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Livro Anual de

Psicanâlise
xiv - 2000

International Journal of Psycho-Analysis

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Livro Anual de Psicanâlise (2000) XIV, 197-214

MECANISMOS NAO-INTERPRETATIVOS
NA TERAPIA PSICANALITICA*
“ALGO MAIS” ALÉM DA INTERPRETAÇÂO
GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
D a n ie l N. S te r n , L ou is w . S a n d er, Jerem y P. N ahum , A le x a n d r a M. H a rriso n ,
K a r le n L yon s-R u th , A le c C. M o rg a n , N a d ia B r u sc h w e ile r -S te r n
E EDWUARD Z. TRONICK, BOSTON, MA

INTRODUÇÂO ' terminar um tratamento bem-sucedido, tende a


lembrar de duas espécies de eventos nodais, que
Como se efetuam as mudanças, nas terapias acreditam tê-los feito mudar. Uma se référé às
psicanalfticas? Existe bastante consenso de que, interpretaçôes-chave, que reorganizaram a paisa-
para tomar o inconsciente consciente, é preciso gem interna. Outra, diz respeito aos “momentos”
algo mais além da interpretaçâo. A discussâo do especiais de ligaçâo autêntica de pessoa-a-pessoa
que seja esse algo mais dériva de varias perspec- (definido abaixo) com o terapeuta, que alterou a
tivas, envolvendo diferentes polaridades, em que relaçâo com este e conseqüentemente a autoper-
o algo mais tomou a forma de atos psicologicos cepçâo do paciente. Esses relatos sugerem que
versus palavras psicolôgicas; de mudança de es- muitas terapias fracassaram ou foram interrom-
truturas psicolôgicas versus desfazer a repressâo pidas, nâo em virtude de interpretaçôes incorretas
e tomar consciente; de uma relaçâo mutativa com ou nâo aceitas, mas por causa da falta de opor-
o terapeuta versus conhecimento mutativo para tunidade de uma ligaçâo signifîcativa entre as
o paciente. Desde o inicio do movimento até o duas pessoas. Embora nâo possamos afirmar que
présente, muitos autores abordaram, direta ou in- haja uma correlaçâo um a um entre a qualidade
diretamente, essas questôes (Ferenczi & Rank, do que a pessoa lembra e a natureza do resulta-
1924; Fenichel et al., 1941; Greenson, 1967; do terapêutico, também nâo podemos rejeitar o
Loewald, 1971; Sterba, 1940; Strachey, 1934; fato de que tanto os momentos de encontro au-
Winnicott, 1957; Zetzel, 1956). Mais recente- têntico quanto o fracasso desses encontros sejam
m ente, as m esm as questôes estâo sendo freqüentemente lembrados, com muita clareza,
reconsideradas por Ehrenberg (1992), G ill como os principais fatores do tratamento.
(1994), Greenberg (1996), Lachmann & Beebe O présente artigo diferenciarâ esses dois
(1996), Mitchell (1995), Sandler (1987), Schwa- fenômenos mutativos: a interpretaçâo e o “mo-
ber (1996) e Stolorow et al. (1994). mento de encontro”. Também indagarâ em que âm-
Este artigo apresentarâ uma nova compreen- bito da relaçâo terapêutica esses dois eventos mu­
sâo do algo mais, uma tentativa de mostrar aonde tativos ocoirem. Ainda que as interpretaçôes e os
e como ele âge na relaçâo terapêutica. Para tan- “momento de encontro” possam atuar juntos,
to, aplicaremos a perspectiva do desenvolvimento possibilitando o surgimento ou o reforço um do ou-
ao material clinico. tro, um nâo é explicâvel em termos do outro. Ne-
Hâ certa evidência, sem muita precisâo cien- nhum ocupa lugar privilegiado como explicaçâo
tifica, de que a maioria do pacientes, depois de da mudança. Permanecem fenômenos separados.

* Este artigo é um trabglho em andamento. Pedidos de pré- ou de republicaçôes devem ser dirigidos a: Grupo de
Estudos do Processo de Mudança, aos cuidados de E. Z. Tronick, Children’s Hospital, 300 Longwood Ave., Boston,
MA 02115. Este artigo foi selecionado para o grupo de discussâo na pagina do IJPA da Internet e no Bulletin
Board. Para detalhes, ver: hpttp://www.ijpa.org.
198 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
Mesmo os analistas que acreditam na prima- representaçôes e dois tipos de memoria. Um é
zia da interpretaçâo concordarâo prontamente explfcito fdeclarativol e o outro é implicito (pro­
que, como regra, boas interpretaçôes requerem cessual). Ainda esta por determinar se sâo, de
preparaçâo e trazem consigo o algo mais. Um fato,~dÔis fenômenos mentais diferentes. Neste
problema dessa visâo inclusiva da interpretaçâo estâgio, entretanto, acreditamos que parapesqui-
é que deixa inexplorada que parte da atividade sa mais abrangente é preciso que sejam estudados
interpretativa ampliada é, de fato, o algo mais, e separadamente.
que parte é insight puro via interpretaçâo. Sem O conhecimento declarativo é explfcito e
uma distinçâo clara, toma-se impossivel explo- consciente ou se torna consciente rapidamente.
rar quanto elas se relacionam conceitualmente ou É representado simbolicamente de forma imagé-
sâo muito diferentes. tica ou verbal. É o material do conteüdo das in­
Nâo obstante, nâo desejamos estabelecer terpretaçôes que alteram a compreensâo consciente
uma falsa competiçâo entré esses dois eventos da organizaçâo intrapsiquica do paciente. Histo-
mutativos. Eles sâo complementares. Ao contra­ ricamente, a interpretaçâo esta vinculada à dinâ-
rio, queremos explorar o algo mais por nâo ser mica intrapsiquica e nâo as regras implfcitas que
tâo bem compreendido. govemam as transaçôes da pessoa com os outros.
Apresentaremos uma estrutura conceitual A tu a lm m te T e s s ^ ~
para compreender esse algo mais e descrevere- Por outro lado, o conhecimento processual
mos onde e com o funciona (ver tam bém , dos relacionamentos é implicito, operando fora
Tronick, 1998). Primeiro, fazemos uma distinçâo da atençâo focal e da experiência verbal cons­
entre mudanças terapêuticas em dois âmbitos: o ciente. Esse conhecimento é representado de for­
declarativo ou consciente verbal e o processual ma nâo sim bôlica pelo que chamaremos de
implicito ou âmbito relacional (ver Clyman, conhecimento relacional implicito. A maior parte
1991; Lyons-Ruth, no prelo). A seguir, usaremos da literatura sobre conhecimento processual con­
uma perspectiva teorica derivada de um modelo siste em conhecer as interaçôes entre o nosso cor-
de sistemas dinâmicos de mudanças do desen- po e o mundo inanimado (ex. andar de bicicleta).
volvim ento para o processo de mudança Existe outro tipo, que consiste em saber sobre as
terapêutica. Esse modelo é adequado para a ex- relaçôes interpessoais e intersubjetivas, isto é,
ploraçâo dos processos de procedim ento como “estar com” alguém (Stem, 1985, 1995).
implicito que ocorrem entre os participantes de Por exemplo, logo no infcio da vida, o bebê
um relacionamento. aprende a conhecer que formas de abordagem
U m a A bo rdag em do P roblem a afetiva os pais receberâo bem ou rejeitarâo, tal
\
como descrito na literatura sobre apego (Lyons-
Nossa abordagem baseia-se em idéias récen­ Ruth, 1991). Esse segundo tipo é o que estamos
tes de estudos do desenvolvimento da interaçâo chamando de conhecimento relacional implicito.
mâe-bebê e de estudos de sistem as dinâmicos Esses conhecimentos mtegram afeto, cogniçâo e
nâo lineares, e a relaçâo deles com fatos men­ (jjmftnsôes interativas comportamentais. Podem
tais. Essas perspectivas serâo a base para a ela- permanecer fora da consciência como o “conhe-
boraçâo do nosso ponto de vista sobre o aigô cido nâo-pensado” de Bollas (1987) ou o “pas-
mais da psicoterapia psicanalftica. que envolvê sado in con scien te” de Sandler (Sandler &
atracar-se com noçôes tais como “momentos de Fonagy, 1997), mas também podem formar a
encontre", a relaçfo “real” e autenticiclacle. Àprg^ base do que mais tarde poderâ ser representado
sentamos aqui uma revisâo conceptual para as simbolicamente.
seçôes sobre os processos de desenvolvimento e Em resumo, o conhecimento declarativo é
terapêuticos. obtido ou adquirido por meio das interpretaçôes i
O algo mais deve ser diferenciado de outros verbais, que alteram a compreensâo intrapsiqui­
processos em psicanâlise. Nas psicoterapias di- ca do paciente no contexto da relaçâo
nâmicas sâo construfdos e reorganizados pelo “psicanalftica”, geralmente transferencial. O co-j
menos dois tipos de conhecimento, dois tipos de nhecimento relacional implicito, por outro lado,
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TERAPIA PSICANALITICA 199
ocorre por meio de processos “interativos, inter- continua ao longo da vida, inclusive muitas das
subjetivos”, que alteram o 'campcTrelacional nô maneiras de estar com o terapeuta, que chama-
contexto do que chamaremos de ‘ïelaçâo com- mos1.11 I|Wdenmnfvranci>i
transferência.
----1— tfw r Freqüentemente, esses
X

