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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO


CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA
ESTUDOS CRÍTICOS EM COMUNICAÇÃO – BIB02027 – TURMA A
JÉSSICA SAVEDRA E LAURA GIÓRGIA BRANDELLI BARRETTI

Atividade Autônoma 1

1. Qual a relação entre os estudos de Stuart Hall e os estudos decoloniais?

Os estudos de Stuart Hall estão diretamente ligados aos estudos decoloniais


quando se analisa o ser retratado por ele. Stuart Hall apresentou-se como um
intelectual atento a esse movimento das identidades, mas não num sentido simples,
de observador de tais tendências, e sim como um autor que critica – no sentido de
pôr em crise – tais identidades, questionando a historicidade desses sistemas de
representação que são as identidades culturais, mesmo que se configurem num
plano mais tópico, como as identidades menores, sejam elas de classe, de gênero,
de grupo, de instituição, de família e de etnia. Aqui, homogeneização, unidade,
substância, identidades e a historicidade caminham em uma mesma direção de
fundamentação. Como sugere Hall, não importa quão diferentes os membros de
uma nação possam ser em termos de classe, gênero ou raça, “uma cultura nacional
busca unificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como
pertencendo à mesma e grande família nacional” (HALL, 2002, p. 59). Até mesmo
pela sua própria vivência, Hall decorre sobre sua identidade subordinada ao chegar
na Grã-Bretanha.

“Conheço a Inglaterra e os ingleses como a palma de minha mão, mas


jamais me consideraria um inglês. Sou formado pela relação de
subordinação colonial a um Outro, à Grã-Bretanha.” (Entrevista com JB
Stuart Hall).

A relação entre os estudos de Stuart Hall e os estudos decoloniais, portanto,


se dá na intersecção dos interesses de ambos os lados. Hall busca difundir a
intelectualidade local, usando a identidade de ex-colônia para adequar e criar novas
teorias levando em conta vivências próprias do indivíduo, e não buscar encaixe nas
teorias do eixo euro-estadunidense ou ditas clássicas.
2. Hall parte de uma complexidade no sistema comunicacional, em
contraste a modelos transmissivos. Que complexidade é esta? Descreva
e dê um exemplo.

Hall critica diretamente os modelos transmissivos, já que entende a


comunicação diretamente ligada à cultura, como uma trama complexa - com
diferentes ideologias, identidades, etc, além de ser aliada às práticas sociais. Ele
busca interromper a noção transparente de comunicação e desmistificar a
comunicação como sendo apenas manipuladora e persuasiva.
As diferentes percepções do público sobre o mais recente conflito da Rússia e
Ucrânia são um bom exemplo da complexidade do sistema comunicacional
defendida por Hall. Aparentemente, de acordo com mensagens abundantemente
compartilhadas nas redes sociais durante os últimos acontecimentos, grande parte
das pessoas não compreende de onde surgiu o conflito e o que poderá significar
para o mundo, tendo inclusive exageramentos para uma Terceira Guerra Mundial.
Isso impediu, até dado momento, que o público fosse capaz de decodificar
suficientemente a mensagem transmitida, uma vez que não tinha bagagem para
tanto. Cientes do problema, muitos jornais e redes de notícias explicaram de
diferentes maneiras como o conflito surgiu e o que efetivamente significa
atualmente, fazendo uso de vídeos e recapitulações históricas, a fim de que o
público pudesse decodificar o conflito a partir de seus conhecimentos prévios.

3. Morin fala sobre a indústria cultural como dividida entre a originalidade


e a burocratização. Como este entendimento de indústria cultural avança
sobre noções prévias?

Segundo Morin, a indústria cultural é ultraligeira, mas esta justamente


organizada segundo o modelo da indústria de concentração técnica, econômica e,
consequentemente, burocrática. A partir disso, a burocratização traz consequências
como tendência à despersonalização da criação, predominância da organização
racional de produção sobre a invenção e desintegração do poder cultural. Tudo isso
choca-se com a natureza do próprio consumo cultural, que sempre reclama um
produto individualizado e novo. Um filme, por exemplo, pode ter uma fórmula padrão
- como happy ending ou a jornada do herói -, mas precisa ter sua própria
personalidade. Os criadores dessas histórias fictícias enfrentam duas possibilidades:
A primeira é seguir o que está dando certo e sofrer os riscos da falta de interesse
pela repetição, a segunda é tentar uma nova abordagem - diferente de happy
ending, por exemplo - e encarar uma possível rejeição.
A possibilidade desses paradoxos, a burocracia-invenção e o
padrão-individualidade, ditas pelo autor como contradições dinâmicas, reside na
própria estrutura do imaginário. De maneira sucinta, a indústria exige processos para
que a criação de cultura, dentro do mercado, dê certo, no entanto, ao burocratizar-se
esses processos corre-se o risco de perder a originalidade.

4. Qual é a complementaridade entre as ideias de Hall e as de Morin,


especificamente no que diz respeito à relação entre indústria cultural e
audiência?

A teoria de Hall sobre codificação e decodificação debruça-se muito além do


"clássico" emissor-mensagem-receptor. Para ele, este processo é um conjunto
complexo de momentos distintos interligados entre si, desde a produção até a
reprodução de um produto televisivo, por exemplo, resultando em um processo
contínuo de codificação e decodificação de significados. Por isso, segundo a teoria
de Stuart Hall, todo esse processo é constituído pela
produção-circulação-distribuição/consumo-reprodução. Cada mídia, de forma
intrínseca, possui o seu sistema de significados assim como a pré-produção desse
determinado produto é constituída por políticas, ideologias, informações,
pensamentos e demais ações que influenciam a própria produção,isto é, todos estes
elementos estão refletidos em linguagens que constroem e mediam a realidade.
O produto, após a produção, é lançado no mercado para que seja utilizado e
decodificado pelo público e, havendo uma compreensão dos significados, as
informações que foram compreendidas neste dito processo de decodificação voltam
para o mundo exterior como uma ação, uma opinião ou crença e,
consequentemente, dá-se início a etapa de reprodução. Em síntese, a reprodução
se inicia através de um processo de "feedbacks indiretos e estruturados no próprio
processo de produção" (HALL, 2003, p. 390), que são colocados pela audiência,
tornando-se receptora e emissora simultaneamente.
Edgar Morin, complementando as propostas de Hall, trabalha a indústria
cultural em sua teoria, refletindo sobre a individualização e padronização dos
produtos culturais. Estes também enxergam a audiência como receptora e emissora
- uma vez que é ela quem dita se determinados produtos terão ou não sucesso no
mercado, mesmo que essa relação entre individualização e padronização seja,
muitas vezes, paradoxal e contraditória.

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