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Saúde metabólica
e a ciência por trás
dos adoçantes
SUMÁRIO
Capítulo 1. Introdução aos adoçantes de baixas calorias e sem
calorias: identificando semelhanças e diferenças ............................................................. 3
Lara Natacci, PhD

Capítulo 2. Aspectos gerais de segurança e ingestão dos


adoçantes de baixas calorias e sem calorias .................................................................... 10
Luciana Lancha, PhD

Capítulo 3. História dos adoçadores e as alternativas de


nova geração ......................................................................................................................... 15
Leila Hashimoto, PhD

Capítulo 4. O ambiente epidemiológico atual: redução de açúcar


como preocupação de Saúde Pública .............................................................................. 21
Luciana Lancha, PhD

Capítulo 5. Estratégias dietéticas para combater doenças


cardiometabólicas e o papel dos adoçantes ................................................................... 24
Lara Natacci, PhD

Capítulo 6. Benefícios nutricionais bem estabelecidos


dos edulcorantes .................................................................................................................... 31
Leila Hashimoto, PhD

Capítulo 7. Açúcar, edulcorantes e


a obesidade ............................................................................................................................ 36
Luciana Lancha, PhD

Capítulo 8. Aceitação e percepções dos pacientes, consumidores


e dos profissionais da saúde em relação aos adoçantes ................................................ 39
Leila Hashimoto, PhD

Capítulo 9. Adoçantes: controvérsias examinadas à luz


da ciência ............................................................................................................................... 44
Luciana Lancha, PhD

Capítulo 10. Principais fatos sobre os adoçantes que todos


precisam conhecer ................................................................................................................ 48
Lara Natacci, PhD
1. Introdução aos adoçantes
de baixas calorias e sem
calorias: identificando
semelhanças e diferenças

Lara Natacci, PhD

Gosto doce: uma preferência inata


Desmitificar o uso e a segurança dos Sendo assim, a percepção do gosto doce
adoçantes se faz importante, visto que há ocorre naturalmente, é um processo fisiológico
diversas fake news em todos os meios de (Fernstrom et al., 2012). Sua aceitação ocorre
comunicação, especialmente em mídias sociais, pelo fato de que o organismo é dependente
assim como websites e publicações em geral. de glicose – que é o combustível da atividade
cerebral e muscular (Mergenthaler et al., 2013).
Quando falamos sobre adoçantes, é
O gosto doce se traduz em prazer e participa
necessário lembrar que a preferência pelo
do equilíbrio alimentar, fisiológico e psicológico
gosto doce é uma característica que vem
(Venditti et al., 2020).
desde o nosso nascimento, traduzindo-se ao
bebê como prazer pelas propriedades gustativas O estímulo doce vem tanto do açúcar
(Araujo, 2016; Beauchamp, 2016). quanto dos adoçantes. Eles se ligam a
receptores na superfície de uma célula
O estudo “Expressões faciais do bebê recém-
gustativa que são acoplados a moléculas
nascido em resposta a estímulos gustativos e
chamadas proteínas G. Isso faz com que as
olfativos” de J. E. Steiner mostra que a
subunidades (a, b e g) das proteínas G se
preferência pelo gosto doce é inata. Nosso
dividam em a e b, ativando uma enzima
corpo responde dando preferência ao gosto
próxima. A enzima então converte um precursor
doce. Neste estudo, observa-se que o recém-
dentro da célula nos chamados segundos
nascido rejeita outros sabores, como amargo
mensageiros que fecham os canais de potássio
e azedo (Steiner, 1979).
indiretamente (Smith and Margolskee, 2001).

3
Açúcares e açúcares livres
Os açúcares são moléculas de carbono é necessário aquecer a sacarose na presença
ligadas a moléculas de hidrogênio e oxigênio, de água em meio ácido para ocorrer a hidrólise
ou seja, são carbonos hidratados. Esses podem do açúcar.
ser divididos em monossacarídeos formados
Os açúcares podem ser utilizados para
por uma molécula de 5 ou 6 carbonos ou
adoçar os alimentos, assim como produtos
dissacarídeos formados pela junção de dois
com açúcares como o mel e os xaropes. Os
monossacarídeos (Scapin et al., 2017; White,
açúcares nos alimentos e bebidas podem fazer
2018).
parte deles ou podem ser adicionados; quando
Os monossacarídeos são unidades únicas são adicionados, falamos de açúcares livres.
de açúcar (glicose, frutose ou galactose) –
Em 4 de março de 2015, a Organização
frutose é encontrada em muitas plantas,
Mundial da Saúde (OMS) lançou o novo guia
especialmente nas frutas. Ela se une à glicose
com recomendações de consumo de açúcar
para formar a sacarose. Os dissacarídeos
para adultos e crianças. Traz como
(sacarose, maltose e lactose) são duas
recomendação a importância da redução de
unidades de açúcar unidas, encontrado em
açúcar livre para até 10% das calorias ingeridas,
leites e no açúcar branco, por exemplo. Os
o que corresponde a 50 g de açúcares livres,
polissacarídeos, por sua vez, são formados por
e ressalta que mais benefícios são obtidos na
diversas unidades de monossacarídeos na
saúde quando essa redução limita o consumo
estrutura molecular e incluem amidos e
de açúcar a 5% das calorias ingeridas,
polissacarídeos sem amido (por exemplo,
aproximadamente 25 gramas por dia de açúcar
celulose e quitina) (Scapin et al., 2017).
livre, com base às evidências associadas à
A sacarose é um açúcar cristalino encontrado cárie dentária, em ambos os casos
em plantas, como cana de açúcar e beterraba. considerando uma dieta de 2.000 calorias.
Xaropes de glicose + frutose são líquidos doces (OMS, 2015)
usados na produção de alimentos e bebidas.
A relação de consumo de açúcares livres
Outros ingredientes que são utilizados para
e aumento de peso existe e está relacionada
adoçar os alimentos e bebidas incluem açúcar
ao consumo excessivo de calorias (não do
de cana, açúcar marrom, xarope de milho rico
açúcar per se). A recomendação é objetiva
em frutose, concentrados e purês de frutas,
a redução do risco de sobrepeso, obesidade,
xarope de milho, açúcar cristal, néctares,
doenças crônicas não transmissíveis (DNCT) e
xarope de agave ou de bordo, dextrose,
diabetes.
maltose, melaço. Vale destacar, que existem
açúcares raros como a alulose (ou psicose),
os açúcares de álcool como os polióis, o melado,
que é o produto obtido pela concentração
do caldo de cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum L.) ou a partir da rapadura derretida.
O açúcar invertido é um xarope quimicamente
produzido a partir do açúcar comum, a
sacarose: um dissacarídeo formado por dois
açúcares simples. Para obter o açúcar invertido

4
Edulcorantes e adoçantes de baixas e sem calorias

Os adoçantes são produtos que conferem kcal/g, mas há polióis específicos (ex: eritritol,
sabor doce aos alimentos, podendo ser de manitol) que fornecem menos calorias. O
mesa ou dietéticos, enquanto os edulcorantes eritritol fornece
são os componentes dos adoçantes, os 0 kcal/g (Chattopadhyay et al., 2014; Piekara
aditivos, ou seja, componentes adicionados et al., 2020; Sylvetsky and Rother, 2016). Na
intencionalmente para conferir o sabor doce categoria dos adoçantes não-nutritivos ou de
sem o propósito de nutrir. baixas/sem calorias encontram-se
principalmente os adoçantes do tipo intensos
Com base na legislação, podemos observar
ou de alta potência (sacarina, sucralose, stevia,
que o objetivo dos aditivos é de trazer melhorias
acessulfame, aspartame, etc).
sensoriais, físicas, químicas ou biológicas aos
alimentos, sem a finalidade de nutrir. (Brasil, No caso dos adoçantes de mesa intensos,
1977) que são utilizados diretamente pelo consumidor
final, substâncias chamadas veículos são
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
importantes para dar mais volume. Devido ao
define que os adoçantes são produtos que
poder adoçante alto, mínimas quantidades
contém os edulcorantes, que são os aditivos
de edulcorantes são necessárias. Sendo assim,
responsáveis por conferir o sabor doce aos
eles precisam ser dispersos em alguma outra
alimentos, sem a função de nutrir (ANVISA,
substância que ajude na dosagem – por
2005; Brasil, 1977). Os edulcorantes são usados
exemplo, nas versões em sachê é muito comum
também na elaboração dos adoçantes de
o emprego da lactose. As vezes, também é
mesa.
necessário utilizar antiumectante para que não
Os adoçadores podem ser classificados em fique úmido dentro do sachê. As versões
calóricos ou nutritivos e não-nutritivos ou líquidas, isso é feito com água e espessantes.
sem/baixos em calorias. A categoria dos Porém, são usadas quantidades pequenas.
adoçantes calóricos ou nutritivos inclui os
Os adoçadores são todas e qualquer
açúcares, e adocantes de baixa calorias, como
substância utilizada para conferir o sabor doce
os polióis (açúcar de álcool), que são em geral
aos alimentos e bebidas, dentre eles podemos
menos doces que a sacarose, mas possuem
encontrar os adoçantes que são produtos
propriedades de volume similares, ao mesmo
formulados para conferir o gosto doce, por
tempo que fornecem menos calorias por
meio dos edulcorantes que são os aditivos que
grama comparativamente ao açúcar
conferem o sabor doce.
(sacarose). Em geral, os polióis fornecem 2,4

Edulcorantes aprovados pela ANVISA (2008):


Acesulfame K (INS 950) Sorbitol (INS 420)
Aspartame (INS 951) Manitol (INS 421)
Ciclamato ou ácido ciclâmico (INS 952) Isomalte (INS 953)
Sacarina (INS 954) Taumatina (INS 957)
Sucralose (INS 955) Maltitol (INS 965)
Glicosídeos de esteviol (INS 960) Lactitol (INS 966)
Neotame (INS 961) Xilitol (INS 967)
Advantame (INS 969) Eritritol (INS 968)

5
Alguns edulcorantes têm limites de uso Os edulcorantes possuem diversas estruturas,
estabelecido de acordo com categorias de formas e fontes, conferindo propriedade e
produtos, enquanto outros são considerados poder de doçura diferentes uns dos outros, de
para uso segundo ‘boas práticas de fabricação’ tal modo que se ligam a receptores gustativos
(ou seja, na quantidade necessária para diferentes promovendo o estímulo do sabor
realizar sua função, sem um limite doce, mas sem efeito calórico compensador
estabelecido), segundo a legislação da ANVISA. (DuBois, 2016).

Figura: Extraída de DuBois et al., 2016.

Cada tipo de substância é metabolizado notar que o Ace-K, a sacarina e a sucralose


de uma forma. Compreendendo isso, os que não são metabolizados e são excretados
edulcorantes possuem diferentes percursos no na urina e fezes (Plaza-Diaz et al., 2020; Ruiz-
metabolismo, ou seja, podem ser metabolizados Ojeda et al., 2019).
e excretados de formas distintas. Interessante

Figura: poder de doçura dos edulcorantes comparado a 1 grama de sacarose

Fonte: (Mortensen, 2006; Serra-Majem et al., 2018).


6
Uso de edulcorantes para redução de açúcar

Dado o alto consumo atual de açúcares 2018; Rogers et al., 2016; Russell et al., 2016;
livres pela população, a redução da ingestão Tucker and Tan, 2017).
de açúcar é desafiadora e requer abordagens
O controle do diabetes é apoiado por
direcionadas, incluindo a promoção de escolhas
estratégias que favoreçam uma alimentação
mais saudáveis, reduções no tamanho das
equilibrada, sendo o prazer do comer muito
porções e reformulações de alimentos e
importante nessas estratégias. O uso de
bebidas. Os açúcares podem ser substituídos
adoçantes pode ajudar a manter o prazer do
pelos adoçantes/edulcorantes e ajudar a
comer nas refeições do dia a dia, sem prejudicar
diminuir a densidade energética dos alimentos
os níveis de glicose no sangue (Rogers et al.,
e bebidas, o que, por sua vez, pode significar
2016; Dyson et al., 2018).
uma economia significativa no consumo de
calorias (Faruque et al., 2019). Além do controle da glicemia, o
gerenciamento do peso é importante no
As diretrizes dietéticas de 2020-25 para
diabetes, pois a perda de 5% a 10% do peso
americanos (Rogers and Appleton, 2020),
corporal melhora o controle da glicose. Sendo
lançadas em 29 de dezembro de 2020,
assim, os adoçantes podem auxiliar na menor
oferecem recomendações para promover
ingestão de calorias e na perda de peso
hábitos alimentares saudáveis em todas as
(Rogers et al., 2016).
fases da vida, incluindo a redução do açúcar
adicionado, enquanto considera a necessidade Estudos mostram que os adoçantes não
dos indivíduos de personalizar suas escolhas causam cárie e são úteis na redução da
alimentares para equilibrar suas vidas e ingestão do açúcar, que em excesso pode
circunstâncias pessoais. O documento traz a causar a cárie dentária (Nichol et al., 2018;
recomendação do uso de adoçantes aliado Gupta et al., 2013; EFSA, 2011).
a uma alimentação equilibrada e rica em fibras
O consumo excessivo de açúcares livres
como forma de reduzir o consumo de açúcar.
causam impactos negativos para a saúde. A
Organizada a cada quatro anos, a 13ª implementação de uma série de estratégias
Conferência Europeia de Nutrição - FENS 2019 de saúde pública é necessária para reduzir a
(Gallagher et al., 2021) atraiu o interesse dos ingestão de açúcares livres, incluindo a
principais cientistas da nutrição de todo o redução do tamanho das porções, a
mundo que se reuniram em Dublin de 15 a 18 promoção de escolhas alimentares mais
de outubro de 2019, onde as pesquisas mais saudáveis e a reformulação de alimentos e
recentes nas principais áreas de nutrição, bebidas. Os adoçantes de baixa caloria são
incluindo redução de açúcar, foram uma ferramenta útil para reduzir a ingestão de
apresentadas e discutidas, concluindo que o energia e controlar a resposta glicêmica ao
uso de adoçantes em alimentos e bebidas consumir alimentos e bebidas doces (Gallagher
ajuda a reduzir seu valor energético quando et al., 2021).
usados em substituição ao açúcar (sacarose).

