Você está na página 1de 6

Recomendação

Esta é uma nova edição do manifesto capitalista clássico de Milton Friedman de 1962.
Como tal, ele foi ignorado, desdenhado e detestado durante décadas pela corrente
intelectual pós-Keynesiana. Nos anos 60, Friedman se viu a debater com um liberal que
o atacou simplesmente citando pontos de vista de Friedman sobre o papel apropriado do
governo. Isto estava indo bem junto à audiência de estudantes universitários até que ele
citou a oposição de Friedman ao recrutamento militar. Friedman recebeu subitamente
inespererados aplausos dos estudantes. Talvez isto fosse um prenúncio de sua carreira.
Friedman ganhou o Prêmio Nobel da Economia em 1976, e suas ideias ganharam algum
grau de corrente dominante nos anos de Reagan – embora muitas de suas ideias se
mantenham controversas. Na medida em que Friedman desmascara mitos sobre a
Grande Depressão que são largamente aceitos como fatos, talvez ele tenha um
contribuição importante para a semi-privatização da educação.
A getAbstract recomenda vivamente esta obra a quem procura um conhecimento mais
profundo do papel do governo numa economia de livre mercado.

Ideias Fundamentais
 O apoio político ao controle da economia pelo governo federal é consequência
da Grande Depressão.
 A Depressão decorreu da incompetência do governo, não da instabilidade do
mercado livre.
 O Sistema de Reserva Federal dos EUA respondeu ao colapso do mercado de
ações de 1929 cortando dramaticamente a oferta da moeda.
 O capitalismo promove igualdade social onde quer que exista – embora
gradualmente.
 O apelo do Presidente Kennedy aos cidadãos “pergunte o que você pode fazer
por sua pátria” não é um sentimento próprio de homens livres vivendo em um
país livre.
 O controle do rádio e TV pela FCC é economicamente mau e uma restrição da
liberdade de expressão.
 O que hoje é considerado conservador foi em tempos julgado liberal, porque
promovia o direito individual à livre escolha econômica.
 A responsabilidade social da empresa é operar dentro da lei e ter lucro.
 Devem ser dadas subvenções aos pais para mandarem os filhos para escolas de
sua escolha.
 Segurança Social é essencialmente uma contribuição determinada pelo governo
para um fundo de pensões de gestão pública.

Resumo
O Preço de Camelot

“Não pergunte o que sua pátria pode fazer por você – pergunte o que você pode fazer
por sua pátria”. O forte apelo de Presidente John F. Kennedy, que conduziu à era de
Camelot, é notável pelo que revela acerca da era do Grande Governo nos tempos da
Guerra Fria. Embora louvada, nenhuma das duas metades da declaração expressa ideais
próprios de homens livres em uma democracia livre. Ouvir do líder do governo que
você não deve ter expectativas no governo é preocupante. Enquanto a frase “o que sua
pátria pode fazer por você”, por outro lado, coloca o governo no papel do senhor, capaz
de fazer por você coisas que você de outra forma não conseguiria. A afirmação implica
que o governo é senhor e mestre, para ser servido pelos cidadãos.

“O homem livre nunca perguntará nem o que sua pátria pode fazer por ele, nem o que
ele pode fazer por sua pátria.”
A verdadeira pergunta para um homem livre é como o governo pode ajudá-lo a assumir
suas responsabilidades, atingir propósitos e objetivos e, acima de tudo, a defender a
liberdade. A pergunta “Como podem cidadãos servir seu governo?” ameaça voltar no
tempo do Rei George III. A pergunta mais importante para os cidadãos de uma
democracia é: como podemos nos beneficiar das promessas de um governo e, ao mesmo
tempo, evitar sua ameaça à nossa liberdade?

“O poder do governo deve ser distribuído. Se eu não gostar do que faz o meu estado,
posso mudar-me para outro. Se não gostar do que Washington impõe, tenho poucas
alternativas neste mundo de nações ciumentas.”
A Constituição sugere duas respostas: Primeiro, a intervenção do poder do governo
deve ser limitado e equilibrado pelos interesses das partes. Segundo, a autoridade do
governo deve ser distribuída. Se o governo deve exercer poder, é melhor que seja a
nível municipal do que estadual, e melhor estadual do que a nível federal.

A Base Econômica da Liberdade

Política e economia são consideradas como campos separados e completamente


desligados. Tome por exemplo o termo “socialismo democrático”. A suposição é de que
um país poderia adotar o sistema econômico russo, mantendo, através de organização
política, a liberdade individual. Na realidade, a ligação entre economia e política é tão
forte que tal visão é ilusória. Uma sociedade socialista não pode garantir liberdades
individuais.

