1) Para podermos falar sobre o modelo de presidencialismo federalista,
primeiro precisamos entender de onde vem o modelo federalista. Após a declaração de independência dos Estados Unidos, eles passaram alguns anos (entre 1783 e 1787) sob o modelo confederalista, no qual os estados eram independentes, mas colaborativos entre si, entretanto esse modelo já se mostrava pouco funcional, então em 1787 ocorreu a convenção da Filadélfia onde um grupo de delegados dos estados se reuniu para formar uma constituição, que definia um estado central, para ser soberano as 13 colônias. Contudo, já existia uma preocupação com o quanto esses poucos delegados representavam a vontade da população, por isso entre 1787 e 1789, a nova constituição foi apresentada ao povo, para que este tivesse voz ativa para decidir qual modelo a seguir, tal qual a forma idealizada por Rousseau que defendia a vontade geral, então em 1789 o povo votou pelo modelo federalista. Ainda em 1787, os delegados haviam concordado que o estado central não deveria ser governado por um rei, então em meio aos artigos de Hamilton, Madison e Jay, surgiu a ideia de um chefe de estado que fosse escolhido por representantes do povo, então surgiu a ideia de um presidente eleito através de uma republica representativa, este modelo não deve ser confundido com uma democracia direta, tendo sua diferença explicada pelos autores no trecho “A república aparta-se da democracia em dois pontos essenciais: não só a primeira é mais vasta e muito maior o número de cidadãos, mas os poderes são nela delegados a um pequeno número de indivíduos que o povo escolhe.” (Hamilton, Madison e Jay, 1788, pg.12)
Já na constituição havia sido definido que o presidente seria eleito pelos
representantes eleitos pelo povo, e o governo teria a função de lidar com conflitos entre estados e questões que abrangiam todos os estados, sendo que esse se tornou uma versão não absolutista do Leviatã de Hobbes, com o pacto para a segurança em troca da independência dos estados. Além disso, o governo também era responsável por tratar do comércio externo e interno, e por julgar crimes de âmbito comum (que se aplicassem a todos os estados), ambas as funções vem do pensamento lockeano para um modelo de governo. E para garantir que o presidente não se tornasse um tirano, os autores propuseram que houvesse a tripartição dos poderes, tal qual idealizado por Montesquieu de modo que entre os poderes exista um sistema de contrapesos para que não seja possível um dos poderes adquirir mais poder; e para garantir o equilíbrio entre os poderes, os membros destes são eleitos em votações populares e não vinculadas, além disso, como os estados ainda possuíam certo grau de independência, haviam duas entidades soberanas, o governo federal, que era este governo central, e os governos estaduais, responsáveis por julgar as questões civis e criminais de cada estado. “Os regulamentos de alguns Estados, feitos em sentido contrário aos interesses dos seus vizinhos e ao verdadeiro espírito da União, têm dado por vezes a estes últimos justos motivos de queixa e de ciúme; e é de temer que os exemplos desta natureza, a não serem restringidos pela autoridade nacional, venham a multiplicar-se e estender-se a ponto de se transformarem, não só em causas temíveis de animosidade e de discórdia, mas em obstáculos injustos, opostos ao comércio das diferentes partes da Confederação.” (Hamilton, Madison e Jay, 1788, pg. 26)
Apesar das diversas inovações propostas pelos autores, muitas delas
trouxeram consigo novos problemas, tais como a falta de sanção as suas leis que ocorria devido a independência que cada estado tinha para criar leis estaduais, isso além de dificultar a sanção, também dificultava a punição para aqueles que as quebrassem, isso também está ligado com um dos outros problemas, a falta de garantia mútua, que impossibilitava o governo de eliminar os perigos e ameaças internos de um estado. Além dos problemas jurídicos, também existiam problemas econômicos já que o estado não conseguia fazer uma boa regulação do comércio, principalmente do comércio entre os estados. E em algumas situações, os estados que não pagavam as contribuições ao governo, eram pressionados e constrangidos a fazer isso. Um último exemplo é o da câmara dos deputados, em que estados com populações diferentes possuíam o mesmo número de representantes, tornando as votações desiguais, porém, assim como esse problema foi resolvido com uma emenda que definia que a quantidade de deputados seria baseada na quantidade de habitantes de cada estado, muitos dos outros problemas foram resolvidos ou amenizados com emendas adicionais a constituição.
LIMONGI, Fernando Papaterra. O Federalista: Remédios Republicanos para Males Republicanos. In: WEFFORT, Francisco C. (Org.) Os Clássicos Da Política. São Paulo, Editora Ática, 2004, Vol. 1.
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