A substituição do açúcar por adoçantes


pode auxiliar no controle do diabetes, devido
ao melhor controle da glicemia (Nichol et al.,

7
Considerações em destaque

1. A preferência pelo sabor doce é característica inata do ser


humano

2. A ingestão de açúcar deve ser de até 10% do valor calórico total

Uma menor ingestão de açúcar pode trazer diversos benefícios

3. no controle do peso corporal, DCNT e saúde oral, entre outras


condições

Alimentos com edulcorantes podem entregar menor valor

4. calórico que os convencionais, dependendo da formulação


como um todo

Adoçantes de baixa caloria podem auxiliar em dietas para

5. gerenciamento do peso corporal na obesidade, no diabetes,


especialmente se associados a um plano alimentar balanceado

6. Adoçantes de baixa caloria mantêm o prazer de uma dieta


saborosa

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9
2. Aspectos gerais de
segurança e ingestão
dos adoçantes de baixas
calorias e sem calorias

Luciana Lancha, PhD

Aspectos de segurança
Os adoçantes de baixas calorias e sem de conduzir avaliações toxicológicas, esse
calorias são substâncias das mais avaliadas comitê é responsável por estabelecer as IDAs
pela literatura científica. (Ingestão Diária Aceitável) dos diversos
edulcorantes.
Existem várias agências regulando seu uso
no exterior e no Brasil, tais como: de A Food and Drug Administration (FDA) é uma
abrangência mundial - joint FAO/WHO Expert agência federal do Departamento de Saúde
Committee on Food Additives (JECFA), EUA – e Serviços Humanos dos Estados Unidos,
Food and Drug Administration (FDA), Europa – responsável pela proteção e promoção da
European Food Safety Authority (EFSA), Brasil – aúde pública por meio do controle e supervisão
Agência Nacional de Vigilância Sanitária da segurança de alimentos, produtos com
(ANVISA) tabaco, suplemento dietético, medicamentos,
cosméticos, e alimentos para animais e produtos
FAO/WHO Expert Committee on Food
veterinários. O FDA é também o responsável
Additives (JECFA) é um comitê científico de
pela regulamentação de alimentos, incluindo
experts, administrado conjuntamente pela
os aditivos alimentares, entre eles, os
Organização das Nações Unidas para a
edulcorantes. Possui critérios rigorosos na
Alimentação e a Agricultura (FAO) e pela
avaliação e aprovação dos edulcorantes.
Organização Mundial da Saúde (OMS), que
elabora princípios para avaliação de segurança A EFSA (European Food Safety Authority) é
e quantifica riscos. Possui especialistas científicos uma agência independente e autoridade
independentes que realizam avaliações de máxima em segurança de alimentos para a
risco e prestam assessoria à FAO, à OMS e aos União Europeia. Seus comitês científicos avaliam
países membros dessas as organizações, bem a segurança dos alimentos e os pareceres
como à Comissão do Codex Alimentarius. Além emitidos pela EFSA fundamentam a política e

10
a legislação alimentar na Europa, incluindo a incluindo edulcorantes, em alimentos. Seu uso
de edulcorantes. O Regulamento 1129/2011 deve estar em consonância com a Política
disponibiliza uma lista com os edulcorantes Nacional de Alimentação e Nutrição,
aprovados para alimentos, bebidas e adoçantes considerando que a ingestão dos aditivos, em
de mesa. A EFSA tem como meta reavaliar a seus limites máximos de uso, não deve
segurança de todos os aditivos que foram ultrapassar os valores da Ingestão Diária
aprovados na Europa antes de 2009. Aceitável – IDA.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária


(ANVISA) regulamenta o uso dos aditivos,

Edulcorantes não são autorizados para uso a menos que:

1. Sua segurança tenha sido avaliada de forma independente


2. Exista uma justificativa tecnológica para seu uso
3. Seu uso não confunda o consumidor

Os estudos quanto à segurança precisam provar que o edulcorante em questão:

1. Não causa efeitos colaterais


2. Não afeta a sistema reprodutório
3. Não é armazenado no organismo e tampouco gera substâncias
potencialmente perigosas
4. Não causa alergias

Dose de segurança
Após a conclusão dos estudos de toxicidade, Assim teremos a Ingestão Diária Aceitável
determina-se o valor de NOAEL (No Observed (IDA): “quantidade estimada de uma
Adverse Effect Level-Nível sem efeito adverso), substância química, expressa em mg por kg
a maior quantidade da substância de peso corpóreo (mg/kg p.c.), que pode ser
experimentalmente testada, que não provoca ingerida diariamente durante toda a vida sem
alteração detectável da morfologia, oferecer risco apreciável à saúde, à luz dos
capacidade funcional, crescimento, conhecimentos toxicológicos disponíveis na
desenvolvimento ou vida média do animal. época da avaliação”.

11
IDA (mg/kg peso Ano da última
EDULCORANTE Poder de dulçor
corpóreo) avaliação (JECFA)

Acessulfame k 0-15 1990 200


Advantame 0-5 2013 20 mil
Aspartame 0-40 1981 200
Ciclamato 0-11 1982 50
Glicosideo de
0-4 2001 200
esteviol
Neotame 0-2 2003 7 a 13 mil
Sacarina 0-5 1993 300
Sucralose 0-15 1990 600
Taumatina Não especificada 1985 3 mil
Xilitol 60 g AO DIA 1

A literatura traz vários estudos quanto à cancerígeno”. Em 1985, a Academia Nacional


segurança dos adoçantes de baixas calorias de Ciências dos EUA relatou: "A totalidade das
e sem calorias. evidências dos estudos em animais não indica
que o ciclamato ou o seu principal metabólito,
Aspartame
a cicloexilamina, seja cancerígeno por si só”.
Em 1996, um estudo reportou associação O Instituto Nacional do Câncer dos EUA afirma:
entre aspartame e câncer, mas estudos "Após reavaliação da carcinogenicidade do
posteriores com mais rigor científico ciclamato e da avaliação de dados adicionais,
demonstraram que o aspartame é seguro para os cientistas concluíram que o ciclamato não
consumo (EFSA 2013, Haighton et al, 2019). é um agente cancerígeno" (NCI 2009).

Quanto à sua digestibilidade, foi demonstrado No entanto, como a indústria passou a utilizar
que o aspartame é totalmente digerido e outros edulcorantes, não houve nova solicitação
absorvido no intestino delgado, não atingido de uso.
o cólon (Lobacha et al 2019). Seus aminoácidos
componentes são absorvidos no intestino
delgado.

Ciclamato

O ciclamato era usado nos EUA até que a


FDA retirou sua aprovação em 1969, com base
em um estudo controverso com doses
extremamente elevadas do produto em
animais. Atualmente, há mais de 75 estudos
científicos que comprovam que ele é seguro
para o consumo humano. Em 1984, a FDA
concluiu que: “as evidências de muitos
experimentos indicam que o ciclamato não é

12
Grupos vulneráveis como crianças e gestantes
Crianças edulcorantes era superior à IDA após essas
alterações. Cerca de 398 produtos contendo
Estudo realizado no Chile (Martínez et al,
adoçantes foram avaliados e os resultados
2020) avaliou 250 crianças chilenas após
apresentados abaixo mostram que mesmo
alteração da rotulagem em 2016, a qual
com essa alteração, o consumo de nenhum
incentivou a industria a substituir açúcar por
deles se aproximou da IDA. A sucralose foi o
adoçantes a fim de evitar o rótulo frontal de
edulcorante que teve o maior consumo,
alerta por conter alto teor de açúcar. O objetivo
aproximando-se de 61% da IDA.
da pesquisa foi avaliar se o consumo de

Número de Ingestão Ingestão Máxima


produtos (%) Frequência de Mediana (Faixa IDA (mg/Kg
Edulcorante Máxima Adequação à
contendo cada Ingestão (%) Interquartil) dia)
(mg/Kg dia) IDA (%)
edulcorante (mg/Kg dia)

Sucralose 291 (73%) 99.2 1.32 (0.67-2.32) 9.24 15.0 61.63

Acessulfame-K 70 (18%) 92.8 0.88(0.25-2.10) 7.60 15.0 50.69


Stevia (mg 139 (35%) 86.0 0.24 (0.04-0.47) 2.39 4.0 59.64
steviol eq.)
Aspartame 51(13%) 85.2 1.42 (0.26-3.55) 20.62 40.0 51.55

Ciclamato 7(2%) 12.0 0.00 (0.00-0.00) 3.13 7.0 44.75

Sacarina 7(2%) 10.8 0.00 (0.00-0.00) 0.68 5.0 13.62

Gestantes A sacarina atravessa a placenta humana,


no entanto, dados em animais relatam que
Adoçantes também são seguros para
exposição com doses de 100 a 400 vezes a IDA
gestantes, uma vez que esse grupo populacional
humana não sugerem risco de malformações
é considerado nos estudos de segurança
(Dropkin et al, 1985).
necessários para aprovações desses
ingredientes. Por exemplo, vários estudos em Em estudos com animais, a stevia não
animais não sugerem preocupações com o aumentou a toxicidade em embriões de rato,
uso de aspartame durante a gravidez. Estudos nem afetou a fertilidade ou os resultados da
em humanos descobriram que uma dose de gravidez. Não há dados sobre os resultados de
200 mg / kg p.c./dia de aspartame (4 a 5 vezes uso de stevia durante a gravidez humana
o IDA) não levou à toxicidade. Seu uso é seguro (Geuns, 2003).
mesmo na gestação de fenilcetonúria (PKU),
pois o aspartame não ultrapassa a placenta
(Sturtevant, 1985).

Os estudos em animais não relatam nenhum


risco aumentado de malformações ou outros
efeitos fetais adversos com a exposição a níveis
de doses elevadas de sucralose durante a
gravidez (Kille et al, 2000).

13
Considerações em destaque
• Todos os adoçantes são seguros, inclusive para grupos vulneráveis

• Os estudos que testam sua segurança são rigorosamente avaliados por diversos
órgãos mundiais

• A segurança dos adoçantes segue em constante avaliação

Lista de referências (Bibliografia)

Anvisa disponível em : http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/rdc0018_24_03_2008.html

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14
3. História dos
adoçadores e
as alternativas
de nova geração

Leila Hashimoto, PhD

Adoçadores: o que são e quais escolher?


Entende-se por adoçadores todo ingrediente consumidor, edulcorante é o composto,
ou alimento usado com o objetivo de adoçar. matéria-prima utilizada na elaboração do
Podem ser calóricos, baixos em calorias ou adoçante.
sem calorias.
Todos os adoçadores são seguros e a
Entre os calóricos, estão os açúcares, que escolha, quando pensamos no consumidor,
fornecem 4 kcal por grama, como sacarose, deve se dar pelo gosto pessoal, objetivos de
frutose, glicose, lactose. Estão também nessa uso, intensidade de doçura desejada, entre
categoria, os polióis. Entre os não calóricos, outros fatores. O poder de adoçar e o sabor
temos edulcorantes divididos em intensos (com são fatores chave na decisão do consumidor.
alto poder de adoçar) e açúcares raros, que Já na aplicação industrial, a popularidade do
não fornecem calorias (alulose e tagatose, por adoçador também depende das suas
exemplo). características tecnológicas e a finalidade de
uso nos alimentos e bebidas, já que eles podem
É importante ter claro os conceitos de
ser utilizados sozinhos ou mesclados com outros
adoçantes e edulcorantes. Enquanto adoçante
ingredientes e/ou adoçadores.
se refere ao produto final, utilizado pelo

15
Linha histórica dos adoçadores
É longa a trajetória de descoberta dos é um produto da fermentação da sacarose
adoçadores, começando pela sacarose e com poucas calorias (0,2 kcal/g). Ele adiciona
frutose, que são utilizadas há milhares de anos volume e é utilizado no Japão desde 1990. O
com esta finalidade. xilitol, por sua vez, é encontrado naturalmente
em frutas e legumes e aporta 2,4 kcal/g.
No grupo de açúcares estão, por exemplo,
Destaca-se seu uso para redução de cáries
sacarose, frutose, lactose, maltose, fornecendo
dentárias em produtos alimentícios (gomas de
4 kcal/g. A sacarose foi extraída originariamente
mascar, balas), produtos farmacêuticos e para
da cana-de-açúcar, por volta de 6.000 A.C.
saúde bucal (creme dental, antissépticos
na região da Índia, tendo sido usada como
bucais, pastilhas). Finalmente, o manitol,
tempero ou remédio. No Brasil, a cultura de
encontrado em algas marinhas, cogumelos e
cana-de-açúcar se iniciou em meados de
na beterraba, tem 70% do poder de dulçor da
1520, mas a empresa açucareira só ocorreu
sacarose e 2,1 kcal/g. Não capta umidade,
em 1533, iniciada por Martim Afonso de Souza.
por isso é usado em gomas de mascar,
As formas de açúcares foram obtidas revestimento em confeitaria e em
diferentemente entre as civilizações (xarope comprimidos.
de maple, alfarroba, açúcar da cana).
Mais recentemente, em 1931, foi descoberto
Os primeiros edulcorantes foram descobertos um edulcorante amplamente utilizado
entre 1840 e 1880. A taumatina foi extraída a atualmente, a stevia (glicosídeos de esteviol).
partir de uma fruta originaria da África do Sul, A stevia (glicosídeos de esteviol) é um
entre 1841-1855, e começou a ser utilizada edulcorante aprovado pelo comitê conjunto
como adoçante no Japão apenas em 1979. de especialistas da FAO-OMS sobre aditivos
alimentares (JECFA, da sigla em inglês) da
A sacarina foi descoberta acidentalmente
Organização Mundial da Saúde, que avalia o
por Ira Remsen e Constantine Fahlberg da
risco, segurança e exposição sobre esses
Universidade Johns Hopkins, em 1879. Tem a
compostos adicionados a alimentos. Ela é
capacidade de adoçar 300-500 vezes mais
extraída de um arbusto da família dos
que o açúcar, sem acrescentar calorias. No
crisântemos, nativa da região entre Paraguai
mercado, normalmente é utilizada em
e Brasil. A folha da stevia contém muitos
combinação com outros edulcorantes.
compostos, alguns com sabor doce, sendo
Os polióis, também chamados de açúcares que onze deles já são aprovados para consumo
do álcool, foram os seguintes adoçadores humano. É utilizada pelos índios há quase 1500
descobertos (1891). Cada poliol tem anos como adoçante e por suas propriedades
características diferentes de poder de adoçar, “medicinais”.
metabolismo, volume e de tecnologia para
Em 1937, foi descoberto o ciclamato, por
aplicação em alimentos.
Michael Sveda, aluno de graduação da
O sorbitol é naturalmente encontrado em Universidade de Illinois (EUA) e, em 1959, foi
algas marinhas e frutas (maçã, ameixa, etc) e autorizado como substância segura pela FDA.
seu poder de adoçar é 50% do poder de dulçor Em 1977, o JECFA/OMS aprovou seu uso como
da sacarose, fornecendo 2,6 kcal/g. Tem edulcorante para alimentos e bebidas, sendo
funções de edulcorante, emulsificante e até hoje um dos mais clássicos do mercado.
laxante (em grandes quantidades). O eritritol