“A grande tragédia da atração para a centralização, bem como da atração para


alargar a intervenção do governo em geral, é de que é quase sempre liderada por
homens de boa vontade que serão os primeiros a sofrer suas consequências.”
Liberdade econômica é indispensável para conseguir o bem-estar. Que cidadãos dos
EUA sejam compelidos por lei a aplicar 10% de sua renda para comprar um contrato de
aposentadoria determinado pelo governo, Segurança Social, que é dubiamente gerida
pelo governo, é um exemplo de impacto político na liberdade individual. Claramente, a
liberdade econômica é uma parte importante da liberdade total de que um indivíduo
goza, ou não.

“O governo não poderá nunca imitar a variedade e a diversidade da ação individual.”


Por outro lado, embora a liberdade econômica seja um elemento necessário de
liberdade, não é uma condição suficiente. Vários países negaram liberdade pessoal ao
mesmo tempo que usavam empresas privadas como forma principal de organização
econômica. Itália fascista, Espanha fascista, Alemanha em várias épocas, Japão antes da
Primeira Guerra Mundial e a Rússia czarista eram sociedades que promoviam iniciativa
privada sem democracia.

“Não conheço nenhum exemplo, em qualquer tempo ou lugar, de uma sociedade


marcada por uma grande liberdade política que não usasse também algo comparável
com um mercado livre para organizar o essencial da atividade econômica.”
Para defender qualquer coisa, as pessoas devem ser capazes de ganhar a vida. Isto torna-
se imediatamente um problema numa economia socialista, onde todos os empregos
dependem do governo. Opções políticas ficam de algum modo limitadas se você não
pode criticar o governo ou seu empregador. Considere o caso de Winston Churchill. De
1933 até o começo da guerra, não foi permitido a Churchill falar na rádio britânica. A
rádio era monopólio governamental administrado pela British Broadcasting Corporation
e a opinião de que os britânicos deveriam tomar providências para se defender era
considerada “controversa”.

O Papel do Governo numa Sociedade Livre

As políticas econômicas conservadoras – que permitem o predomínio da livre escolha


no mercado – são de fato liberais. São liberais no sentido de promover discussão livre e
cooperação voluntária, e implicam que qualquer forma de coerção seja inapropriada e
contraproducente. A crítica comum a governos totalitários é que eles acreditam que o
fim justifica os meios. Mas o verdadeiro problema é a ineficiência dos meios que eles
empregam para chegar aos fins. Infelizmente, liberdade absoluta é impossível, por isso
há governo e políticas. Se um anseia por mais despesa militar, e o outro anseia por
menos, ambos não podem ficar satisfeitos. A disputa só pode ser resolvida através da
política. Enquanto um mercado livre reduz a tensão no tecido social por permitir
escolha, o uso de canais políticos, ainda que inevitável, tende a causar tensão na coesão
social imprescindível para uma sociedade estável.

“”Do que precisamos urgentemente, para a estabilidade e o crescimento econômico, é


de uma redução da intervenção do governo não de seu aumento.”
O sistema monetário levanta dificuldades particulares. É universalmente aceito que o
governo imprima o dinheiro. Mesmo sem perceber porque a política monetária é
prerrogativa governamental, se corre o risco de permitir a ingerência gradual do
governo em outras áreas em que não tem aquela autoridade. Por lei, não só o governo
garante a si próprio o monopólio de fazer dinheiro, como também proíbe outros de
competir. Aceitação do monopólio legal do dinheiro – com influência tremenda nos
preços, na economia e no bem-estar individual – recomenda que a autoridade
incontestável do governo em outras áreas seja cuidadosamente monitorizada.

A Grande Depressão: Uma Obra Pública

A noção de que o governo deve intervir nos assuntos econômicos para garantir “pleno
emprego” e “crescimento econômico” tem raízes na Grande Depressão. Isto é bastante
irônico na medida em que a Grande Depressão foi provocada pela incompetência do
governo e não pela instabilidade na economia privada. Em 1930 e 1931 o Sistema de
Reserva Federal exerceu sua responsabilidade sobre a política monetária de modo tão
inepto que converteu uma contração econômica moderada numa grande catástrofe. De
agosto de 1929 a outubro de 1930, o Sistema de Reserva Federal permitiu o declínio da
massa monetária em cerca de 3%. Quando bancos começaram a falir em novembro e
dezembro de 1930, o Sistema de Reserva Federal ignorou sinais de alerta e negligenciou
o fornecimento de liquidez ao sistema. Em setembro de 1931, a Grã-Bretanha
abandonou o padrão ouro e retirou seu ouro dos EUA. Embora a reserva de ouro do
Sistema de Reserva Federal estivesse no máximo de sempre, o Sistema de Reserva
Federal respondeu aumentando a taxa de juros a que emprestava dinheiro aos bancos.
Nos seis meses seguintes, de agosto de 1931 a janeiro de 1932, cerca de um em cada 10
bancos dos EUA deixaram de operar, provocando uma crise de liquidez profunda.