partilhada implfcita”. conhecimentos sâo representados de forma nâo


A natureza do “conhecimento simbôlica, mas nâo necessariamente sâo incons­
relacional implicito ” cientes do ponto de vista dinâmico, no sentido
de estarem excluidos da consciência pelas defe-
Conhecimento relacional implicito tem sido sas. Acreditam os que muitas interpretaçôes
um conceito essencial na psicologia do desen- transferenciais estarâo disponiveis, a partir dos
volvimento dos bebês antes da aquisiçâo da lin- dados coletados pelo analista sobre os conheci­
guagem (pré-verbais). As observaçôes e mentos relacionais do paciente. Um exemplo
experimentos sugerem expressivamente que os prototfpico é relatado por Guntrip (1975), sobre
bebês interagem com os cuidadores na base de o final da primeira sessâo dele com Winnicott.
^grande quantidade de conhecimento relacional. Winnicott disse: “Nâo tenho nada a dizer, mas
Eles demonstram antecipaçâo e expectativas, ma- tenho receio de que se eu nâo disser alguma coi-
nifestando surpresa ou desconforto com as vio- sa, você pensarâ que nâo estou aqui”.
laçôes da expectativa (Sander, 1988; Trevarthen,
1979; Tronick et al., 1978). Além do mais, esse Como sâo vivenciadas as mudanças no
conhecimento implicito é registrado em represen- “conhecimento relacional implicito”
taçôes dos eventos interpessoais de forma nâo Uma caracteristica da teoria dos sistemas di-
simbôlica. comecando no primeiro ano dé vida! nâmicos, relevante para o nosso estudo, é o prin-
Isso é évidente nâo apenas em suas expectatives", cipio da auto-organizaçâo. Aplicando o princfpio
mas também na generalizaçâo de certos padrôes da auto-organizaçâo à organizaçâo mental huma-
interativos (Stem, 1985; Beebe & Lachmann, na^odem<^afirmar ^e^lîajïïseî^a^^ lna^l-
1988; Lyons-Ruth, 1991). nâmica oposta, a mente tenderâ a usar todas as
Estudos sobre desenvolvimento, de vârios vanaçoes e mudanças no ambiente mtersuDjeti-
dos autores (Stem, 1985, 1995; Sander, 1962, vo para criar conhecimento relacional implicito
1988; Tronick & Cohn, 1989; Lyons-Ruth & Ja- cada vez mais coerente. No tratamento, isso in­
cobovitz, no prelo), assinalaram um processo duira o que cada membro entende que seja a sua
constante de negociaçâo, ao longo dos primeiros prôpria experiência da relaçâo, e a do outro, mes-
anos de vida, envolvendo uma seqüência de ta- mo que a relaçâo intersubjetiva em si nâo seja
refas adaptativas entre o bebê e o ambiente que submetida a escrutfnio terapêutico, isto é, perma-
cuida. A configuraçâo singular das estratëglâs neça implfcita. Assim como uma interpretaçâo é
adaptativas que surge dessa seqüência, em cada o evento terapcutico que reorganiza o conheci­
jndivfduo, constitui a organizaçâo inicial do seu mento dcclarativo consciente do paciente, propo-
âmbito de conhecimento relacional implicito. mos que o que chamamos de “momento de
Vârios termos diferentes e variaçôes conceptuais encontro” é o evento que reorganiza o conheci-
foram propostos, cada quai dando conta de fe- mento implicito relacional, tanto para o pacien­
nômenôs relacionais um pouco diferentes. Isso te quanto para o analista. E neste sentido que o
inclui os “modelos de trabalho intemo” do ape- ^^momento” adquire impôrtância cardeal como
go de Bowlby (1973) e os “roteiros relacionais” uruBade bâsica da mudança subjetiva no âmbito
de Trevarthen (1993), entre outros. Uma descri- do “conhecimento relacional implicito”/Q uan-
çâo form ai de com o essas estratégias sâo do ocorre uma mudança no ambiente intersubje-
representadas permanece um campo produtivo de tivo, esta terâ sido precipitada por cm “momento
pesquisa. de encontro”. A mudança sera sentida e o am-
O conhecimento relacional implicito dificil- biente recentemente alterado funciona como
mente é ünico para o bebê pré-simbôlico. Uma novo contexto efetivo, em que as açôes mentais
vasta lista de conhecimentos implicites a respei- subseqüentes ocorrerâo e serâo modeladas e os
to das muitas maneiras de estar com ôs“ôütros eventos passados reorganizados. A relaçâo impli-
200 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
citamente conhecida foi alterada, mudando assim P erspectivas do D esenvolvim ento
as açôes mentais e os comportamentos que se or- no P rocesso d e M u d a n ç a
ganizam nesse contexto diferente.
O conceito de que novos contextos levam a Como os bebês sâo os seres humanos que
novas organizaçôes dos elementos constitutivos mais rapidamente mudam, é natural querer com-
de um sistema é um dogma das teorias gérais de preender os processos de'mudança no~ïïësenvoT-’
sistemas. Uma ilustraçâo do mesmo principio vim ento por sua relevância na mudança
vinda das neurociências é a de Freeman (1994). terapêutica. E de particular relevância o ponto de
Ele descreve a maneira pela quai os estimulos vista amplamente aceito de que apesar da matu-
neuronais ativados por diferentes odores criam raçâo neurologica, as novas capacidades reque-
um padrâo espacial diferente. Quando se entra rem um ambiente intersubjetivo interativo para
em contato com um novo odor, nâo apenas se es- serem adquiridas de forma adequada. Nesse am-
tabelece seu padrâo ünico, mas os padrôes para fiiente ra maior parted o tempo em que o bebê e
todos os odores previamente estabelecidos se al- os pais estâo juntos é utilizada nas regulaçôes ati-
teram. Hâ um novo contexto olfativo e cada vas mütuas do seu estado e o do outro, a serviço
elemento preexistente sofre uma mudança. de algïïm objetivo oiniïïâTi dade."ParTmalores ex-
A idéia de um “momento de encontro” sur- plicaçôes do modelo de regulaçâo mütua e dos
giu do estudo do processo adaptativo no desenvol- conceitos que o sustentam, ver Tronick (1989) e
vimento (Sander, 1962,1967,1987;Nahun, 1994). Gianino & Tronick (1988). As noçôes-chave que
Esses m om entos foram considerados centrais elaboram essa visâo gérai vêm a seguir.
para prom over m odificaçôes e reorganizaçâo O estado de regulaçâo mütua é a
no organismo. Acreditamos que a idéia de “in- f atividade conjunta central
terpretaçâo no momento adeouado” também é
uma tentativa de abarcar aspectos desta idéia. “Estado” é um conceito que apreende a or-
Uma caracteristica subjetiva importante de ganizaçâo semi-estâvel do organismo como um
mudança no conhecimento relacional implicito é todo num momento dado. Como Tronick (1989)
que esta sera sentida como uma subita mudança argumêntou, o estadcTde regulaçâo diâdica entre
qualitativa. E por isso que o “momento ’ é tâo im­ dnas-pessoas, hase.ado na microtroca de informa-
portante em nosso pensamento. O “momento”, çâo por meio dos sistemas perceptivos e afetivos,
como noçâo, apreende a vivêncïa subietiva~de desenvolve-se na medida em que sâo aceitos e
uma mudança subita no conhecimento relacio­ correspondidos pela mâe e pelo bebê, ao longo
nal implicito, tanto para o anaiista qüafttO parà do tempo. Inicialmente, os estados que precisam
crpaciente. Discutiremos isso em maior detalhe ser regulados sâo fome, sono, atividade ciclica,
adiante. excitaçâo e contato social; logo a seguir^o nfvel
Clinicamente, o aspecto mais intéressante do de), alegria ou outros estados afetivos. (o nfvel
ambiente intersubjetivo entre paciente e anaiista de) ativaçâo ou excitaçâo, exploraçâo, apego e
é o conhecimento mutuo do que se passa na men­ atribuiçâo de significados; e, finalmente, quase
te do outro, no que diz respeito à natureza e es- todas as formas de estados de organizaçâo, in-
tado atual do relacionamento deles. Pode incluir cluindo as mentais, fisiolôgicas e de motivaçâo.
muitos estados de ativaçâo, afeto, sentimento, Regulaçâo inclui ampliaf, ordenar, elaborar,
excitaçâo, desejo, crença, motivo ou conteüdo de çonstruir, bem como voltar ao um eaüilibrio prê-
pensamento em qualquer combinaçâo. Esses es­ estabelecido. A acuidade com que a pessoa que
tados podem ser transitôrios ou duradouros, cuida apreende o estado do bebê, a especificida-
como contexto mutuo. Um ambiente intersubje­ de do seu reconhecimento, determinarâ, entre
tivo prevalecente é compartilhado. O comparti- outros fatores, a natureza e o grau de coerência
lham ento pode ser ainda m ais validado e da vivência do bebê. O ajustamento dâ direçâo
ratificado mutuamente. No entanto, o conheci­ compartilhada e aiuda aTdetermmar a natureza e
mento compartilhado sobre a relaçâo pode per- as,_qualidades das caracteristicas que surgem. A
manecer implicito. regulaçâo mutua nâo implica simetria entre as
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TER API A PSICANALITIC A 201
pessoas que interagem, apenas que a influência primeira é ffsica e/ou fisiolôgica, e é alcançada
'e'Hdirecional. Cada um dos protagonistas traz por meio das açôes que propiciam um ajuste do
sua historia para a interaçâo, modelando assim comportamento dos dois participantes, tal como
as manobras adaptativas possiveis para cada um. posicionar e segurar o bebê para alimentâ-lo, por
Conceitos correntes provindos dos estudos do parte da pessoa que cuida, juntam ente com o
desenvolvimento sugerem que o bebê intemali-\ sugar e engolir por parte do bebê; ou, um alto
O jogo za o processo de regulaçâo mütua, nâo o obietol fW vel de estimulaçâo facial e vocal da parte do
em si ou partes de objetos (Beebe & Lachmann,c?ficuidador durante a brincadeira face a face, jun-
1988, 1994; Stern, 19885, 1995; Tronick & -^tam ente com um alto nivel de ativaçâo prazero-
Weinber, 1997). A regulaçâo continua envolve a üSa e expressividade facial do bebê. A segunda,
Formação
de hábitos repetiçâo de vivências seqüenciais, fazendo sur­ finalidade paralela, é a vivência do reconheci-
gir expectativas e, assim, torna-se a base do mento mütuo dos motivos, desejos e objetivos
conhecimento relacional implicito (Lyons-Ruth, implicitos de cada um, que dirigem as açôes e
1991; Nanhum, 1994; Sander, 1962, 1983; Stern, os sentimentos que acompanham esse processo
1985, 1995; Tronick, 1989). (Tronick et al., 1979). Esse é o objetivo intersub­
A regulaçâo é dirigida pelo objetivo jetivo. Além do sentimento mütuo dos motivos
ou desejos de cada um, o objetivo intersubjetivo
Meta
Adaptativa
Na maior parte do tempo, os processos de também implica uma sinalizaçâo ou ratificaçâo
regulaçâo mütua em direçâo a um objetivo nâo desse compartilhar, de um para com o outro.
sâo simples, diretos, nem transcorrem suavemen- Deve haver algum ato assegurando consensuali-
te (Tronick, 1989). Idealmente, nâo esperariamos dade. Um exemplo é a sintonia afetiva (Stern,
nem desejariamos que assim fosse. Ao contrario, 1985)~ ‘
eles demandam constante esforço e negociaçâo, Nâo é possivel determinar que objetivo é pri-
experiência de falta e de reparaçâo, correçôes no mârio, o fisico ou o intersubjetivo. As vezes,
meio do caminho, construçôes, permanência ou algum deles parece ter precedência, ocorrendo
volta a um padrâo de equilfbrio. Isso requer per- uma movimentaçâo para frente e para trâs, entre
sistência, tanto quanto tolerância a falhas por o que é anterior ou posterior. Ambos estâo pre-
parte dos dois participantes. (Certamente o tra- sentes em qualquer evento. Entretanto. nosso
balho é assimétrico, sendo que na maioria das interesse central, aqui, pcrmanecc sendo o obje­
situaçôes a pessoa que cuida faz a parte do leâo.) tivo intersubjetivo/
A esse processo temporal de ensaio e erro, de
movimento na direçâo gérai dos objetivos, e tam­ O processo regulador fa i surgir
bém de identificaçâo e de concordância com "caracterfsticas c me rg entes ” Novidade/criação
esses objetivos, chamaremos de “movimenta- Na maior parte do tempo, ao movimontur-.se,
çâo”, para apreender a natureza comum continua n3o se sttbc exatamente o que aconlccerd, ou
do processo, bem como sua divergência de uma quando acontcccrà, ainda que possam scr feiias
via estreita e direta em direçâo ao objetivo. Às estimativas gérais. Essu indeterminaçao deve-se
vezes, o objetivo esta claro e a diade pode mo- nâo apenas à natureza dos sistemas din&micos,
vimentar-se ativamente, como quando a fome mas à mudança das flnalidades focais e mesmo
pede alimentaçâo. As vezes, um objetivo nâo évi­ interm ediârias, bem com o ao falo de que a
dente précisa ser descoberto ou exposto no movimentaçâo 6 espontânea. Mesmo interaçôes
processo de movimentaçâo, como na brincadei­ freqüentementc repetidas, nunca sâo repetidas
ra livre ou na maioria das brincadeiras com exatamente da mesma maneira. Os temas da
objetos. Jogo!!! interaçâo estâo sempre em processo de varia-
A regulaçâo mütua também envolve um çôes que evoluem, baslante évidentes em certas
objetivo intersubjetivo atividades, tais como “brincadeiras espontâneas”,
em que parte da natureza da atividade é intro-
O processo de movimentaçâo orienta-se si- duzir variaçôes constantes, de forma a evitar o
multaneamente na direçâo de duas fïnalidades. A hâbito (Stern, 1977). Mas, mesmo uma ativi-
Aqui ele introduz a indeterminação e o devir, mesmo em
atividades as mais recorrentes. O hábito é quebrado ou mesmo
evitado.
202 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
dade mais firmemente estruturada, tal como ali- relaçâo objetal. Em termos de sistemas, tais en­
mentaçâo ou troca de fraldas, nunca é repetida contros envolvem vmculos entre organismo e con­
exatamente, texto, entre dentro e fora, fazendo surgir um estado
A natureza de improvisaçâo dessas intera- mais inclusivo do que o que cada sistema pode
çôes levou-nos a procurar orientaçâo no trabalho criar sozinho. Tronick nomeou esse estado mais
teorico recente sobre sistemas dinâmicos nâo li­ inclusivo de expansâo diâdica da consciência.
ne ares, que produzem caracteristicas emergentes Um “momento de encontro ” pode criar
(Fivaz-Depeursingër& CorbcTz-Wamerÿ; 1995; um novo ambiente intersubjetivo e
Maturana & Varela, 1980; Prigogine & Stengers, uma alteraçâo no âmbito do
1984; e, aplicado ao desenvolvimento inicial, “conhecimento relacional im plicito”
Thelen & Smith, 1994). Esses conceitos parecem '—