16
A alulose é um composto diferente na linha especialmente em crianças, e distúrbios
do tempo dos adoçadores apresentados até intelectuais nos adultos, de forma que pessoas
aqui. A alulose é um açúcar raro (um epímero com fenilcetonúria devem controlar a ingestão
da frutose), que foi descoberto em 1938. Não de fenilalanina.
se trata de um adoçante intenso e sim de um
Em 1976, a sucralose foi descoberta
monossacarídeo com apenas 10% das calorias
acidentalmente por Shashikant Phadnis, da
da sacarose. Esse açúcar raro é naturalmente
Universidade de Londres, que procurava
encontrado em quantidades pequenas em
sintetizar açúcares halogenados em
frutas, como o figo, e seu poder de dulçor é
laboratório. É produzida a partir da sacarose,
de 70% da sacarose, fornecendo apenas 0,4
da cana-de-açúcar, com a modificação da
kcal/g. Seu sabor se assemelha ao da sacarose,
estrutura dessa molécula. É um edulcorante
não tendo sabor residual. Além disso, possui as
muito comum em alimentos e adoçantes de
funcionalidades da sacarose, como a
mesa.
caramelização. É aprovada para uso em
alimentos e bebidas em vários países da América Aprovada pelo JECFA/OMS, em 1990, seu
do Sul, como México e Chile. uso é permitido em alimentos e bebidas em
mais de 80 países. É o edulcorante mais versátil
Em 1940, estudos começaram a explorar a
do mercado e, devido às suas características
fruta do monge, nativa da China. O
sensoriais, físicas e químicas, não interage com
componente adoçador derivado da planta
outros componentes dos alimentos, como
Luo Han Guo, ou fruta do monge, é chamado
ácidos e compostos orgânicos. Apresenta uma
de mogrosídeo e tem poder de dulçor 200
estrutura molecular estável, não absorvível,
vezes maior que o do açúcar, sem aportar
não acumulável e não degradável.
calorias. Seu sabor é limpo, sem gosto residual.
O último edulcorante descoberto até o
O aspartame, edulcorante amplamente
momento foi o advantame, em 2008. A ciência
utilizado, foi descoberto acidentalmente em
está em constante evolução e não cessa a
1965 em uma investigação para encontrar um
busca por alternativas para substituir o açúcar.
inibidor para a gastrina. Fornece 4 kcal/g,
porém é 200 vezes mais doce que o açúcar e Como vimos pela linha histórica temporal,
por isso é usado em quantidade muito menor. os adoçadores nem sempre estão
Possui pouco sabor residual e perde suas imediatamente disponíveis para os
propriedades adoçantes quando submetido consumidores. Após a descoberta de um
a altas temperaturas. composto com capacidade adoçadora, seu
uso de forma mais ampla depende de sua
O aspartame consiste em 2 aminoácidos:
comprovação de segurança, além de avanços
fenilalanina e ácido aspártico. A fenilalanina
científicos e tecnológicos para serem produzidos
é um aminoácido essencial, não sintetizado
em larga escala e disponibilizados ao
pelo organismo e obtido pela ingestão dos
consumidor.
alimentos, especialmente das carnes e vegetais,
e do edulcorante aspartame. Existe uma A classificação por gerações dos adoçadores,
enfermidade hereditária, chamada por outro lado, está mais ligada à
fenilcetonúria (PKU, pela sigla em inglês), em disponibilização para o consumo que à data
que há a deficiência de uma enzima necessária de descoberta. Por exemplo, a alulose foi
para a quebra da fenilalanina. Neste caso, descoberta em 1938, entretanto, é uma opção
como não é absorvida, passa a se acumular de adoçador cujo potencial e uso têm
no organismo até ser convertida em compostos começado a ser explorado apenas mais
tóxicos, que levam a atrasos mentais,

17
recentemente, quando sua oferta em mais com maior risco de desenvolver diabetes tipo
larga escala se tornou possível. 2, resistência à insulina, ao provocar maior
resposta glicêmica do indivíduo. Ou seja, o
Assim, outra maneira de classificarmos os
açúcar aumenta o pico de glicemia pós-
adoçadores é pela ordem de disponibilização
prandial, e o consumo de frutose, por meio da
no mercado e, neste sentido, considera-se que
ingestão de sacarose, tem sido relacionado
existam quatro gerações até o momento,
como fator de risco para desenvolvimento de
distinguidas em função de características em
obesidade.
comum. (figura página 16)
Os edulcorantes da segunda geração são
Na primeira geração estão os adoçadores
aqueles classificados como intensos e produzidos
fontes de energia, conhecidos como calóricos
sinteticamente. Entre eles, os mais conhecidos
ou nutritivos, com o sabor igual ou semelhante
são a sacarina, o ciclamato, o aspartame e a
ao do açúcar. A segunda geração inclui os
sucralose. A sucralose é um edulcorante com
edulcorantes intensos e produzidos
poder de adoçar 600 vezes maior que o da
sinteticamente. São caracterizados por terem
sacarose. Ou seja, é preciso de pouquíssima
menos calorias e o sabor pode diferir do açúcar.
quantidade para adoçar. A sucralose é solúvel
A terceira geração é composta por edulcorantes
em água e não acumula no organismo. Quando
de origem natural que fornecem pouca caloria
ingerida, é pouco absorvida no trato
seu sabor pode ou não se assemelhar ao do
gastrointestinal e não é capaz de ser degradada
açúcar. Na quarta geração estão os açúcares
pelas enzimas digestivas humanas e pelas
raros, que tem sabor muito semelhante ao
bactérias intestinais, sendo assim excretada
açúcar e funcionalidade comparável à da
intacta nas fezes. A meia-vida da sucralose é
sacarose.
de aproximadamente 13 horas, portanto
Para conhecer mais a fundo cada geração, relativamente rápida, sendo que o pico da
podemos tomar um representante de cada concentração plasmática ocorre entre 1,5 a
uma delas para analisar. Na primeira geração, 3 horas depois da ingestão.
estão contemplados sacarose, glicose, frutose,
Devido ao alto poder de adoçar e substituir
maltose, lactose, xarope de glicose, xarope
o açúcar da dieta, os edulcorantes, como a
de frutose e os polióis. A frutose é um adoçador
sucralose, tem sido estudados no contexto de
presente principalmente em frutas e também
diabetes e síndrome metabólica, reduzindo a
faz parte da composição da sacarose,
resposta glicêmica ao ser adicionados em
juntamente com a glicose. Fornece 4 kcal/g
alimentos e bebidas. Por não conferir calorias
e o poder de adoçar é de 1,2 a 1,8 vezes maior
significativas à dieta, a sucralose tem sido
que o açúcar. A frutose pode ser ingerida em
escolhida para controle de peso e obesidade.
sua forma livre ou presente na composição da
A sucralose não promove a produção de ácido
sacarose. Em sua forma livre, é absorvida
pelas bactérias, não tendo capacidade de
diretamente por um receptor específico, o
induzir ou promover a cárie dentária.
GLUT5 ou GLUT2. A molécula da sacarose é
clivada pela enzima sucrase e libera frutose e A terceira geração dos edulcorantes engloba
glicose, que serão absorvidas por seus aqueles de origem natural, como a stevia e a
respectivos receptores no intestino. fruta do monge. As folhas da stevia contêm
onze compostos de glicosídeos, todos com
A frutose tem sido estudada em diversos
uma estrutura molecular em comum, o esteviol.
contextos, especialmente com respeito à frutose
A única diferença entre os diversos glicosídeos
proveniente da sacarose, uma vez que o alto
de esteviol é o número e o arranjo das moléculas
teor de açúcar na dieta tem sido relacionado
de açúcar ligadas ao núcleo esteviol. A extração

18
dos diferentes glicosídeos de esteviol começa mg/100 mg) e no molho barbecue (130,6
com a lavagem e secagem das folhas de mg/100 mg). Na produção de larga escala, a
stevia. Depois elas são colocadas em água, alulose é obtida a partir da inversão da cadeia
fervidas e filtradas para a extração dos da molécula de frutose. Tem gosto de açúcar,
compostos. Os extratos são purificados com com o mesmo perfil temporal de doçura da
adição de um solvente. A stevia purificada é sacarose e 70% do dulçor da sacarose, porém,
200 a 300 vezes mais doce do que a sacarose aporta menos de 10% das calorias da sacarose
e são estáveis a uma ampla faixa de pH e ao (0,2-0,4 kcal/g). Apresenta funcionalidades da
calor, justificando sua extensa utilização como sacarose, tais como, adição de volume e
edulcorante em muitos países do mundo. textura aos produtos; conferência da
coloração marrom ao assar (típica em produtos
As enzimas digestivas da boca, do estômago
de panificação) e diminuição do ponto de
e do intestino delgado não hidrolisam os
congelamento.
glicosídeos de esteviol. Quanto chegam ao
colon, estes são quebrados pela microbiota A alulose é absorvida no trato gastrointestinal,
intestinal, gerando o esteviol. No fígado, o porém não é metabolizada, por isso fornece
esteviol sofre conjugação com ácido apenas entre 0,2 e 0,4 kcal/g. É excretada
glicurônico, formando o glicuronídeo de esteviol. intacta pela urina. Na literatura, encontram-se
Parte do esteviol pode ser reabsorvido e retorna vários estudos de absorção e tolerância da
ao fígado pela circulação entero-hepática, alulose, assim como seus efeitos no diabetes,
sendo excretado pela bile. Não há indícios de na resposta glicêmica, no controle de peso e
acúmulo de derivados de glicosídeos de esteviol na saúde dental, ao substituir o açúcar da
no organismo. dieta.

As principais áreas de pesquisa científica Em um estudo com pacientes com diabetes


para stevia são relacionadas com o controle tipo 2, compararam-se os efeitos das doses de
da resposta glicêmica e diabetes, além de 0 g, 5 g e 10 g de alulose e frutose diluídas em
controle de peso e saúde bucal, assim como uma bebida com 75 g de glicose (Noronha et
os outros edulcorantes. Uma linha de pesquisa al, 2018). Os pesquisadores observaram que,
crescente é a investigação dos efeitos no ao adicionar a alulose na bebida, houve
microbioma intestinal, visto que sua redução significativa de quase 8% da glicose
metabolização ocorre por meio dessas bactérias. no plasma com 10 g de alulose. Não houve
efeito para insulina. Outros dois estudos
mostraram o efeito da alulose, também chamada
A quarta geração de adoçadores é
de D-psicose, em suprimir a elevação pós-
composta por açúcares raros, como a alulose,
prandial da glicose no sangue, principalmente
D-alose, tagatose e laetose. A alulose é um
em casos de diabetes limítrofe (Hayashi et al,
açúcar raro presente em pouca quantidade
2010). Em pacientes com diabetes, esse efeito
em algumas frutas ou formada durante o
é ainda mais relevante e significativo, indicando
cozimento ou processamento dos alimentos.
uma alternativa para substituir o açúcar da
É encontrada, por exemplo, na uva passa (38,7
dieta (Iida et al, 2008).

19
Considerações em destaque
Principais achados dos estudos científicos:
• Alulose é absorvida e excretada sem ser metabolizada
• Bem tolerada, FDA GRAS 30 g/dia (dose aguda)
• Não aumenta a glicose e insulina no sangue de pessoas sem e com DM2
• Suprime a resposta glicêmica de outros carboidratos
• Potencial impacto (redução) no peso e gordura corporal
• Propriedades não cariogênicas

Após passarmos por todo o histórico e gerações de adoçantes, vale relembrar que a
escolha do melhor adoçador para cada um é uma questão individual, envolvendo
questões como preferências e melhor adaptação ao tipo de adoçante e formato
disponíveis, além do custo.

Como escolher o melhor adoçador?


• Objetivos pessoais, por exemplo, controle glicêmico ou de peso corporal
• Preferência individual (sabor)
• Formato de preferência (gotas, sachê, granel, etc)
• Adequação de cada adoçador a diferentes tipos de preparações (os de volume e
resistentes a altas temperaturas para panificação)
• Custo

Lista de referências (Bibliografia)


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suppression effect of D-psicose in borderline diabetes and the safety of long-term ingestion by normal human subjects. Biosci Biotechnol
Biochem. 2010;74(3):510-9.
20
4. O ambiente epidemiológico
atual: redução de açúcar
como preocupação de
Saúde Pública

Luciana Lancha, PhD

Segundo o estudo Global Burden of Disease, IHM (ano), a principal causa de morte no mundo
está relacionada às doenças não transmissíveis (DNT), que incluem enfermidades cardiovasculares,
câncer, diabetes e doenças respiratórias. Ainda, a tendência observada de 1990 a 2017 foi um
aumento nas DNT, em comparação às doenças transmissíveis e nutricionais, e a injúrias (acidentes
de trânsito, homicídios, incêncios, desastres naturais, suicídios, entre outros).