“Nem toda a instrução é educação e nem toda educação, instrução. O objetivo


adequado é a educação. As atividades do governo estão em grande parte limitadas à
instrução.”
A Grande Depressão nasceu do que não deveria ter sido mais que uma correção
econômica significativa. O papel do governo é fazer o que o mercado não pode fazer
por si mesmo – essencialmente determinar e reforçar as regras do jogo. Visto dessa
perspectiva, o papel do governo em várias áreas assume uma nova dimensão.

O “Tio Sam” e a Educação

A escola pública representa uma extensão indiscriminada do papel do governo.


Certamente é difícil ter uma democracia sem uma população instruída, porém não
justifica treinamento vocacional que não prepara o estudante nem para a cidadania nem
para a liderança. Governos deviam encorajar um nível mínimo de instrução através de
subvenção de determinado valor por criança e por ano – cabendo a cada família a
decisão de como gastar para educação.

Livre Mercado e Discriminação

O capitalismo tem aumentado direitos civis e igualdade entre grupos étnicos em toda a
parte. Puritanos e Quakers que fundaram o Novo Mundo foram capazes de acumular
capital necessário para comprar sua passagem, apesar dos preconceitos sociais contra
eles. Judeus sobreviveram através da Idade Média principalmente pela existência de um
setor de mercado que lhes garantiu subsistência. O primeiro passo para a liberdade dos
servos da Idade Média foi dado pela substituição de acordos de status por acordos de
contrato. A ironia das políticas atuais é, portanto, que grupos minoritários
frequentemente têm advogado alterações sociais e políticas para restringir o livre
funcionamento do capitalismo na sociedade.

“Como regra geral, a atitude de uma minoria que conta com ações específicas da
maioria para defender seus interesses é de uma miopia extrema.”
A beleza de uma sociedade capitalista é sua capacidade de separar a eficiência
econômica de outros aspectos irrelevantes, sejam herança étnica ou cor de pele. Quando
alguém compra pão não sabe nem se importa com quem colheu o trigo. Se o preço é um
pouco mais alto, isso sim já importa! Que um grupo minoritário confie na ação da
maioria para proteger seu trabalho árduo, em vez de confiar no mercado livre, é pelo
menos miopia.
A Responsabilidade Social das Empresas

A ideia de que as empresas têm “responsabilidade social” para além de ter lucro é
perigosa. Ela mostra uma concepção fundamentalmente errada da natureza de uma
economia de livre mercado. Em tal economia, a obrigação social das empresas é
aumentar seus lucros dentro da lei. É só isto. A aceitação pelos líderes das empresas da
responsabilidade de fazerem mais que aumentar valor para os acionistas pode minar os
fundamentos de nosso sistema econômico. Por razões semelhantes, não há nenhuma
justificação para ingerência do governo em:

 Subsídio de preços e apoios à agricultura.


 Taxas sobre as importações e restrições às exportações.
 Controle governamental da produção.
 Controle de aluguéis.
 Salários mínimos legais e regulação detalhada de indústrias.
 Preços máximos legais, como o máximo legal de zero da taxa paga para
depósitos por bancos comerciais.
 O controle de rádio e televisão.
 Atuais programas de segurança social que exigem que as pessoas gastem uma
fração estabelecida de sua renda na compra de uma anuidade de aposentadoria e
obrigam a comprar essa anuidade de uma empresa pública.
 A exigência de licenciamento de profissionais, que é essencialmente uma taxa.
 Habitação pública.
 Convocação militar em tempo de paz.
 O sistema National Park dos USA. Deve ser privado.
 O serviço de correios. Não deve ser ilegal o transporte de correspondência por
empresas privadas.
 Estradas com pedágio de propriedade e exploradas pelos governos.

Conclusão

Apesar do mau registro de programas governamentais, por qualquer razão o ônus da


prova parece recair nos que se opõem a novos programas, em vez de nos que os apoiam.
Os efeitos benéficos da intervenção estatal são imediatos, diretos e visíveis, enquanto os
maléficos são graduais, indiretos e invisíveis. A liberdade enfrenta hoje em dia ameaças
de duas direções óbvias. Uma é a ameaça externa de homens perversos que prometem
enterrá-la. A outra é mais sutil. É a ameaça dos que reformariam drasticamente o
sistema em vez de aceitar o caminho seguro, embora gradual, da sua melhoria. A
ameaça interna vem de homens de boa vontade e de boas intenções que desejam
reformar o sistema de mercado livre pela intervenção e centralização governamental.
Eles fariam bem em se recordar: “A concentração do poder não se torna inofensiva por
causa das boas intenções de quem a cria.”

Sobre o autor
Milton Friedman, notável pesquisador na Hoover Institution, é Professor Emeritus de
Economia no Paul Snowden Russell Distinguished Service da Universidade de Chicago.
Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1976. Em 1980, ele e sua mulher
colaboraram em Liberdade para Escolher, seu livro mais vendido. Capitalismo e
Liberdade, cuja primeira edição é de 1962, é considerado sua obra clássica.

FIM DO TEXTO 1 (2)

Você também pode gostar