proporcionar os melhores modelos para apreen- Um exemplo ilustra melhor. Se, no decorrer
der o processo de movimentaçâo e a natureza dos da brincadeira, a mâe e o bebê inesperadamente
“movimentos de encontro ” especificos (ver abai- aumentam a intensidade da atividade e da alegria,
xo), que sâo caracteristicas emergentes da mo­ a capacidade de tolerar niveis mais altos de cria-
vimentaçâo. N o curso da m ovim entaçâo, as çâo mütua de excitaçâo positiva do bebê se ex-
finalidades duplas das açôes complementares pandirâ nas futuras interaçôes. Quando ocorrer
ajustadas e o encontro intersubjetivo com respei- uma expansâo do padrâo e houver reconhecimen­
to a esse ajuste podem ser subitamente perce- to mütuo de que os dois participantes interagi-
bidos num “m om ento de en contro”, algo ram juntos, com sucesso, numa ôrbita de mais
inevitavelmente bem preparado, mas nâo deter- alegria, suas interaçôes subseqüentes serâo con-
minado, durante longo perfodo de tempo. Esses duzidas nesse ambiente intersubjetivo alterado.
momentos sâo construidos em conjunto, reque- Nâo é apenas o fato de que cada um fez isso an­
rendo algo singular de cada participante. É nes­ tes, mas o senso de que os dois estiveram aqui
se sentido que o encontro depende de uma antes. O âmbito do conhecimento relacional im­
especificidade de reconhecimento, tal como con- plicito se alterou.
ceituado por Sander (1991). Outro exemplo: imagine uma criança peque-
Exemplos de “momentos de encontro” sâo na visitando, com o pai, um novo playground. A
eventos tais como: O momento p.m qnp. a ir^m- criança corre para o escorregador, subindo a es-
duçâo de um comportamento por parte dos pais cada. Quando chega perto do topo, sente-se um
se ajusta ao movimento do bebê em direçâo ao pouco ansiosa em virtude da altura e dos limites
sono, de forma a deflagrar uma mudança no bêBe~ da habilidade recente. Num sistema diâdico fun-
de acordado para adormecido; ou o momento em cionando suavemente, olha para o pai como guia
que uma"contenda de brîncadeira livre evolüT para ajudâ-la a regular seu estado afetivo. O pai
para uma explosâo mütua de riso; ou o momen­ responde com um sorriso caloroso e um aceno,
to em que o bebê aprende, com muito ensinamen- aproximando-se um pouco da criança. A crian­
Jo e construçâo por parte dos pais, que a palavra
"*---n|W,n|,| * --f--- T--- — «•»■■■— ■“ - IW| f || ça sobe até o alto, adquirindo um novo senso de'
que usarâo para aauela coisa que late e r;cacfior- contrôle e de diversâo. Eles compartilharam, in-
ro”. Nos dois ültimos exemplos, o encontro tam­ tersubjetivamente, a seqüência afetiva ligada ao
bém é intersubjetivo, no sentido de que cada ato. Tais momentos ocorrerâo novamente quan­
participante reconhece ter havido ajustamento do o engajamento confiante da criança com o
mutuo. Cada um apreendeu uma caracteristica es- mundo for apoiado.
sencial da estrutura motivacional orientada pelo
objetivo do outro. Para dizê-lo coloquialmente, Conseqüências imediatas dos
cada um apreende uma versâo similar “do que “momentos de encontro ” que alteram
esta acontecendo, agora, aqui, entre nos”. o ambiente intersubjetivo
Supomos que os encontros intersubjetivos Quando ocorre um “momento de encontro”,
têm status de objetivo nos seres humanos. Sâo a numa seqüência de regulaçâo mütua, ocorre um
versâo mental da finalidade da possibilidade de equilfbrio que permite uma “disjunçâo” entre os
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TERAPIA PSICANALITICA 203

participantes e uma détente1na agenda diâdica O processo preparatôrio:


(Nahum, 1994). Sander (1983) chamou essa “movimentaçâo” e “momentos présentes”
disjunçâo de “espaço aberto”, em que o bebê De muitas maneiras, o processo terapêutico
pode ficar s o, por algum tempo, na presença do de movimentaçâo é similar ao processo de mo­
outro, enquanto compartilham o novo contexto vimentaçâo da diade progenitor-bebê. Embora a
(Winnicott, 1957). Aqui existe uma abertura em forma seja diferente, enquanto uma é principal-
que é possivel uma nova iniciativa, a pessoa li­ mente verbal, a outra é nâo-verbal, mas as fun-
vre do imperativo de restabelecer o equilfbrio. A çôes subjacentes dos processos de movimentaçâo
constriçâo do conhecimento implicito relacional têm muito em comum. A movimentaçâo envol-
habituai é afrouxada, tomando-se possivel a cria- ve o encaminhamento para os objetivos da tera-j
tividade. O bebê recontextualizarâ sua nova pia, por mais que possam ser explicita ou
experiência. implicitamente defmidos pelos participantes. Ela
Durante o espaço aberto, a regulaçâo mütua inclui todos os componentes habituais da terapia
é momentaneam ente suspensa. Entâo, a diade psicanalitica, tais como interpretaçâo, esclareci-
reinicia o processo de movim entaçâo. No en- mento etc. Em qualquer sessâo terapêutica, as-
tanto, agora a movim entaçâo sera diferente, sim como em qualquer interaçâo progenitor-bebê,
pois começarâ do terreno do ambiente inter- a diade movimenta-se em direçâo a um objetivo
subjetivo recentemente estabelecido, a partir intermediârio. Um objetivo intermediârio, numa
de um “conhecim ento relacional implicito” al- sessâo, é a definiçâo dos tôpicos que serâo abor-
terado. dados em conjunto, tais como atraso para a ses­
A p l ic a ç â o n a M udança T e r a p ê u t ic a
sâo, o paciente foi “ouvido” adequadamente
ontem, as férias vindouras, se a terapia esta aju-
Forneceremos, agora, a terminologia descri- dando o sentimento de vazio, se o terapeuta gosta
tiva e a base conceitual do algo mais, mostrando do paciente etc. Os participantes nâo têm de con-
como funciona como condutor da mudança nas cordar. Precisam apenas negociar o fluxo intera-
terapias psicanalfticas. tivo para fazê-lo m ovim entar-se, a fim de
O conceito-chave, o “momento de encontro”, apreender o que acontece entre eles, o que cada
é a caracteristica emergente do processo de “mo­ membro percebe, acredita e diz naquele contex­
vimentaçâo”, que altéra o ambiente intersubjeti- to particular, além do que cada membro acredita
vo, e dessa forma o conhecimento relacional que o outro percebe, sente e acredita. Estâo tra-
implicito. Em resumo, movimentaçâo consiste balhando para définir o ambiente intersubjetivo,
numa série de “momentos présentes”, que sâo as movimentando-se. Os eventos do piano cons­
unidades subjetivas que marcam as pequenas mu­ ciente que impelem o movimento sâo associaçôes
danças de direçâo enquanto se vai adiante. Às livres, esclarecimentos, questôes, silêncios, inter-
vezes, um momento présente torna-se afetiva- pretaçôes etc. Ao contrârio dos comportamentos
mente “quente” e cheio de augurios para o pro­ amplamente nâo-verbais que constituem o pano
cesso terapêutico. Esses momentos sâo chamados de fundo do ambiente progenitor-bebê, o conteü-
“momentos agora”. Quando um momento agora do verbal habitualmente ocupa o primeiro piano
é aproveitado, isto é, recebe uma resposta pes- na consciência de ambos os participantes. Nç>
soal autêntica, especifica de cada participante, pano de fundo, entretanto, o movimento é de\
torna-se um “momento de encontro”. Essa é a compartilhar e compreender intersubjetivamen- ^
caracterfstica emergente que altéra o contexto te. O conteüdo" verbal nâonos deve cegar ao pro­
subjetivo. Agora discutiremos cada elemento des- cesso paralelo de m ovim entaçâo para um
se processo. objetivo intersubjetivo implicito.

1. Em francôs, no original * expansâo. (N. daT.)


204 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
Anâlogo ao objetivo de adaptaçâo fïsica, nas duz a um novo momento présente, o proximo.
interaçôes nâo-verbais entre progenitor-bebê, ve- Por exemplo, se o terapeuta diz: “Você percebe
mos o processo de movimentaçâo, numa sessâo que chegou atrasado nas très ültimas sessôes?
de terapia de adulto, com dois objetivos parale- Isso nâo é habituai em você”, o paciente respon-i
los. Um é a reordenaçâo do conhecimento verbal de: “Sim, percebo”, e o analista acrescenta, “O
consciente. Isso inclui descobrir tôpicos sobre os que você pensa a respeito?”, essa troca constitui
quais trabalhar, esclarecer, elaborar, interpretar e um momento présente.
compreender. O segundo objetivo é a definiçào O paciente replica: “Penso que estava zan-
e compreensâo mütua do ambiente intersubjeti- gado com você”. Silêncio. “Sim, eu estava”. Si-
vo, que compreende o conhecimento relacional lêncio. Esse é um segundo momento présente.
implicito e define a “relaçâo impli'cita comparti- O paciente, entâo, diz: “Na semana passada
lhada”. Um conjunto de objetivos focais menores você disse algo que realmente me deu uma en-
sào necessârios para micro-regular o processo de saboada...” Esse é o terceiro momento présente.
movimentaçâo. Os objetivos focais fazem corre- Esses momentos présentes sâo passos do pro­
çôes de curso quase constantes, que funcionam cesso de movimentaçâo. Entre eles hâ uma certa
para redirecionar, reparar, testar, comprovar ou descontinuidade, mas, alinhados, eles progridem,
verificar a direçâo do fluxo interativo para o ob­ ainda que com percalços, na direçâo de um ob­
jetivo intermediârio. jetivo. Prosseguem de forma raramente linear.
Como sera visto, o ambiente intersubjetivo Em resumo, estamos falando de um invôlu-
é parte do que chamaremos de “relaçâo implfci- cro limitado de tempo subjetivo, em que um
ta compartilhada”. Negociar e définir o ambiente motivo é atuado para micro-regular o conteüdo
intersubjetivo ocorre paralelamente ao exame do que esta sendo discutido e para ajustar o am­
explicita da vida do paciente e ao exame da trans- biente intersubjetivo.
lerência. É um processo conduzido, na maior A firme estrutura cfclica das atividades do
parte do tempo, fora da consciência. No entan- bebê (sono, atividade, fome, brincar etc.) asse-
lo, prossegue com toda manobra terapêutica. A gura um alto nivel de repetiçâo, criando um
movimentaçâo leva os participantes na direçâo de repertorio de momentos présentes. Na terapia,
um sentido mais claro de onde estâo em sua “re­ também, momentos présentes repetem variaçôes
laçâo implfcita compartilhada”. em tomo do tema dos movimentos habituais que
Concebemos a movimentaçâo conjunta como constituem a maneira ünica de qualquer dfade te­
um processo dividido subjetivamente em momen- rapêutica “se movimentar”. Momentos présentes
los de qualidade e de funçâo diferentes, que serâo restritos pela natureza da técnica terapêu­
chamamos de “momentos présentes”. Entre tica, pelas personalidades dos individuos em
os clmicos, a noçâo de uma momento présente é interaçâo e pela patologia em questâo.
intuitivamente évidente e provou-se de pouco Como os momentos présentes sâo repetidos
valor em nossas discussôes. A duraçâo de um freqüentemente com variaçôes mmimas, tomam-
inomento présente, geralmente, é curta porque, se extremamente familiares, cânones do que se
como unidade subjetiva, é o lapso de tempo ne- espera que sejam os momentos da vida com
cessârio para apreender o senso do “que esta aquela pessoa. Momentos présentes fïcam repre-
acontecendo agora, aqui, entre nos”. Portanto, sentados como “esquemas de formas de estar
dura de micro-segundos a muitos segundos. É com outro” (Stem, 1995) no âmbito do “conhe­
construfda em tomo de intençôes ou de desejos, cimento relacional im plicito”. O par desenvol-
e a atuaçâo deles traça uma linha dramâtica de ve um conjunto de padrôes micro-interativos em
lensâo, na medida em que se movimenta na di­ que os passos incluem erros, perturbaçôes e re-
reçâo de um objetivo (ver Stern, 1995). Um paros (Lachmann & B eebe, 1996; Tronick,
momento présente é uma unidade de troca dia- 1989). Essas seqüências recorrentes nos falam a
lôgica relativam ente coerente no conteüdo, respeito do “conhecido nâo-pensado” do paciente
liomogênea no sentimento e orientada para um (Bollas, 1987) ou do “inconsciente pré-reflexi-
objetivo. Uma mudança em qualquer deles con- vo” de Stolorow & Atwood (1992). Sâo blocos
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TERAPIA PSICANALITICA 205