Figura: causas de morte, Mundo, 1990 a 2017

Se por um lado o desenvolvimento da comportamento, temos: doenças


medicina está levando à redução das mortes cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças
por doenças transmissíveis como HIV, por outro, crônicas respiratórias. Dessa maneira, o cuidado
o número de mortes decorrentes de doenças com a dieta, atividade física, controle de
relacionadas aos hábitos e estilo de vida vem estresse, cigarro e álcool poderão prevenir 20
crescendo. Entre as quatro principais causas milhões de mortes em 2050.
de morte nessa categoria, referentes a variáveis
No Brasil, a situação não é muito diferente.
relacionadas ao estilo de vida e
De acordo como último relatório da VIGITEL

21
2017 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção controle, com alto percentual de insucesso
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), terapêutico e recidiva, podendo trazer sérias
as DCNT (Doenças Crônicas Não Transmissíveis) repercussões orgânicas e psicossociais,
foram responsáveis por 68% de um total de 38 sobretudo nas formas mais graves. Por outro
milhões de mortes ocorridas no mundo em lado, a perda de peso está associada a
2012, tendo como destaque doenças reduções no risco de morbidade e
cardiovasculares (30,4%), neoplasias (16,4%), mortalidade.
doenças respiratórias (6,0%) e diabetes (6,3%).
A melhor maneira de prevenir e combater,
tanto as DCNT, como o sobrepeso e
A obesidade é uma das maiores causas de obesidade, é através da mudança de
morbidade e mortalidade em todo o mundo comportamento. O esquema abaixo mostra
e tornou-se uma epidemia em países como a situação da pandemia afetou e
desenvolvidos no final do século 20. Entretanto, favoreceu desordens alimentares por questões
atualmente, atinge também países em de origem comportamental (Rodgers et al,
desenvolvimento – e em todos os níveis 2020).
socioeconômicos. Constitui condição de difícil

RISCO AUMENTADO

Exposição à mídia

Interrupção das atividades diárias

Isolamento social

Atividade física e sono modificados

Medo de contágio
MENOR CAPACIDADE DE
PROTEÇÃO E ACESSO A
ASSISTÊNCIA

Suporte social

Regulação emocional

Acesso a tratamento e cuidados

RISCO E SINTOMAS DE TRANSTORNOS ALIMENTARES

Figura 1: Resumo das vias pelas quais a pandemia COVID19 pode aumentar o risco e
sintomas relacionados a transtornos alimentares

A longo prazo, fazer dieta para controlar o hipertensão e dislipidemia. Está bem
peso não é eficaz e pode, inclusive, contribuir estabelecido que fatores genéticos têm
para o ganho de peso. Adaptações fisiológicas influência no aumento dos casos de
compensatórias induzidas por dietas restritivas, obesidade, no entanto, o aumento significativo
tais como, diminuição no gasto de energia, destes casos nos últimos 20 anos dificilmente
perda de massa magra, aumento da tentação poderia ser explicado por mudanças genéticas
por alimentos considerados “proibidos”, que tenham ocorrido em tão curto espaço de
favorecem o ganho de peso ao terminar a tempo. Sendo assim, os principais fatores
dieta. envolvidos no desenvolvimento da obesidade
têm sido relacionados com fatores ambientais,
A adiposidade visceral é o maior problema
tais como a ingestão alimentar inadequada e
quanto ao desenvolvimento da Síndrome
a redução no gasto calórico diário.
Metabólica, caracterizada por algumas doenças
metabólicas incluindo resistência à insulina,

22
Uma das explicações seria que o tecido aos portadores da Síndrome Metabólica. O
adiposo visceral tem características mais pró exercício físico sabidamente aumenta a
inflamatórias, aumento do acúmulo de produção de substâncias anti-inflamatórias
gordura ectópica, migração de células do como IL6, auxiliando na redução da
sistema imune para estes tecidos hipertrofiados adiposidade visceral.
(Després et al, 2006). Além disso, a resistência
A atividade física também, por si só, estimula
à insulina encontrada na Síndrome Metabólica
a captação de glicose independentemente
pode estar relacionada à hiperinsulinemia que,
da ação da insulina, além de promover aumento
por sua vez, ocasiona redução da remoção
do número de transportadores de glicose GLUT
de VLDL devido à redução da atividade da
4 no tecido muscular e maior sensibilidade do
lipoproteína lipase, do aumento na retenção
receptor de insulina. Isto é, com menor
de sódio e água, e da alteração da
quantidade de insulina, o receptor se torna
permeabilidade celular. Desta maneira, teríamos
mais responsivo.
como resultado dislipidemia e hipertensão. A
hiperglicemia decorrente da resistência Por isso é tão importante que o profissional
periférica à ação da insulina pode levar à de saúde tenha treinamento para ajudar seu
destruição das células e glicação de proteínas, paciente a desenvolver novos hábitos e um
resultando em intolerância à glicose. novo estilo de vida. Só assim as mudanças
serão duradouras e eficazes.
A prática de atividade física regular, como
parte de um estilo de vida saudável, é
fundamental e pode trazer enormes benefícios

Considerações em destaque
• Obesidade é um problema mundial
• Morte por doenças crônicas já ultrapassa 80% das causas de mortes
• Adiposidade visceral é fator de risco para outras complicações metabólicas
• Mudança no estilo de vida, assim como cuidados com a dieta e atividade física são
essenciais para melhora do quadro metabólico.

Lista de referências (Bibliografia)

Vigitel 2017, INSTITUTO COALIZÃO SAÚDE. Coalizão Saúde Brasil: uma agenda para transformar o sistema de saúde
(2017). Disponível em: http://icos.org.br/wp-content/uploads/2017/04/livro_projeto.pdf, acessado em 01/09/2018.

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impact of the COVID-19 pandemic on eating disorder risk and symptoms. Int J Eat Disord. 2020 Jul;53(7):1166-1170. doi:
10.1002/eat.23318. Epub 2020 Jun 1. PMID: 32476175; PMCID: PMC7300468.

Després, JP., Lemieux, I. Abdominal obesity and metabolic syndrome. Nature 444, 881–887 (2006). https://doi.org/10.1038/
nature05488

23
5. Estratégias dietéticas para
combater doenças
cardiometabólicas e o
papel dos adoçantes

Lara Natacci, PhD

Adoçantes podem se encaixar em um padrão alimentar para


uma boa saúde?
O Brasil possui 63% de indivíduos com excesso dieta com menor quantidade de açúcar e
de peso, sendo 28,5% obesos, segundo a açúcar livre, comparado aos que consomem
avaliação da situação alimentar e nutricional bebidas adicionadas de açúcar (Patel et al.,
no Brasil, publicada em 2020, sendo necessária 2018).
estratégias ou meios que facilitem o processo
Em uma recente revisão sistemática e
de perda de peso (MS, 2020).
metanálise sobre a ingestão de bebidas
O consumo de adoçantes pode auxiliar em adicionadas de açúcar ou adoçantes e o risco
uma dieta balanceada por meio da redução de doenças cardiovasculares, realizada com
da ingestão de açúcares e de calorias 11 artigos com bebidas adoçadas com açúcar
(Drewnowski and Rehm, 2014; Gibson et al., e 8 com bebidas com adoçantes de baixas
2016; Peters and Beck, 2016). Alguns estudos calorias, o consumo de bebidas adoçadas
reforçam que seu uso pode ajudar no equilíbrio com açúcar foi associado ao maior risco de
da glicose no sangue e do controle do apetite mortalidade por doenças cardiovasculares em
(Meyer-Gerspach et al., 2016). comparação com bebidas adoçadas com
adoçantes (Yin et al., 2021). O uso de
Em uma metanálise sobre o consumo e o
adoçantes pode estar associado à menor
risco de sobrepeso e obesidade, foi observado
mortalidade por essas doenças, principalmente
que o aumento do consumo diário de grãos
no contexto de uma alimentação saudável
refinados e bebidas açucaradas contribuem
diretamente para o sobrepeso e obesidade No mundo, há diferentes padrões alimentares
(Schlesinger et al., 2019). Em outra metanálise, que ajudam a manter uma boa saúde e a
observou-se que consumidores de bebidas prevenir o desenvolvimento de doenças. Em
adoçadas com adoçantes de baixa calorias geral, os padrões equilibrados costumam auxiliar
tiveram uma ingestão calórica menor, e uma no controle do peso corporal e na diminuição

24
das chances de se desenvolver doenças No padrão alimentar do mediterrâneo
crônicas. Um exemplo de padrão alimentar podemos observar que a ingestão de alimentos
saudável proposto pelas diretrizes alimentares de origem vegetal ricos em fibras e gorduras
americanas de 2015-2020 possui: Grãos integrais poliinsaturadas e monoinsaturadas é maior.
e oleaginosas; Pelo menos 400 g/dia de Frutas Este padrão considera menor ingestão de
e vegetais; <10% do VET de açúcar livre (50 g carboidratos refinados (Bach-Faig et al., 2011;
– 12 colheres de chá rasas); <30% do VET de Tuttolomondo et al., 2019).
gorduras (<10% saturadas); <5 g de sal/dia
A dieta nórdica é uma dieta onde vegetais
(equivalente a 1 colher de chá). (WHO, 2019)
("plant-based") e pescados ganham o maior
Outro exemplo de padrão alimentar saudável, destaque, e reforça a ingestão de fibras
é o recomendado pelo MyPlate, proposto pelo alimentares e menor quantidade de
Departamento de Agricultura dos Estados carboidratos refinados (Berild et al., 2017;
Unidos (USDA), que tem como diretrizes o Lankinen et al., 2019).
consumo aproximado de 10% de frutas, 40%
A dieta DASH, desenvolvida para a saúde
de vegetais, 30% de grãos integrais, 20%
cardiovascular, especialmente para o controle
proteínas e uma pequena porção de lacticínios.
da hipertensão, possui menor teor de açúcar
A Organização das Nações Unidas para a e sal, além de maior ingestão de frutas, hortaliças
Alimentação e a Agricultura (FAO) possui suas e grãos integrais (Harsha et al., 1999).
diretrizes dietéticas baseadas em alimentos.
A dieta baseada em vegetais, como o
que trazem fundamentos para o
próprio nome diz, é composta por alimentos
desenvolvimento de guias alimentares para a
de origem vegetal, é rica em fibras alimentares
população, e que se concentram em (Herforth
e gorduras saudáveis, e promove menor
et al., 2019):
ingestão de carboidratos refinados (Barnard
• Abundância de uma variedade de frutas et al., 2019; Ostfeld, 2017).
e vegetais (pelo menos 5 por dia)
Os padrões alimentares baseados em
• Refeições à base de grãos integrais/ orientações governamentais, como por
carboidratos ricos em fibra exemplo o Guia Alimentar Canadense, o My
PLate dos EUA e o Guia Alimentar para a
• Feijão e leguminosas, e alguns peixes,
População Brasileira, reforçam a necessidade
ovos, carne magra e outras proteínas
de maior ingestão de alimentos de origem
• Alguns laticínios com baixo teor de vegetal e de fontes de fibras alimentares, além
gordura ou alternativas lácteas da menor ingestão de sal e açúcar livre.

• Pequenas quantidades de óleos A metanálise desenvolvida por Rogers &


insaturados e pastas. Appleton (2020) mostra que o uso de adoçantes
pode contribuir para a redução da ingestão
O Guia Alimentar para a População Brasileira
de calorias e para a redução do peso corporal,
(Ministério da Saúde, 2006), apesar de ser de
reforçando por sua vez o auxílio no processo
difícil compreensão para algumas parcelas da
do gerenciamento do peso corporal.
população, recomenda de modo geral a
redução do consumo excessivo de açúcar.

25
Quais são as recomendações de Agências de Saúde?

As recomendações para o uso de adoçantes/ benefícios com a inclusão dos adoçantes em


edulcorantes ocorrem por meio de organizações sua alimentação, mas destaca que é também
internacionais como OMS (Organização necessário um aumento do consumo de fibras
Mundial da Saúde), FDA (Food and Drug alimentares para uma alimentação saudável.
Administration) e EFSA (European Food Safety
Nos Estados Unidos, em 2015, o comitê
Authority). No Brasil, o uso é regulamentado
Consultivo de diretrizes dietéticas ( USDA Scientific
pela ANVISA.
Report of the 2015 Dietary Guidelines Advisory)
A Organização Mundial da Saúde, por meio já havia recomendado os adoçantes para
da diretriz de ingestão de açúcar para adultos ajudar no gerenciamento de peso em adultos,
e crianças, recomenda e reforça a importância pois quando da substituição de açúcar, estão
da redução da ingestão de açúcar livre para associados ao menor consumo de calorias.
a saúde. A EFSA recomenda o uso de adoçantes
para o controle da glicemia.

As Diretrizes Dietéticas para Americanos


(Dietary Guidelines for Americans), publicadas
recentemente para os anos de 2020 a 2025,
reforçam que os consumidores podem obter

26
Recomendações de Associações Profissionais e
Posicionamentos sobre Uso de Adoçantes
Muitas das Associações de Classe e Organizações de Profissionais da Saúde têm suas
recomendações específicas para o uso de edulcorantes / adoçantes.

Recomendações das organizações de saúde

País/Organização Profissional Recomendação

O uso de edulcorantes pode ser utilizado como estratégia para a perda de


Diabetes UK, Reino Unido peso e para o controle do diabetes, tanto para adultos quanto para
crianças.

