inteiramente por
escravos "roubados" por ele.

A morte de Pedro I, em 1834,


marcou o fim da Cabanada, mas não sem
resistência. Nesse ano, os presidentes de
Pernambuco e de Alagoas, Manoel de
Carvalho Paes de Andrade e Antonio Pinto
Chichorro da Gama, respectivamente,
uniram forças para elaborar uma
estratégia conjunta contra os cabanos.
Com um contingente de mais de quatro mil
homens, decidiram cercar as áreas das matas, distribuir proclamações e oferecer anistia aos
que se rendessem. Aqueles que recusassem a oferta enfrentariam a morte. O coronel Joaquim
José Luís de Souza, comandante geral das operações, afirmou que a única maneira de
capturar os cabanos era emboscá-los, como se fazia com veados do mato.

Essa nova estratégia foi eficaz. As tropas do governo destruíram todas as cabanas,
plantações e animais encontrados. Em um local, descobriram um galo cuja boca estava
amarrada com arame para que não revelasse, por meio do canto, a localização de seus donos. O
bispo de Pernambuco colaborou com a repressão, mobilizando um pequeno exército de
padres para pregar na área do conflito, assegurando que Pedro I estava morto e que a
Regência não era contra o cristianismo. Gradualmente, os cabanos foram se rendendo,
incluindo os índios de Jacuípe, considerados os rebeldes mais "ferozes".

Fixando o Conteúdo

1. Qual foi a principal motivação da revolta conhecida como "A Guerra dos Cabanos"?
2. Onde ocorreu a liderança da Guerra dos Cabanos, e quem foi o líder?
3. O que levou ao fim da Cabanada em 1834?
4. Qual foi a principal característica da Cabanada em Pernambuco e Alagoas durante o
período regencial?
5. Quem eram os "cabanos" e por que receberam esse nome?
6. Quais eram as principais demandas dos escravos envolvidos na revolta?
7. Qual era a estratégia do governo para lidar com os cabanos após a morte de Dom Pedro
I em 1834?
8. Quem era Vicente de Paula, e por que sua habilidade em navegar pelas matas foi uma
vantagem estratégica?
9. Como a estratégia conjunta dos presidentes de Pernambuco e Alagoas contribuiu para o
fim da Cabanada?
10. Como o bispo de Pernambuco colaborou com a repressão durante a Guerra dos Cabanos?

4
Respostas

1. A Guerra dos Cabanos buscava o retorno de Dom Pedro I ao trono do Brasil.


2. A liderança da Guerra dos Cabanos ocorreu na zona da mata e no agreste, tendo Vicente
de Paula como líder.
3. A morte de Dom Pedro I em Portugal, em 1834, levou ao fim da Cabanada.
4. A Cabanada foi uma guerra das "gentes do mato" – índios, escravos, posseiros – em defesa
de suas terras, não sendo uma contestação ao regime imperial autoritário.
5. Os "cabanos" eram habitantes das florestas que viviam à margem da economia local,
sendo chamados assim devido às cabanas em que viviam.
6. Os escravos envolvidos na revolta lutavam pela nova condição adquirida após serem
"roubados" por Vicente de Paula.
7. Após a morte de Dom Pedro I, o governo decidiu cercar as áreas das matas, distribuir
proclamações e oferecer anistia aos cabanos, ameaçando com a morte aqueles que
recusassem a oferta.
8. Vicente de Paula era um líder da Cabanada com habilidade em navegar pelos labirintos
das matas, o que proporcionou vantagem estratégica.
9. A estratégia conjunta dos presidentes de Pernambuco e Alagoas envolveu cercar as áreas
das matas, distribuir proclamações e oferecer anistia aos cabanos, resultando na
destruição das cabanas e na rendição gradual dos rebeldes.
10. O bispo de Pernambuco colaborou com a repressão mobilizando um pequeno exército de
padres para pregar na área do conflito, assegurando que Pedro I estava morto e que a
Regência não era contra o cristianismo.

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