de construçâo dos modelos de funcionamento de confundem quanto ao que esta acontecendo ou


Bowlby e da maior parte da intemalizaçâo. Nâo quanto ao que fazer. Sâo momentos prenhes de
estâo na consciência, mas sâo intrapsiquicamen- um futuro desconhecido, que pode ser sentido
te distintos do reprimido. como impasse ou chance. O présente torna-se
Em suma, momentos présentes juntos, em subjetivamente denso, como numa “hora da ver-
seqüência, formam o processo de movimentaçâo. dade”. Freqüentemente, esses “momentos agora”
Mas ambas as unidades, momentos présentes e sâo acompanhados de expectativa ou de ansie-
direçâo dessa movimentaçâo, ocorrem dentro de dade, pela pressâo da necessidade de escolha, jâ
uma estrutura familiar e caracteristica de cada que nâo hâ piano anterior de açâo ou explicaçâo
diade. imediatamente dispomvel. A aplicaçâo de movi-
“Momentos A gora” mentos técnicos habituais nâo é suficiente.
Intuitivamente, o analista reconhece que se abre
Na nossa concepçâo, “momentos agora” sâo a chance da presença de algum tipo de reorgani-
um tipo especial de “momento présente”, que se zaçâo terapêutica ou de descarrilamento, e o
ilumina subjetiva e afetivamente, puxando a pes­ paciente reconhece que chegou, na relaçâo tera­
soa m a isp a r a o p résente.2 Adquirem essa pêutica, a um divisor de âguas.
qualidadesùBJërrVa porque'H'Sstrutura habituai - A evoluçâo subjetiva dos momentos agora
o ambiente intersubjetivo familiar, conhecido, da pode ser descrita em très fases. Hâ uma “fase de
relaçâo terapeuta-paciente - subitamente se altéra gestaçâo”, preenchida pelo sentimento de iminên-
ou corre risco de alteraçâo. O estado corrente da cia; uma “fase esquisita”, quando se percebe a
“relaçâo implicita compartilhada” se abre. Essa entrâd&jium espaço intersubjetivo desconhecido
brecha potencial nos procedimentos estabeleci- e inesperado; e a “fase de decisâo”, quando um
dos acontece em vârios momentos. Nâo précisa momento agora pode, ou nâo, ser aproveitado. Se
ameaçat\a estrutura terapêutica, mas pede uma for aproveitado, levarâ a um “momento de encon-
respost^, acx^mesmo tempo especffica e pessoal, tro”, se tudo correr bem, ou a um momento agora
para ser uma manobra técnica conhecida. fracas s ado. ,
Momentos agora nâo sâo parte do conjunto Um “momento agora” é o anüncio de uma
de momentos présentes caracteristicos que cons- I caracteristica potencial emergente de um sistema
troem a m aneira usual de estar junto e de i dinâmico complexo. Embora nâo se possa traçar
movimentar-se. Eles demandam uma atençâo in- > j a histôria do seu surgimento, esta é antecedida
tensificada e algum tipo de escolha entre ficar ou / por apariçôes anteriores fugidias ou pâlidas, algo
nâo na estrutura habituai estabelecida. Se nâo, o*£ como um motivo, em müsica, que suave e pro-,
que fazer? Eles forçam o terapeuta a alguma es- gressivamente prépara a transformaçâo do tema
pécie de “açâo”, seja uma interpretaçâo ou uma principal. Ainda assim, o exato instante e a for­
resposta nova em relaçâo à estrutura habituai, ou ma da sua apariçâo continua imprevisivel.
um silêncio. Neste sentido, momentos agora sâo Os caminhos para o momento agora sâo mui-
como o antigo conceito grego de kairos, um mo- ' tos. O paciente pode identificar um evento
mento unico de oportunidade que précisa ser durante uma sessâo e percebeç imediatamente
aproveitado, porque o destino mudarâ conforme que o ambiente intersubjetivo acabou de se mo-
for aproveitado. dificar, mas nâo compartilhar nem ratificar essa
Clfnica e subjetivamente, o que faz terapeu­ mudança na sessâo. Ou o paciente pode ter dei-
ta c paciente saberem que entraram num xado o evento passar sem prestar muita atençâo
momento agora é o fato deste ser diferente dos e mais tarde voltar a trabalhâ-lo para descobrir
momentos présentes usuais; esses momentos nâo sua importâneia no assinalamento de uma possi-
sâo familiarcs, a forma e o momento sâo inespe- vel mudança do ambiente intersubjetivo. Esses
rados, hésitantes ou esquisitos. Freqüentemente, eventos sâo formas de momentos agora ocultos