O consumo de açúcar deve ser moderado e, como forma de auxiliar o


controle, os adoçantes podem ser utilizados.
AHA - Associação Americana
O uso de edulcorantes em bebidas e nos desfechos cardiometabólicos
do Coração, EUA
podem ser estratégias efetivas para auxiliar no controle da ingestão
calórica e na promoção da perda de peso corporal.

ADA - Associação Americana Reduzir o consumo de açúcar é essencial. Substituir açúcares por
de Diabetes, USA adoçantes pode ajudar a reduzir a ingestão de açúcares e de calorias.

BDA - Associação de Dietistas O uso de adoçantes é uma estratégia viável e favorável para o indivíduo,
do Reino Unido, UK facilitando o controle de peso e da ingestão de açúcares.

Diabetes Canada - Associação Os adoçantes podem trazer benefícios no controle do peso e da glicemia
de Diabetes do Canadá em substituição ao açúcar.

Academy of Nutrition and Os adoçantes podem ser utilizados com segurança desde que estejam
Dietetics - Academia Americana associados a um plano alimentar/dieta saudável elaborado por
de Nutrição e Dietética, EUA profissionais.

Os adoçantes podem ser utilizados com moderação em uma alimentação


saudável. Seu uso é visto como positivo para o indivíduo devido a sua
flexibilidade e por favorecer o convívio social, permitindo o consumo dos
SBD - Sociedade Brasileira de
mesmos alimentos com o adoçante no lugar do açúcar. Logo os
Diabetes, Brasil
adoçantes contribuem de maneira substancial para os portadores de
diabetes pela menor ingestão de açúcares e de calorias, podendo auxiliar
na perda de peso que se torna importante na doença.

27
Na América Latina existem diversos ser estratégias úteis e positivas no que se diz
posicionamentos a respeito do uso dos respeito a saúde cardiometabólica, além de
adoçantes/edulcorantes. O Colégio de auxiliar na redução da ingestão de açúcares
Medicina Interna do México, a Sociedade e calorias, impactando na perda de peso
Mexicana de Cardiologia e a Sociedade corporal.
Mexicana de Nutrição e Endocrinologia reforçam
A ANAD – Associação Nacional de Atenção
que os adoçantes podem ser utilizados com
ao Diabetes, Brasil, apoia o uso de adoçantes
segurança para auxiliar na redução do
por portadores de diabetes, como estratégia
consumo de açúcar, como parte de uma
auxiliar no controle da doença.
alimentação saudável e equilibrada,
enfatizando que são aprovados por instituições O Consenso Ibero-Americano destaca que
regulatórias para garantir segurança do seu os edulcorantes são seguros e regulamentados
uso. por agências/instituições internacionais e
nacionais e que as diretrizes alimentares sugerem
A Federação Mexicana de Diabetes ressalta
que nos alimentos e bebidas, os edulcorantes
que os adoçantes são seguros para todas as
podem ser utilizados como substitutos do açúcar,
fases da vida, respeitando-se a Ingestão Diária
para auxiliar na redução do consumo de açúcar
Aceitável (IDA) de cada edulcorante. O Instituto
(REF).
Mexicano de Investigações Nefrológicas declara
que não há evidências que comprovem efeito Na 13ª Conferência Europeia de Nutrição
no comprometimento da saúde renal. E o (2019), concluiu-se que os edulcorantes podem
Instituto Nacional de Pediatria do México auxiliar na redução da ingestão calórica e no
reforça que os edulcorantes são seguros em controle da glicemia quando consumidos em
relação aos aspectos de toxicidade, alimentos e bebidas doces (Gallagher et al.,
carcinogênese e genotoxicidade durante 2021)
qualquer etapa da vida, podendo ser
consumidos por gestantes, crianças,
adolescentes, adultos e idosos.

A Associação Nacional de Atenção ao


Diabetes apoia o uso de adoçantes por
portadores de diabetes como uma estratégia.
Diversas publicações são divulgadas em seus
meios de comunicação sobre os benefícios
que os adoçantes podem trazer para a saúde
em substituição ao açúcar.

O posicionamento da Associação Americana


do Coração (AHA) sobre os edulcorantes é a
concordância na segurança do seu uso para
adultos em especial, quanto ao consumo de
bebidas açucaradas de bebidas açucaradas,
de modo que sua substituição pelos adoçantes
impacta diretamente na redução da ingestão
de açúcares e calorias.

A Associação Americana do Coração


declarou que os adoçantes em bebidas podem

28
Considerações em destaque

Adoçantes / edulcorantes são seguros, saudáveis e

1. úteis, especialmente quando empregados juntos a uma


dieta balanceada

Adoçantes / edulcorantes podem ser utilizados como

2. estratégias para o controle de peso, perda de peso e


redução da ingestão calórica

Os padrões alimentares e as diretrizes de alimentação

3. reforçam que os adoçantes / edulcorantes podem ser


utilizados como substitutos de açúcar

Os órgãos internacionais e nacionais reforçam o uso

4. de adoçantes / edulcorantes como alternativas para


reduzir a ingestão de açúcar livre e de calorias

Lista de referências (Bibliografia)

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30
6. Benefícios nutricionais
bem estabelecidos
dos edulcorantes

Leila Hashimoto, PhD

Os edulcorantes apresentam vários benefícios, a ser de um em cada cinco pessoas. O Brasil


sendo que suas principais áreas de ocupa o 5º lugar no ranking mundial dos maiores
investigação centram-se em: resposta números de casos de diabetes. A previsão é
glicêmica e de insulina, saúde oral, ingestão de que até 2045 esse número aumente em
de energia, peso corporal e saúde 55%.
cardiometabólica.
Na fisiopatologia do diabetes tipo 2, diversos
Os benefícios mais amplamente estabelecidos mecanismos podem contribuir para o aumento
dos edulcorantes estão relacionados com a da glicemia. O órgão principal relacionado
resposta glicêmica e a saúde oral, a ponto de ao diabetes é o pâncreas, onde há redução
receber parecer positivo de autoridades da secreção de insulina pelas células beta e
permitindo alegações de propriedade funcional aumento de glucagon pelas células alfa.
ou de saúde no rótulo de alimentos e bebidas Somado a isso, alterações nas funções
que os contêm. hepáticas levam ao aumento da produção
de glicose endógena. O diabetes é
Segundo o Comitê da Autoridade Europeia
caracterizado por uma inflamação de baixo
para a Segurança Alimentar (EFSA), os
grau, ou seja, aumento da produção de
edulcorantes são sempre recomendados para
sustâncias inflamatórias e redução das anti-
pessoas com diabetes para controle da ingestão
inflamatórias. Além disso, a redução da
de açúcares e da glicemia após as refeições,
capacidade dos órgãos de captarem glicose,
ao substituir açúcar.
devido à resistência na ação de insulina por
Estratégias para controle da ingestão de tecidos como os músculos, contribui para o
açúcares e redução da resposta glicêmica aumento de glicose circulante, assim como
são importantes em face do número crescente aumento da reabsorção de glicose pelos rins.
de casos de diabetes tipo 2 no Brasil e no
mundo. Um em cada onze adultos tem diabetes
Entre os fatores de risco que tem importante
e, na população idosa, essa prevalência passa
papel no desenvolvimento do Diabetes mellitus

31
(DM) estão: excesso de peso, inatividade física, No estudo transversal do National Health
aumento da idade, fatores genéticos, histórico and Nutrition Examination Survey (NHANES),
familiar e a má alimentação. em 2017, foram avaliados mais de 25 mil adultos
entre 2001 e 2012, com o objetivo de entender
As metanálises são tipos de estudos com
a relação entre a ingestão de água e bebidas
maior nível de evidência, pois compilam vários
com edulcorantes com a ingestão de nutrientes
estudos bem controlados e com critérios
e marcadores do metabolismo glicêmico em
definidos e em populações com maior número
indivíduos com pré-diabetes. Os principais
de pacientes. Em uma metanálise
resultados encontrados foram: redução de
(Schwingshackl et al, 2017), observou-se que
10,9 g de açúcar livre da dieta, o que
o consumo reduzido de grãos integrais, frutas
corresponde a 1 colher de sopa por dia; redução
e legumes estavam relacionados com menor
dos níveis de insulina, hemoglobina glicada e
risco relativo para desenvolver DM2. Por outro
índice de resistência à insulina com a ingestão
lado, o consumo excessivo de grãos refinados,
de edulcorantes.
açúcar e gorduras saturadas aumentam o risco
relativo para desenvolver DM2.

A Associação de Diabetes Americana (ADA), Para a avaliação dos resultados de um


a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e estudo científico, é importante avaliar:
Organização Mundial da Saúde (OMS) estudam
• Tipo e robustez do estudo
e recomendam alternativas alimentares e
nutricionais que reduzam picos de glicemia • Duração da intervenção
pós-prandial para controlar os níveis de glicose
• Número de pessoas estudadas
no sangue. Essas organizações recomendam
a redução do consumo de açúcares livres • Ajuste por fatores de confusão
para, no máximo, 10% do valor calórico total (adiposidade)
da dieta, além da ingestão de 25 g de fibras
• Tipo de população (obesos, DM2,
por dia para redução da resposta glicêmica.
saudáveis)

• Qual é a intervenção controle? Água,


O termo “açúcar livre” é definido pela OMS
bebida com açúcar, etc.
como todos os monossacarídeos e
dissacarídeos que foram adicionados aos • Estudo que mostra a associação
alimentos e bebidas, mais o açúcar (epidemiológicos) ou causa-efeito
naturalmente presente, inclusive mel, caldas, (intervenção)
sucos de frutas e açúcares nos concentrados
de suco de frutas.
Embora de natureza observacional, esses
A metanálise de Nichol e colaboradores
resultados sugerem que os edulcorantes
(2018) reportou que os edulcorantes não
também podem ser escolhas sensatas para
afetam a homeostase aguda da glicose e não
reduzir a ingestão de açúcares e carboidratos,
causam efeito adverso no controle da glicemia,
sem associações adversas com as medidas
quando utilizados no lugar de açúcares. Esse
de resposta glicêmica.
efeito não é atribuído diretamente aos
edulcorantes, mas sim à ausência de um efeito
e quantidade menor de carboidratos, o que
leva a uma resposta de glicose menor.

32
As principais considerações que temos em relação ao uso de edulcorantes no contexto
de controle glicêmico são:

• Não afeta a glicemia e insulina pós-prandial

• Reduz o aumento da glicemia quando substitui o açúcar

• Favorece a redução do risco de desenvolver diabetes e ajuda no controle do diabetes

• Reduz ingestão de energia e pode ser estratégia favorável para controle de peso

Outro benefício bem estabelecido dos edulcorantes é na saúde oral.

Conceitos
Saúde DENTAL: Refere-se ao estado livre de cáries, tártaro, dores de dente, fraturas
dentárias

Saúde BUCAL: Estado livre de dores, desconfortos e alterações na boca e face

Saúde ORAL: Capacidade de falar, sorrir, saborear, mastigar, tocar, engolir e transmitir
emoções através de expressões faciais sem dor, desconforto nem doenças craniofaciais

Segundo a EFSA, os edulcorantes são desempenha um papel importante. Quando


compostos não cariogênicos e auxiliam a consumimos alimentos fontes de açúcar, as
manutenção da mineralização do dente, bactérias presentes na boca fermentam o
também diminuindo sua desmineralização, açúcar produzindo substâncias ácidas, que
quando substituem açúcares glicêmicos. podem afetar lentamente o esmalte dos dentes.
O ácido produzido leva à perda de cálcio e
Nossa boca é o espelho do nosso corpo e
fosfato do esmalte, processo denominado
reflete a saúde e bem-estar geral. A cárie
desmineralização e, se o desgaste for constante,
dentária e doença gengival estão entre as
surge a cárie dentária.
doenças mais comuns no mundo, segundo a
OMS. Elas afetam 3,9 bilhões de pessoas Seguir uma dieta saudável e praticar boas
mundialmente e 40% da população global práticas de higiene oral desde cedo são
tem cáries dentárias não tratadas. A cárie é prioridades fundamentais para a prevenção
também a doença infantil mais comum, mas e o tratamento precoce da cárie dentária.
afeta todas as idades. Se não tratada, a cárie
Quando se trata de uma dieta para a saúde
pode impactar na saúde e bem-estar do
bucal ideal, a ingestão de açúcares e outros
indivíduo.
carboidratos fermentáveis deve ser limitada.
Dos muitos fatores que contribuem para o Assim, os edulcorantes são boas alternativas
desenvolvimento da cárie dentária, a dieta

33
para substituir o açúcar, pois não sendo De acordo com as evidências na literatura
fermentáveis, não são cariogênicos. sobre saúde oral, os edulcorantes não são
fermentáveis pelas bactérias orais, contribuem
A revisão sistemática e metanálise de Newton
para manutenção da mineralização do dente,
et al. (2020) mostrou que edulcorantes
diminuindo sua desmineralização; favorecem
reduziram significativamente o aumento de
a prevenção da cárie dentária (não
cárie. No entanto, há um grau considerável
cariogênico) ao substituir o açúcar; e podem
de variabilidade no efeito e os ensaios incluídos
substituir o açúcar em alimentos (goma de
foram, de forma geral, de qualidade
mascar, balas, etc), bebidas e produtos para
moderada. Há uma necessidade de futuras
saúde oral.
pesquisas para explorar a aceitabilidade e
viabilidade do uso de edulcorantes como uma
intervenção de saúde pública.

