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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DA

FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA


CAPITAL DE SÃO PAULO

Processo nº 3333333-33.2019.8.26.0000

URGENTE

LÚCIA, brasileira, solteira, fisioterapeuta, portadora da cédula de identidade RG nº ... e


do CPF nº ..., residente e domiciliada na Rua X, nº 123, bairro Z, cidade de São Paulo,
Estado de São Paulo, CEP: ..., e, JOELMA, brasileira, solteira, artesã, portadora da
cédula de identidade RG nº ... e do CPF nº ..., residente e domiciliada na mesma
endereço da primeira requerente, representadas por seus advogados que esta
subscrevem, com endereço profissional na ..., vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 1.784 e seguintes do Código Civil, artigos 610
e seguintes do Código de Processo Civil e artigo 227, § 6º, da Constituição Federal,
apresentar

IMPUGNAÇÃO AO INVENTÁRIO E A PARTILHA

CC TUTELA DE URGNÊNCIA ANTECIPADA

em face de SANDRA e REGINA, brasileiras, estados civis, profissões, portadoras das


cédulas de identidade RG nºs ... e ... e inscritas no CPF/MF sob os nºs ... e ..., residentes
e domiciliadas na Rua ..., nº ..., Bairro ..., cidade, CEP ..., pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos:
DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA

Em vista do perigo de dano irreparável previsto no artigo 300 do Código de Processo


Civil, que corresponde à possibilidade do despejo das impugnantes de seu lar, ficando
ambas em situação de vulnerabilidade, pede-se que a presente petição seja analisada
com urgência por Vossa Excelência.

A concessão da tutela de urgência antecipada é justificada pela probabilidade do direito


e pelo perigo de dano irreparável.

A probabilidade do direito está demonstrada pela relação de parentesco entre as


impugnantes e Roquelina, que era sua avó adotiva. As impugnantes são, portanto,
herdeiras necessárias de Roquelina e, portanto, possuem direito à metade dos bens
deixados por ela.

O perigo de dano irreparável está demonstrado pela possibilidade de desocupação do


imóvel das impugnantes, que é o seu lar. A desocupação do imóvel causaria danos
irreparáveis às impugnantes, que perderiam seu local de moradia e de sustento.

Assim, requer-se a concessão de tutela de urgência antecipada para que as impugnantes


possam permanecer no imóvel de propriedade de Roquelina até o julgamento definitivo
da ação.

A tutela de urgência antecipada pode ser concedida independentemente de prévia oitiva


do requerido, nos termos do artigo 300, § 2º, do Código de Processo Civil.

No caso concreto, a concessão da tutela de urgência antecipada é medida necessária


para evitar danos irreparáveis às impugnantes.

Assim, requer-se que Vossa Excelência conceda a tutela de urgência antecipada,


determinando que as impugnantes permaneçam no imóvel de propriedade de Roquelina
até o julgamento definitivo da ação.
DOS FATOS

Lucia e Joelma são filhas de Mafalda, falecida em 2 de fevereiro de 2023, e Otávio,


falecido em 2002.

As impugnantes sempre residiram no apartamento situado na Rua Z, nº 215, Bairro Bela


Vista, São Paulo/SP, objeto da matrícula 67891 do 1º Cartório do Oficial de Registro de
Imóveis de São Paulo.

O referido imóvel foi transmitido à Mafalda por Roquelina, falecida em 1º de janeiro de


2023, que era formalmente tia de Mafalda, mas na verdade era sua mãe adotiva.
Roquelina adotou Mafalda quando esta era criança, mas não pôde figurar como adotante
por ser desquitada e impedida pela lei da época. Assim, a adoção se deu por intermédio
dos pais de Roquelina, que registraram Mafalda como sua filha.

No entanto, a relação entre Roquelina e Mafalda sempre foi de mãe e filha, assim como
a relação entre Roquelina e as impugnantes sempre foi de avó e netas.

Roquelina era proprietária do apartamento onde residiam as impugnantes, além de outro


apartamento no mesmo prédio, onde ela morava, além de um prédio
residencial/comercial na Rua Joãozinho Trinta, nº 123, Bairro Jardim das Flores, São
Pedro/SP, e de uma aplicação financeira no banco XYZ. Roquelina era viúva e deixou
como único herdeiro seu filho Marcos, falecido em 2018.

Marcos, por sua vez, deixou como herdeiras suas filhas Sandra e Regina, que são as
inventariantes no presente processo.

Com base nessa relação de parentesco, as impugnantes têm direito à meação e à herança
do imóvel onde residem. A meação decorre do fato de que Mafalda era casada com
Otávio sob o regime da comunhão universal de bens, e o imóvel foi adquirido na
constância do casamento. Já a herança decorre do fato de que Roquelina não deixou
testamento, e as impugnantes são herdeiras de Mafalda, que era sua filha adotiva.