2. Emprestamoe e Uirmo "momento agora” de Walter Freeman.


206 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
ou potenciais, que fazem parte do processo pre- um “momento de encontro” é altamente especf-
paratorio. Talvez um dia atinjam um estado de fico; cada participante contribuiu ativamente com
prontidâo para entrar no diâlogo mütuo e tomar- algo ünico e autêntico de si como indivfduo (nâo
se momentos agora como descrevemos. unico para sua teoria ou técnica da terapêutica)
Momentos agora podem ocorrer quando o na construçâo do “momento de encontro”, oca-
quadro terapêutico tradicional corre o risco de, siâo em que o terapeuta (especialmente), mas
ou deveria, ser quebrado. também o paciente, agarram o momento agora,
Por exemplo: exploram-no, vivenciam-no, e podem transformâ-
. Se um paciente de anâlise interrompe o inter- lo num “momento de encontro”. Hâ elementos
câmbio e pergunta: “Você me ama?” essenciais que colaboram na criaçâo de um “mo­
. Quando o paciente consegue que o terapeuta mento de encontro”. O terapeuta précisa usar um
faça algo fora do (terapêutico) normal, como aspecto especifico da sua individualidade que
quando o paciente diz algo muito engraçado e traz sua assinatura pessoal. Naquele momento, os
ambos têm um ataque de riso. dois se encontram como pessoas relativamente
. Quando o paciente e o terapeuta se encontram desprotegidas dos seus papéis terapêuticos
inesperadamente num contexto diferente, tal usuais. As açôes que constroem o “momento de
como uma fila de teatro, e se realiza, ou fra­ encontro” também nâo podem ser rotineiras, ha­
cassa, um novo movimento interativo e inter­ bituais ou técnicas; precisam ser novas e feitas
subjetivo. para ir ao encontro da singularidade do momen­
. Quando algo importante, bom ou mau, acon- to. Com certeza, isso implica certa empatia, uma
tece na vida real do paciente, que normalmente abertura para reavaliaçâo afetiva e cognitiva, uma
demandaria algum reconhecimento ou resposta. sintonia afetiva marcante, um ponto de vista que
Lembremos que estamos lidando com um reflita e ratifique que o que esta acontecendo
processo dinâmico complexo em que um sô, dos ocorre no âmbito da “relaçâo compartilhada im-
vârios componentes, pode estar mudando de for­ plicita”, isto é, num estado diâdico especifico dos
ma lenta e progressiva, na fase preparatôria, participantes, recém-criado.
podendo ser dificil perceber, até atingir um cer- O “momento de encontro” é o evento nodal
to limiar, quando, subitamente, ameaça mudar o do processo, pois é o ponto em que o contexto
contexto de funcionamento de outros componen­ intersubjetivo se altéra, mudando assim o co­
tes. Conceitualmente, momentos agora sâo o nhecim ento relacional im plicito da relaçâo
limiar de uma caracteristica emergente da inte- paciente-terapeuta.
raçâo, ou seja, o “momento de encontro”. utros também reconheceram que o""mo-
Os momentos agora mais intrigantes surgem mento” desempenha um papel chave, mutativo.
quando o paciente faz algo dificil de classificar, Lachmann & Beebe (1996) o assinalaram, e
algo que demanda um tipo novo, diferente, de Ehrenberg descreveu que sua funçâo terapêutica
resposta, com assinatura pessoal, que comparti- mutativa ocorre precisamente nos momentos sub-
Ihe o estado subjetivo do analista (afeto, fanta­ jetivos mtimos (1992).
sia, experiência real etc.) em relaçâo ao paciente. Um exemplo instrutivo, aqui. Molly, casada,
Se isso acontecer, eles entrarâo num “momento por volta dos 35 anos, começou anâlise em ra-
de encontro” autêntico. Durante o “momento de zâo da baixa auto-estima focada em seu corpo,
encontro”, um novo contato intersubjetivo se es- na sua incapacidade de perder peso e na grave
tabelecerâ entre eles, novo no sentido de que se ansiedade de perder as pessoas mais queridas.
criou uma alteraçâo “na relaçâo implfcita com- Era a segunda filha. Em virtude da irmâ mais ve-
partilhada”. lha ter ficado aleijada, por poliomielite, quando
O “momento de encontro” bebê, os pais de Molly festejavam seu corpo sau-
dâvel. Quando criança, pediam que ela dançasse
Um momento agora terapeuticamente apro- para eles, que assistiam admirados.
veitado e mutuamente percebido é um “momento Ela começou a sessâo falando sobre “coisas
de encontro”. Como na situaçâo progenitor-bebê, corporais”, associando com sentimentos de ex-
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TERAPIA PSICANALITICA 207
citaçâo sexual e com um instante de raiva da na para apreender a paciente e aproveitar o mo­
analista enquanto vinha para a sessâo: “Tive mento agora, respondendo especifica e honesta-
a imagem de você se recostando... e me obser- mente, “Parece que (para mim como individuo
vando de uma posiçâo superior”. M ais tarde, especifico, estâ implicito) você estâ tentando pu­
na sessâo, lembrou os pais assistindo-a dançar, xar meus olhos para você”. Isso transformou o
imaginando se também haveria alguma excitaçâo momento agora num “momento de encontro”.
sexual neles, ao fazê-lo, “se eles queriam, tam­ Isso é bem diferente das varias respostas possi-
bém ”. Seguiu-sc longa discussâo sobre sua veis, tecnicamente adequadas, que deixam a es-
vivência corporal, in clu sive exam es fi'sicos, pecificidade do analista como pes^ôaTnaqûele
medo de que houvesse algo de errado com seu j momento, fora do quadro, tais como: “era desse
corpo e com suas sensaçôes corporais. Em se- I jeito com seus pais?” ou “diga-me o que você
guida, depois de prolongado silêncio, M olly ! imaginou” etc.
disse: “Agora estou imaginando se você esta me Interpretaçôes em relaçâo a
olhando”. (O momento começou aqui.) “momentos de encontro ”
A analista sentiu-se tomada de surpresa, pos­
ta em questâo. Seu primeiro pensamento foi se Momentos agora também podem levar dire-
deveria permanecer em silêncio ou dizer alguma tamente a uma interpretaçâo. E a interpretaçâo
coisa. Se ficasse em silêncio, Molly sentir-se-ia pode levar, ou nâo, a “momentos de encontro”.
abandonada? Repetir a afirmaçâo de M olly - Uma interpretaçâo tradicional bem-sucedida per-
“você esta imaginando se estou olhando para mite ao paciente ver-se a si mesmo, sua vida e
você” - pareceu desajeitado e distante. Respon- seu passado de forma diferente. Essa percepçâo
der com uma observaçâo propria, no entanto, pa- invariavelmente sera acompanhada de afeto. Se
recia arriscado. As implicaçôes sexuais eram tâo a interpretaçâo é feita de forma a trazer a parti-
intensas que falar delas parecia aproximâ-las de- cipaçâo afetiva do analista, pode ter ocorrido
mais da açâo. Notando seu prôprio desconforto também um “momento de encontro”. “Especifi-
e tentando compreender sua origem, a analista cidades mescladas entre dois sistemas em resso-
identificou a questâo relativa ao dommio e per- nâneia, sintonizados um com o outro” (Sander,
cebeu que se sentia com o se estivesse sendo 1997) ocorreram. Isto é similar à sintonia afeti­
convidada a tomar a “posiçâo superior” ou sub- va observada nas interaçôes progenitor-bebê
meter-sc a Molly. Nessa altura das suas conside- (Stern, 1985).
raçôes, subitamentc sentiu-se livre para ser Suponha que o analista faça uma excelente
espontâne.a e comunicar a Molly sua vivência interpretaçâo, especialmente dentro do timing.
real. Esta lerd um efeito no paciente, que pode ser um
“Parece que você estâ tentando puxar meus silêncio, ou um “ü!m'\ ou, na maioria das vezes,
olhos para você”, ela disse. “Sim”, Molly con- ulgo como, “sim, rcalmcnte é assim”. Se o ana­
cordou, com avidez. (E ssas duas sentenças lista n5o çonsegue trazer sua participaçSo afetiva
construiram o “momento de encontro”.) “É uma (mesmo com uma resposta simples, como “Sim,
coisa misturada”, disse a analista. “Nâo hâ nada foi, para você”, mas dita com a assinatura pro-
de errado com os desejos”, M olly respondeu. vinda de sua prôpria cxpcriôncia de vida), o
“Certo”, a analista concordou. “A questâo é que paciente pode supor ou imaginar que o analista
précisa de dois para lidar”. Molly disse: “Certa- estâ s6 aplicando lécniea, terâ havido uma falha
menlc, cm princfpio”, a analista respondeu. “Era em permitir uma nova experiência importante,
isso que eu estava pensando... É bom pensar nis- que altère o ambiente intersubjetivo conhecido.
so agora,.. C eu, na verdade, consigo ter alguma Em conseqUência, a interpretaçâo serâ muito me-
compaixflo." “Por você mesma?”, a analista per- nos potente.
guntou. “S im ”, respondeu M olly. “Estou Estrilamente falando, uma interpretaçâo pode
contente", respondeu a analista. encerrar um momento agora “explicando-o”
Nesta vinheia, ocorreu um encontro subjeti- mais, ou elaborando, ou generalizando-o. No en­
vo porque n mifllista usou sua prôpria luta inter­ tanto, a nâo ser que o terapeuta faça algo mais
208 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
do que a interpretaçâo estrita, algo que escla- O “espaço aberto”
reça sua resposta e rem nheça a vivência do pa- Como na seqüência do desenvolvimento, su-
ciente de uma m udança na relaçâo, nâo se pomos que na situaçâo terapêutica “momentos de
criarâ o novo contexto intersubjetivo. Uma in­ encontro” deixam em sua passagem um “espaço
terprète 5^ pr»Hf> ter cirtn r nrrftTannhp.m aberto”, em que uma mudança no ambiente in-
formulada, mas provavelm ente nâo aterrissou? tersujetivo cria um novo equilfbrio, uma