Alegações de saúde aprovadas dos edulcorantes


Uma alegação de saúde é qualquer sangue após o consumo, em comparação
alegação que afirma, sugere ou implica que com alimentos/bebidas contendo açúcar”
existe uma relação entre uma categoria de
Com base nos benefícios bem estabelecidos
alimentos, um alimento ou um de seus
e comprovadamente existentes, autoridades
constituintes e a saúde.
em diversos países avaliam o peso das
Na prática, duas alegações foram aprovadas evidências e alguns permitem fazer
como “alegações de saúde” para edulcorantes comunicações nos rótulos de alimentos e
pela EFSA: bebidas, de forma a informar o consumidor de
potenciais benefícios que o consumo desses
“O consumo de alimentos/bebidas
alimentos e bebidas podem ter, de acordo
contendo (edulcorante) em lugar de açúcar
com condições de uso pré estabelecidas. No
contribui para a manutenção da mineralização
Brasil, para edulcorantes, a ANVISA já aprovou
dos dentes”
no passado alegação semelhante para os
“O consumo de alimentos/bebidas polióis manitol, xilitol e sorbitol.
contendo (edulcorante) em lugar de açúcar
induz um menor aumento da glicose no

34
Considerações em destaque

Os edulcorantes e polióis têm benefícios nutricionais bem


estabelecidos para o diabetes, como substitutos do açúcar.

Os edulcorantes e polióis têm benefícios nutricionais bem


estabelecidos para a saúde oral, em substituição aos açúcares

Lista de referências (Bibliografia)

Ashwell M et al. Nutr Res Rev. 2020;33(1):145-154. ISA Booklet Set 2018

EFSA. Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to intense sweeteners and contribution to the
maintenance or achievement of a normal body weight (ID 1136, 1444, 4299), reduction of post-prandial glycaemic
responses (ID 4298), maintenance of normal blood glucose concentrations (ID 1221, 4298), and maintenance of tooth
mineralisation by decreasing tooth demineralisation (ID 1134, 1167, 1283) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC)
No 1924/2006. EFSA Journal 2011; 9 (6): 2229. Disponível em: https://www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/pub/2229.

IDF DIABETES ATLAS. Ninth edition 2019.

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Leahy M, Ratliff JC, Riedt CS, Fulgoni VL. Consumption of Low-Calorie Sweetened Beverages Compared to Water Is
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10.1177/238008441

35
7. Açúcar,
edulcorantes e
a obesidade

Luciana Lancha, PhD

Os problemas de saúde associados à existentes já mostra que nenhuma tem grande


obesidade são a principal causa de mortalidade sucesso.
nos EUA, perdendo apenas para problemas
As Estratégia Intersetorial de Prevenção e
associados ao tabagismo. Além disso, o custo
Controle da Obesidade do Ministério da Saúde
das doenças associadas ao sobrepeso para
recomenda:
o sistema de saúde é muito elevado. A
necessidade de perder peso é bem 1. Disponibilidade e acesso a alimentos
compreendida, no entanto, o processo é difícil adequados e saudáveis;
e uma estimativa revela que menos de uma
2. Ações de educação, comunicação e
em cada cem pessoas são bem sucedidas em
informação;
conseguir manter o peso atingido ao final da
fase de perda. 3. Promoção de modos de vida saudáveis
em ambientes específicos;
Embora as diretrizes de tratamento para
obesidade recomendem mudança de 4. Vigilância Alimentar e Nutricional;
comportamento, pouca ênfase se dá à criação
5. Atenção integral à saúde do indivíduo com
de novos hábitos (Ministério da Saúde). O foco
sobrepeso/obesidade na rede de saúde;
principal segue no cálculo de calorias e
e
macronutrientes e na busca pela combinação
que melhor promova perda de peso, num 6. Regulação e controle da qualidade e
contexto no qual, mesmo tendo respaldo inocuidade de alimentos.
científico, a simples quantidade de dietas

36
alimentos e bebidas compreendidas em 5
grupos: bebidas adoçadas, biscoitos, bolos
prontos e misturas para bolo, achocolatados
Diversas ações são preconizadas no contexto em pó e produtos lácteos. O projeto prevê
da Estratégia, que contribuem para a redução retirar, de forma gradual, 144,6 mil toneladas
e manejo da obesidade, tais como: de açúcar até 2022.

• Discussão da regulação da publicidade, Hoje, já se sabe que uma das ações mais
práticas de marketing e comercialização importantes no combate à obesidade é o
de alimentos, especialmente voltados para tamanho das porções, e nesta direção a
o público infantil; indústria tem produzido produtos em
embalagens e apresentações menores.
• Política Global de Comunicação de
Quando avaliamos alguns consensos na
Marketing para Crianças da International
literatura, fica evidente que o uso de
Food & Beverage Alliance (IFBA)
edulcorantes pode ser um fator de auxílio na
• Renovação de acordo com Associação redução de calorias ingeridas. Para que esta
Brasileira das Indústrias de Alimentação – estratégia seja eficiente, ela deve vir
ABIA para redução e eliminação de gordura acompanhada de outras ações e
trans, e redução de sódio e açúcar; conscientização das pessoas que buscam o
emagrecimento.
• Renovação de Acordo de Cooperação
entre o Ministério da Saúde e a Federação Isso ocorre porque a nutrição não é uma
Nacional das Escolas Particulares (FENEP) ciência exata, e assim, alguns fatores
para promoção da alimentação saudável relacionados à perda de peso devem ser
nas escolas, com enfoque nas cantinas; levados em consideração, além do conceito
de termodinâmica, tais como adaptações
• Discussão sobre a redução de açúcar em
bioquímicas, hormonais, fisiológicas, psicológicas,
alimentos processados, com a pactuação
emocionais, genéticas e epigenéticas, respostas
das primeiras metas em 2015;
individuais para treinamento, fatores religiosos
• Compromisso de venda de bebidas não e sociais que se influenciam mutuamente.
alcoólicas em escolas das empresas
É muito importante evitar a busca por
associadas da Associação Brasileira das
alimentos “bons” ou “ruins”, pois todos os
Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não-
alimentos cabem dentro de uma deita
Alcoólicas (ABIR);
equilibrada. O que determina esse equilíbrio
• Oferta de produtos em embalagens menores tem relação muito maior com quantidade, do
e individuais. que apenas com a qualidade do alimento.
Algo que poderia ser considerado saudável,
Nesta mesma direção, em 2018, um acordo
se consumido compulsivamente, deixa de ser.
para redução de açúcar foi assinado com o
Ministério da Saúde pela ABIR; Abimapi O grande desafio é auxiliar as pessoas na
(Associação Brasileira da Indústria de Biscoitos, busca de um novo estilo de vida e novos hábitos
Massas Alimentícias e Pães & Bolos alimentares. Os profissionais de saúde gostam
Industrializados), ABIR e Viva Lácteos de acreditar que informação gera mudança,
(Associação da Indústria de Lácteos). Ao todo, que o medo muda as pessoas, mas na verdade
fazem parte do acordo 68 indústrias, que o medo muda apenas uma em cada dez
representam 87% do mercado de alimentos e pessoas depois de algum episódio assustador.
bebidas do País. O acordo previu a redução Medo não muda (Deutschman, 2007)!
voluntária de açúcar em 23 categorias de
Auxiliar o indivíduo a buscar novos hábitos
37
Auxiliar o indivíduo a buscar novos hábitos chocolate, o que traz um prazer e um alívio,
é o mais importante, por exemplo, ajudá-lo a pois a tentação não está mais ali presente,
encontrar novas estratégias para lidar com a criando um ciclo de consumo, culpa,
tristeza que não seja comer uma caixa inteira recompensa.
de bombons. Porque quando o indivíduo não
Aprender a expressar empatia, desenvolver
resiste a um alimento proibido, acaba se
a discrepância, lidar com a resistência e apoiar
permitindo, sente prazer seguido de culpa e
a autoeficácia é fundamental para auxiliar
isso gera necessidade de recompensa
neste processo (Lancha et al, 2018).
imediata. Isso então o leva a se permitir
novamente até chegar ao fim do pacote de

Considerações em destaque
• Não há um culpado nem uma pílula mágica em relação ao problema da obesidade

• Edulcorante é uma ferramenta adjuvante importante no controle da obesidade e


do diabetes

• Educação da população é fundamental

• Posicionamento e treinamento do profissional de saúde é necessário

Lista de referências (Bibliografia)

Ministério da Saúde. Disponível em: https://aps.saude.gov.br/ape/promocaosaude/prevencaocontrole

Deutschman, A. Mude ou Morra. Ed Best Seller, 2007

Lancha Jr., A.H.; Sforzo, G.A.; Pereira-Lancha, L.O. Improving nutritional habits with no diet prescription: details of a
nutritional coaching process. American Journal of Lifestyle Medicine, v. 12, n. 2, p. 160-5. 2018

38
8. Aceitação e percepções dos
pacientes, consumidores e
dos profissionais da saúde
em relação aos adoçantes

Leila Hashimoto, PhD

Entre as dez tendências reportadas por um


estudo de tendência de mercado no ano de
2020, a redução no consumo de açúcar tem
Cinco principais motivos para escolher
destaque. O açúcar (sacarose) é o ingrediente
adoçantes*:
de maior preocupação entre os consumidores,
ultrapassando gorduras e sódio que foram • Para satisfazer as necessidades
protagonistas nas últimas décadas. relacionadas ao sabor

As estratégias utilizadas são de reduzir, • Para satisfazer a sede com


substituir ou simplesmente retirar o açúcar. alternativas de bebidas sem ou
Observou-se também a atitude dos indivíduos com menos calorias
de utilizar açúcares naturais, aspecto que
• Por consumi-los já como parte dos
mostra o interesse pela saudabilidade.
alimentos e bebidas presentes em
Em um estudo realizado com 434 americanos sua rotina
em um programa de controle de peso,
• Para reduzir calorias
observou-se que 10% deles consomem bebidas
adoçadas com açúcar regularmente, 53% • Para poder ingerir bebidas com
consomem adoçantes regularmente e 78% sabor doce (sem acrescentar mais
acham que o adoçante ajuda a controlar a calorias) junto com as refeições
ingestão total de calorias (Catenacci et al.,
*Catenacci et al., 2014
2014).

O Conselho Internacional de Informação


sobre Alimentos (da sigla IFIC, em inglês)
publica anualmente uma pesquisa sobre as
percepções, crenças e comportamentos dos

39
consumidores americanos em relação a dos entrevistados acertaram a classificação
alimentos e suas decisões de compra de de 10 ou mais ingredientes na categoria correta
alimentos. Na pesquisa publicada em 2020, os (açúcar ou edulcorante) da lista de
consumidores foram questionados se estão adoçadores apresentada. Os consumidores
tentando evitar/limitar açúcar na dieta, e 74% reportaram que é mais provável que evitem
deles disseram que sim. Quando questionados edulcorantes (aspartame 48%, sacarina, 44%)
sobre as estratégias para evitar/limitar comparado com açúcares adicionados. Além
açúcares, 60% disseram que substituíram as disso, 65% dos participantes não tinha
bebidas açucaradas por água, 30% escolheram conhecimento sobre a recomendação da
alimentos e bebidas com redução de açúcar, OMS de restringir o consumo de açúcares livres.
35% utilizaram adoçantes ao invés de açúcar
No Reino Unido, uma pesquisa online (Logue
e 25% apenas retiraram o açúcar dos alimentos
et al., 2017) entrevistou 1589 pessoas acerca
e bebidas.
do seu conhecimento e consumo de
A pesquisa do IFIC de 2020 também indicou edulcorantes. Os autores observaram que as
que, entre os participantes, 34% disseram que principais fontes de edulcorante na dieta são:
usam adoçantes (aspartame, sucralose, stevia). 50% bebidas (refrigerantes, café e bebidas
Ao serem questionados sobre os benefícios quentes), 17% doces e 15% goma de mascar.
que acreditam que os adoçantes promovem, Entre as razões para consumir edulcorantes,
20% respondeu “perda de peso”, 20% os participantes indicaram a busca por redução
respondeu “consumir menos açúcar” e cerca das calorias ingeridas e a presença em alimentos
de 10% respondeu “controle do diabetes e da que consomem. Observou-se também que
glicemia”. Ainda, 23% dos consumidores houve associação significativa entre o peso
reportaram opinião positiva sobre adoçantes corporal dos indivíduos e o consumo de
e 45% tem opinião negativa sobre esse produto. edulcorantes nessa população.
Em relação ao ano anterior, 17% dos
Esse estudo trouxe colocações importantes
consumidores entrevistados tiveram uma opinião
reportadas por seus participantes. Apesar da
mais positiva em relação aos adoçantes.
confiança nos órgãos públicos de saúde e
Assim, observamos que ingredientes/produtos órgãos reguladores, ainda existe um
que os consumidores tem pouco ou nenhum desconhecimento e uma desconfiança a
conhecimento podem causar desconfiança respeito dos edulcorantes, consequentemente
ou insegurança. Apesar de todos os estudos afetando seu consumo. Essa desconfiança
científicos e todas as rigorosas avaliações feitas impacta a aceitação, com preferência para
regularmente pelas autoridades de saúde, aqueles com “atributos naturais”.
ainda há preocupação do consumidor sobre
Corroborando essa informação, um estudo
a segurança e efeitos dos adoçantes.
(Lightspeed/Mintel) realizado com
O estudo de Tierney et al (2017) avaliou 445 consumidores da França, Itália e Espanha
pessoas da Irlanda do Norte em relação ao investigou quais tipos de açúcares e
seu conhecimento e entendimento sobre adoçantes eram considerados mais saudáveis
adoçadores. Apresentou-se uma lista com 11 por eles. Mel, açúcar mascavo e xarope de
tipos de açúcares (néctar de agave, xarope agave foram os considerados mais saudáveis
de milho, frutose, suco de fruta, glicose, mel, pelos entrevistados. Apesar dos consumidores
açúcar invertido, isoglicose, maltose, melado perceberem diferentes tipos de açúcar de
e sacarose) e 2 edulcorantes (aspartame e formas distintas, mel e os diferentes tipos de
sacarina). Chama atenção que apenas 4% açúcares que são quimicamente classificados

40
como sacarose (mascavo, demerara, cristal, confiáveis, uma vez que são formadores de
refinado, etc) são equivalentes do ponto de opinião e educadores.
vista nutricional, uma vez que fornecem as
Embora os profissionais de saúde
mesmas calorias. Entre os edulcorantes, stevia
concordassem que os edulcorantes sintéticos
foi considerado o mais saudável entre os
não são ruins para a saúde, suas respostas
consumidores. Outros edulcorantes não tiveram
demonstraram que eles não compreendiam
uma imagem positiva, por serem menos
bem os benefícios associados ao uso dos
conhecidos, como aspartame, sucralose, eritritol
edulcorantes, assim como seu papel no
e xilitol. Portanto, educar os consumidores sobre
gerenciamento de peso e no diabetes.
adoçantes pode ajudar a dar a esses
ingredientes uma imagem mais positiva.