As impugnantes possuem testemunhas que podem confirmar a relação de parentesco e


afetividade que mantinham com Roquelina. Além disso, elas cuidaram de Roquelina até
sua morte, demonstrando o vínculo de amor e gratidão que existia entre elas.
Em 15 de janeiro de 2023, as inventariantes notificaram as impugnantes para
desocuparem o imóvel onde residem em 180 dias, sob a alegação de que são as
legítimas proprietárias do bem por sucessão de Roquelina e Marcos. As impugnantes
não acataram a notificação, pois entendem que têm direito à meação e à herança do
imóvel, em virtude da relação de parentesco e afetividade que mantinham com
Roquelina.

DO DIREITO

A impugnação ao inventário e à partilha é o instrumento legal que permite questionar a


validade do processo, a qualidade de herdeiro, a vocação hereditária, a avaliação dos
bens, a meação do cônjuge sobrevivente e a partilha dos bens.

No caso concreto, as impugnantes têm direito à meação e à herança do imóvel onde


residem, pois mantinham uma relação de parentesco e afetividade com Roquelina, que
era sua avó de fato.

Essa relação de parentesco decorre da adoção de Mafalda por Roquelina, ainda que de
forma indireta, por meio dos pais de Roquelina. A adoção é um ato jurídico que cria
entre duas pessoas uma relação fictícia de parentesco, que se estende aos descendentes
do adotado.

A adoção de Mafalda por Roquelina deve ser reconhecida, mesmo que não tenha sido
formalizada nos termos da lei, pois se trata de uma adoção à brasileira. A adoção à
brasileira, embora ilícita, gera efeitos jurídicos, pois prevalece o interesse do adotado e
o princípio da socioafetividade.

O princípio da socioafetividade é aquele que reconhece como família a união baseada


no afeto, na convivência e na vontade, independentemente de laços consanguíneos ou
formais. Esse princípio está consagrado na Constituição Federal, que dispõe que os
filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Assim, as impugnantes são filhas de Mafalda e netas de Roquelina, por força da adoção
e da socioafetividade, e, portanto, têm direito à meação e à herança do imóvel onde
residem.

A meação das impugnantes decorre do fato de que Mafalda era casada com Otávio sob
o regime da comunhão universal de bens, e que o imóvel foi adquirido na constância do
casamento. Logo, as impugnantes têm direito à metade do imóvel, correspondente à
meação de Mafalda.

A herança das impugnantes decorre do fato de que Roquelina não deixou testamento,
nem outros herdeiros, além de Marcos, que já faleceu. Logo, as impugnantes são
herdeiras de Roquelina, por representação de Mafalda.

Assim, as impugnantes têm direito à quarta parte do imóvel, correspondente à herança


de Roquelina, que se divide entre elas e as inventariantes.

Portanto, as impugnantes têm direito a três quartos do imóvel, sendo metade pela
meação e um quarto pela herança, e as inventariantes têm direito a um quarto do imóvel,
pela herança.

As impugnantes têm direito de permanecer no imóvel, pois são possuidoras de boa-fé, já


que receberam o bem por doação de Roquelina. Além disso, as impugnantes têm direito
de preferência na aquisição do imóvel, caso as inventariantes queiram aliená-lo.

Dessa forma, as impugnantes devem ser incluídas no rol de herdeiras de Roquelina e ter
reconhecido seu direito à meação e à herança do imóvel onde residem, bem como sua
posse e preferência sobre o bem.
DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:

a) A concessão de liminar para que Lucia e Joelma permaneçam no imóvel de


propriedade de Roquelina, localizado na rua Z nº 215, no bairro Bela Vista,
região central da cidade de São Paulo, até o julgamento final da presente ação;

b) O recebimento e o processamento da presente impugnação, com a citação das


inventariantes para, querendo, apresentarem resposta no prazo legal, sob pena de
revelia e confissão;

c) A procedência da impugnação, com a declaração de que Lucia e Joelma


possuem direito do apartamento em questão;

d) A inclusão das impugnantes no rol de herdeiras de Roquelina e a retificação das


primeiras declarações e do esboço de partilha, para constar a participação das
impugnantes na sucessão de Roquelina, com a atribuição de três quartos do
imóvel às impugnantes e um quarto do imóvel às inventariantes;

e) A condenação de Sandra e Regina ao pagamento de custas processuais e


honorários advocatícios, nos termos do artigo 85 do Código de Processo Civil.
Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
especialmente pela juntada de documentos, oitiva de testemunhas, perícia e depoimento
pessoal das inventariantes.

Dá-se à causa o valor de R$389.876,32 (trezentos e oitenta e nove mil, oitocentos e


setenta e seis reais e trinta e dois centavos), correspondente ao valor venal de referência
do imóvel.

Nestes termos, pede deferimento.

Local e Data.

Advogado

OAB/UF

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