nem criou rafzes. Os analistas mais bem dota- “disjunçâo”, com uma alteraçâo ou novo arran-
^,dos sabem disso e fazem o “algo mais”, consi- jo dos processos defensivos. Toma-se possivel a
‘;derando-o mesmo parte da interpretaçâo. Mas criatividade individual e a atividade, surgindo nas
nâo é. E esse é justamente o problema teôrico configuraçôes individuais de espaço aberto, à
com o quai estamos nos debatendo. Se o escopo medida que o “conhecimento relacional implîci-
do que é considerado interpretaçâo tomar-se am- to” se libéra das constriçôes im postas pelo
plo e mal-definido demaïs, os problemas tëôrP~‘ habituai (Winnicott, 1957).
cos ficarâo extremamente confusos.
, "~~Aqut, deve-se fazer uma distinçâo. Um mo­ Outros destinos do momento agora
mento agora pode surgir, e freqüentemente acon- Os diversos outros destinos do momento ago­
tece, em torno de m aterial transferencial ra, se nâo forem aproveitados para tornar-se
carregado, e se resolve com uma interpretaçâo “momentos de encontro”, ou interpretaçôes, sâo:
tradicional. Se essa interpretaçâo for dada de for­ 1. Um “momento agora perdido”
ma “autêntica”, no que isso difere de um “mo­ Um momento agora perdido é uma oportu-
mento de encontro”? D ifere por essa razâo. nidade perdida. Gill dâ um exemplo grâfico: “Em
Durante a interpretaçâo tradicional, que envolve uma das minhas anâlises pessoais... certa vez fui
material transferencial, o terapeuta como pessoa, impertinente o bastante para dizer: ‘Aposto que
como ele existe na sua propria mente, nâo é co- farei uma contribuiçâo melhor para a psicanâli-
Jocado em aberto, nem posto em questâo. Nem se do que você’. Quase caf do divâ quando o
a relaçâo compartilhada implicita é colocada em anaiista respondeu: ‘Eu nâo ficaria nem um pou­
aberto, para revisâo. Mais propriamente, a com- co surpreso’. D evo relatar, com pesar, que o
preensâo e a resposta terapêutica ocorrendo den- intercâmbio nâo foi mais analisado, pelo menos
tro do papel analftico é efetuada. E dificil définir nâo naquela anâlise” (1994; pp. 105-106). Acha-
o que significa “autêntico”, neste contexto. Du­ mos que ele quis dizer que nâo houve discussâo
rante uma interpretaçâo transferencial “autênti­ posterior desse intercâmbio. Aqui, permitiu-se
ca”, deve haver um “momento de encontro” entrcTf que um momento passasse, de forma a nunca
^duas pessoas mais ou menos desnudadas dos seus mais voltar.
ibapéis terapêuticos.
— E— .. .
Se houver, o ato do terapeu- 2. Um “momento agora fracassado”
ta, em resposta ao ato transferencial do pacien­ Num momento agora fracassado, algo poten-
te, deverâ ter o carâter de contratransferência. Em cialm ente destrutivo acontece ao tratamento.
contrapartida, os aspectos transferenciais e con- Quando um momento agora foi reconhecido, mas
tratransferenciais estâo, no mmimo, em um “mo­ houve uma falha no encontro intersubjetivo, o
mento de encontro”, e a personalidade dos curso da terapia pode ser posto em risco. Se a
participantes, relativamente desnudada das arma- falha for deixada sem reparaçâo, as duas conse-
dilhas do papel, é posta a funcionar. Avaliar a re- qüências mais graves sâo que uma parte do
lativa falta de transferência-contratransferência, terreno intersubjetivo ficarâ fechado, fora da te­
e a relativa presença de duas pessoas vivencian- rapia, como se alguém dissesse “nâo podemos ir
do, uma e outra, fora dos seus papéis profissio- la”, ou ainda pior, como se um sèfrfTSoTâsïcô da
nalmente prescritos,.com certeza nâo é fâcil, mas natureza fundamental da relaçâo terapêutica fosse
todos sabemos desses momentos, dado que o prô- posto em~questgorTao gravemente que a terapia
prio conceito é aceito. Voltaremos a esse ponto nâo pudesse mais continuar (sendo de fato inter-
abaixo. rompida ou nâo).
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TERAPIA PSICANALITICA 209
David, um homem jovem, começou anâlise. partilhado, mas nâo vai embora. Permanece no
Numa sessâo, decorridos vârios meses, estava ar por muitas sessôes, mesmo semanas. Nada
falando sobre uma queimadura grave que cobria pode acontecer até que se determine seu desti-
grande extensâo do seu peito e que ocorrera no. Esses momentos agora duradouros nâo sâo
quando ele começara a andar, meditando sobre necessariamente falhas. Podem resultar de con-
sua influência no seu desenvolvim ento poste- diçôes que nâo permitam as soluçôes usuais
rior. Esta havia deixado uma cicatriz porque o timing, ou prontidâo, nâo é oportuno,
desfigurante, facilmente visfvel quando de shorts ou porque o encontro intersubjetivo necessârio
ou de maiô, que lhe trouxe excessiva autopercep- é complexo demais para ser contido numa unica
çâo, atuando como foco de vârias questôes com transaçâo. Neste sentido, podem também preci-
respeito a seu corpo. Sem pensar, David se de- sar de mais tempo. Habitualmente sâo resolvidos
bruçou, começando a puxar a camisa, dizendo, com um momento agora diferente, que circun-
“Aqui, deixe-me mostrar-lhe. Você vai entender da o momento agora duradouro. Discutiremos
melhor”. Abruptamente, antes que ele mostrasse adiante.
a cicatriz, o analista interrompeu: “Nâo! Pare,
você nâo précisa fazer isso!” Ambos se surpreen- A “R elaçâo C ompartilhada Implicita ”
deram com a resposta do analista. COMO LOCUSDA AÇÂO MUTAITVA NA TERAPIA
Tanto David quanto o seu analista concorda-
ram depois que o que aconteceu nâo foi util. No Voltamos agora à questâo posta no começo
sntanto, David sentiu e contou ao analista que a deste artigo, ou seja, em que âmbito da relaçâo
resposta deste soou como uma falha porque, em entre terapeuta e paciente ocorre o “momento de
vez de dizer a David que se sentiu mal por ter encontro” e o conhecimento implicito se altéra?
reagido daquela forma, ele apenas disse que nâo Sugerimos que ocorre na “relaçâo implfcita com-
tinha agido de acordo com seus padrôes. 4 partilhada”.
3. Um “momento agora reparado” A noçâo de qualquer relacionamento, na anâ­
Momentos agora fracassados podem ser re- lise, que nâo seja predominantemente transferen-
parados, permanecendo ou voltando a eles. A cial-contratransferencial, tem sido sempre dificil.
reparaçâo, por si so, pode ser positiva. Quase por Muitos analistas afirmam que toda a relaçâo, na "V
definiçâo, a reparaçâo de um momento agora situaçâo clfnica, é permeada por sentimentos e ^
fracassado levarâ a diade a um ou mais momen­ interpretaçôes transferenciais e contratransferen-
tos agora. ciais, inclusive os fenômenos intermediârios tais
4. “Um momento agora assinalado " como a aliança terapêutica e os conceitos a ela
Um momento agora podc ser rotulado. Es­ ^rclacionados. Outros, no cntanto, insistem em
ses rôtulos nâo surgem facilmente, porque os es- / que um senso de relacionamento mais autêntico
tados diâdicos a que dizem respeito, na verdade, é o pano de fundo vivencial, sem o quai a trans-
nâo têm nomes e sâo entidades extremamente ferência nâo é perceptfvel, para nâo dizer mutâ-
sutis e complexas. Mas geralmente adquirem no­ vel (Thomâ & Kachele, 1987). f \
mes tais como, “a vez em que você... e eu...” \ A “relaçâo implfcita compartilhada” consis­
Assinalâ-los com um nome é muito importante, te no conhecimento implicito compartilhado so­
nâo sô porque facilita a lembrança e o uso, mas bre uma relaçâo que existe separada, mas paralela
também porque acrescenta outra camada à liga- tanto à relaçâo de transferência-contratransferên-
çâo dessa criaçâo interpessoal. Assinalar também cia quanto aos papéis psicanalfticos designados.
pode servir para lidar parcialmente com um mo­ Enquanto o conhecimento implicito de cada par­
mento agora, na ocasiâo de sua primeira apari- ticipante sobre a relaçâo é unico para ele, a ârea
çâo, sem correr o risco de perder o momento ou de sobreposiçâo entre eles é o que chamamos de
de falhar. Dessa forma, pode-se dar o tempo ne- relaçâo implfcita compartilhada. (Essa relaçâo
cessârio à terapia. implfcita compartilhada nunca é simétrica.)
5. Um “momento agora duradouro” Nâo esperâvamos esta ênfase na importância
As vezes, surge um momento agora que nâo da “relaçâo implfcita compartilhada”; chegamos
pode ser imediatamente resolvido/exposto/com- a esta conclusâo depois de percebermos a natu-
210 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
reza do “momento de encontro”. Como um “mo­ estamos chamando de “relaçâo compartilhada im­
mento de encontro” sô podia ocorrer quando plfcita”. Esses conhecim entos se mantêm ao
acontecesse algo pessoal, compartilhado, fora ou longo das flutuaçôes da re 1açâolr an s ferencîâTé
em acréscimo à “técnica”, e subjetivamente novo (podem ser detectados por meio dêTuma micrô-
para o funcionamento habituai, fomos forçados anâlise, na maiorilTc[~â~vëzes feita por uma
a reconsiderar o âmbito total da relaçâo imph'ci- terceira pessoa que os observa, transformando-
ta compartilhada. se, nesse caso, num evento “objetivo”.
Do nosso ponto de vista, a pesquisa sobre Nossas reflexôes sobre o “momento de encon­
bebês simplificou o exame da relaçâo implfcita tro” e seu papel na modificaçâo do conhecimento
compartilhada, ao esclarecer a existência da co- implicito nos forçaram a focalizar e a examinar a
municaçâo afetiva e da intersubjetividade vir- relaçâo implfcita compartilhada. Isto por causa das
tualm ente desde o infcio da vida pôs-natal varias caracterfsticas do “momento de encontro”.