QUEM SÃO OS INFLUENCIADORES DA


OPINIÃO DOS CONSUMIDORES SOBRE
ADOÇANTES?

1 em 3
são influenciados por amigos ou
família
Conhecimento sobre adoçadores*: 1 em 7
75-100% conhecem açúcar, glicose, são influenciados por profissionais da
frutose e xarope de milho saúde
45-65% conhecem extrato de stevia, * Pesquisa IFIC 2017
agave, sucralose

20-44% conhecem glicosídeos de


steviol, aspartame, sorbitol Harricharan e colaboradores (2015)
entrevistaram 75 nutricionistas sobre suas
0-19% conhecem alulose, manitol, percepções quanto a adoçantes. Diferentes
acessulfame K, eritritol respostas foram encontradas: a maioria acha
* Pesquisa proprietária Tate & Lyle (2017)
que não devem ser utilizados ou devem ser
apenas utilizados transitoriamente. Segundo
este estudo, nutricionistas ainda são reticentes
em recomendar adoçantes devido a dúvidas
Segundo a pesquisa do IFIC de 2020, os
quanto aos efeitos dos adoçantes e por sentir
principais fatores que influenciam os
que os consumidores devem reduzir seu apego
consumidores a não utilizar adoçantes foram:
por sabores doces. Portanto, é clara a
Preferir o gosto do açúcar; não precisar utilizar
necessidade de referências baseadas em
adoçantes; não gostar do gosto do adoçante;
evidências e o acesso do profissional da saúde
recomendação de um profissional da saúde;
à informação de fonte confiável.
acharem que não é saudável. Em relação ao
último item, a percepção das pessoas de que A educação quanto ao tópico deve ser o
não é saudável teve uma redução de 2019 ponto de partida para muitos desses
para 2020. Outro importante é que os profissionais ingredientes, independente do público em
da saúde informações adequadas e de fontes questão.

41
Como o consumidor compra? Quais fatores ele leva em
consideração?
Os principais motivadores de consumo estão a eles e que tenha sido obtido a partir de uma
ligados ao sabor, preço e percepção de produção de forma sustentável.
saudabilidade. Os consumidores tendem a
Em uma pesquisa (Tate & Lyle, 2017) realizada
associar algo natural a algo saudável, porém,
com 2.005 adultos brasileiros e mexicanos, que
é importante esclarecer que os produtos
investigou as percepções e atitudes dos
considerados mais naturais não são
consumidores em relação ao uso de açúcar
necessariamente os mais saudáveis. Existe um
e de adoçantes, perguntou-se: “Sua ingestão
desconhecimento sobre o fato de que todos
de açúcar ou doces nas bebidas que você
os edulcorantes aprovados são seguros, o que
comprou mudou no ano passado?” Do total
gera insegurança quanto a seu uso. Além disso,
de respondentes, 78% dos consumidores se
há uma tendência no mercado por produtos
mostraram favoráveis a eliminar ou diminuir a
“mais naturais”, o que pode explicar o aumento
quantidade de açúcar e 16% a substituir o
do uso de edulcorantes de fonte natural,
açúcar por adoçantes. Para aqueles que
sobretudo stevia, nos últimos anos.
passaram a utilizar adoçantes (n=477),
No estudo do IFIC de 2019, os consumidores perguntou-se: “Qual das seguintes opções
avaliaram a percepção de saudabilidade de melhor descreve como você mudou sua
dois produtos com a mesma informação ingestão para adoçantes?”. Os consumidores
nutricional. O que diferenciava eram as reportaram que estão em busca de
seguintes alegações: Produto fresco x alternativas de bebidas mais saudáveis (54%),
congelado, “All natural” label, ter mais ou ter menor risco de diabetes (52%) e consumir
menos ingredientes familiares a eles e a ingredientes mais naturais (37%). Além disso,
sustentabilidade do produto. Os resultados quando questionados sobre qual solução
indicaram que os consumidores consideram o consideravam mais aceitável para controle
produto mais saudável se, em sua embalagem, do conteúdo de açúcar, 49% dos entrevistados
constar as informações de ser um produto consideraram os adoçantes sintéticos, enquanto
fresco, “natural”, com ingredientes familiares 51% deles optaram pelos adoçantes à base
de plantas.

Principais conclusões da pesquisa (Tate & Lyle, 2017):

• A maioria dos consumidores ´dos países da América Latina estudados reduziu a


ingestão de açúcar, diminuindo o número ou a quantidade de bebidas adoçadas
que consomem

• Stevia é vista positivamente por cerca de 2 em cada 5 consumidores dos países


da América Latina

• Cerca de metade dos consumidores está aberta aos adoçantes síntéticos como
forma de controlar a ingestão de açúcar; no entanto

• A maioria dos consumidores prefere optar por adoçantes de origem vegetal

• Stevia é vista mais positivamente em comparação com o eritritol e a sucralose.


No entanto, a sucralose está fortemente associada com “tem sabor de açúcar”

42
Quando se pensa em substituição do açúcar por adoçante, existem inúmeros desafios, tanto
para uso individual como pela indústria, e as barreiras incluem: sabor, tecnologia, aceitabilidade
percepção por consumidores e profissionais da saúde, influenciadores da compra, e as atitudes
dos consumidores. Em relação ao sabor, a experiência sensorial de cada adoçante é diferente
e única para cada adoçante e cada pessoa. Para alguns edulcorantes, podem existir características
residuais indesejáveis, como gosto amargo, muito doce ou metálico. Nos alimentos e bebidas,
o açúcar contribui para dulçor, textura, viscosidade, cor, preservação, fermentação, palatabilidade
e não tem sabor residual. Por isso, a indústria precisa considerar todos esses fatores para substituir
o açúcar por um edulcorante.

Considerações em destaque
O que faz um edulcorante ser bem sucedido?

Existem alguns aspectos chave que contribuem para a mais ampla aceitação de um
edulcorante. Entre eles, destacam-se os principais influenciadores do sucesso e
consumo de um edulcorante:

• Sabor, custo e o que está escrito no rótulo;

• Segurança e aprovação regulatória

• Percepção e conhecimento do consumidor

• Possibilidade de produção em escala e cadeia de suprimento ética e sustentável

Lista de referências (Bibliografia)

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2017 International Food Information Council (IFIC) Food & Health Survey

2018 Corn Refiners Association

2020 International Food Information Council (IFIC) Food & Health Survey

Sylvetsky AC, Hiedacavage A, Shah N, Pokorney P, Baldauf S, Merrigan K, Smith V, Long MW, Black R, Robien K, Avena
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Tierney M, Gallagher AM, Giotis ES, Pentieva K. An Online Survey on Consumer Knowledge and Understanding of Added
Sugars. Nutrients. 2017 Jan 5;9(1):37.

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Lightspeed/Mintel

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Pesquisa proprietária realizada pela Tate & Lyle (2017)

Harricharan M, Wills J, Metzger N, de Looy A, Barnett J. Dietitian perceptions of low-calorie sweeteners. Eur J Public
Health. 2015 Jun;25(3):472-6.

43
9. Adoçantes:
controvérsias
examinadas à luz
da ciência

Luciana Lancha, PhD

Há vários tipos de estudos científicos que Os ensaios clínicos randomizados surgem


podem ser conduzidos: estudos em animais, quando há indícios de associação nos estudos
estudos de observação, estudos clinicos observacionais, ou nos estudos em animais, e
randomizados (RTCs por sua sigla em inglês), então são necessários estudos randomizados
revisões sistemáticas. para comprovar as hipóteses levantadas.
Essencialmente, é o estudo em que os
Os estudos com animais têm limitações
participantes são alocados randomicamente
evidentes, pois camundongos e humanos
para receber uma ou mais intervenções,
compartilham aproximadamente 70% das
comparando os resultados com um grupo
mesmas sequências de genes codificadores
controle. Os ensaios clínicos constituem-se
de proteínas - mas isto representa apenas 1,5%
numa poderosa ferramenta para a avaliação
dos dois genomas.
de intervenções para a saúde. Não raramente
Já nos estudos observacionais, os indivíduos uma hipótese não se confirma após estudos
não são designados para o grupo tratado por clínicos randomizados.
processo aleatório, pertencem a este grupo
Revisão sistemática é uma investigação
por serem portadores de determinadas
científica que reúne estudos relevantes sobre
características. Por isso os efeitos do tratamento
uma questão formulada, utilizando o banco
podem ser confundidos com os efeitos de
de dados da literatura que trata sobre aquela
fatores que levaram o indivíduo a pertencer
questão como fonte e métodos de
ao grupo tratado. Não se pode distinguir causa
identificação, seleção e análises sistemáticas,
e consequência.
com intuito de se realizar uma revisão crítica
e abrangente da literatura.

44
Adoçantes e perda de peso

Uma revisão sistemática mostrou que substituir estudos disponíveis para avaliar esses efeitos
açúcar por adoçantes leva à redução de peso, incluíram adultos e crianças, com peso
um efeito particularmente evidente em adultos saudável, sobrepeso e obesidade, e consumo
com sobrepeso/obesidade (Laviada-Molina de adoçantes de baixas calorias ou açúcar
et al, 2020), bem como em crianças (Rogers em bebidas e alimentos. Por outro lado, não
et al, 2016). há evidências claras de efeitos sobre peso
corporal ou ingestão energética de adoçantes
Outra revisão sistemática mostrou que o
de baixas calorias em comparação com o
consumo de adoçantes comparado ao
consumo de água (Rogers et al, 2021).
consumo de açúcar diminui o peso corporal,
pela redução da ingestão energética. Os

Adoçantes, diabetes, controle glicêmico e insulinemia

Ao avaliar o uso de adoçantes em diabéticos, encontrou efeito da ingestão de adoçantes


há evidências inconclusivas em relação aos de baixas calorias na glicose pós-prandial, ou
efeitos do consumo de adoçantes de baixas na resposta insulínica comparada com grupo
calorias e sem calorias em comparação com controle (Greyling et al 2020). Assim como o
o consumo de açúcar, ou placebo em benefício consumo de adoçantes sem calorias também
clinicamente relevante ou dano para HbA1c, não elevou os níveis de glicose plasmática,
peso corporal, tanto para pessoas com diabetes conforme avaliado por outra metanálise (Nichol
tipo 1 ou tipo 2 (Lohner et al, 2020). et al, 2018).

Quanto aos efeitos dos adoçantes de baixas


calorias na glicemia ou insulinemia, uma
metanálise com 34 estudos randomizados não

45
Adoçantes e Microbiota

Muito se questiona a respeito dos efeitos dos edulcorantes sobre a microbiota. Elencamos
abaixo alguns dos resultados encontrados (Lobach et al, 2019).

Totalmente digerido e absorvido no intestino delgado, não atingindo


Aspartame
o cólon.

Encontrada nas fezes de ratos e humanos sem alterações


Sucralose
moleculares.

Alteração na microbiota de ratos em altas doses - IDA levou em


Sacarina
consideração este dado quando foi estabelecida.

Nenhuma alteração na microbiota de ratos em doses até superiores à


Stevia
IDA.

Adoçantes e Câncer

Em 1970, um estudo com sacarina em altas doses causou câncer de bexiga em ratos, no
entanto, vários estudos posteriores não encontraram qualquer relação entre a substância e
câncer e apontaram que os mecanismos fisiológicos dos ratos não eram relevantes em humanos.

A probabilidade para outros tipos de câncer, conforme relatado em vários estudos observacionais,
não sugeriram diferença no risco (Toews et al 2019).

Como é possível perceber, não é fácil ler e interpretar artigos científicos e isso muitas vezes
leva a conclusões equivocadas que acabam sendo utilizadas de forma sensacionalista pela
mídia, ou por extrapolação dos resultados, uso seletivo das informações, entre outras razões.

Adoçantes e Doenças Crônicas

Enquanto estudos não randomizados indicam associação positiva entre adoçantes e doenças
crônicas, estudos randomizados sugerem associação negativa ou não apresentam associação.

No caso de doenças crônicas, o grande desafio é auxiliar as pessoas na mudança de estilo


de vida. A projeção para 2050 é de que 36 milhões de mortes ocorram por doenças não
transmissíveis, e as principais causas são: doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças
crônicas respiratórias. Sendo assim, cuidado com a dieta, atividade física, gerenciamento do
estresse, eliminação do hábito de fumar e moderação no consumo de álcool poderão prevenir
milhões de mortes.

46
Considerações em destaque
• Estudos observacionais não são conclusivos

• Há muita propagação de mitos pela mídia por razões diversas

• Profissional da área da saúde precisa ler e entender os estudos e as metanálises de


estudos controlados aleatorizados

• As doenças crônicas são consequências de um estilo de vida e não de comportamentos


isolados

Lista de referências (Bibliografia)

Laviada-Molina, H, Molina-Segui, F, Pérez-Gaxiola, G, et al. Effects of nonnutritive sweeteners on body weight and BMI
in diverse clinical contexts: Systematic review and meta-analysis. Obesity Reviews. 2020; 21:e13020. https://doi.org/
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Rogers, P., Hogenkamp, P., de Graaf, C. et al. Does low-energy sweetener consumption affect energy intake and body
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gut microbiota, Food and Chemical Toxicology, Volume 124, 2019, Pages 385-399, https://doi.org/10.1016/j.fct.2018.12.005.

47
10. Principais fatos
sobre os adoçantes
que todos
precisam conhecer

Lara Natacci, PhD

Um estudo recente de 2020 (Moriconi et al., 2020) abordou como o consumo excessivo de
açúcar está relacionado ao desenvolvimento de doenças metabólicas crônicas prevalentes no
mundo ocidental e como o uso de adoçantes tem aumentado gradualmente em todo o mundo
nos últimos anos. Foram discutidas as vantagens do uso de adoçantes no contexto de dietas de
baixas calorias.

Efeitos de adoçantes não calóricos no trato gastrointestinal

Os adoçantes não calóricos ligam-se aos ser confirmados em estudos clínicos (Moriconi
receptores de sabor doce (T1Rs) nas células L et al., 2020).
enteroendócrinas, promovendo a síntese de
Em revisão sistemática e metanálise de
uma série de segundos mensageiros, o que
intervenções controladas com humanos,
resulta na liberação de GLP-1. O GLP-1 estimula
foram investigados os efeitos de pré-cargas
as terminações periféricas das fibras nervosas
isocalóricas (diferenças de doçura, mas
aferentes - que enviam o sinal do GLP-1 para
calorias constantes) e pré-cargas iso-doces
o sistema nervoso central - e promove a
(diferenças calóricas, mas doçura constante),
liberação de neuropeptídeos pelos neurônios
bem como pré-cargas que não eram nem iso-
entéricos, desencadeando assim a regulação
doces nem isocalóricas (doçura e diferenças
positiva de SGLT1 (proteína transportadora de
calóricas) na refeição ad libitum subsequente
glicose e sódio) nos enterócitos. Portanto, a
e no total (pré-carga + ad libitum) das entradas
sinalização do GLP-1 resulta, em última análise,
de energia. Um total de 35 estudos foram
no aumento da absorção intestinal de glicose.
analisados, sugerindo que os alimentos e
Esses mecanismos moleculares foram
bebidas adoçados com edulcorantes são
demonstrados tanto in vitro quanto in vivo, em
alternativas viáveis aos alimentos e bebidas
estudos pré-clínicos, embora ainda precisem

48
adoçados com açúcares para controlar a pré-carga sem açúcar foi −55,5 kcal (IC 95%:
ingestão energética de curto prazo (Lee et al., −82,9, −28,0 kcal; P <0,001), indicando ingestão
2021). de energia ad libitum significativamente mais
baixa após o consumo com edulcorantes (Lee
Os edulcorantes reduzem a ingestão
et al., 2021).
energética em refeições ad libitum (à vontade)
em adultos de ambos os sexos. A diferença
média bruta combinada na energia ad libitum
com edulcorantes em comparação com uma

1250

-130.5 kcal -93.5 kcal


1000
Total Energy Intake (kcal)

750

500

260

0
LNCS CS Preload UNS CS

Figura 1. Representação gráfica de ingestão de energia com consumo de pré-cargas adoçadas com LNCS versus CS e pré-
cargas adoçadas com CS e UNS (CS: caloric sweetener; LNCS: low-/no-calorie sweetener; UNS: unsweetened).

Na Figura 1 vemos a redução energética pela restrição da quantidade de açúcar


com o consumo de adoçantes e adoçadores adicionado que os adoçantes podem
calóricos (sacarose e glicose) e sem proporcionar na dieta".
adoçadores.
Os adoçantes podem contribuir para a
A revisão sistemática e metanálise (Lee et menor ingestão de calorias quando comparados
al., 2021) a revisão sistemática e mata-análise ao açúcar. Uma explicação direta em relação
mostra que os efeitos das pré-cargas adoçadas a essa substituição ocorre pela diferença
com adoçantes resultaram em menor ingestão calórica dos adoçantes e dos açúcares. Desta
ad libitum de energia. A totalidade das forma, com a redução do consumo de
evidências sugere, o que é geralmente calorias, observamos um reflexo no índice de
generalizável para indivíduos com peso normal, massa corporal (IMC), ressaltando-se que seus
ou seja, que alimentos e bebidas adoçados efeitos se mostraram significantes quando
são alternativas viáveis para ajudar a controlar comparados ao açúcar, mas não à água ou
a ingestão calórica de forma aguda. a nada(Rogers and Appleton, 2020).

Outra revisão com metanálise (Rogers and A preponderância de evidências de todos


Appleton, 2020) com 60 artigos relatando 88 os ensaios clínicos randomizados humanos
grupos paralelos e estudos cruzados ≥1 semana indica que adoçantes não aumentam
de duração comparou a ingestão de adoçantes ingestão calórica ou peso corporal. No geral,
com açúcar, de adoçantes com água ou com o balanço das evidências indica que o uso de
nada, ou cápsulas de adoçantes com cápsulas adoçantes no lugar do açúcar, em crianças
de placebo. Seus resultados apoiam o uso de e adultos, leva à redução de ambos (ingestão
adoçantes no controle de peso, principalmente calórica e peso corporal) (Rogers et al., 2016)

49
A metanálise dos ensaios controlados- das concentrações de glicose no sangue ao
randomizados e coorte prospectivas mostrou longo do tempo após o consumo de
que o uso de adoçante pode auxiliar no controle adoçantes e testou os efeitos diferenciais por
do peso corporal, na redução do índice de tipo de adoçantes e idade, peso e estado da
massa corporal (IMC), gordura corporal e doença dos participantes. Em comparação
circunferência da cintura, e principalmente, com a linha de base, o consumo de adoçantes
na gordura corporal (Rogers et al., 2016). não aumentou o nível de glicose no sangue e
sua concentração diminuiu gradualmente ao
Outro estudo realizou revisão sistemática de
longo da observação após o consumo de
ensaios clínicos randomizados com pelo menos
adoçantes (Nichol et al., 2018).
4 semanas de duração, avaliando o efeito dos
adoçantes no peso corporal, tanto em indivíduos Os níveis de glicose sanguínea são menores
com peso saudável quanto em indivíduos com quanto maior o intervalo do consumo de
sobrepeso/obesidade em qualquer idade, e edulcorantes. A Figura 2 explica como os
confrontados com comparadores calóricos e adoçantes não aumentam a glicemia e
não calóricos. Os dados sugerem que a diminuem gradualmente ao longo dos 210
substituição do açúcar por adoçantes leva à minutos do período de observação (Nichol et
redução de peso, principalmente em al., 2018).
participantes com sobrepeso/obesidade sob
dieta irrestrita, informações que podem ser
utilizadas para decisões de políticas públicas
baseadas em evidências (Laviada-Molina et
al., 2020).

Para avaliar impacto glicêmico, a metanálise


realizada por Niclho et al., verificou a trajetória

50
0.25

Blood Glucose Change from Baseline (mmol/L)


0.00

-0.25

-0.50
1-29 30-59 60-89 90-119 120-149 150-179 180-210

Figura 2.

Foi realizada a revisão sistemática e O aumento de 1 porção/d de bebidas


metanálise de estudos de intervenção humana açucaradas foi associado a 8% de risco de
examinando o efeito agudo da ingestão de incidência de DCV e mortalidade por DCV,
adoçantes na glicose e nas respostas de insulina respectivamente. Um incremento de 1
pós-prandiais a fim de quantificar essas relações porção/d de adoçantes foi associado a um
de forma abrangente e objetiva (Greyling et risco de 7% de incidência de DCV. O consumo
al., 2020). Dos 34 artigos incluídos, foi observado habitual de bebidas açucaradas foi associado
que a glicemia pós-prandial com o uso de a um maior risco de morbimortalidade por DCV
adoçantes foi menor, independentemente do de forma dose-resposta. Mesmo com pequenas
tipo ou dose de adoçante consumido. Entre diferenças, os adoçantes mostram-se com
os pacientes com diabetes tipo 2, a diferença menor risco comparados a bebidas adicionadas
média de alteração indicou uma resposta de de açúcares (Yin et al., 2021).
glicemia pós-prandial menor após a exposição
Sintetizando as evidências de estudos
ao adoçante em comparação com o controle
prospectivos associados a efeitos
(Greyling et al., 2020). Na insulina pós-prandial
cardiometabólicos adversos de longo prazo,
foram observados os mesmos resultados, que
foram incluídos 7 ensaios (com 1.003
após o uso dos adoçantes teve concentrações
participantes; acompanhamento médio de 6
menores (Greyling et al., 2020).
meses) e 30 estudos de coorte (com 405.907
Nove ensaios clínicos randomizados com participantes; acompanhamento médio de
um total de 979 pessoas com diabetes tipo 1 10 anos). Foi observado que os adoçantes
ou tipo 2, com duração de 4 a 10 meses, foram podem ajudar no controle do peso com menor
incluídos em revisão, que observou menores IMC em ensaio clínicos controlados e
níveis de HbA1c e glicose em favor do randomizados, que são mais confiáveis
adoçante, mas sem significância estatística quando queremos saber o efeito de um alimento
(Lohner et al., 2020). ou substância sem a interferência de outros
fatores de confusão (Azad et al., 2017).
Para esclarecer a relação entre o consumo
de bebidas adoçadas com açúcar e bebidas Cinquenta e cinco estudos (3 intervenções,
adoçadas com edulcorantes com doenças 8 coortes, 20 populações e 24 transversais)
cardiovasculares, foram incluídos 11 artigos mostraram que a incidência de cárie é menor
que avaliaram o consumo de bebidas quando a ingestão de açúcares livres é <10%,
açucaradas e 8 artigos que avaliaram o o que reforça que o uso de adoçantes em
consumo de adoçantes (Yin et al., 2021). substituição ao açúcar pode auxiliar na

51
redução da incidência de cárie dentária Alimentação e Nutrição (SBAN), foram
(Moynihan and Kelly, 2014). observados os efeitos da sacarina, aspartame,
acessulfame K e sucralose na microbiota
De acordo com o documento técnico
intestinal e no estímulo / redução de cepas
“Edulcorantes, outros substitutos do açúcar e
específicas, explicados abaixo:
microbiota intestinal”(Paiva et al., 2020),
elaborado pela Sociedade Brasileira de

• Sacarina • Aumento de ácidos propiônico e butírico


• 85 a 95% é absorvida e excretada na
• Isomaltitol
urina (uma pequena parte é
• Aumento de Bifidobacterium
metabolizada)
• Aumento de butirato - associado à
• Aumento de Lactobacillus e aumento
menor liberação de glicose por meio
de cepas associadas à inflamação e
da beta-glicosidase bacteriana e
infecções
aumento de AGCC
• Aspartame
• Xilitol
• Não chega ao cólon, não interagindo
• Aumento de bactérias Gram +
com a microbiota intestinal
• Aumento de butirato -> ↑AGCC
• Acessulfame-K • Diminuição de Clostridium difficile -
• Não é metabolizado; é absorvido e associado a diarreias infecciosas
excretado pela urina
• Eritritol
• Sucralose • Rapidamente absorvido no intestino
• Maior parte não é absorvida e delgado, sem afetar a microbiota
metabolizada, sendo excretada nas intestinal
fezes
• Estévia
• Diminuição de Clostridium cluster XIVa
• Aumento de Bifidobacterium e
• Lactitol Lactobacillus
• Aumento de bifidobacterium
• Diminuição de Clostridium

Conclusões do documento técnico da SBAN sobre edulcorantes e microbiota intestinal

• Generalizações não podem ser realizadas, pois diferentes edulcorantes possuem estrutura
química e metabolismo diferentes

• Existem outros fatores que influenciam no crescimento ou inibição de determinada bactéria

• As respostas metabólicas podem ser diferentes, dependendo da composição da microbiota

• Cada bactéria possui papel importante no equilíbrio metabólico. Passa a ser um problema
quando ocorre supercrescimento bacteriano específico

• Lei do equilíbrio: o excesso pode fazer mal e a falta também pode ser um sinal de risco

52
Edulcorantes e emoções

A plasticidade neural que ocorre como o desejo por alimentos palatáveis, como açúcar
resultado do consumo de açúcar a longo e atinge órgãos sistêmicos, incluindo o cérebro,
prazo tem demonstrado reduzir o controle do onde exerce uma inibição por feedback na
impulso e, portanto, diminuir a capacidade de liberação de corticotrofina pelo hipotálamo e
resistir aos alimentos ricos em açúcar que ACTH pela glândula pituitária, por meio de
contribuem para a epidemia de obesidade. receptores de corticóide. A sucralose reduz a
Na revisão de Jacques et al. (2019), foram atividade do eixo hipotálamo hipófise adrenal
incluídos 300 estudos que investigam a (HPA), o que leva à menor liberação de cortisol.
interação entre o consumo de açúcar, A sacarina diminui a resposta do eixo HPA ao
estresse e emoções; ensaios pré-clínicos e estresse, o que pode contribuir para o controle
clínicos que investigam alimentos altamente da vontade pelo gosto doce ligado ao estresse
palatáveis e estresse, ansiedade, depressão e (Jacques et al., 2019).
medo são revisados.

O estresse causa a liberação do hormônio


liberador de corticotrofina e vasopressina do
hipotálamo. Esses hormônios são transportados
para a pituitária anterior. O hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH) é então liberado
da glândula pituitária, que estimula as glândulas
supra-renais a liberarem cortisol, catecolaminas
e aldosterona na corrente sanguínea. O cortisol
liberado pelas glândulas supra-renais aumenta

53
Considerações em destaque

Os adoçantes/edulcorantes podem auxiliar o controle


1. e perda de peso corporal, devido à redução da ingestão
calóricas

Auxiliam no controle da glicemia, pois não alteram os


2. níveis de glicose nem a resposta à insulina

Adoçantes/edulcorantes são seguros para crianças,


3. adultos e gestantes

Adoçantes/edulcorantes não causam câncer, obesidade


4. ou complicações de saúde

Adoçantes/edulcorantes podem ser úteis para a boa


5. saúde oral

Os adoçantes/edulcorantes podem auxiliar nas doenças


6. cardiometabólicas, devido à redução da ingestão
calórica e consequente perda de peso.

54
Lista de referências (Bibliografia)

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10.1093/advances/nmaa084.

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Lara Natacci, PhD

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