'(T rôm cIT r9^ ^ 1. Este é marcado por um senso de distan-
to o bebê quanto a pessoa que cuida sâo consi- ciamento da maneira habituai de procéder na
derados capazes de exprim ir afeto . e de terapia. É um acontecimento novo que a estru­
compreender as expressôes afetivas do outrg, Vy tura existente nâo.pflde dar conta, nem absorver.
E o oposto do assunto na sua forma habituai.
Esse primeiro sistema de comunicaçâo continua 2. Nâo pode ser sustentado ou preenchido se
a operar ao longo de toda a vida, tendo atrafdo o analista recorrer a uma resposta sentida pelo
maior interesse ainda em nosso campo, sob a ru- paciente como meramente técnica. O analista pré­
brica de “nâo-verbal”. Concordamos com Stech- cisa responder com algo que seja vivenciado
ler (1996) que, ainda que nossa responsabilidade como especffico da relaçâo com o paciente e que
rofissional nos impeça de compartilhar do mes- exprima sua propria experiencîg~g~përsonaliBa-
<*mo ëspaço vital do paciente, é errôneo assumir â&, levando suaassmâluraT“
que o ser emocional complexo do analista pode f 3. Um “momento de encontro” nâo pode ser
ser (oü~deveria ser) mantido longe da apreensâo j percehido com uma interpretacâojransferencial.
do paciente, “apreensâo” baseada na operaçâo de \ Outros aspectos da relaçâo precisam ser tratados.
um sistema muito com plexo, que sempre fun- 4. É o lidar com “o que estâ acontecendo
liciona. Nossa posiçâo é de que a operaçâb”3esse
sistema constroi a “relaçâo implfcita compartilha­
f aqui e agora, entre nos?” A ênfase mais forte é
no “agora”, em razâo da vizinhança afetiva. Re-
da”, que consiste num engajamento dos dois, quer respostas espontâneas e se atualiza no
construfdo progressivamente no âmbito da inter­ sentido de que analista e paciente tomam-se ob­
subjetividade e do conhecimento implicito. Esse
engajamento pessoal é construfdo ao longo do
\ jetos contemporâneos um para o outro.
5. O “momento de encontro”, com seu en­
tempo, adquire sua prôpria histôria, e envolve gajamento no “que estâ acontecendo aqui e agora
questôes bâsicas que existem além, e duram entre nos”, nunca précisa ser verbalmente expli-
mais, do que as distorçôes mais terapeuticamen- cado, mas pode sê-lo depois.
te lâbeis do prisma transferencial-contratransfe- Todas essas consideraçôes empurram o “mo­
rencial, porque incluem apreensâo mais ou mento de encontro” para um âmbito que trans­
menos acurada da pessoa do terapeuta e da pes­ cende, mas nâo anula a relaçâo “profissional”, %
soa do paciente. tornando-se parcialmente livre dos sobretons'
Quando falamos de encontro “autêntico”. transferenciais-contratransferenciais.
queremos dizer comunicaçôes que r e ^ a m u m Embora esteja fora do escopo deste artigo, f
aspecto pessoal do self evocado pela resposta acreditamos que é extremamente necessaria uma
afetiva ao outro. Por sua vez, révéla ao outro uma exploraçâo maior dessa “relaçâo implfcita com­
âssinatura pessoal, de forma a criar um novo es- partilhada”.
tado diâdico, especffico dos dois participantes. R esu m o e D isc u ssâ o
Sâo esses conhecimentos implfcitos estâveis
entre analista e analisando, seus sentimentos mü- Enquanto a interpretaçâo é vista tradicional-
tuos e apreensôes de um sobre o outro, que mente como o evento nodal atuando na e sobre
MECANISMOS NÂO-INTERPRETATIVOS NA TERAPIA PSICANALITICA 211
a relaçâo transferencial, transformando-a ao observaçâo da interaçâo bebê-cuidadorejiâ^teo-
modificar o ambiente intrapsfquico, vemos os ria de~sistemis^3mamicos/Neste modelo, hâ um
“momentos de encontro” como o evento nodal processo recfproco em que ocorre mudança na re­
atuando na e sobre a “relaçâo implicita compar- laçâo implfcita em “momentos de encontro” por
tilhada”, transformando-a ao alterar o conheci-1. meio das alteraçôes das “formas de estar com”.
I m ento im p licito que é ao m esm o tem p o |
intrapsfquico e interpessoal. Esses dois procès-1
Nâo corrige falhas empâticas passadas por meio
da atividade analftica empâtica. Nâo substitui
sos complementares sâo mutativos, no entanto uma deficiência passada. A o contrario, algo
usam diferentes mecanismos de mudança em novo é criado, na relaçâo, que altéra o ambien-
âmbitos diferentes da experiência. te intersubjetivo. À experiência passada é
Com o objetivo de aprofundar a pesquisa clf- recontextualizada no présente, de maneira tal que
nica, tentamos fomecer uma terminologia descri- a pessoa opéra a partir de uma paisagem mental
tiva para a fenomenologia desses momentos que diferente, o que résulta, no présente e no futuro,
criaram a “relaçâo implfcita compartilhada”. em no vos comportamentos e experiências.
Deve-se notar que mudança no conhecimento Nossa posiçâo a respeito da regulaçâo mü-
relacional implicito e mudança no conhecimen­ tua, na situaçâo de terapia, é semelhante à des-
to verbal consciente pela interpretaçâo, às vezes, crita por Lachmann & Beebe (1996). Nossa idéia
sâo diffceis de serem difèrenciadas, no processo de um “momento de encontro” difere da idéia
v /interativo real da situaçâo terapêutica. A “rela-l deles de “momentos afetivos intensificados”, pois
X )/ çâo im plfcita com partilhada” e a relaçâo'i tentamos fornecer uma terminologia e uma des-
transferencial fluem em paralelo, interligadas, j criçâo seqüencial detalhada do processo que leva,
lu m a ou outra tomando a primazia. No entanto, e se segue, a esses momentos privilegiados.
uma condiçâo necessâria para o relacionamento Concordamos com muitos pens adores con-
é que o processamento do conhecimento impli- temporâneos que uma mudança de estado diâdico
cito seja constante. Interpretaçâo, por outro lado, é fundamental, mas localizamos seu surgimento
“!Tum"êvento pontual. no “momento de encontro” entre os participan­
Localizamos as bases da “relaçâo comparti­ tes. N ossa posiçâo é similar às tomadas por
lhada implfcita” no processo primordial da co- Mitchell e Stolorow & Atwood. Entretanto, va-
municaçâo afetiva, com suas rafzes nas relaçôes !mos além desses autores, ao considerar que a
iniciais. Sugerimos que consiste de conhecimento maior parte do ambiente intersubjetivo pertence
implicito e que mudanças nesta relaçâo podem ao conhecimento relacional im plicito, que se
resultar em efeitos terapêuticos duradouros. No constrôi na relaçâo implicita compartilhada, no
curso de uma anâlise, alguns dos conhecimentos curso da terapia. O processo de mudança, por­
relacionais implfcitos serâo lenta e meticulosa- tante, ocorre na relaçâo implicita compartilhada.
mente transcritos para conhecimento explfcito Finalmente, antecipamos que essa visâo da alte-
consciente. Quanto, é uma questâo aberta; entre- raçâo do conhecim ento relacional implicito,
durante os “momentos de encontro”, abrirâ pers-
tanto, nâo é o mesmo que tomar consciente o in­ pectivas novas e üteis que levem em conta a
consciente, como a psicanâlise sempre afirmou^ mudança terapêutica.
A diferença é que o conhecimento implicito nâo|
se torna inconsciente por meio da repressâo e nâo !
se torna consciente ao se desfazer a repressâo. |j RESUMO
O processo de tomar o conhecimento reprimido i
consciente é bem diferente do de tomar o conhe­
cimento impifcito consciente. Eles requerem con- Atualmente, em gérai jâ se aceita que é necessâ-
ceituaçôes diferentes. Podem também requerer rio algo além da interpretaçâo para que ocorra
mudança terapêutica. Usando uma abordagem basea-
procedimentos clfnicos diferentes, o que tem im­ da nos recentes estudos da interaçâo mâe-bebê, nos
portantes implicaçôes técnicas. sistemas dinâmicos nâo-lineares e na sua relaçâo com
O modclo proposto esta centrado nos proces- as teorias da mente, os autores propôem que existe
sos m ais do gue na estrutura e dériva da algo mais, no processo intersubjetivo da interaçâo, que
212 GRUPO DE ESTUDOS DO PROCESSO DE MUDANÇA
faz surgir o que eles chamarâo de “conhecimento re­ moldadas e discutidas em termos de um processo de
lacional implicito”. Intrapsiquicamente, o âmbito do seqüências que sâo chamados de movimentaçâo4. Dis-
processamento relacional é distinto do âmbito simbô- cutem-se as concepçôes de relaçâo implfcita
lico. Na relaçâo analitica, isto inclui momentos partilhada, transferência e contratransferência dentro
intersubjetivos entre paciente e anaiista, possibilitan- dos parâmetros dessa perspectiva, que é diferenciada
do a criaçâo de novas organizaçôes ou a reorganizaçâo de outras teorias relacionais e da psicologia do self.
nâo so da relaçâo entre os participantes, mas princi- Em suma, a açâo poderosamente terapêutica ocorre
palmente do conhecimento do procedimento implicito dentro do conhecimento relacional implicito. Afirma-
do paciente, suas formas de estar com os outros. As se que muito do que se observa como efeito
qualidades e as conseqüências distintas desses momen­ terapêutico duradouro résulta dessas mudanças no âm­
tos (momentos agora,3 “momentos de encontro”) sâo bito relacional intersubjetivo.

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Traduçâo: Tania Mara Zalcberg


Revisâo: Olivia Maria Pereira de Almeida Tulha

The Process of Change Study Group Copyright © Institute of Psycho-Analysis, 1998


c/o E. Z. Tronick
Children’s Hospital
300 Longwood Ave.
Boston
MA 02115
Int. J. Psycho-Anal. (1998) 79, 903

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